Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
emergentes?
Abstrato
Este artigo analisa várias facetas do impacto económico da globalização nas EME, centrando-se
em particular no comércio internacional e na migração. Abrange efeitos agregados
(crescimento e inflação) e distributivos (desigualdade, concentração sectorial). O artigo conclui
com uma discussão sobre as implicações políticas que podem ser extraídas da análise e o
possível risco de desglobalização, dada a recente reação contra a globalização em várias partes
do mundo.
Palavras-chave: Globalização, crescimento, concentração sectorial, desigualdade, migração.
Classificação JEL: F6
Esta nota analisa como a globalização afetou as EME. A próxima secção discute implicações
macroeconómicas selecionadas. A Secção 3 explora algumas das consequências distributivas,
procurando identificar quais os segmentos da população que ganharam e quais não ganharam.
A secção 4 considera o impacto das tendências da migração no capital humano das EME. O
último discute os desafios políticos decorrentes da globalização e a forma como certas EME
responderam.
Os movimentos de mercadorias, finanças e pessoas associados à globalização
transformaram a economia mundial nas últimas décadas. Contudo, como os aspectos
financeiros foram recentemente abordados noutros lugares, esta nota centra-se principalmente
no aumento das ligações comerciais e na migração e na forma como isto se relaciona com a
produção e os preços.2
1Ver, por exemplo, Rodrik (2017) e Antràs et al (2016). Em particular, de acordo com o teorema de StolperSamuelson, um
aumento no preço relativo de um bem provoca um aumento concomitante no retorno do factor utilizado mais intensamente
na sua produção e, inversamente, uma queda no retorno do outro factor. Isto implicaria, por exemplo, que os salários da
mão-de-obra não qualificada tenderiam a cair nas economias desenvolvidas como resultado de um comércio mais intensivo
com as menos desenvolvidas.
2Ver BIS, 87º Relatório Anual , 2017, Capítulo VI para uma visão geral das facetas financeiras e uma discussão sobre as
interconexões entre os aspectos reais e financeiros da globalização. Para uma discussão dos aspectos financeiros da
globalização nas EME, ver os volumes da conferência para a reunião dos vice-governadores das principais economias de
mercado emergentes sobre “Intervenção cambial por economias de mercado emergentes: questões e implicações” (2003) e
“A influência de factores externos sobre quadros e operações de política monetária” (2011).
3Ver Dreher (2006) para uma análise mais abrangente baseada em 123 países.
Crescimento mais rápido das EME com menos volatilidade à medida que a
globalização avança 1
1
Médias ao longo dos anos. Série do PIB per capita do conjunto de dados de Angus Maddison.
Fontes: FMI, World Economic Outlook ; Dados de Angus Maddison; Cálculos do BIS.
Embora, no geral, o rendimento per capita tenha tido tendência a crescer mais rapidamente
nas EME do que nas economias avançadas, não é claro quanto deste crescimento pode ser
atribuído à globalização e quanto ao crescimento “de recuperação”. Tal como mostrado no
Apêndice A2, os dados não sugerem uma relação inequivocamente forte entre a abertura
comercial e a convergência do PIB per capita ao longo das últimas três décadas.
No geral, uma maior abertura tem sido acompanhada por uma menor volatilidade
macroeconómica. Ao longo do tempo, a volatilidade do produto diminuiu em quase todos os
países (Gráfico 2, painel da esquerda). Além disso, algumas evidências sugerem que a
vulnerabilidade a paragens súbitas e quedas cambiais diminui com a abertura comercial
(Cavallo e Frankel (2008)). Um mecanismo é que as economias abertas precisam de menores
contrações para se ajustar reduções no financiamento externo, tais como depreciações menores
da taxa de câmbio real, o que por sua vez leva a aumentos menores nos passivos denominados
em moeda estrangeira. Ligações mais profundas através do comércio e das cadeias de valor
globais (CGV) também parecem ter tido uma influência estabilizadora, embora, como mostrado
na nota 1, possam ter levado a vulnerabilidades em tempos de tensão financeira. 4 Dito isto, as
economias mais abertas registaram quedas de crescimento maiores, embora de curta duração,
na sequência da Grande Crise Financeira (GFC) (Gráfico 2, painel central) – um lembrete de que
uma integração mais estreita pode ter tornado as economias mais vulneráveis aos choques
externos, mas também mais capazes de reafectar recursos de forma flexível.
4
É certo que outras forças estão provavelmente em acção, tais como políticas monetárias e fiscais sólidas. Além disso, não é
claro até que ponto a relação positiva entre a integração comercial e a volatilidade global é robusta às alterações no
período da amostra e aos controlos adicionais.
Países EME: AE = Emirados Árabes Unidos; AR = Argentina; BR = Brasil; CL = Chile; CN =China; CO = Colômbia; CZ = República
Checa; HK = RAE de Hong Kong; HU = Hungria; DI = Indonésia; IN = Índia; KR = Coreia; MX = México; MEU = Malásia; PE =
Peru; PH = Filipinas; PL = Polónia; RU = Rússia; SA = Arábia Saudita; SG = Singapura; TH = Tailândia; TR = Turquia; ZA = África
do Sul.
1
Desvio padrão calculado a partir das séries temporais das taxas de crescimento de cada país nas duas amostras (pré e pós-
1950). Alguns países não estão incluídos devido à insuficiência de dados anteriores a 1950. 2 Diferenças de crescimento do PIB
entre os níveis máximo e mínimo antes e depois do GFC. A linha de regressão é significativa ao nível de 5%. 3 A abertura
comercial é definida como exportações mais importações em relação ao PIB em percentagem. 4 Da amostra completa, são
eliminados os 10% (25%) das observações com a menor abertura comercial (importações mais exportações em relação ao PIB).
O gráfico mostra a parcela do co-movimento explicada pelos dois primeiros componentes principais.
Fontes: OCDE; Banco Mundial; Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD); Dados de Angus
Maddison; Fluxo de dados; Cálculos do BIS.
Países incluídos: AE, AR, BR, CL, CN, CO, CZ, HK, HU, ID, IN, KR, MX, MY, PE, PH, PL, RU, SA, SG, TH, TR e ZA (ver nota de rodapé
no Gráfico 1 para códigos de países). Para alguns painéis, um subconjunto destes países é incluído devido à disponibilidade de
dados.
1
Na maioria dos casos, as remessas (em percentagem do PIB) durante a crise foram subtraídas da média de dois anos do
período anterior. Se houver apenas um ano separando duas crises, é traçada a variação em comparação com o ano anterior (em
vez da média de dois anos). Para a crise asiática e o GFC, são utilizadas as variações médias nos países afetados. 2 A abertura
comercial é definida como exportações mais importações em relação ao PIB em percentagem. 3 Emissões de CO 2 medidas em
quilotoneladas. A linha de regressão é significativa ao nível de 5%.
Países incluídos: AR, BR, CL, CN, CO, CZ, HK, HU, ID, IN, KR, MX, MY, PE, PH, PL, RU, SG, TH, TR e ZA (ver nota de rodapé no
Gráfico 2). para códigos de país).
1
A linha de regressão é significativa ao nível de 1%. 2 Tarifa média de um país.
Fontes: OCDE; Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD); Banco Mundial; Organização
Mundial do Comércio; Fluxo de dados; Cálculos do BIS.
Impacto setorial
A composição sectorial da actividade económica nas EME mudou consideravelmente
nos últimos 40 anos. A percentagem dos serviços no PIB aumentou em média 15 pontos
percentuais e a da agricultura caiu na mesma proporção. A indústria manufatureira permaneceu
relativamente estável em torno de 33%. 8 Como salientou o economista Simon Kuznets, a
transformação sectorial acompanha naturalmente o desenvolvimento económico (Kuznets
(1971)). A globalização pode ter acelerado este processo. Por exemplo, a percentagem de
emprego na indústria e nos serviços aumentou, enquanto a percentagem da agricultura
diminuiu mais acentuadamente nas EME onde as barreiras comerciais caíram mais (Gráfico 5).
Não é de surpreender que o declínio do emprego agrícola tenha coincidido com o aumento da
urbanização e das taxas de participação feminina na força de trabalho (Gráfico 6).
8
Estas médias escondem grandes diferenças entre países. Por exemplo, na Coreia e na Tailândia, a participação da indústria
transformadora no PIB aumentou mais de 10 pontos percentuais entre 1970 e 2016, atingindo 36%. Na China,
aumentou de bem mais de 40% em 1970 para um pico de 47% em 2006, antes de cair abaixo de 40%. Na América
Latina, caiu mais de 10 pontos percentuais na Argentina, no Brasil e no Chile, mas permaneceu relativamente estável na
Colômbia, no México e no Peru. As alterações nas percentagens de emprego foram maiores do que as do valor
acrescentado. Em média, a percentagem do emprego agrícola diminuiu mais de 20 pontos percentuais, a dos serviços
Países incluídos: AR, BR, CL, CN, CO, CZ, HK, HU, ID, IN, KR, MX, MY, PE, PH, PL, RU, SG, TH, TR e ZA (ver nota de rodapé no
Gráfico 2). para códigos de país).
1
Tarifa média de um país. 2 A linha de regressão é significativa ao nível de 5%. 3 A participação feminina na força de trabalho é
medida como uma percentagem de mulheres em idade ativa que estão no mercado de trabalho. A linha de regressão é
significativa ao nível de 5%.
Fontes: Banco Mundial; Organização Mundial do Comércio; Fluxo de dados; Cálculos do BIS.
Dito isto, alguns dados sugerem que o emprego nas EME se tornou menos concentrado,
em vez de mais, nos sectores entre 1995 e 2011, período para o qual estão disponíveis dados
(Gráfico 7, painel esquerdo, linha vermelha contínua). Este padrão é bastante robusto entre os
países: aqueles com as concentrações mais elevadas em 1995 (Índia, China, Indonésia e Turquia)
registaram posteriormente descidas maiores (Gráfico A1 do Apêndice). Curiosamente, as
economias avançadas (EA) apresentam, em média, a tendência oposta, embora partindo de
uma base inferior (linha azul sólida). A correlação entre a mudança na concentração e a
abertura comercial é estatisticamente indistinguível de zero (Gráfico 7, painel central). Isto
sugere que uma maior abertura não prejudicou significativamente a tendência de maior
diversificação em todas as EME.
A mensagem é semelhante, mesmo que restrinjamos a análise ao sector transformador, cuja
produção tende a ser mais transaccionável do que os serviços. É verdade que a concentração
neste sector aumentou, em média, tanto nas EME como nas AE (linhas pontilhadas no painel
esquerdo do Gráfico 7). Mas, na verdade, as EME que registaram um aumento mais acentuado
da abertura comercial também registou um aumento menor na concentração do emprego nos
subsectores da indústria transformadora. 12
9
Ver Amiti (1999) para uma análise dos países da UE. O artigo conclui que a globalização aumenta a especialização.
10
Ver Rutherford e Tarr (2005) para os efeitos sectoriais da adesão da Rússia à OMC. A nota do Banco Central do Brasil
também aponta que após a liberalização comercial e um ambiente mais competitivo, a composição setorial da
economia brasileira mudou, mas a produção não aumentou em todos os setores.
11
A globalização financeira também pode aumentar a vulnerabilidade a choques, embora os benefícios sejam
calorosamentezdebatidos (ver, por exemplo, Gopinath et al (2017), Rodrik (2008)).
1
Com base numa decomposição do PIB em 35 sectores dentro de cada país. O índice varia de 0 a 1, com um valor mais elevado
indicando uma maior concentração de emprego entre os setores. Um valor de 1 indicaria que todos os trabalhadores estão
empregados num sector. 2 A linha de regressão para o total não é significativa; para a indústria é significativo ao nível de 10%. 3
A linha de regressão não é significativa.
Fontes: Patel et al (2017); Base de Dados Mundial de Insumos e Produtos; Cálculos do BIS.
Firm size concentration increases in some but not all EMEs Graph 8
4 Os mecanismos delineados em Melitz (2003) implicariam essas dinâmicas. As empresas mais altamente produtivas serão
provavelmente maiores e ganharão mais com o comércio.
5Ver Relatório do Projecto de Investigação ERIA (2013) para evidências a nível de país.
7As tarifas mais baixas impulsionam a globalização e podem, assim, afectar a concentração das empresas.
1
Dados para Argélia, Argentina, Brasil, Chile, China, Colômbia, RAE de Hong Kong, Índia, Indonésia, Israel, Coreia, Malásia,
México, Peru, Filipinas, Arábia Saudita, Singapura, África do Sul, Tailândia e Turquia. 2 Comércio (exportações + importações) em
percentagem do PIB. 3 PTF indexada em relação a 1979. 4 Médias simples entre países e anos.
Fontes: OCDE, Estatísticas Estruturais de Empresas ; Banco Mundial; O Conselho da Conferência; dados nacionais; Cálculos do
BIS.
Fontes: OCDE, Estatísticas Estruturais de Empresas ; Banco Mundial, Indicadores de Desenvolvimento Mundial ; Banco Mundial, Soluções Comerciais
Integradas Mundiais ; Cálculos do BIS.
1
Diferença entre o coeficiente médio antes de 1980 e entre 2000 e 2015. 2 A abertura comercial é medida como importações
mais exportações divididas pelo PIB. As alterações são calculadas em anos diferentes devido à disponibilidade de dados. 3 A
linha de regressão é significativa ao nível de 5%.
Fontes: Lakner e Milanovic (2016); FMI, Perspectivas Económicas Mundiais ; Cálculos do BIS.
1
Mediana das EME apresentadas no gráfico. 2 Mediana de AU, AT, BE, CA, DE, DK, ES, EE, FI, FR, GB, GR, IE, IT, JP, LT, LU, LV, MT,
NL, PT, RO, SK, SI , SE e EUA. 3 Mudança entre 1995 e 2009. A linha de regressão é significativa ao nível de 1% para as AE e ao
nível de 5% para as EME. 4 Ambas as linhas de regressão são insignificantes.
Como é evidente nas notas dos países, estas tendências não têm sido uniformes entre
os países. Algumas notas, incluindo as da China e de Singapura, reconhecem o papel potencial
da globalização no agravamento da desigualdade. A Argentina menciona que a mudança
tecnológica orientada para as competências foi responsável pela maior parte do aumento da
desigualdade, enquanto a abertura comercial contribuiu em menor grau. O Banco Central do
Brasil conclui que as evidências sugerem principalmente que a liberalização do comércio
reduziu as discrepâncias de rendimentos e que as evidências são inconclusivas sobre a relação
entre a liberalização do comércio e as mudanças na pobreza e na desigualdade de rendimentos.
O Banco da Coreia também sublinha que a mudança tecnológica orientada para as
competências, e não a globalização do comércio em si, é responsável pelo aumento da
desigualdade de rendimentos.
A globalização também pode contribuir para o aumento da desigualdade através de
alterações nos preços relativos dos bens consumidos por diferentes grupos de
rendimentos (Faijgelbaum e Khandelwal (2016)). Por exemplo, através dos seus efeitos sobre a
urbanização, a globalização
20
Estudos nacionais e regionais confirmam os efeitos da globalização no prémio de competências. Para a Argentina, ver
Brambilla et al (2012), Galiani e Sanguinetti (2003) e Acosta e Gasparini (2007). Para o México, Feenstra e Hanson (1997)
concluem que o crescimento do IDE está positivamente correlacionado com a procura relativa de mão-de-obra
qualificada.
provavelmente aumentou os preços das casas urbanas, especialmente onde os terrenos são
escassos (Gráfico 12, painel da esquerda). Os dados do UBS a nível municipal revelam que o
A ascensão da urbanização Custo da habitação e Inflação anual dos preços dos alimentos O PPI da
agricultura tem sido e os preços das casas 1 automóveis em relação a mais do IPC 3 crescendo mais
rápido do que
renda 2 fabricação PPI 3
Índice Por cento
Fontes: Banco Mundial; Fluxo de dados; UBS; dados nacionais; Cálculos do BIS.
21
Ver Wang et al (2015) para uma análise mais formal.
22
Embora o comércio de produtos agrícolas possa ter exercido uma pressão descendente sobre os preços dos alimentos
(tal como noutros sectores), esta provavelmente não foi suficientemente grande para compensar outras forças.
Além do impacto nos países de origem, existem vários custos e benefícios da migração
para os países destinatários da EME. Por exemplo, como salientado na nota do Banco da
Coreia, a migração tem sido importante para ajudar a economia a fazer face à diminuição da
população em idade activa. Mesmo assim, o grande afluxo de migrantes, na sua maioria com
baixas qualificações, levou a um aumento da disparidade salarial, que é agora uma importante
preocupação política. A nota da Rússia destaca como o ajustamento dos fluxos de migrantes
estrangeiros em resposta à força da economia russa funciona como um dispositivo de
amortecimento e reduz a volatilidade dos salários e do emprego dos trabalhadores domésticos.
5. O futuro da globalização
Após décadas de rápida integração, a globalização deu sinais de estagnação desde o GFC.
Isto naturalmente levantou preocupações de que possa ter atingido o pico. Olhando para o
futuro, existem pelo menos três riscos possíveis que poderão moldar a sua evolução. Em
primeiro lugar, alguns factores da globalização, como os custos de transporte e as taxas
tarifárias, podem ter atingido o seu ponto mais baixo. Dito isto, ainda existem grandes
encargos regulamentares sobre o comércio ou a propriedade cruzada em alguns países que, se
eliminados, poderão proporcionar algum impulso (ver nota anexa). Além disso, a globalização
das ideias e da tecnologia provavelmente continuará por muitos anos (Baldwin (2016)).
1
Os valores explicam o ritmo mais lento de adoção de tecnologia nos países mais pobres, aproveitando o atraso na adoção de
tecnologias anteriores (Comin e Mestieri (2013)).
Fonte: Federação Internacional de Robótica; Banco Mundial, Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2016 .
Crescimento mais fraco, atitudes piores As atitudes deterioraram-se em geral entre 2002 e
Fontes: The Economist ; Centro de Pesquisa Pew, Pesquisa de Atitudes Globais; VocêGov; Banco Mundial; Cálculos do BIS.
O público vê a globalização como uma criação de empregos, mas não como uma
redução dos preços relativos.
1
As atitudes públicas em relação ao IDE não são uniformemente positivas
Em pontos percentuais Gráfico 18
Claramente, as políticas voltadas para dentro atraíram mais defensores desde o GFC. Mas, se
a experiência histórica de alguns países latino-americanos fornecer alguma orientação, desligar-
se da globalização pode ser prejudicial. 23 O sucesso de tais políticas é ainda menos provável
hoje, dadas as tecnologias muito mais complexas e avançadas e uma divisão de trabalho mais
acentuada.
O restante desta secção esboça possíveis opções políticas. Na maior parte, as políticas que
melhor conseguem lidar com a globalização são de natureza estrutural e estão, na sua maioria,
fora do domínio dos bancos centrais tradicionais. No entanto, os bancos centrais podem ter
um papel valioso a desempenhar na comunicação dos benefícios da globalização e na
contribuição para a estabilidade macroeconómica.
23
Ver, por exemplo, Hopenhayn e Neumeyer (2004) para a experiência da Argentina.
Fonte: Nações Unidas, Inquérito Global sobre Facilitação do Comércio e Implementação do Comércio Sem Papel 2017.
24
Uma das três principais questões designadas como prioridades-chave na presidência argentina do G20 é o
“Futuro do trabalho”. Isto centra-se em políticas para aproveitar a inovação tecnológica e mitigar os seus prováveis
efeitos perturbadores nos mercados de trabalho.
9 Tal como salientado na nota da Malásia, o acordo de comércio livre da ASEAN (AFTA) é um exemplo proeminente desta abordagem. Inclui
também uma “Lista de Exclusão Temporária”, uma “Lista Sensível” e uma “Lista Geral de Exceções” para salvaguardar os interesses de cada
país.
10 Naturalmente, tais políticas não podem substituir a existência de um emprego: o bem-estar subjetivo depende não apenas do rendimento,
mas também da forma como esse rendimento é obtido (por exemplo, Helliwell et al (2017) e Ohtake (2012)).
11 Várias notas de países (incluindo as das Filipinas e do Brasil) identificaram o reforço dos sistemas de segurança social como uma parte
importante da resposta política.
Embora os bancos centrais não tenham responsabilidade directa pelas políticas que
acabamos de discutir, podem ter um papel a desempenhar. Uma delas é simplesmente expressar
opiniões sobre as políticas certas que os governos devem seguir: as consequências para os
bancos centrais seriam de primeira ordem. O âmbito para tal dependerá das circunstâncias
específicas do país e das configurações institucionais. Os bancos centrais também poderão ter
de considerar até que ponto devem ter em conta nas suas decisões políticas algumas das
consequências distributivas da globalização entre sectores ou entre a população. Podem
necessitar de uma melhor compreensão das implicações da globalização para o desempenho
económico e a inflação. Da mesma forma, a importância crescente da dimensão externa valoriza
naturalmente o papel potencial dos regimes e políticas cambiais que ajudam a fazer face aos
choques externos. Por exemplo, não é de surpreender que o recurso à intervenção cambial
tenha aumentado nas EME (Domanski et al (2016)). 12Da mesma forma, vários contributos,
incluindo os do Banco da Coreia, da Autoridade Monetária de Hong Kong e do Banco Popular
da China, mencionam o papel potencial dos quadros macroprudenciais e das medidas de gestão
dos fluxos de capitais para ajudar a isolar a economia interna de choques externos. Tal como
salientado nas notas dos países do Brasil e das Filipinas, os bancos centrais das EME também
podem contribuir para a eficácia da resposta política global à globalização, promovendo a
inclusão financeira.
Maiores desafios políticos estão por vir se o proteccionismo prevalecer e a
globalização inverter. Nesse caso, os benefícios serão provavelmente revertidos: o crescimento
poderá abrandar, a inflação poderá aumentar, as CGV poderão ser perturbadas e os empregos
destruídos. Embora uma integração regional mais estreita possa ser uma opção para aliviar os
custos, pode não ser suficiente.