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EDIÇÃO N.176
REALIDADES SILENCIADAS: O
DESAFIO COTIDIANO DE TRABALHO
DAS MULHERES POLICIAIS EM DOIS
FATORES
O ALCANCE DA IGUALDADE DE GÊNERO DEMANDA A
DESCONSTRUÇÃO, NO PRIMEIRO MOMENTO, DO
IMAGINÁRIO POPULAR DE QUE O CAMPO DA SEGURANÇA
PÚBLICA NÃO CONSTITUI LUGAR PARA MULHERES
Doutoranda em Política Social pela UFF; Assistente Social de formação e Mestra em Saúde, Sociedade e
Ambiente pela UFVJM; Membro do GEPAF/UFVJM; Coordenadora do Projeto Mulher Livre de Violência;
Colaboradora do INBRADIM; Colunista do Jornal Diário Tribuna; Professora de Ensino Superior; Cabo da
Polícia Militar de Minas Gerais, lotada em Teófilo Otoni e Conselheira do FBSP
Dialogando sobre esses resultados, um colega direcionou a mim a seguinte questão: “por que
ainda não conseguimos enxergar as diferenças da policial feminina nas modalidades de
trabalho da instituição? Vocês [mulheres] precisam fazer alguma coisa”, disse ele.
Por esse viés, o desafio que se apresenta bastante vívido é de enfatizar nos espaços
ocupacionais, majoritariamente compostos por homens, que as mulheres precisam de
tratamento diferenciado pela condição de mulheres, sem que sejam apontadas como
profissionais de menor valor porque possuem ressalvas para o trabalho que se dispuseram a
desempenhar. Em virtude das respostas simbólicas que se tem no campo institucional
masculinizado, as mulheres se retraem, evitando expor suas demandas para que não haja
desgaste nas suas relações laborais. São situações, normalmente, não documentadas ou alvo
de estudo, que seguirão no campo da invisibilidade até que se tornem incômodas demais para
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que não se façam públicas. É o caso, por exemplo, do debate sobre o assédio sexual nas
instituições policiais e, no mesmo sentido, o debate atual pela criminalização da misoginia.
A misoginia constitui uma realidade que transversaliza a vida das mulheres, especialmente na
fase adulta. O ódio às mulheres se manifesta em posturas que seguem no esforço do
apagamento e/ou diminuição da figura feminina.
Percebo dois fatores que marcam particularidades da mulher na segurança pública. Ambos
seguem nos campos da invisibilidade ou da negação: 1) fator biológico; e 2) fator histórico-
cultural.
1. Fator biológico
2. Fator histórico-cultural
Nesse aspecto, destaco o quanto se faz relevante conhecer o contexto social, histórico e
cultural do território em que as mulheres policiais estão desempenhando suas funções. Isso
importa, porque dá pistas sobre como as pessoas do lugar se comportam diante de uma
mulher como autoridade equiparada
Desde o lugar de onde falo, no nordeste de Minas Gerais, em pleno 2023, após mais de 40 anos
da mulher na Polícia Militar, populares de pequenos municípios de predominância rural, ainda
se surpreendem com a presença de mulheres na PM. E exatamente nesses locais é que as
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pioneiras têm mais dificuldade de impor sua autoridade policial, uma vez que nunca antes
foram vistas como tal. Destaco aqui a dinâmica do machismo estrutural, que normatiza a
forma com que são estabelecidas as relações sociais, sustentando as desigualdades
históricas entre gêneros. Por habitar a base da sociedade, parece ser intrínseco a ela e não um
mecanismo socialmente construído, cristalizado. Em razão disso, posturas machistas são
adotadas tanto por homens quanto por mulheres. Nesse cenário, nas ruas, mulheres policiais
são confrontadas por cidadãos comuns, que não enxergam a legitimidade de sua autoridade.
Nesse bojo, há pontos comuns à realidade das mulheres que atuam no campo da segurança
pública. Além dos desafios associados aos fatores biológico e histórico-cultural, identificam-se
os perfis mais comuns de mulheres policiais: a) mulheres que buscam se adequar ao sistema,
reproduzindo posturas discriminatórias quanto a outras mulheres; b) mulheres que, embora
percebam a necessidade de mudanças frente à sua condição de mulher, tanto por parte do
público interno quanto do externo, deixam de se posicionar por não terem uma figura feminina
de referência ou por decidirem evitar o desgaste, uma vez que representam minoria absoluta
nos seus espaços laborais; e c) mulheres que, tendo consciência da necessidade de avanços
para as profissionais da categoria, provocam o debate.
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