Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Moçambique
Quintino J.P*. Lobo e Robyn G. Alders
Resumo
A galinha no sector familiar em Moçambique desempenha um grande papel na segurança
alimentar das pessoas mais desfavorecidas, sobre tudo mulheres e crianças.
Apesar dos cuidados estarem a cargo das crianças e as mulheres, a decisão sobre a sua
utilização varia entre o homem e a mulher dependendo da região e da família que seguem
o sistema patrilinear ou matrilinear.
Este trabalho pretende abordar duma forma resumida os diferentes sistemas de produção
da galinha no sector familiar em Moçambique.
Introdução
O melhoramento da produção de galinha no sector familiar é uma prioridade para
Moçambique nos próximos anos (MAP 1996). Antes da introdução de novas práticas de
produção, é aconselhável estudar os sistemas de produção. É só com o conhecimento das
prioridades dos criadores que intervenções apropriadas e sustentáveis podem ser
determinadas em colaboração com os mesmos (Alders et al. 1999).
Cerca de 80% da população rural possui galinhas (Mata et al. 2000), sendo esta a espécie
mais difundida.
A galinha é a espécie que, quer pelo número de criadores (89%), quer pela ordem de
prefências, ocupa o primeiro lugar num ordenamento de prioridades, preferências e de
importância de cada uma das espécies para o produtor (Harun e Massango 1996).
As espécies criadas no sector familiar são geralmente aves, porque tem capacidade de
sobreviver em condições de maneio extensivo, resistente a doença, com capacidade de
voar, facilidade de fugir dos predadores.
Materiais e Métodos
Para a realização deste trabalho foi efectuada, uma observação no terreno durante os
trabalhos de monitoria levados a cabo pelos autores deste trabalho, nos distritos de
Manjacaze-província de Gaza, Angoche-província de Nampula e Namacura e Gurué-
província da Zambézia. E foi ainda feita uma revisão bibliográfica dos trabalhos
efectuados por outros autores.
3
Resultados/Discussão
Caracteristicas do bando
Instalações
Observações feitas pelos autores nos distritos de Manjacaze indicam que a maioria dos
criadores tem capoeiras e estas são do tipo elevado na maioria dos casos, encontrando-se
alguns criadores com capoeiras no solo e outros ainda sem capoeira.
Segundo a Mata et al. (2000) em Manjacaze 46,9% das galinhas permanecem durante a
noite nas árvores, 25,8% em capoeiras no solo, 21,9% em capoeiras elevadas e 5,1%
ficam dentro de casa.
Estudos feitos no distrito de Bilene, província de Gaza, revelam que 45% das galinhas
dormem nas arvores, 48% em capoeiras sob piso, 4% em capoeira levantada e 3% outro
tipo de abrigo (Alders et al. 1999).
No distrito de Angoche, a maioria dos criadores possue capoeiras, mas são capoeiras no
solo e muitas vezes encontram-se na varanda das casas; os criadores que não possuem
capoeiras neste distrito, as suas galinhas pernoitam dentro das casas, e, ao contrário de
Manjacaze, não é comum as galinhas epoleirarem-se nas àrvores.
A Mata et al. (2000) confirmou que em Angoche 81,8% das galinhas beneficiam de um
alojamento. Este é constituído por uma capoeira no solo (56,1%), uma capoeira elevada
(13,4%) ou ficam dentro da casa (12,3%).
Observações feitas nos distritos de Namacura e Gurué constataram que a maioria dos
criadores não possue capoeiras, a razão apresentada pelos criadores desta região é de que
a ausência de capoeiras deve-se aos roubos que normalmente acontecem. Deste modo, as
galinhas dormem nas árvores o que dificulta todo o maneio, mas minimiza a transmissão
de doenças e parasitas.
4
Dos Anjos et al. (2001) citando Gêmos (2001), constatou que a introdução de abrigos
melhorados é rejeitado pelos criadores, por causa dos roubos nos distritos de Nhamatanda
e Dondo, província de Sofala.
Também, Guéye (2000) nos seus estudos em muitos países de África verificou que as
galinhas são abrigados em capoeiras, muitas vezes do tipo elevado, que proporcionam
protecção contra o mau tempo, predadores nocturnos como repteis, gatos, cães etc.
Alimentação
O maneio alimentar neste sector varia de região para região, havendo regiões onde há
suplementação, e outras regiões sem suplementação.
Nas regiões como Gurué e Angónia com alta produção de cereais as aves são
suplementadas, principalmente nas épocas de maior produção.
No sector familiar na maioria dos países africanos as galinhas procuram os seus próprios
alimentos a volta da casa, no quintal, alimentando-se de recursos disponíveis localmente
(Guéye 2000).
5
Reprodução
A postura das galinhas é feita nas capoeiras, nos locais onde os criadores tem capoeira em
que é construída um ninho. Nas regiões onde não há capoeiras as posturas e as
incubações são realizadas dentro das casas, ou no mato por volta dos quintais, nestes
casos, quando chega o momento incubação, os criadores das aves muitas vezes recolhem
as galinhas para dentro das casas, para assim as protegerem dos predadores.
Em Tete uma galinha põe em média por cada postura 11 ovos, podendo variar de 10-12.
Quase todos os ovos produzidos são destinados a incubação, registando-se níveis de
eclosão média de 8 pintos (78%). A sobrevivência média é de 5 pintos (que corresponde a
66%) (Harun e Massango 1996).
Em Angoche as galinhas tendem a começar a chocar aos 9 meses. Elas chocam uma
média de 12,8 ovos dos quais nascem 10,4 pintos que depois de dois meses sobrevivem
em média 6,9 pintos (Mata et al. 2000).
Em Manjacaze as galinhas começam a chocar aos 12,3 meses. Elas chocam uma média
de 12,3 ovos, detes nascem uma média de 10,0 pintos, dos quais sobrevivem uma média
de 6,5 depois de dois meses (Mata at al. 2000).
O número de machos no bando tem sido baixo com relação as galinhas da idade jovem.
Os machos são geralmente retirados do bando mais jovens para venda, consumo ou
propósitos culturais (Guéye 1998).
A produção anual de ovos/galinha em África está num intervalo de 20-100 ovos com um
peso de cerca de 30 a 50 g, maturidade sexual varia entre 24 a 36 semanas, a fémea adulta
pesa 0,7-2,1 kg e o macho adulto 1,2-3,2 kg (Guéye 2000).
Sanidade
A população usa métodos tradicionais no tratamento desta doença, e sabem todos que os
tratamentos usados não têm tido resultados palpáveis (Harun e Massango 1996).
6
Cerca de 55% dos camponeses no distrito de Bilene fazem tratamento tradicional quando
as galinhas adoecem e só 2% recorrem ao tratamento veterinário (Alders et al. 1999).
Muitas mortes nos pintos estão relacionadas com a doença de Newcastle, ectoparasitas,
principalmente as pulgas. Para controlar este problema, sobretudo o das pulgas usam
cinza, ou algumas plantas locais.
Outro problema apontado pelos criadores tem sido os piolhos, o que faz com que algumas
galinhas na época de postura abandonem os seus ovos.
Uma prática comum nos criadores do sector familiar, que se verifica para protecção dos
pintos nos distritos de Gurué e Namacura é que depois da incubação, o ninho é lançado
no caminho por onde passa muita gente. Este método, dizem eles, é para fortalecer os
pintos a médida que as pessoas forem pisando o lixo.
Estudos feito na maioria dos países africanos, referem que quase que não existem
cuidados sanitários, se bem que 35-79 % dos criadoares familiares praticam medicina
tradicional, que é baseada principalmente no uso de produtos naturais, especialmente
plantas disponíveis localmente (Guéye 2000).
Alders (2000) citando Dohmen e Faftine (1995) indica que geralmente nas zonas rurais a
responsabilidade na criação de galinhas é da mulher.
Em relação a este aspecto estudos feitos por Mata et al. (2000) em Manjacaze e Angoche
apontam que dois terços dos entrevistados de ambos os sexos afirmaram que a mulher
tem a responsabilidade de cuidar das galinhas. Dos Anjos et al. (2001), refere que, as
espécies mais valiosas como os bois, cabritos ou ovelhas tendem a ser responsabilidade
do homem e é este que tem maior poder sobre eventual venda.
Estudos feitos por Alders et al. (1999) em Bilene indicam que 53% das galinhas
pertencem a esposa, 43% pertencem ao marido e 4% pertencem aos filhos.
7
No caso das galinhas serem atribuidas às crianças, a posse efectiva dos animais é dos
adultos que compraram a primeira galinha. Porém, quando em idade escolar, a criança
exerce uma certa autonomia sobre as suas galinhas e eventualmente pode vendê-las para
comprar material escolar. Dependendo da pessoa que ofereceu a galinha, a criança terá
maior ou menor autoridade sobre a criação (Bagnol 2000).
Acerca da posse das galinhas a literatura indica que a mulher e em alguns casos as
crianças são os que dão os principais cuidadas as galinhas (Guéye 1998). Ainda o mesmo
autor citando (Atteh 1989) na Nigéria cerca de 87% das galinhas são cudados pelas
mulheres.
Recomendações
Conclusão
Para uma maior produção de aves através do sistema de produção da galinha utilizado no
sector familiar é necessário uma intervenção estratégica, na melhoria das condições de
maneio sem contudo alterar a ordem sócio-cultural e política nas diferentes regiões, de
modo que as inovações a serem introduzidas aos sistemas tradicionais não aumentem
significamente os custos de produção das populações e sejam modificações viáveis e
sustentáveis.
8
Agradecimentos
Os nossos agradecimentos vão para o projecto ACIAR, pelo apoio financeiro dado para a
concretização da viagem à Chimoio.
À direcção do INIVE que sempre criou condições para realização deste e outros
trabalhos.
Agradecer a todos os criadores do sector familiar que disponibilizaram o seu tempo para
uma troca de experiência.
Bibliografia
Alders, R.G. Fringe, R.; Mata, B. (1999) Os sistemas de produção de galinhas no sector
familiar no distrito de Bilene, provincia de Gaza, Moçambique; Boletim de divulgação
técnica e científica da Associação de Veterinários de Moçambique (AVETMO), Vol.3,
número 3, Maputo, pp 22-25.
Dos Anjos, F.; Fumo, A., Lobo, Q, Alders, R.G, Young, M.P.e Bagnol, B. (2001)
Galinhas, Genero e Controle de “Newcastle”, Revista “Extensão Rural-Moçambique”;
Ano 2, No 4 Abril de 2001, Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, pp 21-
25.
Guéye, E.F. (1998) Village egg and fowl meat production in Africa, World’s Poultry
Science Jornal, Vol. 54, March, pp 73-86.
Guéye, E.F. (2000) The role of family poultry in poverty alleviation, food security and
the promotion of gender equality in rural Africa. Agriculture Vol 29, No 2, 2000, pp 129-
136.