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EFEITO DE MÉTODOS DE ARMAZENAMENTO SOBRE A GERMINAÇÃO DE

SEMENTES DE PASSIFLORA CINCINNATA MAST.


Wilson Vicente Souza Pereira1, Lorena Melo Vieira1, Túlio Gabriel Soares Oliveira1, Flávia
Fernandes Aquino1, Leonardo Monteiro Ribeiro1, Maria Olívia Mercadante-Simões1 (Departamento
de Biologia Geral, Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes, Avenida Dr. Ruy Braga,
s/n, Vila Mauríceia, 39400-000, Montes Claros, MG, e-mail: wvicentesp@yahoo.com.br).
Termos para indexação: maracujazeiro, sementes, germinação, métodos armazenamento

Introdução
A família Passifloraceae abriga cerca de 600 espécies conhecidas popularmente como
maracujazeiros (Oliveira e Ruggiero, 2005). O gênero Passiflora possui grande importância
mundial devido às qualidades nutricionais de seus frutos e pelas propriedades farmacêuticas de seu
suco, casca e sementes. O Brasil é atualmente o maior produtor e consumidor de maracujá (Baldin
et al, 2005).
Passiflora cincinnata Mast., é uma espécie polimorfa, com frutos de forma e tamanho
variável e distribuição ampla no Brasil, sendo conhecido popularmente como maracujá-do-mato
(Oliveira e Ruggiero; 2005) e é utilizado para fins nutricionais, ornamentais e medicinal (Zucarelli,
2007). A espécie tem despertado interesse devido ao potencial uso como porta-enxerto na
propagação do maracujazeiro-azedo (Passiflora edulis Sims. f. flavicarpa Deg) considerando sua
resistência a patógenos sistêmicos como o Fusarium e Xantomonas (Oliveira e Ruggiero, 2005;
Meletti et al., 2002).
Sementes de P. cincinnata apresetam baixa germinabilidade sendo recomendado o
armazenamento para otimização da germinação (Zucarelli, 2007). O armazenamento também é
importante para a manutenção de bancos de germoplasma, podendo favorecer a maturação
fisiológica das sementes (Alves et al, 2006; Negreiros et al., 2006). Entretanto, para algumas
espécies de maracujazeiros ocorre perda da viabilidade das sementes durante o armazenamento
(Alves et al., 2006), o que pode ser influenciado pelo local, acondicionamento, condições
ambientais e tempo (Catunda et al. 2003; Santana e Cavalho, 2006). Dessa forma, estudos
objetivando testar condições de armazenamento das sementes podem contribuir para a propagação e
conservação da espécie.
O objetivo deste trabalho foi analisar o efeito de três métodos e do tempo de armazenamento
sobre a germinação de sementes de Passiflora cincinnata.

Material e Métodos

O experimento foi realizado no Laboratório de Anatomia Vegetal e Micropropagação e no


viveiro do Laboratório de Ecologia e Propagação Vegetal da Universidade Estadual de Montes
Claros (Unimontes), no período de Setembro de 2007 a Fevereiro de 2008.
Os frutos foram obtidos de população natural de Passiflora cincinnata localizada em área de
cerrado no municipio de Montes Claros-MG, Brasil. Os frutos foram cortados com o auxilio de um
canivete e as sementes foram retiradas. O arilo foi removido através do atrito das sementes em
peneira de plástico e secagem das mesmas por dois dias quando procedeu-se a remoção do arilo
ainda restante. As sementes foram submetidas três métodos de armazenamento sendo eles:
acondicionamento à sombra em sacos de papel em condição de laboratório (Sombra),
condicionamento em sacos de papel em refrigerador a 10ºC (Refrigerador) e estratificação em areia
úmida (Estratificação). No tratamento de estratificação a areia foi esterilizada a 100ºC por 24 horas
e as sementes foram mantidas nesta em recipiente tampado com filme pvc e acondicionados em
refrigerador a 10°C.
Aos 7, 14, 60 e 90 dias de armazenamento as sementes foram retiradas dos tratamentos e
semeadas em substrato Plantmax® previamente esterilizado por 24 horas e mantidas em condição
de câmara úmida com irrigação controlada. O experimento foi estabelecido em delineamento em
blocos casualizados considerando esquema fatorial com 4 (tempos) X 3 (métodos de
armzenamento). Foram estabelecidas 4 repetições com 50 sementes por parcelas em cada
semeadura. Após 45 dias, foi estimada a germinabilidade através da contagem do número de
plântulas emergidas. Os dados foram transformados em valores percentuais e convertidos para o
arco seno da √x/100 para comparação.
A análise dos dados foi feita através do programa The Sas System For Windows V8 (Sas,
1990) sendo realizada análise de variância (ANOVA) e teste de Tukey quando verificada diferenças
entre os parametros avaliados.
Resultados e Discussão
A análise de variância indicou ausência de influência do método de armazenamento
(p=0,098) e efeito do tempo na germinação das sementes (p=0,003; cv= 35,798) sem interação entre
os fatores (p=0,067). A Figura 1 apresenta os resultados médios de germinação encontrados pelos
tratamentos em todo o experimento.

20
18,5a
18

16

14
12,5ab
Germinação (%)

12

10

8 7,3b 7,5b

0
7 14 60 90
Tempo

Figura 1: Germinação média das sementes em cada plantio

A análise do gráfico mostra que a germinação média das sementes no plantio de 60 dias foi
superior aos outros plantios com exceção do plantio de 14 dias. Esta ausência de influência do
ambiente de armazenamento na germinação das sementes foi relatada para o Passiflora alata (Osipi
e Nakagawa, 2005), não sendo também relatado o aumento ou decréscimo da germinação das
sementes com o tempo. Já Alves et al (2006) observaram que para a mesma espécie o
armazenamento em refrigerador foi favorável para a manutenção da viabilidade das sementes.
A baixa germinbilidade observada, em especial nas primeiras semeaduras, é um indicativo
da existência de dormência em P. cincinnata. Esta dormência é relatada para diversas outras
espécies de maracujazeiros silvestres inclusive a espécie em estudo (Zucarelli, 2007). Essa
dormência pode estar relacionada com substancias inibidoras da germinação como observado em
P. nitida (Siqueira e Pereira, 2001). Sendo que, o armazenamento pode contribuir para a eliminação
desses inibidores (Almeida et al; 1988).
O aumento dos índices de germinação aos 60 dias é um indicativo do efeito benéfico do
armazenamento das sementes para a superação da dormência. Por outro lado, a queda da
germinação das sementes aos 90 dias indica que o poder germinativo das sementes não se mantém
por um periodo muito longo. Esta queda do poder germinativo é relatada para P. edulis (Almeida et
al, 1988), mas não foi relatada para P. alata (Osipi e Nakagawa, 2005; Alves et al, 2006). Para P.
edulis é recomendada a semeadura imediata, uma vez que a viabilidade das sementes não persiste
por mais de 60 dias (Almeida et al 1988; Siqueira e Pereira, 2001; Lima e Trindade, 2004).
A perda da viabilidade no armazenamento, verificada no presente trabalho, dificulta a
manutenção de bancos de germoplasma e associada à dormência pode explicar as dificuldades de
propagação apresentada pela espécie. Novos estudos sobre o tema são necessários e poderão
contribuir para a utilização econômica e conservação da espécie.

Conclusões
Com base nos dados observados, conclui-se que nas condições do experimento, o tempo de
armazenamento influenciou a germinação das sementes de P. cincinnata independente do método
utilizado.

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