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Microbiologia Básica

e Ambiental
Material Teórico
Os vírus

Responsável pelo Conteúdo:


Profº. Dr. Jorge Henrique da Silva

Revisão Textual:
Profª. Esp. Marcia Ota
Os vírus

• Aspectos Gerais

• Classificação dos Vírus

• A Importância dos Vírus

Nesta unidade, você terá oportunidade de aprender sobre


os vírus, suas formas, tipos e como se reproduzem. Assim,
conhecerá a importância desses “agentes”.
Para que possa assimilar o máximo de conhecimento, leia
com atenção a aula, faça um resumo do conteúdo teórico
e, se necessário, pesquise outras fontes além das que estão
apontadas. Assista, também, ao vídeo sugerido.

Para que você tenha um excelente aproveitamento dos estudos, é de extrema importância
que você, além de ler, atentamente, o conteúdo proposto, consulte, ainda, os materiais
complementares. Além disso, assista ao vídeo sugerido. Não se esqueça, também, de buscar
outras fontes que possam contribuir com o seu aprendizado.
Afinal, conhecimento não ocupa espaço, não pesa! Sendo assim, ao se aprofundar no tema,
enriquecendo seus conhecimentos, você se diferenciará dos demais!

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Unidade: Os vírus

Contextualização

Os vírus são incríveis, ora podem ser classificados como seres vivos, em outro momento,
ou situação, não.
Por isso, conhecer esses “agentes” e os seus impactos (positivos ou negativos) sobre os
organismos vivos é de extrema importância.
A partir do momento que a humanidade passou a conhecer como eles se reproduzem, as
suas peculiaridades e como se relacionam com a biodiversidade, foi possível não só a prevenção
de doenças, como também sua utilização enquanto aliados, em alguns processos, para controlar:
··pragas para aumentar a quantidade de alimentos; e
··processos de saneamento ambiental.
Portanto, nesta unidade, você terá conhecerá as principais características desses “agentes”
(parasitas obrigatórios) e os diversos, papéis que eles desempenham.

Explore
Assim sendo, inicie esse aprendizado, assistindo ao vídeo:
Discovery na Escola / Tudo Sobre: Vírus
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=375OOz0mmYI

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Aspectos Gerais

Somente com o avanço da tecnologia na área da microscopia é que os pesquisadores


puderam passar a conhecer, de fato, esses “agentes”, atualmente, chamados de vírus.
Primeiramente, a cerca de anos atrás, os cientistas classificaram esses “agentes” com
sendo um tipo de fluido contagioso. Apenas depois de o pesquisador Wendell Stanley ter
tido sucesso ao isolar o vírus do mosaico do tabaco é que se tornou possível o avanço nos
estudos sobre a composição química e estrutural de um vírus.
Assim, em meados do século XX, para se referir a esses “agentes”, a maioria dos cientistas
passou a utilizar o termo vírus, que, em latim, significa toxina ou veneno.
A grande questão, envolvendo esses “agentes”, é se os mesmos podem, ou não, ser
considerados como seres vivos.
Podemos, por um lado, dizer que, sim, os vírus são seres vivos, pois a maior das características
que um organismo vivo apresenta é a de se reproduzir. Além disso, quando parasitam em uma célula
viva (vegetal, animal ou microbiana), conseguem se “reproduzir” (replicar). Desse modo, devem ser
classificados como seres vivos (parasitas intracelulares obrigatórios).
Figura 1 - Alguns tipos de vírus. Entretanto, por outro lado, como a vida, também,
pode ser definida como resultante de uma ação
RNA RNA Cabeça DNA
Capsômeros

incessante dos ácidos nucleicos, produzindo proteínas


Cápsula Cápsula
de proteína Cauda e os vírus, quando não estão parasitando uma célula
viva, são inertes, não podem (neste estado de inércia)
ser considerados, portanto, como seres vivos.
Vírus da poliomielite Vírus do tabaco Fibras
caudais
Lipídios
Bacteriófago: vírus que ataca bactérias Dependendo do aspecto considerado, os vírus
Proteínas Glicoproteína

Lipídios
Proteínas
podem ser considerados, apenas, com sendo um
Proteínas
e RNA
“aglomerado de elementos químicos” ou, seja, um
Enzimas
microrganismo muito simples. Se considerado o seu
RNA
poder de infecção, causando doenças em vegetais
Vírus da gripe HIV, vírus da Aids
ou animais, os vírus podem, também, nesses casos
patogênicos, serem considerados como seres vivos.
Fonte: UFPE (2014)

Por essas características peculiares e, ainda, por não serem constituídos de células, os
vírus (figura 1) não pertencem a nenhum reino.

Com o passar dos tempos, os cientistas consideraram que tanto a organização estrutural
simples, quanto o mecanismo de “reprodução” dos vírus são as características fundamentais que
os colocam à parte, fora de qualquer reino.

Assim sendo, resumidamente, os vírus apresentam as seguintes características:


·· a maioria é constituída por uma cápsula, ou invólucro, de proteína, onde se encontra o
material genético (o ácido nucleico);
·· apresentam apenas um tipo de ácido nucleico (DNA ou o RNA);

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Unidade: Os vírus

·· reproduzem-se dentro de células vivas, utilizando a estrutura de síntese celular;


·· conseguem induzir a síntese de mecanismos que farão a transferência do material
genético viral para outras células (hospedeiras);
·· podem sofrer mutações genéticas.

Em relação às suas dimensões, os vírus são extremamente pequenos (figura 2), o maior
tem menos que a quarta parte das dimensões de uma salmonela (tipo de bactéria) e milhares
de vírus, de menor tamanho, poderiam ser colocados dentro da parede celular vazia de um
estafilococo (outro ripo de bactéria).
Além disso, sendo extremamente pequenos (figura 2), os vírus conseguem, com enorme
facilidade, atravessar filtros, onde bactérias são retidas. Esses seres, portanto, somente podem
ser observados através da utilização do mecanismo de microscopia eletrônica.
Os vírus são tão pequenos, que a unidade de medida utilizada, ao se referir à suas dimensões,
é o nanômetro1(nm). Ressalta-se que a unidade para se medir as dimensões das bactérias,
organismos extremamente maiores, é o micrômetro2 (µm).
Figura 2 - Comparação entre vírus, uma bactéria e uma hemácia em relação ao tamanho.

225 nm
Eritrócito humano com
Bacteriófago T4 Vírus da raiva diâmetro de 10.000 nm
170 . 70 nm
Adenovírus
90 nm Bacteriófago M13
Rinovírus 800 . 10 nm
30 nm Corpúsculo elementar da Chlamydia
300 nm
Vírus do mosaico do tabaco
Bacteriófagos 250 . 18 nm
f2, MS2 Viroide
24 nm 300 . 10 nm

Prion
Poliovírus 200 . 20 nm
30 nm Vírus da vaccinia Vírus Ebola
300 . 200 . 100 nm 970 nm

E. Coli Membrana
(bactéria) plasmática
3.000 x 1.000 nm do eritrócito
10 nm de espessura

Fonte: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2002)

1 Nanômetro (nm) - Um nm é o resultado ao se dividir 1 bilhão de vezes o metro (1m), ou seja, 1m = 1.000.000.000nm. Para ficar mais claro,
1 nm é o resultado ao se dividir 1mm, a menor divisão de uma régua, por 1 milhão de vezes.
2 Micrômetro (µm) - Um µm é o resultado ao se dividir 1 milhão de vezes o metro (1m), ou seja, 1m = 1.000.000µm. Para imaginar isso, pense
em 1 mm, a menor divisão de uma régua, sendo dividido em mil de partes iguais.

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Em relação a sua estrutura, conforme já relatado, cada vírus (ou vírion3) apresenta seu material
genético (DNA ou RNA) envolto e protegido por um “envelope” ou o capsídio.
Vale lembrar que essa estrutura, o capsídio, é composta por minúsculas unidades de proteína,
chamadas de capsômeros, que darão o nome ao vírus, dependendo da sua composição química
e forma espacial.
Todos os vírus apresentam simetria em sua estrutura, podem ainda, ou não, apresentar
envoltório (o “envelope”) formado por lipoproteínas ou lipídeos. Dessa forma, apresentam-se
nas seguintes formas:
·· poliedro regular (representados pelos poliovírus e os adenovírus);
·· helicoidais (vírus do mosaico do tabaco, por exemplo);
·· envelopados, quando envolvidos por uma membrana não rígida4 (vírus da herpes,
por exemplo) (Figura 3).
Ressalta-se que alguns vírus podem se apresentar com seus capsídios não protegidos por
“envelopes”. Então, são chamados de “não envelopados” (vírus poliédrico - figura 3).
Quando “não envelopado”, a proteção do material genético é de responsabilidade do
capsídio. Além de proteger, o capsídio é responsável, também, pela ligação do vírus às células
que serão infectadas.
Ainda, há tipos de vírus que se apresentam estruturados de maneira mais complexa, como
por exemplo os do tipo bacteriófago (figura 3).
Na figura 3, é possível observar que o capsídio desse tipo de vírus apresenta-se no formato
poliédrico e a sua bainha está enrolada, ou seja, no formato de hélice (helicoidal). Apresentam,
ainda, estruturas denominadas fibras da cauda, placa e pino (estruturas importantes no processo
de “reprodução” – replicação).
Assim, por se apresentarem com uma estrutura bem mais elaborada que os outros tipos de
vírus, são chamados de “vírus complexo”.
Figura 3 - Comparação entre alguns vírus, em relação a sua estrutura física.

Capsômero Ácido nucleico


Ácido nucleico Capsômero Envelope

Capsídeo

Espículas

Vírus Poliédrico
65 nm
Capsídeo Vírus Envelopado Helicoidal
(cabeça) Ácido nucleico
DNA

Bainha
Capsômero Capsídeo
Fibra da cauda

Pino
Placa basal

Vírus Bacteriófago Vírus Helicoidal

Fonte: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2002)

3 Partícula viral potencialmente infecciosa, que apresenta seu ácido nucleico envolvido por um tipo de cobertura proteica, que propiciará
proteção à transmissão de uma célula (hospedeira) para outra.
4 Os vírus, com envelope, são muito sensíveis às soluções emulsificantes (detergentes e sais biliares), ao clorofórmio e éter, pois essas substâncias
dissolvem lipídeos.

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Unidade: Os vírus

Classificação dos Vírus

As categorias taxonômicas são necessárias não só para identificarmos/classificarmos os


animais, os vegetais e os microrganismos, como também para organizar/classificar os vírus.
Os primeiros critérios de classificação, utilizados pelos cientistas, eram apenas com base
na sintomatologia. A princípio, um sistema conveniente, mas logo que se descobriu que,
dependendo do tipo de célula ou tecido (infectado), um mesmo tipo de vírus poderia causar
mais de uma doença, esse sistema passou a não ser mais aceito.
No início da segunda metade do século XX, com a criação do Comitê Internacional de
Taxonomia Viral (o CITV), os cientistas deram maior relevância a essa questão. Entretanto,
ressalta-se que somente foi possível obter informações precisas a fim de se construir um sistema
de classificação para esses “seres” (os vírus) após o avanço das tecnologias nas diversas áreas
científicas, em especial, da microscopia eletrônica.
Com os resultados de pesquisas, que buscaram conhecer mais sobre os vírus, tendo como
base a morfologia, tipo de ácido nucleico e na estratégia de replicação, o CITV passou a agrupá-
los em famílias.
Assim, para se classificar um vírus, passaram a ser utilizadas características primárias e
secundárias. As primárias estão relacionadas com:
·· o tipo de ácido nucleico apresentado (DNA ou RNA - se o mesmo está em fita
única ou dupla e sua massa molecular);
·· estrutura física do vírus (poliédrico, helicoidal, envelopado;
·· número de capsômeros, diâmetro do nucleocapsídio); e
·· local de reprodução (se ocorre no núcleo ou no citoplasma da célula hospedeira).

Entre as características secundárias, utilizadas para a classificação de um vírus, são consideradas:


·· hospedeiro (espécie, tecidos ou célula que é infectada);
·· modo de transmissão (pelas fezes, por exemplo) e;
·· estruturas específicas de superfície (como: propriedades antígenas5 - por exemplo).

O CITV, através das diretrizes para a classificação, orienta utilizar o sufixo ales para representar
a ordem. Ressalta-se que este Comitê reconhece apenas três ordens: a Caudovirales, a
Mononegavirales e, a Nidovirales.
Os vírus que infectam bactérias (bacteriófagos) estão inseridos na ordem Caudovirales, os
que parasitam plantas e animais (invertebrados), na ordem Mononegavirales e, por fim, os que
têm os animais vertebrados como seus hospedeiros, estão inseridos na ordem Nidovirales.

5 O antígeno, nesse caso, é formado por moléculas (parte de um vírus) que, na maioria, apresentam proteínas, polissacarídeos e/ou
lipossacarídeos. Um antígeno desencadeia uma resposta imune (de defesa) na célula hospedeira.

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O Comitê (CITV), ainda, orienta para a utilização do sufixo virus para se referir aos
gêneros e, para as famílias, o sufixo viridae (por exemplo: Família Herpesviridae, Gênero
Simplexvirus - Vírus do Herpes Humano).
Para se referir a espécie do vírus, não são utilizados epítetos específicos. Assim, segundo as
orientações do CITV, as espécies de vírus devem ser apresentadas por nomes descritivos usuais
(“vulgares”), como por exemplo, o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). As subespécies
(se existirem), por sua vez, deverão ser apresentadas com um número, por exemplo: HIV-1,
Vírus do Herpes Humano Tipo 2.
Nesse aspecto, destaca-se que uma espécie de vírus compreende um grupo desses “seres”
que apresentam o mesmo genoma (informação genética) e o mesmo espectro de hospedeiros.

Replicação (“reprodução”) dos Vírus


Conforme citado anteriormente, os vírus para se replicarem (“reproduzirem”) precisam
infectar (parasitar) uma célula.
A reprodução dos vírus ocorrerá por meio do processo chamado de replicação. Nesse processo,
porções do ácido nucleico se multiplicam (replicam) no interior das células hospedeiras.

Resumidamente, o processo de replicação dos vírus se dá através das seguintes etapas:


·· adsorção;
·· penetração e desnudamento;
·· replicação bioquímica;
·· maturação e;
·· liberação.

Na primeira etapa, para se ligar (adsorção) a um receptor na membrana plasmática da célula


que será infectada (parasitada), os vírus que apresentam “envelope”, o capsídio, projetam
“pontas” (macromoléculas de glicoproteínas e de lipídeos), que serão responsáveis pela
aderência do vírus na membrana da célula a ser infectada (futura hospedeira). Nos casos de
vírus sem “envelopes”, o capsídio será o responsável por essa função.
Após se adsorverem à célula que será infectada, ocorre a etapa da penetração e desnudamento,
na qual, os vírus que possuem “envelope” fundem o seu “envelope” (lipoproteico) com a
membrana citoplasmática da célula, resultando na liberação do material genético no citoplasma
celular. Já os vírus, que não possuem “envelope”, realizam esse processo por fagocitose.
Após injetar o material genético (DNA ou RNA) no interior da célula hospedeira, inicia-se o
processo de replicação bioquímica. Para sintetizar proteínas e se replicarem, o DNA (ou RNA)
viral assumirá o metabolismo da célula hospedeira. Para tanto, fará uso da energia (ATP) e de
estruturas contidas na célula, como: enzimas, ribossomos, RNA de transferência.
Na sequência, ocorrerá o processo de maturação, onde os novos componentes como os
capsídios, que contêm o DNA (ou RNA) e as caudas (nos casos dos vírus do tipo bacteriófagos),
serão organizados, formando, assim, o “novo vírus” (ou partícula viral).

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Unidade: Os vírus

Depois de concluído o estágio de “maturação”, ocorrerá a liberação dos “novos vírus”. Esse
processo (de liberação) pode variar dependendo do tipo de vírus e/ou célula infectada. Na
maioria dos casos, a liberação dos “novos vírus” ocorrerá pelo processo de lise celular, onde a
célula, cheia de vírus, rompe-se (estoura). Há casos, que a liberação ocorrerá de forma lenda e
gradativa, onde a célula hospedeira não será destruída (figuras 4 e 5).
Figura 4 - As fases da replicação de um papovavírus6 .
Papovavírus
Os vírions são liberados O vírion se adere à célula hospedeira

DNA

Capsídeo

Núcleo O vírion penetra na


Vírions
Citoplasma célula e seu DNA é
maduros
desnudado

DNA viral
Proteínas do capsídeo
Proteínas
do capsídeo
mRNA

Tradução tardia; as
proteínas do capsídeo
são sintetizadas

O DNA viral é replicado Uma parte do DNA viral é transcrita,


e algumas proteínas produzindo mRNAs que codificarão
virais são sintetizadas as proteínas virais “precoces”
Legenda: 1 - Adsorção; 2- Penetração e desnudamento; 3, 4 e 5 - Replicação bioquímica; 6- Maturação e; 7 - Liberação.
Fonte: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2002)

Replicação (“reprodução”) dos Vírus Bacteriófagos


No início do século XX, os pesquisadores Twort e D’Herelle observaram, em seus experimentos,
que colônias bacterianas, infectadas por vírus, em algum momento, desapareciam devido ao
rompimento (lise) das células. Notaram, ainda, que esse efeito “lítico” era transmitido de uma
colônia para outra. A este “agente viral”, causador do rompimento (lise) da célula bacteriana,
foi dado o nome de bacteriófago.
Os vírus do tipo bacteriófagos7 podem se replicar por dois processos, o ciclo lítico e o ciclo
lisogênico. O primeiro termina com a lise da célula hospedeira, enquanto no segundo (ciclo
lisogênico), ao final, a célula hospedeira permanecerá viva.
Uma vez que os Vírus Bacteriófagos T são os mais estudados, será mostrada sua replicação
utilizando a bactéria Escherichia coli, como célula hospedeira (Figura 5).

6 Os papovavírus têm seu nome derivado de: papilomas (verrugas), poliomas (tumores) e vacuolização (vacúolos citoplasmáticos produzidos
por alguns desses vírus). Ressalte-se que algumas espécies (deste tipo de vírus) podem causar câncer.
7 Nome que se dá ao vírus capaz de infectar bactérias e, também, destruí-las.

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O ciclo lítico ocorre na maioria dos vírus do tipo bacteriófagos. Esse processo ocorrerá em cinco
etapas: 1- ancoragem; 2- penetração; 3- biossíntese; 4- maturação e; 5- liberação (figura 5).
Após a aderência, o material genético do vírus, inserido no citoplasma bacteriano, será
transcrito (replicado), seguido da síntese de proteínas virais. Posteriormente, ocorrerá a
maturação dos “novos vírus” (ou “partículas virais”) que serão liberados após a lise da célula
bacteriana. O rompimento (lise) da célula bacteriana só é possível pela ação de uma enzima (a
lisoenzima) sintetizada na fase tardia do processo de síntese proteica.

Figura 5 - As fases da replicação (“reprodução”) de um vírus bacteriófago.


O fago adsorve a célula Ocasionalmente, o profago pode
hospedeira e injeta seu DNA ser removido do cromossomo
DNA do fago bacteriano por outro evento de
(fita dupla) recombinação, iniciando um ciclo lítico
Cromossomo
bacteriano

Muitas divisões
celulares

Ciclo lítico Ciclo lisogênico

Lise cecular e liberação O DNA do fago circulariza A bactéria lisogênica


de novos vírions e entra em ciclo lítico Profago se produz normalmente
ou lisogênico

ou

O DNA e as proteínas dos novos Por um processo de recombinação,


fagos são sintetizados e montados, o DNA do fago se integra ao cromossomo
formando novos vírions bacteriano e se torna um profago
Legenda: Etapas do Ciclo Lítico: 1 e 2 – Adsorção, Penetração e desnudamento; 3A - Replicação bioquímica; 4A- Maturação e Liberação.
Etapas do Ciclo Lisogênico: 2 – Adsorção, Penetração e desnudamento; 3B – Recombinação Gênica; 4B- Divisão (reprodução) da
Bactéria; 5 – Nova Recombinação – possível início do ciclo lítico.
Fonte: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2002)

Os vírus bacteriófagos, que utilizam o ciclo lisogênico para a sua replicação (“reprodução”),
são chamados de lisogênicos ou temperados.
No ciclo lisogênico, a produção de componentes virais é desligada indefinidamente e o
“vírus” (fago) permanece inativo. Nesse ciclo, os processos de adsorção e de penetração
ocorrerão da mesma maneira que ocorre no ciclo lítico.
Entretanto, em vez de ocorrer na sequência a biossíntese, o material genético do vírus será
fundido (“recombinação”) ao material genético da bactéria, duplicando-se. Eventualmente,
poderá ocorrer uma indução “espontânea” do material genético do vírus, permitindo assim
que o mesmo possa se replicar (“reproduzir”) do ciclo lítico (Figura 5).

Processo de Co­Evolução (Vírus x Hospedeiro)


Os vírus, assim como seus hospedeiros, buscam, incessantemente, o equilíbrio nesta relação.
Com o passar dos tempos, esses seres (vírus e hospedeiros) têm desenvolvido mecanismos
para sobreviverem e deixarem descentes, entre estes estão estratégias de defesa (por parte dos
hospedeiros) e de ataque (por parte dos vírus).

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Unidade: Os vírus

Nesse processo evolutivo, os hospedeiros mais adaptados vão sendo selecionados, passando
para as próximas gerações o genótipo que lhes permite resistirem ao “ataque” de um determinado
vírus. Os vírus, por sua vez, também vão sendo selecionados. Assim, os mais adaptados somente
é que terão sucesso em parasitar seus hospedeiros, podendo, assim, transmitirem aos seus
descendentes essas habilidades.
A essa constante “batalha” pela sobrevivência, onde um ser exerce sobre o outro uma pressão
seletiva / evolução, chamamos de co-evolução.

A Importância dos Vírus

As Viroses
Os vírus causam infecções (doenças) em microrganismos, plantas, seres humanos e em
outros animais.
Nos humanos, os vírus podem causar diversas doenças, entre elas: Gripe (Influenzavirus),
Gripe Suína (Influenza H1N1), Resfriado (vírus da família dos Picornavirus e Coronavirus), AIDS
(HIV), Poliomielite (Enterovirus poliovirus), Dengue (Flavivirus sp.), Febre Amarela (Flavivirus
sp.), Catapora (Varicellovirus sp.), Caxumba (vírus da família dos paramyxovirus), Rubéola
(Rubella virus), Sarampo (Morbillivirus sp.), Varíola (Orthopoxvirus sp.), Raiva (Lyssavirus
sp.), Ebola (Filovirus sp.), Diarreia (Rotavirus sp., Norovirus sp., Astrovirus sp. e os vírus da
família dos Adenovirus), Hepatite (Hepatovirus), Herpes (Simplexvirus sp.) , Verruga (Vírus do
papiloma humano), SARS (Coronavirus sp.), Sarcoma de Kaposi (Rhadinovirus sp.).
A maioria dessas enfermidades (viroses) se não tratadas, os sintomas podem levar o paciente
a óbito. Atualmente, a maioria dessas viroses pode ser prevenida através do processo de
imunização (utilizando as vacinas).
As vacinas são substâncias que contêm vírus atenuados ou mortos, ou mesmo, partes deles
(príons8). Assim, essas substâncias, ao serem introduzidas no organismo do animal (que pode
ser o homem), estimularão o organismo, através do sistema imunológico, a produzir anticorpos
(estruturas de defesa) que combaterão a infecção antes que a doença se instale. Uma vez
estimulado, o organismo se tornará imune ao agente desse tipo de vírus.

Uso dos Vírus no Controle de Infecções Bacterianas (Fagoterapia)


Nos últimos anos, com a intensa seleção química de bactérias, que não podem mais ser
controladas por antibiótico, para controlar essas bactérias, o processo de fagoterapia tem
sido uma alternativa.
Nesse processo, os vírus, do tipo bacteriófago são inoculados e irão se reproduzir dentro da
bactéria alvo, destruindo-as. Esses agentes permanecerão ativos enquanto houver bactérias.
Ressalta-se que esse procedimento não apresenta efeitos colaterais indesejáveis, tendo em vista
que esses vírus são específicos, infectando apenas a bactéria-alvo.
8 Partícula (de um vírus) proteica infecciosa, não possuindo ácido nucléico. Possui propriedades incomuns, como a alta resistência à radiação ultravioleta
e ao calor, ao contrário dos vírus convencionais. No entanto, são inativados pelo hipoclorito e autoclave. Assim como os vírus, reproduz-se dentro das
células. É possível que as proteínas dos príons sejam codificadas por um gene encontrado no DNA de um hospedeiro normal.

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Por outro lado, não se sabe, ainda, o quanto o processo de fagoterapia é, de fato, efetivo nas
diversas situações em que poderia ser empregado como recurso de tratamento.
Os vírus causadores de doenças em plantas (chamados de fitovírus), para infectar uma planta
precisarão de “ajuda” de outros “agentes”. Nesse sentido, os fitovírus são transportados até uma
planta por insetos, ácaros, fungos, ou mesmo por manipulação do homem. O vento e a água,
também, podem realizar esse papel.
Após infectar uma planta, os vírus parasitarão células das diversas partes do vegetal, podendo
ocasionar quadro sistêmico de infecção. Alguns vírus podem causar apenas danos e lesões em
determinados locais (folhas, raízes, caule).
Os sintomas que a planta pode apresentar quando a infecção for considerada do tipo
sistêmica, são: amarelamento, nanismo, superbrotamento, distorção foliar.
Por outro lado, quando a infecção for considerada localizada, os sintomas podem ser lesões
necróticas. Como consequência, tanto de uma infecção sistêmica quanto de uma localizada, a
planta ficará debilitada podendo chegar até a morte.
Entre as diversas técnicas de controle de viroses de plantas, pode-se citar: a eliminação dos
vetores e de hospedeiros intermediários, o uso de variedades resistentes, destruição da planta
infectada e imunização (inoculando o vírus atenuado na planta para estimular sua imunidade).
Muitas vezes, os vírus, ao infectar uma planta, podem não produzir prejuízos. Por exemplo,
os vírus, que infectam as tulipas, são responsáveis pela coloração variada apresentada nessas
plantas. Salienta-se que as tulipas “sadias” são monocromáticas (de apenas uma cor).

Controle Biológico Utilizando Vírus


A técnica de se controlar pragas sem o uso de produtos químicos, utilizando apenas outros
organismos, é conhecida como controle biológico.
Em lavouras de soja e de milho, os vírus da família Baculoriridae têm sido muito utilizados para
controlar a população de insetos que atacam esse tipo de vegetal. Nessas lavouras, os vírus são
pulverizados sobre as plantas contaminando e matando os insetos, ainda na sua forma de lagarta.
Para se controlar biologicamente a contaminação de produtos derivados da carne por bactérias
do tipo Salmonella e Listeria monocytogenes, a aplicação de soluções contendo bacteriófagos tem
se mostrado eficaz. Destaca-se que os tipos de vírus, utilizados nessa técnica de controle, não causam
nenhum dano à saúde humana.
A utilização de vírus em processos de controle biológico apresenta algumas vantagens:
risco mínimo ao se armazenar as soluções, especificidade elevada e não contaminam os seres
humanos. Por outro lado, podem apresentar algumas desvantagens: elevado custo de produção,
ação lenta e falta de formulações adequadas.

Uso dos Vírus no Processo de Saneamento Básico


Pode-se considerar que, nas Estações de Tratamento de Efluentes (ETEs), os vírus do tipo
bacteriófagos líticos, logo após as bactérias, são os “agentes” mais importantes no processo de
tratamento dos efluentes.

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Unidade: Os vírus

Esses “agentes” são utilizados no processo de redução de bactérias potencialmente causadoras


de doenças em seres humanos. Ainda, são utilizados como indicadores da qualidade da água,
pois sua existência indicará também a existência da contaminação fecal, ou seja, a presença de
bactérias do tipo Escherichia coli.

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Material Complementar

Livros:
SANTOS, N. S. O.; ROMANOS, M. T. V.; WIGG, M. D. Introdução à virologia humana.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2008.
UJVARI, S. C. A história da humanidade contada pelos vírus. São Paulo: Contexto. 2008.

Sites:
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Seresvivos/Ciencias/biovirus.php
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/viroses/

Vídeo:
Discovery na Escola / Tudo Sobre: Vírus
https://www.youtube.com/watch?v=375OOz0mmYI

Aumente seus conhecimentos. Leia!


“Sua atitude no início de uma tarefa definirá em muito o êxito dessa tarefa...
Identifique os desafios, crie estratégias e aja como se fosse impossível falhar.”

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Unidade: Os vírus

Referências

BOSSOLAN, N. R. S. Introdução à microbiologia. São Carlos: USP (IF/SC). 2002. Disponível


em: http://iseib.edu.br/biblioteca/wp-content/uploads/2013/05/INTRODU%C3%87%C3%83O-
%C3%80-MICROBIOLOGIA.pdf. Acesso em: 11 set. 2014.

ICB/UFMG. Vírus: estrutura, classificação e importância. Departamento de Microbiologia / Instituto


de Ciências Biológicas / Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível em: http://icb.ufmg.info/
mic/diaadia/wp-content/uploads/2012/10/V%C3%ADrus-ECI.pdf. Acesso em: 11 set. 2014.

PELCZAR, J. M.; CHAN, E. C. S.; KRIEG, N. R. Microbiologia: conceitos e aplicações. v.1. (2.ed.).
São Paulo: Makron Books. 1996.

______. Microbiologia: conceitos e aplicações. v.2. (2.ed.). São Paulo: Makron Books. 1996.

TORTORA, G.J.; FUNKE, B.R.; CASE, C. L. Microbiologia. (10 ed.). Porto Alegre: Artmed, 2012.

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Anotações

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