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CURSO: MEDICINA VETERINÁRIA

FISIOPATOLOGIA DA REPRODUÇÃO APLICADA MEDICINA VETERINÁRIA

TUTOR: WALDOMIRO CASTAGNA JUNIOR

RINOTRAQUEITE BOVINA
INFECCIOSA

ELISA PREGNOLATO ARMAZAN


ISADORA RODRIGUES DOS SANTOS
PRISCILA ARAÚJO

SÃO JOSÉ / SC
2023

1
SUMÁRIO

RESUMO 3
ABSTRACT 4
INTRODUÇÃO 5
ETIOLOGIA 6
EPIDEMIOLOGIA 7
PATOGENIA 9
VULVOVAGINITE PUSTULAR INFECCIOSA 10
BALANOPOSTITE PUSTULAR INFECCIOSA 11
ABORTO PÓS-VACINAÇÃO 11
REDUÇÃO DA FERTILIDADE 12
PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS E CONJUNTIVAIS 12
SINAIS CLÍNICOS 13
DIAGNÓSTICO 14
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 14
PREVENÇÃO E CONTROLE 15
CONCLUSÃO 17
REFERÊNCIAS 18

2
RESUMO

A rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR) é uma doença específica que afeta os bovinos e é
causada pelo herpes-vírus. Essa enfermidade tem impactos financeiros negativos na indústria
de produção de bovinos devido a diversos efeitos adversos, como o atraso no crescimento de
animais jovens, a diminuição na produção de leite, a morte de embriões e abortos,
principalmente durante o segundo ou terceiro trimestre de gestação. O herpes-vírus bovino
tipo 1 (HVB-1) está amplamente disseminado em todo o Brasil, afetando muitos rebanhos
com altas taxas de infecção. Esta revisão tem como objetivo reunir e discutir os principais
aspectos dessa doença, com o propósito de alertar os profissionais sobre a importância de
implementar medidas eficazes de controle e programas de prevenção, a fim de evitar a
propagação da IBR entre os rebanhos bovinos.
Palavras-chave: reprodução, rinotraqueíte, bovinos.

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ABSTRACT

Infectious bovine rhinotracheitis (IBR) is a specific disease that affects cattle and is caused by
the herpes virus. This disease has negative financial impacts on the cattle production industry
due to several adverse effects, such as the delay in the growth of young animals, the decrease
in milk production, the death of embryos and abortions, mainly during the second or third
trimester of pregnancy. . Bovine herpes virus type 1 (HVB-1) is widespread throughout
Brazil, affecting many herds with high infection rates. This review aims to gather and discuss
the main aspects of this disease, with the purpose of alerting professionals about the
importance of implementing effective control measures and prevention programs in order to
avoid the spread of IBR among cattle herds.
Keywords: reproduction, rhinotracheitis, cattle.

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INTRODUÇÃO

A rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR) é uma das doenças mais importantes na


Medicina Veterinária e é causada pelo herpes-vírus bovino tipo 1 (BoHV-1), que resulta em
perdas econômicas consideráveis em todo o mundo. Esta doença afeta tanto o sistema
respiratório quanto o genital dos bovinos e está associada à ocorrência de meningoencefalite.
O vírus está relacionado a problemas reprodutivos significativos, como a morte precoce de
embriões e abortos, que representam as perdas mais significativas associadas a esse patógeno
(OLIVEIRA et al., 2011).
Os sintomas da IBR na forma respiratória incluem tosse, secreção nasal e conjuntivite.
A gravidade dos sinais clínicos varia, podendo ir de leves a graves, especialmente quando
ocorre pneumonia bacteriana secundária e dificuldade respiratória. Na ausência de pneumonia
bacteriana, a recuperação geralmente ocorre em 4 a 5 dias após o início dos sinais. Como o
vírus pode permanecer latente no organismo após a infecção e a resposta de anticorpos é
duradoura, qualquer animal com anticorpos positivos deve ser considerado como potencial
portador e disseminador do vírus (OIE, 2008).
Essa doença também está associada a problemas como morte embrionária e fetal,
atraso no crescimento de animais jovens, redução na produção de leite e abortos, que são mais
comuns no segundo ou terceiro trimestre de gestação. Isso resulta em impactos econômicos
negativos devido à diminuição na eficiência reprodutiva de vacas e touros (ALFIERI et al.,
1998; NARDELLI et al., 2008).
O objetivo desta revisão é reunir e abordar os principais aspectos da IBR, com o
intuito de alertar os profissionais da área veterinária sobre a importância da implementação de
um controle eficaz e de programas de prevenção eficazes, a fim de evitar a propagação dessa
doença nos rebanhos bovinos.

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ETIOLOGIA

A rinotraqueíte infecciosa bovina e a vulvovaginite pustular infecciosa (IBR/VIP) são


doenças específicas que afetam o gado e são causadas pelo BoHV-1, um vírus de DNA
pertencente à família Herpesviridae, subfamília Alphaherpesviridae e gênero Varicellovirus,
com diferentes subtipos, incluindo o 1.1, 1.2a e 1.2b, bem como duas cepas distintas (1 e 2).
O subtipo BoHV-1.1 é mais agressivo do que o BoHV-1.2. O genoma viral é composto por
DNA de dupla cadeia que codifica aproximadamente 70 proteínas, sendo 33 delas estruturais
e mais de 15 não estruturais. Glicoproteínas virais localizadas na superfície do vírus
desempenham um papel importante na patogênese e na resposta imunológica (THIRY et al.,
2008; OIE, 2012).

De acordo com FLORES (2007), o subtipo BoHV-1.1 está associado a sintomas


respiratórios e problemas reprodutivos, como infertilidade e abortos em bovinos. O subtipo
BoHV-1.2a está relacionado a várias manifestações clínicas, incluindo distúrbios reprodutivos
(abortos), doenças do trato genital e problemas respiratórios. Enquanto o BoHV-1.2b
geralmente causa doença respiratória leve, vulvovaginite pustular infecciosa (VIP) e
balanopostite infecciosa pustular (IBP), nunca foi associado a abortos. A adaptação do vírus a
órgãos ou sistemas específicos depende da via de entrada, podendo resultar em uma doença
febril generalizada com sintomas respiratórios (IBR), uma síndrome genital (VIP) ou uma
infecção das vias respiratórias superiores. A transmissão da forma genital ocorre por meio do
coito. Além disso, o vírus pode causar meningoencefalite, conjuntivite, VIP, IBP e
mortalidade neonatal devido à infecção sistêmica (MUYLKENS et al., 2007; SILVA et al.,
2007).

O BoHV-1 causa a morte das células após a infecção devido à manipulação da


maquinaria celular em favor da produção de proteínas virais. Além disso, pode permanecer
em estado latente nos gânglios dos nervos sensoriais, principalmente nos gânglios trigêmeo e
sacral. A reativação viral pode ocorrer quando os animais enfrentam situações de estresse que
enfraquecem a resposta imunológica, resultando na liberação subsequente de partículas virais
e contribuindo para a disseminação contínua do vírus na população bovina. A reativação

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também pode ocorrer durante a gestação, no momento do parto ou em resposta ao tratamento
com corticoides ou outros medicamentos imunossupressores, o que pode levar a outras formas
de infecção. A infecção por esse vírus é persistente (COLODEL et al., 2002; VIEIRA et al.,
2003; HIRSCH & FIGUEIREDO, 2006).

EPIDEMIOLOGIA

O BoHV-1, um vírus que afeta os bovinos, está amplamente disseminado em todas as


regiões do Brasil, resultando em altos níveis de infecção nos rebanhos (BEZERRA et al.,
2012). Estudos conduzidos por VIEIRA et al. (2003) e BARBOSA et al. (2005) na região
Centro-Oeste identificaram taxas de soropositividade de 83% e 51,9%, respectivamente, em
rebanhos de bovinos. Na região Nordeste, foram relatadas prevalências de anticorpos variando
entre 56% e 96% (SILVA et al., 1995; MELO et al., 1997; CERQUEIRA et al., 2000;
SOUSA et al., 2011). Em Minas Gerais, MELO et al. (2002) encontraram anticorpos contra o
BoHV-1 em uma faixa que varia de 14,2% a 87,3%. Na região Sul, a presença do vírus foi
detectada em taxas que variam de 18,8% a 64,41% em animais reagentes (LOVATO et al.,
1995; VIDOR et al., 1995; MÉDICI et al., 2000; DIAS et al., 2008).
A forma mais comum de introdução da IBR nos rebanhos é através das secreções
reprodutivas, embora também possa ser transmitida através das secreções respiratórias e
oculares (URBINA et al., 2005).
O BoHV-1 encontra seu principal reservatório em bovinos e pode ser transmitido de
forma direta ou indireta. A transmissão direta envolve o contato direto com as mucosas e
secreções, como sêmen, inalação de partículas de aerossóis, secreções nasais, oculares e
genitais, bem como anexos fetais de animais infectados, sendo a forma mais significativa de
transmissão, principalmente em rebanhos de criação intensiva ou semi-intensiva. Isso torna
locais como confinamentos, leilões, exposições e torneios propensos à disseminação da
doença (MOREIRA et al., 2001; RADOSTITS et al., 2007).
RADOSTITS et al. (2002) destacam que a transmissão do BoHV-1 ocorre
principalmente por meio de contato nasal direto. Além disso, a infecção do trato genital é
transmitida durante o coito. É possível também que ocorra transmissão cruzada entre as

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formas respiratórias e genitais. Além disso, a transmissão de mãe para feto através da placenta
já foi documentada e depende do estado imunológico da fêmea no momento da infecção
(RADOSTITS et al., 2007).
A transmissão indireta ocorre principalmente por aerossóis e objetos contaminados. A
inseminação artificial (IA) desempenha um papel importante na introdução da doença em
rebanhos que nunca tiveram contato com o vírus (TAKIUCHI et al., 2001). Para as formas
genitais do BoHV-1 (VIP/IBP), a monta natural é a principal via de contágio para ambos os
sexos. Embora a transmissão direta através do contato com secreções contaminadas pelo
BoHV-1 seja a forma mais comum de transmitir o vírus, a transmissão indireta pelo ar já foi
demonstrada, pelo menos em ambientes controlados, e pode desempenhar um papel
importante na disseminação da IBR. Também é possível a disseminação através de portadores
assintomáticos do vírus que têm infecções latentes e estão eliminando o vírus devido a fatores
que enfraquecem o sistema imunológico (MARS et al., 1999).
Touros com o vírus em estado de latência representam um desafio especial quando
usados na produção de sêmen, pois o sêmen pode ser contaminado com grandes quantidades
de BoHV-1 durante episódios de reativação viral. A reativação do vírus pode ocorrer em
animais clinicamente saudáveis, que passariam a apresentar infecções leves ou subclínicas.
Portanto, a detecção de sinais clínicos tem um valor limitado na prevenção da transmissão
através do coito (ROCHA et al., 1995).
Após aproximadamente dois a sete dias da infecção pelo coito, os touros começam a
eliminar o BoHV-1 na mucosa prepucial, e o vírus entra em um estado de latência após essa
primeira fase de infecção (HUCK et al., 1971). OLIVEIRA et al. (2011) detectaram uma taxa
de positividade de 44,7% em 76 amostras de sêmen coletadas nos estados do Rio Grande do
Sul e de Goiás. Portanto, o sêmen contaminado pelo BoHV-1 desempenha um papel
significativo na disseminação da doença, pois o agente pode ser transmitido por meio de IA e
monta natural (TAKIUCHI et al., 2001).
BARBOSA et al. (2005) estimaram a prevalência da infecção por BoHV-1 em 6.932
amostras de soro de animais não vacinados em rebanhos bovinos no Estado de Goiás, e a
prevalência observada foi de 51,9%. O uso de antimicrobianos no processo de congelamento
do sêmen não afeta o vírus, pois não o inativa, permitindo que o vírus mantenha seu potencial
de infecção ativo. Portanto, a IA é uma via potencial de transmissão do vírus nas populações,
e touros usados na IA devem ser submetidos a exames sorológicos para a doença

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regularmente (LATA JAIN, 2006).
Embora todas as raças e idades sejam suscetíveis à infecção, a doença tende a ocorrer
com mais frequência em animais com mais de seis meses de idade, e taxas de prevalência
mais elevadas são observadas em idades mais avançadas (BARBOSA et al., 2005). Vacas
com mais de quatro anos têm um risco 2,36 vezes maior de contrair a IBR do que as de faixas
etárias mais jovens (URBINA et al., 2005).

PATOGENIA

A replicação do vírus BoHV-1 ocorre nas células que revestem as mucosas das vias
respiratórias, dos olhos e do trato genital. A disseminação do vírus pode acontecer de várias
maneiras, seja através da corrente sanguínea, dos nervos ou diretamente entre as células (de
uma célula para outra). Nas terminações nervosas, o vírus entra em um estado latente, onde
fica inativo nos gânglios nervosos. Posteriormente, por meio de reativação, o vírus retoma o
ciclo ativo de replicação (ROCHA et al., 1999).
Conforme explicado por RADOSTITS et al. (2002), o BoHV-1 inicialmente infecta as
cavidades nasais e o trato respiratório superior, levando a sintomas como rinite, laringite e
traqueíte. A tonsila faríngea é uma das primeiras áreas a serem infectadas. A infecção provoca
uma perda significativa dos cílios na traqueia, fazendo com que o epitélio da traqueia seja
coberto por microvilosidades. A disseminação do vírus dos seios nasais para os tecidos
oculares provavelmente ocorre através dos ductos lacrimais, resultando em conjuntivite com
inchaço e vermelhidão da conjuntiva, formação de áreas com lesões múltiplas na conjuntiva,
inchaço periférico da córnea e crescimento de vasos sanguíneos profundos nos olhos.
O vírus também pode atingir os tecidos cerebrais a partir da mucosa nasal através do
nervo trigêmeo, causando uma condição conhecida como meningoencefalite. Além disso, em
casos raros, o vírus pode causar uma forma sistêmica de doença com alta taxa de mortalidade
em bezerros jovens (ACKERMANN & ENGELS, 2006).
De acordo com NANDI et al. (2009), a presença do vírus na corrente sanguínea
(viremia) só pode ser demonstrada, mas não resulta em replicação significativa do vírus.
Outros estudos, como os de NYAGA & MCKERCHER (1980), mostraram que o vírus pode

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infectar os monócitos no sangue, mas a replicação viral e sua liberação são limitadas nesse
contexto. Além disso, o BoHV-1 pode se ligar a linfócitos, que podem atuar como veículos
para o vírus, desde que não haja anticorpos neutralizantes presentes. Em infecções por
Alphaherpesvirus, como o BoHV-1, a propagação pelo corpo é facilitada pela invasão dos
gânglios linfáticos e vasos linfáticos, seguida pela presença de linfócitos associados à viremia.
ENGELS & ACKERMANN (1996) sugerem que durante a replicação inicial na porta de
entrada, o vírus pode entrar nos axônios das células nervosas locais. Posteriormente, por meio
do transporte dentro dos axônios, o vírus alcança os corpos de neurônios nos gânglios
regionais, onde pode entrar em estado de latência.
A entrada do vírus nas células envolve várias etapas que incluem interações entre
glicoproteínas virais e pelo menos dois receptores celulares diferentes. A glicoproteína C (gC)
do Alphaherpesvirus se liga a uma molécula chamada sulfato de heparano proteoglicano
presente na superfície celular. Essa molécula receptora está presente em várias células
diferentes, o que permite que o vírus se adira a diferentes tipos celulares. Esse primeiro passo
leva a uma ligação frouxa entre o vírus e a célula, seguida pela ligação mais firme da
glicoproteína D (gD) a um suposto segundo receptor celular. A ligação da glicoproteína D é
crucial para iniciar o processo de entrada do vírus na célula e para as etapas subsequentes que
envolvem a fusão do envelope viral com a membrana da célula. Isso ocorre devido a
interações entre glicoproteína B (gB), glicoproteína H (gH) e glicoproteína L (gL), que
mediam a fusão das membranas do vírus e da célula (KARGER et al., 1995; NANDI et al.,
2009).
Após a infecção inicial, o BoHV-1 estabelece um estado de latência, principalmente
nos neurônios do gânglio trigêmeo, e, em alguns casos, no centro germinal das tonsilas
palatinas. A reativação da latência ocorre devido a um complexo mecanismo desencadeado
por fatores estressantes, sejam eles de origem natural ou artificial (ENGELS &
ACKERMANN, 1996; WINKLER et al., 2000).

VULVOVAGINITE PUSTULAR INFECCIOSA

A forma genital da infecção ocorre primeiro em bovinos machos e fêmeas

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sexualmente maduros. Nas fêmeas, essa forma se desenvolve entre dois a quatro dias após a
cobertura natural ou inseminação artificial (IA) com sêmen infectado. Os sintomas clínicos
incluem inchaço da vulva, vermelhidão, secreção genital que varia de serosa a purulenta e a
presença de pequenas pústulas na mucosa, o que leva a essa infecção ser chamada de
vulvovaginite pustular infecciosa (VIP). Às vezes, essas pústulas se acumulam e formam
úlceras, que são cobertas por material fibrinoso e podem ocupar uma grande parte da
superfície vulvar. Além disso, o vírus pode causar inflamação no útero, conhecida como
endometrite necrosante (LOPA, 2006; HENZEL et al., 2008).

BALANOPOSTITE PUSTULAR INFECCIOSA

Nos machos, pode ocorrer uma inflamação severa no pênis, acompanhada de


vermelhidão na mucosa peniana e o surgimento de pequenas pústulas, resultando em uma
secreção purulenta. Além disso, o animal pode urinar com maior frequência. É importante
notar que o sêmen também pode ser uma fonte de transmissão da doença (LOPA, 2006;
LATA JAIN et al., 2008).

ABORTO PÓS-VACINAÇÃO

A transmissão iatrogênica refere-se à infecção de bovinos devido ao uso inadequado


de vacinas atenuadas. Nesse cenário, o bovino é inadvertidamente infectado e desenvolve uma
infecção latente. Em casos de vacinação de vacas grávidas, essa infecção pode levar ao
aborto, resultando na liberação de partículas virais infecciosas no ambiente. No entanto, é
importante observar que existe uma exceção a esse tipo de vacina, que é aquela produzida a
partir de amostras de vírus mutantes termossensíveis. Essas vacinas não são capazes de
estabelecer uma infecção persistente nos animais vacinados, não causam aborto e não liberam
o vírus no meio ambiente (HIRSCH & FIGUEIREDO, 2006).

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REDUÇÃO DA FERTILIDADE

A introdução do BoHV-1 em rebanhos bovinos tem um impacto significativo na


eficiência reprodutiva dos animais, o que pode ser evidenciado por meio de uma série de
indicadores relacionados à reprodução. Isso inclui a extensão do período entre os partos, o
aumento no número de doses de sêmen necessárias para inseminação artificial, o aumento no
número de serviços necessários para uma concepção bem-sucedida, uma redução na taxa de
concepção, uma maior ocorrência de mortalidade embrionária precoce ou tardia, um aumento
na porcentagem de abortos, natimortos e mortes neonatais, uma diminuição no peso dos
recém-nascidos e um aumento na frequência de endometrites (TAKIUCHI et al., 2001; GAY
& BARNOUIN, 2009).
De acordo com FLORES (2007), durante um surto dessa infecção, até 25% das
matrizes grávidas podem abortar, destacando que os maiores prejuízos estão relacionados à
esfera reprodutiva.

PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS E CONJUNTIVAIS

ALY et al. (2003) observaram manifestações graves tanto nos olhos quanto no sistema
respiratório dos bovinos afetados. Estas manifestações incluíam aumento na frequência
respiratória, corrimento nasal seroso e mucoso, dificuldade para respirar, tosse, abortos,
malformações congênitas como cegueira e deformidades musculoesqueléticas, bem como o
nascimento de animais fracos.
A forma ocular da doença pode ocorrer de forma isolada ou em conjunto com a forma
respiratória. Ela se caracteriza por conjuntivite, geralmente em ambos os olhos, começando
com uma descarga transparente que pode criar sulcos na face. Raramente, pode haver
opacidade no centro do olho, mas se isso acontecer, é geralmente devido a outra infecção
relacionada à IBR. A conjuntivite da IBR, que não causa úlceras na córnea, pode ser

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confundida com a ceratoconjuntivite infecciosa, causada pela bactéria Moraxella bovis. Para
fazer um diagnóstico diferencial, é importante observar se há ulceração e ruptura da córnea, o
que é mais característico da infecção bacteriana.
A forma respiratória da IBR normalmente não leva à morte por si só. No entanto, se o
animal estiver enfraquecido ou sob estresse, sua resistência a outras infecções pode diminuir,
o que pode piorar o quadro clínico (LOPA, 2006). No entanto, de acordo com GIOSO et al.
(2009), em alguns casos raros, pode ocorrer morte súbita como resultado do agravamento da
infecção por IBR.

SINAIS CLÍNICOS

Quando a doença é introduzida em um rebanho, é possível observar uma série de


sinais clínicos em bovinos afetados. Cerca de 10 a 20 dias após a infecção, esses sinais
incluem febre, secreção aquosa nos olhos e no nariz, excesso de salivação, falta de apetite e
vermelhidão na mucosa nasal. A produção de leite pode diminuir e piorar à medida que a
secreção nasal se torna espessa e purulenta. Alguns bovinos podem apresentar respiração pela
boca, pescoço esticado, dificuldade para respirar e, em casos mais graves, até morte súbita.
Além disso, sinais respiratórios como tosse, coriza, inflamação na boca (estomatite erosiva),
inflamação na traqueia, faringe e laringe são comuns. Devido às lesões no revestimento do
nariz dos bovinos, é possível notar que as narinas deles apresentam uma coloração
avermelhada (GIOSO et al., 2009).
Em relação aos sinais clínicos relacionados à reprodução, HIRSCH & FIGUEIREDO
(2006) mencionam que eles incluem abortos que geralmente ocorrem entre o quinto e o oitavo
mês de gestação. Além disso, as fêmeas podem apresentar endometrite necrosante,
infertilidade temporária, inflamação nos ovários (ooforite necrosante e hemorrágica), morte
embrionária, lesões nos ovidutos, alterações no ciclo estral, inchaço e vermelhidão na vulva,
secreção genital serossanguinolenta e aderência do pênis à bainha do prepúcio. Quando o
aborto não ocorre, pode haver o nascimento de bezerros fracos e natimortos, que apresentam
sinais de autólise, enfisema, coloração escura, tecidos frágeis e a presença de fluidos
serossanguinolentos nas cavidades naturais.

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DIAGNÓSTICO

O histórico de saúde do rebanho desempenha um papel crucial na elaboração do


diagnóstico do BoHV-1. No entanto, para obter um diagnóstico conclusivo dessa infecção, é
necessário contar com métodos laboratoriais (TAKIUCHI et al., 2001).
O teste padrão para identificar o BoHV-1 é o isolamento viral em cultivo celular. O
diagnóstico pode ser realizado usando amostras de secreções nasais, oculares e genitais, bem
como sêmen e tecidos de fetos abortados e anexos fetais (OIE, 2009). Além disso, exames
sorológicos, como soroneutralização viral e ELISA, podem ser usados para confirmar o
diagnóstico (PARREÑO et al., 2010; BASHIR et al., 2011).
Uma técnica adicional é a PCR (reação da polimerase em cadeia), que pode ser usada
para identificar animais positivos mesmo durante a fase latente da infecção, conforme relatado
por DEKA et al. (2005). SILVA et al. (2009) identificaram diversos agentes etiológicos,
incluindo o BoHV-1, em amostras de tecido fetal.
Existem variações da PCR, como PCR em tempo real, nested PCR, semi-nested PCR e
PCR Multiplex, que são adequadas para detectar o DNA viral. A PCR Multiplex, por
exemplo, é usada para diferenciar encefalites bovinas causadas pelo BoHV-1 e pelo
herpesvírus bovino 5 (BoHV-5) (TAKIUCHI et al., 2003; FONSECA JÚNIOR et al., 2011).

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

De acordo com PITUCO (2009), existem várias doenças que podem ser confundidas
com a rinotraqueíte infecciosa bovina e a vulvovaginite pustular infecciosa, as quais podem
afetar tanto o sistema respiratório quanto o reprodutivo de bovinos. Entre essas doenças estão
a brucelose, leptospirose, campilobacteriose, clamidofilose, micoplasmose, ureaplasmose,
diarreia viral bovina, neosporose, pasteurelose, vírus sincicial respiratório, parainfluenza 3 e
língua azul. O Quadro 1 apresenta uma lista das possíveis causas de aborto em bovinos para

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auxiliar no diagnóstico diferencial da rinotraqueíte infecciosa bovina.

QUADRO 1 – Relação das causas de abortamento em bovinos para diagnóstico diferencial da


IBR

PREVENÇÃO E CONTROLE

De acordo com PITUCO (2009), muitas enfermidades podem ser facilmente


confundidas com a rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR) e a vulvovaginite pustular infecciosa
(VIP), já que elas compartilham sintomas que afetam tanto o sistema respiratório quanto o
reprodutivo de bovinos. Algumas dessas doenças incluem brucelose, leptospirose,
campilobacteriose, clamidofilose, micoplasmose, ureaplasmose, diarreia viral bovina,
neosporose, pasteurelose, vírus sincicial respiratório, parainfluenza 3 e língua azul. Para
ajudar a diferenciar a IBR de outras causas de aborto em bovinos, o Quadro 1 apresenta uma
lista das possíveis causas de aborto.

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Quanto ao tratamento da IBR/VIP, o prognóstico geralmente é favorável,
especialmente nos casos respiratórios, como mencionado por HAMZÉ et al. (2011). O
tratamento consiste em abordagens sintomáticas, como o controle de infecções secundárias
usando antibióticos de amplo espectro, anti-inflamatórios, antitérmicos e mucolíticos. No caso
de lesões genitais, podem ser empregados banhos antissépticos com substâncias como
clorexidina ou iodóforos, além de pomadas contendo antibióticos (HIRSCH &
FIGUEIREDO, 2006).
A erradicação da IBR é um desafio complexo, pois envolve a eliminação de um grande
número de animais saudáveis, mas que são portadores do vírus em estado latente. Mesmo que
esses animais tenham uma resposta imunológica acentuada, o vírus persiste nos gânglios
durante toda a vida, podendo ser reativado (CASTRUCCI et al., 2002; ACKERMANN &
ENGELS, 2006). Isso torna a erradicação economicamente inviável devido ao alto custo
associado ao descarte desses animais. Portanto, a imunização do rebanho é vista como uma
medida eficaz para prevenir as perdas econômicas decorrentes da manifestação clínica da
doença (PATEL, 2005).
Existem duas estratégias principais de controle da IBR/VIP baseadas no histórico
clínico e na situação epidemiológica: uma com vacinação e outra sem vacinação. A vacinação
é recomendada para rebanhos com histórico comprovado de infecção, alta soroprevalência,
sistemas de recria e confinamento de animais de várias origens e propriedades com alta
rotatividade de animais. Por outro lado, em rebanhos sem histórico clínico da doença e sem
problemas reprodutivos, pode-se optar por não vacinar, mas é importante monitorar
continuamente os parâmetros clínicos e produtivos (FRANCO & ROEHE, 2007).
Existem diferentes tipos de vacinas disponíveis no mercado para a IBR, incluindo
vacinas inativadas, atenuadas convencionais, atenuadas termossensíveis, com vírus marcado e
recombinantes (MUYLKENS et al., 2007). No entanto, o uso de vacinas atenuadas é restrito
devido ao potencial estabelecimento de infecção latente pelo vírus vacinal nos animais
vacinados (JONES & CHOWDHURY, 2008). Em casos de alta prevalência do vírus, é mais
viável o uso de vacinas com marcador genético para permitir a diferenciação entre animais
infectados e vacinados (VAN OIRSCHOT, 1999).
PITUCO (2009) menciona que alguns países utilizam vacinas marcadas, que são
baseadas na deleção de uma ou mais glicoproteínas do envelope viral. Isso permite a distinção
entre animais infectados e vacinados usando testes específicos para a glicoproteína deletada.

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No entanto, essas vacinas são mais comuns em países europeus com programas oficiais de
controle e erradicação da doença.
As vacinas inativadas também são uma opção, pois não causam aborto nem
disseminação viral após a aplicação e não estabelecem infecção latente pela cepa vacinal
(PIDONE et al., 1999). No entanto, essas vacinas podem não ser eficazes na prevenção da
infecção primária de bezerros amamentados com colostro de vacas imunizadas durante a
gestação (MOREIRA et al., 2001).
A vacinação intravaginal com cepas recombinantes também tem se mostrado eficaz na
redução da gravidade dos sintomas clínicos e na duração da excreção viral (WEISS et al.,
2010).
Em resumo, o controle da IBR/VIP envolve uma combinação de estratégias, incluindo
vacinação, monitoramento constante, controle da qualidade do sêmen utilizado e identificação
dos animais reservatórios. A escolha da estratégia depende da situação epidemiológica e das
características específicas de cada rebanho. Existem várias opções de vacinas disponíveis no
mercado, e a escolha da vacina apropriada depende das necessidades e condições de cada
propriedade pecuária.

CONCLUSÃO

A doença discutida neste contexto tem um impacto significativo na capacidade


reprodutiva dos rebanhos de gado, o que resulta em perdas econômicas consideráveis.
Portanto, é de suma importância implementar medidas eficazes de controle, incluindo a
vacinação e a adoção de protocolos de biossegurança nas fazendas onde essa enfermidade é
identificada.
É importante observar que muitos criadores de gado não têm o hábito de vacinar seus
rebanhos contra a rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR). Portanto, é absolutamente essencial
conscientizá-los sobre a importância da vacinação por meio da orientação de profissionais que
trabalham com essas propriedades. Isso pode envolver a implementação de um programa de
vacinação voluntária, semelhante ao programa de controle da brucelose, mas com igual
relevância.

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REFERÊNCIAS

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