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CÂPITULO 11

Qr" condições favorecem a demo cracja?

o século x-x foi uma época de frequente s tiacassos clemocráticos.


Em mais de setenta ocasiões, a democracja desmoronou-se e cleu lugar
a um regime autoritário,. No entanto, foi também uma época de
extraordinários sucessos democtát-rcos. ,\ntes de chesar ao fim, o
século x< transformou-se num período cle triunfo democrático.
o âmbito global e a influência das ideias, cla-s instiruicões e das práticas
democráticas tornaram, de longe. esse seculo o mais florescente
período cla democracia na história humana.
Àssim, enfrentamos duas questões ou, antes. a mesma questão
colclcada de duas maneiras. como podemos - espLcar a instauracão das
instituiçôes democráticas em tantos países e tenros lugares do mundo?
E como podemos explicar o seu fracasso? E.mbora não seja possír,el
uma fesposta completa, dois conjuntos de tàctores inter-reiacionados
são, sem dúr.ida, de importância crucial.

' obti'e esra eslimativa combinando listas (e eiiminando sobreposições) a par-


tir de dois estudos que utilizaram critérios uln polrco cLiferentes: Frar-rk Beale1.,
«Stabilitl and crisis: fears about threats to de mocrac
.,,t>, tn Eurapeatt Jonrna/ of
Palitica/ Researclt, n.'15 (i987), pp. 687-715, e ,\lired Stepan e Cindl, §li2ç6,
«Presideatialism and Parliamentarism in comparatir-e perspectir.e», in
Juan J. Linz
e Ârturo \''alenzuela (eds.), The Faihtre of pruidentjd/ Got,ernruenr, Baltimore, Johns
Hopkins Universin. Press, 1994, pp. 119-136.
168

oi:.::
O fracasso das alternativas ÍIlâ1Of1â
mente ti-. :.
a transic" -,:
Primeiro, no clecurso do século, as principais alternativas perde-
ftzeram :. --: .:
ram completâmente â competicão com a democraci'a' Mesmo nos
democric,..
finais do primeiro quâfto do século, as formas não democráticas de
meflte f.t'.- : .
govefno que desde tempos imemoriais dominaram as convicções e
nidamen:.
as ptáticas fl malor parte do mundo monârquia, aristocracia
-..
-
declinâram fatalmente pela legiti- Conüc
hereditária e oligarquia aberta
- ções suir:.,-.:
midade e pela força ideológica. Embora tir-essem sido substituídas
por alternatir,'as anticlemocráticas mais amplamente populares sob a da den, ,:: --

forma cle fascismo, nazismo, leninismo e olltfos ctedos e govefnos inteiran-:: .


autodtários, estes apenas florescetam poÍ pouco tempo' O fascismo existe, a.--.
Parece -:-
e o nazismo foram mortalmente feridos pela dertota das potências
do Eixo na Segunda Guerra Mundial. )Iais tarde, no mesmo século, essas?

ditadores militares, nomeadamente Íta .\mérica Latioa, caítarn sob o Para le.:
peso dos seus fracassos económicos, diplomáticos e até militares riência Í.,r .'-

(Argentina). A medida que se aprorimar.a a última década do século, transiçàc.r ::.-:

o femanescente e mais importante rival totaütário da democracia, o cráticas . .,,


leninismo incorporado no comunismo sor-iético, desmoronou-se abrup- transiçàr-, -
tamente, irreparavelmente eniraqueciclo pela decadência interna e transiçãcr, '- :
fracasso i:,
t
pelas ptessôes externas. .

Estava, deste modo, a democracia assegurada em todo o munclo? afectam s'-:


Será que, tal como o presidente americano \dbodrow wilson, de (figura S .

forma opumista (e, como se pÍo\-ou, etrada), proclamou em 1919, no


fim da Primeira Guerra Mundial, o mundo se tinha finalmente «tor-
nado seguro pàra a democracia-r>?
Infelizmente, não. À vitória final da democracia não tinha sido
Co::t :.
alcançada, nem estâva perto disso. O país mais populoso da terrz e
umâ potência mundial importante, a China, ainda não foi democrati- 7. t, :-
zado. Durante quâtro mil anos de uma civíltzaçáo ilustfe, o povo -' 2. r- :'.

3. l:..'
chinês nunca experimentou a democracia, e as perspectivas de que, em
brer,,e,a China se toÍnaria democtática eram altamente dúbias' Os C,:: - -
regimes não democráticos persistiam igualmente em muitas outlâs
+, -::_
partes do mundo, quer em Áfti.r, no Sudeste Asiático, no Médio
5 I-:
Oriente, quer em alguns dos remanescentes da desintegrada URSS' Na
169

malofla destes países, as condições Para a democracta náo etam alta-


mcnte Í,avorár-eis: pof conseguinte. nào era clrro se e como iriam fazer
--rr-as perde- a transição pàÍa a democracia. Finalmente, enl nào Poucos países que
lrlesmo nos ftzeram a transição e introduziÍam as ir-rstituicões políticas básicas da
- ,cráticas de democtacia poliárqúca, as condições sr'rbiacentes não eram suficiente-
indefi-
.,,nvicções e mente favoráveis para garantiÍ que a democracia sobreviYesse
;iristocracia nidamente.
; pela legiti- Condições subiacentes? Já sugeri anterioÍmente que ceÍtâs condi-
são far-orár.eis à estabiüdade
substituídas ções subjaceflres ou de fundo num país
'-rlares sob a da democracia e, onde estas condicÔes cstào pouco PÍesentes ou
inteiramente âusentes, é improl'ár-ei que a democracia exista ou'
se
r a gOYeÍnOS
L) fascismo existe, a sua existência é provar-elmente precária'
:.-,s potências Patece-nos, então, que é altuta de perguntar: que condições são
-:mo século, essas?
Para responder, podemos valer-nos de um longo capital
de erpe-
:.riram sob o
relevante fornecida pelo sécu1o )c(: os países gue realiz'arum
a
.,:é militares riência
demo-
--,r do século, transição p^rà a democracia, consolidaram âs suas instituições
cráticas e as mantiveram durante muitas décadas; países em
que a
-:llocÍacia, o
transição foi seguida pelo colapso; e países que nunca ltzeram
a
r )u-se abrup-
uansição. Estas instâncias da transição democrátrca, consolidação
e
.--1 interna e

fracasso indicam que cinco condições (e, provavelmente'


haverá mais)

afectam significativamente as probabilidades da democracia


num país
-:,,, O munClO?
,- \\ilson, de (figura B).
1919, no
=m
,-.Lmente «tor-

Figrra 8 Qru condicões jaL'orecenr at ittstitttlriet denocráticas?

,,,.-, Unha sido


-
so da teÍra e Condiçôes essenciais à democracia:

ri democrati- 1. Controlo dos militares e da polícia por dirigentes eieitos


--stÍe, o povo -' 2. Convicções democtáticas e culrura políuca
,is de que, em 3. Inexistência de controlo estrangeiro fbrte l-rostil à democracia

:. dúbias. Os
Conclições far-orár'eis à democracia:
:-nuitas outrâs
.,r. Íio Méclio 4. Uma economia de mercado e uma sociedade modernas
..da URSS. Na
5. Pluralismo subculrural fraco
I/o

fntervencão estrangeira

É m..,os pror'ár-el que as instituições democráticas


se desenvoivam Se .,,
num país sujeito à intervenção de um ourro,
hostrl a um govt:rno tro1c., :
democrático nesse país.
demc,:,'..
Esta condição é, por vezes, suficiente para
erpLica r a razàapor que En: :
as instituições democráticas não foram
cepezes de desenr.orver-se
ou tairiez ,.
persistir num país em que outras condicôes
eram consideraveimente iídere. *
mais fa'orár'eis. Por exemplo, se não fosse
a inte^-enção rra união os 1r'': .
So'iética depois da segunrla Guerra .Iundi.r,
a checosror,áquia seria pÍe ter - ::
hoje considerada, provavelmente, uma c1a-s -:
dsse.racias mais antigas. tares
 inteÍvenÇão sor''iética impecriu, tambóm, a polórua menta :
e a Hungria de
desenvolverem instituições clemocráticas.
contÍL ,
N{ais surpreendente: até às úitimas décacras
do sécuro xx, os Esta- para s;: :
dos unidos tinham conseguicro um rec.rde
sombrio de interve.cões cir,-is n: --.
na Âmérica Latina, onde por vezes minaÍem
um governo eleito pelo descri.-.- l
povo paÍa pÍotegef os interesses americanos
ou (na r..ersão oficial) a sem is. .

segufanÇa nacional amertcana. Embora


estes países latino-americanos \ r --;
!1.1-
.--
-

onde a democracia foi cortacla pda niz não


fossem necessariamente $O\-erl-)r -
completamente democráticos, se esdr-essem
rir.res da intervencão 1948e - .

americana ou, melhor ainda, fortemente apoiados nos


seus primei- que nãt ..
Íos passos -em direccão à democratizacào _,
as rnstituições democrá_ militar. s:
trcas poderiam ter er-oitudo a seu tempo.
um e:remplo particularmeÍrte Pelo :
perfeito foi a intervencào cranclestina dos
serr-iços secÍeros dos e,ua na região ci..-
Guatemala em 1964, para derruber o go\rerno
eleito de um presidente volver e ::-
popuhsta e pró-esquerdista, Ârbenz.
Jacob o foran-rl l
Com o coiapso da União Sor-iética, os países condicõc:
da Europa Central e do
Báltico agiram rapidamente pârâ instaurar
as instituições democráticas. goveÍn(r :
Â,ém disso, os Estados unicros e a comunicrade
internacional, em geral, acontecc.. :

colxeçaram a opoÍ-se às ditaduras na Âmérica


Lattna e noutras zonas Rica elir-:-
e a apoiar o desenr,rcrr.imento das instituições
democráticas em grande são, o p:.,
parte do mundo. Nunca na história cra humanidade
as forças interna-
cionais poJíucas, económicas e culturais
- apoiaram tanto as ideias
e as instituicões democráticas. Durante -
as úrtimas décadas do sécuio >x,
2
Nlarlr :.
ocoffeu uma mudança histórica no clima po1ítico Jamcs trI. ' ,.
mundiar que aumen- Tramitioti
tou enofmemente as perspectir.as de desenr.olvim.rrto ;

d.mocrádco. rr''---1O1 i:
nh
1-7

Controlo sobre os miliraÍes e a polícia


' ,: )e desenvolvam
-- se as forças militares e policiars não esrir-erem
sob compreto con-
.-rumgovefno trolo clos dirigentes ereitos democraticamenre.
as instit,icões poríticas
democrátices prova'ermente não se cresenr-orr-erão
" :. ra.zào poÍ que
,;; manterão.
Em contraste com a ameaça exrerna de inten.ençào
estrangeira,
- -:>cfl\-olveÍ-Se ou a mais perigosa ameaça inrerna para a
lalvez cremocracia venha de
-' :rsiderar.elmente líderes que têm acesso aos mais importantes
meios de coercão física:
- rrcào da Lrnião os militares e a polícia. Se os dirigentes
eleitos democratrcamente
- -- ,s1ováquia ser.ia Pretendem conseguir e manteÍ o conr'oro eircaz sobre as forças
mili-
,- i. rnais antigas. tares e policiais, os membros da polícia
e cla-s fe1ç25 armadas, principal_
'-. . ii Hungria de mente os oficiais, der,rm submeter_se
a eles. E a sua submissão ao
controlo pelos dirigentes eieitos tem de
e star profundamente arraigada
- ::'-llo \X, os Esta_ paÍa ser rejeitada. A razão poÍ que se
clesenvolveu o controio pelos
' .ie intenrnções civis nalguns países e noutros nào é
demasiado comprexa para ser aqui
_' -i'no eleito pelo descrita. Nfas, para os nossos propósttos,
a questão importante é que,
, --ersão oficial) a sem isso, as perspectivas cla democracia
são sombrias.
.:no-americanos vejamos a história infdtz da ,\mé,ca centrar.
Dos quarentâ e sete
:- 1-cessafiamente go'efnos na Guatemara, Er sah-ador, Honduras
e Nicarágua entfe
- - -la intert encão 1948 e 1982, mais de dois teÍços arcancaram
o poder poÍ outÍos meios
, :r'rs seus primei_ que não eleicões livres e justas o mais das r-ezes at uvés cre golpes
--:cões democrá- mi,Litares2. -
:]articularmente Pelo contrário, a costa fuca tem sido
um faroi da cremocracia na
i--:.ifos dos eLra na região desde 1950. Porque foram os
cosra-riquenhos capazesde desen-
-.- um presidente voi'er e mante'instituições democráticas quando
os seus vizinhos não
o fomm? Parte da Íesposta pocle ser encontrada
na existência de outras
,-: ra Cenffal e dcr condiçôes fa'orár-eis. Mas mesmo estas
não teriam sustentado um
. -s democráticas. governo democrático face a um golpe
militar, como tantas yezes
:- .,::onal, em geral, aconteceu no Íesto da Âmérica Lattna. Em
1950, no entanto, a Costa
, - noutfas ZOÍI:AS fuca eliminou dramaticamente essa âmeaca:
numa única e audaz deci-
:cas em grande
., são, o presidente democrático aboliu
as forças armadasl
.. àrcas
interna-
. : ianto as ideias 2
Nfark Rosenberg, «po]itical obstacles to
.-,.s do século >o<, - democrac' in central Àmerico>, in
James NI' Mal]o)' and Ntitchelr serigson (eds.), Aul/toirariau
:-:,-il que aumen_ and Dentacrat.r: Regine
Trantitian in Latin Aneica, pittsburgh,
unit.rsit' of pittsburgh press, 19g7,
.1 -,, democrât:.co. pp. 193-250.
172

Nenhum outÍo país seguiu o exemplo da Costa


Rica, nem é pro- ()
vável que muitos o facam. No entanto, nada
podia ilustraÍ mais crac:,,
vi\amente como é cruciar os dirigentes eleitos
estaberecerem e man- AS S..
terem o controlo sobre as forças armadas e
a poJícia, se se pretende reli=,
estabelecer e preser\,âr as institüções
democráticas. sob:.
il
e\l{-:
ii

sào -:
Conflitos culturais fracos ou ausentes a rc<
CONC:,
E mais provável que as instituições poJíucas
volvam e:mantenham num país culruralmente
democráticas se desen_ \,.
bastante homogéneo do
que num país com subculturas profundamente
diferenciadas e em
conflito.
Âs culturas diferenciadas formam_se, muitas vezes,
I em torno de
diferenças de língua, religião, raca, identidade
l
étnica, regiâo e, poÍ
vezes, ideologia' os seus membros partilham
uma identidà" .o*.r*
i e laços emocionais; distinguem fortemenre o «nós»
do «eres». Em
li' teÍmos de reiações pessoais, r.iram-se pafa
l
outÍos membros do seu
I grupo: amigos, colegas, parceiros de casamento,
I vizinhos, hóspedes.
;l Muitas vezes tomam parte em cerimónias e
I
riruais que, entre outras
coisas, definem as suas fronteiras como
( grupo. Deste modo e de
r1l

outÍos, a cultura pode tornar-se, r'irfualmente, <rum


esdro de vida» para
os seus membros, um país dentro de um país,
uma nação dentro de
uma nação' Neste caso, a sociedade está,
por assim dizer, estratiÍicada
na vertical.
Podem surgir conflitos culrurais na aÍefla
poiítica e, normalmente,
aconrecem: a propósito da religião, da Jíngua
e dos códigos de vesfuá-
rio nas escolas, por exemplo; o. a propósito da igualdãde
no acesso
à educação; ou a propósito de práticas discriminaúrias
de um grupo
em relação a ouffo; ou pâÍa determinar se o
goveÍrio derreria apotar Er:. .,
a religião ou as instituiçôes religiosas e) em
caso afirmatir.q quais e que du:..:
de que maneiras; ou a propósito das práticas
de um grupo que outÍo sido s, -:
considera profundamente ofensivas e deseja
proibir, trir'.o_o o mente --:
aborto, o abate de vacas ou vesfuário ,<indecente»;
ou para determinar britân:c ,
como e se as iimitações territoriais e políticas
devedam ser adaptacias ItáLia . :
de modo a satisfazer os desejos e exigências
de grupo, etc., etc. disdng-,.:
173

.osta Rica, nem é pro- Questões como estas colocam um problema especial pan a demo-
ta podra ilustrar mais cracia. os simpatizantes de uma cultura parttcu,rar vêem muitas vezes
estabelecerem e man- as suâs exigências poJíticas como quesrões de pdncípiq convicções
políciâ, se se pretende teligiosas ou quase religiosas profundas, preservação cultural ou
ticas. sobreüvência eflquanto grupo. Consideram, poÍ conseguinte, as suas
exigências demasiado cruciais parupermiúem um compromisso. Elas
são inegociáveis. No eÍrtânto, sob um pÍocesso democrático pacífico,
eusettes a resolução de conflitos poÍticos requeÍ, de modo geral, nego ciaçáo,
conciliacào e compromisso.
Iemocráticas se desen- Não deveria, pois, ser surpresâ descobrir que os países democráti-
§r:rnte homogéneo do cos mais antigos e politicamente estáveis conseguiram, na sua maior
r diferenciadas e em paÍte, evitar conflitos culturais graves. Mesmo que existam diferenças
culturais significativas entÍe os cidadãos, elas permitiram, de modo
s sezes, em torno de geta1, que diferenças mais negociáveis (em questões económicas, por
emica, região e, por exempio) dominassem a vida política na maior parte do tempo.
na identidade comum Não existem excepções pzrz este âpareÍrtemeÍrte feliz estado de
,<nós>> do <<eles>>. Em coisas? Existem algumas. A diversidade cultural foi particulaÍmeÍrte
ros membros do seu significativa nos Estados Unidos, na Suíça, na Bélg|ca, nos países
), viziÍrhos, hóspedes. Baixos e no Canadá. Mas, se a diversidade ameaça ger* conflitos
r^is que, entre outras culturais intratáveis, como conseguiram manteÍ-se as instituições
c- Deste modo e de democráticas nestes países?
m estilo de üdar> para Âs suas experiências, emboÍa múto diferentes, mostram que, nuÍn
uma nação dentro de país em que todas âs outrâs condições são favorâveis à democract^)as
irn rlizer, estratificada consequências políticas potencialmente adversas da diversidade cultu-
ral podem, por vezes, tornar-se mais manejáveis.
ítica e, normalmente,
rs códigos de vesruá-
L igualdade no acesso Âssnflr-AÇÃo
atórias de um grupo
)rerno deveria apoiar Era esta a solução americana. De 1840 a 1920, a cultura dominante,
o afirmativo, quais e que durante dois séculos de governo colonial e de independência tinha
um gÍupo que outfo sido solidamente estabelecida pelos colonos brancos ündos principal-
lroibir, tais como o mente da Grã-Bretantha, confrontou-se com ondas de imigrantes não
); ou para determinar britânicos da Irlanda, da Escandinâvia, da Alemanha, da polónia, de
çeriam ser adaptadas Itálta e de outros países imigrantes que podiam, muitas vezes,
BÍupo, etc., etc. distinguir-se pela diferença- de iíngua (à excepção dos idandeses), de
111

:)1 reiigião, de alimentação, de vesruário, de cosfumes, de modos, de


vizinhança e ouffas câracterísticas. por r.orta de 1910, quase um em
'À{

fil

,fl
,r.ir
1§l
cada cinco brancos residentes nos Estados unidos tinha nascido
: 1i:

r: Ji'
rii
noutÍo lugar; mais, os pais de mais de um em cada quaffo brancos aí
ii
il nascidos tinham nascido no estrangeiro. No entanto, passadas duas
gerações desde que os imigrantes chegaram aos Estados L)rridos, os
seus descendentes estavam jâ tão completamente assimilados pela
cultura dominante que, embora muitos americanos mantenham (ou
desenvolvam) hoje em dia uma ceÍta Iigação ao seu país ou à sua
cultura ancestrais, a sua lealdade política dominante e a slra identidade
são americanas.
Apesar do sucesso impressionante da assimilacão na redução dos
conflitos culturais que a imigracão massira poderia, de outro modo,
ter produzido nos Estados unidos, a experiêncta americana revela
1I

l algumas insuficiências cruciais nessa solucào.


ll

Para começar, o desafio da assimiiaçào foi enoÍmemente facilitado


,L
tl
!l porque uma grande parte clos imigrantes adultos que r,-ieram para os
lir
Estados unidos paÍa conseguir a vida meihor que eres prometiam
d estavam bastante desejosos de se assimilarem, de se «tornarem verda-
ãr
ci
1 deiros americanos». os seus descendentes, ainda mais. Àssim, a assi-
.

milação foi principalmenre voluntária ou comperida por mecanismos


.lli

,ír sociais (tais como a vergonha), que mirumr zaÍam a necessidade de


;
coerção pelo Estado3.
Se uma população massi'a de imigrantes foi, no seu conjunto,
assimilada com sucesso, quando a sociedade americana se confrontou
com diferenças raciais ou cuirurais mais profundas os limites dessa
abordagem depressa se revelaram estreitos. Nos recontÍos eritre a
população branca e os povos natir-os que há muiro rinham ocupado
o Novo Mundo, a assimilação deu lugar à coercão, forcou a recolo-
ntzação e o isolamento em relação à sociedade principal. A sociedade
americana não pôde, também, assimilar o grande grupo de escravos
a
3
Embora a coerção não fosse, como muitas rezes se pensa, inexistente. As For.-.:: .
crianças nas escolas eram uniformemente obrsadas a faiar ingiês. perdiam muito À minh,: --:.
rapidamente os conhecimentos da língua ancestral. E, excepto em casa e entfe tos e câu:-.-
5
o inglês era falado quâse em exclusiüdade Para -;:-
'izinhos, e ai cle quem não compre-
endesse ou não respondesse em ingiês, por mais fraco- que ele fosse. New Har r:- =
reflexões .
1r5

:--r. de modos, de afro-americanos e seus descendentes que, ironicamente, tâl como os


. quase um em índios, vir.iam na América descle muito antes de am rorta. dos outros
-- . ;inha nascido imigrantes chegarem. Coercivamente, barÍeifas impostas de casta,
,. : -.-1-Jo brancos aí baseadas fl Íaça, barcaram eficazmente a assimilação. Um fracasso
.. . Dessadas duas algo semelhante ocorreu nos finais do século xtx) quando chegaram os
- ,-.io. Unidos, os imipyantes da Ásia para trabalharem como operários nos caminhos-de-
: ..:sLmilados pela -ferro e nas quintas.
: :::.tntenham (OU Houve uma outÍâ grande ünha dir.isória que a assimilaçáo náo
::-. DaíS ou à sua pôde superar. Durante o início do sécu1o xlx, desenvolveram-se nos
: - -:- :ua identidade estados sulistas uma subcultura, uma economia e umâ sociedade basea-
das na escra\ratura. Os americarios que r-ir-iam nos estados sulistas e
- - :-ri redução dos os seus compatriotas dos estados nortistas e do Oeste estavam divi-
r :. li outro modo, didos por dois tipos de vicla profundamente incompatíveis. A conse-
-.- -.:rericana fevela quência última foi um «conflito irreprimír.eb> que não pôde ser resol-
vido, apesat do gtande esforço, através de negociações pacíficas e de
r :r-- -Írente facilitado compromissoa. A guerÍa civil daí resultante durou quatro anos e
-,:, r-ieram pâÍa os ceifou um elevado número de r-idas humanas. NIas o conflito não
,-: úies prometiam acabou depois da derrota do Su1 e da abolição da escravatura. Emer-
r: iornafem Vefda- gram, então, uma subcuitLta e uma estrutura social sulistas típicas, em
Àssim, a assi*
::--,,-s,
que â subiugação dos cidadãos afro-americarios foi reforçada pela
---- :oÍ mecanismos
arr:'e ç e pela realidade da violência e do teÍror.
:- .: necessidade de Isto quanto aos frâcâssos passados da assimilação. Nos finais do
século XX, não era claro se a prâtica histórica arnetic na da assimilação
.. rl-r Seu coniunto, poderia fazer frente âo aumento constante da minoria hispânica e de
conffontou
:.::r-r- se
outras minorias. Os Estados Unidos evoluirão pàra uma sociedade
r.:: -s limites dessa multicultural onde a assimilação jâ nào assegura a resolução pacíftca
r r=COntfOS entfe a e segundo processos democráticos dos conflitos culturais? Ou tornar-
, :nl-ram ocupado -se-ão uma sociedade em que as diferenças culturais produzem um
. iorcou a recolo- nível mais elevado de compreensão, de tolerância e de adaptação
:,-:.i1. À sociedade mútuass?
-:rpo de escravos
a
Foram escritos muitos livros a respeito das causas da guerra civil americana.
:-:rsl. inexistente. As A minha breve exposição não faz, é evidente, justiça aos complexos âcontecimen-
: ::re-s. Perdiam muito tos e câusas que conduziram ao conflito.
-::-,:, em CASa e entÍe 5
Para uma anáüse comparativa excelente, ver Nfichael 'Wdzer, On To/eration,
-. qLlem não compre- New Haven e Londres, Yaie Universiry'Press, 1997. Num epflogo, oferece algumas
- . - iosse. reflexões sobre o muiticulturaüsmo americano (pp. 93-112).
DECISÃO POR CONSE,NSO «democr,,: .. .

lnou, eI-- -
Existiram subculturas distintas e potencialmente incompatír,,eis na são inter::.. r
Suíca, na Bélgica e nos Países Baixos. Qr-re poderemos aprender a aguentc, -..
partrr das erperiências destes três países den-rocráticos?
l Cada um criou disposições políticas que requeriam unanimidade
ril
rl
ou um consenso alargado para decisões tomadas pelo gabinete e pelo
ri
parlamento§ O princípio da regra da maioria estava subordinado (em
I
diferentes graus) a um princípio de unanimidade. Deste modo, qual- Âs d-ir:::-,
$ quer decisào governamenral que afectasse signii'icaüramente os inte- são aliirr:.,*
i

4'
Íesses de uma ou mais das subculturas seria tomada unicamente com autoritál . -
o acordo expJícito de representantes desse grupo no gabinete e no e SÍna$AI r: ! __^
padamento. Esta solucão foi facilitada pela RP, que asseguÍava que a coefcà,_ .- ::-.
representântes de cada um dos grupos estaÍiam representados com nzação. T.:: .-
justiça no padamento. Estavam também representados no gabinete. E,
des cultur.:..
sob as práticas consensuais adoptadas nestes países, os membros dos apelos d,-,. :-,,
gabinetes pertencentes a cada subcultura podiam exercer o direito de animosidi:..
veto sobre cada po1Ítica de que discordassem. (Disposições como estas, rais».
a que os cientistas poJíticos se referiam como «democracia consocia- Para er : -.: ,

tiva», variam enoÍmemente nas particularidades entre os três países. sistemas r-:
Para mais informação, ver Anexo B).
; ,
incentir-c-rs
Sistemas consensuais como estes não podem claramente ser criados, doqueoc:-_
ou não terão certamente sucesso, senão em condicões muito especiais didatos poi;:.-
como, por eremplo, numa sociedade com talento para a conciliação; teriam de ,' .:
elevada tolerância paÍa o compromisso; líderes dignos de confianca evidentemc:,..
que possam negociar solucões pâÍa os conflitos que obtenham a democratrz.rc.,
aceitaçáo dos seus seguidores; um consenso sobre os objectivos e os instaurado *::-
valores básicos que seja de tal modo amplo que tome os acordos cultural poc. :
possíveis; uma identidade nacional que desencoraje exigências de sepa-
tacão absoluta; e um compromisso pafa com os procedimentos demo-
cráticos que exclua meios violentos e rer.olucionários.
Estas condições não são comuns. E, onde elas estão ausentes, é
impror,ár,el que existam disposições consensuais. De qualquer modo,
Quando l. --_
mesmo que existam no lugar apropriado, podem desabar sob a pressão
:
ultrapassadas ,,
de um conflito cultural agudo, como o exemplo trágico do Líbano solução que :;i
demonsta. Em tempos descrito por cientistas políticos como uma unidades pcr
-:
t--
«democracia consociativa» muidssimo
bem sucedida, o Lr'bano mergu-
lhou, em 1958, numa guerÍa civil,
que se prolongou quando a pres_
;nPaü\.e1s na são interna foi de tal modo fort.
q.r" o sistema consensual não se
) âpfendeÍ a aÉluentou.

:nanimidade
.,rinete e pelo
SISTEN,fÂS ELE]TORÁ]S
:dinado (em
: nodo, qual- Âs diferenças curturais escâpam muitas
-nte os irite- vezes ao contÍolo poÍque
sào alimentadas por políticos que
cômperjam entrc si. Os regimes
--:lIente com autoritários conseguem, por \rezes, user
o seu poder coercir.o para
-.,binete e no esmagaÍ e suprimir conflitos curturai-s
que depois irrompem, quando
::.qUIaVa que a coercão diminui, ao serem introduzida,
.;rtados com tizaçào' Tentados peros ganhos fáceis -..lido, p^r) u democra-
,<abrnete. E, proporcionados peras identida-
des- cuiturais, os políticos podem,
d.lib.radumenre, dar forma aos
::rembros dos apelos dos membros do seu gÍupo
:: ,r direito de cultural e, assim, transf_ormar
animosidades latentes em ódios
que curminam em «Jimpezas curtu-
r) Como estas, rals)).
,cia consocia- Para er''itar este resurtado, os cientistas
poJÍtrcos sugeriram que os
. três países. sistemâs eleitorais podiam ser projectados
por forma a mudar os
incentivos dos políticos, de modà
a'toÍnaÍ a conciliação mais rendrver
.:- ser criados, do que o conflito' segundo as medidas
que propõem, nenhuns can-
:rro especiais didatos poderiam ser ereitos com o
apoio d. ,- ú*.o gr.rpo culrurar;
, conciliação; teriam de obter votos de r,ários grupos
importanter. ó proUi. ma é,
Je confiança evidentemente' co,,-encer os líderãs
poJíticos, no rrucio do processo de
rbtenham a democratização, a adoptar medidas
deste trpo. l,ma vez que esteja
::ectir.os e os instaurado um sistema ereitorai mais
- os acoÍdos equitati'o, a espiral do conflito
cultural pode deixar de ser irreversível.
:cias de sepa-
r-ntos demo-

A SE,PÂRÂÇÃO
- eusentes, é
..,lquer modo,
!{rb a pressão . Quando as cli'agens culturais são demasiado profundas para serem
uitrapassadas affavés de quarquer
uma das sorucões anteriores, a ú.rica
,, do Líbano tol.u.tu: que resra pode ser a separacào
: COffiO Uma d", grr;o; .-r^lãrri, ._
urudades políticas diferentes, d..rtro
das quais tenham autonomiâ
178

suficiente para ÍnanteÍem a sua idenudade e alcancarem os seus objec-


tir.rcs cuiturais principais.
Em algumas situacôes, a solução poderia ser
um sistema federal em que as unidades estados, pror.íncias, cantões
fossem suficicntemente autónomes- para conciliar os diferentes
-grupos. um elemento crucial na socicclade nultrcultural espanto-
samenre harmoniosa criacla pelos suíços é o sei: sistema federal.
À maioria dos cantôes é culturaimente bastante homogénea; por exem-
plo, um cantão pode ser francófono e catóLic., e outro cantão de
língua alemã e protestante. E os poderes dos cantões são adequados
às suas necessidades culturais.
Ta1 como as outras soluções políucas clemocráticas para o pro-
blema do multiculturalismo, a solução da Suíca ÍequeÍ também con,
dições in'ulgares Íleste caso, pelo duas. primeiro, os cida-
dãos de subcuituras - diferentes têm de 'enos
esra, prer-irmente separados ao
iongo de linhas territoriais, para que a solucão não imponha graves
sof imentos. Em segundo lugar, embora dir.ididos para alguns fins em
unidades autónomas. os cidadãos devem ter uma identiclade nacional
e obiectir'.os e valores comuns suficientemente fortes que sustentem a
união federal. Embora as duas condicôes sejam r.álidas paÍa a suíca, i\Iais c.:
nem uma nem ouffa são frequentes. profunci.,. -
Onde existe a primeira conclicào mas não existe a segunda, as nais. Pc,,r .
diferencas cr-rlturais irão, pror-ar-eJmenre, dar origem a exigências de durar, c1.- .
completa independência. se um país der:-rocrático se transfoÍmâÍ em deste gc:r.:
dois atrar-és da separacão pacífica, a solucão pârece impecár.el quando bom ten,:
julgada puramente por padrões democráticos. por eremplo, depois cre tLloso e ;-:_.
cerca de um sécr,rlo de quase independência em união com a suécia, Dural_:.
em 1905 a Noruega obrer,-e pacificamente a independência rotal. que a der:-. :
N'{as, se a primeira co'dição exrstir apenas de modo imperfeito tem acab.-.: :
porque os grupos estão misturados, então a independência pode impor dos exiger:-.. :
diftculdades severas à minoria (ou minorias) a serem incluídas no riovo ticos bás:c .

país. Estas podem, poÍ sua r,'ez, justificâr as suas próprias reivindica-
6
Scotr .1. :: .
çôes, quer de inciependência, quer de permanência, de algum modo,
tiria à maii,:
dentro da mãe pâtria. Este problema complicou a que stão da indepen-
no Canadá _ :
dência da pror.íncia do Quebeque em rcLação ao Canadá. Embora outras senti - .a
mútos cidadãos de Jíngua francesa do Quebeque desejem a indepen- independen: r.
-
dência tota\, a pror.íncia também tem um número considerável de não pp.11-15;
ir9

francófonos cidadãos de língua inglesa, aborígenes e imigrantes


,-us ob]ec- -
que dese]am permanecer cicladãos canadianos. Embora seja teorica-
-
r(lderia seÍ
mente possível uma solucão territorial complicada que permitisse à
-1S. Cantoes
maioria dos que preferem peÍmâneceÍ no Canadá fazê-lo, é pouccr
dii-erentes
erridente que e1a r.enha a rerrelar-se politicamente possíve16.
., espanto-
À desalentadora reaLdade reveia entào que todas as solucôes para
:-ir federal.
os problemas potenciais de multiculrr-rraLismo num país democrático
:DOÍ exem-
que descrevi, e podem existir outrâs, clependem, para o seu sucesso,
cantão de
de condições especiais que pÍovalelmente serào raras. Dado que a
.-Ldequados
maioria dos países democráticos mais ântig, ,s cr-am rpenas moderada-
menie heterogéneos, foram enormemente poupados a confitos cultu-
-...ra o Pfo-
rais graves. No entanto, comecou a har-er mr-rdancas em finais do
::rbem con-
século )L\ que, quase de certez^, ilào terminar com este feliz e stado
r-,-r, os cida-
cle coisas durante o século }L\t.
-Pilredos ât)
,rha grar''es
-:ns flns em Conviccões e culturas democráticas
.,-ie nacional
sr-lstentem e
N[ais cedo ou mais tarde, todos os países enfrentam crises bastante
:r-rrA e Súça,
profundas políticas, ideológicas, económicas, militares, internacio-
-
nais. Por conseguinte, se um sistema político democrático está para
sequnda, as
durar, derre ser capaz de sobreviver aos desafios e à agitação de crises
,rqências de
deste género. À1cançar uma democracia estável não é só navegar com
:rsiormar em
bom tempo, significa também navegar, por vezes, com tempo tempes-
;-ir-el quando
tlloso e perigoso.
r-,r. depois de
Durante uma crise gra\re e prolongada, aumentam as hipóteses de
- rirt â Suécia, que a democraciz seja derrubada por líderes autoritários que pÍome-
::cra totai.
tem acabar com ela usando métodos ditatoriars duros. Os seus méto-
- r imperfeito
dos exigem, naturalmente, que as instituições e os pÍocessos democrá-
,.. pode irnPor
ticos básicos sejam postos de lado.
-,-c1as no nol'o

::..,. teivindica- 6
Scott J. Reid clescreve um processo de \rotaçào com cluas voltas clue permi-
..lqum modo, tiria à maioria, embora não à totalidade, dos indir'íc1uos do Quebeque permâflecer
,,, da indePen- no Canadá ou num Quebeque independente. E,le reconhece que a suâ «propostâ e
:-.rdá. Embora outras semelhantes possâm, ou nào possam, ser práticas» (<<Tl-re borders of an
independent Quebec: a thought experimeno>, in Caod \'ocie1,, n." 7 [nverno 199!,
-i-n a indePen-
pp.11-15).
:erár.el de não
I8r)

No decurso do século L', o colapso cla demo cÍacia


foi um acon_
tecimento frequente, como o demonstÍam Co::,
as setentâ siruações cre
fracasso democrático mencionadas no demc,c:-. :
início deste capítul0. No _
entantq a§umas democracias dominaram da cul:_-:
i,1l
os seus r-endavais e furacões, .

não apenas uma vez, mas muitas. \rárias, tas erJt-t -


*i
,\l como r_imos, uitrapassaram .

.,:11 mesmo os perigos resultantes de diferencas histórrc, ,


,li currurais gfâ\res. E argumas
emergiram com o barco democrático do tatefa c._. .,
li Estado ainda em merhores
i
condições de navegar do que antes. os drga ap.: .,
sobrer-iventes destes períodos
1
tempestuosos são precisamente os países resultac, ,
â que agora poclemos chamar
,*lf democracias mais antigas. i\Ias ,--..-
ll
Por que razào as instituiçôes democráucas dota nt.,_-

crominaram crises nuns
países e noutros não? Âs condicões
r

tese s, p,-
far-orár-eis que já descrer.i, preci_ ': -
samos de acrescentar mais uma. As perspectir-as hipóres.s '.,
de uma democracia
] estável num país são merhoradas se
os seus cidadàos e os rícreres
apoiarem fortemente as ideias, os rraiores
e as práticas democráticas.
o apoio mais fiável surge quando esras conr-iccôes e disposições
estão
firmemente imprantadas na curtura do
país e são transmitidas, em
grande parte, de geracão em geracão. por
outras palar,-ras, o país possui
uma culrura polítrca democrática. Histo: . ,..-
uma culrura porítica democráuc a aiudarâ a formar de uma cL '- :.:
cidadãos que
acreditem que: a democracia e a rgualdade üvremeni. _._
política são objectivos
deseiár'eis; o controio sobre as tbr.o, concfeto-i. --::_:
ur-udas e a porícia deveria estar
.i completamente nâs mãos de rideres eleitos; ucas é uÍl-.,:::
as instituições democráti_
il:
cas básicas descritas no capírulo 7 deveriam economia ,., :
,il ser manddas; e as dife_
Li
fencas e os desentendimentos políucos isto é, Lint.: r-
entre os cicladãos deveriam ser
tolerados e geridos. estatal. \r,, .:
Não pretendo sugerir que rodo e cad,aindivíduo, capitalismc, .. :
num país demo-
crádco, tem de seÍ um perfeito cidadão üsta de ürúrJ.,
democrático. FeriÀente que _
assim não é' caso contráriq d,e certezanão políticos â C*:.
existiria democracial Mas,
se uma maioda substanciar de cidadãos economia ci: :i
não preferir a democracia e as
instituições políticas a quaiquer alternadva políttca: nàc, -.-
não democ râttca e nãrt
apoiar os líderes políucos que favorecem poüticamenr..:
as prriticas democráticas, a
democracia não sobreviverá, provavermente, mercado é. s..._.:
às ,,uas inevitáveis crises.
Na verdade, uma grande minoria de anti-democrâtas p: l
conrp_leta.
militantes e vio-
lentos seria, até, suficiente para desffuir democracia r ,:,:
a capacidade de um país para
manter as suâs instituiçôes democráticas. aTtetnaüt,a r-i.-..: .

em rejacào à r-,.,
.
1ti1

,)1 Um acon- Como passa o povo de um país a acreditar em ideias e práucas


.ituacões de democráticas? como se tornam as rdeias democráticas paÍte intrínseca
rpítulo. No da cultura do país? Quaiquer tentativa parâ responder a estas pergun-
-. e furacões, tas exigiria que mergulhás semos protunclamente nos desenvolr.imentos
.,:rapassaram históricos, alguns gerais, outÍos específicos, de um dado país, uma
E algumas tarefa que está múto paru a\ém do-s ümites deste lir.ro. Permitam que
's.
.:n melhofes diga apenas isto: ditoso o país cuja Lustória conduziu a estes feiizes
.:es períodos resuitados!
.:nos chama( Mas claro que a história nem sempÍe é generosa. Em vez disso,
dota muitos países de uma culrura po1íuca que, na melhor das hipo-
t-- cÍises nuns teses, pouco apoia as instituicões e ideias clemocráticas e, na pior das
::Cfe\d, preci- hipóteses, favorece fortemente o go\ erno ar,rtoritário.
... democracia
t os Líderes
:e mocráticas. Crescimento económico
' ,siÇões estão com uma economia de mercado
-.rritidas, em
. , país possui Historicamente, o desenvoh.imento cle conr.iccões democráticas e
de uma cultura democrática foi associado de perto com o qr-re poderia
crcladãos que lir.temente designar-se por uma economia de mercado. Em termos
..,r objectivos concÍetos, uma condição altamente far-orár.el às instituições democrá-
-, der-eda estar ticas é uma economia de mercado em que as empresas na ârea da
-s clemocráti- economia são principalmente propriedade privada, e não do Estado,
-r:s: e as dife- isto é, umâ economia capitalista em vez de socialista ou de pendor
. cler-eriam ser estatal. No entanto, a associação próxima entre a democracia e o
capitaLismo de mercado esconcle um paradoxo: uma economia caprta-
-::-r país demo- Lista de mercado gera ine'itar.elmente desigualdades nos Íecursos
t-lizmente que políticos a que diferentes cidadãos têm acesso. Deste modo, uma
:r--lrcraciâ! Mâs) economia capitalista de mercado prejudica seriamente a igualdade
.-noctacia e as política: não é pror.ável que cidadãos economicamente desiguais sejam
crática e não politicamente iguais. Num país com uma economia capitalista de
ralr-rocráticas, â mercado é, segundo paÍece, impossír.el alcançar a igualdade poiítica
:.,-rtár-eis crises' completa. Por conseguinte, existe uma tensão permaneÍrte entre a
:-:!tantes e r''io- democracia e umâ economia capitalista de mercado. Existirá uma
r- r-rm país para aiternativa viável ao capitalismo de mercado que seja menos ofensiva
em reiacão à igualdade políuca? Voltarei a esta questão e, de um modo
182

mais geral, à relação entÍe a democracia


e o capitaüsmo de mercado
nos próxmos dois capítulos. 1r...
Entretanto, não podemos deixar de concluir de:-:
que uma economia
capitalista de mercado, a sociedade que -
ela produz e o crescimento
económico que caÍacterisdcamente engendra ICC .
constituem condições
altamente favoráveis ao desenvorvimentà
e à manutenção das institui-
sui:,.
çôes políticas democráricas. Ln- -:.
ino,-

Um resumo
Prova'elmente, outras condições seriam também
úteis _ a Íegta
do direito, a paz prclongada e ainda ourras, sem
dúvida. Mas as cinco
condições que acabei de descrer.er encontram-se,
segundo creio, entre
as cruciais.
Podemos resumir a argumentacão deste capítulo
em tÍês proposi_
ções gerais: primeiro, é quase ceÍto que um país que
É]oza de todas as
cinco condicões desenvolva e mantenha âs
suas insutuições democrá-
ticas. Segundo, é extremamente impror-ár-el
que um país que não
apÍesenta todas as cinco condições clesenr-olr.a
instituiçàes democrá_
ticas ou as mantenha, se de algum moclo
aconteceÍ desenvolvê-las.
O que acontecerá a um país em que as condições são
mistas _ em
que umas são far-orár-eis, mas outras desfavoráveis?
Adiarei a resposta,
e a terceira proposiçào geral, até analisarmos
o estranho caso da irrar.

Índia: uma dem ocracja improvávei

Já devem rer começado a interrogar-se sobre a Índia. Não rhe


faltam todas as condições favoráveis? §e assim
é, não esrá em conrra-
dição com toda a minha argumentação? Bem,
não e tanto assim.
Depois do que dissemos, paÍece altamente improvávei
que a Índia
pudesse mantef durante muito tempo as
instituiçôes democráticas.
com uma populacão próxima de um bilião de habitantes
no final do
século xx, os Indianos estão divididos
entre si por um ma-ior número
de fronteiras do que qualquer outro país no
mundo. por exemplo, a
183

de metcado língua, a casta, a classe, a religião e a região e infirutas subdivisões


dentro de cada uma delasi. Passemos a analisar.
-
-::r: economia À Índia não tem uma língua nacional. A constituição indiana
crescimento reconhece, oficialmente, quinze hnguas diferentes. ÀÍas mesmo ela
.:-r'L condições subestima a magnitucle do problema da Ungua: existem trinta e cinco
. , das institui- línguas difetentes, cada uma faladt por. pelo menos) um milhão de
indianos. Àlém cLisso, os Indianos falam cerca de r-inte e dois mil
dialectos diferentes.
Embora B0 % do povo se]a hindu r'o restante é principalmente
muculmano, embora um dos estado-s, I{erala. inclua muitos cristãos),
os utcitos umtrcadores do hindur'smo e-ti,' :e\ e1'.rllrcnte culllpl'ometi-
dos peio sistema de castas, que o 1uncluísmo pÍescreyeu aos Indianos
., \Ias as cinco desde cerca de 1500 a. C. Tal como t ljngua, tambem o sistema de
--J.rl creio, entre castas é infinitamente divisor. Pare corrlecrÍ. um elevado nírmero de
pessoas está excluíclo das quatro ca*stas l-rereditárias estabelecidas: são
::r três proPosi- os «sem cast»), os <<intocár.eis», com os qurais o contacto é contami-
zr de todas as nante. A1ém disso, cofltuclo, cada casta está rrrncle dir-idida em inúmeras
--;,les clemocrá- subcastas hereditárias, dentro de cujas tionrciras sociais, residenciais e,
-- país que não muitas vezes, profissionais os membros estào rigrdamente confinados.
. cÕes democrá- A Índia é um dos países mais pobres do mundo. Vejam-se os
iesenvolvê-1as. números: entre 1981 e 1995, cerca de metade da população r''ir-ia com
. mistas em o equivalente a menos de um dólar amerrceno por dia. Segundo este
-
: ,rrei a resposta, sistema, só quatro países eram mais pobres. E m 1993-1994, mais de
- , CilSo da Índia. um terço da população da Índia mais de tÍezentos milhôes de
pessoas
-
1,i1,j2 oficialmente na pobreza, principalmente em pequenas
-
aldeias, dedicando-se à agriculrura. Em 1996, entre setentâ e oito países
.,-e1 em vias de desem.olvimento, a Índia esta\-a colocada em quadragésimo
sétimo numa escala de pobreza humana, junto do Ruanda, que estava
India. Não lhe no quadragésimo oitavo lugar. Âlém disso, cerca de metade dos india-
;siá em contra- nos maiores de quinze anos e mais de 60 9/u das mulheres acima dos
. tanto assim. seis anos são analfabetos.
-..r-el que a Índia
7
Os dados que se seguem são principalmente do Econantist, de 2 de Âgosto de
=s democráticas. 1997, pp. 52, 90 United Nations Der.elopment Programme, Huttan DeL,e/opntenÍ
-:1tes no final do Ilepr4 Nova lorque, Oxford Universitl Press, 1997, p. 51; «Indiat Íive decades of
::r maior número progÍess and pair»>, in ÀIrp Yark Titne.;, 14 de Âgosto de 1997; e Sashi Tharoor,
, Por exemPlo, a «India's odd, enduring patchv'orlo>, in ÀIrz 7-ark Tines, 8 de Àgosto de 1997.
184

.jl Embora a Índia rivesse obtido a indepenclência em 1947 e tivesse


üi adoptado uma constituição democrática em 1950, dadas as condições
t;i
que acabei de clescrer.er ninguém podería ticar surpteendido se as prá-
il
t,i ticas políucas indianas tir.essem revelado aisumas deficiências importan-
tes de um ponto de r,.ista democrático. De facto, a Inclia sofreu rependas
]'

violações dos direitos básicos8. É considerada pelos homens de negócios


um dos dez países mais corruptos do mundoe. Pior ailda, em 1975, as
instituições democráticas da Índia foram derrubadas e substituídas pela
ditadura, quando a primeira-ministra Indira Gandhr encenou um golpe
de Estado, declarou o estado de sítio, suspendeu os direitos civis e
prendeu milhares de opositores imPortântes.
No entânto, na maior parte do temPo' a maioria dos indianos
apoiori as instituições democráticas. Num gesto qlie nào teda sido
tomado Por um povo inepto para a democracia, dois anos depois da
tomada do poder, Indira Gandhr foi derrubada do governo em elei-
ções razoavelmente iustas. Não só as éllles políticas, mas também
o
po\-o indiano no seu coniunto, estavam, -lo que parece, mais ligados
às instiruições e práticas democráticas do que ela PensaYa e não iriam
permitir que governasse usando métodos ar-rtoritários.
Embota a vida política indiana seia altamente turbulenta, e por
vezes violenta, as instiruições democráticas básicas continuam a fun-
cionar, mesmo que de forma rmperferta. Esta obserr.ação parece con-
fundir todas as expectativas ruzoâyeis. Como o podemos explicar?
Qualquer Íesposta ao enipylra indiano tem de sef expefiffIental. No
entanto, por mais surpreendente que pareç , certos aspectos da Índia
ajudam a e\pücaf como consegue ela manter as suas rnstituições
democráticas.

CÍTlefltO icl
Depois da sua derrota eleitoral de 1977, Indira Gandhi foi eleita novamente
8

IOSOS
primeira-ministÍâ em 1980. Em 1984, deu ordem às tropas indianâs parâ atacarem Per.l _

o rrais sagtado santuário muçulmano na Índia que estâ\ra ocupado por membros ritaia. Pr-,:. -
da seita religiosa siki.r. Pouco depois, foi assassir-rada por dois dos seus guarda- revela r-á:.., ,
-costâs sikhs. Os hindus ficaram furiosos e mâtâIam mi-Lhares de sikhs. Em 1987, Em p: :-.,
o seu fiIho Rajiv Gandhi, que se tinl-ra tornado prin-reiro-ministro, acabou com um tural tào ,;.
movimenro para a independência de uma minoria regional, os tamiles. Em 1991,
go\refnar ,, _:
foi assassinado por urn tamil.
e
2 de Âgosto de 1,997, p. 52. a lndra c::.
Econotaist,
t 8.;

Para começar, algumas das condições favoráveis que descrer.'i exis-


ir i9+7 e tivesse
tem, de facto, na Índia. Saindo de um passado como colonia britâruca,
- .,: '.1s condições
.:--,-c1o se as Prá-
os militares indianos desenr.oh-eÍâm e mantiveram um código de
imPotan- obediencia a hderes civis cleitos. \ssim. a Índir Íicou lir-re da mrior
. ::-,ClâS
,. : -tieu repetidas ameaça paÍe os go\rernos democláticos na maioria dos países em r-ias
de desenvoh'imento. Em contraste com a Àmérica Laúna, por exem-
:'::-Ls de negocios
p1o, as tradições mihtares indianas dão pouco apoio a um golpe militar
-:- '.r. em 1.975,
as

. .-.bsdtuídas Peia
ou a uma ditadura militar. A polícia, emborâ amplamente corruPta,
não é uma força política independente cL1p"z de um go1pe.
:-. 1-:lDL1 um golPe

. N{ais ainda, os fundadores da ÍncLr mocleÍnâ) que a conduziram à


iireitos cir-is e
independência e ajudaram a mocleler â sua consuruiçào e as suas
dos indianos instituições políticas, aderiram todos à,. conuccões democtáticas. Os
: ...
movimentos políticos que dirigiam de fendram energicamente as ideias
,. r nào teria sido
,: e as instituições democráticas. À democracia, poder-se-ta üzer, é a
-'.noS dePois da
ideologia nacional da Índia. Não existe outra. Por mais fraco que seia
. ,-r'errrO em elei-
.:, :llâS também o o sentido de nação da Índia, ele está tào intimamente ligado às ideras
e convicções democráticas que poucos indianos defendem uma alter-
-ce. mais ligados
'
narir a nào democrárica.
::1:.1\-â e nãO iriam
A1ém disso, embora a Índia seja cr-rlturalmente diferente, é o único
1_:,
país do mundo onde as conr-icções e as práticas hinduístas são ampla-
:-r:bulenta, e Por
mente partilhadas. De resto, oito em cada dez indianos são hindus.
, ,- ,nrinuam a fun-
Nlesmo que o sistema de casta seja divisor e os nacionalistas hindus
:- ,:cio pafece con-
sejam um perigo peÍmanente para minoria muçulmana, o hinduísmo
: itmos exPlicar? ^
: ::'petimental. No fornece uma espécie de identidade comum pÀt: a maioria dos
indianos.
: .::)ectos da Índia
. ) ri;1s instituições
No entanto, mesmo que estas condições dêem apoio às instituições
democráticas, a pobreza cofrente da Índia, combinada com as suas
divisões multiculturais agudas, pareceriam campos férteis Para o cres-
cimento feroz de movimentos antidemocráticos suficientemente pode-
: .r eleita flo\râmeflte
rosos para derrubarem a democracia e instalarem uma ditadura auto-
:-,J;rnas paft atac ferÍl
-,::r:ldo Por membros
rltaflà. Porque é que isso não aconteceu? Uma obsenaÇão mais atenta
--. -. dos seus guarda- revela r,árias surpresâs.
::: ,je srkhs. Em 1987, Em primeiro lugar, cada indiano é membro de uma minoria cul-
-::-ra. acabou com um tural tão pequena que os seus membros não poderiam, sozinhos,
. tamiles. Em 1991,
governâr a Inüa. O simples número de fragmentos culturais em que
alndia está dividida significa que cada um é demasiado pequeno, não
186

só parâ obter uma maioria, mas também paÍa go\rernar esse vasto e P
-u.ariado subcontinente. Nenhuma minoria incLiana poderia goYernar
sem empregar a coerção esmagadora atrar-és das forÇas armaclas e (, '.
po)iciais. N'Ías as forças armadas e a poLícia, como obsen ámos, não sec,t-

r?l
estão disponírreis para esse flm. ll-io.. , :
.11;l Em segundo lugar, e com poucas ercepcôes. rts membros de uma trir:r r :
:l
minoria cultural não vir.em numa única área. mas tendem, em vez
ii
ll disso, a estar espalhados por diferentes regiões da Índia. Por conse-
,l,l
i; guinte, a maior parte das minorias não pode espeÍaÍ ganhar de modo ai
,li,

il
a format um país fora das fronteiras da Ínc1ia. Qr-rer gostem, quer nào,
,,ill
li a maioria dos cidadãos está condenada a permânecel com a cidadania
,ii

ii indiana. \risto que a desunião é impossír-el. a única alternativa é a


,i
ir união dentro da ÍndialL'.
il
I
rl
Finalmente, paÍa a maioria dos indianos nào eriste, pura e simples-
li mente, uma alternativa realista à democracia. \eniruma das minorias
:l'iii
indianas, por si só, pode derrubat as insutuiÇôes democráticas e esta-
::i

il belecer um regime autoritário, contar com o apoio militar e policial


1

trl
de que necessitaria Pefa sllstentaf L11]l so\ crlfí] rutoritário. esperar
:I
l
formar um país separaclo oll pÍopor r;ma alternaula ideológica e
i)i institucional à democracie que seja atracnte. À erperiência mostra que
qualquer coligação bastante aiargada de diferentes minorias estarâ
riil
.ri]

demasiado dividida pera sustentar uma tomada de pocler e, ainda


rt)
;1;;

menos, um autoritário. À democracta, segundo parece, é a


-qo\-erno
única opção possír-el paÍa a maioria dos indianos.
A }ustotia cla democracia na Ínc1ia é mais complexa do que toda
a história a que qualqr-rer país está suieito. N'Ias, no Íim, a Índia
confirma a terceira proposição que atrás apresentei. Num país em que
faltauma ou várias, mas não todas, as cinco condições que far.orecem
a democracia, a democracia é hipotética, talvez improvável, mas não
neces sariamente impossírrel.

10
lsto não é r-erdade se os n-rernbros de uma minoria cuitural diferente \lverem
juntos numa região cla fronteira indiana. Eistem r,árias destas minorias, sendo a
mais importante a dos Caxemires, cujas tentativas paÍâ obtet a independência
foram frustracias pelo governo inciiaoo atrar,és do emprego das forças armadas
contta e1es.
1gr

:SE \:ASIO E Porque se espâlhou pelo mundo a democracia


.:- qoYernar
.irmâdas e Comecei este capítulo referindo quafltas vezes, no decurso do
..tmos, não sécu1o \-\, a clemocracta se desmoronou e, no entanto, como se espa-
thor-r amplameflte no fim deste sécu1o. Podemos explicar agoÍa esse
:,ls de uma triunfo: as condiçôes far-orár,eis que descrer-i tornaram-se muito mais
:tl, em vez amplamente dispersas entre os países do mundo.
Por conse-
.,t- cle modo ' O pertgo da intervençào de uma potência e\teÍna hostil à de-
:r. quer não, nlocratizacà.o climinuiu à n-redrda cille os imperios coloniais se
.r cidadania dissolr.eram, os povos obtir-eram a sua rndependência, os regi-
-:netiva é a mes totalitários mais importantcs se destnoronaran) e â comu-
nidade internacional apoior-r largamente a democratizacào.
.r e simPles- ' A atracÇão pela ditadura militar diminuiu à medida que se
.-,rs minorias tornou evidente não só Pare os civis, mas também para os
.-:cas e esta- proprios drdgentes mi-litares, que os go\-efnantes mi]itares não
-...r e Policial eram, habitualmente, capazes de responder âos desaftos de uma
.,iio. esPetar sociedade moderna. Eles demonstraram mesmo, tiequente-
rdeologica e mente, ser muito incompetentes. r\ssim, em muitos países, uma
-, mosüa que das ameaças mais antigas e perigosas para a democracia foi, por
:r,.rtias esta:fâ ftm, el,iminada ou gandemente reduzida.
Jer e, ainda ' iVluitos países onde a democrattzação teve lugar eram suficien-
puece, é a temente homogéneos pare serem càpazes de evitar conflitos
culturais sérios. N{urtas vezes trâtava-se de países mais pequenos,
.io que tocla e não de grandes aglomerados de culturas diversas' Em alguns
_+ países que estavam mais divididos cuiturralmente, atingiram-se
:lm, a lndle
:-, Di1ís em que disposições consensuais. Pelo menos num pars, a Ínclia, nenhuma

.,re favorecem
minoria cultural era suficientemente substancial para formar
.,i-el, mas não governo. Pelo contrário, onde os conflitos culturais eram agudos,
como em certas em zonas de Âfrica e da ex-Jugoslá'"ia, a demo-
crattzaçào foi um perfeito desastre.
' Com o r.isível fracasso dos sistemas totaLitários, das ditaduras
::;rente \lvefem militates e de outros regimes autoritários, as crenças e as ideolo-
:-Lortas, sendo a
gias antidemocráticas perderam o seu atractivo ânterior em grande
. rnclependência
:lrcas armadas parte do mundo. Nunca al-Ites, Ítâ história da humanidade, tantos
povos apoiaram as ideias e as instituiçôes democráticas'
I iJlJ

. Às instituicôes do capitaLismo de mercado espalharam-se de uns


países pâra os outros. C) capitalismo de mercado resuitou não
só em maior crescimento económico e em maior bem-estar, mas
também, fundamentalmente, alte.-ando a sociedade de um país Iflr
rji
t'
ao cúar uma classe média pyande e intluenre, simpatizante das
,l
ideias e das instituicões democráticas.
rl

Âssim, por estas e talvez por outras razões, o século x-\ tornou-se
li
i
o século do triunfo democrático. No entanto, der-eríamos observar
este triunfo com cuidado. Por um lado, em muitos «países democrá-
lx

,ir

ticos», as instituições poJíticas básicas erarn tlacas ou deficientes. Na


l figura 1, classifiquei sessenta e cinco paíse-. como democráticos. Nlas
poderíamos dividilos razoavelmente em três grupos: muito democrá-
J
ticos, 35; bastante democráticos, 7; e marginalmente democrâúcos,23
l (ver anexo C para as fontes)11. Assim, o «triuntb da democracia» foi
consideravelmente menos completo do qr-re é, por \rezes, retratado.
'ii

ll
ill ,AJém disso, é razoâvel perguntarmo-nos se os sucessos democrá-
li1

iiii
jil
ticos serão mantidos no século x\I. À resposta depende da maneira
1l
r,l
como os países democráticos respondam aos ser-rs desafios. Um deles,
iil
li como 1â dei a entender, surge directemente das consequências contra-
ü ditórias do capitalismo de mercado: nalsuns aspectos, é favorável à
ii democracia; noutÍos, no entento, é desfar-orá\,el. Veremos porquê nos
dois capítulos seguintes.
L. ,-1 .

ecofianti,i .:
que nào .', .

Emb,,,:..,
aplica-sc :.,::-
cidade s-e s:., -:

das instin^-,-'
cidadãos r- '.
da qual r-:::.
nas insüru::'
democracr., .

Neste c-,::-:
1r
C)s critérios pâÍâ estâs três categorias são descritos no Anexo C. poliárqr-ric.. . _

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