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Telma Apparecida Donzelli possui graduação em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras (Santa Úrsula) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC); mestrado
(Diploma de Estudos Superiores) em Filosofia pela Faculté des Lettres et Sciences Humaines
da Université de Paris e doutorado em Filosofia das Ciências Humanas também por essa
universidade. Atualmente é aposentada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); tem experiência na área de Filosofia
Contemporânea, atuando, principalmente, com Filosofia, Metafísica, Razão Mítica e Ética.
A professora Telma Apparecida Donzelli agradece ao ex-aluno Luis Henrique de Souza, licenciado
em Filosofia (2010) e especialista em Filosofia e Ensino de Filosofia (2011), pelo apoio na seleção
de textos, nas traduções das obras de Spinoza, Hume, Kant e Schopenhauer e pela elaboração das
Questões Autoavaliativas desta obra.
Telma Apparecida Donzelli
Ética II
Batatais
Claretiano
2016
© Ação Educacional Claretiana, 2013 – Batatais (SP)
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma
e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o
arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação
Educacional Claretiana.
170 D742e
ISBN: 978-85-8377-480-8
CDD 170
INFORMAÇÕES GERAIS
Cursos: Graduação
Título: Ética II
Versão: fev./2016
Formato: 15x21 cm
Páginas: 254 páginas
CDD 658.151
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
Nesta obra, intitulada Ética II, teremos por objetivo o estu-
do da evolução do pensamento filosófico moderno sobre a Ética
e a moral, em seu contexto histórico e epistêmico. Iremos da Re-
nascença (séculos 15 e 16) até fins do século 19, passando pelo
pensamento do racionalismo e empirismo dos séculos 17 e 18 e
os primórdios de uma pós-modernidade no século 19.
Na Renascença (séculos 15 e 16), mais precisamente,
trabalharemos as posições e pensamentos sobre a questão
ética e a questão moral a partir das perspectivas dos seguintes
filósofos: Giovanni Pico Della Mirandola; Nicolau Machiavel;
Phillipus Theophrastus Bombastus Von Hohenheim e Michel de
Montaigne.
No século 17, veremos as concepções de moral e Ética dos
racionalistas (René Descartes e Baruch Spinoza) e dos empiristas
(Thomas Hobbes e John Locke).
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Caderno de Referência de Conteúdo
Abordagem Geral
Introdução
Neste tópico, apresentaremos uma visão geral do que será
estudado nesta obra. Aqui, você entrará em contato com os as-
suntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a
oportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada
unidade. Desse modo, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe
o conhecimento básico necessário a partir do qual você possa
construir um referencial teórico com base sólida – filosófica e
cultural.
Vamos começar nossa aventura pela apresentação das
ideias e dos princípios básicos que fundamentam esta obra.
Quando falamos em Ética, encontramos concepções as
mais variadas e diferentes. E, não poucas vezes, o ético chega
mesmo a ser identificado com o moral. O ético, porém, não é o
moral. Por que, então, essa dificuldade em distingui-los?
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Caderno de Referência de Conteúdo
Excerto do Jornal–––––––––––––––––––––––––––––––––––
Logo após o esquema montado pela polícia ser desfeito, um grupo de 50 ma-
nifestantes começou a protestar em frente ao hospital. Já sem o aparato poli-
cial, estudantes de uma escola e outros manifestantes pediam a renúncia do
Presidente. Houve apenas um princípio de tumulto quando uma enfermeira
aposentada do INAMPS surgiu e dirigindo-se aos manifestantes, disse que
era contra o protesto em frente ao hospital. Muitos não gostaram da crítica e
partiram para cima da enfermeira, começando um bate-boca.
A enfermeira tentava explicar e justificar sua atitude: "– eu só estou dizendo
que não é certo protestar em frente a um hospital", dizia ela, "onde há pessoas
doentes que nada têm a ver com a crise econômica (motivo da manifestação)
e uma mulher que está quase à morte".
Respondiam os manifestantes: "– por que a senhora não vai comprar remédios
na farmácia para saber quanto custa? Vá ao hospital do INAMPS para saber se
não há gente que morre por falta de atendimento ou de remédio".
Insistia a enfermeira: "– vocês não estão me entendendo. Só estou querendo dizer
que a crise econômica não tem nada a ver com estas pessoas que estão doentes".
Mas, o bate-boca só terminou quando alguns policiais militares conseguiram
acalmar os manifestantes.
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Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área
de conhecimento dos temas tratados em Ética II. Veja, a seguir, a
definição dos principais conceitos:
1) Ágape: "Transliteração da palavra grega comumente
traduzida em português por "AMOR". Ágape, como
uma preocupação ética reflete seu cognato hebraico,
"hesed", no sentido de que representa o valor de auto-
negação própria da benevolência, como modo como se
reflete no amor de Deus pela criação" (GRENZ; SMITH,
2005, p. 9). É distinto de Eros, que representa o amor
do desejo de união e de posse. Deve ser compreendi-
do como o amor que abre para, diferente do amor que
atrai para. É, portanto, doação, caridade.
2) Angústia ética: "Um sentimento de desespero origina-
do pela necessidade de tomar decisões éticas ou mo-
rais. A angustia ética é um atributo necessário à for-
mação do CARÁTER moral na SOCEIDADE ética. Søren
Kierkegaard afirmava que a angustia era uma das
marcas da verdadeira liberdade de escolha" (GRENZ;
SMITH, 2005, p. 11). Heidegger, que foi fortemente in-
fluenciado pelo existêncialismo de Kierkegaard, vê na
angustia uma das características essênciais do Ser-aí. É
porque o homem é finito e se angustia com a finitude
das possibilidades de ser que ele se abre para a possi-
bilidade mais fundamental de superar a inautênticida-
de e fazer uma escolha autêntica. Com isso, ele pode
cuidar de si, cuidar do outro e cuidar do mundo.
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Hobbes
1) Noção de direito: é a liberdade de fazer o que não for
impedido por obstáculos exteriores. Todos têm um di-
reto natural a tudo o que for necessário para a conser-
vação de suas vidas. O contrato consiste em transferir
esse direito ao Soberano, de acordo com o que pres-
creve a lei natural.
2) Noção de Estado: o Estado é "uma pessoa civil", um
produto do artifício humano, segundo o mecanismo
contratual. O pacto social transforma a multidão dos
homens em um corpo do Estado. O Estado represen-
ta cada um de nós; decide, age por cada um de nós e
devemos nos reconhecer como autores de tudo o que
ele faz.
3) Noção de estado de natureza: a expressão "estado de
natureza" designa a situação dos homens na ausência
do Estado, isto é, uma situação de "guerra de uns con-
tra os outros".
4) Guerra: a guerra não consiste unicamente no fato de
se bater. Basta haver disposição para o combate, reco-
nhecida durante um certo período, sem que seja pos-
sível o contrário, para se ter uma situação de guerra. É
nesse sentido que o estado de natureza pode ser cha-
mado de um estado de guerra.
5) Liberdade: é a ausência de obstáculos exteriores. No
estado de natureza, a liberdade de cada um se confun-
de com seu direito natural. As diversas liberdades se
entrechocam e se paralisam. Com o Estado, os homens
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Descartes
1) Generosidade: a verdadeira generosidade implica um
conhecimento justo de si mesmo, da própria liberda-
de, da disposição em utilizar o poder de julgar o que
é melhor. Só será possível se saber responsável de si
mesmo se o espírito se conhecer como espírito (no
cogito).
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Spinoza
1) Adequado: uma ideia adequada é uma verdadeira
ideia, porque é conforme o seu objeto, isto é, nos traz
integralmente seu objeto, de maneira que passamos a
conhecê-lo como Deus o conhece.
2) Afecção: ao nível psicológico, a "afecção" é o sentimen-
to daquilo que favorece ou prejudica a nossa potência
de ser. Ao nível do corpo, é o que aumenta ou diminui
o seu poder de agir. Quando a afecção é conhecida de
maneira inadequada, é uma paixão que nos submete
aos acontecimentos do mundo.
3) Amor: "o amor é uma alegria que acompanha a ideia
de uma causa exterior". Quando conhecido inadequa-
damente, o amor é uma paixão, pois, na paixão fica-
mos completamente submetidos a esta "causa exte-
rior". O amor nos permite igualmente compreender o
amor de Deus, reconhecendo sua presença em toda
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Locke
1) Confiança (trust): a autoridade do poder político não
se baseia nem em um direito divino, nem em um poder
natural, mas no consentimento do povo. O contrato
social, expressão desse consentimento, é, ao mesmo
tempo, um ato de confiança que os governados atri-
buem a seus governantes, após o seu consentimento
à sociedade civil.
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Hume
1) Natureza humana: enquanto "natureza", a natureza
humana obedece a leis constantes, a exemplo dos fe-
nômenos climáticos: as variações históricas e geográfi-
cas não impedem que haja uma natureza humana uni-
forme no tempo e no espaço. Pode se ver, na natureza
humana, uma parte da natureza em geral, mas é mais
pertinente, do ponto de vista filosófico, considerar a
natureza humana como o centro, uma vez que as di-
ferentes ciências resultam do jogo das inclinações hu-
manas, devendo ser a ciência dessas inclinações uma
ciência central. Essa ciência do homem como ciência
central é o projeto inicial de Hume.
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Kant
1) A priori: é o que não provem da experiência, que
dela é absolutamente independente. Opõe-se, pois,
ao "empírico" ou ao que vem da experiência (o "a
posteriori"). Enquanto a experiência só pode nos
oferecer generalidades e contingência, o a priori
caracteriza-se pela universalidade e pela necessidade.
2) Coisa-em-si: é o ente, enquanto existe independente-
mente de nosso conhecimento. Kant denomina a "coisa
-em-si" de noumeno ou númeno (do grego noúmenon),
em oposição ao "fenômeno". O númeno é o objeto do
entendimento. O fenômeno é objeto dos sentidos. O nú-
meno não pode ser dado a uma intuição sensível, porque
se encontra fora dos limites da experiência possível, por-
tanto, pode ser pensado, mas não pode ser conhecido,
isto é, determinado em sua essência. O númeno ou a coi-
sa-em-si é causa da representação ou fenômeno, não no
sentido de lhe ser exterior, mas de estar nele presente,
constituindo-o. Ao nível da sensibilidade, designa o que
há de conceitual: a existência. Do ponto de visa do enten-
dimento, a coisa-em-si é o objeto pensado. Corresponde
ao conhecimento do fenômeno que teria o entendimen-
to divino, que não podemos conhecer, mas que podemos
pensar.
3) Entendimento: faculdade dos conceitos. Kant distin-
gue os conceitos empíricos (os aspectos comuns a um
grupo de objetos) dos conceitos puros e a priori, que
definem a objetividade (os aspectos comuns a todos
os objetos), isto é, as regras de acordo com as quais
devemos associar os dados dos sentidos para construí
-los como objetos. O entendimento é uma faculdade
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Nietzsche
1) Ativo/reativo: ativo é o que se afirma sem se opor,
sem negar, sem destruir o que quer que seja; reativo,
ao contrário, é o que só se coloca opondo-se, negando
alguma coisa. A criação artística manifesta a ativida-
de enquanto aberta à multiplicidade das forças vitais,
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ÉTICA
NICOLAU MACHIAVEL
- Cisão entre a dimensão ética e
a dimensão política. TEOLÓGICOS
- O fundamento ético ou a MODELOS ÉTICOS
- Julga a ação através de metas ou finalidades
“morada interior” é abandonado Renascentistas, Modernos e Contemporâneos
externas (Consequência. Ex.: Jeremy Bentham)
RELATIVISMO/SUBJETIVISMO DEONTOLÓGICOS
- Nega que haja qualquer direito moral, teoria, - Baseia-se na premissa da existência de
padrão ao valor ético exclusivo deveres morais
Ex.: Michel de Montaigne, Nietzsche, Hume etc. Ex.: Kant, Descartes, Thomas Hobbes, Locke etc.
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Caderno de Referência de Conteúdo
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas ques-
tões autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais
podem ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas
dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com a prática do ensino de Filosofia, pode ser uma
forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a
resolução de questões pertinentes ao assunto tratado, você es-
tará se preparando para a avaliação final, que será dissertativa.
Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus
conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua práti-
ca profissional.
Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um
gabarito, que lhe permitirá conferir as suas respostas sobre as
questões autoavaliativas de múltipla escolha.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as bi-
bliografias complementares.
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Dicas (motivacionais)
O estudo desta obra convida você a olhar, de forma mais
apurada, a Educação como processo de emancipação do ser hu-
mano. É importante que você se atente às explicações teóricas,
práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunica-
ção, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois,
ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa,
permite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprenden-
do a ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Obser-
var é, portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno do curso de Licenciatura em Filosofia na
modalidade EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e
consistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a dis-
tância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação com seus
colegas. Sugerimos, pois, que organize bem o seu tempo e reali-
ze as atividades nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas po-
derão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de pro-
duções científicas.
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3. referências bibliográficas
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
BARBOUR, I. G. Issues in science and religion. New York: Harper & Row, 1971.
BAUDRILLARD, J. La transparence du mal, essais sur les phénomènes extremes. Paris:
Galilée, 1990.
BERGSON, H. As duas fontes da moral e da religião. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
FERREIRA, A. B. H. Miniaurélio: o minidicionário da língua portuguesa. 8. ed. Curitiba:
Positivo, 2010.
GRENZ, S. J.; SMITH, J. T. Dicionário de Ética: mais de 300 termos definidos de forma
clara e concisa. São Paulo: Editora Vida, 2005.
HUSSERL, E. La crise des sciences européenes et la phénoménologie transcendantale.
Paris: Gallimard, 1976.
KEMP, P. L'irremplaçable – une éthique de la technologie. Paris: Cerf, 1997.
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UNIDADE 1
A Concepção Ética do Renascimento
1. OBJETIVOs
• Conhecer e compreender as características fundamen-
tais do pensamento filosófico da Renascença, a partir
das mudanças relacionadas a uma visão do mundo e do
homem.
• Conhecer as concepções sobre o ético e o moral de al-
guns importantes e representativos pensadores da épo-
ca renascentista.
2. CONTEÚDOS
• Giovanni Pico della Mirandola.
• Nicolau Machiavel.
• Paracelso.
• Michel de Montaigne.
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4. Introdução
Iniciaremos o estudo desta unidade com um texto sobre
o Renascimento, de Marilena Chauí (2015), intitulado Filosofia
moderna:
[...] o historiador das idéias e das instituições européias, Michel
Foucault, no livro As Palavras e as Coisas (Les Mots et les Choses),
considera o Renascimento um período em que os conhecimen-
tos são regulados por um conceito fundamental: o conceito de
Semelhança, graças ao qual são pensadas as relações entre se-
res que constituem toda a realidade, motivo pelo qual ciências
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6. Machiavel (1469-1527)
Outro importante pensador do Renascimento, de interesse
no que diz respeito ao ético, particularmente na relação deste
com a política, foi, sem dúvida Nicholas Machiavel. Dele nos ocu-
paremos a seguir.
Nascido em Florença, Nicholas Machiavel é conhecido, so-
bretudo, pela sua obra controvertida O príncipe. Obra admirada
por Napoleão e criticada por Descartes, Diderot e outros. Trata-
-se de um manual dedicado aos príncipes para fortalecer e man-
ter seus poderes.
Florença, cidade onde nasceu Machiavel, fora libertada do
governo da poderosa família dos Médicis por Carlos VIII e vivia
como República ao mesmo tempo democrática e teocrática, sob
a inspiração do monge dominicano Savanarole (1452-1498).
Machiavel, nascido de uma família da pequena burguesia,
eleito secretário da segunda chancelaria, responsável pelas rela-
ções com o interior e com países estrangeiros, com missões jun-
to a soberanos italianos e estrangeiros, desenvolveu habilidades
políticas.
Encarregado de organizar a defesa da cidade, é vencido em
1512. Os espanhóis devastam a cidade e os Médicis retomam
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A imutabilidade do mundo
Em sua obra Discurso sobre a primeira década de Tito Lívio,
Machiavel apresenta o mundo como imutável, pois, se o mundo
não fosse constante, não seria possível estabelecer suas leis.
Refletindo sobre o andamento das coisas humanas, concluo
que o mundo permanece na mesma situação através dos tem-
pos; que há sempre a mesma quantidade de bem e de mal; mas
que este mal e este bem não fazem nada mais do que percorrer
diferentes lugares, diversos países.
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nossa época por causa das grandes revoluções que se tem visto
e que se veem todos os dias, e que excedem toda conjectura
por parte dos homens. Se bem que, algumas vezes eu mesmo,
pensando sobre isso, me deixei levar, em parte, por essa visão.
No entanto, nosso livre arbítrio não pode ser negado, estimo
que possa ser verdadeiro que a sorte seja a senhora de meta-
de de nossas obras, mas que também ela nos deixa governar
aproximadamente a outra metade. Comparo o destino com um
desses torrenciais que, em sua cólera, inundam as planícies ao
redor, destroem árvores e casas, roubam a terra de um lado
para levá-la para outro; todos fogem diante deles, todo mundo
cede ao seu furor, sem poder impedi-los com diques e aterros
mais elevados. Apesar disso, os homens, em tempos amenos,
não deixam de ter a liberdade de construir diques e aterros de
maneira que, se o rio subir novamente, suas águas desemboca-
rão em um canal, ou sua fúria não será tão livre e tão destrui-
dora. O mesmo acontece com a Fortuna, que mostra seu poder
onde não há construção que possa resisti-la, e que ataca onde
sabe que não há diques nem pontes para enfrentá-la (MACHIA-
VEL, 1995b, p. 177-178, tradução nossa).
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Considerações finais
Sobre a questão de uma Ética em Machiavel, diz o profes-
sor Renato Janine Ribeiro à Revista E:
A leitura dos textos de Maquiavel nos leva a perceber que ele
não defendia a tese de que os fins justificam os meios e de que
o mal deve ser praticado para conseguir um fim egoísta. Ele se
mostra preocupado com o fato de que na política não existem
regras fixas; governar, isto é, tomar a iniciativa política, é um
trabalho extremamente criativo e, por isso mesmo, sem parâ-
metros anteriores. Assim, essa preocupação do filósofo, por
curioso que pareça, torna-se um bom instrumento para repen-
sar a ética. (RIBEIRO, 2015).
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9. questões autoavaliativas
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades
em responder a essas questões, procure revisar os conteúdos es-
tudados para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para
que você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na
Educação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de
forma cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas
descobertas com os seus colegas.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Sobre a Ética na Renascença, é incorreto afirmar:
a) É uma ética naturalista.
b) É uma ética antropocêntrica.
c) É uma ética humanista.
d) É uma ética racionalista.
e) É uma ética pragmatista.
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UNIDADE 1 – A Concepção Ética do Renascimento
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) e.
2) c.
10. Considerações
Para finalizar esta unidade, não poderíamos deixar de nos re-
ferir brevemente à chamada "Ética protestante", surgida com Lutero
(1484-1546), teólogo e reformador religioso alemão, e Jean Calvin
(João Calvino, 1509-1564), teólogo e reformador religioso francês.
Expondo a denominada "Ética protestante" em sua obra Ética
protestante e o espírito do capitalismo, Max Weber (1864-1920) so-
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UNIDADE 1 – A Concepção Ética do Renascimento
11. E-REFERÊNCIAS
CALLADO, T. C. A Ética em Michel de Montaigne (Análise do úti e do honesto).
Kalagatos, Fortaleza, v. 2, n. 4, p. 169-200, 2005. Disponível em: <http://www.uece.
br/kalagatos/dmdocuments/V2N4-A-etica-em-Michel-de-montaigne.pdf>. Acesso
em: 30 mar. 2015.
CHAUÍ, M. Filosofia moderna. Disponível em: <https://chasqueweb.ufrgs.br/~slomp/
filosofia/chaui-filosofia-moderna.htm>. Acesso em: 12 ago. 2015.
FÉLIX, L. O que confere dignidade ao homem? Disponível em: <http://www.esdc.com.
br/CSF/artigo_2009_09_dignidade.htm>. Acesso em: 13 ago. 2015.
JEAN-PIERRE. Paracelso Corpo Alma. Disponível em: <http://www.sophia.bem-vindo.
net/tiki-index.php?page=Paracelso+Corpo+Alma>. Acesso em: 8 mar. 2012.
RIBEIRO, R. J. Entrevista à Revista E, n. 54. Disponível em: <http://www.renatojanine.
pro.br/entrevistas/revistaE_54.html>. Acesso em: 14 ago. 2015.
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UNIDADE 1 – A Concepção Ética do Renascimento
______. Discurso sobre a dignidade do homem. Trad. Maria de Lurdes Sirgado Ganho.
Lisboa: Edições 70, 2001.
MONTAIGNE, M. Essais. In: ROUX-LANIER, C. (Org.). Les temps des Philosophes. Paris:
Hatier, 1995.
______. Ensaios. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. (Os Pensadores).
ROUX-LANIER, C. (Org.). Le temps des philosophes. Paris: Hatier, 1995.
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UNIDADE 2
Ética Moderna: Racionalismo e
Empirismo
1. objetivos
• Conhecer as mudanças epistemológicas da Modernida-
de e relacioná-las com as propostas da moral e da Ética
do racionalismo e do empirismo modernos.
• Compreender a proposta de uma moral de provisão em
René Descartes.
• Analisar os desdobramentos, na proposta de Spinoza,
de uma Ética puramente racional-intuitiva, demonstra-
da à maneira dos geômetras.
• A moral e o estado de direito em Thomas Hobbes e John
Locke.
• O empirismo e o início de uma moral utilitarista com
John Locke.
2. conteúdos
• René Descartes.
• Baruch Spinoza.
• Thomas Hobbes.
• John Locke.
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4. introdução
Dentro do que temos nos proposto a trabalhar, no que diz
respeito à distinção entre o ético e o moral, veremos, no século
17, tema desta unidade, o estabelecimento de uma estrutura de
saber favorável ao desenvolvimento da noção de moral que se
presta ao conceito de regras e princípios gerais, em detrimento
do que entendemos por ético propriamente dito.
De fato, no século 17, passa a predominar um interesse
cada vez maior em um saber racional-teórico, fundamentado em
um universal-geral, iniciando-se, assim, de maneira sistemáti-
ca, o pensamento chamado moderno, com suas características
específicas.
Veremos, a seguir, alguns pontos básicos desse novo para-
digma de saber, o conhecimento científico ou a ciência.
Iniciemos com a nova noção de mundo. Durante a Idade
Média, a ideia de mundo era a aristotélica, ou seja, um todo or-
denado (o cosmos) limitado e hierarquizado, onde cada coisa ti-
nha o seu lugar próprio, segundo sua natureza. Porém, descober-
tas significativas surgem no século 17 que parecem negar essa
visão. Um exemplo é a lei da inércia, inicialmente formulada por
Descartes e, posteriormente, por Newton, segundo a qual um
corpo uma vez em movimento conservará para sempre esse mo-
vimento, com a mesma velocidade, se não sofrer nenhuma outra
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A primeira máxima
A vida de cada um deve ser não apenas conforme os desíg-
nios divinos, que seriam os mais justos, mas, ainda, conforme a
conduta daqueles que seguem as leis e os costumes de seu país
e que são os moderados e sensatos.
Referindo-se a essa primeira regra, diz Descartes:
A primeira era obedecer às leis e aos costumes de meu país,
retendo constantemente a religião em que Deus me concedeu
a graça de ser instruído desde a infância, e governando-me, em
tudo o mais, segundo as opiniões mais moderadas e as mais
distanciadas do excesso, que fossem comumente acolhidas em
prática pelos mais sensatos daqueles com os quais teria de vi-
ver. Pois, começando desde então a não contar para nada com
minhas próprias opiniões, porque eu as queria submeter todas
a exame, estava certo de que o melhor a fazer era seguir as dos
mais sensatos. E, embora haja talvez, entre os persas e chine-
ses, homens tão sensatos como entre nós, parecia que o mais
útil seria pautar-me por aqueles entre os quais teria de viver
(DESCARTES, 1973a, p. 49-50).
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te) foi criado e produzido. Ora, tais vantagens são tão grandes
e admiráveis que quanto mais atentamente eu as considero,
mais me convenço de que a ideia de Deus não pode se originar
unicamente de mim. E, consequentemente, se faz necessário
concluir que Deus existe: pois, embora a ideia de substância
exista em mim, uma vez que sou uma substância, não teria, en-
tretanto, a ideia de uma substância infinita, eu que sou um ser
finito, se tal ideia não tivesse sido colocada em mim por alguma
substância que não fosse verdadeiramente infinita.
E, não devo imaginar que tal concepção de infinito não seja
uma verdadeira ideia, mas somente resultado da negação do
que é finito, da mesma maneira que compreendo o repouso e
as trevas pela negação do movimento e da luz: isso porque vejo
claramente que existe mais realidade na substância infinita do
que na substância finita e, em consequência, tenho em mim a
noção de infinito e de Deus antes da noção de finito e de mim
mesmo. Pois, como seria possível que eu pudesse saber que
duvido e que desejo, isto é, que me falta algo e que não sou
perfeito, se não tivesse em mim a ideia de um ser mais perfeito
do que o meu ser, em comparação com o qual eu pudesse ter
o conhecimento dos defeitos de minha natureza? (DESCARTES
apud ROUX-LANIER; et al., 1995, p. 224, tradução nossa).
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Ações e paixões
Quando a alma busca imaginar o que não existe ou conce-
be algo puramente inteligível, estaríamos diante de "ações", ou
seja, de percepções dependentes principalmente da vontade. As
"paixões", diferentemente, se situariam no domínio da união da
alma e do corpo.
As paixões
Os eventos externos causam na alma as paixões, que são,
assim, a mediação entre as duas substâncias: corpo e alma, res-
ponsáveis pela comunicação entre elas. Paixões seriam, portan-
to, percepções, sentimentos ou emoções que vêm à alma pelos
nervos (podem também vir, segundo Descartes, do movimento
dos "espíritos animais"). As que são vinculadas a objetos exterio-
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O conceito de "virtude"
Por "virtude" entende o filósofo o hábito da alma que a
orienta para determinados pensamentos, pensamentos esses
gerados pela alma e muitas vezes fortalecidos por movimentos
dos "espíritos", o que faz com que sejam, ao mesmo tempo, "vir-
tudes" e "paixões". Trata-se da firme resolução de não nos des-
viarmos, pelo desejo, em direção ao que não depende de nós.
As almas fortes são virtuosas, têm poder sobre as paixões
com armas próprias, ou seja, com "juízos firmes e determinados
sobre o conhecimento do bem e do mal", à luz dos quais decidiu
conduzir suas ações.
A ação moral, para Descartes, não deve estar fundada ape-
nas no conhecimento possível, mas, também, no correto con-
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trole das paixões, pois são elas que, pelo "desejo", comandam a
passagem do pensamento à ação e esse comando, quando vol-
tado para o possível, dando-se à luz do livre-arbítrio, é a própria
"virtude", operando por meio da "generosidade".
Na terceira parte do Tratado sobre as Paixões da Alma,
Descartes apresenta as paixões derivadas das primitivas. Dentre
essas paixões, destaca-se a da "generosidade".
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Considerações finais
Dentro da orientação básica do presente estudo, distin-
guindo essencialmente o ético do moral, gostaríamos de en-
fatizar, nestas considerações finais, as dificuldades do filósofo
francês em abarcar a questão da consciência moral em sua tota-
lidade, mediante o método por ele proposto.
De fato, encontramos, em Descartes, os pilares da consti-
tuição do que entendemos por "moral". São estes pilares: a no-
ção de uma razão generalizante cuja meta é o individual e o geral
(as máximas), os hábitos ou costumes e a noção de "bom senso".
Inspirado, segundo alguns, sobretudo em Aristóteles, concebe a
criação do hábito, como vimos, como uma das realidades funda-
mentais no que concerne à conduta moral.
Porém, embora configurando uma moral racional, não
chega Descartes a uma moral científica. Começa por distinguir
pensamento da ação: podemos pensar de uma maneira e agir
de outra. É na ação, porém, que residiria a dimensão moral da
conduta. Em contrapartida, podemos ser virtuosos mesmo não
possuindo um conhecimento claro e distinto, pois os juízos mo-
rais podem não ser absolutamente certos, embora devam ser
os melhores possíveis. A virtude, base de toda conduta moral,
consistiria no esforço para compreender o melhor possível e, de
acordo com isso, agir o melhor possível.
Reconhece, portanto, Descartes as dificuldades em esta-
belecer uma moral definitiva fundada na verdade e na ciência.
As decisões morais, segundo ele, estão baseadas em ideias con-
fusas, uma vez que a união da alma e do corpo foge às nossas
possibilidades de conhecimento. O conhecimento da consciên-
cia moral é obscuro, embora acredite o filósofo que seja possí-
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A alma e o corpo
Continuando seu discurso dedutivo, diz Spinoza: não so-
frendo o conceito de "substância", em princípio, nenhuma limi-
tação, compreende uma infinidade de atributos, dos quais cada
um, não podendo ser limitado senão por ele mesmo, é infinito
em seu gênero. O atributo "é aquilo que, da substância, o intelec-
to percebe como constituindo a sua essência" (SPINOZA, 2008,
p. 23). O entendimento percebe, assim, a substância como ela é
na realidade (Ética, Primeira Parte, Proposição 10, Demonstra-
ção). Desses atributos, nosso entendimento, segundo Spinoza,
só pode conhecer o "pensamento" e a "extensão".
Em contrapartida, da mesma maneira que as propriedades
do triângulo decorrem geometricamente de sua essência, dos
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Considerações finais
A obra de Spinoza se destaca das demais obras do século
17 em que viveu. É considerada uma admirável sistematização
do saber, o que é característico da Modernidade.
Da obra de Spinoza, diz o professor Marcos André Gleizer:
A filosofia de Baruch Espinosa (1632-1677) é uma das mais extraor-
dinárias produções do espírito humano. Sua obra principal, a "Ética
Demonstrada à Maneira dos Geômetras", ocupa uma posição ímpar
na história da filosofia. Sua forma dedutiva constitui a exemplifica-
ção mais perfeita do ideal de sistematização do saber, característico
da modernidade. Seu conteúdo, encadeado rigorosamente ao longo
das cinco partes que a compõem, constrói um espaço teórico inova-
dor que rompe radicalmente com o universo conceitual da tradição
metafísico-moral judaico-cristã. Partindo do conhecimento de Deus
e de sua relação imanente com a natureza, a "Ética" pretende "con-
duzir-nos, como que pela mão, ao conhecimento da alma humana e
de sua beatitude suprema" (GLEIZER, 2004).
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Sugestão de leitura!
PONCZEK, R. L. Deus ou seja a natureza: Spinoza e os novos
paradigmas da física. Salvador: EDUFBA, 2009. Disponível em:
<https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ufba/207/1/Deus%20
ou%20seja%20a%20natureza.pdf>. Acesso em: 21 ago. 2015.
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Considerações finais
A questão moral em Hobbes se encontra voltada essencial-
mente para a instância do Direito e, nesse sentido, sua obra tem
particular importância na área jurídica.
Sua obra tem sido muito trabalhada nesses últimos tem-
pos, no que concerne particularmente à questão da justiça. Al-
guns exemplos dessas discussões são:
• Segundo Hobbes, seria a natureza a fonte de um Direito
e de um Estado ideal e mais justo? Em outras palavras, a
obra de Hobbes leva-nos a afirmar a existência de uma or-
dem ou sistema ético subordinado a um conjunto de leis
universais e necessárias, decorrentes diretamente da na-
tureza humana, sendo o Direito expressão dessa ordem?
Isso é o que defendem os adeptos da corrente doutriná-
ria em Filosofia do Direito chamada "jusnaturalismo".
• Hobbes considera que os homens, independentemente de
sua natureza, criam normas para reger uma determinada
sociedade, em uma determinada época, visando à valida-
de dessas mesmas normas como decorrentes, não de leis
naturais, mas do próprio processo de ordenamento des-
sas normas, o que significaria que a lei não é natural, mas
de natureza "positiva" (escrita, gravada, codificada). Nesse
caso, estaria Hobbes fundamentando outra posição em Fi-
losofia do Direito, denominada "justapositivismo".
Essa discussão persiste até os dias de hoje.
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O contrato social
O contrato social, para Locke, diferentemente da visão de
Hobbes a respeito, não implica submissão ao governo. Este é
obrigado a respeitar as leis estabelecidas, tanto quanto cada in-
divíduo. O povo tem direito de rebelião contra o abuso de poder
das autoridades e, uma vez mantidos os direitos naturais, resul-
tado de um consenso, todo governo é limitado.
Um poder arbitrário e absoluto e um governo sem leis estabele-
cidas e estáveis não seriam capazes de atender aos "fins" da so-
ciedade e do governo. De fato, os homens deixariam a liberda-
de do "estado natural" para se submeter a um governo no qual
suas vidas, suas liberdades, seu descanso, seus bens não teriam
segurança? Não nos é possível supor que tenham a intenção,
ou mesmo o direito de conceder a um homem ou a vários um
poder absoluto e arbitrário sobre si mesmos e seus bens, e de
permitir ao magistrado ou ao príncipe fazer, em relação a eles,
tudo o que quisessem, arbitrariamente e sem limites, o que se-
ria seguramente se colocar em uma situação muito pior do que
aquela do estado natural, no qual se tem a liberdade de defen-
der seu direito contra as injúrias de outro, e de se manter, no
caso de se possuir força suficiente, contra a invasão do outro ou
de um grupo. De fato, na suposição de nos entregar ao poder
absoluto e à vontade arbitrária de um legislador, estaríamos de-
sarmando a nós mesmos e armando esse legislador, de maneira
que aqueles que lhe são submissos tornam-se sua presa, e são
tratados como ele assim o desejar (LOCKE, 1992, p. 245-246,
tradução nossa).
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Considerações finais
Do ponto de vista da distinção entre o moral e o ético, en-
contramos, na obra de Locke, além das normas de conduta moral
e de cidadania, a preocupação do filósofo com o ético propria-
mente dito, na medida em que escreveu várias obras em defesa
do "princípio de tolerância" como intrínseco ao que é singular-
mente próprio à questão da "liberdade". Trata-se especificamen-
te da tolerância religiosa, pois, em sua época, eram comuns as
guerras e perseguições religiosas.
Desenvolveu sua teoria da tolerância por meio de debates
com o teólogo de Oxford Jonas Proast, que defendia a tese con-
trária. Escreveu a respeito, sob o pseudônimo de "Philanthropus",
principalmente as chamadas Segunda Carta e Terceira Carta, pu-
blicadas respectivamente em 1690 e 1692.
Sua teoria da tolerância é eminentemente ética, na medida
em que procura estabelecer o sentido de uma liberdade espiri-
tual irrestrita. Em sua busca pela compreensão dos fundamentos
da opção religiosa, Locke expressa não apenas sua posição sobre
os limites da atividade do Estado, mas ainda procede a uma in-
vestigação da estrutura epistêmica do dogma religioso.
Para Locke, a tolerância é um bem para a sociedade e para
a própria religião, porque traz a paz e a ordem, tarefas do Estado.
Segundo o filósofo, "não temos outro guia que não seja a razão e
esta não aceita submissão cega à vontade e às ordens de outrem".
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9. questões autoavaliativas
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Com relação à moral em Descartes, é incorreto afirmar:
a) Busca tranquilidade para o bem pensar, para estabelecer a melhor for-
ma de proceder diante dos fatos imediatos da vida, não se furtando à
prática, mas procurando, de maneira provisória, seguir aquilo que se
apresenta para a razão como a melhor forma de proceder.
b) É na noção de utilidade que se funda o pensamento de Descartes, pois
devemos procurar aquilo que nos torna mais felizes, mesmo que para
isso devamos desrespeitar as leis e os costumes de um povo – procu-
rando, assim, alterar a ordem do mundo, e não os nossos desejos.
c) Sempre agir de forma moderada, evitando os excessos, a fim de não se
distanciar demais da verdade por ter escolhido um dos excessos, bem
como por ser o excesso sempre prejudicial.
d) A fim de vencer os desejos por bens exteriores, procurar sempre ven-
cer a si mesmo, e não a ordem do mundo, procurando imitar nisso
aqueles filósofos que, mesmo não possuindo bens exteriores, pude-
ram disputar a felicidade aos seus deuses.
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UNIDADE 2 – Ética Moderna: Racionalismo e Empirismo
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UNIDADE 2 – Ética Moderna: Racionalismo e Empirismo
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) b.
2) c.
3) III, I e II.
4) a.
10. considerações
Nesta unidade, vimos as principais mudanças e os pensado-
res que foram decisivos para uma nova Epistemologia, que será o
novo paradigma da Modernidade. Tal Epistemologia, fundada na ra-
zão matemática e na experimentação controlada, como se buscou
mostrar ao longo do estudo desta obra, não foi capaz de contemplar
o ético em sua dimensão própria, levando-nos a um significativo de-
senvolvimento da moral. No entanto, como veremos, em alguns dos
filósofos modernos, aqui e ali, a questão da Ética toma corpo e vai
delineando um anseio para o seu tratamento adequado.
Nesse sentido, é importante que você siga nesta obra, procu-
rando reconhecer em que medida a questão do ético aparece em
meio a uma Epistemologia nova, "moderna", razão teórica e experi-
mentação controlada, e o esforço dos filósofos em face dessa nova
Epistemologia para encontrar um fundamento para a moral.
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UNIDADE 2 – Ética Moderna: Racionalismo e Empirismo
11. e-referência
FRATESCHI, Y. A. Filosofia da Natureza e Filosofia Moral em Hobbes. Cadernos de
História e Filosofia da Ciência, Campinas, v. 15, n. 1, p. 7-32, jan./jun. 2005. Disponível
em: <http://www.cle.unicamp.br/cadernos/pdf/Yara%20Frateschi.pdf>. Acesso em:
24 ago. 2015.
GLEIZER, M. A. A beatitude de Espinosa. Folha de S. Paulo. São Paulo, 30 maio 2004.
Disponível em: <http://escritonasestrelas.com/filosofar/index.php?option=content&t
ask=view&id=19&Itemid=33>. Acesso em: 22 abr. 2015.
HOBBES, T. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Trad.
João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. Disponível em: <http://www.
dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/hdh_thomas_hobbes_leviatan.pdf>. Acesso
em: 28 ago. 2015.
LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo civil. Trad. Magda Lopes e Marisa Lobo da
Costa. Disponível em: <http://www.xr.pro.br/IF/LOCKE-Segundo_Tratado_Sobre_O_
Governo.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2015.
PONCZEK, R. L. Deus ou seja a natureza: Spinoza e os novos paradigmas da física.
Salvador: EDUFBA, 2009. Disponível em: <https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/
ufba/207/1/Deus%20ou%20seja%20a%20natureza.pdf>. Acesso em: 21 ago. 2015.
© Ética II 139
UNIDADE 2 – Ética Moderna: Racionalismo e Empirismo
______. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 2 ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2008.
LOCKE, J. Traité du gouvernement civil. Paris: Garnier-Flammarion, 1992.
______. Carta acerca da tolerância; Segundo tratado sobre o governo; Ensaio acerca
do entendimento humano. 2 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. (Os pensadores).
PONCZEK, R. L. Deus ou seja a natureza: Spinoza e os novos paradigmas da física.
Salvador: EDUFBA, 2009.
ROUX-LANIER, C. (Org.). Le temps des philosophes. Paris: Hatier, 1995.
SPINOZA, B. Ética. Trad. Tomaz Tadeu. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008.
______. Éthique. Paris: GF Flammarin, 1965.
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UNIDADE 3
Ética Moderna: Hume e Kant
1. objetivos
• Compreender a proposta do empirista David Hume so-
bre a moral.
• Analisar a concepção de moral no criticismo de Immanuel
Kant.
2. conteúdos
• O método empirista de David Hume.
• O criticismo de Immanuel Kant.
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
4. Introdução
Entre os anos de 1680 e 1715, verifica-se uma crise cultural
na Europa. Tudo que constituía a base da sociedade tradicional
será passado sob o crivo da razão. É o Século das Luzes (Iluminis-
mo), movimento intelectual, social e político de todas as classes
cultas.
São características desse movimento:
1) O método da observação controlada dos fatos em bus-
ca de leis universais, modelo de investigação inspirado
na construção da Física de Newton.
2) Crítica ao racionalismo dogmático que concebe a razão
como detentora de todo conhecimento. A razão pode
tudo conhecer, desde que bem conduzida.
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
E Hume conclui:
10. É preciso encontrar, portanto, para os atos de justiça e ho-
nestidade, algum motivo distinto de nossa consideração pela
honestidade; e é nisso que está a grande dificuldade. Porque
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
Considerações finais
Finalizando, gostaríamos de assinalar que o afastamento
de uma razão abstrata e conceitual como fonte ética da ação
moral conduz Hume na direção do que entendemos como sen-
do uma das facetas essenciais do ético propriamente dito, tal
como o estamos compreendendo nesta obra, e que consiste em
contemplar o caráter intencional, singular de cada ato, compor-
tamento e situação. Contemplar o caráter intencional de uma
ação, comportamento ou situação é contemplar sua "morada
interior" e não a "morada exterior", ou o fato da ação em si: "A
realização externa não tem nenhum mérito", diz Hume.
Vimos como o filósofo descreve essa "morada interior",
fundamentando-a na "motivação". O que importa é o caráter
"emotivo" da ação, aquilo que a move e que a distingue da "mo-
rada exterior", que é a ação apenas como puro sinal.
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
Kant e a moral
As quatro principais obras de Kant em que a moral é trata-
da mais longamente são:
• Fundamentação da metafísica dos costumes (1785);
• Crítica da razão prática (1788);
• Crítica da faculdade de julgar (1790);
• A paz perpétua: um projeto filosófico (1795).
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
Kant e Hume
Para Kant, a razão não tem apenas um papel instrumental,
como para Hume. Toda moralidade funda sua autoridade apenas
na razão. Só a razão determina se uma ação é boa ou má, inde-
pendentemente de nossos desejos.
Enquanto seres sensíveis, estamos submissos ao mecanis-
mo natural, porém, como seres dotados de inteligência, somos
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
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O Dever
Este agir sem qualquer motivação, livre de interesses, subordi-
nando a vontade a uma legislação universal, eis o "dever". Diz Kant:
Pois o dever deve ser a necessidade prática-incondicionada da ac-
ção; tem de valer portanto para todos os seres racionais (os únicos
aos quais se pode aplicar sempre um imperativo), e só por isso pode
ser lei também para toda a vontade humana (KANT, 1960, p. 64).
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Kant e o Iluminismo
Em seu texto sobre o Iluminismo, respondendo, em 1784,
à pergunta de uma revista alemã de Berlim, Kant expõe seu ideal
de apelo ao exercício autônomo da razão aqui descrito.
Reflete sobre o momento social e político de sua época,
visando à elevação do homem à sua condição singular e única
de ser livre. Cada um é responsável por essa liberação da "me-
noridade". Somente cada um, com liberdade, pode dela se livrar.
Essa liberação só é possível com o esclarecimento do próprio
pensar, esclarecimento que deve ser contínuo, de maneira a po-
der ver o mundo com outros olhos, livres de conceitos e normas
estabelecidos.
A liberdade de fazer uso público do pensar esclarecido per-
mite, por sua vez, a discussão e o intercâmbio de ideias, o qual
fundamentará a realização da ação transformadora.
Ético é, pois, para Kant, conquistar deliberadamente a pró-
pria liberdade incondicionada, servindo-se de sua capacidade ra-
cional. Este seria o caráter singular e único de toda ação humana.
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Considerações finais
Vimos que Kant, ao se ocupar do fundamento da moral, é
levado a postular outra razão distinta da razão teórica ou espe-
culativa (própria do conhecimento científico), razão que chamou
de "razão prática". A moralidade não decorreria das regras de
um código de conduta, não se limitaria em agir de acordo com
normas. Para Kant, regras morais se identificam facilmente com
causas exteriores à razão. São do domínio das leis enquanto con-
venções sociais e do Direito positivo. Variam segundo as culturas
e épocas.
Não são os hábitos de conduta e de comportamento que
nos levam a optar pelo cumprimento do dever ou decisões con-
duzidas pela boa vontade. Em outras palavras, não são a trans-
missão e o respeito a um código de conduta que nos levarão a
um comportamento moral.
Propõe, assim, uma moralidade autônoma, fundada na
teoria dos imperativos categóricos essencialmente universais.
Daí o nome de "universalismo ético", dado à posição kantiana.
Uma moralidade dependente inteiramente de uma razão práti-
ca, ou seja, independente de condicionamentos externos, sejam
eles históricos, étnicos, sociais etc.
A razão prática é a razão que guia a ação. É uma forma
pura que pode ser aplicada a qualquer situação. Tem a validade
universal das leis que regem a natureza. Assumida como algo ab-
soluto, não pode ser exercida sob condições. Sua inteligibilidade
pode ser alcançada, porém não pela razão teórica.
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7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
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1) Com base no trecho de Hume a seguir, presente em sua célebre obra in-
titulada Tratado da natureza humana, redija um comentário, procuran-
do sinalizar em que medida está presente na reflexão humeana o ético,
"morada interior", e o moral, "morada exterior", na forma como estamos
tentando encontrar essa distinção na História da Filosofia.
2. É evidente que, quando elogiamos uma determinada ação,
consideramos apenas os motivos que a produziram, e tomamos
a ação como signo ou indicador de certos princípios da mente
e do caráter. A realização externa não tem nenhum mérito. Te-
mos de olhar para o interior da pessoa para encontrar a quali-
dade moral. Ora, como não podemos fazê-lo diretamente, fixa-
mos nossa atenção na ação, como signo externo. Mas a ação é
considerada apenas um signo; o objeto último de nosso elogio
e aprovação é o motivo que a produziu.
3. Do mesmo modo, sempre que exigimos que uma pessoa re-
alize uma ação, ou a censuramos por não realizá-la, estamos
supondo que alguém nessa situação deveria ser influenciado
pelo motivo próprio dessa ação, e consideramos vicioso que o
tenha desconsiderado. Se após investigarmos melhor a situa-
ção, descobrimos que o motivo virtuoso estava presente em
seu coração, embora sua operação tenha sido impedida por
alguma circunstância que nos era desconsiderada, retiramos
nossa censura e passamos a ter pela pessoa a mesma estima
que teríamos se houvesse de fato realizado a ação que dela exi-
gíamos (HUME, 2009, Livro III, Parte 2, Seção 1).
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
c) Não pode haver causalidade na vontade livre, pois, para Kant, a liber-
dade não pode ser autodeterminada por meio de leis universais. Nesse
sentido, seria absurdo propor uma causalidade para a liberdade, sen-
do esta isenta de toda a lei.
d) Todas as respostas anteriores estão corretas.
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) Nesta questão, você deve levar em consideração o signo exterior da ação
como sendo constitutivo da morada exterior e o motivo virtuoso interno
como o objeto de investigação da morada interior.
2) b.
8. CONSIDERAÇÕES
Vimos que Kant, ao se ocupar do fundamento da moral, é
levado a postular outra razão distinta da razão teórica ou espe-
culativa, própria do conhecimento científico, razão que chamou
de "razão prática".
Embora considere as leis morais semelhantes às leis cien-
tíficas, porque, como estas, são igualmente universais e im-
pessoais (não se referem a pessoas, lugares ou épocas), Kant
assinala uma diferença essencial entre esses dois tipos de leis:
enquanto o conceito científico se funda em uma universalidade
"mediata", ou seja, é construído "mediante" uma generalização
de conteúdos advindos da experiência empírica, a máxima em
que se baseia a lei moral não decorre de nenhum processo de
generalização, não contém conteúdo empírico, mas é de nature-
za imediata.
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UNIDADE 3 – Ética Moderna: Hume e Kant
9. E-REFERÊNCIAS
CONTE, J. A natureza da moral de Hume. 2004. Tese (Doutorado em Filosofia) –
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2004. Disponível em: <http://www.tede.ufsc.br/teses/USP1019-T.pdf>. Acesso
em: 31 ago. 2015.
GARCÍA MORENTE, M. Fundamentos de filosofia: lições preliminares. Trad. Guilhermo
de la Cruz Coronado. 8. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1980. Disponível em: <http://
copyfight.me/Acervo/livros/MORENTE,%20Manuel%20Garcia.%20Fundamentos%20
de%20Filosofia.pdf>. Acesso em: 26 ago. 2015.
KANT, I. Resposta à pergunta: "o que é o Iluminismo?". Tradução de Athur Mourão.
Disponível em: <http://www.lusosofia.net/textos/kant_o_iluminismo_1784.pdf>.
Acesso em: 28 ago. 2015.
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UNIDADE 4
Primórdios da Pós-Modernidade:
Schopenhauer e Nietzsche
1. objetivo
• Verificar a acentuação da preocupação ética em detri-
mento da moral no pensamento de Schopenhauer e
Nietzsche.
2. conteúdos
• A ética da compaixão em Arthur Schopenhauer.
• O problema da valoração moral em Nietzsche.
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UNIDADE 4 – Primórdios da Pós-Modernidade: Schopenhauer e Nietzsche
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UNIDADE 4 – Primórdios da Pós-Modernidade: Schopenhauer e Nietzsche
4. introdução
A modernidade preparou uma espécie de otimismo em re-
lação ao desenvolvimento da ciência e, atrelado a ele, a crença
de que a ciência seria responsável por uma constante melhoria
da situação existencial da vida humana. De Descartes a Kant, te-
mos uma valorização da razão que se pretende como a única ca-
paz de levar a cabo o projeto de uma humanidade esclarecida.
Tal projeto encarna-se como movimento histórico do chamado
"século das luzes" com o Iluminismo. No entanto, sorrateiramen-
te, a mesma modernidade vai fazendo brotar uma compreensão
pessimista com relação a esse mesmo projeto futurístico, uma
desconfiança de que os rumos traçados pela razão não levarão
ao fim desejado.
Os valores iluministas, a crença na razão, acabam levan-
do a um esgotamento de suas possibilidades. A metafísica ra-
cional chega ao seu ápice com o pensamento de Hegel, para o
qual "todo o real é racional" e, ao mesmo tempo, esgota suas
possibilidades. Schopenhauer e Nietzsche, mais do que filósofos
que integram, em suas filosofias, a questão do irracional, da von-
tade, do pessimismo etc., são os filósofos que deixam emergir
os problemas que apareciam como questões de segunda ordem
na modernidade, e vislumbram novas possibilidades de filosofar
mesmo disparando duros golpes à razão. A questão ética, "o ca-
ráter", começa a aparecer no primeiro plano das preocupações
desses filósofos, enquanto o problema moral vai perdendo es-
paço. Assim, convidamos você a acompanhar os pensamentos
desses dois grandes expoentes da Filosofia. Vamos lá?
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UNIDADE 4 – Primórdios da Pós-Modernidade: Schopenhauer e Nietzsche
Vontade e representação
Para Schopenhauer, tudo no mundo é vontade e
representação.
Vontade
Toda existência seria a manifestação de um "querer" es-
sencial. O conceito de vontade tem, no pensamento do filósofo,
uma extensão muito mais ampla do que aquela em que é comu-
mente entendido, pois a vontade é, para Schopenhauer, o que
funda toda a realidade. Conhecida de imediato, nada é mais bem
compreendido por nós do que a vontade, diz o filósofo.
Na segunda parte de sua obra O mundo como vontade e
como representação, Schopenhauer diz que a solução do enigma
do mundo deve ser buscada no homem, uma vez que é a expe-
riência interior que nos levará à essência do mundo. Na reflexão
sobre si mesmo, o sujeito surge como "querer" e não como en-
tendimento. A vontade não é como o conhecimento, comandada
pelo cérebro; é uma força original que cria e mantém o corpo
com suas funções conscientes e inconscientes.
A vontade é o que está na origem de todas as forças inor-
gânicas da natureza. "Substância" íntima e original, é idêntica
quanto à matéria em todas as mudanças e movimentos dos cor-
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UNIDADE 4 – Primórdios da Pós-Modernidade: Schopenhauer e Nietzsche
Representação
Por sua vez, o mundo existe apenas como "representação",
ou seja, na relação com um ser que percebe. A realidade (seja ela
o que for) não seria separável das formas de apreensão de um
sujeito, formas como:
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A justiça e a caridade
As virtudes da justiça e da caridade são as manifestações
do ato de negar a pulsão da vontade, pois são movimentos que
contrariam o sentido fundamental do "querer viver" que, como
vimos, é essencialmente um voltar-se para si mesmo, para o pró-
prio bem-estar.
[...] quem reconhece e aceita voluntariamente o limite moral
entre o justo e o injusto, mesmo ali onde o Estado ou outro
poder não se imponha, quem, conseqüentemente [...] jamais,
na afirmação da própria vontade, vai até a negação da vontade
que se expõe em outro indivíduo – é JUSTO. Portanto, não infli-
girá sofrimento a outrem para aumentar o próprio bem-estar,
vale dizer, não cometerá crimes, respeitará o direito e a proprie-
dade alheios. [...]
Vimos que a justiça voluntária tem sua origem mais íntima num
certo grau de visão através do principii individuationis; enquan-
to o injusto, ao contrário, permanece completamente envolto
neste princípio. Um tal olhar-através-de se dá não apenas no
grau exigido pela justiça, mas também em graus mais elevados,
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ainda jovem tem a mostrar aos anteriores, pois penso que a in-
fluência da literatura sânscrita não será menos impactante que
o renascimento da literatura grega no século XV), e se recebeu
e assimilou o espírito da milenar sabedoria indiana, então estará
preparado da melhor maneira possível para ouvir o que tenho a
dizer. Não lhe soará, como a muitos, estranho ou mesmo hostil.
Gostaria até de afirmar, caso não soe muito orgulhoso, que cada
aforismo isolado e disperso que constitui as Upanixad pode ser
deduzido como conseqüência do pensamento comunicado por
mim, embora este, inversamente, não esteja lá de modo algum
contido (SCHOPENHAUER, 2005, p. 23).
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Schopenhauer e Kant
São vários os temas e posições que Schopenhauer herda
de Kant sobre a temática da moral. Começa por elogiar Kant por
ter "purificado a ética de todo eudemonismo" (eudemonismo
ou eudaimonismo, do grego eudaimonia, significa felicidade – os
filósofos da Antiguidade concebiam a felicidade como meta e cri-
tério supremo da Ética).
Diz Schopenhauer:
O grande mérito de Kant na ética foi tê-la purificado de todo Eu-
demonismo. A ética dos antigos era eudemonista, e a dos moder-
nos, na maioria das vezes, uma doutrina da salvação. Os antigos
queriam demonstrar virtude e felicidade como idênticas; estas,
porém, eram como duas figuras que não se recobrem, não impor-
ta o modo como as coloquemos. Os modernos querem colocá-las
numa ligação, não de acordo com o princípio de identidade, mas
com o de razão suficiente, fazendo, portanto da felicidade a conse-
qüência da virtude. No que, entretanto, tiveram de recorrer, quer
a um outro mundo que não conhecido de modo possível, quer a
sofismas. Apenas Platão faz exceção entre os antigos: sua ética não
é eudemonista, por isso, contudo torna-se mística. Em contrapar-
tida, até mesmo a ética dos cínicos e dos estóicos é tão-somente
um eudemonismo de tipo especial (SCHOPENHAUER, 1995, p. 17).
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Considerações
Schopenhauer foi um dos mais influentes pensadores, so-
bretudo até a segunda metade do século 20. Porta-voz do irra-
cionalismo (corrente filosófica que sustenta que, quanto mais
supera os limites do racional, mais o homem é capaz de apreen-
der a realidade), combateu o racionalismo absoluto do idealismo
de Hegel (1770-1831), segundo o qual a contradição entre racio-
nal e irracional não é senão aparente, pois a razão se realiza no e
pelo seu contrário, o irracional.
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E, mais adiante:
E a partir desse momento surgiu um problema absurdo: "Como
pôde Deus permiti-lo?". Para o qual a perturbada lógica da pe-
quena comunidade formulou uma resposta assustadoramente
absurda: Deus deu seu filho em sacrifício para a remissão dos
pecados. De uma vez acabaram com o Evangelho! O sacrifício
pelos pecados, e em sua forma mais obnóxia e bárbara: o sa-
crifício do inocente pelo pecado dos culpados! Que paganismo
apavorante! – O próprio Jesus havia suprimido o conceito de
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O ideal do ascetismo
Em sua obra, já citada, A genealogia da moral, Nietzsche
pergunta: "Por que sofrer?". O homem não rejeita o sofrimento
em si, ele até busca o sofrimento, desde que lhe seja mostrado
a razão deste. A ausência de sentido da dor é "a maldição que
tem pesado sobre a humanidade". O "ideal ascético lhe dá um
sentido!". Graças a ele, o sofrimento é explicado, o vazio imen-
so parece preenchido. Porém, a interpretação que se dá à vida,
nesse caso, traria um novo sofrimento, "mais profundo, mais ín-
timo, mais envenenado, mais mortal", o sofrimento do castigo
por causa do "pecado".
"Por que sofrer?" – O homem, o mais valente, o mais apto ao
sofrimento de todos os animais, não rejeita o sofrimento em si:
ele o procura mesmo, desde que lhe seja mostrada a razão de
ser deste, o "porquê" deste sofrimento. A ausência de sentido
da dor e não a própria dor é a maldição que até hoje pesou so-
bre a humanidade – "ora, o ideal ascético lhe deu um sentido!".
Era até então o único sentido que lhe foi dado; não importa qual
seja o sentido, este vale mais do que nenhum sentido; o ideal
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UNIDADE 4 – Primórdios da Pós-Modernidade: Schopenhauer e Nietzsche
Considerações
O professor Jelson Oliveira, da PUC do Rio de Janeiro, em
seu artigo intitulado A grande Ética de Nietzsche, propõe que se
possa falar de uma "grande Ética" em Nietzsche. Diz ele:
Trataremos de avaliar a possibilidade de pensar o problema da
ética em Nietzsche a partir da compreensão do uso instrumen-
tal do adjetivo grosse (grande). [...] Consideraremos, a título de
exemplo, o uso feito pelo filósofo do adjetivo grosse em expres-
sões como "grande saúde", "grande política", "grande razão"
e "grande homem", pelo qual se pode descobrir "pistas" que
remetem às noções de auto-supressão, diferença, conflito e
hierarquia. Essas noções se ligam à idéia de uma grande ética,
cuja referência passa a ser o pathos e não mais simplesmente o
ethos (OLIVEIRA, 2011a, p. 1).
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7. questões autoavaliativas
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Qual seria o fundamento do agir ético para Schopenhauer?
a) A justiça.
b) A razão prática.
c) A amizade.
d) A compaixão.
e) O respeito.
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UNIDADE 4 – Primórdios da Pós-Modernidade: Schopenhauer e Nietzsche
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) d.
2) a.
3) Bom era o conceito que designava os grandes homens, as suas ações. Es-
ses homens seriam os nobres capazes de guerrear e conquistar. Homens
capazes de aumento de força e poder. Tais ações de homens nobres eram
as ações boas e justas e não careciam de justificações. Más seriam as
ações dos fracos, os que se deixam escravizar e dominar. A casta sacerdo-
tal também pertencia aos nobres, mas não tinham a força para guerrear e
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UNIDADE 4 – Primórdios da Pós-Modernidade: Schopenhauer e Nietzsche
4) a.
8. Considerações finais
Vimos, em Ética II, que, quando buscamos entender a ação
ou comportamento éticos propriamente ditos, defrontamo-nos
com um saber que tem por objeto a capacidade humana de
"transcendência", que nos leva além de nós mesmos, de nossos
hábitos, costumes e interesses pessoais, mergulhando-nos no
caráter ou na singularidade de uma situação, de um comporta-
mento, de uma ação.
Assim, dentro dessa visão aqui apresentada, podemos
dizer que o ético não depende do "moral", embora o "moral"
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9. e-referência
BARRENECHEA, M. A. Nietzsche e o discurso filosófico: uma "linguagem
pessoal". Cadernos Nietzsche, São Paulo, n. 28, 2011. Disponível em: <http://
www.cadernosnietzsche.unifesp.br/home/item/161-nietzsche-e-o-discurso-
filos%C3%B3fico-uma-%E2%80%9Clinguagem-pessoal>. Acesso em: 4 set. 2015.
OLIVEIRA, J. A grande ética de Nietzsche. Revista Índice – revista eletrônica de filosofia,
v. 3, n. 1, 2011a. Disponível em: <http://www/revistaindice.com.br>. Acesso em: 8
mar. 2012.
WIKIPEDIA. Deus está morto? Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Deus_
Est%C3%A1_Morto>. Acesso em: 8 mar. 2012.
______. Eterno retorno. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Eterno_
retorno>. Acesso em: 9 set. 2015.
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