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da Secretaria de Educação a Distância, em


conformidade com a Lei 9.610 de 19/02/1998,
Capítulo IV, Artigo 46. Permitindo o uso apenas para
fins educacionais de pessoas com deficiência visual.
Não podendo ser reproduzido, modificado e utilizado
em fins comerciais.

Adaptado por Beatriz Andrade e XXXX

Revisado por Beth Ferreira

Natal, setembro de 2018

SETOR DE ACESSIBILIDADE
Secretaria de Educação a Distância | UFRN
Campus Universitário - Praça Cívica - Natal/RN

Fone: 84 3342.2250 Ramal 130

Cel: 84 9 9229-6435
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM
SAÚDE DA FAMÍLIA

Módulo:

Feridas e Curativos na Atenção Primária à Saúde

UNIDADE 4

Tratamento de Feridas na APS

Luciane Paula Batista Araújo de Oliveira

PEPSUS - PROGRAMA DE EDUCAÇÃO


PERMANENTE EM SAÚDE DA FAMÍLIA
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Tratamento de Feridas na APS

Caros alunos, iremos iniciar a última unidade deste


módulo. Esta unidade será composta por duas
aulas que abordarão os seguintes temas: materiais
e técnicas mais indicadas para limpeza e cobertura
de feridas, e os recursos disponíveis na APS para
tratar os usuários com lesões. Vamos começar?
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Aula 1: Limpeza e cobertura de feridas:


materiais e técnicas mais indicados

Prezados, ao tratarmos um usuário com lesões, é


bom ter em mente qual o ambiente ideal a ser
mantido no local da ferida para que o processo
cicatricial aconteça da melhor maneira. Você já se
perguntou qual é a melhor maneira de tratar as
feridas no que se refere a limpeza delas?

Nesse sentido, é preciso promover: a hidratação


da pele, mantendo alta a umidade na interface
ferida/cobertura; o isolamento térmico; remover
o excesso de exsudação para manter o local livre
de corpos estranhos, tecido necrótico e controlar
infecção local. Qualquer manuseio que altere
essas condições pode retardar e prejudicar o
processo de cicatrização. Daí emerge a
importância dos curativos oclusivos que, ao
oferecerem cobertura para a lesão, minimizam a
dor e exsudato, protegem o local contra
infecções, promovem hemostasia e
desbridamento autolítico e, nas feridas
cavitárias, servem para preencher espaços vazios
(SASSERON, 2014). O curativo ideal deve ainda
permitir trocas gasosas e ser realizado de modo
a não causar traumas durante sua remoção e
troca.

Sempre que você for trocar um curativo primário,


ou seja, aquela cobertura que tem contato direto
com a lesão, é fundamental que proceda com a
limpeza adequada do local para que possa ser
removido qualquer corpo estranho. Isso é, resíduo
de produtos, fragmentos de curativo anterior,
exsudato da lesão ou sujidade que possa interferir
na evolução natural da reparação dos tecidos
lesionados e na integridade das regiões
circundantes (BRASIL, 2016).

Em áreas com tecido de granulação a limpeza deve


ser feita com irrigação suave de soro fisiológico a
0,9% de maneira a não danificar tecidos novos. Em
feridas com tecidos inviáveis (esfacelo ou necrose
seca), a limpeza deve ser feita com gaze embebida
em soro para promover a remoção de tecido
desvitalizado.

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Figura 1 - Algoritmo para limpeza da ferida.

Fonte: Brasil (2016, p. 53).

Descrição:

Diagrama com seis blocos em tons de azuis. No


topo e centralizado o primeiro bloco azul escuro
com a informação em letras brancas: Portador de
Ferida em UBS, desse bloco saem duas setas para
baixo, se ligando a dois novos blocos azuis. Á
esquerda: “Com exposição de tecidos nobres” e á
direita: “Sem exposição de tecidos nobres”. Logo
abaixo de cada um há novos blocos azuis claros, á
esquerda está escrito: “Técnica Estéril” e a direita
“Técnica Limpa”. Ainda, logo abaixo, outro bloco
maior, de cor azul mais clara e com letras azuis
escuras tem as seguintes informações:
“Importante: não friccionar leito da ferida na
presença de tecidos viáveis; umedecer curativo a
ser removido, com SF a 0,9%, caso esteja aderido;
orientar o paciente para não umedecer o curativo
nem a ferida durante o banho.”

[Fim da Descrição]

Como você acabou de ver no algoritmo, a


limpeza de uma lesão pode ser feita com técnica
estéril ou limpa. Na primeira, a limpeza é
realizada por profissional de saúde competente
para isso – enfermeiro, técnico de enfermagem
e/ou médico – utilizando material estéril como
solução fisiológica 0,9%, gaze estéril, luvas
estéreis, podendo ainda usar pinças que
garantam maior segurança no procedimento. A
técnica limpa é a empregada quando o curativo é
realizado no domicílio, pelo usuário e/ou familiar,
utilizando material limpo, água corrente ou soro
fisiológico 0,9% e gazes.

Sobre as coberturas utilizadas para ocluir lesões,


essas podem ser classificadas como coberturas
passivas, interativas e bioativas. Como o próprio
nome já indica, a cobertura passiva é aquela que
somente protege e cobre as feridas; as interativas
proporcionam um micro-ambiente ótimo para a
cura; as bioativas resgatam ou estimulam a
liberação de substâncias durante o processo de
cura.

A cobertura ideal é aquela capaz de garantir um


ambiente adequado para a cicatrização tecidual, o
que envolve condições adequadas de temperatura,
umidade e oxigenação. Uma temperatura de 37°C
no local da lesão é capaz de aumentar a atividade
mitótica das células, favorecendo a cicatrização.
Por esse motivo, alguns profissionais armazenam
frascos de solução fisiológica em local aquecido,
uma medida simples que pode trazer importante
benefício. Uma ferida ressecada tende a ter
formação de crostas e retardo na migração de
células epiteliais para o seu leito, por isso que as
gazes em contato com o

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tecido de granulação precisam estar sempre


úmidas. Algumas pessoas acreditam que um
curativo não deve ser totalmente fechado para
garantir a oxigenação da lesão, o que é um erro,
pois o oxigênio necessário à cicatrização é provido
pelo sangue e não pelo ar ambiente (GOMES;
BORGES, 2008).

Para escolher adequadamente o tipo de curativo


ideal para cada usuário, é muito importante que
você leia e estude atentamente o conteúdo da
Unidade 1: Avaliação de lesões em usuários da
atenção básica. Mediante a realização de uma
avaliação adequada do portador da lesão, verifique
a figura a seguir que sintetiza os critérios a serem
considerados na escolha da cobertura ideal.

Figura 2 - Escolha do curativo oclusivo.

Fonte: Adaptada de Sasseron (2014).

Descrição:

Retângulo cinza, dentro dele há alguns retângulos


brancos e em tons diferentes de azul. No canto
superior esquerdo um retângulo branco traz em
letras azuis a informação: Existe infecção ou
presença de contaminação no local?, uma linha
para baixo se conecta a pequeno retângulo azul e
nele tem escrito SIM e outra linha segue na parte
superior em direção a direita, ele se interliga ao
retângulo Não. O retângulo SIM se conecta a um
retângulo azul logo abaixo, com letras brancas está
escrito em tópicos: Carvão ativado com prata,
Alginato com prata. O retângulo Não que está na
parte superior liga-se a um retângulo branco
escrito: Qual o grau de exsudato? Dele saem três
linhas para baixo, que se ligam a três retângulos
azuis contendo as informações respectivamente:
Nenhum/Baixo, Moderado, Intenso, cada um deles
se conecta a um novo retângulo azul trazendo em
tópicos as seguintes informações respectivamente:
Hidrogel, Gazes impregnadas, Filmes; Filme
transparente, Hidropolímero, Alginato com
colágeno, Hidrocoloide; Alginato de cálcio,Espumas,
Alginato com colágeno ou prata,Hidrofilme,Carvão
ativado com prata.
[Fim da Descrição]

Com essa figura podemos ver que é fundamental


avaliar a presença, quantidade e aspecto de
exsudato, se há contaminação no local, tamanho e
profundidade das lesões, bem como as condições
gerais de saúde do usuário, pois todas essas
informações irão lhe ajudar na escolha do
tratamento adequado de acordo com sua
finalidade. Sendo assim, o tratamento deve
considerar também os recursos disponíveis no local
que você atua, bem como se o usuário tem
condições de adquirir algum deles, caso o serviço
não disponha, pois, os custos podem variar
bastante e impactar no orçamento doméstico.
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A seguir, iremos conhecer as finalidades dos


principais produtos e tipos de coberturas em
curativos oclusivos:

Curativo Indicação

Os ácidos graxos linoleico (ômega 6


ou n-6) e α-linolênico (ômega 3 ou n-
3) são essenciais, pois atuam como
Ácidos Graxos precursores para a síntese de outros
Essenciais ácidos graxos poliinsaturados de
cadeia longa como os ácidos
araquidônicos (AA), que fazem parte
de funções celulares, como
integridade e fluidez das membranas,
atividade das enzimas de membrana
e síntese de prostaglandinas,
leucotrienos e tromboxanos.

Estes, por sua vez, possuem


capacidade de modificar reações
inflamatórias e imunológicas,
alterando funções leucocitárias e
acelerando o processo de granulação
tecidual (MANHEZI et al., 2008).
Colagenase A colagenase tem a propriedade de
decompor o colágeno em seu estado
natural ou desnaturado, contribuindo
na formação de tecido de granulação
e subsequente reepitelização de
úlceras da pele. Seu efeito começa
após 8 a 12 horas da aplicação e tem
a duração de até 24 horas.

A manutenção do meio úmido


proporcionada pela película facilita a
Filmes
migração e a reprodução celulares
(FLORIANÓPOLIS, 2007). Protege a
ferida de contaminação e permite a
visualização da lesão (SASSERON,
2014).

Hidrocolóides Tem sido geralmente recomendada


no tratamento de úlcera por pressão
de estágios II e III, com
profundidade mínima (PINHEIRO et
al., 2013).

Indicado para lesões pouco úmidas e


de média exsudação, com tecido
inviável (necrose e esfacelo);
estimula granulação e epitelização a
Hidrogéis
partir do meio úmido. Promove o
ambiente úmido ideal para a
cicatrização por intermédio da
hidratação da ferida. Conduz ao
desbridamento autolítico ou facilita o
desbridamento mecânico.

Por ser altamente absorvente, é


recomendado para lesões com
exsudato de moderado a intenso
Alginatos (PINHEIRO et al., 2013). Fornece um
meio úmido que favorece a remoção
de tecido necrótico e exsudato. Pode
ser deixado na lesão por até 7 dias
ou até haver saturação, podendo ser
trocado apenas o curativo secundário
nesse intervalo de tempo
(SASSERON, 2014).

Promovem isolamento térmico da


ferida e amortecimento,
especialmente em áreas susceptíveis
Espumas à maior pressão. São muito úteis
para absorver exsudato e podem ser
usados em feridas cavitárias, pois
preenchem espaços (SASSERON,
2014).

Carvão Feridas infectadas ou não, com


ativado drenagem de exsudato moderado a
abundante. Capaz de controlar
odores. Observação: não pode ser
recortado (SASSERON, 2014).

Indicada para queimaduras e lesões


infectadas ou com tecido necrótico. O
Sulfadiazina
íon prata causa precipitação de
de prata proteínas e age diretamente na
membrana citoplasmática da célula
bacteriana, exercendo ação
bactericida imediata e ação
bacteriostática residual pela liberação
de pequenas quantidades de prata
iônica (BRASIL, 2011b).

Quadro 1 – Principais produtos e tipos de


coberturas em curativos oclusivos.

Algumas pessoas podem apresentar lesões com


áreas de tecido necrosado que não melhoram
mesmo aplicando diferentes técnicas e produtos no
local. Sabe-se que a presença de necrose
compromete a cicatrização e, para auxiliar nesse
processo, os profissionais precisam lançar mão da
técnica do desbridamento que, de modo geral,
significa a remoção de tecido desvitalizado. Cabe
ao enfermeiro e/ou ao médico escolher o melhor
método, desde que respeitada a legislação de cada
profissão. Atualmente, entende-se que existem
diferentes formas de se desbridar uma ferida e,
para deixamos claro, serão descritas a seguir o
entendimento do Conselho Federal de Enfermagem
sobre cada técnica de desbridamento (COFEn,
2015).

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Sintetizando o que você acabou de ver:


Desbridamento autolítico – processo seletivo
de remoção da necrose (preserva o tecido vivo)
pela ação dos neutrófilos, eosinófilos e basófilos;
e das enzimas digestivas do próprio organismo
do indivíduo. É promovido pelo uso de produtos
que garantam a umidade adequada na ferida.
Desbridamento instrumental conservador
(Desbridamento cirúrgico ou com instrumental
cortante) – pode ser realizado à beira do leito ou
ambulatorial, em lesões cuja área de necrose não
seja muito extensa. Nestes casos, a analgesia
local geralmente não é necessária visto que o
tecido necrótico é desprovido de sensação
dolorosa. Nos casos de lesões extensas e/ou
profundas, o usuário deverá ser encaminhado ao
centro cirúrgico de um serviço hospitalar.
Desbridamento mecânico – consiste na
aplicação de força mecânica diretamente sobre o
tecido necrótico a fim de facilitar sua remoção,
promovendo um meio ideal para a ação de
cobertura primária. Pode ser por fricção, irrigação
com jato de solução salina à 0,9%, irrigação
pulsátil, hidroterapia, curativo úmido-seco,
enzimático e autólise.
Desbridamento químico – processo seletivo de
remoção da necrose (preserva o tecido vivo) por
ação enzimática.

Lembramos que, embora o método mecânico


seja o que remove o tecido necrosado mais
rapidamente, nem todos os profissionais podem
realizá-lo. De acordo com a Resolução COFEn
nº501/2015, é de competência do enfermeiro
executar o desbridamento autolítico,
instrumental, químico e mecânico. Quanto ao
método cirúrgico, somente o médico tem
competência técnica e legal para a sua execução.
É importante destacar que o excessivo
desbridamento pode resultar em uma
reinstalação do processo inflamatório, bem como
em piora na ferida e complicações graves.

Assim, finalizamos essa Aula 1, que destacou a


limpeza e cobertura de feridas: materiais e técnicas
mais indicados. É válido salientar que existem
outras técnicas, mas, aqui, procura- mos destacar
as mais utilizadas. Na próxima aula, abordaremos
os recursos disponíveis na APS para tratar os
usuários com lesões. Vamos lá?

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Aula 2: Quais os recursos disponíveis na APS


para tratar os usuários com lesões?

Agora daremos início à nossa última aula deste


curso, a qual versará sobre os recursos disponíveis
na APS para tratar os usuários com lesões.

Cuidar de feridas é algo comum nos serviços de


atenção primária, por isso é importante que o
profissional atuante nesses locais saiba avaliar
corretamente o usuário para traçar um plano de
cuidados adequado a cada caso, desenvolvendo na
UBS ou no domicílio todos os cuidados possíveis e
encaminhando para serviços de outros níveis de
complexidade quando se faz necessário.

No Sistema Único de Saúde (SUS), o acesso


universal e igualitário às ações e aos serviços de
saúde se encontra ordenado pela Atenção Primária
conforme consta nos artigos 9 e 11 do Decreto
Presidencial nº 7.508/2011. Essa decisão impõe
grandes desafios diante dos diferenciais de poder
entre os serviços de atenção básica e os de média
e alta complexidade. O referido decreto criou uma
Rede Nacional de Serviços de Saúde (RENASS) a
qual define como portas de entrada no SUS “os
serviços de atenção primária, urgência e
emergência, atenção psicossocial e os serviços
especiais de acesso aberto” (SOLLA; PAIM, 2014,
p. 343).

A atenção primária é um cenário propício para a


implementação das tecnologias de cui- dado ao
portador de ferida, pois, nesse contexto, é possível
apreender a realidade de vida das pessoas, o que
permite conhecer melhor os determinantes de seus
problemas de saúde e de doença, bem como os
recursos disponíveis para solucionar tais situações
(BUSANELLO et al., 2013).

Muitos desses usuários procuram as UBS como


porta de entrada do SUS ou nelas são
acompanhados após atendimento de alta
complexidade, o que confere à atenção primária
maiores capacidade e responsabilidade para
assistência ao portador de lesões da pele (SANTOS
et al., 2014).

Como a atenção básica é importante, não é


mesmo?

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Para Refletir
Em estudo realizado em unidades da ESF na cidade
de Recife/PE, o tipo de lesão com atendimento
mais frequente nesses serviços correspondeu às
úlceras vasculares, equivalendo a 74,1% das
lesões atendidas, enquanto os traumatismos
representaram 24,1%. Nesses locais, a
comunicação e o vínculo foram destacados como
as principais tecnologias leves presentes no
processo de cuidado ao indivíduo portador de
ferida, algo fundamental para se realizar ações
eficazes de educação em saúde, em especial
orientações para a promoção do autocuidado.
Especialmente para os enfermeiros, esse cuidado
requer também a valorização, a sistematização da
assistência de enfermagem e as terapias tópicas
empregadas (SANTOS et al., 2014).

Para atender a tais demandas, o Ministério da


Saúde publicou, no ano de 2011, o Caderno de
Atenção Primária nº 30 “Procedimentos”, o qual
aborda alguns procedimentos que podem ser
realizados nas UBS, de forma eletiva ou durante o
atendimento à demanda espontânea, elencando os
insumos que devem estar presentes em todas as
unidades para realizar tais atendimentos com
qualidade (BRASIL, 2011b).

Esse mesmo caderno lista o material que deve ser


disponibilizado em cada UBS para realização dos
mais diversos procedimentos passíveis de serem
realizados nesses serviços. Para a limpeza e troca
de curativos, as UBS devem dispor de: seringas;
agulhas; swab de cultura, se necessário; soro
fisiológico para limpeza da ferida; antissépticos
como solução de iodopovidina ou clorexidina (para
limpeza da pele íntegra ao redor de uma ferida ou
antissepsia do local que será incisionado); gaze;
atadura; esparadrapo; coberturas primárias:
hidrocoloide; ácido graxo essencial; alginato de
cálcio; sulfadiazina de prata.

É muito importante que você, profissional atuante


em unidades básicas com ou sem ESF e em outros
serviços desse nível de atenção, tenha
conhecimento da existência do Caderno de Atenção
Primária nº 30, pois, ao agregar novos
conhecimentos, estará instrumentalizado para o
melhor atendimento da população e realização de
procedimentos, ajudando a evitar estrangulamento
dos serviços dos outros níveis de atenção e, com
isso, contribuir para o aumento da resolutividade
da Atenção Primária à Saúde (APS).

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Saiba mais sobre esses procedimentos no


Caderno de Atenção Básica do Ministério da Saúde,
disponível no link: <http://189.28.128.100/
dab/docs/publicacoes/cadernos_ab/abcad30.pdf>
E como realizar a busca ativa? A busca ativa pode
ser feita pela equipe multiprofissional durante as
visitas domiciliares, ou na Unidade Básica de
Saúde, quando o usuário a procura por outros
motivos, aproveitando-se a ocasião para
acompanhar seu estado de saúde. Nesse sentido, é
essencial que todos possam ser avaliados e
acompanhados de maneira global, tendo em vista
que a saúde é influenciada por diversos fatores
individuais, como também externos ao indivíduo,
que podem configurar riscos e/ou desencadear as
complicações ao seu estado. Tudo aquilo que é
identificado durante as visitas ou atendimentos na
UBS deve ser considerado no planejamento das
ações para que o cuidado prestado seja capaz de
sanar as demandas específicas de cada realidade
(BRASIL, 2016).

A Coordenação do Cuidado, enquanto


atribuição da AB, implica a
responsabilidade desta de acompanhar e
gerir o cuidado do indivíduo dentro de
todo o Sistema de Saúde, incluindo os
demais níveis de atenção. Cabe, portanto,
à AB ordenar os fluxos e as linhas de
cuidado, guiando o usuário no seu per-
curso entre os distintos serviços de saúde
quando necessários, promovendo a
adequada articulação entre todos eles e,
ao mesmo tempo, prevenindo o risco de
excesso de intervenções,
concomitantemente ao cuidado prestado.
Para isso, é indispensável uma boa
comunicação entre os níveis, que pode
variar desde a troca de relatórios e
pareceres entre os profissionais, sejam
físicos ou eletrônicos, até a comunicação
direta com ligações telefônicas para
discussão de caso. A proatividade da
equipe de Atenção Básica é tão importante
quanto o esforço dos gestores locais em
potencializar essas relações na prática
cotidiana (BRASIL, 2016, p. 20).

Além do cuidado realizado pela ESF, não podemos


esquecer o trabalho das Equipes Multiprofissionais
de Atenção Domiciliar (EMAD) definidas, de acordo
com a RDC nº11/2006 da ANVISA, como equipe
técnica responsável pela atenção domiciliar, com a
função de prestar assistência clínico-terapêutica e
psicossocial ao usuário em seu domicílio (ANVISA,
2006). A Atenção Domiciliar (AD) constitui-se como
uma “modalidade de atenção à saúde integrada às
Rede de Atenção à Saúde (RAS), caracterizada por
um conjunto de ações de prevenção e tratamento
de doenças, reabilitação, paliação e promoção à
saúde, prestadas em domicílio, garantindo
continuidade de cuidados” (BRASIL, 2016). Trata-
se de uma forma de

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reorganização do processo de trabalho das equipes


que prestam cuidado domiciliar na atenção básica,
ambulatorial e hospitalar, com vistas à redução da
demanda por atendimento hospitalar e/ou redução
do período de permanência de usuários internados,
à humanização da atenção, à desinstitucionalização
e à ampliação da autonomia dos usuários.

Se pensarmos nas pessoas com lesões que,


cumulativamente, apresentam outros problemas de
saúde que requerem cuidados mais intensivos e
passíveis de serem executados dentro de suas
próprias casas, esses usuários se encaixariam em
tal modalidade de atendimento.

Saiba mais sobre a Portaria nº 825, de 25 de abril


de de 2016, que redefine a Atenção Domiciliar no
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e
atualiza as equipes e habilidades. Ela está
disponível no link:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/201
6 / prt0825_25_04_2016.html

Não podemos deixar de mencionar que a própria


Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) afirma
que, é parte do processo de trabalho de suas
equipes,
realizar atenção domiciliar destinada a
usuários que possuam problemas de saúde
controlados/compensados e com
dificuldade ou impossibilidade física de
locomoção até uma unidade de saúde, que
necessitam de cuidados com menor
frequência e menor necessidade de
recursos de saúde, e realizar o cuidado
compartilhado com as equipes de atenção
domiciliar nos demais casos (BRASIL,
2017).

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Saiba mais sobre a Política Nacional de Atenção


Básica – Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de
2017. Ela está disponível no link:
<http://www.foa.unesp.br/home/pos/ppgops/
portaria-n-2436.pdf>.

FINALIZANDO...

Com esse módulo, esperamos que você tenha


aprendido (ou revisado) assuntos que
consideramos fundamentais para cuidar de pessoas
acometidas pelos diversos tipos de feridas
atendidas nos serviços de APS.

A prestação de um cuidado humanizado, ético e


embasado cientificamente, requer o aprimoramento
constante dos conhecimentos que, dentro da
temática, incluem: conhecer como acontece o
processo de cicatrização tecidual, bem como os
fatores locais e sistêmicos que o influenciam;
identificar os aspectos mais importantes da
entrevista e do exame físico para avaliarmos lesões
e classificá-las; utilizar as informações anteriores
para planejar a assistência à saúde, bem como
propor ações de educação e promoção à saúde de
usuários, família e comunidade; conhecer os
recursos humanos e materiais necessários para
cuidar de pessoas com lesões; e compreender que
o domicílio, as unidades básicas (com ou sem ESF)
e outros espaços da comunidade podem servir
como local para promoção à saúde.

É preciso lembrar que os serviços da APS estão


relacionados a uma ampla rede de atenção pela
qual o usuário com feridas – foco deste módulo –
deve caminhar por meio do sistema de referência e
contrarreferência para que seja garantida a
integralidade do cuidado.

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