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À comissão de Júri das candidaturas ao Doutoramento

em Linguística - Universidade Nova de Lisboa

Candidatura ao Doutoramento em Linguística - NOVAFCSH

A razão que me impele a esta candidatura se dá pela intenção de expandir meus


conhecimentos no domínio científico da Linguagem – para além dos adquiridos na Graduação em
Linguística e no Mestrado em Letras, que tive o privilégio de estudar ao longo de sete anos na
Universidade Estadual de Campinas e na Universidade de São Paulo, respectivamente. Sempre me
interessei pela área da linguagem e me dediquei, desde os estudos de primeiro ciclo, a pesquisas no
campo da Linguística, como os Estudos Clássicos e a Linguística Aplicada ao ensino de línguas
estrangeiras.
Na graduação, estudo de primeiro ciclo, fui bolseiro de investigação científica (CNPq) em
2015 e 2017, desenvolvimento pesquisas na área de Letras Clássicas, em especial, a presença de
Ovídio e Lucrécio nas obras do autor italiano Ítalo Calvino, associando aspectos linguístico-
literários em um estudo de recepção. No mestrado, fui também bolseiro da CAPES e investiguei os
estereótipos de género presentes em materiais de italiano como LE e L2 numa análise diacrônica,
cotejando teóricos da Antropologia, das Ciências da Linguagem e da Educação.
Os motivos que me regem são, sobremaneira, de foro pessoal e académico, dos quais se
destacam o interesse em temáticas relacionados com: Linguística Aplicada e Didática de Línguas.
Pessoal, pois tenho me dedicado ao longo da minha trajetória profissional ao ensino de italiano LE e
de português como LE através de um olhar crítico do papel do professor e aluno na aprendizagem
de uma língua estrangeira. Académico, por sua vez, pelo empenho em adquirir conhecimentos
específicos e avançados no que tange a teorias e práticas pedagógicas a fim, além de enriquecer-me
pessoalmente, de auxiliar na compreensão das relações interpessoais e dos processos cognitivos
envolvidos no processo de ensino/aprendizagem.
Além do exposto, e não menos importante, o prestígio da Universidade Nova de Lisboa nos
estudos da linguagem foi fundamental para a escolha de candidatar-me ao Doutoramento nesta
Instituição. O elevado número de publicações e a excelente qualificação do corpo docente
certamente contribuirá para um sólida formação e de alto nível.
Neste sentido, acredito que meu ingresso no Doutoramento em Linguística, na Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, vai-me ajudar a desenvolver
competências específicas necessárias à minha formação académica na área da Linguagem, bem
como meu desenvolvimento pessoal e profissional, aumentando, assim, minha flexibilidade de
opções no âmbito do ensino dentro e fora da vida académica.

Atenciosamente,
Thiago Lopes Araújo
PROPOSTA DE PROJECTO DE INVESTIGAÇÃO
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA

1. TÍTULO DO PROJECTO: Atrito linguístico em falantes de italiano L1 no processo de


aprendizagem de português L2: um estudo longitudinal

2. DESCRIÇÃO DO PROJECTO:

O processo de desenvolvimento bilíngue tem como aspecto intrínseco o atrito linguístico


(Kupske 2016; Schmid & Köpke 2019) que contribui de maneira incisiva na aquisição de uma
língua estrangeira ou segunda, influenciando nas diversas categorias mentais, desde a fonético-
fonológica, à semântica e pragmática. Tal aspecto se caracteriza pela interação entre L11 e L2 no
falante bilíngue de modo a provocar, mutuamente, perdas e/ou alterações em uma língua
previamente desenvolvida, nos diversos níveis linguísticos, em um falante saudável;
desconsiderando, assim, deteriorização cerebral ou qualquer tipo modificação cognitiva.

Estudos mostram (Yılmaz & Schmid 2015) o papel incisivo da L1 na aquisição da L2 no


que tange ao modo com o qual as categorias da L2 são processadas, provocando mudanças, rupturas
e reorganizações em níveis linguisticos dos mais variados. O exemplo mais evidente de tal
fenômeno é a reprodução de padrões fonético-fonológicos da L1 no processo de aquisição da
segunda língua, o conhecido “sotaque. No entanto, parece-nos menos evidente o caminho
contrário: o papel da L2 naquela que, “em teria”, seria imutável e já estabelecida, a L1. Ainda, que
tais línguas interagem mutualmente (Guion 2003) numa espécie de simbiose linguística (Rwamo &
Ntiranyibagira 2019).

Neste sentido, este projecto objetiva investigar o atrito linguístico provocado pelo português
L2 em falantes de italiano L1 do ponto de vista fonológico, como o processo de nasalização
vocálica, em uma análise longitudinal. Haveria, portanto, em falantes de italiano residentes em
Portugal e que aprendem há algum tempo PLE, perdas, mudanças ou transferências fonológicas da

1 Entende-se como L1, ou língua materna, aquela adquirida pelo falante em seu contexto de produção. Por L2, uma
língua não primária, adquirida, muitas vezes, em um processo de necessidade comunicativa, para efeitos de
socialização.
L2 para a língua materna? De que maneira e em qual medida o processo ocorre? Para tanto, é
importante observar que os sistemas sonoros das línguas de bilíngues coabitam um mesmo espaço
fonético-fonológico no cérebro (Flege 1995; Best & Tyler 2007) e que bilíngues apresentam um
processamento sintático “intermediário” entre L1 e L2 para ambas as línguas (Hernandez, Bates &
Avila 1994). Dessa maneira, fica cada vez mais claro que o bilinguismo impacta o processamento e
a representação tanto da L2 quanto da própria L1 (Dussias 2004; Hopp 2010; Kupske 2016), mesmo
quando desenvolvidas desde a primeira infância (Werker & Byers-Heinlein 2008). Com o
desenvolvimento de uma L2, a L1 de qualquer indivíduo, em algum momento e em algum nível,
estará alterada (Köpke 2007).

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
RWAMO, A.; NTIRANYIBAGIRA, C. . Simbiose de fatores fonológicos e perceptivos na
adaptação de empréstimo linguístico: um estudo de caso da língua Kirundi. Revista Odisseia, [S.
l.], v. 5, n. 1, p. p. 22 – 39, 2019. DOI: 10.21680/1983-2435.2020v5n1ID18827. Disponível em:
https://periodicos.ufrn.br/odisseia/article/view/18827.

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