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INFLUÊNCIA DO TEMPO E DAS CONDIÇÕES DE ARMAZENAMENTO NA

GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE ESPÉCIES FLORESTAIS


Lílian de Lima Braga1, Priscyla Maria Silva Rodrigues1, Yule Roberta Ferreira Nunes1, Maria das
Dores Magalhães Veloso1 (1Laboratório de Ecologia e Propagação Vegetal, Campus Universitário
Prof. Darcy Ribeiro - Vila Mauricéia - Montes Claros /MG - CP 126 - CEP 39401. e-mail:
lilianlbraga@yahoo.com.br)

Termos para indexação: armazenamento de sementes, Acacia polyphylla, Anadenanthera


colubrina, Bauhinia cheilantha, Myracrodruon urundeuva

Introdução
Os fragmentos florestais conservados têm tornado-se um recurso cada vez mais escasso em
decorrência das perturbações antrópicas, sendo poucas as técnicas apropriadas para o manejo
sustentado das florestas nativas (Chaves e Usberti, 2003). A manutenção de um banco de
germoplasma de espécies florestais, bem como a de outros programas de conservação e produção
florestal, tornam-se importantes para a conservação desses remanescentes. No entanto, não há uma
tecnologia adequada para a implantação de um banco de germoplasma, devido, principalmente, ao
conhecimento escasso da capacidade de armazenamento da maioria das espécies vegetais. (Chaves
e Usberti, 2003). Dessa forma, estudos envolvendo conservação, germinação e longevidade de
sementes são de grande importância, especialmente das espécies que apresentam anos de baixa ou
nenhuma produção, o que limita sua dispersão natural, bem como sua utilização em comércio de
mudas (Souza et al., 2005).
Algumas espécies são capazes de manter a viabilidade de suas sementes durante um grande
período, enquanto sementes de outras espécies vegetais se deterioram rapidamente (Carneiro e
Aguiar, 1993; Villela e Peres, 2004). A deterioração é um processo irreversível e que não pode ser
evitado. Entretanto a velocidade desse processo pode ser controlada. Portanto, o armazenamento
tem como objetivo controlar a qualidade fisiológica das sementes, e assim, preservar a viabilidade e
manter o vigor destas pelo maior período de tempo possível (Carvalho e Nakagawa, 2000; Azevedo
et al., 2003). Desta forma, este trabalho teve como objetivo avaliar a influência da condição (freezer
e ambiente) e do tempo de armazenamento na germinação de sementes de quatro espécies florestais,
visando aumentar a viabilidade dessas sementes em condições de laboratório.
Material e Métodos
Para este trabalho foram coletados, de outubro de 2006 a setembro de 2007, frutos de 11, 17,
31 e 17 plantas matrizes das espécies Acacia polyphylla, Anadenanthera colubrina, Bauhinia
cheilantha e Myracrodruon urundeuva, respectivamente, na área de Preservação da Companhia de
Mineração Construtora Rocha & Souza (CROS) localizada no município de Montes Claros, na
região norte do estado de Minas Gerais. A triagem dos frutos foi realizada no Laboratório de
Ecologia e Propagação Vegetal, da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES),
sendo descartadas aquelas sementes que estavam danificadas (presença de insetos ou mesmo
vestígios de predação) e abortadas (tamanho reduzido e mal-formadas). As sementes das quatro
espécies estudadas foram armazenadas em saco de papel permeável, mantidas em prateleira de
laboratório (sem controle da temperatura e umidade do ambiente), e em freezer (-18°C).
Para avaliar a influência do armazenamento na germinação de sementes das espécies
estudadas foram realizados testes de germinação a cada três meses durante o período de estocagem
– seis meses. As sementes foram alocadas em placas de Petri previamente esterilizadas e forradas
com papel-filtro, o qual era embebido diariamente com água destilada. O experimento foi
conduzido em câmara de germinação com temperatura e luz alternadas (30ºC luz/12 horas e 20ºC
escuro/12 horas). Nos testes de germinação foram utilizados um delineamento experimental
casualizado de 10 repetições com 20 sementes cada para as sementes de M. urundeuva e A.
colubrina e um delineamento experimental casualizado de 10 repetições com 10 sementes cada para
as sementes de A. polyphylla e B. cheilantha. A avaliação da germinação ocorreu diariamente,
durante 30 dias, considerando a emissão de radícula como caráter germinativo.
Para detectar diferenças entre as porcentagens de germinação das sementes nos tratamentos
(freezer e ambiente) e no tempo (armazenamento) foi feita a análise de variância (ANOVA) (Zar,
1996). Além disto, anterior ao teste, os dados foram transformados através do arcoseno da raiz
quadrada da porcentagem, para melhor linearização dos dados.

Resultados e Discussão
As sementes de A. polyphylla apresentam comportamento ortodoxo (Carvalho et al., 2006),
e, portanto, são capazes de resistir às condições de armazenamento, reassumindo suas atividades
metabólicas, e, assim germinando, quando fornecidas condições favoráveis (Neves, 1994). Para a
germinação desta espécie não observou-se diferença significativa entre as diferentes condições de
estocagem (gl = 1; F = 1,661; p > 0,05; n = 40), entre os meses de armazenamento (gl = 1; F =
0,066; p > 0,05; n = 40) e na interação dos tratamentos com o tempo de estocagem (gl = 1; F =
1,063; p > 0,05; n = 40) (tabela 1). De acordo com os resultados obtidos neste trabalho, essas
sementes são capazes de se manter viáveis durante o período de seis meses de acondicionamento; e
tanto o freezer quanto o ambiente de laboratório são eficientes para garantir que a viabilidade das
sementes seja mantida com o mínimo de deterioração possível.
Trabalho realizado com essa espécie encontrou taxa de germinação próxima da inicial
durante o período de um ano de acondicionamento das sementes em saco de papel em câmara fria
(Araújo-Neto et al., 2005). Contrariamente, Araújo-Neto et. al (2005) detectaram que sementes de
A. polyphylla apresentam diminuição na porcentagem germinativa principalmente a partir do quarto
mês quando acondicionadas em saco de papel e ambiente, mas ainda mantêm sua viabilidade
durante um certo período.
O angico é uma espécie pioneira e suas sementes são classificadas como ortodoxas, dessa
forma, sua estratégia de regeneração é através de banco de sementes, possuindo alta longevidade
(Carvalho et al., 2006; Lorenzi, 1992). Diferença significativa na porcentagem de germinação de A.
colubrina foi constatada apenas entre as diferentes condições de estocagem (gl = 1; F = 7,211; p <
0,05; n = 40), não sendo constatada entre os meses de armazenamento (gl = 1; F = 3,926; p > 0,05;
n = 40) e na interação do tratamento com o tempo (gl = 3; F = 1,160; p > 0,05; n = 40). De maneira
geral, as sementes de angico permaneceram viáveis durante o período de seis meses. Houve um
aumento da porcentagem germinativa das sementes armazenadas em relação ao controle, assim
como também foi observado em trabalho realizado por Lima et al. (2007) com sementes desta
espécie. As maiores taxas foram verificadas no tratamento ambiente/saco (tabela 1). Sugere-se que
tal fato seja devido a continuação do ciclo de maturação fisiológica durante o período de
armazenamento; assim as maiores porcentagens durante o período de estocagem são das sementes
com maturação tardia (Piña-Rodrigues e Jesus, 1992).
As sementes de B. cheilantha são capazes de se manter viáveis durante o período de seis
meses de armazenamento. A germinação variou significativamente entre as diferentes condições de
estocagem (gl = 1; F = 5,373; p < 0,05; n = 40), entre os meses de armazenamento (gl = 1; F =
6,501; p < 0,05; n = 40) e na interação do tratamento com o tempo de estocagem (gl = 1; F = 9,081;
p < 0,005; n = 40). A maior taxa de germinação foi observada no tratamento ambiente/saco ao final
do armazenamento (tabela 1). Visto que o objetivo do armazenamento é manter a taxa de
germinação final mais próxima do tratamento controle, o acondicionamento das sementes em
ambiente é o mais indicado. A oscilação em decréscimo e aumento da porcentagem germinativa
observada pode estar associada à variação da temperatura e do teor de umidade durante os seis
meses, o qual tem influência direta sobre a semente devido à sua higroscopicidade (Azevedo et al.,
2003).
Para a germinação de M. urundeuva, não foi observada diferença significativa entre os
meses de estocagem (gl = 1; F = 0,033; p = 0,858; n = 40), e na interação do tratamento com o
tempo de armazenamento (gl = 1; F = 1,913; p = 0,175; n = 40); houve diferença significativa
apenas na taxa de germinação para as diferentes condições em que as sementes foram estocadas (gl
= 1; F = 13,455; p < 0,001; n = 40). A viabilidade foi mantida durante os seis meses de
armazenamento, contradizendo o que é relatado por Lorenzi (1992), em que a viabilidade é inferior
a cinco meses. A condição freezer/saco apresentou as maiores porcentagens germinativas em ambos
os testes (tabela 1). Scalon et al. (2006), sugere que a baixa temperatura pode diminuir a atividade
metabólica do embrião e assim, conservar melhor o vigor das sementes. Além disso, resultados
obtidos por Caldeira (2007) demonstram que o armazenamento em temperatura inferior a do
ambiente pode diminuir a velocidade de deterioração dos diásporos de aroeira. Dessa forma, esse
autor sugere que quando é necessário armazenar as sementes por um período superior a seis meses,
a condição ambiente não é adequada. Segundo Carneiro e Aguiar (1993) e Caldeira (2007), os
diásporos de aroeira mantidos em condição ambiente estão propícios às variações no teor de água e
temperatura ao longo do dia também durante os meses de acondicionamento, o que provoca redução
na viabilidade devido ao aumento do metabolismo e, conseqüentemente, diminuição da energia
disponível para manter a semente viável.
Tabela 1 - Porcentagem de germinação das espécies estudadas antes do período de armazenamento
(controle) e durante o período de armazenamento (teste 1 com três meses e teste 2 com seis meses).

Tratamento Espécie
A. polyphylla A. colubrina B. cheilantha M. urundeuva
Controle* 0,90 ± 0,06 0,47 ± 0,14 0,93 ± 0,16 0,77 ± 0,08
Teste 1 Freezer/ Saco 0,82 ± 0,14 0,63 ± 0,12 0,76 ± 0,15 0,82 ± 0,08
Ambiente/ Saco 0,81 ± 0,10 0,76 ± 0,15 0,73 ± 0,16 0,61 ± 0,14
Teste 2 Freezer/ Saco 0,87 ± 0,13 0,59 ± 0,09 0,74 ± 0,14 0,77 ± 0,15
Ambiente/ Saco 0,78 ± 0,12 0,65 ± 0,12 0,97 ± 0,07 0,68 ± 0,15
* Valores comparativos não foram incluídos na análise.

Conclusões
A viabilidade das quatro espécies estudadas foi mantida durante o período de estudo. O
armazenamento em freezer foi mais eficiente para M. urundeuva, enquanto que a condição
ambiente obteve melhores resultados para A. colubrina e Bauhinia cheilantha.

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