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Área 01, Aula 02

Principais grupos de insetos vetores de


importância para a Saúde Pública

1
CONASEMS - Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde

ProEpi - Associação Brasileira de Profissionais de Epidemiologia de Campo

1ª Edição

Junho de 2018
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estipulado na Lei nº 9.610/1998 (Lei de Direitos Autorais), com sanções previstas
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cabíveis à espécie.
Expediente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de
Saúde - CONASEMS
Quadro Geral da Organização
DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente – Mauro Guimarães Junqueira

Vice-Presidente – Charles Cezar Tocantins

Vice-Presidente – Wilames Freire Bezerra

Diretora Administrativo – Cristiane Martins Pantaleão

Diretora administrativo- Adjunto- Silva Regina Cremonez Sirena

Diretor Financeiro – Hisham Mohamad Hamida

Diretora Financeiro-Adjunto – Iolete Soares de Arruda

Diretor de Comunicação Social – Diego Espindola de Ávila

Diretora de Comunicação Social–Adjunto – Maria Célia Valladares Vasconcelos

Diretora de Descentralização e Regionalização – Stela dos Santos Souza

Diretora de Descentralização e Regionalização–Adjunto – Soraya Galdino de Araújo Lucena

Diretor de Relações Institucionais e Parlamentares – Carmino Antônio de Souza

Diretor de Relações Institucionais e Parlamentares- Adjunto- Erno Harzheim

Diretor de Municípios de Pequeno Porte - Murilo Porto de Andrade

Diretora de Municípios de Pequeno Porte–Adjunto – Débora Costa dos Santos

Diretor de Municípios com Populações Ribeirinhas e em Situação de Vulnerabilidade –


Vanio Rodrigues de Souza

Diretor de Municípios com Populações Ribeirinhas e em Situação de Vulnerabilidade –


Adjunto – Afonso Emerick Dutra

2º Vice-Presidente Regional - Região Centro Oeste – André Luiz Dias Mattos

1º Vice-Presidente Regional - Região Nordeste – Normanda da Silva Santiago

2º Vice-Presidente Regional - Região Nordeste – Orlando Jorge Pereira de Andrade de Lima

1º Vice-Presidente Regional - Região Norte – Januário Carneiro Neto

1º Vice-Presidente Regional - Região Sudeste – Luiz Carlos Reblin

2º Vice-Presidente Regional - Região Sudeste – Geovani Ferreira Guimarães

2° Vice-Presidente Regional – Região Sul - Rubens Griep

Conselho Fiscal 1º Membro – Região Norte – Oteniel Almeida dos Santos


Conselho Fiscal 1º Membro – Região Nordeste – Leopoldina Cipriano Feitosa

Conselho Fiscal 2º Membro – Região Nordeste - Angela Maria Lira de Jesus Garrote

Conselho Fiscal 1º Membro - Região Centro-Oeste –Aparecida Clestiane de Costa Souza

Conselho Fiscal 2º Membro - Região Centro-Oeste–Maria Angélica Benetasso

Conselho Fiscal 1º Membro - Região Sudeste - José Carlos Canciglieri

Conselho Fiscal 2° Membro – Região Sudeste - Tereza Cristina Abrahão Fernandes

Conselho Fiscal 1º Membro - Região Sul - João Carlos Strassacapa

Conselho Fiscal 2º Membro – Região Sul- Sidnei Bellé

Representantes no Conselho Nacional de Saúde – Arilson da Silva Cardoso e José Eri Borges
de Medeiros

RELAÇÃO NACIONAL DOS COSEMS

COSEMS - AC - Tel: (68) 3212-4123

Daniel Herculano da Silva Filho

COSEMS - AL - Tel: (82) 3326-5859

Izabelle Monteiro Alcântara Pereira

COSEMS - AM - Tel: (92) 3643-6338 / 6300

Januário Carneiro da Cunha Neto

COSEMS - AP - Tel: (96) 3271-1390

Maria de Jesus Sousa Caldas

COSEMS - BA - Tel: (71) 3115-5915 / 3115-5946

Stela Santos Souza

COSEMS - CE - Tel: (85) 3101-5444 / 3219-9099

Josete Malheiros Tavares

COSEMS - ES - Tel: (27) 3026-2287

Andréia Passamani Barbosa Corteletti

COSEMS - GO - Tel: (62) 3201-3412

Gercilene Ferreira

COSEMS - MA - Tel: (98) 3256-1543 / 3236-6985

Domingos Vinicius de Araújo Santos

COSEMS - MG - Tels: (31) 3287-3220 / 5815


Eduardo Luiz da Silva

COSEMS - MS - Tel: (67) 3312-1110 / 1108

Wilson Braga

COSEMS - MT - Tel: (65) 3644-2406

Silvia Regina Cremonez Sirena

COSEMS - PA - Tel: (091) 3223-0271 / 3224-2333

Charles César Tocantins de Souza

COSEMS - PB - Tel: (83) 3218-7366

Soraya Galdino de Araújo Lucena

COSEMS - PE - Tel: (81) 3221-5162 / 3181-6256

Orlando Jorge Pereira de Andrade Lima

COSEMS - PI - Tel: (86) 3211-0511

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Maria da Conceição de Souza Rocha

COSEMS - RN - Tel: (84) 3222-8996

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COSEMS - RO - Tel: (69) 3216-5371

Afonso Emerick Dutra

COSEMS - RR - Tel: (95) 3623-0817

Helenilson José Soares

COSEMS - RS - Tel: (51) 3231-3833

Diego Espíndola de Ávila

COSEMS - SC - Tel: (48) 3221-2385 / 3221-2242

Sidnei Belle

COSEMS - SE - Tel: (79) 3214-6277 / 3346-1960

Enock Luiz Ribeiro

COSEMS - SP - Tel: (11) 3066-8259 / 8146


Carmino Antonio de Souza

COSEMS - TO - Tel: (63) 3218-1782

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Equipes do Projeto
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Alessandro Aldrin Pinheiro Chagas

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Cristiane Martins Pantaleão

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José Fernando Casquel Monti

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Kandice de Melo Falcão

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Murilo Porto de Andrade

Nilo Bretas Júnior

Sandro Haruyuki Terabe

Wilames Freire Bezerra


Sobre o CONASEMS

Fazendo jus ao tamanho e à diversidade do Brasil, o Conselho Nacional de


Secretarias Municipais de Saúde representa a heterogeneidade dos milhares de
municípios brasileiros.

Historicamente comprometido com a descentralização da gestão pública de


saúde, o CONASEMS defende o protagonismo dos municípios no debate e
formulação de políticas públicas e contribui para o aumento da eficiência, o
intercâmbio de informações e a cooperação entre os sistemas de saúde do país.

Conheça nossas três décadas de atuação acessando www.conasems.org.br.


Equipe Técnica da Associação Brasileira de Profissionais de
Epidemiologia de Campo - ProEpi

Supervisão
Érika Valeska Rossetto
Coordenação
Sara Ferraz
Coordenação Pedagógica
Hirla Arruda
Gestão Pedagógica e de Tecnologia da Informação
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Conteudista
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Apoio Técnico ao Núcleo Pedagógico
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Revisão
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Sara Ferraz
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Diagramação
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Design Instrucional
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Fernanda Bruzadelli

Faculdade de Ciências da Saúde – Universidade de Brasília


Supervisão
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Sobre a ProEpi

Fundada em 2014, a Associação Brasileira de Profissionais de


Epidemiologia de Campo une pessoas comprometidas com a saúde pública e
estimula a troca de ideias e o aperfeiçoamento profissional entre elas. Ofertando
dezenas de horas de conteúdo profissionalizante em nossa plataforma de ensino
a distância, curadoria de notícias, treinamentos presenciais e a mediação de
oportunidades de trabalho nacionais e internacionais, a ProEpi busca contribuir
para o aprimoramento da saúde pública no Brasil e no mundo.

Apenas nos últimos dois anos, 5 materiais de ensino a distância já


alcançaram mais de 3.000 pessoas pelo Brasil e países parceiros, como
Moçambique, Paraguai e Chile, e mais de 30 treinamentos levaram os temas
mais relevantes para profissionais de saúde pública, como comunicação de risco
e investigação de surtos. Além do público capacitado com nossos conteúdos
educacionais, unimos 10.000 seguidores no Facebook e impactamos
semanalmente cerca de 30.000 com nossa curadoria de notícias.

A ProEpi também atua na resposta a emergências de saúde pública ao


redor do mundo. Foram mais de duas dezenas de profissionais de saúde
enviados para missões em Angola, Bangladesh e África do Sul que contribuíram
para o bem-estar da população local e vivenciaram experiências de trabalho
transformadoras.

Você pode fazer parte dessa evolução ao tornar-se membro de nossa rede:
converse conosco escrevendo para contato@proepi.org.br.
Sobre a ferramenta EAD autoinstrutiva em Entomologia
Aplicada à Saúde Pública

Os insetos são os animais mais bem-sucedidos do planeta e encontram


no Brasil condições muito favoráveis para sua multiplicação. Em nosso clima
quente e, em geral, úmido, eles encontram as circunstâncias ideias para
sobreviver, se reproduzir e transmitir doenças. Como consequência, são motivo
de preocupações cada vez maiores por parte da população e dos profissionais
de saúde de todo o país.

Pensando em preparar estes profissionais para os desafios do


enfrentamento das doenças transmitidas pelos insetos - em especial por Aedes
aegypti - o CONASEMS desenvolveu em parceria com a ProEpi, via TRPJ nº
0125/2017, a ferramenta EAD autoinstrutiva em Entomologia Aplicada à Saúde
Pública.

Neste material, serão apresentados conceitos fundamentais para a


identificação das espécies de maior importância médica, informações sobre seu
comportamento, ciclo de vida e as doenças transmitidas por elas. Temas como
a importância da Vigilância Epidemiológica, os métodos de captura, transporte e
armazenamento de insetos e os indicadores entomológicos para as principais
espécies também serão abordados. Por fim, temas de aplicação prática como os
métodos de controle vetorial, o manejo integrado de vetores e os conceitos de
segurança no trabalho serão discutidos.

As aulas estão cheias de convites para que o profissional reflita sobre sua
realidade local e interaja com seus colegas, além de exercícios que destacam e
promovem a fixação dos conceitos mais fundamentais de cada tema. O objetivo
é que o profissional se sinta preparado para aplicar em seu município as técnicas
aprendidas aqui.

Sucesso!
Sumário

Aula 2 - Principais grupos de insetos vetores de importância para a Saúde


Pública: processo saúde-doença x insetos vetores.......................................... 12

1- Entomologia em Saúde Pública ................................................................ 13

2 - Vetores e agentes infecciosos ................................................................. 18

3 - Principais grupos de insetos de importância em Saúde Pública ............. 22

4 - Surtos, Epidemias e Pandemias .............................................................. 32

Vamos relembrar? ........................................................................................ 38


Aula 2 - Principais grupos de insetos vetores de
importância para a Saúde Pública: processo saúde-
doença x insetos vetores

Como vimos na aula 1, os insetos são seres vivos com


muita importância na Saúde Pública, pois transmitem
doenças que afetam humanos e outros animais.

Nosso curso tem o objetivo de esclarecer a relação entre


os insetos, as doenças e a Saúde Pública.

A Saúde Pública é uma área do conhecimento muito


importante! Ela está preocupada com a saúde e o bem-
estar das coletividades e envolve a Vigilância em Saúde e
a Entomologia Médica.

Nesta aula, vamos mostrar conceitos importantes da


Vigilância em Saúde. Estudaremos eventos de saúde como
surtos, epidemias, endemias e pandemias.

Mostraremos como a Entomologia é importante na


prevenção e controle de doenças transmitidas por vetores!

Esperamos que você possa compreender o ciclo das


doenças transmitidas por vetores.

Ao final desta aula, você será capaz de:


- Conhecer os cenários que envolvem a entomologia na
saúde pública.
- Identificar os principais grupos de insetos com importância
em saúde pública.
- Conhecer o que é surto, epidemia e pandemia.

- Compreender o que é um inseto vetor.

Vamos lá!

12
1- Entomologia em Saúde Pública

Desde os tempos antigos, as doenças transmitidas por


insetos foram responsáveis pela morte de vários povos.
Um exemplo foi a peste negra, uma enfermidade
transmitida por pulgas que matou milhares de pessoas
1Ilustração de um Médico de
na Europa e na Ásia durante o século XIV. Peste - Fonte: Paulus Fürst,
1656 (Domínio Público)

Ainda no século XX, uma epidemia de febre amarela atingiu a África e a América.
E nos anos 2017 e 2018 uma epidemia de febre amarela surgiu território
brasileiro, apresentando casos da doença em diversos estados.

Vítima de Febre Amarela em Darfur, no Sudão - Fonte: UNAMID, 2012 (Licença CC2)

As doenças transmitidas por vetores fazem parte de um grupo de doenças


chamadas de Doenças Infecciosas e Parasitárias - DIP. Esse grupo inclui
doenças transmissíveis como a Síndrome da Imunodeficiência Humana (AIDS),
a Sífilis e as doenças transmitidas por mosquitos, como Dengue, Zika e Malária.

13
O controle das DIP representa
um grande desafio à vigilância,
especialmente as doenças
transmissíveis. Por isso, a
Entomologia Médica é
importante! Quando aliada à
Vigilância em Saúde é capaz
de prevenir ou reduzir o ciclo Esquema com a relação entre doenças infecciosas e transmitidas por
vetores - Fonte: Própria, 2018
de transmissão de doenças de
via vetorial.

Ao longo dos anos, os óbitos relacionados às DIP caíram significamente. No


Brasil, em 1930, as DIP eram responsáveis por 45,7% dos óbitos, em 1980
caíram para 9,3% e mais tarde, em 2006, para 4,9%.

Ainda que os dados mostrem uma diminuição nas doenças transmissíveis,


existem algumas que permanecem e outras são consideradas emergentes ou
reemergentes.

Você já ouviu falar de doença emergente? E doença reemergente?

Doença emergente é um termo que se refere ao surgimento de uma nova doença


ou agravo no contexto da Saúde Pública.

Por exemplo, a Chikungunya, que se introduziu nas américas em 2013 e no ano


de 2014 já tinha se espalhado do México ao Brasil, incluindo diversas ilhas do
Caribe e países Andinos.

A doença se espalhou por todo o


continente se tornando uma doença
emergente.

Doença reemergente é um termo usado


para definir uma doença que foi um
problema de Saúde Pública no passado,
mas que por um tempo foi controlada. Tratamento da AIDS, simbologia - Fonte: Torange.biz
(Licença CC4)

14
Entretanto, a doença passa a apresentar números crescentes que não eram
esperados, apresentando mudança em seu comportamento epidemiológico.

Por exemplo, o Sarampo é uma doença que havia sido eliminada no mundo,
incluindo as américas. Após uma epidemia na Europa, começam a surgir novos
casos na América do Norte e na América do Sul, portanto podemos dizer que
essa é uma doença reemergente.

Se quiser saber mais sobre doenças emergentes e reemergentes, acesse esse


artigo da Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul.

http://www.boletimdasaude.rs.gov.br/conteudo/1441/doen%C3%A7as-
emergentes-e-reemergentes-no-contexto-da-sa%C3%BAde-
p%C3%BAblica-

A dengue é considerada uma das principais doenças reemergentes nos países


tropicais e subtropicais. A dengue tinha sido eliminada na década de 30 do Brasil
e nos anos 80 reemergiu causando várias epidemias.

Outro exemplo é a febre do oeste do Nilo. Introduzida nos Estados Unidos, já


registrou casos no Canadá e ameaça expandir-se para outros países das
Américas por meio da migração de aves, seu hospedeiro mais importante.

Podemos citar também a malária, que continua sendo um dos maiores


problemas de saúde pública ao sul do deserto do Saara na África, no sudeste
asiático e na região amazônica da América do Sul.

As tripanossomíases como a doença de Chagas, transmitidas por protozoários


do gênero Trypanosoma, podem causar sequelas e morte precoce nas pessoas
infectadas.

As leishmanioses, tegumentar e visceral, têm ampliado sua incidência e


distribuição geográfica, apresentando novos casos em grandes centros urbanos
como em São Paulo no ano de 2018.

15
Insetos vetores - Fontes: Picpng (Licença CC0); Stickeroid (Licença CC0); Pngimg (Licença CC4); Pluspng (Licença
CC0); Desconhecida; Pngmart (Licença CC0)

Os inúmeros patógenos transmitidos por vetores têm importância em saúde em


todos os continentes.

Fatores de origem biológica, geográfica, ecológica, social, cultural e econômica


atuam juntos na produção, distribuição e controle das doenças vetoriais.

Para algumas doenças transmitidas por vetores existe tratamento médico,


preventivo ou curativo, bastante eficaz como é o caso da vacina contra a febre
amarela.

A Dengue possui um tratamento baseado em repouso e hidratação, mas a


evolução para um quadro grave podem ser fatal. Sendo uma doença prevenível,
é importante garantir que as pessoas estejam menos expostas ao risco de
contaminação.

Dessa maneira, o relacionamento entre insetos-agentes-hospedeiros e o meio


ambiente pode causar agravos a saúde do homem e a outros animais.

É nessa hora que a Entomologia pode nos ajudar!

Análise de insetos com auxílio de um microscópio - Fonte: US Navy, 2010 (Domínio Público)

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A área da Entomologia médica e veterinária se ocupa do estudo dos insetos
enquanto determinantes no processo saúde-doença do homem e dos animais.
Isso ocorre porque os insetos atuam como agentes etiológicos e como vetores
biológicos ou vetores mecânicos de doenças.

Temos outra importante área de estudo na Saúde Pública que nos ajuda a
compreender e prevenir doenças e agravos: a epidemiologia.

A epidemiologia estuda o processo saúde-doença em populações considerando


o tempo, o espaço e os determinantes sociais, além dos componentes bióticos
(vivos) e abióticos (físicos).

Diferentemente do atendimento clínico, que estuda as condições do indivíduo de


forma isolada, a epidemiologia se preocupa com todas as condições que dizem
respeito ao estado de saúde da população.

A Entomologia Médica é uma área muito importante para a Saúde Pública, pois
compreende os insetos que são vetores para doenças infecciosas aos humanos
e outros animais.

De acordo com o texto, complete as lacunas com as palavras corretas:

1. Os insetos atuam como ________________________ e como


________________________ ou ________________________ de
doenças.

2. A ________________________ estuda o processo


________________________ em populações considerando o tempo, o
espaço e também considera os ________________________.

*respostas no fim da apostila.

no fim da apostila

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Se você gostou desta seção
e tem curiosidade pela
Entomologia na Saúde
Pública, temos uma matéria
que você irá gostar: “Os ratos
são inocentes: pesquisa
aponta que humanos
Os ratos são inocentes - Fonte: H. Zell, 2009 (Licença CC3)
espalharam a peste negra,
epidemia mais mortal da história”, por Victoria Gill da BBC News, disponível aqui.

Para conhecer um pouco sobre a profissão do entomologista acesse o vídeo


“Profissão Cientista - Entomologia”, da Fundação Oswaldo Cruz:

https://www.youtube.com/watch?v=BG7wWT-GN7w

2 - Vetores e agentes infecciosos

Os insetos que transmitem agentes infecciosos ou doenças são chamados de


vetores.

Por exemplo, os mosquitos do gênero Aedes transmitem os vírus da Dengue,


Zika e Chikungunya.

Os barbeiros, insetos da subfamília Triatominae, transmitem o protozoário


causador da doença de Chagas. Flebotomíneos transmitem o parasito causador
da Leishmaniose.

As doenças transmitidas por vetores representam mais de 10% da carga de


doenças infecciosas do planeta. A maior parte da população mundial vive em
regiões de risco para essas doenças.

Este mapa apresenta a distribuição geográfica dos vetores para as malária,


filariose linfática, dengue, leishmaniose, febre amarela, doença de chagas e
oncocercose:

18
Distribuição geográfica de 7 doenças transmitidas por vetores: malária, filariose linfática,
leishmaniose, dengue, encefalite japonesa, febre amarela e doença de Chagas. - Fonte: Golding
et al., 2015

Muitas medidas de controle de vetores são adequadas contra múltiplas doenças.


Portanto, investir em programas com esse objetivo representa uma estratégia
eficaz no enfrentamento simultâneo de várias doenças.

Inseto vetor é todo aquele capaz de transmitir um patógeno, seja de maneira ativa
ou passiva.

Agente infeccioso é qualquer organismo capaz de infectar um indivíduo e gerar


uma infecção a qual pode resultar em doença.

Classificamos insetos vetores em 2 tipos:

Vetor mecânico (ou passivo):

Caracterizado por agentes infecciosos que não dependem do inseto para se


multiplicar, sendo o vetor apenas um meio de transporte.

Exemplo: moscas, formigas, baratas que podem transmitir infecções carregando


os agentes nas pernas e asas.

Vetor biológico (ou ativo):

É a principal via de transmissão do agente, caracterizado pela infecção do inseto.


Ou seja, o agente infeccioso se desenvolve ou se multiplica no vetor.

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Exemplo: o barbeiro, onde o protozoário Trypanosoma cruzi se desenvolve no
seu sistema digestivo, entre outras já citadas como o Aedes.

Vetor mecânico x vetor biológico - Fonte: Skeeze (Licença CC0); Bramadi Arya, 2016 (Licença CC4)

Dessa maneira, existem diversos tipos de patógenos que podem acometer a


saúde da população.

Os principais tipos de agentes infecciosos que podem ser carregados por insetos
são:

Vírus: seres invisíveis a olho nu, formados por uma cápsula protéica que envolve
o material genético.

Os vírus dependem das células para se multiplicarem.

Exemplo: vírus da dengue e da febre amarela que são transmitidos por espécies
de mosquitos (vetor biológico).

Bactérias: organismos unicelulares (formados por uma única célula) que


possuem algumas espécies nocivas à saúde (bactérias causam cólera,
disenteria, febre tifoide).

Exemplo: bactérias podem ser carregadas nas pernas e corpo de baratas e


moscas.

Esses insetos podem ser caracterizados como vetores mecânicos.

Protozoários: são organismos unicelulares que também possuem espécies


causadoras de doenças.

Exemplo: Trypanosoma cruzi é um protozoário causador da doenças de Chagas,


que é transmitido pelas fezes de espécies de triatomíneos.
20
Vermes: organismos invertebrados que podem causar doenças.

Exemplo: algumas espécies parasitas podem ser transmitidas por algumas


espécies de mosquitos e de borrachudos e pode ocasionar a obstrução dos
vasos linfáticos e cegueira.

Bactérias, vírus, protozoários e vermes - Fonte: NIAID, 2015 (Licença CC2); Scinceside,
2014 (Licença CC3); CDC, 1982 (Domínio Público); Desconhecida

Você acabou de estudar a diferença entre o vetor biológico e o vetor mecânico.

Os vetores mecânicos são insetos que transportam os agentes infecciosos sem


causar nenhuma transformação.

Já os vetores biológicos são aqueles insetos que hospedam o agente infeccioso


que se desenvolve ou se multiplica durante o processo.

Além dos vetores, você estudou os agentes infecciosos: vírus, bactérias,


protozoários e vermes. Há outro nome que pode ser dado a eles. Que nome é
esse? Marque a alternativa correta:

a. Patógenos

b. Vetores

c. Reservatórios

d. Agentes transportadores

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A associação entre doenças e insetos transmissores é relativamente
recente.

Em 1884, Carlos Finlay, médico


cubano, defendeu a hipótese de
que a transmissão da febre
amarela aos seres humanos era
feita por mosquitos.

Somente em 1890 a hipótese é


Carlos Finlay - Fonte: Skeeze (Licença CC0); Bramadi
comprovada pela equipe do Arya, 2016 (Licença CC4)

Major Professor Walter Reed.

Em 1906, representando a equipe do Professor Reed, os médicos Carroll


e Agramaonte receberam o Prêmio Nobel de Medicina pelos trabalhos
realizados de comprovação da transmissão da febre amarela pelo Aedes
aegypti.

Quase juntamente, a comprovação da transmissão da malária por


mosquitos do gênero Anopheles, possibilitou conhecer o ciclo completo
desta enfermidade, que ainda representa um dos maiores desafios à
saúde pública mundial.

3 - Principais grupos de insetos de importância em Saúde


Pública

Você sabe quais são os principais grupos de insetos de interesse para a saúde
pública?

22
Os principais grupos de insetos de interesse para a saúde pública são os
mosquitos, as moscas, os flebotomíneos, os triatomíneos, as baratas, as pulgas
e os piolhos.

Aqui estão as principais doenças relacionadas à transmissão por insetos:

Cada grupo de insetos apresenta características próprias importantes para o


controle eficaz da doença.

Mais que isso! Muitas vezes os insetos se comportam com hábitos ecológicos
diversificados e necessitam de medidas de controle específicas!

Por exemplo os mosquitos, que dependendo da espécie apresentam hábitos e


características diferentes.

Enquanto os mosquitos do gênero Aedes são mais encontrados durante o dia,


Anopheles tem preferências ao anoitecer.

Mosquitos:

Pertencem à ordem Diptera, que está dividida em muitos gêneros de importância


médica.

A picada de mosquitos dessa ordem pode transmitir inúmeros patógenos que


geram desde um simples incômodo, processos alérgicos ou mesmo graves
doenças que podem levar ao óbito.

23
Em geral, os machos se alimentam de seiva vegetal e somente as fêmeas se
alimentam de sangue de vertebrados. O sangue é necessário para a maturação
dos ovos.

Esse tipo de alimentação possibilita a infecção dos animais que são a fonte do
alimento, pois o inseto precisa estar em contato direto com o animal e neste
momento transmite os agentes infecciosos.

Vetores associados à transmissão de algumas arboviroses como Dengue, Zika


e Chikungunya, e filarioses, como a filariose linfática (conhecida como
Elefantíase), são de espécies da família Culicidae.

Estas espécies colonizam tanto águas limpas ou ricas em matéria orgânica


quanto poluídas.

As espécies do gênero Anopheles são as responsáveis pela transmissão do


protozoário causador da malária em todo o globo terrestre.

A malária é uma das doenças transmitidas por mosquitos que mais acometem a
saúde humana no mundo, atingido locais como a Amazônia na América do Sul
e países da África.

Com hábitos mais noturnos, o gênero Culex está associado à transmissão da


filária (Wuchereria bancrofti), que é o patógeno causador da Elefantíase.

Esta doença têm alta incidência no continente africano e focos remanescentes


nas regiões Nordeste e Sul do Brasil.

Estima-se que pelo menos 36 milhões de pessoas permanecem com a


manifestação da filariose linfática em áreas tropicais e subtropicais do mundo.
(OMS, 2015).

A doença é endêmica em 72 países.

Você ficou interessado na situação dos países frente ao objetivo de eliminar a filariose
linfática?

A OMS mantém um mapa atualizado com o status dos países na utilização do tratamento
em massa. Acompanhe em http://apps.who.int/neglected_diseases/ntddata/lf/lf.html.

24
O Brasil faz parte de uma iniciativa da OMS para a eliminação da Filariose Linfática até
2020, como você podem ver na notícia “O Brasil avança para a eliminação da transmissão
da Filariose Linfática”, disponível no portal da Organização Panamericana da Saúde
(OPAS/OMS):
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=4608:o-
brasil-avanca-para-a-eliminacao-da-transmissao-da-filariose-linfatica&Itemid=812.

Existem algumas doenças que são de importância em Saúde Pública no Brasil.

Vamos apresentar algumas doenças que acometem a população brasileira e são


o foco do nosso curso.

Dengue:

A dengue atinge mais de 100 países, localizados preferencialmente em áreas


tropicais, mas já há registro de surtos em outros territórios.

As regiões mais afetadas são da América, Sudeste Asiático e Pacífico Ocidental.


Conheça a distribuição geográfica da doença:

Distribuição mundial da dengue no período 2010-2016 - Fonte: Organização Mundial de Saúde, 2017

25
Febre Amarela:

A febre amarela também apresenta números


expressivos afetando cerca de 47 países,
principalmente da África, América Central e do
Sul.

Em 2015, houve registro do início de um surto em


Angola. O país já apresentava a doença, mas não
vivenciava um surto de febre amarela há 28 anos.
A transmissão local para a República
Democrática do Congo foi confirmada. Visualize
a trajetória desse surto:
Meses de surto de febre amarela - Fonte:
Malária: Própria, 2018

A transmissão da malária foi identificada em 95 países em 2015 com uma


concentração de 88% dos casos na África Subsaariana.

Países endêmicos de malária no hemisfério oriental - Fonte: CDC, 2013 (Domínio Público)

26
Chikungunya:

Registros apontam que a Chikungunya


deriva de países asiáticos, chegando
ao Brasil em 2010 e às Américas em
2014. Já foi identificada em mais de 60
países!

Curiosidade: O nome chikungunya


significa “ficar contorcido” na língua
Kimakonde, uma referência a
aparência dos que sofrem com a dor
nas articulações.
Países com casos de Chikungunya em 2017 - Fonte:
Organização Panamericana de Saúde, 2017

Zika:

No caso da Zika, os primeiros casos no Brasil foram confirmados em dezenas


de países em todo o mundo em 2015.

Distribuição do vírus Zika em janeiro de 2016 - Fonte: CDC, 2016

27
No Brasil, afetou primeiramente as regiões do Centro-Oeste e Nordeste. Estudos
da OMS sugerem uma relação do vírus Zika com a microcefalia e a síndrome de
Guillain-Barré, representando um desafio para a saúde pública.

Moscas:

Assim como os mosquitos, as moscas pertencem à ordem Diptera, apresentando


uma grande diversidade de espécies que possuem interesse em saúde pública.

Esses insetos causam desconforto para as populações humanas e animais que


pode proporcionar prejuízos à economia pecuária e transmitir agentes
patogênicos.

O ciclo de vida é considerado holometábolo (apresentando estágio de ovo, larva,


pupa e adulto alado). E pode ser transmitido por meio da miíase.

A miíase é uma infecção parasitária que se deve à infestação por larvas de


insetos nos tecidos ou cavidades do corpo. Elas podem ser classificadas como:

Mosca no alimento - Fonte: PublicDomainPictures (Licença CC0)

Miíase primária: os ovos da mosca são depositados sobre a pele sadia e


quando se rompem, as larvas invadem os tecidos subcutâneos do hospedeiro.
Popularmente, as larvas da miíase primária são conhecidas como berne.

28
Miíase secundária: os ovos da mosca são depositados em feridas
abertas e suas larvas se alimentam desse tecido já necrosado. Popularmente,
essas larvas são conhecidas como bicheira.

Miíase acidental: a miíase acidental acontece quando alguém ingere um


alimento que esteja infectado com larvas de moscas, o que pode gerar distúrbios
graves.

Flebotomíneos:

Os flebotomíneos são insetos pequenos de cor amarelada e pertencem à ordem


Diptera, mesmo grupo das moscas, mosquitos e borrachudos.

A leishmania, por exemplo, é


transmitida aos mamíferos por
insetos vetores ou transmissores
conhecidos como flebotomíneos.

A transmissão acontece quando


uma fêmea infectada de
flebotomíneo passa o protozoário
a uma vítima sem a infecção
enquanto se alimenta de seu
Flebotomíneo na pele - Fonte: CDC, 2006 (Domínio Público)
sangue.

O ser humano, assim como mamíferos silvestres (preguiças, gambás e lobos,


por exemplo) e domésticos (como cão e cavalo) pode ser infectado pela fêmea
de espécies de flebotomíneos.

As formas clínicas das leishmanioses estão relacionadas à diversidade de


espécies de Leishmania e à capacidade de resposta imunitária de cada indivíduo
à infecção.

As leishmanioses tegumentares causam lesões na pele, mais comumente


chamadas de ulcerações, e atacam as mucosas do nariz e da boca em casos
mais graves.

29
Já a leishmaniose visceral, como o próprio nome indica, afeta as vísceras (ou
órgãos internos), sobretudo, fígado, baço, gânglios linfáticos e medula óssea e
pode levar à morte quando não tratada.

Os sintomas incluem febre, emagrecimento, anemia, aumento do fígado e do


baço, hemorragias e imunodeficiência.

As doenças causadas por bactérias (principalmente pneumonias) ou


manifestações hemorrágicas são as causas mais frequentes de morte nos casos
de leishmaniose visceral, especialmente em crianças.

Triatomíneos:

A principal importância desse grupo é a atuação na transmissão do


Trypanosoma cruzi, protozoário causador da doença de Chagas.

Existem 150 espécies de triatomíneos que podem atuar na transmissão desse


patógeno: Triatoma, Rhodnius e Panstrongylus.

Os triatomíneos possuem hábitos noturnos, se escondem em fendas nas


paredes e telhados durante o dia e saem à noite para se alimentar.

Após ingerir o sangue de um animal, o inseto


defeca na pele, eliminando os protozoários.
Quando o indivíduo coça o local ou se já
houver alguma ferida, os protozoários
penetram na pele e caem na corrente
sanguínea causando a doença de Chagas.

É aí que ocorre a transmissão do patógeno!

Também pode ocorrer a transmissão através


do sangue contaminado e durante a gravidez,
onde a mãe passa o protozoário para o filho.

Outra forma de transmissão da doença é pela


ingestão de alimentos contaminados com o seu
Triatomíneo transmitindo Trypanossoma cruzi vetor ou suas fezes trituradas.
- Fonte: Bramadi Arya, 2016 (Licença CC4)

30
Baratas:

Sua importância
epidemiológica está
relacionada à transmissão de
bactérias pelos alimentos,
principalmente, pela
regurgitação e deposição de
excrementos ou pelo contato
Baratas no alimento - Fonte: Desconhecida
direto.

Os patógenos, como a bactéria Salmonella, podem permanecer no tegumento,


tubo digestivo ou excretas do inseto durante dias ou semanas.

Se o alimento contaminado não for higienizado e preparado de maneira


adequada, o indivíduo que consumi-lo poderá adoecer.

Pulgas:

As pulgas são objeto de interesse da Saúde


Pública porque a sua picada pode infectar animais
roedores e humanos.

A peste é um exemplo de doença transmitida por Lamina de uma Pulga - Fonte:


Desconhecida
meio das pulgas aos seres humanos. Além de
gerar processos dermatológicos e alérgicos, elas podem transmitir outros
patógenos, como o agente causador da febre tifóide.

Piolhos:

Os piolhos causam grande desconforto


devido à coceira.

A coceira é causada pela saliva do


inseto quando introduzida durante o
momento da alimentação do sangue no
indivíduo, ou seja, no momento da Piolho no cabelo humano - Fonte: Gilles San Martin, 2010
(Licença CC2)
picada.

31
Em muitas pessoas, ocorre a coceira na região por conta do processo alérgico,
o que pode provocar feridas que se não tratadas da maneira correta, infeccionam
e podem gerar problemas maiores.

Você identificou os mosquitos, moscas, triatomíneos, baratas, pulgas e piolhos


como os principais grupos de insetos que participam do ciclo de transmissão de
doenças.

Além de conhecer as suas principais características, compreendeu os tipos de


doenças e formas de transmissão ao ser humano. Agora, está na hora de
exercitar! Marque a alternativa correta:

A leishmaniose, malária e doença de chagas são doenças causadas por:

a. Protozoários

b. Mosquitos

c. Bactérias

d. Vírus

4 - Surtos, Epidemias e Pandemias

Um agravo é considerado problema de saúde pública quando assume


proporções relevantes que afetam os seres humanos. Ou seja, quando sua
incidência aumenta de forma inesperada.

Um problema se torna um evento em Saúde Pública quando se torna difícil de


controlar e pode se espalhar por diversas regiões comprometendo a saúde ou a
vida de indivíduos ou mesmo de coletividades.

Baseado no conceito de evento em saúde, é importante entendermos a diferença


entre três tipos de eventos: o surto, a epidemia e a pandemia.

Surto:

32
Ocorre quando há o aumento repentino do número de casos de uma doença em
uma região específica.

Ilustração de surto na Cidade do México - Fonte: Lucy Nieto, 2015 (Licença CC2)

Para ser considerado surto, o aumento de casos deve ser maior do que o
esperado pelas autoridades.

Exemplo: Em 2009, surgiram alguns casos de gripe suína em uma cidade no


México.

As autoridades da cidade onde os primeiros casos surgiram não esperavam por


casos da doença, por isso se diz que foi um surto de gripe suína, que mais tarde
veio a ser confirmada como Influenza H1N1.

Epidemia:

A epidemia ocorre quando a incidência de casos é maior do que a esperada em


diversas regiões ao mesmo tempo.

A nível estadual, a epidemia acontece quando diversas cidades têm mais casos
do que o esperado para aquele local e momento.

A nível nacional quando há mais casos do que o esperado em diversos estados


ou províncias do país para aquele momento.
Ilustração de epidemia em regiões do México - Fonte: Própria, 2018

33
Ilustração de epidemia em regiões do México - Fonte: Própria, 2018

Exemplo: O surto de H1N1 no México começou a se espalhar por outras cidades


e estados.

Com o acometimento de outras cidades e estados, o surto se transformou em


uma epidemia.

Pandemia:

Em uma escala de gravidade, a pandemia é o pior dos cenários, pois acontece


quando uma epidemia se espalha por diversas regiões do planeta, atingindo um
ou mais continentes ao mesmo com um número maior que o esperado de casos
para um mesmo agravo ou doença.

Exemplo: A epidemia de
H1N1, que se originou no
México, se espalhou pela
América do Norte,
transformando-se em uma
pandemia.

Ao se espalhar por um
continente inteiro, já foi
Ilustração de pandemia - Fonte: Própria, 2018
classificada como
34
pandemia. Essa pandemia ainda atingiu outros continentes como Europa e
América do Sul.

Outro exemplo considerado pandemia foi a transmissão do vírus HIV, causador


da AIDS. Foi identificada em 1981 e se espalhou rapidamente pelo mundo.
Registros mostram que a AIDS foi responsável pela morte de 2,1 milhões de
pessoas em 2007.

A África Subsaariana é a região mais afetada com essa doença. Conheça as


regiões com maiores casos de pessoas portadoras do vírus HIV.

Podemos citar outro exemplo para esses eventos de saúde:

Outro exemplo conhecido de pandemia foi a transmissão do vírus HIV causador


da AIDS no seu início, como doença emergente na década de 1980.

Identificada em 1981 como um surto na Califórnia, se transformou em epidemia


ao acometer diversos estados dos Estados Unidos da América.

Descobriu-se que havia casos na África e, rapidamente, a doença se espalhou


pela América, África e Europa, se transformando em pandemia.

Atualmente, há casos de HIV em todos os continentes do mundo!

Em 2009, o mundo enfrentou uma pandemia de H1N1, doença


emergente na época que teve seu primeiro caso no México.

Se você quiser saber mais sobre o surgimento da doença, temos


algumas notícias da época que mostram como essa doença se espalhou
entre os humanos.

A notícia “Garoto de 5 anos é considerado o 'paciente zero' da gripe


suína no México” do G1, que mostra o primeiro paciente que contraiu
H1N1 no México:
http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1102504-
16726,00-
GAROTO+DE+ANOS+E+CONSIDERADO+O+PACIENTE+ZERO+DA
+GRIPE+SUINA+NO+MEXICO.html

35
A notícia “Frio faz gripe suína se espalhar por países vizinhos ao Brasil”,
da BBC Brasil, mas disponível no G1, mostra como a doença se
espalhou na América do Sul:
http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1193084-
16726,00-
FRIO+FAZ+GRIPE+SUINA+SE+ESPALHAR+POR+PAISES+VIZINH
OS+AO+BRASIL.html

A notícia “Espanha registra primeiro caso de gripe suína em paciente


que não foi ao México”, do G1, mostra um caso da doença na Europa:
http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1102655-
16726,00-
ESPANHA+REGISTRA+PRIMEIRO+CASO+DE+GRIPE+SUINA+EM+
PACIENTE+QUE+NAO+FOI+AO+ME.html

Você estudou alguns dos conceitos básicos da Saúde Pública, como surto,
epidemia e pandemia.

É importante entender esses termos e a diferença entre eles para poder


identificar a gravidade do evento de saúde e quais as estratégias para combatê-
lo.

O surto ocorre quando há um número de casos maior que o esperado em uma


determinada localidade.

A partir do momento em que o número de casos aumenta em vários locais,


crescendo de maneira inesperada, ocorre a epidemia, que é o aumento
inesperado de casos a nível regional e nacional.

A pandemia ocorre quando o aumento do número de casos ultrapassa o limite


dos países atingindo continentes ou até mesmo o mundo inteiro!

Com base no que você aprendeu, marque a alternativa correta.

36
Quando há um aumento considerado do número de casos de uma doença em
determinada região, temos um:

a. Epidemia

b. Surto

c. Pandemia

d. Incidência

Você já vivenciou um momento de surto, epidemia ou pandemia? Se lembra de


como foi o controle em seu município ou estado? Como conseguiram controlar a
situação?

Podemos refletir sobre a epidemia de febre pelo vírus Zika que enfrentamos no
Brasil em 2015.

A epidemia começou com surtos em estados do Nordeste.

Essa doença pode ser considerada uma doença emergente no Brasil, pois não
esperávamos que a doença fosse ocorrer de maneira tão forte no país.

Nem mesmo tínhamos registros de casos da doença em terras tupiniquins!

Segundo o Ministério da Saúde, em 2017 foram 17.594 casos de Zika.

Parece que é um número grande de casos não é?

No ano anterior, 2016, tivemos 216.207 casos.

Considerando a população brasileira dos dois anos, podemos afirmar que a


incidência caiu entre os dois anos.

Até a semana epidemiológica 10 de 2018 tivemos uma incidência de 0,6 casos


para cada 100.000 habitantes.

37
Durante o seu pior período, em 2015, surgiram vários casos de microcefalia, que
podem ter associação com a doença. Atualmente, a incidência da doença vem
caindo no país.

Vamos relembrar?

Compreendemos os principais fatos que envolveram a


entomologia e marcaram a história da saúde pública
como a peste negra e a epidemia da febre amarela.

Também conhecemos os principais insetos e suas


características, que são os mosquitos, moscas,
flebotomíneos, baratas, triatomíneos, pulgas e piolhos.
E as doenças que podem ser desenvolvidas por esses
insetos.

Estudamos que os agravos podem assumir diferentes


proporções como surtos, epidemias e pandemias. A
principal diferença entre eles é a dimensão do agravo
que pode se espalhar por diversas regiões.

Por último, aprendemos que o inseto vetor pode


transmitir a doença por processo mecânico (passivo)
ou biológico (ativo), e que os principais agentes
infecciosos são vírus, bactérias, protozoários e vermes.

Essa aula apresentou um panorama da relação dos


insetos com as doenças no contexto mundial.

O conteúdo apresentado mostra a importância da


entomologia no enfrentamento dos problemas que
mais afetam a Saúde Pública.

38
Nas próximas aulas da nossa área 1 vamos aprofundar
o conhecimento na entomologia geral.

Até mais!

39
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40
Referências

MARCONDES, C.B. Entomologia médica e veterinária. 2a edição. São Paulo,


Editora Atheneu, 2011. 526 p. ilus. ISBN 978-85-388-0183-2.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento


de Vigilância Epidemiológica. Doenças infecciosas e parasitárias : guia de
bolso / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento
de Vigilância Epidemiológica. – 8. ed. rev. – Brasília : Ministério da Saúde, 2010.
444 p. : Il. – (Série B. Textos Básicos de Saúde)

SOERENSEN, B; BRIENZA, K; MARULLI, B. Manual de Saúde Pública. Marília,


Editora Unimar, 1999. 498 p.

PORTO, Gabriela. Disponível em:


<:https://www.infoescola.com/doencas/pandemia/> Acesso em: 20/03/2018.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Disponível em:


<http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=528
7:malaria-2&Itemid=875>. Acesso em: 04/04/2018.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Monitoramento e avaliação


epidemiológica da intervenção com tratamentos coletivos: manual para
programas nacionais de eliminação da filariose. 2015.

GOLDING, A. L. N. Integrating vector control across diseases. BMC


Medicine, 13:249, 2015.

41
Créditos das imagens

1. Ilustração de um Médico de Peste - Fonte: Paulus Fürst, 1656 (Domínio


Público)

Disponível em:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Paul_Fürst,_Der_Doctor_Schnabel_vo
n_Rom_(Holländer_version).png

2. Prisioneiros famintos - Fonte: Lt. Arnold E. Samuelson, 1945 (Domínio


Público)

Disponível em:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ebensee_concentration_camp_prisone
rs_1945.jpg

3. Vítima de Febre Amarela em Darfur, no Sudão - Fonte: UNAMID, 2012


(Licença CC2)

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/unamid-photo/9172799093

4. Esquema com a relação em entre doenças infecciosas e transmitidas por


vetores - Fonte: Própria, 2018

5. Tratamento da AIDS, simbologia - Fonte: Torange.biz (Licença CC4)

Disponível em: https://torange.biz/fx/treatment-aids-effect-mirror-macro-5831

6. Insetos de importância - Fonte: Picpng (Licença CC0); Stickeroid (Licença


CC0); Pngimg (Licença CC4); Pluspng (Licença CC0); Desconhecida; Pngmart
(Licença CC0)

Disponível em: https://www.picpng.com/image/mosquito-png-36702;


https://stickeroid.com/uploads/pic/full/9955ccc8cc64dc6bdc815d1a0bf19a312df
cd359.png; http://pngimg.com/download/18171; http://pluspng.com/png-
25774.html; http://www.insetologia.com.br/2013/12/barbeiro-em-sao-paulo.html;
http://www.pngmart.com/image/74199

7. Análise de insetos com auxílio de um microscópio - Fonte: US Navy, 2010


(Domínio Público)

42
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:US_Navy_100506-N-
7498L-
189_Lt._Brian_Heintschel_studies_a_sample_of_insects_collected_from_ships
_and_shore_facilities.jpg

8. Os ratos são inocentes - Fonte: H. Zell, 2009 (Licença CC3)

Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rattus_rattus_01.JPG

9. Distribuição geográfica de 7 doenças transmitidas por vetores - Fonte:


Golding et al., 2015

Disponível em:
https://bmcmedicine.biomedcentral.com/track/pdf/10.1186/s12916-015-0491-
4?site=bmcmedicine.biomedcentral.com

10. Vetor mecânico x vetor biológico - Fonte: Skeeze (Licença CC0); Bramadi
Arya, 2016 (Licença CC4)

Disponível em: https://pixabay.com/en/fly-macro-feeding-insect-wings-


1236340/; https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Genus_Triatoma.jpg

11. Bactérias, vírus, protozoários e vermes - Fonte: NIAID, 2015 (Licença CC2);
Scinceside, 2014 (Licença CC3); CDC, 1982 (Domínio Público); Desconhecida

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/niaid/16598492368/;


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Mers-virus-3D-image.jpg;
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Giardia_1.jpg;
http://bioinfo.bisr.res.in/cgi-
bin/project/foodpath/get_details.cgi?group=helminths&&organism=Dioctophyme
%20renale

12. Carlos Finlay - Fonte: Skeeze (Licença CC0); Bramadi Arya, 2016 (Licença
CC4)

Disponível em: https://www.wiki.sanitarc.si/1880-carlos-finlay-described-


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13. Distribuição mundial da dengue no período 2010-2016 - Fonte:


Organização Mundial de Saúde, 2017

43
Disponível em: http://www.who.int/denguecontrol/epidemiology/en/

14. Meses de surto de febre amarela - Fonte: Própria, 2018

15. Países endêmicos de malária no hemisfério oriental - Fonte: CDC, 2013


(Domínio Público)

Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Malaria-


endemic_countries_eastern_hemisphere-CDC.png

16. Países com casos de Chikungunya em 2017 - Fonte: Organização


Panamericana de Saúde, 2017

Disponível em:
http://www.paho.org/hq/images/stories/AD/HSD/IR/Viral_Diseases/Chikungunya
/CHIKV-Data-Caribbean-2017-EW-51.jpg

17. Distribuição do vírus Zika em janeiro de 2016 - Fonte: CDC, 2016

Disponível em:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:CDC_map_of_Zika_virus_distribution_
as_of_15_January_2016.png

18. Mosca no alimento - Fonte: PublicDomainPictures (Licença CC0)

Disponível em: https://pixabay.com/en/fly-insects-wing-bug-pest-disease-21152/

19. Flebotomíneo na pele - Fonte: CDC, 2006 (Domínio Público)

Disponível em:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Phlebotomus_pappatasi_bloodmeal_be
gin.jpg

20. Triatomíneo transmitindo Trypanossoma cruzi - Fonte: Bramadi Arya, 2016


(Licença CC4)

Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Genus_Triatoma.jpg

21. Baratas no alimento - Fonte: Desconhecida

Disponível em: http://les-cafards.fr/le-cafard-maison-est-il-dangereux-les-


maladies-transmises-par-eux/

44
22. Pulga - Fonte: Desconhecida

Disponível em: http://www.bluevalleyanimalhospital.net/blog/fleas-and-


ticks/#more-30

23. Piolho no cabelo humano - Fonte: Gilles San Martin, 2010 (Licença CC2)

Disponível em:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Male_human_head_louse.jpg

24. Ilustração de surto na Cidade do México - Fonte: Lucy Nieto, 2015 (Licença
CC2)

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/lucynieto/16685275482

25. Ilustração de epidemia em regiões do México - Fonte: Própria, 2018

26. Ilustração de pandemia - Fonte: Própria, 2018

45
Respostas dos exercícios (em ordem de aparição)

1. De acordo com o texto, complete as lacunas com as palavras corretas:

agentes etiológicos, vetores biológicos, vetores mecânicos

epidemiologia, saúde-doença, determinantes sociais

2. Complete a frase com as palavras corretas para descobrir o conceito de vetor mecânico:

vetor mecânico, transporta, patógeno

Marque a alternativa correta:

a. Patógenos

3. A leishmaniose, malária e doença de chagas são doenças causadas por:

a. Protozoários

4. Quando há um aumento considerado do número de casos de uma doença em determinada

região, temos um:

b. Surto

46

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