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Índice

Introdução..........................................................................................................................1
CAPITULO I: Informação Bancária.................................................................................3
1. Informação Bancária..............................................................................................3
1.1.Os deveres legais de informar..............................................................................3
1.2. Regime; presunções; os deveres unitários...........................................................5
1.3. Modalidades........................................................................................................6
1.4. Obrigações de informar legais específicas..........................................................7
1.5. Informação ao cliente..........................................................................................8
1.6. Informações do cliente......................................................................................10
1.7. Informação ao mercado.....................................................................................11
CAPITULO II: SEGREDO BANCÁRIO.......................................................................12
1. Generalidades.......................................................................................................12
1.1. A instituição do sigilo bancário............................................................................12
1.2.Conceito de sigilo bancário....................................................................................14
1.3. Valor do sigilo..................................................................................................15
1.3.1. O dever de sigilo...........................................................................................15
1.3.2. Interesses tutelados e a natureza do sigilo bancário......................................16
1.4. Teoria contratualista.........................................................................................16
1.5. Teoria consuetudinária......................................................................................17
1.6. Teoria do segredo profissional..........................................................................17
1.7. Teoria legalista..................................................................................................17
1.8. Teoria do direito de personalidade....................................................................18
2. Objecto do sigilo...................................................................................................18
3. Excepções ao dever de sigilo e Direito tributário.................................................18
CAPITULO III: RESPONSABILIDADE BANCÁRIA.................................................21
1. Razão da responsabilidade...................................................................................21
2. Natureza................................................................................................................21
3. Responsabilidade do banqueiro............................................................................22
4. Culpa in contrahendo............................................................................................23
Conclusão........................................................................................................................24
Referências bibliográficas...............................................................................................26
DIREITO BANCÁRIO

Introdução
No presente itinerário de trabalho que constitui labor da Cadeira de Direito Bancário,
tem como escopo, o tema, a informação bancaria, segredo e responsabilidade civil
bancaria. Onde o grupo debruçou sobre todas as generalidades que envolvem o tema
acima referido, e fez a divisão deste tema em dois capítulos: o primeiro capítulo trata do
segredo bancário, e o segundo capítulo trata da responsabilidade bancária.

Ao longo da história, os bancos vêm exercendo papel cada vez mais importante na
organização sociedades. Essa evolução atingiu tamanha dimensão que hoje resta
inimaginável o bom funcionamento de uma comunidade sem a presença de uma
instituição financeira intermediando e fomentando as actividades mercantis. Se outrora
apenas uma pequena parcela da população precisava entrar em um estabelecimento
bancário para pedir um empréstimo, descontar uma letra ou depositar valores, hoje
constituem raríssimas excepções os que conseguem desenvolver suas actividades sem se
relacionar directa ou indirectamente com esse tipo de empresa.

Tanto recorrem aos bancos o comerciante e o industrial, como o profissional liberal, o


funcionário público, o pequeno assalariado, o estudante e, mesmo, a dona de casa. Uns
em busca de grandes capitais com que incrementar seu ramo de negócio, outros à cata
de pequenos empréstimos para a aquisição de bens de consumo, outros em busca de
conta corrente sobre a qual possam sacar seus cheques; outros ainda para simplesmente
efectuar o pagamento de um título ou de uma conta, - o fato é que todos, de uma forma
ou de outra, entram em contacto com a empresa bancária.1

O direito bancário constitui um campo privilegiado de incidência do dever de informar,


atendendo ao valor económico das operações em causa nas relações consideradas,
atendendo à sua eventual complexidade e à necessidade de uma extrema precisão no
recorte jurídico, económico e financeiro das mesmas.

Contudo, esta recolha e difusão de informações, essencial ao funcionamento do sistema


bancário, é uma actividade que pode ser igualmente lesiva para outrem. Isto é, num
contexto que torna o indivíduo altamente dependente do saber alheio, num contexto em
que é extremamente elevado o número de informações diariamente concedidas, trata-se

1
COVELLO. Op. cit. p. 56-7.

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DIREITO BANCÁRIO

de apurar se aquele que confia e sofre danos pode obrigar o banco à correspondente
reparação.
Desta relação nasce várias preocupações. Em primeiro lugar é preciso informar. E
informar implica saber o que dizer, quando dizer e até onde dizer.
Mas, mais do que isso, é preciso fazê-lo correcta e completamente, observando o
cuidado exigível. Por exemplo: informar a pedido ou informar espontaneamente,
divulgando dados desconhecidos e inacessíveis aos destinatários.

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DIREITO BANCÁRIO

CAPITULO I: Informação Bancária


1. Informação Bancária
O Direito Bancário é um direito de informação, dada a predeterminação dos sujeitos e a
sua exigência de precisão.

Os deveres de informação decorrem de cláusulas contratuais gerais ou condições


gerais, da lei que pode ser geral (artigo 573 do Código Civil) ou específica. Entende –
se, pois, que as partes devam comunicar uma à outra circunstâncias especiais relativas
às negociações ou relativas ao significado e alcance das cláusulas contratuais.

O dever de informação pode ser indeterminado ou preciso e, quanto ao seu conteúdo,


pode ser substancial ou formal.

A informação pode estar inserida na prestação principal, na secundária ou em deveres


acessórios.

O dever de informação que decorre do artigo 485 do Código Civil, só responsabiliza


quando se actue com dolo, pois não sendo uma instituição de informação o banco não é
obrigado a indemnizar, nos termos do artigo 485 no 2 do Código Civil.

Nem sempre é possível predeterminar o conteúdo do dever de informação. Neste caso o


dever é indeterminado. Caso contrário, como previsto nos artigos 229 n o 1 e 1038 alínea
g), ambos do Código Civil, teremos um dever de informar preciso.

No que ao banco diz respeito, as informações dos clientes estarão sujeitas ao dever de
segredo profissional e, como tal, apenas reveláveis nos termos da lei, com a autorização
do cliente, ou no âmbito de centralização do risco de crédito.

No cumprimento do dever de informação pode estar – se obrigado a ser verdadeiro e


explícito, ou apenas a transmitir uma informação codificada. Será substancial o primeiro
tipo e formal o segundo tipo de informação2

1.1.Os deveres legais de informar


Generalidades: a obrigação geral de informação

A referência a ”deveres legais” de informação não é, à partida, correcta.

Todos os deveres que surjam, no espaço jurídico, terão de ser reconduzidos às fontes. E
assim sendo, todos eles serão “legais”. É certo que a terminologia jurídica comum
2
MENEZES CORDEIRO, A. Ob. Cit, p. 328.

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DIREITO BANCÁRIO

utiliza, muitas vezes, a expressão “legal” por contraposição a “contratual”. Deveres


legais serão, então aqueles que derivem de factos jurídicos em sentido estrito, por
oposição aos que decorram de contratos e isso sem prejuízo de uns e outros
encontrarem, na lei, a sua fonte de jurídica – positividade.

Os deveres de informar derivados da boa – fé ou da necessidade de prevenir omissões


delituais não são negociáveis.

Como primeiro requisito, a lei prevê um titular dum direito. A locução deve ser
entendida em termos de implicar a plausibilidade da titularidade: como a mesma lei
admite que a dúvida recaia sobre a própria existência do direito, pode bem suceder que,
prestada a informação, se verifique a inexistência do direito3.

A lei não refere o quantum de plausibilidade. No entanto, como exige uma dúvida
fundada, subentende – se que o direito deve ser tido como existente ou não haveria
qualquer dúvida.

De seguida, a lei exige uma dúvida fundada sobre a existência ou o conteúdo do direito.
O fundamento da dúvida terá de ser considerado no caso concreto. De todo o modo, será
possível avançar:

- Que o titular terá de se encontrar numa situação efectiva de desconhecimento;

- Que isso deverá ocorrer em circunstâncias tais que o titular não possa, por si e com
esforço razoável, esclarecer a dúvida.

Por fim, a lei requer alguém em condições de prestar as informações necessárias. Não
se define quem possa ser visado pela obrigação de informar: podem ser envolvidas
quaisquer pessoas que se encontrem na situação de esclarecer: o parceiro num contrato,
o auxiliar, o comissário ou a própria testemunha.4

A lei não exige que a pessoa visada possa prestar informações suficientes: basta que
sejam necessárias, ainda que, depois, se torne necessário ir procurar, noutras latitudes,
determinados elementos em falta.

3
ADRIANO PAES DA SILVA VAZ SERRA, Obrigações de reembolso de despesas, informação,
exibição de coisas, restituição, e de sujeito indeterminado.
4
Ob, cit., 88 – 90.

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DIREITO BANCÁRIO

1.2. Regime; presunções; os deveres unitários


O regime dos deveres de informar é muito diferenciado, consoante se trate de situações
de tipo obrigacional ou do tipo aquiliano. Dado o sentido profundo hoje assumido, em
Portugal, pela contraposição, os próprios pressupostos de responsabilização são
diversos.

Numa situação de tipo obrigacional, a mera falta de informação do beneficiário


responsabiliza, automaticamente, o obrigado; joga, contra ele, a presunção de ‘’culpa’’-
portanto: de faute ou de culpa/ilicitude- prevista no artigo 799°./1 do Código Civil. O
responsabilizado só se liberará se lograr provar que, afinal, prestara a informação ou que
beneficiaria dalguma causa de justificação ou de excusa.

Já numa situação de tipo aquiliano, a mera falta de informação a nada conduz. O


prejudicado terá de provar todo o condicionalismo que originaria o dever de informar
por parte de outrem e, depois, de demonstrar que o visado não cumprira, culpa, tal
dever.

O dever de informar torna-se, assim, muito mais operacional, quando tenha estrutura
obrigacional. As razoes dessa acrescida tutela tem sido firmadas, designadamente, por
CLAUS-WILHELM CANARIS, através dos seus estudos sobre a confiança.

Numa situação que relacione particularmente duas pessoas- culpa in contrahendo ou


execução contratual, por exemplo- as partes são levadas a confiarem uma na outra.
Quando o façam, elas baixam as suas defesas naturais, tornando-se, mutuamente,
vulneráveis. Gera-se uma situação em que os envolvidos descuram a preocupação de
obter informações, pelos seus próprios meios. Na base da confiança gerada, as partes
praticam novos actos.

Na posse de dados básicos sobre o regime, pergunta-se como se articulam, entre si, os
deveres de informação.

No tocante a deveres de protecção, CANARIS formulou uma doutrina que, em geral, é


hoje acolhida no Direito alemão: doutrina dos deveres unitários de protecção 5 que se

5
CLAUS-WILHELM CANARIS, Anspruche wegen ‘’positiver Vertragsverrlettung’’ und ‘’ Schutzwirkung fur
Dritte’’ bei nichtigen Vertragen, JZ 1965, 475-482,.
Quando a esta doutrina, com indicações, MENEZES CORDEIRO, Da pós-eficácia das obrigações, em
Estudos de Direito Civil, vol.1 (1987), 143-197 (188 ss) e Da boa fé cit. 1°.vol, cit, 634ss..

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DIREITO BANCÁRIO

manteria, depois, na vigência contratual. Tal dever subsidiária, ainda, na hipótese de


nulidade do contrato, sobrevivendo-lhe post pactum finitum6

Trata-se duma doutrina que pode ser transposta para os deveres de informação. Mas
apenas com o seguinte alcance: há uma pressão niveladora, que intenta aproximar os
regimes das informações, nas diversas situações. Em cada situação haverá, pois, que
ponderar os interesses e valorações em presença.

O Direito Bancário é um Direito de informações 7. É certo que essa afirmação vale, em


grande parte, para todos os sectores sócio-económico das modernas sociedades pós-
industriais: afinal, a extrema divisão do trabalho só é pensável perante uma teia
permanente de informações entre todos os intervenientes.

Mas no direito bancário, em face da perfeita predeterminação dos intervenientes-


banqueiro e cliente- tendo em conta o valor das operações e a necessidade extrema da
precisa, as informações redobram de valor e assumem um papel pioneiro, em termos de
regulação8.

1.3. Modalidades
A presença de numerosas manifestações de deveres de informar recomenda que se
proceda à sua classificação, agrupando os deveres existentes em modalidades
características. São vários os critérios possíveis, como de seguida se ira verificar.

De acordo com a fonte, os deveres de informação podem resultar:

- de cláusulas gerais;

- de lei estrita.

No primeiro caso, o dever de informação decorre de prescrições indeterminadas, com


relevo para a boa fé in contrahendo ou para a observância da boa fé na execução dos
contractos – artigos 227°./1 e 762°./2, ambos do Código Civil.

6
Nos escritos acima citados, defendemos a desnecessidade, no Direito português, de deveres unitários
de protecção. Trata-se duma orientação que hoje abandonamos, mercê da nova clivagem entre as
responsabilidades obrigacional e agora perfilhada. De todo o modo, o problema não tem, directamente,
a ver com os deveres de informação.
7
Cf. JEAN-FRANÇOIS CLEMENT, Le banquier, vecteur d̛informations, RTDComm 50 (1997), 203-228
(203ss).
8
LUÍS MENEZES LEITÃO, informação bancária e responsabilidade, em Estudos em Honra do Professor
Doutor Inocêncio Galvão Telles, 2 (2002), 225-244 (225-226).

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DIREITO BANCÁRIO

No segundo, o dever é inculcado por lei expressa a tanto dirigida: o artigo 573°., do
código civil, é o mais característico exemplo. Pode incluir-se aqui, também, o dever de
informação que tivesse sido expressamente pactuado por contrato.

O dever de informação, proveniente de cláusulas gerais, pode, ainda, subdividir-se;


temos:

- Cláusulas gerais legais, quando a própria lei as prescreve directamente; tal a situação
das remissões para a boa fé objectiva;

- Cláusulas gerais honorárias ou doutrinárias, quando haja que recorrer a doutrinas, tais
como a dos deveres do tráfego, acima referenciados.

Também o dever derivado de lei estrita admite uma subdistinção assim, encontramos:

- Lei estrita geral: o caso do artigo 573°., que prevê, em termos gerais, a hipótese de
surgimento do dever de informar;

- Lei estrita específica: as diversas hipóteses em que a lei manda comunicar, avisar ou
informar alguém, de alguma coisa.

1.4. Obrigações de informar legais específicas


Diversas leis previam, em variadas circunstâncias, obrigações de informar legais
específicas.

 O dever de informação pode ser indeterminado ou preciso.

O dever de informação é indeterminado, quando não seja possível determinar


previamente o seu conteúdo. Tal a situação típica das informações in contrahendo.

O dever é preciso, quando a sua predeterminação seja viável. Pense – se no caso do


dever de comunicar a recepção tardia ou a cedência do locado.

 Quanto ao seu conteúdo, pode ser substancial ou formal.

Nos deveres de informação substanciais, o obrigado está adstringido a veicular a


verdade que conheça, descrevendo – a, em termos explícitos;

Nos formais, o obrigado fica vinculado, apenas, a transmitir uma mensagem pré –
fixada ou, se se quiser, “codificada”. Assim, no caso da boa – fé in contrahendo, o
obrigado deverá descrever toda a realidade relevante para a contraparte, procurando

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DIREITO BANCÁRIO

termos adequados para o fazer com fidelidade; já no do dever de comunicar uma


recepção tardia, o obrigado apenas dirá: “recebi tarde”, “fora do tempo” ou equivalente.

Em princípio, a substancialidade variará na razão inversa da precisão: quanto mais


preciso for um dever, mais formal será o seu cumprimento; quanto mais indeterminado,
maiores as exigências da substancialidade.

Surge, daqui, o critério da autoria da determinação dos deveres de informação. Temos


duas hipóteses básicas:

- Determinação autónoma;

- Determinação heterónoma.

Há determinação autónoma quando o próprio obrigado tenha o encargo de, à medida


que a situação progride, ir fixando os termos a informar e a matéria a que respeitam:
pense – se na culpa in contrahendo.

A determinação é heterónoma sempre que a fixação da informação não caiba ao


próprio. E então, duas são as sub – hipóteses.

- Determinação automática;

- Determinação pelo beneficiário.

A determinação é automática quando resulte, objectivamente, da situação em causa.


Assim ocorre, por exemplo, na recepção tardia ou na própria boa – fé contratual9.

A determinação opera pelo beneficiário sempre que caiba, a este, proceder à


configuração do dever de informar. Tal será o caso das informações a fornecer, pelos
administrativos, aos sócios das sociedades.

1.5. Informação ao cliente


Numa situação bancária, ambas as partes ficam ou podem ficar adstritas a trocar
determinadas informações. O Direito bancário, tem vindo porém por evidentes razões
de ordem prática, a concentrar-se sobre as informações a prestar pelo banqueiro.

O problema se põe apenas quando o banqueiro deva informar, a título principal,


secundário ou acessório, artigo 485/2 do Código Civil10.

9
Sobre a matéria cumpre citar a obra fundamental de JORGE SINDE MONTEIRO, Responsabilidade por
conselhos, recomendações ou informações (1989), especialmente 333 e ss.

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DIREITO BANCÁRIO

Ora, à partida não é um dever geral do banqueiro, de prestar informações, o banco não é
por profissão uma agência de informações e mesmo essa teria de ser contratada, para
informar. Por isso o dever de informação só ocorre quando o banqueiro o tenha
assumido ou quando a boa-fé o exija. Fora essas hipóteses, o banqueiro que preste uma
informaçao coloca-se, como qualquer outra entidade, artigo 485/1 do Código Civil: só é
responsável se agir com dolo.

Quando se trate de um cliente, o banqueiro, poderá estar obrigado a prestar as


informações que, ex bona fide, tenham a ver com a relação em curso.

No Direito bancário, a informação requerida aos bancos é, no essencial, de tipo técnico-


jurídico. A factualidade ligada aos negócios bancários, particularmente os que tenham a
ver com o dinheiro é, em regra, bastante simples. Já o regime jurídico envolvido pode
tornar-se mais complexo, sobretudo por assentar, muitas vezes, em usos bancários ou
em cláusulas contratuais gerais, de apreensão mais complexa.

A informação bancária contempla, em geral, a situação de especial carência, em que se


encontre o cliente do banqueiro. Além de atinente, principalmente, a questões jurídicas,
ela deve, ainda, ater-se ao essencial. A instituição financeira tem conhecimento e
experiência para, perante cada negócio reconhecer de imediato o ponto que deve ser
informado ao cliente.

1.5.1. O problema do ónus da prova

Perante o dever de informação do banqueiro, pergunte-se, em termos práticos, pelo tema


do ónus da prova. Quem deve provar o quê, em caso de lítigio. Pelas regras gerais,
quem invoque o direito à informação deve provar os respectivos factos constitutivos,
artigo 341, nr1 do Código Civil. Neste caso, o cliente deverá provar a sua própria
ignorância concreta e o conhecimento do banqueiro, bem como os danos daí resultantes.

Além disso, é conforme com o sistema cometer a quem tenha o domínio dos factos, o
risco da sua demonstração. Leis especiais, como a das cláusulas contratuais gerais,
cometem ao utilizador o ónus de provar certas comunicações. Inferimos daqui que a
prova a exigir ao cliente do banqueiro é bastante elementar. Muitas vezes o próprio
dano, por presunção hominis, permitirá inferir a necessidade de informação prévia e a
10
O artigo 485/2 do C.Civil diz: A obrigação de indemnizar existe, porém, quando se tenha assumido a
responsabilidade pelos danos, quando havia o dever jurídico de dar o conselho, recomendação ou
informação e se tenha procedido com negligência ou intenção de prejudicar, ou quando o procedimento
do agente constitua facto punível.

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DIREITO BANCÁRIO

sua falta. Nessa altura, compete ao banqueiro provar os factos que delimitem ou que
extingam o direito à informação.

1.6. Informações do cliente


O outro ponto relevante das informações bancárias tem a ver com as que o banqueiro
preste ou possa prestar, sobre o seu próprio cliente.

Mercê da amplitude hoje assumida pela actividade bancária, o banqueiro conhece os


meandros da vida patrimonial e pessoal dos clientes. Um négocio simples como o da
obtenção de um crédito para habitação levará, como operações de rotina, o banqueiro a
ficar na posse das declarações de rendimentos do seu cliente, de uma descrição do seu
património e até do seu estado de saúde, já que em regra, essas operações são
acompanhadas de seguro de vida, procedimentos de exame médico, a que o banqueiro
tem acesso. Além disso, o cliente fornece, normalmente, ao seu banqueiro, elementos
pessoais de tipo confidencial: redidências secundárias, telefones inacessíveis, intenções
de negócio que não podem ser conhecidas.

Todas as informações relativas ao cliente estão a coberto do dever de segredo. O


banqueiro só as poderá revelar:

- com autorização do cliente;

- nos casos previstos pela lei, mediante previa autorização jurisdicional;

- limitadamente, no âmbito do Serviço de Centralização de Riscos de Crédito.

As informações relativas ao cliente são, por vezes, solicitadas no domínio dos negócios,
particularmente no tocante às relações interbancárias. O cliente que inicie uma relação
bancária nova poderá fornecer ao banqueiro diversas referências abonatórias, e
designadamente , a indicação de contactos bancários anteriores, com outros bancos.

Passamos a distinguir:

- Informações de ordem geral, sobre a existência e a normalidade de relações


bancárias prévias.

- Informações específicas, sobre as operações concretas, sobre os volumes envolvidos


em relações bancárias ou sobre quaisquer outros elementos específicos do conhecimento
do banqueiro. Este regime da informações sobre o cliente funciona no interesse de
ambas as partes envolvidas: cliente e banqueiro. Este pode ser responsabilizado por

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DIREITO BANCÁRIO

informações incorrectas, além disso, nenhuma vantagem indirecta lhe advém de prestar
informações sobre os seus clientes, para além do acréscimo de trabalho que isso
representa.

1.7. Informação ao mercado


A integração do mercado financeiro, com a aproximação crescente entre a banca, os
seguros e os mercado mobiliário potenciona novos deveres de informação de âmbito
diverso. Artigo 7 do CVM do Decreto-Lei n. 357-A/2007 de 31 d Outubro 11, epigrafado,
qualidade da informação.

As informações mobiliárias tem um campo lato. Além da área clássica das informações
privilegiadas, procede-se a um agravamento da responsabilidade por informações
inexatas ao mercado de capitais, óbvio quando dolosamente propaladas nos meios de
comunicação social.

Ficam abrangidas as responsabilidades dos eminentes, das sociedades e dos titulares dos
órgãos das sociedades. Na definição de tais deveres e nas consequências envolvidas ter-
se-á ido demasiado longe, haverá que pôr limites, sob pena de deprimir o mercado.

Os banqueiros surgem como agentes privilegiados, no tocante a informações a prestar


ao mercado. Para além das indicações mais directas que deêm aos seus clientes directos,
os banqueiros são operadores activos na confecção da opinião pública do mercado.

Para além dos vectores propriamente bancários, há que ter em conta a integração com os
mercados mobiliários e seguradores. A aplicação de deveres é cumulativa.

CAPITULO II: SEGREDO BANCÁRIO


1. Generalidades

1.1. A instituição do sigilo bancário

11
1. A informação respeitante a instrumentos financeiros, a forma organizadas de negociação, às
actividades de intermediação financeira, à liquidação e a compensação de operações, a oferta públicas
de valores imobiliários e a emitentes deve ser completa, verdadeira, actual, clara, objectiva e lícita.
2. O disposto no número anterior aplica-se seja qual for o meio de divulgação e ainda que a informação
seja inserida em conselho, recomendações, mensagem publicitária ou relatório de notação de risco.

11
DIREITO BANCÁRIO

A actividade bancária vem desde a antiga Babilónia 12, do povo hebreu13 e na Grécia,
onde os templos religiosos funcionavam como verdadeiras instituições de custódia e
empréstimo de valores, envolvendo comerciantes, agricultores e todos quantos
necessitassem desta actividade, os sacerdotes eram encarregados de ultimar operações
negociais.

Devido à evolução da actividade bancaria, principalmente com a sua profissionalização,


a guarda de bens e de informações quanto à vida económica do cliente, passou a se
revestir ainda mais da condição de sigilo, a esta época 14 já com a roupagem de sigilo
profissional, dada à especialidade da prestação bancaria e das características do
exercício. A positivação do direito bancário deveu-se fundamentalmente à busca de
segurança jurídica para albergar suas práticas de usos e costumes.

O significado da palavra sigilo, posto que inequivocamente é atrelada ao segredo, ou


seja, aquilo que não se deve revelar, o sigilo profissional é um dever ético que impede a
revelação de assuntos confidenciais ligados à profissão, segredo profissional15.

A conotação do que é sigilo bancário é variável de doutrinador a doutrinador, sendo


que estas caracterizações, por vezes, enfocam o dever de sigilo, em carácter de
obrigação exigida dos bancos em razão de seu mister profissional, ou em algumas
opiniões, reflectem o instituto sobre o ponto de vista dos clientes, como verdadeiro
direito subjectivo a eles ínsito.

As instituições bancárias detêm um conjunto tal de informação a respeito dos seus


clientes e terceiros que, para a protecção da imagem pública, e garantir a privacidade 16,
ou seja, para atender aos direitos fundamentais relativos à personalidade, são obrigadas
ao dever especial de sigilo17.

O sigilo contratual é a concretização da tutela da confiança, não sendo usados os


conhecimentos advindos do contrato de modo a produzir danos fora das expectativas de
12
O código de Hamurabi, embora não se referisse a banqueiros, fixou como norma, a taxa máxima de
juros em 20% para dinheiro e 33.330% para o trigo. Quem cobrasse juros superiores aos legais, seria
punido com a perda do capital emprestado.
13
Entre os hebreus, o empréstimo de dinheiro a juros só era permitido nas transacções com os
estrangeiros.
14
Na Idade Média, os bancos foram impulsionados pelo comércio e actividades industriais. Inicialmente,
os bancos particulares foram criados sob o comando de judeus, já que para os cristãos o juro era
proibido.
15
Na visão do professor Aurélio Buarque de Holanda.
16
Neste sentido pensa A. De Mota Pinto, O direito à reserva sobre a intimidade da vida privada.
17
Sérgio Covello sustenta: em se tratando do sigilo bancário.

12
DIREITO BANCÁRIO

uma das partes contratantes. No caso do sigilo bancário não é só fonte de tranquilidade
contratual, resultante da personalização da relação, como assume uma dimensão de
exigência pública18, necessária ao funcionamento das instituições.

Em Direito Privado só será violado o segredo perante quem tenha direito bastante
relativo ao bem que esteja na posse do banqueiro19.

Em Direito Público o segredo bancário será limitado por razoes policiais 20 e fiscais21,
quando haja prevalência do interesse preponderante22.

Merece, pois, ser positivamente apreciada a jurisprudência que defende uma concreta
ponderação de interesses23 que, como tal, não deve ir para além do necessário, nem a
violação dos direitos de personalidade24.

a. Alguma inserção Constitucional?

Embora a maioria dos juristas exerça ferrenha defesa do sigilo bancário, a constituição
não se referiu directamente a isso. O que a lei maior garante é o direito à intimidade, à
privacidade e a inviolabilidade da transmissão de dados.

O direito à privacidade e à intimidade não tem definição fechada, estando no nebuloso


campo interpretativo. Baseado nisso, muitos doutrinadores tem-se esforçado em incluir
o direito ao sigilo bancário como intrínseco à intimidade pessoal. Alguns por crerem
estar defendendo o cidadão de intromissões indesejadas do Estado, outros por militarem
na trincheira ideológica dos bancos.

São duas correntes antagónicas que trabalham o sigilo bancário, posicionando a


primeira, posiciona no contexto dos direitos à intimidade ou à privacidade, albergados
pela Carta Maior, entendo que a movimentação que alguém faz de seu património
mobiliário, somente ao titular diz respeito, é um aspecto íntimo e a mais ninguém
interessa. Como os direitos da personalidade o direito à intimidade é pessoal,
extrapatrimonial, inalienável, absoluto, imprescritível e são postos e garantidos pelo
18
MENEZES CORDEIRO, A., ob. Cit., p.310.
19
MENEZES CORDEIRO, A., ob. Cit., p. 320.
20
Como é o caso da investigação de casos de branqueamento de capitais provenientes de crimes de
terrorismo ou trafego de armas ou de estupefacientes, substâncias psicotrópicas, de Sistema Tributário
21
Com a exacta observância da referência feita no n.o 2 do Artigo 53° da Lei de Bass do Sistema
Tributário.
22
Defendido, por exemplo, em Direito Comparada, pelo Artigo 135° do Código Penal português ao qual
também remete, aliás, o n° 4 do Artigo 519° do código de processo civil português.
23
MENEZES CORDEIRO, ob. Cit., p. 326.
24
MATIAS, Armindo Saraiva, ob. Cit., p.89.

13
DIREITO BANCÁRIO

Estado, erigindo-o ao patamar de cláusula pétrea, oponível a todos e imune às emendas


constitucionais. A constituição tutela a intimidade quando fala da igualdade dos
cidadãos perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, intimidade, a
vida privada, a honra e a imagem das pessoas, a inviabilidade da correspondência e das
comunicações telegráficas.

b. Garantia fundamental absoluta ou relativa?

Ao quebrar o sigilo bancário, pode-se dizer há uma violação de uma garantia


constitucional? A resposta teve reconduzir à distinção do caracter de garantia protegida
pelo sigilo, se é de natureza absoluta ou relativas. Pode-se pensar que nem sequer uma
decisão judicial tem o condão de violar tal garantia. Há quem pense que este raciocínio
não pode ser entendido como o correcto, visto que, há um interesse público relevante, o
de apurar crimes e investigações acerca de sonegação fiscal.

Na verdade, nenhuma liberdade pública é absoluta, razão pela qual existirão casos em
que entrarão em conflito dois ou mais direitos fundamenais, oportunidade pela qual, o
poder judiciário, que é quem tem competência para apreciar estes conflitos, deverá por
em prática o tão conhecido princípio da proporcionalidade, sopesando o interesse
particular em relação ao público, numa interpretação que puramente deve atender aos
objectos constitucionais

1.2.Conceito de sigilo bancário


O segredo bancário é um dever acessório, derivado da boa-fé que corresponde a uma
concretização da tutela da confiança, mesmo que se assista, hoje, a um enfraquecimento
da sua consagração legal. Coerentemente, prevêem-se excepções ao segredo bancário:
vg. branqueamento de capitais com a utilização de banqueiros para dissimular a origem
criminosa da obtenção de fundos e, mais recentemente, a redução da fuga fiscal,
apresentada como causadora do défice das contas públicas. A Administração Tributária
tem a faculdade da averiguação plena dos factos alegados pelo contribuinte em sede de
reclamação graciosa, designadamente mediante o acesso aos elementos pertinentes
protegidos pelo sigilo bancário, de modo a que se obtenha a mais completa verdade dos
factos. Existem outras situações em que o sigilo bancário poderá ser levantado pela
Administração Fiscal, sem qualquer tipo de limitação, como por exemplo quando o

14
DIREITO BANCÁRIO

contribuinte reclame da avaliação fiscal de um imóvel para efeitos de pagamento do


Impostos.25

O sigilo bancário pode ser, actualmente, compreendido como um dever jurídico,


imposto às instituições bancárias, de não divulgar informações acerca das
movimentações financeiras dos seus clientes (aplicações, depósitos, saques e outras).

Esse procedimento é titulado pelo Estado e é necessário para garantia a segurança


jurídica e social, bem como a estabilidade económica.

1.3. Valor do sigilo


1.3.1. O dever de sigilo
O dever de sigilo é atribuído por lei a funcionários públicos 26, a eclesiásticos27, a
médicos, a farmacêuticos, a agentes diplomáticos, a membros do Governo, a
advogados28 e outras pessoas, como é o caso dos empregados bancários29.

O dever do sigilo, que é de alguma maneira a concretização especializada do dever


genérico de discrição, é uma variável do segredo profissional a que os trabalhadores da
banca, as instituições de crédito e financeiras se vinculam, por virtude do exercício das
suas actividades profissionais. Eles têm interesse em proporcionar aos seus clientes a
reserva das suas operações, garantindo a confiança da população e a captação de
recursos, visando, assim, um eficiente sistema bancário. Os bancos e instituições de
crédito, bem como os clientes constituem os titulares do direito do sigilo.

Pela natureza das suas actividades, os bancos têm o dever de resguardar as informações
e os serviços utilizados pelos clientes, sendo-lhes vedada a divulgação a terceiros de
informações sobre investimentos, saldos de conta, aplicações e demais movimentos
bancários30.

Também constituem matéria de segredo as informações respeitantes ao funcionamento


das próprias instituições.

25
SALIA, Alex Antero de F., Sigilo Bancário , tema apresentado no ISCTEM.
26
Estabelece o art. 290 do Código Penal a correspondente punição.
27
Que por revelação do sigilo sacramental são punidos nos termos do 1° do art. 136 do Código Penal.
28
Que em caso de violação ficam sujeitos à previsão do n°1° do art. 289 do Código Penal.
29
Art.48 da Lei n° 15/99, de 1 de Novembro.
30
Art.48 da Lei n° 15/99, de 1 de Novembro, e Artigo 73 n° 1 da Lei n° 1/92.

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DIREITO BANCÁRIO

1.3.2. Interesses tutelados e a natureza do sigilo bancário


O sigilo cobre, em termos teleológicos, dois vectores, nomeadamente: (a) proteger a
discrição e a privacidade dos clientes, e (b) defender as instituições de crédito de
interferências externas e, por essa via, o sistema financeiro. O direito do sigilo bancário
enquadra-se no rol dos direitos constitucionais à intimidade, sendo somente possível ao
magistrado mitigar esta circunstância, através de juízos de ponderação quanto aos
interesses envolvidos.

O poder de tributar é outorgado Estado, em consonância com o artigo 100 da Lei


Magna. O encargo Publico que encerra esta actividade dotando da premissa de
indispensáveis os créditos tributários, devera ser exercício de forma eficiente, sendo
capaz de assegurar à tributação a busca da real capacidade de contribuir dos sujeitos
passivos da obrigação tributaria.

Se considera que o dever de sigilo enquadra-se no corpo de direitos e garantias


constitucionais, é oportuno falar dos direitos de personalidade e sua extensão à
intimidade e à vida privada. Tidas como supostas premissas deste sigilo.

1.4. Teoria contratualista


A teoria contratualista é a que reúne maior número de adeptos 31 e defende que o sigilo
esta na base do contrato firmado entre o banco e o cliente e que existe implícita em
qualquer contrato bancário, uma obrigação acessória de segredo por parte dos
estabelecimentos bancários, em decorrência do segredo profissional.

Os compositores da teoria contratualista alegam que os formulários de contratação não


abrigam nenhuma condição neste sentido e mesmo que fosse considerada a cláusula
implícita, como explicar a manutenção do sigilo ainda quando o contrato não se ultimar
e a subsistência dessa obrigação quanto a terceiros e mesmo após a extinção ou
declaração de nulidade do contrato?

1.5. Teoria consuetudinária


Os prosélitos desta teoria sustentam que o sigilo bancário tornou-se uma obrigação
jurídica em função do seu uso no decurso do tempo, observado como tradição universal
por todos os estabelecimentos bancários nas práticas comerciais.

31
A jurisprudência inglesa admitiu, em 1924, no caso Tournier v. Nacional Provincial Bank, (…).

16
DIREITO BANCÁRIO

O fundamento do dever de segredo que tem os bancos há que buscá-lo uma vez mais em
normas usuais de vigência geral, e o fundamento, por sua vez, deste uso bancário há que
buscar na natureza antes apontada do contrato bancário como uma relação de confiança.
Está teoria somente é importante nos países em que não existe imposição legislativa do
sigilo.32

1.6. Teoria do segredo profissional


São muitos juristas adeptos da teoria do segredo profissional, que incluindo os bancos
dentre aqueles cujo exercício da actividade profissional leva a tomar reconhecimento de
certos factos que dizem respeito à esfera intima do individuo, que reconhecem entre os
confidentes necessários, legalmente obrigados a discrição, figuram os banqueiros e que
notadamente nas operações de crédito, o sigilo bancário é uma condição imprescindível,
não só para a segurança do interesse dos clientes dos bancos como o próprio êxito da
actividade bancaria.

Os opositores desta teoria dizem que ela não resolve o problema por propor a questão de
saber qual o fundamento do sigilo profissional. Esta teoria é muito comum no sistema
europeu continental, sobretudo porque na maioria dos países que o integram não há
previsão legal de sanção penal para o descumprimento do sigilo bancário. Aos que
violam esse dever aplicam-se, por conseguinte, as penas cominadas para a violação de
segredo profissional.

1.7. Teoria legalista


Esta teoria considera o sigilo bancário como “ obrigação jurídica cujo fundamento
repousa numa norma legal, em sentido material”.

A crítica a esta teoria funda-se no facto de que o sigilo também é observado em países
onde não existe lei que o determine e porque não dá o fundamento do sigilo, apenas
referindo-se à sua forma e expressão.

1.8. Teoria do direito de personalidade


Doutrina bastante difundida em todo o mundo e que propaga ser o sigilo corolário do
direito à intimidade, o qual, por sua vez, integra o direito da personalidade. Esta
encontra amparo em normas de direito fundamental possui duas variantes, quais sejam,
a de um direito ao livre exercício da actividade profissional bancário, se vista pela

32
Dentre os juristas brasileiros, Lauro Muniz Barreto apoia esta teoria quando assevera que os bancos
preservam o sigilo “por força e Convicção consciente, por usos e costumes consagrados”.

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DIREITO BANCÁRIO

óptica dos bancos; e, pela perspectiva do cliente, a que se apoia no direito genérico à
privacidade das pessoas, enquanto componente do direito à personalidade, fundado na
própria natureza humana.

Tal teoria reconhece a existência concomitante de interesses de ordem pública e privada


a serem observadas com o dever de sigilo e, a despeito das variáveis que envolvem o
conceito de direito à intimidade não há como negar esta causa protectiva dos interesses
supracitados, independente da existência de normas legais que a tutelem, posto
encontrar esteio principio lógico nas constituições modernas, sendo, porém muito
importante a regulação legal para que se possa dirimir dúvidas quanto aos limites e
alcances do instituto.

Essa teoria, pelo menos do ponto de vista dos “clientes” das instituições financeira, tem
encontrado amplo acolhimento, tanto na doutrina como na jurisprudência pátria,
consoante será minuciosamente tratado em capítulo próprio.

2. Objecto do sigilo
São objecto do sigilo o nome do cliente, as contas de depósito e de crédito bem como as
demais operações bancárias.

3. Excepções ao dever de sigilo e Direito tributário


Em primeiro, importa dizer que podem partilhar informações sujeitas a sigilo, os
empregados do Banco do Cliente, os herdeiros e legatários do cliente, os órgãos
competente no caso do cliente que seja a pessoa colectiva.

Perguntar – se, se o fisco pode ter acesso a dados bancários do contribuinte sem que seja
necessária a prévia requisição judicial, com vestimenta à maior efectividade da obtenção
do crédito tributário em situações pontuais.

Para o direito tributário, tributo é prestação pecuniária, de cunho obrigatório, imposta


pelo Estado aos seus súbditos, em razão do próprio existir Estatal, com finalidade
vinculada a satisfação das necessidades da colectividade, e a organização do corpo
social, pressupõe a obtenção de valores capazes de garantir a efectividade destes
empreendimentos.

A sonegação fiscal, que assume proporções inimagináveis, não só deve ser vista apenas
como uma atitude licita isolada de um contexto ou mesmo actividade de um só
contexto.

18
DIREITO BANCÁRIO

Tal ocorre com o crime da corrupção, com o tráfico de estupefacientes, em que o não
recolhimento dos tributos apenas evidencia a dificuldade de ocultação da fonte escusa
dos rendimentos auferidos e dos desconfortáveis sinais exteriores de riqueza.

Tal norma reafirmou o dever de sigilo das instituições financeiras, magicamente


estabeleceu hipóteses em que a transferência dos dados bancários não constituiria
violação a esse dever de sigilo. A previsão legal da violação do sigilo funcional,
consiste no revelar de factos de que têm ciência, em razão do cargo e que deveria
permanecer em segredo ou mesmo na facilitação de sua revelação, é punível com pena
de detenção de 6 meses a 2 anos ou multa, se tal facto não constituir crime mais grave.

Não há porque se falar em atingimento do direito a privacidade, posto que o segredo não
se divulga, apenas troca de mãos, em razão de sua relevância, e certamente estará mais
protegido do que se encontrava na instituição bancária, onde nem sempre se pode ter
por premissa, a lisura das operações ali ocorrida.

Em verdade, o dever de sigilo fiscal deve ser respeitado pelo administrador tributário
em nome da legalidade, da moralidade, da impessoalidade e da eficiência da activadade
fiscalizatória. A utilização destes elementos é condicionada aos ditames normativas
constitucionais, sendo os desvios de finalidade punido com todo rigor, conforme
estabelecido pelo próprio legislador.

O poder – dever de agir do Estado, quando do exercício da actividade tributaria está


todo delimitado no texto constitucional, onde estão rigidamente definidos as limitações
ao poder de tributar, verdadeiros princípios constitucionais atinentes à tributação, de
acordo com os estudos empreendidos pela mais prestigiada doutrina acerca do tema.

Portanto advogam que somente que após o juízo de oportunidade e necessidade de um


magistrado, poderá se facultar ao fisco ter acesso à esses dados. Conforme o exposto,
profundamente relevante nesta discussão, é o que diz respeito a supostamente necessária
previa autorização judicial, para se ter acesso aos dados bancários de alguém, em nome
da protecção a intimidade. Será autorizada a transferência destes dados, segundo
sustentam, se forem dados a conhecer ao magistrado aspectos que representam
veementes indícios de crime ou fraude, e que mereçam melhor apuração.

A qualquer pretexto, não se pode permitir que se seria conceber que os bancos e
instituições financeiras se transformem em porto seguro para os rendimentos oriundos

19
DIREITO BANCÁRIO

dos crimes tributários, de lavagem de dinheiro, do tráfico de drogas, da corrupção, e de


outros ilícitos.

A sociedade esta a exigir do poder público uma providência imediata e efectiva contra
esta nova forma de impunidade, impeditiva do desenvolvimento do pai.

Percebe-se de forma nítida que a protecção ao sigilo bancário tem sido flexibilizada, a
permitir uma maior intervenção do poder publico quando a apuração de ilícitos, sejam
eles tributários ou não, no afã de se garantir a ordem pública e a protecção as
instituições estatais. Em vários destes Estados é desnecessária a previa autorização
judicial para se ter acesso a dados, como forma de se garantir a efectividade de tal
providência.

É importante destacar também que, de forma cristalina de que é vital para a arrecadação
de tributos, pelo fisco, e para o apuramento de crimes pelo Ministério Público, que se
permita ao acesso responsável aos dados financeiros dos correntistas, sendo
desnecessária a previa requisição ao judiciário, pois, a aduza-se, que o “ banco não é
esconderijo”.33

Evidente é a cessação do dever do sigilo por consentimento do cliente, caso em que é


exigível formalismo específico, pois em caso de litígio ao banqueiro caberá o ónus de
prova.

Também é permitida a quebra do sigilo bancário em casos de suspeita fundada de


branqueamento de capitais como, aliás, atras já dissemos.

Resumindo, o sigilo bancário é de grande dignidade e apenas u m interesse


preponderante prevalecera sobre os bens de personalidade em jogo, justificando a sua
quebra.34

33
Em expressa referência a COVELLO, Sérgio Carlos. O Sigilo Bancário. São Paulo: livraria e editora
universitária de direito, 2001.
34
MENEZES CORDEIRO, A., ob. cit. p. 321.

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DIREITO BANCÁRIO

CAPITULO III: RESPONSABILIDADE BANCÁRIA


1. Razão da responsabilidade
No mundo contemporâneo, o sistema creditício bancário ocupa ponto de destaque.
Tendo em vista que no sistema económico, tal sistema tem função não apenas de
atender necessidades de crédito de pessoas físicas e jurídicas, mas também, e
principalmente, fomentar o desenvolvimento da nação, através da circulação da riqueza
que move o sistema produtivo e viabiliza a economia.

Na relação bancária há de se a presença de pessoas físicas e jurídicas e o evidente


interesse público em tal relação diante da dimensão dos efeitos da distribuição de
crédito, tendo em vista que fomenta o desenvolvimento do consumo e da produção.

No que se refere ao crédito bancário, o cidadão encontra – se em posição altamente


vulnerável, facto que decorrente do desenvolvimento do sector bancário, devidamente
estruturado e planificado com a moderna técnica de actuar; da linguagem específica das
operações de crédito e da necessidade de tal crédito.

A intervenção do Estado é claramente necessária não no sentido de inviabilizar a


relação entre as partes, mas garantir as condições motivadoras de respeito e
consideração contratual, de forma a tornar equivalente as posições das partes envolvidas
no negócio dentro do limite do princípio da igualdade.

O crédito deve ser tratado como produto ou serviço conforme o momento deve ser
incidente a regra de controlo a que estarão sujeitos todos aqueles que se envolverem em
tais limites.

2. Natureza
Em causa está, fundamentalmente, a questão de saber se, da violação do dever de
informar, resulta uma situação de incumprimento obrigacional ou de responsabilidade
aquiliana.

A ideia básica será a seguinte: há incumprimento obrigacional quando o dever de


informar surja no âmbito duma ligação específica: culpa in contrahendo, boa – fé
contratual ou manifestações legais do dever de informar dentro de situações de tipo
contratual.

21
DIREITO BANCÁRIO

Surge responsabilidade aquiliana quando o dever de informar se constitua em situações


genéricas, isto é, em conjunturas nas quais nada, previamente, relacione os
intervenientes. Tal ocorre com os deveres do tráfego.

- Na responsabilidade contratual domina a orientação napoleónica; a “culpa” equivale à


faute e traduz, em simultâneo, a ilicitude.

- Na responsabilidade aquiliana singra a orientação germânica: culpa e ilicitude estão


contrapostas.

3. Responsabilidade do banqueiro
O banqueiro tem uma responsabilidade bancária pelos actos ilícitos que, na sua
qualidade de profissional, perpetre.

Apesar de não serem aptos a danos envolvendo a integridade das pessoas e bens, os
actos do banqueiro podem produzir danos para credores e devedores em casos de
falência ou de crédito não concedido ou mal concedido ao cliente ou terceiros.

Daqui exigir-se dos banqueiros deveres de discernimento35 (para não financiar


actividades ilícitas), de informação (para conhecer correcta e o mais completamente
possível o cliente) e de vigilância (com o qual se habilitará conhecer o verdadeiro uso
do crédito).

Todos esses deveres têm como objectivo não prejudicar terceiros, tendo como nexo de
causalidade a acção ou a omissão do banqueiro em atentado aos bons costumes ou à
ordem pública.

Tendo em conta que em qualquer situação de impugnação delitual há que apontar uma
norma jurídica violada, a impugnação requereria má - fé do banqueiro (artigo 612 36 nᵒ.1
do Código Civil). E um concilium fraudis entre o banco e o cliente (artigo 612 nᵒ.2 do
Código Civil).

O banqueiro pode ser responsável por factos inexactos, em administração de


patrimónios, perante giro bancário, perante cheques ou perante a recomendação de
produtos arriscados.

35
Waty Teodoro, Direito Bancário, pág 144.
36
O artigo 612 no.1 do Código Civil diz:
O acto oneroso só está sujeito a impugnação pauliana se o devedor e o terceiro tiverem agido de má -
fé; se o acto for gratuito a impugnação procede, ainda que um e outro agissem de boa - fé.

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DIREITO BANCÁRIO

Com efeito, o banco tem o dever de honrar os compromissos que haja assumido, ainda
que indiretamente; são lhes impostos, pois, deveres de diligência e de informação e,
quando não os cumpre, sobre ele recai a presunção de culpa a bem da confiança dos
particulares e do tráfego bancário.

Mas se por alguma razão, o banco tiver que suspender um crédito, não se vá ver nessa
decisão, de imediato, uma vontade de provocar deliberadamente uma asfixia mortal, por
desígnio tenebroso, qualquer desiderato de retaliação, em perfeito abuso do direito.

4. Culpa in contrahendo
O Direito Bancário é também um direito de serviços, área onde as partes (banqueiro e
clientela) devem actuar em respeito, como dissemos em relação ao banqueiro, dos
valores fundamentais da ordem pública e da boa - fé.

Quer isto dizer, que mesmo na fase preparatória dos contratos as partes devem acatar os
deveres de actuação tais como o de protecção, o de informação e o de lealdade37.

A violação dessas normas conduz igualmente à violação do dever genérico de não


causar danos, que pode conduzir à aplicação dos artigos 48338 nᵒ.1 e 797 nᵒ.1, ambos do
Código Civil.

A boa - fé in contrahendo, quando viola, dá direito a indemnização, nos termos dos


artigos 227 nᵒ.1, 898 e 908, todos do Código Civil, estes dois últimos aplicáveis à
compra e venda.

De todo o modo, dos artigos invocados, em especial o 227 nᵒ.1 do Código Civil, deve
entender-se que quando violada a boa - fé in contrahendo devem ser ressarcidos os
danos emergentes, as despesas perdidas e os lucros cessantes. A culpa in contrahendo
revela como instituto tutelar da parte desfavorecida.

37
Waty Teodoro, Direito Bancário, pág 145.
38
O artigo 483 no.1 do Código Civil diz:
Aquele que com dolo, ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição
destinada a proteger interesses alheios, fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da
violação.

23
DIREITO BANCÁRIO

Conclusão
Findo o trabalho, o grupo concluiu que a actividade bancária vem desde à antiga
Babilônia, do povo Hebreu e na Grécia, onde os tempos religiosos funcionavam como
verdadeiras instituições de custódias e empréstimos de valores, envolvendo
comerciantes, agricultores e todos que necessitavam dessa actividade bancária.

Defendemos a existência de um dever de informação decorrente da aplicação do


princípio da boa-fé e do instituto da culpa in contrahendo. As partes que se encontram
em negociações para a celebração de um contrato devem-se informar mutuamente e na
medida do necessário, para permitir a conclusão honesta do contrato, o que pressupõe a
prestação de esclarecimentos sobre os elementos que possam ter um papel decisivo na
formação da vontade contratual da outra parte. Esclarecendo, mediante o dever de
verdade, tudo que lhe parecer devido para cumprir a obrigação de contratar bem.

Quanto ao mútuo bancário, concluímos que o dever de informação ganha outros


contornos. Independentemente da existência de uma norma específica que
expressamente prescreva os deveres de informação, estes poderão resultar de deveres
acessórios de conselho, de recomendação ou informação a cargo do banco, quer com
base no acordo firmado com o cliente, quer numa interpretação contratual, ou ainda,
numa norma legal consagrando princípios como o da boa-fé.

O dever de informação, derivado do princípio da boa-fé, também se impõe ao cliente,


este deve colaborar com o banco no sentido de fornecer as informações necessárias.
Existirá também da parte do cliente o dever de lealdade, de verdade e acrescentamos
ainda, de cooperação e colaboração.

O sigilo bancário profissional é um dever ético que impede a revelação de assuntos


confidenciais ligados à profissão, segredo profissional. Em direito privado só será
violado o segredo perante quem tenha direito bastante relativo ao bem que esteja na
posse do banqueiro, e em direito público o segredo bancário será limitado por razões
policiais e fiscais, quando haja prevalência preponderante.

O segredo bancário é um dever acessório, derivado da boa – fé que corresponde a uma


concretização da tutela da confiança mesmo que se assista hoje, a um enfraquecimento
da sua consagração legal. O dever do sigilo é atribuído por lei a funcionários públicos.

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DIREITO BANCÁRIO

A actividade bancária tem como objecto o nome do cliente, as contas de depósito e de


crédito, bem como as demais operações bancárias.

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Referências bibliográficas
 CORDEIRO, Menezes António, Manual de Direito bancário, 4ª Edição, Almedina,
Coimbra 2010.
 WATY, Teodoro Andrade, Direito Bancário, Maputo: W & W Editora, 2004.

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