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Nietzsche e a inversão da Sabedoria de Sileno para

uma reafirmação da vida


Ana Clara Vasconcelos Silva¹;
Débora Chaves de Lima².
Resumo: Este ensaio propõe-se a apresentar uma breve analise
quanto a reafirmação da vida para Nietzsche, embasada em sua
obra de juventude: O Nascimento da Tragédia no Espírito da
Música (1872). Ademais, mediante analises e pesquisas o resumo
possui por objetivo realizar uma sucinta ponderação acerca do
preceito proposto em contexto atual.
Palavras-chave: Nietzsche, reafirmação da vida, sabedoria de
Sileno, cultura grega, vontade de potência.

“Viver é sofrer e sobreviver é encontrar um significado no


sofrimento.”
(Nietzsche)

1. Introdução.
Nietzsche, em seu livro: O nascimento da Tragédia, de
1871, nos apresenta um estudo acerca do surgimento do
teatro grego, direcionando mediante seus estudos, uma crítica
para o excesso de racionalidade na sociedade alemã, cultura
em que vivia. Para isso, ele utiliza uma explicação metafísica
fundamentada em dois princípios denominados: apolíneo e
dionisíaco.
Em primeira instancia, como já é de imaginarmos, o
principio apolíneo diz respeito ao Deus Apolo, conhecido por
ser o deus do equilíbrio, da ordem, da racionalidade, da
harmonia, intelectualidade, entre outros. Enquanto o princípio
_____________________________________
¹ Estudante do 3º período do Curso de Administração;
² Profª. IFTM – Campus Paracatu, Mestre em Filosofia.
apolíneo, refere-se a Apolo: deus do desmedido, do desejo de
vida espontâneo e sem limites. O que nos vem em mente a
partir da apresentação dos dois princípios é: qual a sua
importância para Nietzsche? Pois bem, como já citado,
Nietzsche estava estudando o passado (a cultura grega), para
resolver um problema do presente (a cultura alemã, que
estava a sofrer de excesso de racionalidade.) e segundo ele,
o teatro grego era uma grande e valiosa referencia de uma
cultura forte, sendo possível sua existência apenas com a
presença dos dois princípios.
É importe destacar que no livro é tratado a Sabedoria de
Sileno, um mito muito recorrente da cultura grega, a qual
direcionou Nietzsche aos seus estudos, em que Sileno era
companheiro de Dionísio, o Deus do vinho. Era um senhor
que vivia embriagado e que se dizia portar conhecimentos
excepcionais e deveras importantes, dentre eles a verdade
sobre todos os homens. Nietzsche escreve:

“Reza a antiga lenda que o rei Midas perseguiu-o na floresta,


durante longo tempo, sem conseguir apanhá-lo. Quando, por fim,
ele veio a cair em suas mãos, perguntou-lhe qual dentre as coisas
era a melhor e a mais preferível para o homem. Obstinado e imóvel,
calava-se; até que, forçado pelo rei, prorrompeu finalmente, por
entre um riso amarelo, nestas palavras: – Estirpe miserável e
efémera, filhos do acaso e do tormento! Por que me obrigas a dizer-
te o que seria para ti mais salutar não ouvir? O melhor de tudo é
para ti inteiramente inatingível: não ter nascido, não ser, ser nada. E
o melhor em segundo lugar, para ti, é morrer rápido”. (Nietzsche, O
Nascimento da Tragédia)
Com as palavras do sábio, é possível notar o quão a nossa
existência, a humana, é efêmera e sem valor. Ao que tudo indica o
ser humano buscava encontrar conforto na ideia da própria
importância, todavia Sileno quebra essa perspectiva ao dizer que
somos um paradoxo ao existirmos, uma vez que não há
necessidade.
A partir daí, cientes dos temores de sua existência, o grego
passa a desprezar sua existência e não deseja mais a vida. Tendo
o contexto em vista, Nietzsche aprofunda seus estudos,
descobrindo que a força de uma cultura era notável a partir da boa
relação entre os dois princípios citados anteriormente. O apolíneo e
dionisíaco, que, opostos um ao outro reúnem aquilo que é
necessário para a criação do que salvou a cultura grega e
consequentemente orientou Nietzsche para encontrar a identidade
autentica do ser humano então contaminada por um excesso de
racionalidade: as artes trágicas.
Com o seu surgimento, a par das lástimas da sua existência, o
grego passou a ter necessidade da arte para suportar sua vida,
onde o espectador via a si mesmo nas representações. Com isso, o
filosofo descobriu então o motivo da cultura a qual vivia sofrer por
excesso de racionalismo: por possuir apenas a manifestação do
principio apolíneo, o que, dado o exposto, era problemático.
2. A cultura ocidental contemporânea.
É muito dito por alguns estudiosos que nós, ocidentais, somos
muito dionisíacos, dado sua grande manifestação em nossa cultura.
Vivemos numa época de incerteza, de insegurança e de
superficialidade e para exemplificar a presença do impulso citado,
podemos destacar o grande componente de Dionísio: a música. A
música popular contemporânea tem, se tornado cada vez mais,
superficial e temos prezado cada vez menos pelo conteúdo das
canções, dando a devida atenção somente a melodia. Se possui um
beat agradável é o que importa.

A música é apenas um dos inúmeros exemplos acerca do


quão temos agregado pouco valor a arte. Contudo, uma pesquisa
do Ipea revela que atividades culturais não alcançam a maior parte
da população. O nosso país, por exemplo, embora conte com uma
vasta diversidade cultural, os brasileiros não têm o costume de
frequentar programas culturais. No contexto nietzschiano, o nosso
cenário atual é problemático, uma vez que embora ainda contemos
com a música, ela não apresenta impulsos apolíneos, e não
usufruímos das demais manifestações artísticas, como necessário.
3. Conclusão

Tendo isso em vista, é possível concluir que talvez no


sejamos apolíneos, nem dionisíacos, a verdade é que falta o
costume da arte em nós. Temos nos tornando seres levianos, a
maioria de nós sai da escola e nunca mais se aproxima do assunto,
seja porque não foi despertado o interesse e porque precisamos nos
focar em coisas que aumentem nossas chances no mercado de
trabalho. É necessário que desde cedo o contato com a arte seja
feita, para que assim o indivíduo desenvolva o senso artístico.
Assim, ele passa a ter independência, definindo assim seus
próprios referenciais ao observar o mundo. Desta maneira, a arte na
formação da sociedade desenvolve cidadãos com uma capacidade
maior para entender o sentido da vida, ao ler e interpretar textos,
observar o ambiente, a natureza e nas pequenas coisas do dia a
dia.
Referências bibliográficas

NIETZSCHE, Friedrich. O nascimento da Tragédia. São Paulo:


Companhia das Letras, 1992.

LE FRANC, Jean. Compreender Nietzsche. Rio de Janeiro: Vozes,


2017.

GIACOIA, Oswaldo. Nietzsche. São Paulo: Publifolha, 2000.

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