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Celso Furtado: Subdesenvolvimento e os impactos da globalização para os países da

periferia1

GUSTAVO PEREZ PEREIRA ANDRADE 2

Resumo: A partir do fim dos anos 70, sobretudo, depois do início dos anos 80 o centro da
economia global passou por profundas transformações, com implicações para a economia
de todos os países. Este processo foi denominado por muitos pesquisadores de globalização.
A partir desse contexto, temos por objetivo analisar como Furtado compreende o impacto da
globalização nas economias periféricas, mais especificamente a questão da
ingovernabilidade como resultado deste processo e suas consequências para o
subdesenvolvimento. Abordaremos como Furtado entende a ingovernabilidade como um
dos elementos que levam ao enfraquecimento do Estado frente à globalização. Especial
atenção será dispensada a discussão de como este analisa os impactos da globalização nos
países periféricos.
Palavras-chave: Furtado. Centro-Periferia. Ingovernabilidade.

Abstract: Since the end of the 1970s, especially since the beginning of the 1980s, the center
of the global economy has undergone profound transformations, with implications for the
economies of all countries. This process has been called by many globalization researchers.
From this context, we aim to analyze how Furtado understands the impact of globalization
on peripheral economies, incovernability as a result of this process and its consequences for
underdevelopment. We will briefly address how Furtado understands incovernability as one
of the elements that leads to the weakening of the State in the face of globalization. Special
attention will be given to the discussion of how Furtado analyzes the impacts of globalization
in peripheral countries.
Keywords: Furtado. Center-Periphery. Incovernability.

Primeiramente é importante sublinhar que para Furtado o subdesenvolvimento, não


se trata de uma etapa a qual devem passar os países da periferia, mas, sim uma conformação
estrutural, cuja a superação depende, sobretudo, do papel desempenhado pela ação estatal
no fomento do desenvolvimento. Na sua perspectiva a globalização enfraquece o Estado e
abala a governabilidade da nação, retirando a autonomia das instituições estatais que são
imprescindíveis para a condução do projeto de desenvolvimento e construção da nação. Os
estados nacionais ficam vulneráveis ao fluxo de entrada e saída de capitais, uma vez que o
Estado perde o controle dos mecanismos das variáveis macroeconômicas (juros, inflação,
crédito etc.).
Na sua visão os impactos da globalização tiveram forte desdobramento sobre o
conjunto da economia mundial. Além de salientar que a nova dinâmica da globalização irá
ter pesados impactos em economias, subdesenvolvidas, como a brasileira, onde o nível de
desigualdades regionais e sociais é grande, apresentando elevada concentrações de renda.
1
O resumo foi baseado num relatório que obteve financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo e Pesquisa
do Estado de São Paulo) e no Trabalho de Conclusão de Curso cuja a temática abordou o pensamento de Celso
Furtado analisando os impactos da globalização na construção do Brasil. In Celso Furtado: Uma Análise dos
Impactos da Globalização na Construção do Brasil Gustavo Perez Pereira Andrade. Orientador: Francisco L.
Corsi.

2
Graduado em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia e Ciências do Câmpus de Marília da
Universidade de Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - e-mail <gustavoperez8591@gmail.com>.
Furtado entende que o desdobramento deste processo da economia global sobre as
economias periféricas reforça as assimetrias anteriores tornando a inserção dos países da
periferia mais desigual em relação aos grandes centros econômicos. Se antes o desafio país
periférico consistia em superar a pobreza e criar condições de para o progresso material do
conjunto de sua população, agora os desafios se tornam maiores com os elementos novos
trazidos pela financeirização da economia global.
A globalização financeira não eliminou os fatores identificados por Furtado,
e a assimetria no relacionamento entre países, se mudou, foi certamente no
[...] agravamento. A criação de uma ordem financeira internacional, [...]
tornou os modos de inserção internacional, que caracterizam o
subdesenvolvimento, ainda mais assimétricos. Se a manifestação [...]
clássica do subdesenvolvimento era inabilidade em gerar progresso que
garantia a assimetria que condenava o país à posição de subordinação, nos
tempos de globalização financeira e assimétrica é reforçada por outros
fatores. (CARVALHO, 2007, p. 332).

A financeirização e as mudanças estruturais irradiadas do centro do capitalismo


mundial tiveram como efeito o aumento da exclusão social e o declínio da governabilidade,
o que por sua vez, debilitou, as atividades estatais, especialmente, dos países da periferia. O
que determinou o aumento da desigualdade social, tanto nos países do centro quanto da
periferia, o que se expressou através dos altos índices de desemprego, assim como pela
criação do trabalho formal de baixa remuneração.

O problema da perda de governabilidade se apresenta com maior gravidade


dos sistemas econômicos ainda em formação, como são os países
subdesenvolvidos. [...]. São mudanças estruturais que se traduzem em baixa
de crescimento em concentração geográfica de renda. Ora é sabido que essas
forças buscam agravar o desemprego nos países ricos e aprofundar a miséria
dos países pobres. E posto que se trata de um processo de globalização é
pequena a possibilidade do rumo com meios de ação de alcance nacional.
(FURTADO, 1992, p. 25).

Para ele a globalização constitui um fenômeno financeiro com projeções


significativas no sistema produtivo, no desenvolvimento tecnológico e no comercial.
“A globalização é acima de tudo fenômeno financeiro, mas com projeções
significativas no sistema de produção. ” (FURTADO, 1998, p. 75-76).
Além de enfatizar que neste início de século os grandes sistemas econômicos, como
Brasil, Índia e China, não sobreviverão às pressões geradas pelas novas mudanças
macroeconômicas, a não ser que adotem medidas para expansão do mercado interno. À
inserção internacional de um desses países por si só não pode dinamizar o sistema
econômico, num mundo onde as transnacionais detêm cada vez mais força política e
econômica, é necessário a existência de um autêntico projeto que procure desenvolver a
nação e seja firmado em bases nacionais.

Os sistemas econômicos de grandes dimensões territoriais e acentuadas


disparidades regionais e estruturais-Brasil, Índia e China aparecem em
primeiro plano- dificilmente sobreviverão se perdem a força coesiva gerada
pela expansão do Mercado Interno. Nesses casos, por mais importante
inserção internacional, esta não é suficiente para dinamizar o sistema
econômico. Num mundo dominado por empresas transnacionais, esses
temas heterogêneos somente sobrevivem e crescem por uma vontade política
apoiada em um projeto com raízes históricas. (FURTADO, 1998, p. 44).

Portanto, a globalização coloca enormes desafios econômicos e políticos para a


periferia, sobretudo para os países que não possuem a dimensão e o potencial da China, da
Índia e do Brasil, a dependência dos fluxos internacionais do capital e as várias oscilações
da economia mundial tornavam mais vulnerável os países periféricos, sobretudo da América
Latina, o que poderia colocar em risco a governabilidade. Estas questões que afligem o
conjunto da economia mundial, são mais prementes em sua periferia, atingindo mesmo
aqueles países, que por sua grande dimensão, teriam potencial de desenvolver (FURTADO,
1998).
A alternativa para o subdesenvolvimento não está no fechamento das economias
nacionais, mas em como é realizada a inserção do país periférico na economia mundial. Em
tempos de globalização financeira o acesso os meios de pagamentos internacionais contínua
sendo uma necessidade. O acesso a estes meios não deve ser por dividas, mas pela emissão
de renda (CARVALHO, 2007).
Furtado (1998) considera ainda que a assimetria entre os países como uma relação
de dominação, sua análise não se restringe a economia internacional, mas considera os
aspectos políticos desta formação estrutural. Tem que se ressaltar que a originalidade neste
enfoque não é identificar os mecanismos de subordinação dos países em detrimento do
centro do capitalismo, mas em demonstrar as relações que atrelavam a elite periférica a dos
grandes centros (CARVALHO, 2007).

[...] o aspecto mais inovador desta abordagem não esteja na identificação de


mecanismos de subordinação de países subdesenvolvidos por desenvolvidos, mas
[...] de que estas relações de denominação penetravam a própria economia
subdesenvolvida, na qual se articulam interesses domésticos com os do centro
dominante, reproduzindo-se domesticamente a dicotomia centro-periferia no
conflito. [...] (CARVALHO, 2007, p. 335).

Enfim para Furtado (1982) o processo da globalização da economia é caracterizado


pelo agigantamento do setor financeiro tendo se iniciado por volta dos anos 70 e acentuando-
se ao longo dos 80 o que resultou no enfraquecimento dos estados e na ingovernabilidade,
tendo impacto direto nas economias dos países dos periféricos e no agravamento da
desigualdade social do conjunto da população destes. Destacando que a forma como se a
inserção externa de cada país deve ser acompanhada de projetos de autônomos de
desenvolvimentos, questões que são determinantes para os atenuar ou agravar os problemas
econômicos e sociais de cada país periférico e que esta relação tem ainda o componente de
influência das classes dirigentes de cada país.

Referências

CARVALHO, F. C. de. O sistema financeiro internacional: um breve ensaio ao modo de


Celso Furtado. In: SABOIA, J.; CARVALHO, F. J. Cardim (Org.). Celso Furtado e o
século XXI. Rio de Janeiro: UFRJ, 2007. p. 327-338.

FURTADO, C. A construção interrompida. Rio de Janeiro: Paz e Terra 1992.

FURTADO, C. O capitalismo global. 7. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1998.

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