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O mercado e a qualidade
dos combustíveis automotivos
Luís Eduardo Duque Dutra
Assessor de Diretoria
Janeiro de 2004
Introdução (1)
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ANP, Assessor D-G, LEDD
Introdução
O interesse das questões formuladas acima é tanto teórico, quanto prático. Nas
ciências econômicas, elas remetem à idéia da informação e a seu valor para o pleno
exercício do livre mercado. O entendimento do processo pelo qual a concorrência pode
gerar uma seleção adversa, onde os vencedores são oportunistas e vendem mercadorias
“podres”, é um avanço conceitual ainda recente da teoria econômica, datando do início
da década de 1970. Nas ciências administrativas, por sua vez, as questões acima
remetem à idéia de qualidade, um domínio de gestão que surge na mesma época e que,
até o fim da década de 1980, esteve mais voltado à empresa e à satisfação de seus
clientes, sem considerar os interesses dos demais consumidores e dos não
consumidores. Estudos sobre os custos da qualidade em setores industriais, cidades e
países são recentes e ainda preliminares, mas, confirmam a magnitude das perdas
decorrentes da falta de qualidade.
De imediato, é necessário sublinhar que o valor preciso das perdas com a falta de
qualidade e dos ganhos, que resultaram da melhoria da conformidade da gasolina,
ocorrida entre 1998 e 2003, é muito maior do que o aqui calculado. Abstendo-se de
valorar o desperdício energético e os danos ambientais e considerando apenas a
conformidade de um combustível - a gasolina -, é possível quantificar de maneira
relativamente simples os benefícios apropriados pelos consumidores (particulares e
profissionais) e o ganho tributário com a recuperação de arrecadações, antes sonegadas
em razão da adulteração do combustível. O conservadorismo dos cálculos, mesmo
daqueles itens incluídos na equação de não conformidade, e a utilização de uma taxa de
desconto extremamente elevada fazem dos resultados estimativas de um mínimo,
indicando que os ganhos devem ser muito maiores.
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argumentos utilizados na seção 3.3 do estudo. Considerando que, entre 1998 e 2003,
não ocorreu aumento algum do número de fiscais, que o consumo de combustíveis teve
um crescimento anual expressivo até 2001, assim como o número de postos de revenda
abertos e que a carga de tributos também cresceu, tornando ainda mais rentável a
adulteração e as fraudes, como explicar que, em cinco anos, tenha-se conseguido sair de
níveis entre 20 e 17% de não conformidade, para patamares onde a ocorrência de não
conformidade varia entre 6 e 4%? Entre 1997 e 1999, não existe nenhum fator que possa
ter motivado este significativo aumento dos padrões de qualidade a não ser o PMQC,
que desencadeou um intenso esforço em favor da qualidade, tanto entre as instituições
públicas (Secretarias de Fazenda e Ministério Público), quanto entre as empresas, sejam
distribuidoras grandes ou menores, sejam revendedores, a partir de suas associações.
A magnitude das perdas dos consumidores e do estado pode ser avaliada pelo
resultado francamente positivo da rentabilidade dos gastos; poucas despesas públicas
apresentam retornos semelhantes. Para cada real despendido, o benefício gerado chega a
26 reais. Mesmo excluindo-se os ganhos apropriados privadamente e, portanto, apenas
considerando a perspectiva de perdas e ganhos fiscais, a rentabilidade é bastante
elevada. Cada real de despesa no PMQC teria permitido a recuperação de 4,6 reais em
recolhimentos de impostos e contribuições. Assim, embora o benefício tributário tenha
sido fortemente subestimado, o programa já se teria pago e gerado um excedente
significativo, somente considerando o ponto de vista do orçamento público.
Esse resultado deve ser visto não apenas pelo seu aspecto quantitativo. O custo
da falta de qualidade, o valor da informação para o consumidor e as perdas tributárias
com as condutas oportunistas são noções que parecem vagas e sugerem somas, se não
impossíveis, difíceis de mesurar porque com efeitos difusos socialmente e
imperceptíveis individualmente. A partir de um exercício simples, a evolução dos
mercados dos combustíveis brasileiro ilustra como é possível chegar-se a uma
aproximação bastante razoável destes valores, demonstrando de forma bastante clara,
primeiro, a importância do problema “informacional” em mercados submetidos à
intensa competição e, segundo, o papel insubstituível do estado como provedor dos
sinais que podem corrigir o problema.
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Parte I: O mercado
1.1 Composição do mercado de combustíveis e da frota de veículos
66,2
No Brasil, por força de lei, os motores de ciclo Diesel não podem equipar
veículos de passeio e, assim, os automóveis são exclusivamente abastecidos por
gasolina, álcool e, nos últimos três anos, também por gás natural. Estes veículos,
equipados com motores de ciclo Otto, respondem por quase 80% da frota nacional; em
números absolutos, circulavam mais de 16 milhões de automóveis em 2001. O óleo
diesel é fornecido para os caminhões e ônibus e, já fazem alguns anos, também para os
veículos do tipo comercial leve (camionetas e furgões com capacidade de carga entre
uma e duas toneladas). Vale observar que cerca de um terço dos combustíveis
automotivos (gasolina e álcool) movimenta quatro quintos da frota (veículos com
motores de ciclo Otto), o que dá uma idéia do papel da gasolina no transporte do país,
fundamentalmente utilizada no deslocamento individual e das famílias.
37,6%
25,7% 33,8% 40,0%
gasolina
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G ráf. IV: Crescim ento d o consu mo de com bustíveis auto motivos e d o PIB em nú mero s
índices, 1980 = 100
225,0
Com bustív eis
autom otiv os
200,0
175,0
PIB
150,0
125,0
100,0
75,0
1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
6
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Outro aspecto a ser observado são os diferentes usos e o perfil dos proprietários
da frota de veículos. Em função destes aspectos, a gasolina atende um consumo, em
geral, de natureza privada, satisfazendo necessidades individuais, ou familiares e,
portanto, dispondo de uma clientela muito mais numerosa, dispersa e diferenciada. Em
2002, eram, pelo menos, 15 milhões de veículos circulando exclusivamente com
gasolina “c”. No caso dos veículos pesados, que queimam óleo diesel, a imensa maioria
é de uso profissional para transporte coletivo e de carga, sendo em número muito menor
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23% 0% 19%
21%
ICMS
PIS COFINS 46%
57%
CIDE
20%
35%
79%
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Patamares tão elevados de tributação não são uma particularidade do Brasil. Eles
são observados em todos os países não exportadores de petróleo, com a notável exceção
do mercado estadunidense. A relativa inelasticidade preço dos combustíveis permite que
aumentos no preço final elevem a receita tributária, apesar da queda no volume de
vendas. A falta de substitutos para os combustíveis automotivos, em alguns países, e o
custo de substituição, em outros, explica a baixa elasticidade preço, tanto da demanda
por gasolina, quanto por óleo diesel. No caso do óleo diesel, por ser o combustível
queimado nos transportes ferroviário e rodoviário, o impacto inflacionário na elevação
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dos seus preços é uma variável que é sempre levada em conta pelos governos, quando
estes concebem a estrutura de tributação no mercado. Assim, as imposições são maiores
na gasolina do que no óleo diesel, para mitigar o efeito nos níveis gerais de preço. Por
fim, existe uma razão estritamente fiscal para estas elevadas taxas de tributação seja
qual for o combustível: o custo de arrecadação é relativamente baixo, devido ao elevado
volume de negócios e à organização da cadeia de produção e comercialização. Como
será visto, nem sempre a segunda assertiva se verifica por completo.
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29 a 30.0000
dutos e cabotagem postos revendedores
13 refinarias
322 bases de
3 centrais rodovias distribuição de 551 transportador,
petroquímicas combustíveis revendedor e retalhista
ferrovias
líquidos
usinas e rodovias
destilarias ferrovias e
hidrovias grandes consumidores
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Texaco. Duas são controladas pelo capital nacional – a Petrobrás e a Ipiranga. Duas
petroleiras estrangeiras ingressaram no mercado recentemente: a espanhola Repsol
adquiriu a refinaria de Manguinhos e a rede de postos Wal do grupo Peixoto de Castro e
a italiana Agip comprou a distribuidora São Paulo.
Tab VII a: Quotas nas vendas Tab. VII b: Quotas nas vendas de
de óleo diesel gasolina “c”
Tabela VII c:
Faturamento e posição no ranking das maiores corporações industriais do país
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corporações do país (Tabela VII c). Cinco estão incluídas, pela revista Exame, entre as
25 maiores vendas em 2002, e com contingentes que superam mil funcionários por
empresa. Breve, a distribuição de combustíveis é um oligopólio concentrado, dominado
pelas maiores empresas do país.
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Tab. IX: Indicadores de vendas em postos de combustíveis automotivos entre 1996 e 2002
Ano 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Vendas médias de 821 913 961 886 750 757 764
gasolina
Vendas médias de 1.759 1.816 1.873 1.712 1.458 1.476 1.486
combustíveis *
* Vendas de gasolina “c”, óleo diesel e álcool hidratado. Unidade: m3
2
Durante as décadas de 1970 e 1980, somadas, as margens de lucro da distribuição e revenda chegaram a
representar entre 30 e 35% do preço final dos combustíveis. Atualmente, as margens de distribuição não
superam 5% e de revenda, 10%.
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3
Além das diferenças nas alíquotas do ICMS, entre os estados, existem também diferenças nos
preços de referência sobre o qual incide o imposto.
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Em sua composição, a gasolina “c” possui até 25% de álcool e correntes orgânicas similares
aos solventes de borracha, aguarrás e sucedâneos, como pode ser observado na tabela abaixo, o
que facilita as adulterações a partir desses produtos.
Composições da gasolina e dos solventes
Corrente Ponto de Ebulição Faixas
C5 35 30/40
C6 61 60/70
C7 95 Solvente de
GASOLINA C8 125 Borracha
C9 155 Aguarrás e
C10 174 Sucedâneos
C11 194 140/200
C12 215 Querosene e
C13 234 Assemelhados
C14 252
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o pagamento da CIDE – prevista como imune a este tipo de ação e introduzida em 2003
– também gerariam ganhos bastante elevados: de ordem de 27,8% do preço final.
A primeira vista, as adulterações também podem ser uma fonte de ganhos, mas,
proporcionalmente, eles seriam menores que os obtidos por intermédio dos instrumentos
jurídicos. Enquanto a adição de solventes reduziria o preço final em quase 17%, com a
adição de álcool, obter-se-ia uma redução pouco importante, próxima a 3% do preço
final. Isso não é de todo verdade. Considere-se que, nos dois exemplos, tratam-se de
adulterações mínimas, que supõem a precaução do responsável em procurar reduzir os
riscos de ser detectado. Em muitas situações, esta precaução não se verifica, como em
novembro de 2003, em São Paulo, quando foram apreendidos volumes de gasolina
contendo até 60% de álcool e gasolina integralmente formulada a partir de solventes.
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G.AKERLOFF, 1970, The market for lemons: quality uncertainty and market
mechanism..Quaterly Journal of Economics 84, pp 488-500.
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Alguns estudos demonstram que, não dispondo de informações precisas sobre as preferências
do consumidor, as empresas tendem a reduzir a oferta de qualidade para os consumidores em
geral, para poder se concentrar na extração do excedente dos consumidores dispostos a pagar
preços mais elevados pela mercadoria. Ver White (1977); Mossa e Rose (1978) e Mashin &
Reilly (1984).
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custos de transações envolvidos no ato de compra. Por um lado, mesmo após a escolha
do produto, além do preço de compra, existe um custo “puro” associado à aquisição e
relacionado ao deslocamento do consumidor. Ele inclui a despesa com as viagens ao
local de compra (ida e volta) mais o gasto de tempo durante o trajeto. Por outro lado,
observa-se um custo de “seleção”, ou de procura, quando ainda não se tem a decisão do
que exatamente comprar e, assim, é necessário fazer uma pesquisa sobre as opções, o
que gera novos custos de deslocamento e perda de tempo. Deduz-se que a localização
do revendedor é um fator chave na concorrência e que é possível, para ele, aproveitar a
presença de economias de escopo em seu ponto de venda, ao oferecer uma linha
diversificada de produtos, que pode ir da gasolina ao cachorro quente (o que permite
reduzir o número e a extensão das viagens dos clientes). Esses elevados custos das
transações para o consumidor acentuam as assimetrias e reforçam o poder de barganha
dos revendedores.
Custo
Custo total
Custo produtor
Custo consumidor
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Adicionalmente, observe que, por ser quase toda fornecida pela mesma empresa, na saída da
refinaria, a gasolina brasileira goza de uma uniformidade difícil de se obter em mercados onde
existem diversos fornecedores.
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Qualidade do
A B suprimento
Observe ainda a importância do formato das curvas de custo para cada uma das
partes. Quanto menor e mais achatado for o início da curva do produtor e mais lenta for
a queda dos custos arcados pelo consumidor, maior será a diferença entre os pontos
ótimos. Em outros termos, se os custos com a perda de credibilidade e aumento das
penalidades forem baixos e o consumidor não tiver como reparar suas perdas, o
subinvestimento em qualidade tende a ser acentuado.
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O problema com a qualidade dos combustíveis não é exclusivo do Brasil e nem é novidade no
país. Desde a década de 1960, existem indícios, como reportagens na imprensa especializada,
sobre a adulteração dos combustíveis, sobretudo gasolina. Embora seja uma questão recorrente
no mercado brasileiro, existe uma percepção de empresas, associações de defesa do consumidor
e de montadoras de veículos automotivos que a deterioração da qualidade dos combustíveis
cresceu no decorrer da década de 1990.
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A distinção mais importante a fazer diz respeito ao escopo de cada perda. Tanto nas
perdas energéticas, quanto nas perdas ambientais, o sobrecusto é arcado por todos e
indistintamente. O dano não diferencia ninguém e, assim, a divisão deste sobrecusto
pode ser pouco eqüitativa, ou simplesmente injusta. As perdas dos consumidores são de
natureza distinta. Elas são arcadas individualmente, incluídas no orçamento de cada
proprietário de veículo automotivo e, muito provavelmente, proporcionais a sua
utilização. No caso das perdas na eficiência energética e dos danos ambientais, os
efeitos surgem em mais longo prazo e não são facilmente perceptíveis. Assim, os custos
energéticos e ambientais da deterioração da qualidade são ainda mais difusos que os
custos incorridos pelos consumidores. Consequentemente, são de mais difícil estimação
em termos econômicos, mas, nem por isso, menos importante.
Durante a segunda metade do século passado, assim como o que foi observado
nas ciências econômicas, as ciências administrativas incorporaram novos conceitos e
perspectivas de análise, que permitem um melhor entendimento dos problemas
relacionados à qualidade. Tanto na economia, quanto na administração, a empresa era
essencialmente vista a partir de uma visão “racionalista” e “mecanicista”, não existindo
espaço para os estudos que explorassem a complexidade das relações sociais e a
diversidade de meios de coordenação entre os atores envolvidos na produção e
realização do valor das mercadorias. Muito pouca atenção era concedida ao consumidor
e a ênfase estava nos arcaicos métodos de comando e controle dentro das plantas
industriais. A introdução de conceitos como Planejamento Estratégico (Mintziberg,
9
Informações disponíveis nas respectivas páginas eletrônicas.
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C u s to s d a e v o lu ç ã o d a s
e s p e c ific a ç õ e s
(r e fin o )
U S $ 1 ,5 b ilh õ e s
U S $ 3 ,0 b ilh õ e s
U S $ 1 ,0 b ilh ã o
1988
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
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10
Naveh,E. e Halevy,A. (1999) How much do we lose on non-quality? In Total Quality
Management, v.10, n.07, pp 1037-1045.
,
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Entre 1997 e 1999, não existe nenhum fator que possa ter motivado este
significativo aumento dos padrões de qualidade a não ser o PMQC, que desencadeou
um intenso esforço fiscalização realizado não só pela ANP, mas também pelas
Secretarias de Fazenda e pelo Ministério Público. O PMQC deslanchou igualmente a
movimentação dos diversos segmentos de atividades envolvidos com o abastecimento, a
distribuição e a revenda. Na seqüência da iniciativa da Agência, com objetivos
específicos e menor escopo, foram criados os programas de controle da qualidade das
distribuidoras e, nas associações patronais, surgiram os programas de orientação e apoio
à melhoria da qualidade. Assim, a hipótese de que exista uma relação direta entre a
implantação do programa e a melhoria da qualidade dos combustíveis encontra suporte
histórico e merece ser explorada um pouco mais profundamente.
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Pelo que foi revisado neste estudo, a incidência de combustíveis fora das
especificações deve ter tido um efeito significativo precisamente no aumento do
segundo componente do custo: o custo de não conformidade. É este componente que
revelará o impacto da má qualidade dos combustíveis automotivos na economia e quais
os ganhos gerados pela sua gradual melhoria a partir de 1998. Segundo a natureza das
perdas identificadas anteriormente, o custo de não conformidade foi decomposto
conforme a Equação IV. Trata-se da soma de quatro categorias de despesas decorrentes
da falta de qualidade: custos individuais, empresariais, fiscais e ambientais. As duas
primeiras despesas são de caráter privado e as duas restantes são sociais; isto é, arcadas
pelo Estado, pelos contribuintes e pela coletividade.
Equação IV
Social
Custo da Individual Empresarial Fiscal
não = reparação + custos de + + saúde
conformi- + reparação de Perda pública
dade horas veículos de +
perdidas profissionais Arreca- danos
dação ambientais
+ +
dano moral lucros cessantes
de
proprietários de
postos
danos à imagem
de prop. de
postos
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Tabela XI: Evolução da não conformidade da gasolina entre 1999 e 2003. Efetiva e
escalonada para efeitos de cálculo.
Ano 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Observada 20-18% 12,5% 9,2% 7,3% 5,9%
Escalonada 20% 17,5% 15% 12,5% 10% 7,5%
Na verdade, a melhoria dos indicadores foi maior que a utilizada para cálculo e
evidentemente não ocorreu uniformemente a cada ano. Os dados aferidos pelo
monitoramento, durante o período considerado, encontram-se também na tabela. O fato
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do limite inferior estipulado ser menor que o observado em 2003 serve para compensar
o elevado limite superior inicial. Efetivamente, em 1998, logo no início do programa,
quando as poucas informações eram muito localizadas, os testes indicaram uma não
conformidade da gasolina próxima a 20%, mas que, talvez, não represente o que se
verificava em todo o país. De qualquer forma, estas suposições não alteram de forma
significativa os cálculos e seus resultados.
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Tabela XII : não conformidade e o número de reparos, para cinco anos de uso
Freqüência de não conformidade Número de panes por veículos particulares
20% 0,5000
17,5% 0,4375
15% 0,3750
12,5% 0,3125
10% 0,2500
7,5% 0,1250
Por fim, faltaria considerar o tamanho da frota nacional. Para fins imediatos, no
cálculo, o tamanho da frota foi estipulado em 15 milhões de automóveis e foi
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de desconto de 20% por ano, o somatório dos benefícios apropriados por esses
consumidores alcança o total de R$ 841 milhões.11
Tabela XV: não conformidade e o número de reparos, para cinco anos de uso
Freqüência de não conformidade Número de panes por veículos profissionais
20% 1,000
17,5% 0,875
15% 0,750
12,5% 0,625
10% 0,500
7,5% 0,375
11
Observe que, se fosse reduzida em metade a relação entre panes e não conformidade, isto é,
que um em cada quatro proprietários tenha uma pane de motor em cinco anos, quando um
quinto da gasolina está fora do padrão, os ganhos apropriados pelos consumidores individuais
seriam ainda bastante elevados: metade dos valores contidos na Tabela XIV.
12
O desconto é atribuído a um provável contrato de longo prazo, ou à credibilidade da relação
estabelecida entre o proprietário da frota e dois ou três oficinas mecânicas.
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Ainda para efeito de cálculo, o preço final da gasolina foi estipulado em R$ 2,00 por
litro, que corresponde ao valor médio na bomba durante o mês de dezembro de 2003. A
participação dos tributos no preço pago pelo consumidor foi definida como 50%,
sabendo-se que, nos últimos dois anos, ela tem variado pouco em torno deste patamar.
O volume de gasolina comercializada foi estipulado em 55 milhões de litros por dia. Ele
é menor que o efetivamente movimentado em todo país13. As razões para estabelecer
um volume menor já foram mencionadas: a implementação do PMQC foi gradual e
ainda hoje o programa não atinge seis estados do país. Assim, o volume de gasolina
considerado parece ser adequado aos propósitos da avaliação e ao período em análise.
Dados:
Consumo diário estimado em 55 milhões de litros por dia
Preço por litro estipulado em R$ 2,00
Perda de arrecadação por litro definida em 10%
Participação dos tributos no preço final definida em 50%
13
Pouco mais de 60 milhões de litros por dia.
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As estimativas acima devem ser vistas como uma primeira aproximação dos
valores envolvidos com a sonegação e sua relação com a não conformidade. Ela se
refere à perda de arrecadação na comercialização de combustíveis automotivos que
resulta da adulteração apenas da gasolina. Comparados aos valores sugeridos durante a
CPI do Congresso sobre os combustíveis e veiculados pela imprensa, os cálculos
resultam em valores menores. As informações são que, na comercialização de todos os
combustíveis automotivos, a sonegação estaria em torno de R$ 3,3 bilhões, sendo R$ 1
bilhão, relacionado à adulteração da gasolina. Segundo a tabela acima, se 20% da
gasolina estiver fora das especificações, o que define um patamar de não conformidade
relativamente elevado, a estimativa a que se chegou das perdas tributárias (R$ 722,7
milhões) seria cerca de 30% menor que o aventado na CPI.
A partir das estimativas calculadas até aqui é possível se chegar ao valor total
dos ganhos gerados pelo PMQC com a melhoria da gasolina comercializada no país. A
seguir, a Tabela XX contém os benefícios gerados e apropriados pelos dois tipos de
consumidores antes distinguidos: as famílias proprietárias de automóveis particulares
movidos a gasolina e as empresas proprietárias de frotas de uso profissional. A tabela
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Em relação ao estado, com o fito de precisar ainda mais a avaliação até aqui
feita, deveriam ser considerados, além das perdas tributárias, pelo menos três outros
elementos que não foram mencionados:
i) a redução dos custos internos à ANP, uma vez que o monitoramento abasteceu a
fiscalização de informações, aumentando a inteligência no planejamento das ações e a
eficácia das operações e, portanto, deve ter resultado em menores custos internos para a
agência;
ii) os benefícios apropriados pelos participantes do programa, institutos de pesquisa e
universidades que montaram laboratórios de testes e ensaios de dedicação exclusiva,
contrataram técnicos e profissionais altamente especializados e desenvolveram
programas de capacitação, formação e pesquisa completamente inseridos na realidade
do mercado de combustíveis. Para os laboratórios de química que formam a rede de
centros de monitoramento, o benefício marginal auferido com o programa deve ter sido
ainda maior, quando associado às bolsas e aos financiamentos oriundos do CTPetro;
iii) e o efeito multiplicador do programa na indústria, que foi extremamente importante,
Na seqüência da iniciativa da agência, todas as distribuidoras criaram programas de
qualidade. A despeito de estarem mais próximos dos programa de “fidelização” de
clientes e revendedores do que de um plano de controle total da qualidade, os
investimentos privados nestes programas podem ser vistos como complementares às
primeiras despesas públicas e eles também contribuíram para a gradual melhoria na
conformidade da gasolina brasileira.
A devida inclusão destes últimos custos e benefícios vale a pena ser feita, primeiro,
porque são tangíveis, mensuráveis e, no caso dos dois primeiros, rapidamente
apropriados, seja pela ANP, seja pelos participantes do programa e, em seguida, para
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Ano 1 2 3 4 5
Fluxo de Caixa Particulares 281.250.000 281.250.000 281.250.000 281.250.000 281.250.000
Fluxo de Caixa Empresas 156.250.000 156.250.000 156.250.000 156.250.000 156.250.000
Fluxo de Caixa Tributário 90.337.500 90.337.500 90.337.500 90.337.500 90.337.500
Depesas de Monitoramento da ANP -12.000.000 -16.000.000 -20.000.000 -20.000.000 -20.000.000
Fluxo de Caixa Particulares com Desconto 234.375.000 195.312.500 162.760.417 135.633.681 113.028.067 841.109.664
Fluxo de Caixa Empresas com Desconto 130.208.333 108.506.944 90.422.454 75.352.045 62.793.371 467.283.147
Fluxo de Caixa Tributário com Desconto 75.281.250 62.734.375 52.278.646 43.565.538 36.304.615 270.164.424
Depesas de Monitoramento da ANP com Desconto -10.000.000 -11.111.111 -11.574.074 -9.645.062 -8.037.551 -50.367.798
Investimento Inicial (To) -8.000.000
250.000.000
VPL @ 20% = R$1.520.157.235,00
Ganhos particulares = R$ 841,109.664,35
Ganhos empresarias = R$ 467.283.146,86
Ganhos Tributários = R$ 270.164.424,00
Despesas da ANP = R$ 58.400.000,00
200.000.000
150.000.000
100.000.000
Particulares
Empresarial
50.000.000
Tributos
0
1 2 3 4 5
Ano
Despesas ANP
-50.000.000
41
ANP, Assessor D-G, LEDD
42