Você está na página 1de 10

Alim. Nutr.

, Araraquara ISSN 0103-4235


v. 22, n. 2, p. 283-290, abr./jun. 2011 ISSN 2179-4448 on line

AVALIAÇÃO DAS BOAS PRÁTICAS EM SEGURANÇA


ALIMENTAR DE UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E
NUTRIÇÃO DE UMA ORGANIZAÇÃO MILITAR DA CIDADE
DE BELÉM, PARÁ

Glenda Marreira VIDAL*


Lorena Régia Sarmento BALTAZAR**
Larissa da Cunha Feio COSTA***
Xaene Maria Fernandes Duarte MENDONÇA*

RESUMO: O presente estudo objetivou avaliar as boas Assim, as refeições fornecidas devem ser seguras do
práticas em segurança alimentar de uma Unidade de Ali- ponto de vista higiênico-sanitário e balanceadas, contendo
mentação e Nutrição (UAN) de uma Organização Militar todos os nutrientes necessários para suprir as necessidades
localizada na cidade de Belém, Pará, usando como critério corpóreas de energia, manutenção e crescimento. 21
avaliativo a aplicação de um check list adaptado da Portaria As boas práticas em segurança alimentar buscam
n. 854/SELOM. Foram avaliados 157 itens subdivididos minimizar os perigos microbiológicos que são as principais
em 5 categorias; as alternativas aos itens observados foram: causas de contaminação dos alimentos. Nesse contexto, o
(1) Sim, quando estava em conformidade; (2) Não, quando Ministério da Defesa, através da Portaria n. 854 da Secre-
não estava em conformidade e (3) Não se aplica. Também taria de Logística, Mobilização, Ciência e Tecnologia (SE-
se classificou a UAN de acordo com critérios de pontuação LOM) de 04 de Julho de 2005, regulamenta as boas práticas
da Portaria: (Grupo 1) 76 a 100%; (Grupo 2) 51 a 75%; e em segurança alimentar nas Organizações Militares (OM).
(Grupo 3) 0 a 50%. As porcentagens de não conformidades Essa portaria tem por objetivo suprir a necessidade do
foram: edificação e instalações 26%; equipamentos, móveis constante aperfeiçoamento das ações de controle sanitário
e utensílios 14%; manipuladores 29%; produção e trans- na área de alimentos, visando a proteção da saúde do po-
porte do alimento 31%; e, documentação 47%. A UAN foi tencial humano das OM e a necessidade de compatibilizar
classificada no grupo 2, atendendo a 66% de conformidade.
a legislação vigente no âmbito das Forças Armadas com a
Apesar de os resultados mostrarem que a maior parte dos
legislação dos Órgãos de Vigilância Sanitária em vigor. 6
itens avaliados encontra-se em conformidade, observa-se
Segundo a referida portaria, para a verificação e
uma alta frequência de não conformidades. O que aponta a
controle das boas práticas em OM, sugere-se a utilização
necessidade de ações de medidas de controle de qualidade a
da Lista de Verificação das Boas Práticas de Fabricação em
fim de contribuir para a melhoria da qualidade das refeições
produzidas. instalações militares, que consiste em um check list elabo-
rado pela SELOM, a partir de uma adaptação da Resolução
PALAVRAS-CHAVE: Manipulação de alimentos; segu- RDC 275,7 de 21 outubro de 2002, e que pode sofrer ajustes
rança alimentar; legislação; higiene militar. dependendo das particularidades de cada OM. 6
Diante da escassez de estudos quanto às boas prá-
ticas de manipulação de alimentos em UANs de OM no
INTRODUÇÃO Brasil e pela relevância do tema, o presente estudo objeti-
vou avaliar as boas práticas em segurança alimentar de uma
A alimentação no âmbito militar apresenta a impor-
UAN de uma OM da Cidade de Belém, Pará.
tante tarefa de manutenção da saúde do potencial humano
das Organizações Militares e, por conseguinte, possibilitar
um melhor desempenho de suas atribuições. 19 Por essas ra- MATERIAL E MÉTODOS
zões, as refeições produzidas nas Unidades de Alimentação
e Nutrição (UAN) militares devem seguir um padrão eleva- O trabalho caracteriza-se como um estudo explora-
do de qualidade higiênico-sanitária e nutricional, seguindo tório, descritivo, focalizando as boas práticas de higiene e
rigorosamente as boas práticas em segurança alimentar. 6 manipulação de alimentos e a estrutura físico-funcional. O

* Faculdade de Nutrição – Centro de Ciências da Saúde – Universidade Federal do Pará – 66060-050 – Belém – PA – Brasil. E-mail:
gmvnut@hotmail.com.
** Secretaria de Saúde – Prefeitura de Novo Repartimento – 68473-000 – Novo Repartimento – PA – Brasil.
*** Departamento de Saúde Pública – Centro de Ciências da Saúde – Universidade Federal de Santa Catarina – 88040-900 – Florianópolis –
SC – Brasil.

283
VIDAL, G. M.; BALTAZAR, L. R. S.; COSTA, L. C. F.; MENDONÇA, X. M. F. D. Avaliação das boas práticas em segurança alimentar de uma
unidade de alimentação e nutrição de uma organização militar da cidade de Belém, Pará. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 2, p. 283-290,
abr./jun. 2011.

estudo foi desenvolvido em uma UAN de uma OM loca- Os dados foram tabulados no programa Microsoft
lizada na Cidade de Belém, Pará no mês de dezembro de Excel® 2003 para obtenção dos resultados.
2009. A UAN produz uma média diária de 2100 refeições
distribuídas entre desjejum, almoço, jantar, ceia e lanche
noturno. RESULTADOS
Os dados foram coletados mediante a aprovação pré-
via da Instituição. O levantamento dos dados foi realizado A UAN elabora e distribui diariamente cerca de
por observação direta e verificação documental feitos por 2100 refeições sendo 600 desjejuns, 1000 almoços, e 500
acadêmicos do curso de graduação em Nutrição, utilizan- jantares, ceias e lanches noturnos. A clientela da UAN é
do-se um check list, adaptado da Portaria n. 854/SELOM constituída por pessoal militar e civil que trabalham na
de 04 de Julho de 2005,6 específica para UAN militar, apli- OM.
cado uma única vez. Os acadêmicos receberam treinamen- A seguir serão apresentados os resultados da análise
to quanto ao correto preenchimento do check list. Quanto do check list aplicado na UAN para cada uma das cinco
aos itens referentes à presença de registros de controle de categorias avaliadas.
qualidade, manual de boas práticas (MBP) e procedimentos
operacionais padronizados (POP), foram solicitados os do- Edificação e Instalações
cumentos que comprovassem a existência dos mesmos.
A Figura 1 mostra os percentuais de conformidade
As alternativas aos itens da Portaria eram: Sim, Não,
aos itens avaliados na categoria edificação e instalações.
Parcial e Não se Aplica, enquanto no check list adaptado
De acordo com o check list aplicado nessa categoria foram
as alternativas foram Conforme, Não Conforme e Não se
avaliados 73 itens, sendo que 72,6% (n=53) estavam em
Aplica. Essa adaptação foi realizada com a finalidade de
conformidade.
facilitar o preenchimento dos itens e contagem da pontu-
Observou-se, nas edificações, a presença de equipa-
ação final.
mento em desuso na área interna e a ausência de ângulos
O check list foi composto por itens de verificação
abaulados entre as paredes e o piso e entre as paredes e o
sobre aspectos ligados à estrutura física, ambientação, ins-
talações sanitárias, controle de pragas, recebimento, ar- teto.
mazenamento, manipuladores, pré-preparo dos alimentos, Verificou-se, ainda, que as portas não estavam ajusta-
lavatórios na área de produção, distribuição, higienização das aos batentes, não apresentavam fechamento automático
das áreas, controle de qualidade, sobras e restos. Categori- e não possuíam barreiras para impedir a entrada de vetores
zados em cinco grandes áreas: 1) Edificação e instalações; e outros animais (telas milimétricas ou outro sistema).
2) Equipamentos, móveis e utensílios; 3) Manipuladores; Quanto às instalações sanitárias e vestuários para
4) Produção e transporte do alimento; e 5) documentação, os manipuladores, observou-se que o acesso às instalações
somando um total de 157 itens analisados (check list em destinadas ao sexo feminino não era realizado por passa-
anexo). gens cobertas e calçadas; ausência de lixeiras com tampa
A classificação do estabelecimento foi realizada por e com acionamento não manual; e, o número de armários,
meio de pontuação, em que a pontuação equivalente a 76 chuveiros, vasos sanitários, mictórios e lavatórios não esta-
a 100% foi classificada como grupo 1; de 51 a 75% como vam na proporção adequada ao número de empregados.
grupo 2 e de 0 a 50% como grupo 3 de acordo com o crité- Constatou-se a falta de produtos destinados à higie-
rio da SELOM.6 ne pessoal no banheiro feminino: papel higiênico, sabonete

80 73
70
60
50
40 Percentual de adequação
%

30 26

20
10
1
0
Conforme Não conforme Não se aplica
Alternativas
FIGURA 1 – Percentual de conformidade das edificações e instalações da UAN militar, Belém/PA.

284
VIDAL, G. M.; BALTAZAR, L. R. S.; COSTA, L. C. F.; MENDONÇA, X. M. F. D. Avaliação das boas práticas em segurança alimentar de uma
unidade de alimentação e nutrição de uma organização militar da cidade de Belém, Pará. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 2, p. 283-290,
abr./jun. 2011.

líquido inodoro antisséptico ou sabonete líquido inodoro e Equipamentos, Móveis e Utensílios


antisséptico, toalhas de papel não reciclado para as mãos ou
outro sistema higiênico seguro para secagem. Nessa categoria foram avaliados 21 itens e 85,71%
Quanto aos lavatórios, na área de produção, obser- (n=18) estavam em conformidade. A Figura 2 mostra os
vou-se a presença de um lavatório que não estava instalado percentuais de conformidade observados.
em posição adequada em relação ao fluxo de produção e Quanto aos equipamentos, atentou-se a ausência de
serviço, o que impossibilitava a correta frequência de la- planilhas de registro da temperatura, conservadas durante
vagem das mãos dos manipuladores, uma vez que esse se período adequado e inexistência de que comprovem que
situava na entrada da UAN. Outra não conformidade en- os equipamentos e maquinários passam por manutenção
contrada foi a falta de líquido antisséptico no local. preventiva, uma vez que se aplica somente a manutenção
corretiva.
Quanto à higienização das instalações, ventilação
Em relação à higienização dos equipamentos, ma-
e climatização, verificou-se a inexistência de registro pe-
quinários, móveis e utensílios, verificou-se que não eram
riódico dos procedimentos de limpeza e manutenção dos
realizados registros das operações de higienização.
componentes do sistema de climatização.
Notou-se, quanto ao abastecimento de água, a au- Manipuladores
sência de registro de higienização do reservatório de água
e inexistência de planilha de registro da troca periódica do Na categoria Manipuladores, observaram-se 14
elemento filtrante. itens, destes 71% (n=10) encontravam-se em conformidade
Em relação ao manejo dos resíduos, encontrou-se (Figura 3).
lixeiras que não eram de fácil transporte, sem identificação, Notou-se que os vestuários não estavam limpos e
destampadas e sem pedal. se encontravam em mal estado de conservação; adornos

100
90 86
80
70
60
50 Percentual de adequação
%

40
30
20 14
10 0
0
Conforme Não conforme Não se aplica
Alternativas
FIGURA 2 – Percentual de conformidade dos Equipamentos, móveis e utensílios da UAN militar,
Belém/PA.

80
71
70
60
50
40 Percentual de adequação
%

29
30
20
10
0
0
Conforme Não conforme Não se aplica
Alternativas
FIGURA 3 – Percentual de conformidade dos Manipuladores da UAN militar, Belém/PA.

285
VIDAL, G. M.; BALTAZAR, L. R. S.; COSTA, L. C. F.; MENDONÇA, X. M. F. D. Avaliação das boas práticas em segurança alimentar de uma
unidade de alimentação e nutrição de uma organização militar da cidade de Belém, Pará. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 2, p. 283-290,
abr./jun. 2011.

(anéis e relógios) eram usados normalmente e que alguns adequados o que dificultava a apropriada higienização, ilu-
manipuladores não estavam com os cabelos protegidos du- minação e circulação de ar.
rante a execução da tarefa. Quanto ao fluxo de produção, foi possível observar
Em relação aos hábitos higiênicos, pôde-se observar que não havia rigoroso controle da circulação e acesso de
a pouca frequência de lavagem das mãos e a inadequação pessoal e o fluxo não era ordenado, linear e sem cruzamen-
dessa prática, uma vez que os funcionários possuíam o há- to. E ainda, a circulação de pessoas estranhas à produção e
bito de lavar as mãos somente ao entrar na UAN e de fazê- sem EPI era constante. Verificou-se também o cruzamento
lo sem o rigor necessário à higiene. Apesar de ser realizado entre a distribuição de alimentos e a devolução das bande-
periodicamente treinamento quanto aos procedimentos de jas, pratos e utensílios utilizados durante a refeição, pois
higienização e no local existirem cartazes de orientação não existia local específico para devolução das louças su-
dispostos em locais de fácil visualização. jas.
Quanto ao uso de equipamentos de proteção indivi- Comprovaram-se irregularidades quanto à verifica-
dual (EPI), constatou-se que alguns funcionários não faziam
ção do controle de qualidade do produto final; inexistên-
uso de toucas, luvas de malha de aço e luvas de PVC.
cia de programa de amostragem para análise laboratorial;
Produção e Transporte do Alimento inexistência de laudo laboratorial atestando o controle de
qualidade; e, ausência de equipamentos e materiais neces-
Foram verificados 32 itens na categoria Produção e sários para análise.
Transporte, apenas 44% (n=14) estavam em conformidade. Detectou-se que não era realizado o controle de
(Figura 4) temperatura das preparações prontas devido à ausência de
A matéria-prima, ingredientes e embalagens apre- equipamento apropriado.
sentaram a ausência de planilhas de controle na recepção
(temperatura, características sensoriais, condições de trans- Documentação
porte e outros).
Em relação ao armazenamento, a distância entre os Dos 17 itens avaliados na categoria Documentação,
estrados, o piso e as paredes não estavam satisfatoriamente somente 53% (n=09) estavam em conformidade (Figura 5).

50
44
45
40
35 31
30 25
25 Percentual de adequação
%

20
15
10
5
0
Conforme Não conforme Não se aplica
Alternativas
FIGURA 4 – Percentual de conformidade da Produção e transporte do alimentos da UAN militar,
Belém/PA.

60
53
50 47

40

30 Percentual de adequação
%

20

10
0
0
Conforme Não conforme Não se aplica
Alternativas
FIGURA 5 – Percentual de conformidade da Documentação da UAN militar, Belém/PA.

286
VIDAL, G. M.; BALTAZAR, L. R. S.; COSTA, L. C. F.; MENDONÇA, X. M. F. D. Avaliação das boas práticas em segurança alimentar de uma
unidade de alimentação e nutrição de uma organização militar da cidade de Belém, Pará. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 2, p. 283-290,
abr./jun. 2011.

Em relação aos POPs, notou-se que não existiam manutenções preventivas evitam problemas nos equipa-
POPs estabelecidos para estes itens e, portanto, não eram mentos, reduzindo as possíveis perdas na produção.
cumpridos: manejo de resíduos; manutenção preventiva e Os registros são muito importantes em uma UAN,
calibração de equipamentos; seleção das matérias-primas, pois permitem padronizar o controle de qualidade e a su-
ingredientes e embalagens e programa de recolhimento de pervisão do processo. 12 Foi constatado que a UAN em
alimentos. questão não realizava o registro em nenhuma etapa do pro-
Percebeu-se que a UAN apresentou as seguintes cesso produtivo. Fato este que pode estar contribuindo para
porcentagens de não conformidades: edificação e instala- a presença de outras não conformidades encontradas no lo-
ções 26%; equipamentos, móveis e utensílios 14%; ma- cal, pela impossibilidade de controle da qualidade.
nipuladores 29%; produção e transporte do alimento 31% Quanto aos manipuladores, observaram-se 29% de
e documentação 47%. Essa foi classificada no grupo 2 de inadequações. Diversos estudos5, 9,17,30 apontam a impor-
acordo com a Portaria n. 854/SELOM,6 atendendo a 66% tância dos manipuladores de alimentos para o controle de
de conformidade aos itens avaliados. qualidade do produto final.
Segundo a RDC n. 216,8 durante a manipulação de-
vem ser retirados todos os objetos de adorno pessoal e a
DISCUSSÃO
maquiagem. Os manipuladores devem usar cabelos presos
Os dados obtidos no presente estudo apontaram ir- e protegidos por redes, toucas ou outro acessório apropria-
regularidades quanto às condições das edificações e insta- do para esse fim.
lações sanitárias da UAN (26%). Em estudos realizados por Souza & Silva28 apontam as condições de higiene
Aktusu et al.2 e Cardoso et al.10 também foram encontradas dos manipuladores como potencial risco de contaminação
condições insatisfatórias. por micro-organismos como coliformes totais e fecais, bac-
A falta de planejamento da estrutura física de uma térias mesófilas e Staphylococcus.
UAN pode prejudicar o fluxo de produção, ocasionar cru- Porém, o problema de contaminação por manipula-
zamentos indesejáveis, retro processos e até mesmo aci- dores pode ser minimizado, segundo Silva, 25 por programas
dentes de trabalho. 4 de treinamento, conscientização e adesão das boas práticas
As instalações sanitárias devem possuir banheiros de higienização de equipamentos, móveis e utensílios por
separados para cada sexo, em bom estado de conservação, parte dos manipuladores de alimentos. Em sua pesquisa,
constituído de vaso sanitário, mictório com descarga, papel adotando esta medida, obteve-se uma redução significativa
higiênico, lixeira com tampa acionada por pedal, pias para nos níveis microbiológicos de 99,5%.
lavar as mãos, sabonete líquido ou sabão antisséptico e to- Os manipuladores devem lavar cuidadosamente as
alha de papel não reciclado. 6 mãos ao chegar ao trabalho, antes e após manipular alimen-
As condições observadas, a inadequada localização tos, após qualquer interrupção do serviço, após tocar mate-
do lavatório da área de produção e a ausência de material riais contaminados, após usar os sanitários e sempre que se
para higienização nos banheiros e no lavatório da área de fizer necessário. 7
produção, são alarmantes, pois comprometem a correta e Resultado semelhante ao encontrado por Cardoso et
constante higienização das mãos e, por conseguinte, a sani- al.,10 em seu estudo realizado em 20 UANs (cantinas) loca-
dade dos alimentos produzidos na UAN, pondo em risco o lizadas nos campi da Universidade Federal da Bahia, pois
potencial humano da OM. este verificou que 90% dos manipuladores faziam uso de
Em outros estudos também foram verificados resul- adornos (anéis, relógios etc.) e em 45% os manipuladores
tados similares quanto à ausência de material para a corre- não usavam proteção para os cabelos.
ta higienização das mãos, Machado et al.,16 Rodrigues & Silva26 percebeu aspectos críticos para a segurança
Martins,23 Santos et al.24 e Fonseca et al.11 alimentar dos militares do Exército Português. Destacando
No presente estudo, citou-se a existência de lixeiras a necessidade de formação dos manipuladores de alimen-
com contato manual e ausência de tampa nos locais ob- tos, o não cumprimento das regras de higiene pessoal, hi-
servados, o que representa um risco de contaminação das gienização das instalações e prejuízo à qualidade microbio-
mãos, além de atrair moscas, roedores e outros seres no- lógica do produto final.
civos à saúde humana. Em um estudo realizado por Genta Em relação à categoria Produção e transporte de ali-
et al.13 em seis UANs, quatro delas apresentaram o mes- mentos, constatou-se 32% de não conformidades.
mo risco de contaminação, pois não possuíam lixeiras com De acordo com a RDC n. 216, 8 para a consumação
tampas. do alimento, deve-se preferir pratos, copos e talheres de
A categoria equipamentos e utensílios apresentou material descartável, mas é permitido o uso de utensílios
14% de não conformidades. Neste estudo, foi detectada de material não-descartável, desde que sejam devidamente
apenas a existência da manutenção corretiva na UAN, não higienizados e armazenados em local protegido.
havendo registros da prática efetuada. Resultado similar A Portaria n. 854 6 ressalta que o armazenamento
ao observado por Guimarães, 14 Ravagnani & Sturion22 e e o transporte do alimento preparado, da distribuição até
Aplevicz et al.,4 pois a ausência de manutenção preventiva a entrega ao consumo, devem ocorrer em condições de
também foi recorrente. O que contraria a ideia de que as tempo e temperatura que não comprometam sua qualidade

287
VIDAL, G. M.; BALTAZAR, L. R. S.; COSTA, L. C. F.; MENDONÇA, X. M. F. D. Avaliação das boas práticas em segurança alimentar de uma
unidade de alimentação e nutrição de uma organização militar da cidade de Belém, Pará. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 2, p. 283-290,
abr./jun. 2011.

higiênico-sanitária. A temperatura do alimento preparado No estudo realizado por Ravagnani & Sturion22 o
deve ser monitorada durante essas etapas. O que não era maior índice de não conformidade foi visto na categoria
realizado na UAN pesquisada, corroborando o estudo de documentação, semelhante ao encontrado no presente es-
Passos & Vilaça. 20 tudo. O que aponta a necessidade da adoção de planilhas
Alves & Ueno3 observaram altas contagens de mi- de monitoramento, POPs para a padronização dos proces-
cro-organismos potencialmente patogênicos em uma UAN sos e a realização do controle de qualidade. A minimização
em que os alimentos eram mantidos fora da temperatura de da ocorrência de enfermidades transmitidas por alimentos
segurança. Por isso, o controle do binômio tempo e tempe- prontos para o consumo é consequência de um constante
ratura é essencial, visto que proporciona a não ocorrência controle de qualidade. 1
de deterioração e consequente perda da qualidade do pro-
duto final.
No presente estudo, a categoria documentação apre- CONCLUSÃO
sentou o maior percentual de inadequação (47%). A UAN
possuía o Manual de Boas Práticas (MBP), mas não exis- De acordo com o exposto, a UAN militar encontrou-
tiam os POPs. Essas mesmas condições foram observadas se no grupo 2 com 66,24% de conformidade. A maior por-
centagem de não conformidade foi verificada na categoria
por outros autores. No estudo de Leão, 15 100% das UANs
documentação. O que evidencia a necessidade do uso de
não apresentaram POPs para higienização das instalações,
ferramentas de controle de qualidade, planilhas de controle,
equipamentos e móveis; controle integrado de vetores e
fichas técnicas, receituário padronizado, entre outros, que
pragas urbanas; higienização do reservatório e higiene e
possibilitam a autoavaliação permanente do funcionamento
saúde dos manipuladores.
da UAN. Portanto, faz-se necessário a adoção de medidas
Também de acordo com os estudos de Machado et
de controle de qualidade como o monitoramento e registro
al.16 e Mariano & Moura,18 nenhuma das UANs estudadas
de tempo e temperatura; controle das sobras e restos; coleta
havia concluído a implementação do Manual de Boas Prá-
de amostras e armazenamento adequado; sorteio e envio de
ticas e dos POPs.
amostras para análise periódica. Esses procedimentos de-
Rodrigues & Martins23 notaram a ausência de pla-
vem ser implementados e documentados.
nilhas de controle na recepção dos alimentos, a fim de ve-
A qualidade da organização é a busca permanente
rificar o padrão de qualidade e higiene da matéria-prima,
da melhoria através da harmonia dos processos produtivos
tais como a temperatura, as características sensoriais, as
e administrativos em busca da produtividade. Seguindo es-
embalagens, as condições de transporte e a higiene do for-
sas orientações, o estabelecimento estará se adequando às
necedor.
exigências legais e também contribuindo para melhoria na
A Portaria n. 854 6 preconiza que a recepção das
qualidade das refeições produzidas.
matérias-primas, dos ingredientes e das embalagens seja
realizada em área protegida e limpa, cuidando para que
esses insumos não contaminem o alimento preparado. VIDAL, G. M.; BALTAZAR, L. R. S.; COSTA, L. C. F.;
Ainda, devem ser submetidos à inspeção e aprovados na MENDONÇA, X. M. F. D. Assessment of good practices
recepção. As embalagens primárias das matérias-primas e in food security in a food and nutrition service of military
dos ingredientes devem estar íntegras. A temperatura das organization of the city of Belém, Pará. Alim. Nutr.,
matérias-primas e ingredientes que necessitem de condi- Araraquara, v. 22, n. 2, p. 283-290, abr./jun. 2011
ções especiais de conservação deve ser verificada nas eta-
pas de recepção e de armazenamento. Também enfatiza
que esses procedimentos devem ser registrados no ato do ABSTRACT: This study aimed to evaluate good practices
recebimento. in food security in a food and nutrition service (FNS) of
A não existência do POP para recolhimento de ali- Military Organization placed in the city of Belém, state
mentos implica em não conformidade e falha no contro- of Pará, applying a check list adapted from the Decree
le, uma vez em que a avaliação diária das sobras é outra Order 854/SELOM. More than 157 items were evaluated
medida que pode ser utilizada no controle e avalização da and subdivided in 5 categories. The alternatives for each
qualidade do serviço oferecido. O excesso de sobras pode item were: (1) Yes, when it was in accordance; (2) No,
denotar falhas no porcionamento das refeições ou mesmo when it was not in accordance and (3) When it does not
no seu planejamento, no que diz respeito à definição das ne- apply. The FNS was also classified according to the scoring
cessidades nutricionais. Entre clientelas esclarecidas, pode criteria of the Decree Order: (Group 1) 76 to 100%; (Group
ser decorrente de falhas na seleção de alimentos e prepara- 2) 51 to 75%; and (Group 3) 0 to 50%. The percentages
ções para a elaboração dos cardápios. 29 of non-accordance were: construction and installations
O lixo orgânico deve ficar acondicionado em local 26%; equipments, furniture and tools 14%; manipulators
fechado, isento de moscas, roedores e outros animais até 29%; production and transportation of food 31%; and
ser recolhido, de preferência em refrigeração, que bloqueia documentation 47%. The FNS was rated as group number
o crescimento e desenvolvimento das bactérias, inibindo a 2, attending 66% of accordance. Although the results
produção de gases e líquidos que causam odores desagra- showed that the major part of the evaluated items are in
dáveis. 27 accordance, it was also noticed a high frequency of non-

288
VIDAL, G. M.; BALTAZAR, L. R. S.; COSTA, L. C. F.; MENDONÇA, X. M. F. D. Avaliação das boas práticas em segurança alimentar de uma
unidade de alimentação e nutrição de uma organização militar da cidade de Belém, Pará. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 2, p. 283-290,
abr./jun. 2011.

accordance. This leads us to the need for a quality control 11. FONSECA, M. P. et al. Avaliação das condições
measure, in order to contribute to the improvement of the físico-funcionais de restaurantes comerciais para
quality of the produced meals. implementação das boas práticas. Alim. Nutr., v. 21,
n. 2, p. 251-257, abr./jun. 2010.
KEYWORDS: Food handling; food security; legislation;
12. FRANTZ, C. B. et al. Avaliação de registros de processos
military hygiene.
de quinze unidades de alimentação e nutrição. Alim.
Nutr., v. 19, n. 2, p. 167-175, abr./jun. 2008.
REFERÊNCIAS 13. GENTA, T. M. S.; MAURÍCIO, A. A.; MATIOLI,
G. Avaliação das boas práticas através de check-list
1. ABREU, E. S.; SPINELLI, M. G. N.; ZANARDI, A.
aplicado em restaurantes self-service da região central
M. P. Gestão de unidades de alimentação e nutrição:
de Maringá, Estado do Paraná. Acta Sci. Health Sci.,
um modo de fazer. São Paulo: Metha, 2003. 202 p.
v. 27, n. 2, p. 151-156, 2005.
2. AKUTSU, R. C. et al. Adequação das boas práticas de
fabricação em serviços de alimentação. Rev. Nutr., 14. GUIMARÃES, I. A. Análise da estrutura física e
v. 18, n. 3, p. 419-427, maio/jun. 2005. funcional de um restaurante em Brasília. 2006. 65f.
Monografia (Curso de Especialização em Gastronomia
3. ALVES, M. G.; UENO, M. Restaurantes self-service: como Empreendimento) – Universidade de Brasília,
segurança e qualidade sanitária dos alimentos servidos. Brasília, 2006.
Rev. Nutr., v. 23, n. 4, p. 573-580, 2010.
15. LEÃO, C. M. S. Avaliação das boas práticas de
4. APLEVICZ, K. S.; SANTOS, L. E. S.; BORTOLOZO,
produção nas unidades de alimentação e nutrição
E. A. F. Q. Boas práticas de fabricação em serviços de
localizadas na esplanada dos ministérios em Brasília/
alimentação situados no estado do Paraná. Rev. Bras.
Tecnol. Agroind., v. 4, n. 2, p. 122-131, 2010. DF. 2006. 48 f. Monografia (Curso de Especialização
em Qualidade de Alimentos) - Universidade de Brasília,
5. AZEVEDO, T. B. C.; LAVINAS, F. C.; RIBEIRO, R. Brasília, 2006.
L. A importância dos manipuladores no controle de
qualidade dos alimentos: artigo de revisão. Saúde 16. MACHADO, A. D. et al. Condições higiênico-
Ambiente Rev., v. 3, n. 1, p. 129, jan./jun. 2008. sanitárias nos serviços de alimentação de organizações
não governamentais de Toledo/PR. Nutrire, v. 34, n. 3,
6. BRASIL. Ministério da Defesa. Secretaria de Logística,
p. 141-151, dez. 2009.
Mobilização, Ciência e Tecnologia. Portaria n. 854, de
4 de julho de 2005. Aprova o regulamento técnico de 17. MAGALHÃES, V. M.; CARVALHO, A. G.; FREITAS,
boas práticas em segurança alimentar nas organizações F. I. S. Inquérito parasitológico em manipuladores de
militares. Bol. Exército, n. 28, p. 11-33, 2005. alimentos em João Pessoa, PB, Brasil. Rev. Patol.
7. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional Tropic., v. 39, n. 4, p. 335-342, out./dez. 2010.
de Vigilância Sanitária. Portaria n. 275, de 21 18. MARIANO, C. G.; MOURA, P. N. Avaliação das boas
de outubro de 2002. Regulamento técnico de práticas de fabricação em unidade produtora de refeições
procedimentos operacionais padronizados aplicados (UPR) auto-gestão do interior do estado de São Paulo.
aos estabelecimentos produtores/industrializadores de Rev. Salus, v. 2, n. 2, p. 73-81, jul./dez. 2008.
alimentos. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, Brasília, 2002. Disponível em: http://www. 19. NERY, C. R. B. et al. Nutrição e saúde no exército
anvisa.gov.br/legis/. Acesso em: 20 fev. 2010. brasileiro. Rev. Educ. Físic., n.127, p. 34-40, 2003.
8. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de 20. PASSOS, M. B. A.; VILAÇA, A. C. Avaliação das boas
Vigilância Sanitária. Resolução RDC n. 216 de 15 práticas em restaurantes do município de Miranorte –
de setembro de 2004. Regulamento técnico de boas TO. Cad. Pós-Graduação FAZU, v. 1, n. 1, p. 1-5,
práticas para serviços de alimentação. Diário Oficial 2010.
[da] República Federativa do Brasil, Brasília, 2004. 21. PROENÇA, R. P. C. et al. Qualidade nutricional e
Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/alimentos/ sensorial na produção de refeições. Florianópolis:
bps.htm. Acesso em: 20 fev. 2010.
UFSC, 2005. 221 p.
9. BRIZZIO, A. A.; TEDESCHI, F. A.; ZALAZAR, F. E.
22. RAVAGNANI, E. M.; STURION, G. L. Avaliação
Descripción de un brote de intoxicación alimentaria
da viabilidade de implementação das boas práticas
estafilocócica ocurrido en Las Rosas, Provincia de
Santa Fe, Argentina. Rev. Argent. Microbiol., v. 43, em unidades de alimentação e nutrição de centros de
n. 1, p. 28-32, 2011. educação infantil de Piracicaba, São Paulo. Rev. SAN,
v. 16, n. 2, p. 43-59, 2009.
10. CARDOSO, R. C. V.; SOUZA, E. V. A.; SANTOS,
P. Q. Unidades de alimentação e nutrição nos campi 23. RODRIGUES, S.; MARTINS, A. H. Avaliação da
da Universidade Federal da Bahia: um estudo sob a estrutura física em unidades de alimentação e
perspectiva do alimento seguro. Rev. Nutr., v. 18, n. 5, nutrição da cidade de Cascavel, Paraná. 2008. 13 f.
p. 669-680, set./out. 2005. Monografia. FAG, Cascavel, 2008.

289
VIDAL, G. M.; BALTAZAR, L. R. S.; COSTA, L. C. F.; MENDONÇA, X. M. F. D. Avaliação das boas práticas em segurança alimentar de uma
unidade de alimentação e nutrição de uma organização militar da cidade de Belém, Pará. Alim. Nutr., Araraquara, v. 22, n. 2, p. 283-290,
abr./jun. 2011.

24. SANTOS, M. O. B.; RANGEL, V. P.; AZEREDO, D. P. 28. SOUZA, E. L.; SILVA, C. A. Qualidade sanitária de
Adequação de restaurantes comerciais às boas práticas. equipamentos, superfícies, água e mãos de manipuladores
Hig. Aliment., v. 24, n. 190/191, p. 44-49, nov./dez. de alguns estabelecimentos que comercializam alimentos
2010. na cidade de João Pessoa, Pb. Hig. Aliment., v. 18,
n. 116/117, p. 98-102, jan./fev. 2004.
25. SILVA, L. F. Procedimento operacional padronizado
29. TEIXEIRA, S. M. F. et al. Administração aplicada
de higienização como requisito para segurança às unidades de alimentação e nutrição. São Paulo:
alimentar em unidade de alimentação. 2006. 69 f. Atheneu, 2010. 219 p.
Dissertação - Universidade Federal de Santa Maria, RS,
30. VIVEIROS, F. C. Avaliação de conhecimentos de
2006. higiene e segurança alimentar de manipuladores de
26. SILVA, P. M. T. Os Sistemas de alimentação e a alimentos em unidades de alimentação e nutrição do
segurança alimentar em unidades do exército sector hospitalar. 2010. 57 f. Tese (Licenciatura em
Ciências da Nutrição e Alimentação) - Universidade do
português. 2009. 151 f. Dissertação. Universidade
Porto, Porto, 2010.
Técnica de Lisboa, Lisboa, 2009.
27. SILVA FILHO, A. R. A. Manual básico para Recebido em: 08/10/2010
planejamento e projeto de restaurantes e cozinhas
industriais. São Paulo: Varela, 1996. 232 p. Aprovado em: 06/04/2011

290
Copyright of Brazilian Journal of Food & Nutrition / Alimentos e Nutrição is the property of Faculdade de
Ciencias Farmaceuticas, UNESP and its content may not be copied or emailed to multiple sites or posted to a
listserv without the copyright holder's express written permission. However, users may print, download, or
email articles for individual use.
Copyright of Brazilian Journal of Food & Nutrition / Alimentos e Nutrição is the property of Faculdade de
Ciencias Farmaceuticas, UNESP and its content may not be copied or emailed to multiple sites or posted to a
listserv without the copyright holder's express written permission. However, users may print, download, or
email articles for individual use.

Você também pode gostar