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O DISCÍPULO E A TEMPERANÇA

Lc 14:34 "O sal é bom, mas se ele perder o sabor, como restaurá-lo?

Dois sentidos da temperança:

1. Geral
A temperança indica aquela moderação ou comedimento imposto pela razão às ações e
paixões humanas, o que é comum a todas as virtudes morais.
2. Estrito (Rigoroso)
Tem como finalidade moderar a atração dos desejos e prazeres sensíveis - que mais
fortemente nos atraem.

O ponto de EQUILIBRIO
Acontece muitas vezes que condutas, que em si mesmas são boas e têm aspecto de virtudes,
deixam de ser virtudes porque perdem o equilíbrio: tornam-se abusos, exageros, absurdos,
extravagâncias. Encontramos muitos exemplos disso na vida cotidiana. Pense no caso da pessoa
que tem a “mania da ordem” e inferniza a vida dos outros quando um objeto está três
centímetros fora do lugar. Ou nos exageros de outros quanto ao cuidado da saúde, que os levam
à hipocondria e ao consumo desmedido de remédios. Ou na conduta do workaholic, que só vive
para o trabalho, e sacrifica a esposa, os filhos e a saúde a essa labuta obsessiva (que nada tem a
ver com a virtude da laboriosidade). O exagero, evidentemente, é um “ponto errado”.
Mas não confunda que a temperança é simplesmente dividir ela metade... «Seria um erro pensar
que a expressão meio-termo, como elemento característico das virtudes morais, significa
mediocridade, como que a metade do que é possível realizar. Esse meio entre o excesso e o
defeito é um cume, o mais elevado que a prudência indica».

Moderar não é anular


É importante reparar que, ao definir a temperança, o Catecismo não usa as expressões
“suprime”, “reprime”, “abafa”...
O Cristianismo não é inimigo do corpo, nem do prazer. Basta pensar que Deus assumiu um
corpo humano em Jesus Cristo – que nós adoramos na Eucaristia (cf. Jo 6,56) –, e que o
primeiro milagre de Cristo foi a transformação da água em vinho, em Caná, para que não se
perdesse a alegria de um banquete de casamento (Jo 2,1).

A ordem e a desordem no prazer


Vida virtuosa é “vida em ordem”, guiada pela razão e pelas luzes de Deus. O pecado é uma
desordem: a falta de harmonia com Deus, com a verdade e com o bem.
Em que consiste a desordem, em matéria de temperança? Fundamentalmente em três coisas:

A) Usar o que existe para o bem como instrumento para o mal.


Pensemos que, em geral, o homem pode usar as suas mais nobres faculdades, a inteligência e a
vontade, tanto para o bem como para o mal: por exemplo, para criar armas de destruição em
massa, ou planejar e executar guerras, crimes e injustiças.
B) Transformar o que existe para “servir” em algo tirano que escraviza.
Comida, bebida, sexo, são, no plano de Deus criador, “servidores” da vida e do amor.
Quando descambam e se torn
am um vício egoísta, uma obsessão doentia, então o “servidor” vira “amo e senhor” que
escraviza.
O viciado alega que é livre, mas engana-se. Quando pratica os vícios ligados ao prazer físico,
diz que faz o que quer, porque é livre, mas só faz o que não consegue deixar de fazer: já não tem
mais o poder de “não querer”; tornou-se escravo (do crack, do álcool, do sexo obsessivo-
compulsivo, etc).
d\
C) Transformar os meios em fins
Transformar um meio em fim é o máximo da desordem, que já percebemos nas considerações
anteriores. É conhecida a frase de que “alguns, em vez de comer para viver, vivem para comer”.
O meio se transformou num fim. Da mesma forma, há os que transformaram o sexo sem amor e
sem regra na finalidade da vida.

O problema sempre está no nosso coração

Mt 15:17-20 17 "Não percebem que o que entra pela boca vai para o estômago e mais tarde é
expelido? 18 Mas as coisas que saem da boca vêm do coração, e são essas que tornam o
homem ‘impuro’. 19 Pois do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios,
as imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias. 20 Essas coisas tornam
o homem ‘impuro’; mas o comer sem lavar as mãos não o torna ‘impuro’ ".

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