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Copyrigh © 2021 — Ellen Feitosa

Todos os direitos reservados

Essa é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos aqui são produtos da imaginação do
autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
É proibido o armazenamento e/ou reprodução de
qualquer parte desta obra, através de quaisquer meios, sem
consentimento e autorização da autora. A violação dos direitos
autorais é crime estabelecido pela lei n° 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do código penal.

CAPA | DIAGRAMAÇÃO:

Larissa Chagas

CRÉDITO DE IAMAGEM:

Ba Tik no Pexels

REVISÃO:

Ellen Feitosa e Thais Ferreira

SHE [recurso digital] / Ellen Feitosa – 1ª Ed. 2021.


1. Romance Contemporâneo 2. Literatura Brasileira 3.
Romance Jovem Adulto 4. Ficção I. Título
Nota da Autora
Playlist
Prólogo
01
02
03
04
05
06
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Epílogo
Agradecimentos
Para aqueles que precisam aprender que dias escuros
existem para nos fortalecer.
No fim, o sol sempre volta a brilhar.
No fim, nada está perdido.
Para Maria Fernanda, meu anjo que não está mais entre
nós, e todos que nunca me deixaram desistir.
Olá.
Seja bem-vindo a She.

Antes de começar a ler, tenho algumas informações


importantes:
Este livro é totalmente um clichê desenvolvido após um
sonho que se baseia em uma história com dramas pessoais,
muito amor, superação e final feliz. Se é isso que deseja, você
está no lugar certo.
A história contém temas fortes e possíveis gatilhos
como: Abuso psicológico, Relação abusiva, Insinuação de
Estupro, Sexo, Violência e Síndrome do Pânico. Se houver
alguma sensibilidade com esses assuntos, não leia. Priorize
sempre a sua saúde mental.
A autora não admite ou romantiza qualquer tipo de
violência ou abuso. Escrever sobre não é apoiar.
Por último e não menos importante, espero de coração
que se apaixonem e vibrem por She assim como eu. A história
foi escrita com todo o amor.
Acompanhe a playlist de SHE no Spotify.
E u sabia que pertencia a ela antes mesmo de a conhecer.
Eu clamava por ela em meus sonhos, eu pedia a Deus
todas as noites que a protegesse e a trouxesse para
mim. E então, quando esse dia chegasse, eu a amaria com todo
o meu amor, até o último dia da minha vida.
Minha história com Henri Hayes começou de um jeito
acidental.
Era uma manhã quente de segunda-feira e eu estava
extremamente atrasada para o trabalho. Eu sabia que o clube
do vinho aos domingos, tendo que me levantar às 6h no outro
dia, em algum momento, iria acabar me colocando em apuros.
Mas quando Rosie Miller, minha melhor amiga, se vê
em um encontro com o gostosão que mora ao seu lado, depois
de 5 meses na fossa após levar um pé na bunda do seu agora
ex-namorado, toda a equipe precisava estar junta para apurar
todos os detalhes — até os mais sórdidos.
Meu apartamento foi o escolhido da vez. Então às
20h30, todas estavam espalhadas pela minha pequena sala com
uma taça de vinho na mão.
A noite foi preenchida por muita fofoca e risadas altas
que se estenderam mais do que deveriam. Já era bem tarde
quando nosso estoque de vinho acabou. Por fim, todas
decidiram que o melhor seria ir embora somente pela manhã,
quando estivessem dispostas e sóbrias.
Infelizmente, enquanto eu tentava me manter em pé e
ajudar as meninas a se acomodarem, esqueci completamente
de colocar meu celular para carregar, o que resultou em uma
bateria zerada e um atraso de quase 2 horas.
Acordei em um sobressalto ao sentir uma língua áspera
na minha bochecha — Maggie — e me deparei com a luz do
sol forte entrando pela janela.
Forte até demais.
Algo está errado…
Tirei Maggie — minha gatinha — de cima de mim e
tateei a cama à procura do meu celular. O encontrando no
chão.
— Merda! — Resmunguei quando o aparelho não
respondia às minhas tentativas de ligá-lo. — Merda, merda,
merda, mil vezes merda.
Coloquei o celular para carregar e corri até a sala, indo
em direção a divisão da cozinha. Parei em frente ao relógio da
parede que marcava 8h45.
8h45.
MERDA!
Eu estava uma hora e quarenta e cinco minutos atrasada.
Olá Deus, sou eu, Ella Jones…
Voei igual um foguete até o banheiro e tomei um banho
rápido, agradecendo por pelo menos já ter escolhido e
separado a roupa ontem antes dessa confusão.
Depois de tomar banho e me vestir, peguei meu celular e
o carregador, verificando as horas mais uma vez, decidi que
não daria tempo de me maquiar, faria isso no carro.
Que Deus me ajude.
No quarto de hóspedes, examinei se as minhas amigas
ainda respiravam. Sorri ao escutar vários roncos e ver a
bagunça em que se encontravam. Fechei a porta
silenciosamente e me apressei para pegar o elevador.
Ao caminho da garagem, verifiquei as mensagens no
meu celular.
| Mamãe • 07h05 a.m.|
Bom dia, filha linda do meu coração!!!!!!
Você irá para o jantar no domingo, não é? Ethan vem
com você? Liga-me, estou com saudades. Bjosss s2
S2 mãe? Sério?

| Grupo de Moradores • 08h00 a.m. |


Reunião do Condomínio, Segunda-feira, 14h, não faltar.
Hmm, ok.

| Ethan • 08h06 a.m. |


Ella, por que você não atendeu minhas ligações ontem à
noite e agora de manhã? Precisamos conversar, sinto sua
falta.

“Sinto sua falta?” Talvez eu devesse responder


perguntando se ele sentiu minha falta enquanto estava com a
cabeça entre as pernas da estagiária.

| Marina • 08h40 a.m. |


Ella do céu, onde você se meteu? Estamos todos
reunidos para começar a reunião de boas-vindas do novo
presidente da empresa que estava marcada para às 08h30min,
você está bem? Aconteceu algo? Eu espero que você esteja
vindo nesse exato momento para empresa, Josh parece que vai
ter um ataque epilético a qualquer momento. Por sorte você
chegará antes do Sr. sou o novo CEO, ele ainda não deu as
caras por aqui também.

Minha mente travou com as palavras:


Reunião.
Novo presidente.
Merda!
Ótimo começo de dia, Ella.
Saí do elevador e corri pela garagem até o meu carro.
Enquanto dirigia, liguei para Marina perguntando sobre
o novo presidente, acho que Deus estava ao meu lado hoje,
pois ele ainda não tinha chegado, parece que pontualidade não
é o seu forte…
Mas quem sou eu para falar alguma coisa?
Dirigi o mais rápido possível. Não dava tempo de me
maquiar bem, mas nada que um batom e um rímel não
resolvessem.
Chegando ao estacionamento da empresa, entrei na luta
de estacionar e me arrumar ao mesmo tempo, acabei borrando
todo o batom ao bater em algo…
Ou em alguém.
Eu acabei de atropelar uma pessoa?
O pensamento me fez saltar do carro para prestar socorro
à pobre vítima da minha irresponsabilidade. Travei ao dar de
cara com um rapaz… Não, aquilo não era um rapaz e sim um
deus grego de olhos verdes e terno feito sob medida, que agora
estava um pouco amassado, terminando de levantar-se do chão
e tentando conter os papéis que voavam da sua maleta aberta.
— Puxa, mil desculpas, eu não o vi… — Me apressei a
falar nervosa. — Sério, você está machucado? Eu posso levá-
lo ao hospital. Meu Deus, olha só o que você fez… — Me
repreendi.
— Além de uma péssima motorista, você fala com você
mesma? — O sarcasmo em sua voz era nítido.
— Sim… Quer dizer, — Respondi fazendo uma careta,
quem esse cara pensa que é para falar comigo dessa forma? —
Não precisa me ofender, ok? Eu juro que não vi você. —
Respirei fundo. — Olha, eu estou atrasada para uma reunião e
tudo está uma bagunça esta manhã, isso não justifica nada, eu
sei que estou errada, peço desculpas por isso…
— Quando um vaso se quebra, pedir desculpas a ele vai
fazê-lo voltar a ser como era antes?
— Não precisa usar perguntas idiotas para desmerecer
minhas desculpas. — Respondi entre os dentes. — Já
perguntei se você está machucado, pelo visto não está, então,
por favor, podemos resolver isso em outro momento? —
Tentei seguir meu caminho.
— Você sabe que poderia ter me matado, não sabe?
— Eu não sou a única errada aqui, sabia?
— Oh, não? Diga-me o que eu fiz de errado então.
— Além de ser um idiota arrogante e sem educação?
Vejamos, de onde diabos você surgiu? Em um momento não
havia ninguém, no outro meu carro já estava batendo em você.
Melhor ainda, quem diabos é você?
Um sorriso cafajeste invadiu seu rosto esculpido. Meu
corpo se arrepiou quando senti que algo de ruim estava por vir.
— Sou Henri Hayes, novo presidente desta empresa e
seu novo chefe, muito prazer. Lembre-me de colocar
pontualidade zero na sua ficha e acrescentar o temperamento
explosivo. Uh, e que tal direção perigosa? Tenha um bom dia,
Srta. Jones. — Ele já estava perto da porta quando se virou
para mim — Ah, acho que seria bom limpar o borrado do
batom, sabe… A empresa ainda não virou um circo.
E simplesmente sumiu tão rápido quanto surgiu.
Eu estava ferrada.
Droga! Eu iria me atrasar e eu odeio atrasos.
Eu sabia que não devia ter aceitado e prometido a Annie
que passaria na Instituição para tomar café da manhã com ela,
mas como dizer não quando se tem dois olhos azuis brilhantes
implorando?
Quando cheguei, Annie já estava no grande salão onde
são servidas as refeições, assim que seu olhar azul encontrou o
meu, sorri imediatamente e meu coração se encheu. Ela estava
linda em um vestido rodado azul que combinava perfeitamente
com seus olhos.
Ela correu em minha direção e a abracei apertado.
— Henri! Você veio! — Disse radiante.
— Eu prometi que viria, não prometi?
— Sim, vamos, está quase tudo pronto, vou chamar todo
mundo. — Ela entrelaçou nossas mãos e me puxou para o
centro do salão.
Cumprimentei a todos que já estavam por lá, enquanto
Annie chamava os outros. Encostei-me no balcão perto da
grande janela que dava para o jardim, observei todos
trabalhando e logo fui preenchido pelo sentimento de
felicidade e dever quase cumprido.
Minha mãe fundou essa Instituição pouco antes do
câncer tirá-la de mim. Desde que o descobriu, mamãe sempre
o encarou como um desafio que ela poderia vencer. Foram
alguns anos de luta, eu a vi enfraquecer a cada dia, eu a vi
lutar ainda mais mesmo assim, eu a vi sorrir para cada
paciente no hospital e dizer que tudo ficaria bem, eu a vi dar a
luz, tudo que restava de si e principalmente muito amor à essa
Instituição.
Mamãe dedicou seus últimos meses a esse lar que
acolhia pacientes com qualquer tipo de câncer, principalmente
aqueles que mais necessitavam, aqueles que não tinham como
pagar seus tratamentos, aqueles que moravam longe e não
podiam se deslocar para o hospital.
A Instituição acolhia, ajudava e lutava junto com cada
um que fazia parte da nossa grande família.
A última fala da minha mãe antes de partir foi: “Cuide
deles por mim, filho. Eu sei que você irá fazer isso muito bem,
tens um coração de ouro maior que todo o universo. Eu deixo
em suas mãos, estarei em paz com isso. Eu amo você.
Sempre!”
Desde então me dediquei a isso, a Cancer Hayes
Institution era uma parte de mim.
Annie… bem, Annie tinha apenas 4 anos quando chegou
aqui, ela veio de um orfanato do sul do estado diretamente
para cá, atualmente tem 7 anos, ela está conosco a três e nesses
anos eu vi o quanto essa garotinha levou rasteiras da vida e o
quanto se levantou ainda mais forte de todas elas. Annie tem
um tipo de câncer raro no sangue, o tratamento é bem
agressivo e mesmo com tudo isso ela está sempre com um
sorriso no rosto. Ela foi e ainda é meu suporte desde quando
mamãe morreu.
Pelo menos três vezes na semana eu tomava café da
manhã ou jantava com ela, era o nosso trato. Meu tempo
acabou ficando corrido demais, pois além da Instituição, a
empresa da família também tinha ficado para mim.
Em três anos eu não tinha vida, em três anos eu trabalhei
sem parar e cuidei da Instituição. Raramente dormia,
raramente comia, pensei que não conseguiria tomar conta de
tudo, mas agora, finalmente, eu posso respirar fundo. Dei uma
boa alavancada na empresa no último ano, contratei uma
grande e confiável equipe que cuida de uma boa parte de tudo
e na última reunião com investidores, resolvemos expandir
nossa empresa.
A J&J Company tinha um bom nome no mercado, o
dono — Josh — estava prestes a se aposentar e não tinha um
herdeiro, ela me chamou bastante atenção e após análises e
negociações, a empresa era minha.
Foi um negócio tranquilo, Josh é um cara incrível e
competente, ele fez um ótimo trabalho todos esses anos.
Bom, hoje é meu primeiro dia e estou ansioso para
administrar e conhecer todas as pessoas que irão conviver
comigo de agora em diante.
Sou tirado dos meus pensamentos por Annie me
puxando para a mesa que já estava com quase todos os lugares
ocupados.
— Está nervoso para o trabalho novo? — Ela perguntou
enquanto eu a ajudava a se servir.
— Eu nunca fico nervoso. — Retruquei.
— Mas você fica nervoso quando conversamos sobre
a…
— Não fico não, — Digo, interrompendo-a. — Você
deveria comer, ocupar essa sua boquinha com coisas melhores
do que falar sobre o que não sabe.
— Você está nervoso agora. — Rebateu.
— Não estou não.
— Você está fazendo aquilo.
— Aquilo o que?
— Apertando o seu nariz, você sempre faz isso quando
está nervoso. — Soltei uma risada. — Viu só? Eu sei das
coisas.
— Cale-se e coma, criança. Ou não me espere para o
grande jantar domingo.
Então, rapidamente Annie começou a devorar seu café
da manhã e me deixou em paz com esse assunto.

Estava mais que atrasado quando cheguei à empresa.


Desci do carro às pressas e corri pelo longo
estacionamento. No meio do caminho acabei derrubando
minhas chaves, que pararam embaixo de um carro. Agachei-
me no chão e quando alcancei as benditas chaves, senti um
impacto forte por trás que me fez cair, deixando meu rosto a 1
centímetro do asfalto. Fui atingido em cheio no traseiro por
um carro.
Era só o que me faltava.
Estava prestes a explodir com o irresponsável que fez
isso quando me levantei. Foi então que eu a vi…
Era ela.
Seus cabelos escuros eram uma bagunça, seu rosto
estava amassado e ainda assim ela conseguiu ficar mais linda.
E como um passe de mágica, toda a raiva evaporou e
meu coração fez festa. Tudo ficou em câmera lenta.
— Puxa, mil perdões, eu não o vi… — Ela veio até
mim, falando tão rápido que quase não conseguia respirar. —
Sério, você está machucado? Eu posso levá-lo ao hospital,
meu Deus, olha só o que você fez…
Eu senti vontade de rir com toda a bagunça que Ella
Jones era, principalmente quando notei o batom borrado.
Fechei a cara em uma tentativa de jogar essa vontade para o
espaço e intimidá-la o máximo que eu conseguisse.
— Além de uma péssima motorista, você fala com você
mesma? — Falei sarcástico.
— Sim… Quer dizer, — Respondeu, fazendo uma careta
linda. — Não precisa me ofender, ok? Eu juro que não vi você.
— Senti ela respirando fundo. — Olha, eu estou atrasada para
uma reunião e tudo está uma bagunça esta manhã, isso não
justifica nada, eu sei que estou errada, peço desculpas por
isso…
— Quando um vaso se quebra, pedir desculpas a ele vai
fazê-lo voltar a ser como era antes? — Pressionei, ela iria
explodir.
— Não precisa usar perguntas idiotas para desmerecer
minhas desculpas. — Respondeu entre os dentes. — Já
perguntei se você está machucado, pelo visto não está, então,
por favor, podemos resolver isso em outro momento? —
Tentou caminhar, mas a impedi.
— Você sabe que poderia ter me matado, não sabe?
— Eu não sou a única errada aqui, sabia?
— Oh, não? — Fingi surpresa. — Diga-me o que eu fiz
de errado então.
— Além de ser um idiota arrogante e sem educação?
Vejamos, de onde diabos você surgiu? Em um momento não
havia ninguém, no outro meu carro já estava batendo em você.
Melhor, quem diabos é você?
Libertei o sorriso que estava guardando desde que ela
apareceu.
— Sou Henri Hayes, novo presidente desta empresa e
seu novo chefe, muito prazer. Lembre-me de colocar
pontualidade zero na sua ficha e acrescentar o temperamento
explosivo. Uh, e que tal direção perigosa? Tenha um bom dia,
Srta. Jones.
Vi quando seus olhos se arregalaram em surpresa e
pânico, foi quando lembrei, ela não sabia que eu a conhecia,
muito menos que sabia seu sobrenome.
Que burro, Hayes, querendo entregar tudo logo de
início.
Mas, lembrei novamente, eu sou o novo presidente,
gosto de saber com antecedência com quem vou trabalhar para
saber com o que vou lidar.
Boa desculpa.
Ella não pareceu perceber nada e essa era a minha deixa.
Virei-me e segui em direção à porta. Mas quando estava quase
chegando, olhei para trás, para ela.
— Ah, acho que seria bom limpar o borrado do batom,
sabe… A empresa ainda não virou um circo.
E de relance ainda vi quando Ella Jones abriu sua linda
boca horrorizada e correu para o seu carro.
É, isso será interessante, se eu não estragar tudo antes.
Eu estava estupidamente ferrada.
Já tinha tirado o borrado do batom quando passei pelo
saguão de entrada da empresa. Caminhei rapidamente em
direção ao elevador e parei quando percebi quem estava dentro
dele.
Ok, Ella. Pense rápido.
Encurtei os passos e olhei ao meu redor à procura de
algo que poderia ser uma desculpa para não pegar o elevador
nesse exato momento, mas infelizmente não obtive sucesso.
Caminhei ainda mais devagar quando vi que as portas
começavam a se fechar, respirei aliviada por um segundo para
logo em seguida ver uma grande mão segurar a porta, fazendo-
a abrir novamente.
— Segurei para você. — O sorriso presunçoso se
destacava em seu rosto.
Ótimo. Tudo que eu queria era estar no mesmo elevador
que ele. Principalmente quando só ele estava dentro.
— Obrigada, é muito gentil da sua parte. — Respondi
quando entrei no elevador, tentando não demonstrar minha
infelicidade e nervosismo.
— Eu sou um cara gentil. — Lançou um olhar que
poderia incendiar qualquer coisa que ele quisesse,
principalmente eu. — Suponho que iremos para o mesmo
andar, certo?
— Sim, certo.
Ele apertou o botão da cobertura onde ficava a sua nova
sala, juntamente com a sala de reuniões que deveríamos estar a
muito tempo atrás e não falou mais nada.
Um estranho clima se instalou. Eu não sei dizer ou
entender o que eu estava sentindo em relação a ele, mas uma
coisa eu sabia, Henri Hayes tinha uma presença intrigante que
me dava calafrios.
O ar ficava cada vez mais denso, o perfume dele tomava
conta de todo o espaço. Prendi a respiração por alguns
segundos e depois a soltei devagar.
Sem perceber, meus olhos começaram a analisá-lo
através do espelho do elevador. Comecei pelos sapatos – caros
com certeza – e minha nossa ele tem pés grandes, meus olhos
subiram lentamente por suas pernas e quando chegou ao seu
quadril engoli em seco, será que o lance de que o tamanho dos
pés é o mesmo do… era realmente verdade? Gostaria muito de
tirar essa dúvida agora.
Ele é seu chefe, Ella.
Soltei a respiração que nem sabia que estava segurando
e continuei a inspeção pelo seu corpo. Analisei seu terno preto
com acabamento perfeito e como caía perfeitamente bem nele,
seu pescoço que com certeza eu pagaria uma nota agora para
sentir o perfume delicioso vindo diretamente dele, seu maxilar
definido, sua barba recém tirada, podia sentir o cheiro da
espuma de barbear misturada com o seu perfume daqui. Fiquei
presa alguns instantes em seus lábios rosados e carnudos e foi
então que percebi que os mesmos tinham uma leve inclinação
para o lado, quase como um pequeno sorriso contido, e de
repente me dei conta de uma coisa. Subi lentamente meus
olhos com medo do que estava por vir e dei de cara com um
par de esmeraldas olhando em minha direção.
Choque. Eu estava completamente em choque.
Fui pega!
Eu só queria afundar minha cara em buraco e nunca
mais sair. De repente, comecei a suar em lugares que eu nem
sabia que poderia.
Já mencionei que o dia hoje está terrivelmente quente?
Desviei rapidamente o olhar e abaixei a cabeça para que
ele não presenciasse o momento em que eu me transformava
em um tomate.
Felizmente, ou não, chegamos ao último andar e saí o
mais depressa possível de dentro daquela caixa de fogo.
Eu precisava urgentemente de ar, um copo de água e
alguns minutos longe desse monumento.
Não obtive sucesso na missão novamente, pois em
segundos ele já se encontrava ao meu lado. Paramos os dois
em frente à porta da sala de reuniões, Henri a abriu e olhou
para mim.
— Primeiro as damas. — Falou, dando-me espaço para
entrar na sala.
Passei por ele e senti seu perfume mais uma vez, quase
perdi total controle do meu raciocínio.
Controle-se.
Adentrei a sala e dei de cara com uma dúzia de rostos
conhecidos virados em minha direção, Henri entrou logo após,
fechando a porta atrás de si.
— Bom dia. — Falei baixo e andei apressadamente para
o meu lugar, a quarta cadeira do lado direito da grande mesa
de reuniões.
Eu nunca me senti assim. Sempre fui elogiada pela
minha confiança, mas ela se foi no momento que esse homem
apareceu.
Josh me repreendeu com um olhar mortífero, Marina
como boa fofoqueira, sussurrou sobre querer uma explicação
no meu ouvido assim que me sentei ao seu lado e quando olhei
para frente, Ethan oscilava seu olhar entre mim e Henri
enquanto apertava sua caneta com força.
Josh se apressou em apresentar Henri.
— Bom pessoal, já que estamos todos aqui. Podemos
finalmente começar nossa reunião de transferência de cargo.
Conheçam Henri Hayes, esse rosto bonito será o novo
presidente e chefe de vocês.
Henri caminhou lentamente até o topo da mesa, cada
passo dado com uma confiança inigualável. Eu estava
tremendo.
O que diabos esse homem estava fazendo comigo? A
sensação era conhecida, mas de onde?
Após sorrir e dar a mão a Josh em um cumprimento
formal, Henri virou-se para encarar todos ali presente,
demorando seu olhar sobre mim.
— Bom dia a todos. — Iniciou, após limpar a garganta.
— Primeiramente, gostaria de começar essa reunião me
desculpando pelo meu atraso, tive alguns assuntos pessoais a
tratar de última hora, enfatizo que isso não irá se repetir, pois
não tolero atrasos, de qualquer que seja a parte. — Seus olhos
encontraram os meus por alguns segundos novamente e depois
se voltaram para os outros. — Bom, como vocês já devem
saber, meu nome é Henri Hayes e eu sou o novo presidente
desta empresa. Posso parecer novo, ter um rosto bonito, mas
tenho muitos anos de experiência e grandes responsabilidades
em cima de mim. Josh percebeu isso, ou não teria vendido tão
facilmente sua empresa. Pretendo continuar fazendo o bom
trabalho que ele fez até hoje.
Os olhos de Josh brilhavam. Esse cara hipnotizava todo
mundo.
— Gosto de ter uma relação saudável em todos os
ambientes que estou inserido, principalmente no meu local de
trabalho, que é justamente onde estou na maioria do tempo.
Gosto de pontualidade e compromisso, não tolero piadas ou
ofensas direcionadas a ninguém.
— Blá, blá, blá. Nossa, isso vai ser um inferno. — Ethan
soltou em um sussurro não tão baixo.
— Não gosto de ser interrompido, principalmente
quando não se tem algo inteligente a dizer ou que irá
complementar no assunto que está sendo abordado. — Henri
falou friamente sem olhar em direção à Ethan — Não gosto de
conversa fiada, pausas demoradas para o café, telefonemas
pessoais e, principalmente, relacionamentos entre
funcionários. Farei algumas alterações aqui e ali, mas nada
muito grande, não se preocupem, isso acontecerá com o tempo
para ninguém ter dificuldade em se adaptar. Ou seja, vocês não
serão prejudicados, somente quando não se adequarem às
normas estabelecidas por mim, aí sim vocês terão um
problema. — Ele continuou sério e depois soltou uma risada.
— Vamos lá pessoal, eu estava brincando, não sou tão rígido a
esse nível.
Escutei um conjunto de respirações aliviadas e um
“Graças a Deus” vindo de Marina. Não havia nada mais
precioso para ela do que a pausa do café para colocar a fofoca
em dia.
Henri passou a vez para Josh que fez um belo discurso
de agradecimento e despedida, algumas lágrimas ameaçaram
cair dos meus olhos. Josh sempre foi um ótimo chefe e fará
muita falta, mesmo sabendo que hora ou outra ele virá nos
visitar, ou irá marcar um churrasco em algum domingo do mês
para nos reunirmos.
A reunião se estendeu por mais algumas horas. Regras
foram repassadas, todas as devidas apresentações foram feitas,
discutimos sobre novas campanhas. A J&J Company poderia
não ser uma empresa multimilionária, mas tínhamos um bom
nome no mercado, éramos uma empresa de perfumaria que se
destacava pelas fragrâncias exóticas e inigualáveis, eu
realmente não entendia como a empresa não estava no topo
ainda.
Procurei não olhar muito para Henri durante toda a
reunião, mas era uma tarefa difícil. Sua voz era forte e ao
mesmo tempo calma, emanava confiança, compreensão. E isso
me atraía muito. Sem contar com a sua aparência.
Tentei a todo custo evitar contato com Ethan, meu agora
ex-namorado, descobri há poucas semanas da pior forma que
ele estava me traindo com a nova estagiária. Namorávamos há
apenas 4 meses. Ethan trabalha no setor administrativo da
empresa e eu na parte comunicativa e comercial, trocamos
olhares pelos corredores e em uma das festas trimestrais da
empresa, com algum álcool no sangue, eu acabei caindo nos
encantos dele, nos beijamos e marcamos de sair no dia
seguinte e isso se repetiu por algumas semanas até ele me
pedir em namoro. Eu deveria saber que um cara como Ethan
não era para mim, eu me conheço melhor que ninguém e sabia
que ele não iria aguentar e aceitar minhas condições.
Bem, não tive muito tempo para me afundar na fossa do
fim de um relacionamento e nem sei se estou a fim de passar
por isso. Na verdade, eu não sei nem o que eu sentia ou sinto
por ele. Não, o que eu sinto eu sei. Ódio. Nojo. Repulsa.
Já era hora do almoço quando a reunião acabou.
Comecei a recolher minhas coisas tranquilamente enquanto as
pessoas iam saindo. Marina chamou minha atenção e disse que
iríamos almoçar juntas pois tínhamos muito o que conversar.
Não tive nem como recusar. Ela deixou a sala de reuniões
dizendo que me esperaria no saguão.
Fui em direção a porta, torcendo para Ethan não ir até
mim, mas infelizmente hoje não era meu dia.
— Ella, — Chamou atrás de mim.
Fingi não ouvir e continuei andando, o ignorando por
completo.
Péssima ideia.
— Ella, eu estou falando com você — Ele disse em um
tom mais alto, agarrando meu braço com força.
Péssima ideia, Ethan.
— Me larga, Ethan. — Eu falei, tentando me soltar dele.
— Temos que conversar, você não atendeu minhas
ligações ou respondeu minhas mensagens. — Intensificou o
aperto.
— Ethan, me solta, você está me machucando. Eu não
tenho mais nada para conversar com você. — Isso só o fez
apertar ainda mais forte, fazendo meus olhos encherem de
lágrimas.
— Tire suas mãos imundas de cima dela. — Uma voz
grave surgiu atrás de Ethan e o puxou para longe de mim.
— Quem você pensa que é para falar assim comigo? —
Ethan latiu para a voz. Eu não enxergava nada por conta das
lágrimas, meu corpo começou a tremer, eu estava tendo um
ataque de pânico.
— Sou seu chefe e na minha empresa eu não admito
nenhum tipo de violência, seja ela qual for, contra quem seja,
principalmente contra uma mulher. Então, se não quiser levar
um chute na bunda agora mesmo e nunca mais conseguir
arrumar um emprego na sua vida, é melhor dar o fora daqui. E
eu espero que como uma pessoa inteligente que eu ‘acho’ que
você seja, não chegará mais perto da Ella a não ser que ela
solicite.
Henri…
— Isso não vai ficar assim… — Ethan disse entre os
dentes.
— Isso é uma ameaça? Eu não acho que eu seja a pessoa
certa para se ameaçar, Sr. Davis.
As vozes começaram a se tornar sussurros, eu sentia que
iria desmaiar a qualquer momento, um soluço saiu alto dos
meus lábios e então senti braços fortes ao meu redor. O
reconheci pelo seu perfume.
— Hey, está tudo bem. Você está bem.
Uma sensação de segurança me invadiu e então eu
apaguei.
7 ANOS ANTES

Querido Diário,

O dia amanheceu lindo, hoje Sebastian e eu


comemoramos nosso primeiro aniversário de namoro, foram
os 365 dias mais felizes da minha vida. Ele irá me levar para
um jantar romântico no Club del Doge. Mal posso esperar.

xoxo, Ella

Levantei-me da cama, tomei um bom banho e fui para a


cozinha preparar o meu café da manhã. Teria meu tão esperado
dia de princesa. Já tinha organizado toda a minha agenda e ela
começava agora cedo.
Depilação, SPA, almoço com Rosie, shopping.
Seria um ótimo e longo dia.
— Juro, eu não sei como você tem conseguido aguentar
o Sebastian por todo esse tempo. — Minha melhor amiga
Rosie nunca gostou do Bash.
— Ai, Rosie, você e todo o seu drama, o Sebastian tem
sido ótimo, sério. Eu te contei que ele me enviou flores
semana passada?
— Deixa eu adivinhar… — Rosie falou, batendo o dedo
indicador no queixo e inclinando a cabeça. — Pedido de
desculpa por deixá-la esperando duas horas no cinema para no
fim não aparecer? Ou talvez seja por ter gritado com você na
frente dos amigos jogadores para mostrar o quão macho alfa
ele é? Ah não, já sei. Por ter sido um rato nojento ao tentar
fazê-la transar com ele a força mais uma vez?
— Rosie! — Repreendi com raiva. — Ele me pediu
desculpas, Sebastian estava passando por momentos difíceis,
ele mudou. — Afirmei.
— Nada disso justifica, Ella! — Rebateu, as pessoas já
começavam a olhar em direção a nossa mesa.
— Olha, eu te chamei para almoçar porque eu estava
com saudades e queria te ver, não para você ficar opinando
sobre meu namoro ou julgando meu namorado se baseando em
um ódio que você criou por ele na sua cabeça. Eu te amo mais
que tudo, você é minha melhor amiga, mas se for para ficar
aqui falando coisas ruins da pessoa que eu amo em um dia tão
especial, sendo que você nunca nem deu uma chance a ele, é
melhor você ir.
— Desculpa? Ok, você está certa, sinto muito por querer
te proteger. Eu odeio ser a única que enxerga as coisas e só
faço isso porque me preocupo com você. Vou te deixar em paz
no seu dia “tão especial”.
Rosie levantou-se da mesa, deixando o dinheiro para
pagar sua parte.
— Rosie…
— Tchau, Ella.

Tentei não pensar na minha discussão com Rosie durante


o resto do dia. Fui ao shopping e encontrei o vestido perfeito
para hoje à noite, aproveitei e passei na Victoria’s Secret para
comprar um presente para Sebastian e eu. Hoje eu estava
decidida a levar nossa relação para um nível mais íntimo. Já
estava mais que na hora de dar esse passo com Bash.
Após duas horas no salão de beleza, fui direto para casa,
estava atrasada. Mamãe e papai tinham ido passar o final de
semana na casa do lago, ou seja, tudo estava ao meu favor. Ao
entrar em casa, vi toda a arrumação que fiz para depois do
jantar, sorri em ansiedade. Corri direto para meu banheiro,
tomei um banho relaxante e fui me arrumar.
Quando terminei, sorri ao me ver no espelho, eu estava
linda. Um vestido preto de seda que era um pouco acima do
joelho abraçava meu corpo, destacando minhas curvas.
Coloquei meus saltos também pretos de 12cm. Meus cabelos
escuros estavam soltos em ondas perfeitas. Caprichei na
maquiagem, destacando meus olhos verdes e o vermelho do
batom pintava meus lábios.
Eu estava me sentindo uma mulher de verdade.
Todo o meu corpo se arrepiou de nervosismo e
ansiedade quando escutei a campainha tocar lá embaixo.
Bash…
Saí do meu quarto e desci as escadas o mais rápido que
pude com aquele salto.
Meu rosto doía de tanto que eu estava sorrindo.
Quero só ver a cara de Sebastian quando me ver, ele vai
amar.
— Mas que porra é essa? — Bash levantou a voz
quando abri a porta para ele.
Meu sorriso morreu.
— Bash… o que…?
— Que roupa é essa, Ella?
— Eu achei que você iria gostar. — Respondi em um
sussurro.
— De onde você tirou que eu iria gostar disso? Ou
melhor, de onde você tirou que eu deixaria você sair nua
assim? Você está parecendo uma prostituta.
— Mas, Bash…
— Vai se trocar agora! — Ordenou.
— Mas…
— Agora, Ella.
Ele deve ter tido um dia ruim, pensei. Não o deixe ainda
pior, Ella.
Subi as escadas ainda em choque e Sebastian veio atrás
de mim. Ele escolheu minha roupa e então rasgou o vestido
preto do meu corpo.
Engoli o choro e tremi quando ele viu a lingerie que eu
estava vestida. Para ele.
— Nossa, amor. Isso é para mim?
— S-sim — Gaguejei. — Para depois do jantar.
— Vista-se rápido — Vociferou, entregando-me o
vestido longo que ele havia escolhido. — Estamos atrasados
para o nosso jantar, se perdermos a reserva a culpa será toda
sua. E mal posso esperar para te ter como sobremesa mais
tarde. Já esperei tempo demais.
Meu estômago embrulhou e eu senti que iria vomitar a
qualquer momento. Meu coração doeu e o pânico se instalou
porque eu não queria mais ir ao jantar…
Pior, eu não queria voltar para casa com Sebastian.
E eu temia por esse momento.

DIAS ATUAIS

Atropelada, esmagada, espancada…


Era assim que eu me sentia ao acordar na cama do
hospital. Meu corpo doía, minha cabeça poderia explodir a
qualquer instante…
O que aconteceu?
Flashs invadiram a minha cabeça.
Atraso.
Atropelamento.
Henri.
Meu chefe.
Reunião.
Ethan.
Pânico.
Henri.
Gemi de dor e então percebi que Henri estava sentado no
sofá absurdamente minúsculo que ficava no quarto.
— Hey, você. — Se levantou, indo até mim. — Como
está se sentindo?
— Hey. — Sorri para ele, tentei me sentar, mas a dor na
minha cabeça só aumentou. Fiz careta. — Uma merda.
— Calma, calma, eu vou avisar a enfermeira que você já
acordou, não se esforce. — Ele se apressou em dizer e então
saiu do quarto.
Alguns minutos depois uma enfermeira entrou sozinha e
me examinou.
— Ok, Srta. Jones, sente alguma coisa? — Perguntou.
— Dor no corpo e principalmente na cabeça. Eu tive um
ataque de pânico, não foi?
Eu conhecia bem essas dores.
— Sim, querida. Vi no seu histórico que essa não é a
primeira vez. Essas crises chegam a ser mais dolorosas que
uma surra. Seu namorado estava bastante preocupado. Você
desmaiou e continuou apagada por três horas, ele não saiu
nenhum minuto do seu lado. Bem, até agora.
— An, ele não é meu namorado… Ele é meu novo
chefe, hoje é o primeiro dia dele, na verdade. — Respondi sem
graça.
— Oh, me desculpe, é que ele te trouxe e não saiu daqui
em nenhum momento. Sempre que eu vinha verificar você, ele
estava bem próximo olhando pro seu rosto, estava realmente
preocupado.
— Ele fez isso?
Que estranho…
— Sim, querida.
— E onde ele está agora?
— Eu o vi falando com uma moça na sala de visitas,
algo sobre precisar voltar para a empresa e para ela o manter
informado.
— Como se chama a moça?
— Rosely Miller. Ela diz que é sua amiga e já tentou
entrar aqui mil vezes, mas só é permitido uma pessoa por vez e
como o seu… Chefe estava aqui, ela não pôde entrar.
— Ai meu Deus. Ela não fez barraco, fez? — Perguntei
receosa, conhecendo bem Rosie.
— Digamos que ela foi controlada. — A enfermeira
soltou uma leve risada. — Posso chamá-la agora se você
quiser.
— Eu agradeço.
Ela assentiu e saiu para chamar Rosie.
— Ai Ella, graças a Deus. Quase tive um treco quando
me ligaram e outro quando não me deixaram entrar. Você está
bem, amiga? — Rosie entrou igual uma louca no quarto.
— Apenas dor, mas estou bem. — Respondi calma. —
Faz tempo que você está esperando?
— Sim, estou aqui desde que você deu entrada. Acredita
que não queriam nem me dar informações sobre você? Eu
comecei o meu belo show na recepção, mas então aquele
gostosão conseguiu que me deixassem ficar na sala de visitas.
Falando em gostosão, quem é ele?
— Meu novo chefe. — Rosie abriu um sorriso
malicioso. — Que eu atropelei assim que cheguei no trabalho,
hoje é o seu primeiro dia.
— Você o que? — Rosie começou a rir
descontroladamente. — Isso daria um bom livro, uma
acidental história de amor… Nossa Ella, obrigada por me dar
novas ideias. Você é a minha garota.
Rosie era a minha escritora favorita, desde muito cedo
ela começou a escrever e eu sempre estive ali admirando-a e
vendo-a crescer a cada dia. Hoje ela é uma das autoras mais
comentadas do best-seller e eu não poderia estar mais
orgulhosa.
— Sempre que precisar. — Sorri para ela e gemi de dor
mais uma vez.
— Estamos nós aqui de novo, não é amiga? Eu te falei
que parar com a medicação por conta própria não era o certo.
Você precisa voltar para as consultas com o Dr. Mitchell.
Como tudo aconteceu? — Ela me repreendeu, mas seu olhar
ainda me dava o conforto que eu precisava.
— Eu sei, me desculpe por isso, eu não deveria ter
parado, ao menos não sem ter conversado com ele. Mas eu
estava bem, até Ethan apertar meu braço…
— Pera, Ethan fez o que? — Rosie aumentou seu tom.
— Quem ele pensa que é? Eu vou matá-lo.
— Ele só…
— Não venha tentar justificar as atitudes desse babaca,
não depois de tudo com o Sebastian… — Ela parou e se
aproximou. — Desculpe, não queria voltar a esse assunto.
— Tudo bem, Rosie. E eu não estava justificando. Não
vou deixar nenhum homem ter domínio sobre mim novamente.
Eu entendo sua preocupação, você sempre esteve certa sobre
Sebastian, eu estava cega. Mas, Henri estava lá, ele me
defendeu… Mesmo que isso não tenha impedido o ataque de
pânico, ele estava lá para mim, mesmo depois de eu o ter
atropelado. O que é bem confuso, sabe?
— Confuso como?
— Em um momento ele foi um completo babaca
arrogante, em outro se mostrou um excelente profissional, no
próximo ele enfrentou Ethan, me trouxe para o hospital e ficou
o tempo todo ao meu lado. Eu nem o conheço e o mais
estranho de tudo é que um desconhecido fez eu me sentir
segura depois de anos. Eu não me lembrava de como era essa
sensação.
— Garota, eu estou toda arrepiada. — Rosie comentou e
eu soltei uma risada. — É sério, olha aqui. — Ela levantou o
braço. — Brincadeiras a parte, Ella. Eu estou feliz por ele estar
lá, por ele cuidar de você. Ser bonitão e gostoso é um grande
bônus.
— Você não existe. —Falei, rindo. — Obrigada por estar
comigo.
— Eu sempre estarei. — Rosie disse, pegando minha
mão. — Eu não quis acordar as meninas, elas ainda estão
desmaiadas no seu apartamento. Agradeça por eu não ter
ressaca.
— Eu imaginei, obrigada por isso também.
Nesse momento a enfermeira voltou.
— Hey, garotas. — Ela sorriu para nós. — Ella, irei
aplicar a medicação na sua veia, isso vai aliviar as dores
rapidamente. Em alguns instantes o Dr. Ryan virá e você
receberá alta, ele deve receitar alguns medicamentos para caso
as dores continuem. Está bem?
— Tudo bem… — Olhei pela primeira vez seu nome em
seu crachá. — Karen.
Depois que Karen aplicou a medicação, o Dr. Ryan veio
fazer a checagem final e me dar alta. Rosie me ajudou a
recolher minhas coisas e entrar em seu carro. Passamos em
uma farmácia no caminho para casa e compramos os
analgésicos que me foram receitados.
Ela havia mandando uma mensagem informando as
meninas sobre o ocorrido, então quando chegamos em meu
apartamento, todas estavam na sala me aguardando. Foram
todas atenciosas e breves, pois sabiam que eu teria que ficar
em repouso. Após se certificarem que eu estava bem e
confortável na minha cama, Clair, Joanna, Mad e Rosie se
despediram de mim.
— Você tem certeza que não quer que a gente fique
aqui? — Mad perguntou.
— Sim, amiga. Está tudo bem, sério. Eu só preciso
descansar. Já já estou novinha em folha. O dia de hoje exigiu
muito de mim, só isso. — Tentei tranquilizá-las.
— Tudo bem. Mas não hesite em nos ligar se precisar,
ok? — Disse Joanna.
— Nós estaremos aqui ao ouvir o primeiro toque da
ligação. — Clair acrescentou.
— Eu sei disso, muito obrigada, meninas. Eu amo todas
vocês. — Sorri.
Todas começaram a sair e Rosie continuou onde estava.
— Rosie…
— Você vai mesmo ficar bem sozinha?
— Claro que sim, sua boba. Pode ir.
— Certeza? — Ela insistiu.
— Vai!
— Ok, ok. Me liga, tá bom? Se precisar de algo…
— Você sabe que eu ligo.
Ela saiu do meu quarto e voltou segundos depois.
— Ah, já ia esquecendo, chegou isso para você. —
Anunciou, me entregando um lindo buquê de rosas vermelhas.
— Quem enviou? — Perguntei curiosa.
— Não sei. — Respondeu e saiu.
Escutei a porta da frente fechando e fitei as flores na
minha frente.
Lindas rosas vermelhas.
Procurei por um cartão e o encontrei.

Rosas Vermelhas para combinar com o vermelho do seu


batom borrado.
Espero que esteja bem.
H.

Me peguei sorrindo igual uma boba.


Quem é você Henri Hayes?
Acordar depois das 10h em uma terça-feira era como um
sonho. Marina havia me ligado para avisar que Henri resolveu
me dar folga para me recuperar melhor.
Aproveitei a terça preguiçosa para descansar e organizar
um pouco os pensamentos. Meu corpo já não doía tanto, mas
minha mente estava agitada.
Não só pela crise, mas também pelo comportamento do
meu novo chefe. Quem era ele? E por que me afetava tanto?
Depois do almoço, resolvi ligar para o consultório do Dr.
Mitchell, estava na hora. Era a primeira vez, depois de uma
longa pausa, que eu sofria uma crise.
Quando Grace atendeu, agradeci por ela ainda trabalhar
lá. Ela era uma querida e sempre conseguia me encaixar
quando a coisa apertava.
— Consultório do Dr. Mitchell.
— Grace! — Saudei.
— Ella? — Sua voz era surpresa. — Quanto tempo,
garota.
— Faz algum tempo, não é?
— Você está bem? É algo urgente?
— Eu estou bem agora. Apenas uma recaída. —
Tranquilizei. — Achei que deveria notificar ao Dr.
— Fez certo, querida. Deixe-me verificar a agenda. —
Aguardei alguns instantes na linha. — O Dr. Mitchell encerra
a última consulta do dia às 16h, posso te encaixar logo em
seguida. Tudo bem para você?
— Seria ótimo. Obrigada por sempre me salvar, Grace.
— Sempre que precisar, Ella. — Dr. Mitchell era meu
primeiro e único psiquiatra, quando ele encerrou sua carreira
no hospital e abriu seu consultório, obviamente eu o segui.
Meus horários nem sempre eram tão flexíveis, então o Dr.
Mitchell sempre abria uma exceção no seu horário e me
atendia na pausa para o almoço. — Te vejo em algumas horas.
— Até lá, Grace.
Finalizei a ligação e senti uma tonelada sair das minhas
costas.
As horas correram e quando percebi já estava sentada na
sala de espera do consultório.
— Até o próximo mês, Lizzie. Não hesite em ligar caso
sinta vontade. Estaremos todos aqui para te acolher. Você não
está sozinha. — Escutei a voz do Dr. Mitchell enquanto ele se
despedia da paciente.
Me levantei quando seus olhos carinhosos me
encontraram.
— Bem-vinda de volta, Ella.

— Olá, Rosie. Você está no viva-voz. — Comentei


assim que atendi a sua ligação.
— Deixa eu adivinhar, está dirigindo?
— Isso. Zero distrações, não quero correr o risco de
cometer outro acidente.
Rosie gargalhou. Eu estava quase chegando na empresa.
— Sério que você não pode pedir as filmagens das
câmeras do estacionamento? Eu daria tudo para ver a cena.
— Não vou fazer isso, engraçadinha.
— Poxa, você é tão chata, Ella. — Lá estava o drama. —
Como foi a consulta ontem? Te mandei mil mensagens e você
me ignorou.
— Foi ótima. — Comentei entusiasmada enquanto
sorria. — Me desculpa por não responder, assim que cheguei
em casa tive meu momento de reflexão, me desliguei de tudo
ao meu redor e depois de assimilar o que tinha acontecido,
apaguei na cama. Uma noite inteira de sono sem interrupções.
— Isso é incrível, amiga. — A felicidade em sua voz era
nítida. — O que ele falou sobre a crise? Elas irão continuar?
— Ele ficou bastante surpreso no início. Pelo fato de eu
estar a bastante tempo sem visitá-lo e a parada repentina dos
medicamentos, uma única crise é um grande avanço.
— Mas o fato dela ter acontecido não é um problema?
— Não um dos grandes pelo menos. O aperto no meu
braço foi o gatilho, eu sabia desde o início, conseguir
identificá-lo foi meu ponto forte. O Dr. Mitchell disse que a
crise veio um pouco mais intensa pelo fato de não sofrer
nenhum gatilho em todo esse tempo. Foi meio que para me
lembrar do meu passado, do que me aconteceu e me fazer
trabalhar o resto do processo da aceitação. O que aconteceu,
aconteceu. Não há como voltar atrás e mudar, nada foi culpa
minha e não é porque Sebastian o fez que outra pessoa irá
fazer. Viver no passado é o erro, mas aceitá-lo e não deixá-lo
interferir no meu presente e futuro é o acerto. E isso eu estou
fazendo muito bem.
— Sim, você está fazendo um ótimo trabalho, Ella.
Estou extremamente feliz e aliviada nesse momento. — Eu sei
disso, Rosie. Você esteve comigo o tempo todo. — Medicações
novas?
— Sim, essa era a parte que queria te contar. Nada de
mediações controladas, apenas um natural para sensações de
pânico. — Lágrimas brotaram. — Saber que estou livre 100%
de toda aquela droga, nossa…
— Você sabe que precisamos comemorar, não sabe?
Eu ri, porque se tinha algo que eu amava em Rosie, era
sua habilidade de comemorar todas as coisas, até mesmo as
pequenas.
— Eu te conheço a minha vida toda, Rosie. Iremos
comemorar.
Dei sinal para entrar no estacionamento da empresa ao
mesmo tempo que o SUV preto entrou no meu campo de
visão.
Eu sabia que era ele mesmo sem vê-lo.
Estacionei numa ótima vaga, agradecendo por sair mais
cedo do que o costume de casa.
— Rosie, preciso desligar. Acabei de chegar no trabalho
e preciso enfrentar a fera.
— O chefe gostosão? — Ela gritou e olhei para os lados
certificando-me que o bendito não havia surgido do nada ao
lado da minha porta.
— Sim, ele mesmo. Deseje-me sorte.
— Boa sorte, amiga. Te amo.
— Obrigada! Te amo.
Finalizei a chamada e peguei minha bolsa no banco do
passageiro. Minha mente se agitou. Devo falar primeiro ou
esperar que ele o faça? Devo agradecer primeiro por ter me
defendido, me levado ao hospital, ficado comigo, pelas flores
ou pela folga?
Infelizmente nenhuma das opções.
Assim que desci do carro, avistei um grupo de pessoas o
rodeando. Foquei tanto no que falar que nem percebi outros
carros chegando.
Apressei meus passos e entrei na empresa. Subi
diretamente para minha sala e me deparei com uma enorme
pilha de amostras da nova coleção de perfumes.
Suspirei pensando no dia longo de trabalho que teria.
O agradecimento fica para depois.

Talvez o destino não queira que eu o encontre, ou o


próprio está me evitando.
Hoje era domingo e em todo o resto da semana não
obtive sucesso na missão de falar com Henri. Ou ele estava em
reuniões ou viajando. Eu sei que ele é o novo chefe e tem
muito trabalho logo de início até conseguir deixar tudo em
ordem e do seu jeito, mas poxa, custava estar livre cinco
minutos?
Bufo e olho para os vestidos pendurados na porta de
meu closet, minha mãe entrou no quarto completamente
arrumada.
— Mas você não está pronta ainda?
— Só falta o vestido, mamãe. — Sorrio para ela. — Não
se preocupe, mas de volta ao assunto que você está fugindo,
onde vamos mesmo?
Mamãe e seus jantares misteriosos, espero que dessa vez
não me apareça uma figura masculina como algum
pretendente para mim. Ela me ligou na sexta à noite para saber
como eu estava depois do ocorrido, conversou sobre a minha
confirmação para o jantar e como eu deveria me vestir, mas
em nenhum momento me disse o local. Contei-lhe que já não
estava mais com Ethan e ela apenas soltou um “Ainda bem,
você merece alguém melhor, você viu a bunda murcha daquele
cara?” Dá pra acreditar?
— Lembra o cara que estou saindo? O médico. —
Confirmo com a cabeça. — Então, ele me convidou para o
jantar anual da instituição que ele é colaborador. — Seus olhos
brilharam.
— Mamãe você está apaixonada? — Perguntei.
— Oh querida, ele é realmente ótimo. — Ela sorriu para
mim. — Você vai adorá-lo.
— Espero que sim… — Forcei um sorriso.
— O que foi, Ella?
— Ele está cuidando bem de você? Você sabe… Não
quero te ver magoada. — Respondi sincera.
Minha mãe e meu pai se divorciaram um pouco antes de
virmos morar em Los Angeles. E confesso que nunca vi minha
mãe tão radiante após um divórcio. Ela sempre foi uma mulher
romântica e que acha que tudo gira em torno do amor. Mesmo
que esse amor seja encontrado em vários caras.
— Ella, minha querida filha. Eu agradeço e compreendo
demais a sua preocupação e gostaria de deixar bem claro que
Jacob realmente é bom para mim. Vou deixar você tirar suas
próprias conclusões mais tarde. — Ela se aproximou,
colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — E o
seu coração, como ele está?
— O mesmo de sempre, batendo forte e rápido. —
Respondo.
— Você sabe que não é isso que eu quero saber. Vamos,
conte-me. — Insistiu.
— Ele está dando um passo de cada vez, mamãe.
Lembra? Andar antes de correr. Eu vou ficar bem.
— Você é a pessoa mais forte que eu conheço, filha. Eu
sinto muito que você tenha passado por tudo que passou. —
Vejo seus olhos transbordarem.
— Mamãe!!! — Passei meus braços ao redor dela e a
abracei apertado. — O clima pesou, não quero voltar a esse
assunto, não hoje. E você não pode borrar sua maquiagem,
está tão linda… — Soltei-a e me virei para os vestidos. —
Você acha que eu deveria usar o vestido vermelho ou o
branco?
— O vermelho, sem dúvidas. Ele é de matar. — Sorriu
mais uma vez enquanto limpava as lágrimas. — Preciso te
contar uma coisa. — Ela anunciou, me olhando suspeito.
— O que? — O receio dominou minha voz.
— Eu estava conversando com Jacob e ele me contou
sobre o dono da Instituição… — Interrompi.
— Não, não, não, Sra. Jones. Eu sei o que vocês estão
fazendo e podem parar.
— Mas filha, ele é novo, CEO de duas empresas e ainda
cuida de uma instituição. Ouvi dizer que ele é bem charmoso e
está solteiro a um bom tempo. Ele é realmente um bom
partido. — Continuou.
— Mamãe eu não estou à procura de um homem.
Pelo menos não quando se tem um certo homem de
olhos verdes e lábios rosados que insiste em ficar nos meus
pensamentos.
— Eu sei disso, e não estou pedindo que se case com
ele, apenas o conheça. — Ela veio atrás de mim quando saí do
closet para terminar de me arrumar.
— Qual o nome dele? — Perguntei.
O que minha mãe não me pede sorrindo que eu não faço
chorando?
— Ah, bem… Eu não sei. Jacob não me disse. Será uma
surpresa para nós duas.
Ótimo.

Acabamos de chegar na Instituição que descobri ser para


pessoas com câncer. O local onde seria o jantar está lotado e é
possível ver algumas crianças correndo pelo pátio.
Lindos anjinhos que foram pegos de surpresa pelo
destino.
O câncer sempre foi um dos meus maiores medos, eu
acho injusta a forma como ele tem a capacidade de acabar com
a vida de uma pessoa de forma tão lenta e agressiva. A forma
como ele invade e abala toda uma família.
Fui tirada dos meus pensamentos pela minha mãe.
— Ella? Querida, quero que conheça uma pessoa. — Me
virei em direção aos dois e sorri sincera para o homem que
estava na minha frente. — Esse é o Jacob. — Ela me
apresenta, sorrindo. — Jacob, essa é a minha menina.
— É um prazer finalmente te conhecer, Ella. Sua mãe
falou muito de você. — Jacob me deu um pequeno abraço.
— É um prazer conhecê-lo também, Jacob. Espero que
tenha sido somente coisas boas. — Digo rindo.
— Coisas maravilhosas, querida. — Mamãe afirmou.
— Bom, espero que possamos nos conhecer melhor esta
noite. — Confirmo com a cabeça. — Então senhoritas, vamos
entrar? O que vocês acham de um passeio pela Instituição? —
Jacob perguntou, segurando na mão da minha mãe.
— Eu acho uma ótima ideia. — Respondi e o deixei nos
guiar.

Jacob foi um verdadeiro guia, ele nos mostrou grande


parte da Instituição. Tudo era acolhedor e encantador, em
todos os detalhes. O dono deveria se dedicar muito a isso.
Ponto para ele.

Percebi que minha mãe havia começado uma boa conversa


com Jacob enquanto entrávamos no salão principal. Decidi não
incomodar e fui passear pelo salão.

A decoração estava impecável, uma equipe enorme trabalhava


para deixar tudo em ordem e garantir que todos os convidados
estivessem bem.
Um garçom se aproximou.
— Gostaria de uma taça de champanhe, senhorita?
— Oh, sim… eu adoraria. — Sorri em agradecimento,
enquanto pegava a taça. Levei-a até meus lábios e saboreei o
sabor adocicado do espumante.
— Se precisar de alguma coisa, pode me procurar,
estarei a sua disposição. — Sorriu maroto.
Ele até que era bonito, loiro, tinha olhos castanhos e um
belo sorriso. Mas não estava interessada.
Quando me inclinei para responder, uma voz rouca me
interrompeu.
— Pode deixar que eu mesmo vou me certificar e ajudá-
la se ela precisar de algo.
Senti um grande arrepio percorrer todo o meu corpo.
Henri.
O que ele está fazendo aqui?
— Olá, Ella.
Controlei minha respiração antes de me virar e encarar
seus belos olhos. Henri estava simplesmente perfeito, um terno
preto sob medida e bem finalizado, que com toda certeza devia
valer mais do que o meu apartamento, cobria seu corpo, por
dentro estava uma camisa social também preta, com os dois
primeiros botões abertos, isso o deixava terrivelmente quente,
seu cabelo estava bem alinhado e seu perfume era ainda mais
forte e gostoso do que eu me lembrava.
— Olá, Henri. Como você está?
— Eu estou ótimo, obrigado. Mas e você? Está tudo
bem? — Vi a preocupação pairar em seu olhar e algo em meu
coração acendeu.
— Oh, sim, estou bem agora. Ah e obrigada por tudo,
por toda a sua ajuda e pelas rosas. Eu adorei. — Sorri com
gratidão.
— Fico feliz. — Sorriu de volta.
— E o que você está fazendo aqui? Desculpe a pergunta.
— Sem problemas, um grande amigo me convidou. E
você?
— Vim com a minha mãe e o encontro dela. Estou
servindo de vela para minha própria mãe, você acredita?
— Oh, isso quer dizer que você não está em um
encontro também?
— Sem encontros.
— Então eu não estaria sendo desrespeitoso ao dizer que
você está deslumbrante esta noite?
Senti minhas bochechas esquentarem.
— Não. A não ser que seja contra as suas regras elogiar
uma funcionária. Você agora é meu chefe. — Bebi mais um
pouco de champanhe.
— Não vejo problema algum nisso. — Ele sorriu,
mostrando suas covinhas, que perigo. Ele olhou por cima do
meu ombro e acenou para alguém. — Sinto muito, Ella.
Gostaria muito de continuar conversando com você, mas
preciso encontrar Annie. Te vejo mais tarde?
Antes mesmo de responder, ele saiu e o perdi de vista no
meio da multidão.
Quem é Annie? Seria uma namorada? Uma esposa?
Não gostei nada da sensação que se instalou no meu
peito.
Eu não posso estar sentindo ciúmes de alguém que eu
acabei de conhecer, posso? Isso é loucura.
Ela quer me matar com esse vestido, porra?
Congelei enquanto levava meu copo até a boca. Ella
entrou no salão acompanhada por Jacob e sua acompanhante.
Ela parecia uma deusa, um sonho molhado bem ali, desfilando
em um vestido vermelho que abraçava todas as suas curvas.
Eu a tinha visto muito pouco durante a semana, um
tsunami de trabalho e reuniões me engoliu, mas não me
impediu nem por um minuto de pensar nela.
Mas aqui e agora, não consegui tirar meus olhos dela
nem por um segundo. E não consegui impedir meus pés de ir
até onde ela estava quando um dos garçons começou a puxar
assunto.
Vi quando a surpresa tomou conta dela ao me ver. Ela
estava tão linda, porra.
Eu estava prestes a chamá-la para dar uma volta quando
vi Annie sorrindo sapeca para mim do outro lado do salão.
Merda, preciso manter aquela pestinha longe da Ella.
Me desculpei e saí de perto da Ella e fui encontrar
Annie.
Quando ela me viu, fingiu surpresa.
— Olá, Annie.
— Henri! Não sabia que já estava aqui.
— Sério? Então eu acho que estava enganado quando vi
você sorrindo sapeca para mim há alguns instantes?
— Eu não sei do que você está falando. — Ela se fez de
desentendida.
— Oh, tudo bem então. Talvez eu deva procurar a
garotinha que estava sorrindo para mim e entregar o presente
que trouxe essa noite. — Falei olhando para os lados, fingindo
procurar alguém.
— Ok, Henri. Você me pegou. Desculpa, ok? Eu estava
brincando com as crianças e vi você com ela. Poxa vida, ela é
tão bonita.
— Ela é, não é? — Perdi o foco por um minuto. —
Escute, não estou te proibindo de chegar perto dela ou falar
com ela. Apenas lembre-se de não mencionar o que
conversamos ou algo sobre mim. É o nosso segredo.
— Pode deixar, seu segredo está guardado comigo. E
Henri? Você está parecendo um príncipe hoje. — Annie sorriu.
— Sim, eu tinha que estar bem apresentável para te
acompanhar, princesa Annie.
— Eu sei que sou uma princesa, mas a princesa que você
deveria acompanhar não sou eu, é a sua garota linda. — Ela
falou, apontando para Ella que agora conversava com sua mãe
e com Jacob.
Ela estava sorrindo calmamente. Confesso que quando
eu a vi naquele estado na sexta-feira minha única vontade era
de matar aquele canalha, juntei todas as minhas forças para
não fazê-lo. Eu precisava me acalmar e principalmente cuidar
dela. Ver Ella adormecida nos meus braços e naquele hospital
fez meu coração doer de uma forma horrível. Eu só queria tirar
todo o seu sofrimento.
— Terra para Henri. — Annie me tirou dos meus
pensamentos.
— Sim, querida?
— Cadê o meu presente?
Pestinha.
Algum tempo depois que Henri saiu, encontrei minha
mãe e Jacob, e engatamos em uma conversa maravilhosa.
Jacob é um cara muito inteligente, descobri que ele é
oncologista e atende a maioria das pessoas que estão na
Instituição. Conversamos por mais alguns minutos até que
alguém veio nos avisar que o jantar seria servido.
Logo encontramos nossos lugares e um belo banquete
foi posto nas mesas.
— Jacob, querido. Onde está o seu amigo que
conversamos antes?
Merda, eu já estava esquecida.
— Mamãe! — Repreendi.
Eu rezo para não me encontrar com esse homem durante
esta noite, logo agora que sei que Henri está aqui.
— Ah sim, ele está prestes a fazer um breve discurso de
saudação. Lá está ele. — Jacob respondeu, sorrindo em
direção ao pequeno palco que existia no salão.
Foi quando olhei para quem estava lá e me engasguei
com a minha própria saliva.
O homem que minha mãe queria me apresentar, o dono
de várias empresas e dessa Instituição, era o mesmo homem
que não saía dos meus pensamentos. Esse homem também era
meu chefe. Esse homem era Henri Hayes.
Tudo sobre Henri Hayes me deixava confusa.
Após o pequeno acidente, sua reação foi totalmente
contrária ao que eu imaginei. Pensei que ele continuaria
totalmente rude, que no mínimo eu seria demitida. Mas ele não
fez isso. Ao invés disso, foi educado, prestativo e gentil. Ele
cuidou de mim.
Em menos de uma semana ele dominou completamente
meus pensamentos. Ele era intrigante, uma caixinha de
surpresas e impossivelmente bonito.
E agora estou em um jantar em uma Instituição de
Câncer, no qual minha mãe e seu novo namorado querem me
juntar com o dono.
O dono que acabei de descobrir ser ele, Henri Hayes,
meu chefe.
Eu tinha mil perguntas. Mas, sei que hoje eu não teria
todas as respostas.
Henri fez um belo discurso sobre a vida, sobre ajudar o
próximo e agradeceu a todos que estavam presentes. Suas
palavras eram tão sinceras, elas entravam em nossa mente e
nos faziam refletir, nos faziam ansiar pela vida, por viver, ele
sabia bem como usá-las. Por fim, todos terminaram com os
olhos cheios de lágrimas.
O jantar ocorreu tranquilamente depois disso, mas,
infelizmente, eu não conseguia me concentrar em nada que
minha mãe e Jacob conversavam. Minha mente estava tomada
completamente pelo rapaz de olhos verdes, eu precisava vê-lo.
Como se em algum lugar deste salão ele pudesse ler
meus pensamentos ou como se o destino estivesse ao meu
favor, Henri surgiu ao meu lado na mesa. Sorri
automaticamente.
A iluminação do salão o deixava ainda mais bonito ou
seria apenas o álcool fazendo efeito em mim?
— Henri! — Saudou Jacob. — Que bom te ver. Pensei
que não conseguiria passar alguns minutos com você, rapaz.
— Olá, Jacob. Está uma loucura aqui hoje. Mas, não
vamos falar sobre isso. Me fale sobre suas convidadas.
— Oh, sim. Esta é Helena Jones, minha namorada. —
Jacob passou os braços pelos ombros da minha mãe. — E essa
é a sua filha, Ella.
— Boa noite, garotas. A noite está agradável? Estão se
sentindo bem? Precisam de alguma coisa?
Preciso de você. — Pensei. — Controle-se Ella.
— Não, querido. Está tudo maravilhoso. Mas poderia
estar melhor se minha filha estivesse em ótima companhia.
Não é, Ella? Talvez você pudesse conhecê-la melhor.
— Mãe. — Repreendi. — Henri e eu já nos
conhecemos. — Seu sorriso só aumentou.
— Eu ficaria lisonjeado em fazer companhia para a
moça mais bonita neste salão. — Henri sorriu e puxou a
cadeira ao meu lado para sentar-se.
— Ótimo. — Mamãe soltou alegre, batendo palmas. —
Então, querido, você é solteiro?
— Mamãe! — Repreendi mais uma vez.
Mas, confesso que estou um pouco ansiosa demais para
a resposta.
O sorriso no rosto de Henri mostrou tudo. O cretino
estava se divertindo.
— Ah sim, Sra. Jones. Estou solteiro no momento.
Que alívio.
Sorri mais do que deveria.
— Que coincidência, a Ella acabou de sair de um
relacionamento, ela está… como é que vocês falam? Ah,
lembrei, na pista. Ella está na pista. — Mamãe piscou para
mim.
Eu preciso de um buraco para me enfiar.
— Então quer dizer que você está na pista? — Henri
sussurrou no meu ouvido, me assustando. Quando ele ficou tão
perto?
— Ninguém diz que alguém está na pista hoje em dia,
Henri. Não dê credibilidade ao que minha mãe diz. Ela está
desesperada na busca de me arrumar um marido.
— Você não respondeu a minha pergunta. — Ele
insistiu.
— Por que isso te interessa? — Perguntei.
— Porque você me interessa.
Cristo.
Me inclinei em sua direção e olhei em seus olhos.
— Isso de fato é interessante.
— Vamos deixar sua mãe feliz. Venha comigo. — Henri
se levantou e me ofereceu sua mão.
— Para onde?
— Surpresa. Confie em mim, Ella. Você vai gostar.
Confiança. Algo que me dá calafrios, algo que me
parece uma doença contagiosa e que evito. Mas com ele, tudo
isso se desfaz.
— Tudo bem. — Aceito sua mão.
— Se vocês me dão licença, e com sua permissão, Sra.
Jones. Vou levar Ella para um passeio.
— Oh que isso, querido. Pode levá-la. Cuide bem da
minha menina. Juízo vocês dois. Não façam nada que eu não
faria.
— Eu vou cuidar bem dela. Tenham uma boa noite. —
Henri sorriu e se voltou para mim. — Vamos?
— Vamos.
Ele me levou em direção a escada que dava acesso ao
segundo andar, mas antes pegou duas taças de champanhe para
nós dois. Sua grande mão continuava na minha, enquanto a
outra levava as duas taças.
Eu gostava disso, de como sua mão encaixava na minha.
Meu Deus isso é tão errado, mas soa tão certo.
Subimos as escadas em um silêncio confortável.
Chegando ao segundo andar, ele me guiou até a última porta
do corredor.
— Pronta? — Conferiu antes de abrir a porta.
— Sempre.
Ele abriu a porta e me deu espaço para que eu entrasse.
Minha boca abriu em choque.
Era uma linda junção de galeria de arte e biblioteca. A
mistura das pinturas com os livros trazia uma sensação de paz
e aconchego. Sem contar a beleza única daquele lugar.
As paredes eram repletas de livros organizados por cores
em estantes de madeira. Havia quadros espalhados por toda a
sala, alguns ainda em branco, outros inacabados. Havia
também uma parte mais no fundo com sofás, baixa iluminação
e uma máquina de café. Uma grande janela se destacava no
fim da sala e era possível ver o jardim impecável. A noite
estava linda.
— Que lugar maravilhoso, Henri. — Sorri igual uma
boba para ele.
Eu estava sorrindo demais ultimamente.
— É lindo não é? Eu gosto de vir para cá quando quero
descansar e esquecer um pouco o mundo lá fora. É um dos
meus lugares favoritos.
— Eu que não iria querer sair daqui de dentro,
principalmente com aquela máquina de café ali.
Ele riu. Sua risada era adorável.
— Venha, ainda não mostrei a melhor parte.
Ele me puxou para o fundo da sala e só então percebi
que em nenhum momento ele soltou a minha mão.
Havia uma escada embutida na parede, ele colou nossas
taças em uma bancada que tinha ali para poder puxar a escada.
Subimos até uma espécie de sótão. Henri tirou uma chave do
bolso e abriu a porta. Era um quarto.
A mobília era toda em preto e branco. Um pouco
masculino e minimalista, mas totalmente aconchegante. A
cama era enorme e aparentava ser muito macia. Mas, o que me
chamou atenção nela foi uma janela bem em cima, que fazia a
lua e as estrelas flutuarem como se estivessem no quarto.
— A vista é melhor da cama. — Henri falou.
— Se sua intenção era me levar para a cama, era só ter
dito, Hayes. — Sorri marota para ele.
— Quando chegar a hora, Ella, você irá saber. — Ele
piscou para mim. — Mas estou falando sério sobre a vista.
Você pode deitar e ver você mesma.
Soltei sua mão e avancei para a cama. Me deitei sobre
ela e prendi a respiração quando vi o céu perfeito. A cama
abraçava o corpo e a sensação era de estar deitada na grama,
ao ar livre.
— Uau. Essa vista é perfeita.
— Sim, ela é.
Olhei de relance para Henri e o vi olhando para mim.
Seus olhos eram difíceis de decifrar agora. Eles tinham um
tom mais escuro de verde, mas, mantinham seu brilho. Era
desejo? Admiração? Paixão?
— Junte-se a mim. — Me afastei um pouco na cama
para dar espaço para ele.
— Você tem certeza? — Perguntou com receio.
— Sim.
Henri deitou-se ao meu lado e olhou para o céu. Ficamos
assim por algum tempo, apenas eu, ele e o magnífico céu
acima de nós.
— Quem é você, Henri? — Perguntei sem nunca tirar os
olhos da janela.
— Eu sou Henri Hayes. — Respondeu como se fosse
óbvio.
— Isso eu sei, mas quem é Henri Hayes? Qual é a sua
história? — Me virei para olhar para ele, ele fez o mesmo,
ficando cara a cara comigo.
— Eu sou apenas o Henri, 28 anos, solteiro, sem
nenhum filho, dono dessa Instituição e CEO de empresas,
como a que você trabalha.
— Não se faça de idiota, você sabe que não é isso que
quero saber. — Sorri para ele e o empurrei com meu cotovelo
em uma tentativa de encorajá-lo.
— Eu sou o que você vê, Ella. Com algumas rachaduras,
mas sou exatamente isso. Um cara que dá a vida pelo seu
trabalho e pela sua Instituição. E que não quer falar sobre o
passado e revelar suas dores agora. Nesse momento ele só quer
apreciar a beleza da garota que está bem na sua frente e curtir
um pouco da sua companhia.
Henri Hayes tem rachaduras, ele acabou de admitir, isso
só me deixou mais curiosa. Mas, o entendo muito bem sobre
não querer falar sobre isso. Sei bem como é querer esquecer
algo ruim e desejar que nunca tivesse acontecido. Eu podia ver
a dor em seus olhos e eu queria tirar ela de lá. Acho que ele
percebeu.
— Você está bem? — Ele perguntou.
— Sim e você?
— Agora estou.
Sorri para ele e me aproximei ainda mais, ele me
aconchegou em seu peito e começou a passar seus dedos pelos
meus cabelos. Eu queria morar nesse momento e nessa
sensação.
— Se continuar assim eu vou dormir e você terá uma
grande mancha de baba em seu terno caro.
— E você terá um terno caro para lavar. — Ele rebateu,
rindo.
— Justo.
— Você está cansada. — Ele afirmou.
— Um pouco.
Não tinha dormido muito bem na última noite.
— Vamos, eu te levo para casa.
— Mas e o evento? Ainda está rolando. — Eu me
apressei em dizer.
— Eles não precisam mais de mim. E pela hora já
devem estar com álcool o bastante para nem lembrarem da
minha existência. Vamos. — Ele estendeu sua mão e a segurei.
Voltamos para o salão e minha mãe e Jacob já haviam
ido embora.
O manobrista já estava com o carro de Henri assim que
chegamos na frente da Instituição. O SUV foi trocado por um
Audi A8. Eu amava esse carro. Henri o agradeceu e abriu a
porta para mim.
Falei meu endereço e relaxei no banco. O caminho até
meu apartamento foi tranquilo, Henri ligou o rádio e até
murmurou ao som de Justin Timberlake.
Assim que chegamos, ele se ofereceu para me levar até a
porta e eu aceitei. Não estava pronta para deixá-lo ir ainda.
Entramos no elevador de mãos dadas e subimos até o
24° andar. Ele não desviou seu olhar do meu nem por um
segundo e sua mão nunca deixou a minha.
Quando as portas se abriram, caminhamos lentamente
até a minha.
— Você quer entrar? — Perguntei nervosa. Nenhum
homem já passou por essa porta. Nem mesmo Ethan. Sempre o
encontrava em restaurantes ou em seu apartamento.
— É o que eu mais quero. Mas, isso não é sobre mim.
Você está cansada e eu vou deixá-la descansar. — Ele se
aproximou, me abraçando. Respirei fundo, me afogando em
seu perfume.
— Ainda não agradeci o suficiente pelo que fez.
Obrigada mais uma vez por tudo.
Quando quebramos o abraço, ele não se moveu. Ficamos
nos encarando por alguns instantes e eu podia sentir sua
respiração em meu rosto.
— Faria tudo de novo sem pensar duas vezes.
Seus olhos estavam fixos em meus lábios.
Ai meu Deus, ele vai me beijar?
Então ele sorriu e beijou meu nariz.
— Boa noite, Ella.
Se afastou, indo até o elevador, me deixando igual uma
adolescente apaixonada suspirando na porta do meu
apartamento.
Corri para dentro, fechando a porta e me encostando
nela. Passei a mão pelo meu nariz e ri alto.
O que você está fazendo comigo, Henri Hayes?
Estava perdido em pensamentos quando o toque do
telefone me trouxe de volta a realidade.
— Hayes! — Atendi.
— Sr. Hayes, os investidores de Seattle estão aqui para a
reunião das 10h. — A voz de Marina rasgou em meu ouvido.
Droga.
Eu esqueci completamente da reunião. Maldita seja Ella
Jones.
Não consegui tirá-la da mente desde quando a deixei em
seu apartamento. Ontem à noite foi… Foi perfeito, porra. Estar
com ela, conversar com ela, olhar para ela. Eu vou
enlouquecer.
— Certo, estou a caminho da sala de reuniões. Obrigado
por avisar.
Finalizei a ligação e fui para o mar de reuniões que teria
pelo dia.
Uma da tarde e eu estava quase desmaiando de fome.
Acabei de sair da minha terceira reunião e teria mais duas na
parte da tarde. Decidi ir ao restaurante italiano que tinha perto
da empresa.
O lugar estava lotado e era quase impossível de ver
algum lugar que não estivesse ocupado. Caminhei até o balcão
para fazer meu pedido, pelo jeito teria que pedir para a viagem
e comer no escritório.
Enquanto a garçonete finalizava, alguém me chamou.
— Henri!
Procurei a voz no meio da multidão e encontrei Rosie,
amiga da Ella, a conheci no hospital.
— Hey, Rosie. Como você está? — Respondi me
aproximando dela.
— Estou bem e você?
— Com fome! Esse lugar está cheio hoje.
— Sim. Ella e eu conseguimos nossa mesa por sorte.
Pode se sentar conosco, se quiser.
Ouvir o nome dela fez meu coração acelerar.
— Ella está aqui?
— Sim, oh, olha, aí está ela.
Me virei para encontrar seu olhar e ela sorriu
imediatamente.
— Henri.
— Ella. — Assenti.
— Vai sentar-se com a gente?
— Na verdade, eu estava planejando comer no
escritório.
— Nah, que isso, sente-se aqui. Eu insisto.
Antes que eu pudesse negar, Ethan entrou no restaurante.
— Pensando bem, essa vida de solitário é solitária. Vou
sentar-me com vocês. Vou só informar no balcão que não vou
levar para viagem.
Fui até o balcão e informei a mesa que estava sentado.
De longe vi Ethan se aproximar de onde Ella e Rosie estavam.
Caminhei calmamente até a mesa e escutei quando ele disse:
— Posso me juntar a vocês?
— Na verdade, esse lugar está ocupado. — Rosie
respondeu.
— Sério? Não estou vendo ninguém aqui. — Ethan riu
em deboche.
— Na verdade, esse lugar é meu, se você me dá licença.
— Toquei em seu ombro enquanto falava.
Vi quando suas mãos se fecharam. Esse cara realmente
não sabia disfarçar a raiva.
— Olha só. Eu sabia que você namorava colegas de
trabalho, Ella. Mas o chefe? Realmente, você se superou.
Antes que eu pudesse defendê-la, Ella respondeu,
surpreendendo a todos.
— E eu sabia que você era um idiota, mas não ao ponto
de falar coisas que podem ser o motivo da sua demissão na
frente do próprio chefe. Eu sou livre para namorar quem eu
desejar, seja o chefe, o presidente, o papa. Você e nem
ninguém tem o direito de falar nada sobre ou julgar-me por
isso. Agora se você não percebeu, estamos tentando almoçar e
olhar para sua cara está me fazendo perder a fome.
O silêncio se instalou e Ethan saiu pisando fundo, depois
de nos encarar uma última vez.
— Alguém quer mais vinho? — Rosie perguntou. — Eu
vou pedir mais. — E se levantou, indo em direção ao balcão.
— Eu sinto muito. — Ella foi a primeira a falar.
— Hey, por que você está se desculpando?
— Por essa cena, pelo que Ethan insinuou. Não…
— Ella, não se culpe quando você não é culpada de
nada. Não é sua culpa as ações dele. — Tranquilizei ela.
— Mas…
— Mas nada. — Segurei sua mão por cima da mesa. —
Ethan é um idiota com ego elevado que não aceita que o que
tenha acontecido entre vocês, não exista mais. Ele está na
defensiva do seu ego e irá tentar magoar e colocar a culpa em
você sempre que tiver a possibilidade. Lembre-se, você não
tem culpa disso.
Vi quando ela respirou fundo e piscou algumas vezes
para conter as lágrimas, falhando na missão.
— Não chore, linda. Ele não merece suas lágrimas. —
Estendi minha outra mão e enxuguei suas lágrimas.
— Obrigada, Henri. — Ela sorriu.
— Sempre que precisar. — Sorri de volta.
Porque quando Ella Jones sorri para mim, é óbvio que
eu vou sorrir de volta.
Rosie retornou com outra garrafa de vinho e uma taça
para mim. Após as três taças estarem cheias, levantei a minha.
— Um brinde. — Propus.
— Ao que vamos brindar? — Ella perguntou.
— Você, por ser forte e enfrentar Ethan.
— Um brinde a Ella por matar seu leão do dia com
dignidade, é isso aí garota! — Rosie falou alto demais e
acabamos os três rindo.
Nossa comida chegou e o almoço permaneceu tranquilo
entre boas risadas. Descobri que Ella e Rosie se conhecem
desde sempre, ambas são francesas, nasceram nos arredores de
Paris e se mudaram juntas para Los Angeles. Rosie contou
muitas histórias constrangedoras das duas e Ella ficou
incrivelmente linda com vergonha.
Infelizmente o horário da minha próxima reunião estava
chegando e era hora de voltar ao trabalho.
— Foi um prazer almoçar com vocês, garotas. Mas o
dever me chama. Tenho mais duas reuniões antes de finalizar o
dia. — Tirei algumas notas da carteira que pagariam toda a
conta.
— Nossa, as horas correram. — Ella falou, olhando para
o relógio em seu pulso. — E de jeito nenhum você vai pagar a
conta toda, Henri. Vamos dividir.
— Você pode entrar nessa briga como quiser, Ella. Mas
eu sempre ganho.
Ela suspirou e riu, cedendo.
— Sendo assim, estou sem forças para lutar com você.
Inclusive, volto com você para a empresa. Tenho uns ajustes
para fazer na capa da nova campanha e quero terminar o mais
rápido possível. Rosie, querida. Te vejo depois. — Ela se
levantou e deu um abraço na amiga.
— Ok, me ligue mais tarde, eu vou ficar aqui um pouco
mais, o barman está me dando umas olhadas boas. — Rosie se
virou para mim. — Foi ótimo conversar mais com você, Henri.
Cuide bem da minha garota.
— Sempre. — Respondi.
Acompanhei Ella até a saída. Minha mão em suas
costas, guiando-a. Era bom estar assim com ela.
Caminhamos tranquilamente, conversando sobre a
empresa e a nova campanha. A mulher era incrivelmente
fantástica no que fazia. A sutilidade e confiança que ela tinha
quando abordava os assuntos. Perfeita.
Entramos no hall da J&J Company e seguimos para o
elevador. Uma tensão se instalou assim que as portas se
fecharam. Lembrei de todas as vezes que isso aconteceu
quando estivemos dentro de um. Mas, a primeira vez quando a
peguei me observando pelo espelho foi demais. Não segurei a
risada.
— O que foi? — Perguntou confusa.
— Nada. — Respondi, sorrindo.
— Sério, Henri. Eu tenho molho no meu rosto? Meu
cabelo está bagunçado?
Era fofa e engraçada a forma agitada que ela se olhava
no espelho à procura de algo.
— Não, você está ótima. Apenas estava lembrando a
primeira vez que estivemos juntos nesse elevador. Eu estava
prestes a perguntar se você queria um babador.
— Não seja convencido. Eu nem estava reparando em
você.
— Não? — Me endireitei e fixei meu olhar nela através
do espelho.
Ella estava inclinada retocando seu batom e logo uma
imagem passou pela minha cabeça. Minha mão envolvendo o
seu cabelo longo, puxando-a para mais perto de mim e colando
o seu corpo no meu. Me dando o prazer de beijar seu pescoço
por trás e em seguida trilhar meus beijos até os seus lábios.
Voltei à realidade quando o elevador apitou no andar que
Ella iria ficar.
Pisquei e olhei para ela de novo. Ela estava vermelha e
contendo uma risada.
— O que foi? — Foi a minha vez de perguntar.
— Nada, chefe. Só acho que você deveria cuidar disso
antes de ir para a sua reunião.
— Do que você está…
Congelei quando a vi olhando para baixo, onde minha
ereção era visível. Jesus Cristo.
— Tenha uma boa tarde, Henri. — Ela se virou, saindo
do elevador.
— Você será a minha morte, Ella Jones.
Estava desligando meu computador quando uma batida
na porta chamou minha atenção.
— Hey. Está ocupada? — Henri perguntou, colocando a
cabeça para dentro da sala.
— Não, estou terminando aqui, entre.
Ele adentrou a sala e tive que olhar para qualquer canto
menos para ele com o cabelo ligeiramente bagunçado, a
gravata afrouxada e os dois primeiros botões da camisa social
branca desabotoados. Ele estava sexy como o inferno.
— Então… — Iniciou, apertando a ponta do nariz. —
Eu estava pensando…
Ele queria dizer alguma coisa, mas não sabia como. Era
perceptível.
— Pensando em… — Encorajei.
— Eu tenho reservas para jantar amanhã em um
restaurante francês que abriu recentemente, queria saber se
você gostaria de ir comigo.
Seu olhar perdido o entregou. Henri estava nervoso. E
ele acabou de me convidar para um jantar.
— Eu…
— Foi uma péssima ideia, você já deve ter
compromisso, me desculpa. — Falou apressadamente, me
interrompendo.
— Henri…
— Sério, Ella. Desculpa.
Sorri.
— Se você me deixasse completar a frase, saberia que eu
adoraria ir jantar com você.
— Pera, o que? — Ele parecia surpreso.
— Eu vou jantar com você, seu bobo. Mas primeiro
teremos que passar pela aprovação de Maggie, da última vez
que jantei fora sem avisar, ela não olhou na minha cara por
uma semana.
— Quem é Maggie?
— Minha gata.
Ele riu e balançou a cabeça.
— Tudo bem. Espero ter a aprovação de Maggie para te
levar para jantar. Talvez eu leve um presente como pedido de
desculpas antecipado por tirar você dela.
— Oh, acho ótimo você fazer isso. — Rimos juntos.
Terminei de organizar minhas coisas e peguei minha
bolsa para irmos embora. Henri me acompanhou até o
elevador e não segurei a risada quando entramos nele.
— Quer parar?
— Não. — Respondi, rindo ainda mais.
— Você nunca vai esquecer isso, não é?
— Nunca.
Respirei fundo e comecei a rir novamente.
— Perdoe-me, acho que estou tendo uma crise de riso,
isso acontece quando estou cansada e com fome. — Sorri para
ele.
— Não precisa se desculpar por isso. — Sorriu de volta.
— Eu pensei em você a tarde inteira, sabe? Eu estava
morrendo de vontade de ser uma mosca para saber como você
resolveu seu problema antes de ir para a reunião. Essa é uma
das partes em que eu agradeço por ser mulher.
— Acha isso engraçado, não é? — Seus olhos
escureceram. — Isso terá volta, Ma belle. Guarde minhas
palavras. Irei te deixar tão excitada que você não irá suportar.
E então, irei pular do barco te deixando sozinha com o seu
desejo.
Não sei se foi a tentativa de falar francês com seu forte
sotaque britânico ao pronunciar “Ma belle” ou o seu plano de
vingança que fez meu corpo queimar em excitação.
E é óbvio que o danado percebeu quando me contorci no
lugar. Por que diabos eu fui dizer que era francesa? Ele fica
mil vezes mais sexy falando francês.
— Fala de novo.
— O que?
— Do que você me chamou.
— Ma belle?
— Cacete.
— Você gostou?
— Sim. Isso soa perfeito.
— Então te chamarei assim mais vezes, Ma belle.
— Posso me acostumar com isso. E Henri?
— Sim?
— Acho que será difícil você pular do barco.
— Talvez você tenha razão.
As portas do elevador abriram e nós dois saímos.
Caminhamos lado a lado até o estacionamento. Agora foi a vez
de ele rir.
— O que é tão engraçado? — Perguntei.
— O fato de você ter me atropelado. Sabe, atropelar
alguém não é uma boa forma de conquistar. — Ele piscou para
mim.
— Ei, pode ir parando. Eu estava tendo um dia ruim, me
atrasei assim como você e eu não tenho culpa que você surgiu
do nada e deixou seu traseiro na frente do meu carro. E aliás,
eu não estava tentando conquistar você.
— Você deve desculpas a ele, o pobre coitado foi
acertado em cheio. — Ele fez beicinho. — Ah, e não se
preocupe, mon chéri . Você não só acertou em cheio o meu
traseiro, mas o meu coração também. — Henri piscou.
Ele não estava falando sério, estava?
Senti meu rosto esquentar.
— Céus Henri, pare de falar francês ou eu vou agarrar
você aqui mesmo. — Brinquei.
— Je serais très content, Ma belle.
Que cretino.
Abri a porta do meu carro e me virei para ele.
— Bom, estou indo para casa agora. Iremos jantar assim
que sairmos da empresa amanhã?
— Estarei fora o dia todo amanhã, eu te busco às 20h em
seu apartamento. A reserva é apenas às 20:30, mas quero
causar uma boa impressão para Maggie. Não quero uma gata
enfurecida comigo por chegar atrasado.
— Ela e a dona ficarão felizes em ver o seu esforço,
pontualidade em pessoa. Até amanhã, Henri. — Entrei no
carro.
A dúvida pairava sobre ser apenas um jantar entre
colegas de trabalho ou um encontro. Ele leu meus
pensamentos quando me chamou.
— Ma belle.
— Sim?
— É um encontro.
Um arrepio percorreu todo o meu corpo.
Sorri para ele e fui embora.
A viagem de volta para casa foi feita com o som do
carro em volume máximo e uma Ella com um sorriso de orelha
a orelha. Mas assim que entrei no meu apartamento o pânico
me atingiu.
Que roupa irei usar amanhã? Eu preciso de ajuda.
Corri até minha bolsa e peguei meu celular. Pesquisei
pelo grupo das meninas.

Ella: CONVOCAÇÃO DE URGÊNCIA


MISSÃO: S.O.S - ELLA TEM UM ENCONTRO.
Jô: COMO ASSIM UM ENCONTRO, PRODUÇÃO?
Rosie: HENRI TE CHAMOU PARA SAIR? COMO FOI
ISSO? QUE HORAS VAI SER O ENCONTRO?
Clair: HENRI? O CHEFE GOSTOSÃO? QUANDO
VAMOS CONHECÊ-LO?
Mad: OK, PRECISO ORGANIZAR UM CASAMENTO.
ELLA ONDE VOCÊ QUER SUA LUA DE MEL??? VENEZA
OU MALDIVAS?
Ella: ESTEJAM TODAS EM MEU APARTAMENTO
AMANHÃ ÀS 17H, EU PRECISO FICAR IMPECÁVEL.
HENRI VEM ÀS 20H.
Jô: Amiga, você não precisa fazer esforço. Mas às 16:30
estaremos aí e queremos todos os detalhes.
Mad: Vou levar meu notebook para os planejamentos.
Ella, pensei em rosê ou champanhe para nossos vestidos de
madrinhas, qual você prefere?
Rosie: EU APOIO O ROSÊ.
Clair: Eu prefiro champanhe.
Rosie: Por que você é sempre do contra, Clair?
Clair: Porque pelo visto só eu tenho bom gosto.
Jô: Meninas, acalmem-se.
Mad: O que você quis dizer com isso, Clair?

Uma discussão sobre as cores dos vestidos foi iniciada e


me peguei com lágrimas nos olhos de tanto rir. Eu tinha tanta
sorte por tê-las. Eu e Rosie conhecemos Clair, Joanna e
Madson assim que chegamos em Los Angeles.
Estávamos as cinco à procura de emprego, por ironia do
destino um novo restaurante estava abrindo na cidade, com
isso precisavam de um grande número de funcionários e nos
contrataram. O que era para ser uma convivência no ambiente
de trabalho, virou uma amizade duradoura.
Deixei minhas coisas de lado e fui para o banheiro.
Coloquei minha playlist e fui preparar meu banho. Depois de
tirar minha maquiagem, entrei na banheira.
High Hopes - Kodaline começou a tocar e meus olhos se
fecharam.

Eu lembro agora, isso me leva de volta para quando tudo


começou
Mas eu só tenho a mim mesmo para culpar, e eu aceito isso
agora
É hora de se libertar, sair e começar de novo
Mas não é tão fácil assim

Meus pensamentos me levaram de volta para o passado,


em como a culpa sempre voltava para mim. Como foi difícil
sair daquele ciclo vicioso e recomeçar.

Mas eu tenho grandes esperanças


Elas me levam de volta para quando nós começamos
Grandes esperanças
Quando você se liberta, sai e começa de novo.
Eu tentei a todo custo, eu me mudei para outra cidade,
comecei do zero, segui em frente. Daí veio Ethan e eu
simplesmente projetei o antigo Sebastian nele, acabou que no
final eles não eram tão diferentes.

Grandes esperanças
Quando tudo chega ao fim
Mas o mundo continua dando voltas

Mas agora acabou. Eu sou forte. Eu preciso ser. Eu


prometi a mim mesma que iria seguir minha vida, sem medos,
sem traumas.
E veio Henri… Uma pessoa do sexo masculino que
acabei de conhecer, que pela primeira vez não me senti
ameaçada, que desde o primeiro dia cuidou de mim, que fez eu
me sentir segura e em casa com uma facilidade absurda. E que,
sem dúvidas, bagunça minha cabeça.
Eu não sentia isso há muito tempo. Tínhamos uma
conexão poderosa, isso era certo. Como se já soubéssemos da
existência um do outro. Por que eu sinto que o conheço de
algum lugar?

Grandes esperanças, oh
E o mundo continua girando
Sim, este mundo continua girando
Como é que este mundo continua dando voltas?

É isso. O mundo não para e precisamos seguir com ele.


Cada dia temos uma nova oportunidade. E eu vou agarrar
todas elas, principalmente se Henri Hayes estiver incluído.
Terminei meu banho e depois de vestida no meu pijama,
deitei-me na minha cama, sentindo um peso se aproximando
logo depois — Maggie.
— Oi, querida. — Sorri ao ouvi-la ronronar e se
aconchegar em mim. — Amanhã você conhecerá alguém
importante para a mamãe. Seja boazinha com ele. — Fiz
carinho em sua cabeça e me acomodei direito na cama.
Fechei os olhos e me permiti afundar na escuridão que
me levava ao paraíso, aos braços do homem de olhos verdes
que acelerava meu coração.
Gostaria de dizer que estou lidando muito bem com o
encontro mais tarde. Gostaria de dizer que estou muito
tranquila, que estou trabalhando normalmente e que não estou
contando as horas para 20h.
Mas a verdade é que estou surtando. Estou agitada em
um nível insuportável. Já fiz e refiz tudo que tinha que fazer na
empresa. Fiz rascunhos de três novas campanhas que acabei de
criar, tomei cinco copos grandes de café gelado e agora que
faltam somente três horas, quarenta e sete minutos e vinte e
quatro segundos para encontrar Henri novamente, estou
prestes a arrancar meus cabelos.
Desliguei o computador ao decidir que me daria o luxo
de sair alguns minutos antes do horário. Afinal, eu tenho um
encontro.
Com o chefe.
Henri realmente não apareceu na empresa hoje. Gostaria
de saber como ele aguenta trabalhar tanto, cuidar de várias
coisas ao mesmo tempo e ainda ter disposição para encontros.
Será que ele tem muitos encontros?
Balançando a cabeça para afastar os pensamentos, saí da
minha sala, encontrando Marina no corredor indo em direção a
máquina de café.
— Ella. Já está indo?
— Sim, Mari. Já terminei tudo que tinha que fazer por
hoje.
— Você sabe por que o chefe não veio?
— Reuniões? Ele deve ser muito ocupado.
— Fiquei sabendo que não é nada sobre o trabalho. — E
lá vem fofoca. — Beth do setor administrativo disse que ouviu
ele no telefone ontem conversando com alguém sobre um
encontro. Ele está fora planejando tudo sozinho. Daria tudo
para descobrir quem é a sortuda. O cara é gato, gostoso, podre
de rico e acima de tudo, romântico.
Senti meu rosto esquentar e tentei conter o sorriso. Saber
que Henri estava se dedicando tanto a isso fazia meu coração
transbordar. Precisava sair daqui antes que Marina percebesse.
— Bom, ela é uma mulher de sorte. Eu vou indo,
Marina, Maggie está estressada hoje e preciso me arrumar para
o jantar.
— Jantar? Com quem?
Merda. Eu e a minha boca grande.
— Com a minha mãe.
— Pensei que só jantasse com sua mãe aos domingos.
— Mudamos nossa tradição. Até amanhã, Mari. Tenha
uma ótima noite. — Sai apressadamente sem dar a chance de
ela responder.

Dirigir nunca foi o meu forte, apenas o faço por


necessidade. Fui o mais rápido que pude, sem causar nenhum
acidente.
Quando entrei em meu apartamento, pulei de susto ao
ver minhas quatro amigas paradas bem no meio da minha sala.
— Que diabos? — Gritei, colocando a mão no peito.
— Falei que estaríamos aqui às 16:30, você está
atrasada. — Joanna intimou.
— Eu trabalho?! — Falei como se fosse óbvio.
— Você está saindo com o seu chefe, pelo amor de
Deus. — Rosie soltou.
— Tecnicamente, eu ainda irei sair com ele.
— Você o encontrou no jantar com sua mãe e ele
almoçou com a gente. Dá no mesmo.
— Chega de conversa, viemos aqui para deixar o Henri
aos seus pés. Para o banho, já. — Clair mandou.
— Amiga, escolhi três opções de looks. Tome seu banho
que temos muito o que fazer. — Mad salva o look de qualquer
pessoa. Não é atoa que hoje ela trabalha para o ateliê mais
famoso de Los Angeles.
Corri para o banheiro e me deparei com a banheira
pronta, repleta de pétalas de rosas, uma taça de Chardonnay
estava ao lado. Sorri ao ver o que as meninas tinham feito.
Me despi e entrei na banheira, deixando a água quente e
perfumada me relaxar.
Faz tanto tempo desde que me senti assim em relação a
um homem. — Pensei enquanto passava a esponja pelo meu
corpo. — Com Ethan foi tudo tão diferente, desde o início. Eu
não me sentia conectada, juro que não sei o que eu tinha na
cabeça. Mas, mais uma vez me serviu de aprendizado.
Minha mente mudou seu foco para imaginar como será o
decorrer do encontro. Borboletas preencheram meu estômago.
Eu estou agindo literalmente como uma adolescente.
E gostaria de dizer que isso não é ruim. De forma
alguma. Me faz sentir que estou realmente viva.
Preciso lembrar de agradecer a Henri por isso.
Tentei curtir mais um pouco do meu banho. Mas fui
interrompida por Mad.
— Já passou tempo demais nessa banheira, Sunflower.
Não queremos você com a pele enrugada por conta da água.
Venha, vamos começar a te arrumar.
— Não posso ficar mais cinco minutinhos? —
Resmunguei, fazendo beicinho.
— De jeito nenhum. — Mad se apressou em pegar meu
roupão.
Relutantemente, terminei meu banho e saí da banheira.
Voltei para o quarto, que estava mais para um salão de
beleza. Elas levaram isso a sério mesmo.
Na minha penteadeira estavam todos os tipos de
maquiagens possíveis, em outra bancada improvisada estavam
o secador, a chapinha e o babyliss. Na minha cama estavam
separadas duas lingeries e os três looks que Mad tinha
escolhido.
— Uau. Quanta coisa.
— Levamos isso a sério, Ella. Agora sente-se aqui,
precisamos preparar essa pele. — Rosie me puxou para a
cadeira.
Os próximos 30 minutos foram preenchidos com
skincare. Após isso, fui intimada a me sentar de costas para o
espelho. Assim o fiz.
Rosie fazia minha maquiagem, Jô cuidava do meu
cabelo e Clair das minhas unhas. Enquanto Mad apenas
observava a bagunça e ria das minhas caretas.
Algum tempo depois, suspirei em alívio quando Rosie
finalizou meu batom.
— Voilà!
Encontrei quatro bocas boquiabertas.
— Eu quero ver… — A curiosidade me tomava.
— Você está tão linda, Ella. — Mad soltou, dando
pulinhos.
— Fizemos um bom trabalho. — Rosie argumentou. —
Mas ainda não é hora de se ver.
— Ele, sem dúvidas, vai se apaixonar por você, amiga.
— Jô chegou perto de mim. — Quem ousaria não se
apaixonar?
Sorri para ela com os olhos marejados.
— Nem pense em chorar. Deu muito trabalho fazer sua
maquiagem. — Rosie repreendeu sorrindo.
— Ella, acho que estou realmente me apaixonando por
você. — Clair dramatizou, piscando os olhos.
— Entre na fila. — Respondi, rindo.
— Não querendo que você surte, Ella, mas já são 19:37
e você ainda não escolheu a roupa. — Mad me puxou em
direção a cama. — Nem a sua lingerie. — Ela piscou pra mim
e sorriu maliciosa.
— Não vai acontecer nada, vamos apenas jantar. —
Tentei explicar.
— Sim, e você será a sobremesa. — Clair riu alto.
— Sério, gente. — Tentei não deixar esse assunto me
abalar e comecei a admirar as duas lingeries. Não custaria
nada me sentir sexy e confiante pelo menos uma vez, mesmo
sabendo que nada ia acontecer.
Na dúvida entre a vermelha e a preta, escolhi a preta.
Nada supera a boa e velha lingerie preta.
Essa parte foi fácil, mas quando passei meus olhos pelas
roupas, a dúvida triplicou. Então, fiz o que eu fazia de melhor.
Imaginar. Me imaginei ao lado de Henri com cada roupa
daquelas e por fim decidi o que iria usar. Fui até o closet e me
vesti.
Voltei para o quarto e desfilei até o espelho com o
vestido preto que abraçava minhas curvas.
— Eu sabia que você faria uma boa escolha. — Mad foi
a primeira a falar quando me viu vestida. — Minha aposta era
exatamente nesse vestido. E olha só para você. Está tão linda.
Abri o maior sorriso quando me vi no espelho. Elas
realmente fizeram um bom trabalho.
— Eu não sei nem como agradecer. Eu estou perfeita,
graças a vocês. E quero muito chorar, mas por amor a minha
vida, não irei fazer isso, Rosie.
— Ella! 19:58, se ele for pontual irá chegar a qualquer
momento. — Joanna disse animada.
— Pontual… — Ri sozinha e me deparei com todas me
olhando. — O que?
— Queremos conhecê-lo. — Clair anunciou e eu
conhecia bem o olhar que ela estava lançando para mim.
Oh não. Elas iriam acabar com ele. Henri não merece
uma chuva de perguntas agora.
— Não, não, não. Não vou deixar vocês fazerem isso
esta noite. Vocês precisam ir agora. — Falei apressada. — Ele
vai desistir de mim se vocês o bombardearem logo no primeiro
encontro.
— Sério isso? — Rosie cruzou os braços. — Henri já me
conhece.
— Uma já deu trabalho suficiente, quatro de uma vez só
é demais. Vão. — Comecei a empurrar elas para a sala e então
congelei quando a campainha tocou. — Merda! — Sussurrei.
— Se escondam!
Vi todas correrem para a cozinha e respirei fundo antes
de abrir a porta.
Você consegue, Ella.
— Henri. — Saudei quando o monumento apareceu no
meu campo de visão.
— Ma belle. — Respondeu, me envolvendo em seus
braços.
Meu Deus, eu vou desmaiar. Ele está mil vezes ainda
mais bonito esta noite. E seu perfume está mil vezes mais
forte.
— Você está deslumbrante. Incrível como consegue ficar
ainda mais bela. — Sorriu, mostrando sua covinha. — E
cheirosa.
— Agradeça a sua empresa e em parte a mim por ajudar
na criação de fragrâncias incríveis.
— Você acha que posso fazer o teste de fragrâncias
diretamente do seu pescoço?
— Bem, você é o chefe, se é isso que quer, é isso que
terá. — Sorri sedutora.
O que eu estou fazendo?
— Tenho muito que agradecer então. — Piscou.
— Eu vou pegar minha bolsa, entre e fique a vontade. —
Avisei sem desviar meus olhos dos seus, era impossível me
desconectar das duas esmeraldas que brilhavam para mim.
— Sem problemas.
Sua presença era forte, dominou todo o meu
apartamento. Quando ele passou por mim fechei os olhos e
respirei fundo.
— Isso é para você. — Ele me entregou um buquê de
rosas vermelhas que eu nem tinha reparado. E então me
permiti observá-lo por completo. Henri estava em um terno
preto, camisa social branca por baixo, sem gravata e botões
abertos. Jesus eu poderia morrer agora e morreria feliz. —
Mais uma vez combinando com o seu batom, ainda não
borrado.
— Oh, obrigada. Não precisava.
— Apenas um pouco do que você merece.
Suspiros e “awns” surgiram do nada e olhei assustada
em direção a cozinha e me deparei com todas as minhas
amigas espionando, escondidas atrás do balcão que separava a
sala da cozinha.
— O que foi isso? — Henri perguntou.
— Isso o que? — Me fiz de desentendida.
— Achei ter escutado algo. — Ele olhou para os lados.
— Bom, eu não ouvi nada, mas pode ter sido Maggie.
Deixe só eu colocar essas flores em um vaso e já te apresento a
ela. Não pense que escapou. — Pisquei.
Fui até a cozinha e olhei feio para os quatro rostos que
me olhavam ansiosos.
— O que vocês pensam que estão fazendo? — Sussurrei.
— Foi ideia da Joanna. — Clair apontou.
— Você disse que queria vê-lo. — Rebateu a morena.
— Ei, ei, ei. Não importa de quem veio a ideia.
Comportem-se.
— Hey, olha só, aqui está você. — Escutei a voz rouca,
agora carinhosa de Henri. — Você deve ser a Maggie. Eu sou o
Henri. Vim para levar sua dona para jantar, espero que não
seja um incômodo para você. Quero que essa noite seja
especial para ela.
Me espreitei junto com as meninas no balcão para ver
Henri acariciando Maggie, enquanto a gata se esfregava em
suas pernas. O silêncio pairou sobre todas e outra chuva de
“awns” começou.
Pelo jeito, o efeito Henri Hayes atinge também aos
inocentes animais.
— Ella… — Mad sussurrou.
— Eu sei, ele é incrível.
Assentiram rápido com a cabeça.
— Me dê esse buquê e vá agarrar esse homem. — Disse
Rosie, pegando o buquê de minhas mãos e me dando um leve
empurrão.
Corri de volta para a sala e encontrei Maggie em seu
colo.
— Vejo que já se conheceram.
— Sim, até nos tornamos melhores amigos. Não é
verdade, Srta. Maggie? — Comentou, batendo o dedo
indicador no focinho dela. Minha gata, que agora estava em
seu colo, parecia entender bem o que ele falava, pois alisou o
seu rosto com a patinha e em seguida o lambeu.
Jesus Cristo, essa foi a coisa mais adorável que eu já vi.
— Então a permissão foi dada. Podemos ir. — Falei,
pegando minha bolsa no sofá.
— Senhorita? Foi um prazer conhecê-la. Até mais.
Henri colocou Maggie no chão com cuidado e me
seguiu.
Do elevador até o seu carro o silêncio confortável
prevaleceu. Ele abriu a porta para mim e tentei não surtar
enquanto ele dava a volta no carro.
— Desculpa se eu estiver agindo estranho. Estou
nervosa. Você me deixa assim. — Disparei assim que ele
entrou.
— Uh. Bem-vinda ao clube, porque eu sinto o mesmo.
— Ele sorriu, me tranquilizando. — Vamos tentar não tornar
isso mais estranho. Pronta pra ir? — Ele perguntou.
— Sim, sim. — Respondi, devolvendo o sorriso.
Henri ligou o carro e seguimos para o restaurante.
Automaticamente sua mão viajou até a minha perna e aquele
parecia o lugar certo para ela. Ele me olhou apreensivo, como
se estivesse se desculpando por ter feito isso.
Esse movimento não me causou nenhum medo ou
pânico. Apenas olhei para ele e sorri tranquila, mostrando que
estava tudo bem.
— O caminho até o restaurante leva alguns minutos, que
tal brincarmos de isso ou aquilo? — Sugeriu tímido.
— Eu acho uma ótima ideia. Eu começo. — Bati
palmas. — Cidade ou Campo?
— Campo. Verão ou Inverno?
— Inverno.
— Sério? Por quê? Você não parece ser uma pessoa que
gosta de frio. — Ele olhou para mim.
— Ei, você não pode perguntar o motivo da escolha. —
Bati de leve em seu braço. Ele sorriu com a minha ação. —
Mas gosto do aconchego que o frio traz.
— Justo. — Ele concordou.
Como ele reagiria se eu esquentasse as coisas?
— Minha vez. Dar ou receber? — Segurei a risada
quando seus olhos se arregalaram. Então um sorriso malicioso
brotou em seus lábios.
— Então vamos por esse caminho? Ok. Ambos.
— Henri, isso ou aquilo, é um ou outro, não pode ser os
dois.
— Eu gosto do prazer mútuo, Ma belle. O que eu posso
fazer?
Senti minhas bochechas esquentarem.
— Minha vez, querida. Por cima ou por baixo?
Alguém entre em contato com meu plano funerário, por
favor.
— Por baixo. — Seu sorriso malicioso se destacou.
— Então você gosta de ser dominada?
— Henri! — Coloquei uma mão no rosto. Eu deveria
estar igual a um tomate.
— Desculpa. Não resisti. — Ele soltou uma risada
gostosa.
— Engraçadinho.
— Terminamos a brincadeira outra hora, estamos
chegando. — Ele avisou, estacionando em frente a um
restaurante.
— Tem certeza que é aqui? Está tudo escuro e diz na
placa que está fechado.
— Certeza absoluta. Você confia em mim, Ma belle?
— Sim. — Falei arrastada.
— Posso te vendar? — Perguntou cauteloso.
— Você pode.
Ele tirou um lenço do porta-luvas e me virei para que ele
pudesse colocá-lo. Então tudo ficou escuro. Escutei ele saindo
do carro e esperei pacientemente ele dar a volta e abrir a
minha porta. Senti sua mão segurando a minha e ele me
ajudou a sair do carro.
— Eu vou te guiar a partir de agora. Apenas segure a
minha mão.
— Ok.
Henri me guiou para dentro do restaurante que estava
em completo silêncio, me ajudou a desviar das mesas e depois
a subir alguns degraus. O próximo passo foi me sentar.
— Pode retirar o lenço.
O choque que me atingiu quando olhei ao redor. O
restaurante estava iluminado apenas por velas e tinha pétalas
de rosas por todos os lugares. Toda a decoração francesa fez
meus olhos se encherem de lágrimas. Senti saudade de casa.
Da minha antiga vida, antes de todo sofrimento.
Henri havia fechado o restaurante para nós dois. Ele me
deu a sensação de estar em casa novamente e ele nem sabe o
quanto isso significa para mim.
— Henri… — Sussurrei sem conter as lágrimas.
— Ei, querida. Por que você está chorando? Você não
gostou? — Perguntou, preocupado.
— Não, eu amei. Isso tudo… É lindo. Ninguém nunca
fez isso por mim.
— Então fico feliz em poder te proporcionar isso, se
você me permitir. E farei quantas vezes for possível. Porque
você merece isso e muito mais. — Ele pegou minha mão por
cima da mesa e sorriu para mim, usando a outra mão para
tentar enxugar as lágrimas.
— Obrigada. De verdade.
— Não precisa agradecer, sério.
Um garçom se aproximou da nossa mesa.
— Bonne nuit, souhaitez-vous commander maintenant?
(Boa noite, gostariam de pedir agora?)
— Oh oui. — Henri respondeu e deu uma breve olhada
no cardápio. — Posso pedir por você, Ma belle? — Afirmei
com a cabeça. — Nous voulons le plat du chef et une bouteille
du meilleur vin millésimé que vous ayez. (Nós vamos querer o
especial do chef e uma garrafa da melhor safra de vinho que
vocês tiverem.)
Senti vontade de beijá-lo a cada palavra em francês que
saía de sua boca.
O garçom anotou nosso pedido e se foi. Instantes depois
ele voltou trazendo uma garrafa de vinho e nos serviu.
— Santé! — Henri disse, brindando comigo.
— Santé! — Levei minha taça até meus lábios e gemi
quando apreciei o sabor do vinho.
— Não faça isso, Ma belle. — Ele me olhou sério.
— O que?
— Isso que você fez agora.
Bebi mais um pouco do vinho e gemi novamente.
— Isso?
— Cacete.
Sorri marota para ele e mudei de assunto.
— Como aprendeu a falar francês, Henri?
— Bom, minha mãe sempre amou a França, viajamos
muito à Paris, fui obrigado a aprender. — Ele sorriu.
— Sua mãe tem um bom gosto. Paris é perfeita.
Ele limpou a garganta e perguntou:
— Por que se mudou, Ella?
Poderia ser uma pergunta inocente, mas tinha um peso
enorme para mim. Peso esse que eu não estava pronta para
dividir ainda.
— Meus pais se divorciaram, então mamãe achou que a
cidade do amor não tinha tanto amor assim. Ela quis mudar de
ares e eu vim com ela. Rosie se mudaria comigo de qualquer
maneira, promessa de melhores amigas. E aqui estamos.
Ele assentiu.
— Por que Los Angeles?
— E por que não? Aqui é lindo, queríamos recomeçar
em um lugar com novas oportunidades e aqui nos deu muitas
delas.
— Então, um brinde à novas oportunidades. — Ele
sorriu.
— Um brinde a toda oportunidade que tivermos de
sermos felizes. — Complementei e brindei com ele mais uma
vez.
— Ouvi falar muito bem de você na empresa. — Soltou.
— Ouviu foi? E o que você achou sobre o que falaram e
sobre o que eu já fiz no período de tempo que está lá?
— Você está além do que imaginei, Ella. Funcionária
sem reclamações em nenhum departamento, obrigações
finalizadas e entregues antes do prazo, competência e
agilidade são tudo que um chefe quer.
— E o que o Sr. Hayes, como chefe, acha dessa nossa
situação?
— Estou interessado em você, Ma belle. Acho que isso é
muito nítido e torço para que seja recíproco. Então, para mim,
não há problema nenhum na nossa situação. E para você?
— Não vejo problema algum.
— Ótimo.
O garçom voltou trazendo nossos pratos.
— Ótima escolha, mon cher.
Olhar para o Ratatouille fez meu estômago ferver.
— Fico feliz que tenha gostado.
Sorri e comecei a comer. Novamente o gemido veio,
estava divino.
— Ella…
— Desculpa. — Comecei a rir.
— A noite vai ser longa.

Estava terminando meu Petit gâteau, enquanto Henri se


matava com o seu Crème Brûlée.
— Aqui, deixe-me ajudar. — Peguei a colher de sua mão
e quebrei o Crème.
— Obrigado. — Agradeceu tímido.
— Não fique com vergonha, esses danadinhos dão
trabalho a todo mundo.
— Não mais do que seus gemidos enquanto come. —
Quase me engasguei com o sorvete.
Henri sorriu em diversão e me provocou ao levar a
colher até seus lábios. Olhei fixamente para todos os
movimentos que sua boca fazia. Ele me pegou no flagra e
piscou.
— Você quer um pouco?
— Sim, eu quero.
Ele colocou um pouco de Crème na colher e a levou até
a minha boca. Abri a boca devagar e experimentei lentamente,
apreciando o sabor. Seus olhos nunca deixaram meus lábios.
Finalizei passando minha língua sobre eles.
Escutei-o limpar a garganta.
— Que tal dançarmos um pouco?
— Dançar? — Perguntei confusa.
— Sim. Preciso colar meu corpo no seu sem parecer
indecente.
Minhas bochechas esquentaram. Maldito vinho.
Henri fez um gesto para o garçom e uma música lenta se
espalhou pelo ambiente.
Home do Michael Bublé conseguiu mais uma vez fazer
todos os meus pelos existentes se arrepiarem.
— Henri…
— Anda, vem logo. — Seu tom era brincalhão e feliz.
Sua mão se estendeu e eu aceitei, me levantando. Com
um leve puxar, Henri me trouxe para si, colando nossos
corpos. A mão livre descansou no fundo das minhas costas,
me fazendo prender a respiração. Estávamos próximos demais.
Seus movimentos lentos me guiaram e entramos num ritmo
delicioso. Fechei meus olhos e descansei minha cabeça em seu
peito. As batidas aceleradas do seu coração me fizeram sorrir.
A mão que estava em minhas costas subiu até o meu
pescoço, fazendo-me encarar o seu dono. Olhos verdes
brilhavam, enquanto encaravam os meus. Nossos narizes se
tocaram e fechei meus olhos novamente, esperando qualquer
movimento dele.
— Acho melhor irmos embora. — Sua respiração era
pesada.
— Tudo bem.
Henri acenou para o garçom que logo veio com a nossa
conta. Ele pagou e saímos do restaurante.
Quando o ar frio bateu na minha pele nua, me arrepiei
em excitação. O vinho havia me deixado bem alegre.
— Pensando bem, há um bar aqui perto, acho que não
estou pronta para ir ainda.
— O que você quiser, Ma belle.
Henri pegou minha mão e caminhamos até o bar. O local
não estava cheio e também não estava vazio. Estava um clima
agradável. Tinha até um karaokê.
— O que você quer para beber, querida? — Henri
perguntou quando chegamos ao balcão.
— Hum. Acho que vou querer Dry Martini.
— Ok.
Henri fez nossos pedidos e nos sentamos em uma mesa
para dois num canto mais reservado do bar.
Jogamos conversa fora, demos boas risadas e depois de
alguns drinks a bebida já estava me dominando
completamente.
— Sabe, Ella. Me diverti bastante hoje. — Sua mão
acariciava meu rosto.
— Eu também. Mas a noite ainda não terminou, baby.
— A é? E o que você quer fazer? — Ele sorriu maroto
para mim.
— Algo muito radical.
Vi o desejo em seus olhos verdes e contive a risada.
— Diga, minha garota rebelde. O que você quer fazer?
— Karaokê. — Pulei da cadeira e puxei ele.
— Sério, Ella? — Ele riu incrédulo. — Quanto você
bebeu?
— O necessário para saber o que eu quero e eu quero
você comigo cantando naquele palco.
— O que eu ganho com isso? — Ele perguntou cedendo.
— Nossa, pensei que teria que implorar mais. Mas, não
se preocupe, seu prêmio valerá a pena, você foi um bom
garoto hoje. — Beijei seu nariz e continuei puxando-o até o
palco.
Duas garotas finalizavam a apresentação quando
chegamos na tabela de músicas. Estava em dúvida entre Rude
da banda Magic! ou a famosa Gotta Go My Own Way de High
School Musical, quando uma das garotas que estavam no
palco se aproximou de Henri.
— O que eu preciso fazer para ter um dueto com você,
gato?
— Talvez observar se ele está acompanhado ou não seja
um bom começo. — Passei meus braços ao redor de Henri e
senti seu sorriso contra minha pele quando ele beijou meu
pescoço.
— Desculpa, eu não sabia. — Ela falou nervosamente e
saiu.
— Não sabia que você era ciumenta.
— Eu não sou. — Olhei séria para ele.
— Não? — Ele riu.
— Quer saber? Não quero mais cantar. — Me virei para
voltar para a mesa.
— Hey, ciumenta, volte aqui. — Ele me puxou, fazendo-
me girar e bater meu copo em seu peitoral, derramando todo o
líquido em sua camisa social cara.
— Merda. Eu só faço merda. Eu tinha que estragar tudo
como sempre. Desculpa, Henri. Eu sou uma desastrada. —
Tentei enxugar com as mãos.
— Está tudo bem, Ella. — Ele tentou me acalmar,
sorrindo.
— Não, não está. Você está todo molhado e a culpa é
minha.
— Eu não estou nem um pouco preocupado com isso.
— Mas eu sim, vamos até o meu apartamento para você
se limpar. Eu acho que tenho algo que sirva em você. —
Insisti.
— Certo, eu vou, mas antes precisamos fazer algo.
— O que?
— Subir naquele palco e arrasar. Mostre para todos
nesse lugar o quanto você é maravilhosa. Você está com
ciúmes? Apenas suba no palco comigo e veja todos
observarem meus olhos nunca deixarem você.
Tentei ser orgulhosa e segurar o sorriso. Mas era
impossível.
— O que me diz?
— Tudo bem. — Cedi, deixando o sorriso surgir.
— Essa é a minha garota.
Adicione mais uma coisa na lista de qualidades de Henri
Hayes. Sua voz era de um anjo. Quando dei a ideia de
cantarmos, pensei que seríamos um grande desastre bêbado e
que todos zombariam. Mas foi tudo ao contrário. Arrasamos.
Na verdade, Henri arrasou. Todo o local parou para escutá-lo.
Meu rosto doía de tanto sorrir, seus olhos não me deixavam e
ele até arriscou dançar abraçado comigo. Rude agora é minha
música favorita no mundo todo.
Uma chuva de aplausos iniciou quando terminamos.
— Não sabia que você cantava.
— E eu não canto.
— O que foi aquilo então?
— Aquilo fomos nós. Demos um show, não demos?
— Sim! — Gritei.
— Ninguém nem reparou na camisa molhada.
— Isso não significa que eu não vá lavá-la. Vamos, você
pode ficar resfriado.
— Você sabe que está exagerando, não sabe?
— Cale-se, Henri.
Pegamos nossas coisas e fomos para o carro. A viagem
de volta até minha casa foi bem mais rápida e tranquila.
Subimos em silêncio. Como de costume, a tensão sexual
se instalou entre nós dois no instante em que entramos no
elevador. Nada conseguia fazer eu desviar meu olhar do seu. A
porta se abriu e seguimos para o meu apartamento. O levei até
a área de serviço.
— Tire sua camisa.
— Simples assim? — Ele brincou.
Henri começou a abrir os botões lentamente, sem nunca
quebrar nosso olhar. Desviei o olhar por um instante para olhar
seu peitoral esculpido. Engoli em seco quando vi suas
tatuagens. Nunca vi um homem tão sexy.
— Gosta do que vê? — Ele perguntou.
— Muito.
— Ah é?
— Sim.
Ele terminou de tirar a camisa e me entregou, mas no
processo sua mão tocou na minha e tudo foi pro espaço.
— Acho que está na hora do seu presente.
De repente, a chama que tinha dentro de mim se tornou
um incêndio completo, daqueles que os bombeiros levam dias
e dias para apagar. Joguei sua camisa no chão e avancei até
ele, juntando nossos lábios. Henri me pegou no colo e me
sentou em cima da máquina de lavar, aprofundando nosso
beijo e eu pude jurar que estava nas nuvens. Passei minhas
unhas pelas suas costas e subi até seus cabelos, agarrando-os
com força. Ele apertou minha cintura, me puxando ainda mais
para si. Senti sua ereção através da calça jeans e sorri contra o
beijo. Quando sua mão apertou meu seio direito por cima do
vestido, eu gemi em satisfação. Puxei ele ainda mais para
perto de mim, eu precisava de tudo vindo dele. Então algo o
fez quebrar nosso contato.
— Puta merda. — Ele gritou. — Que diabos é isso?
Quando abri meus olhos vi a cena mais engraçada da
minha vida.
Maggie havia pulado em cima do Henri.
— Jantar: sim. Beijar: não? Ok, Srta. Maggie. Eu já
estou de saída. — Falou para Maggie. — Acho que chegou
minha hora.
— Certo. — Balancei minha cabeça, ainda atordoada
pelo beijo. — Eu te levarei até a porta.
— Não precisa. — Respondeu rapidamente e se afastou,
indo em direção a sala.
— Henri, você está sem camisa.
— Tá tudo bem, meu blazer está no carro.
— Mas…
— Sério, preciso ir agora. — Insistiu e saiu.
Passei a mão no cabelo e olhei incrédula para Maggie.
— O que aconteceu aqui?
— Como assim a gata pulou em você? — Annie tinha
lágrimas nos olhos de tanto rir.
Hoje era dia de tomar café da manhã com ela.
— É o que eu estou te falando. A bendita gata cravou as
garras em mim.
— E o que você fez? — Ela perguntou enquanto tomava
mais um pouco do seu suco.
— Eu fiquei sem reação e entendi aquilo como um sinal
divino de que era hora de ir. Então fui embora.
— Você simplesmente foi embora? — Ela me olhou
como se eu fosse de outro mundo. — Como você faz isso,
Henri? Já falou com ela depois disso?
— Er… ainda não?!
Eu sei, fui um babaca. Mas eu não sabia lidar com um
turbilhão de sentimentos que invadiram meu coração. Nos
beijamos, porra. Ella me beijou, ela tomou iniciativa. E acho
que estraguei tudo.
— O que eu faço com você, Henri? — Ela levou a mão
até o rosto e esfregou. — Já sei! Mande flores e a chame para
almoçar hoje.
— Você tem certeza? — Perguntei inseguro.
— Dã. Óbvio.
— Ok, ok. — Ri. — Flores e almoço então. Obrigado,
Annie.
— Sempre que precisar.
Às vezes me perguntava se ela não era uma adulta no
corpo de uma criança. Annie era inteligente demais para sua
idade.
Terminei meu café, me despedi dela e fui então para a
minha missão.
Parei em uma floricultura no caminho da empresa e
fiquei em dúvida sobre o que levar. Uma senhorinha percebeu
minha frustração e veio até mim.
— Posso ajudá-lo, meu jovem?
— Eu creio que sim. O que eu deveria levar para um
pedido de desculpas?
— Sua namorada?
— Ainda não.
— Ainda não estão namorando e já precisa de um
pedido de desculpas? — Ela riu. — Eu sei exatamente do que
precisa, querido. Venha comigo.
Ela me levou até o final da pequena floricultura.
— Aqui está. Se quer realmente que ela te desculpe, um
lindo buquê de cravos amarelos é o certo. Mark, meu falecido
marido, costumava me enviar vários desses durante o mês e
sempre o perdoava. O cretino vivia para me fazer raiva.
Senti a dor em sua voz.
— Eu sinto muito pelo Mark.
— Obrigada, querido. Agora venha, vou organizar o
buquê da sua garota. Gostaria de escrever um cartão?
— Sim, claro.
Escrevi o que eu queria e entreguei para a senhora
colocar no buquê.
— Pronto, filho. Aqui, pegue. — Ela me entregou uma
pequena caixa de chocolate junto com as flores. — São da
Bélgica. É de onde eu vim. Espero que sua garota goste e
aceite seu pedido de desculpas.
Entreguei o dinheiro para ela e respondi:
— Ótimo. Já visitei a Bélgica, é um lugar encantador e
sim, os chocolates são os melhores, tenho certeza que Ella irá
gostar. Obrigada, Sra…
— Bertha.
— Foi um prazer, Sra. Bertha. E meu nome é Henri.
— Foi um prazer também, Henri. Agora vá atrás dela.
— É isso que eu vou fazer.
Entrei em meu carro e segui para a empresa. Assim que
cheguei, cumprimentei a todos que estavam no hall de entrada
e percebi seus olhares me seguindo. Peguei o elevador e subi
até o andar onde ficava a sala de Ella. Quando as portas se
abriram, dei de cara com Marina.
— Bom dia, Sr. Hayes.
— Bom dia, Marina.
Eu vi em seu rosto a curiosidade consumindo. Apenas
desviei dela e segui meu caminho. Obviamente ela não tirou os
olhos de mim. Então parei e pensei melhor. Vou alimentar sua
mente fofoqueira. Dei meia volta e caminhei até ela.
— Hey, Marina. Preciso da sua ajuda. Você poderia
entregar isso a Ella? Eu mesmo a entregaria, mas acho que ela
não quer me ver logo tão cedo.
A expressão surpresa surgiu em seu rosto, ela balançou a
cabeça para se recompor e pegou o buquê e a caixa de
chocolate de minhas mãos.
— C-claro, Sr. Hayes. Irei fazer isso agora mesmo.
— Obrigado. Tenha um bom dia.
Voltei para o elevador e fui para minha sala. Só me
restava esperar.

— Sorte sua eu ser completamente viciada em chocolate


belga. — Ella falou entrando no meu escritório, me pegando
totalmente de surpresa.
— Que bom que gostou. Se você está aqui, quer dizer
que estou desculpado e vai almoçar comigo?
— Eu vou almoçar com você porque não recuso comida.
Mas você estar desculpado ainda é um assunto para ser
conversado.
Droga.
Me levantei e acompanhei Ella até fora da minha sala,
seguimos juntos pelo corredor. Um completo silêncio se
instalou quando passamos por alguns funcionários da empresa.
Ella seguiu olhando para frente como se nada a abalasse.
Quando chegamos à privacidade do elevador, sua
máscara desmoronou.
— Onde você estava com a cabeça de mandar Marina
me entregar as flores e o chocolate? Você sabe que ela é a
fonte oficial de fofocas aqui da empresa, não sabe?
— Tenho total conhecimento disso. — Respondi baixo.
— E mesmo assim o fez, sabendo que todos iriam saber
sobre nós. — Ela não parece tão irritada.
— Sim.
— Por que? — Seus olhos verdes me prenderam. E
como ímã meu corpo já estava colado com o dela. Uma mão
ao lado da sua cabeça e a outra segurando seu queixo.
— Porque eu quero que saibam sobre nós, porque eu
quero que Ethan veja a mulher maravilhosa que ele perdeu
sendo tratada como merece. Porque eu não consigo esconder
nada, porque eu não quero te esconder. Porque eu
simplesmente não consigo tirar você dos meus pensamentos.
Porque eu quero que isso dê certo. E depois de ontem, depois
de te beijar… — Meus lábios tocaram os seus. — Eu fiquei
louco, eu não consegui lidar com tudo que estava acontecendo.
Por isso fugi. E peço desculpas.
— E você não vai fugir agora? — Ela perguntou,
cedendo.
— De jeito nenhum.
Acabei com a distância que restava entre nossos lábios e
a beijei profundamente. Nossas línguas se encontraram e era
incrível nosso encaixe. Eu estava completamente viciado
naquele beijo, no seu gosto.
— Me desculpe fugir daquele jeito. — Pedi, quebrando
nosso beijo e olhando em seus olhos.
— Hum. Vamos ver. Não consigo pensar direito com
fome e com você tão perto assim de mim. — Respondeu,
sorrindo. Seus olhos fixaram-se em meus lábios.
As portas do elevador abriram, fazendo eu me distanciar
dela. Dei espaço para ela passar e a segui até a saída. Alguns
olharem voaram em nossa direção enquanto caminhávamos
pelo saguão. Marina realmente sabia fazer fofoca.
— Não vamos de carro? — Ella perguntou assim que
saímos da empresa.
— Não. Sei de um local aqui perto e hoje está um ótimo
dia para uma pequena caminhada.
— Você e seus lugares peculiares.
— Você ainda não viu nada. — Segurei sua mão e ela
sorriu olhando para as duas juntas.
— Eu gosto disso. — Revelou sem olhar para mim.
— Sim, eu também.
Caminhamos calmamente até o pequeno restaurante que
ficava a dois quarteirões da empresa. O ambiente era
incrivelmente acolhedor e bem conhecido por mim. Quase
ninguém sabe, mas trabalhei aqui quando mais jovem. Antes
da minha vida mudar completamente.
— Chegamos. — Anunciei.
— Que lugar lindo. — Vi a sinceridade em seu olhar
assim que entramos no local.
— Tão lindo quanto você.
— Para. — Ela me empurrou sem graça. — Como
descobriu esse lugar?
— Digamos que eu conheça a dona. Audrey é uma velha
amiga da família. Venho sempre que posso aqui. É um dos
poucos lugares que fazem realmente uma boa comida caseira.
Guiei Ella até uma das mesas perto da vitrine e puxei a
cadeira para que ela pudesse sentar. Quando sentei percebi seu
olhar intrigado.
— O que foi? — Perguntei.
— Você é sempre assim?
— Assim como?
— Um cavalheiro.
— Minha mãe me educou bem. — Pisquei para ela.
— Ela deve estar orgulhosa então, fez um bom trabalho.
— Sorriu.
— Sim, ela fez. — Sorri de volta para ela, estremecendo
um pouco. Ella não sabia sobre minha mãe, mas, pela primeira
vez, durante um bom tempo, conversar com alguém sobre ela
não doía tanto.
— Qual o nome dela?
— Anne.
— Lindo nome.
Antes que eu pudesse responder, o garçom chegou para
anotar nossos pedidos e eu agradeci mentalmente por isso.
Depois de ter nossos pedidos anotados, ele se retirou.
Não demorou muito para nossa comida chegar e Ella se
deliciar.
— Então, quer dizer que você frequenta muito esse
restaurante. — Falou depois de seu gemido habitual após
terminar de engolir a comida. — Posso entender o motivo.
Nunca comi nada igual. Essa, com certeza, é a melhor comida
caseira. Não conta para minha mãe. — Ela riu.
— Ainda bem que gravei nossa conversa. É melhor fazer
tudo que eu mandar a partir de agora. — Brinquei.
— Você não ousaria usar isso contra uma moça indefesa
como eu. — Ela entrou no personagem.
— Eu não teria tanta certeza, Ma belle. — Sorri
galanteador. — Aposto que você nem reclamaria do que eu
tenho em mente.
Ella chegou mais perto.
— O que você tem em mente, senhor?
— Não sei se aqui é o lugar apropriado para falar.
— Não me importo, estou curiosa. — Insistiu.
— Você pediu. — Cheguei ainda mais perto, colocando
uma mecha do seu cabelo atrás da orelha, deixando a pele do
seu pescoço exposta. — Hoje quando você entrou no meu
escritório, sem bater, toda cheia de si. Minha mente te projetou
de quatro apoiada na minha mesa. — Senti seu corpo
estremecer, enquanto eu sussurrava em seu ouvido. — Minha
mão direita segurando seu cabelo e a esquerda prendendo seus
punhos nas suas costas. Você estava ofegante e implorando por
mim.
— O que mais você fazia? — Ela sussurrou.
— Eu dava o que você queria, primeiro lento e intenso.
— Beijo abaixo da sua orelha. — Depois forte e rápido. Então
terminaríamos no sofá e assim que estivéssemos satisfeitos, te
levaria para casa e cuidaria de você na minha banheira. — Me
afastei dela e limpei a garganta.
Olhei em seus olhos e vi a chama de desejo. Seu rosto
estava vermelho. Ella pegou rapidamente o copo de água e
bebeu.
— Só um instante, Ma belle. Preciso ir ao banheiro me
recompor. — Me levantei e vi quando seus olhos focaram em
um lugar que não era meu rosto.
Ela tossiu um pouco e respondeu:
— Ok.
No caminho do banheiro, acabei esbarrando em um
rapaz que caminhava rapidamente.
— Tudo bem aí, cara? Desculpa, eu estava distraído. —
Me apressei a falar.
— Tudo ok, irmão. Não foi nada. — Ele sorriu para
mim, colocando a mão em meu ombro. Mas algo naquele
sorriso me fez ficar alerta. Ele usava uma jaqueta escura, um
boné e sua mão tinha uma enorme tatuagem.
De onde eu conheço essa tatuagem?

Henri havia ido ao banheiro e eu ainda estava tentando


acalmar meus hormônios quando o garçom se aproximou
trazendo uma fatia de bolo.
— Sua sobremesa, senhorita. — Ele anunciou,
colocando o prato na minha frente.
— Desculpe-me, senhor. Mas eu não pedi nenhuma
sobremesa.
— O rapaz pediu para te entregar. — Ele respondeu,
apontando em direção onde ficava o balcão e os banheiros.
Observei um rapaz de boné e jaqueta sentado de costas
para nossa mesa, interessado demais na sua comida para fazer
qualquer outra coisa e olhei para a porta do banheiro. — Henri.
— Pensei.
— Tudo bem. Obrigada. — Sorri para ele.
Observei que era uma fatia de Bolo Sacher, uma das
sobremesas mais deliciosas do mundo todo e que estava no
meu top 3. Lembro-me que vovó me ensinou a fazer quando
eu tinha 12 anos e sempre levava para o Natal na casa da
família do Sebastian. Essa lembrança me enviou um calafrio
que percorreu todo o meu corpo. Muito tempo se passou desde
a última vez que comi esse bolo.
Dei a primeira garfada e um turbilhão de memórias me
invadiram.

FLASHBACK ON

— Eu não acredito que você ainda não está pronta. —


Bash gritou, entrando na cozinha.
— Eu estou pronta, só precisava dar os últimos retoques
no bolo. — Respondi nervosa.
— Eu não sei qual o motivo de você ainda insistir em
levar essa porcaria de bolo todo Natal. É simplesmente
horrível.
Senti meus olhos arderem, eu não podia chorar agora.
Mas esse bolo significava muito para mim, era a minha
lembrança favorita da minha avó.
— Seus pais adoram. — Justifiquei.
— Duvido muito, fazem isso para não te magoar. Mas
todos sabemos que você não faz nada que preste. Você é uma
inútil.
Senti as lágrimas descerem pelo meu rosto.
— Que droga, Ella. Você pode simplesmente não chorar
pelo menos uma vez?
Chorei ainda mais. Peguei o bolo e fui em direção a sala
para podermos sair logo daqui. Mas Sebastian me impediu ao
puxar o bolo das minhas mãos e jogá-lo contra a parede.
— Tá vendo o que você fez? Você sempre estraga tudo.
— Ele gritou comigo. — Arrume essa bagunça, estou te
esperando lá fora.

FLASHBACK OFF

Balancei minha cabeça, fazendo as lembranças


desaparecerem e vi Henri se aproximar.
— Pedindo a sobremesa sem mim? — Ele sorriu
brincalhão.
— Como se eu tivesse muita escolha, você pediu por
mim. — Respondi, levando meu garfo até sua boca, que
recebeu de bom grado.
— Eu não pedi nada. — Ele falou, após terminar de
mastigar. — Hmm, eu amo Bolo Sacher, o da Audrey é
incrível.
— Tem certeza? — Perguntei séria.
— Sim, eu estava no banheiro, cuidando daquele
problema que você sabe bem.
— Se não foi você, quem foi?
— Você é uma mulher bonita, Ma belle. Alguém está
interessado e decidiu te surpreender. E pelo visto terei que me
acostumar com isso. — Ele me olhou sério. — Agora vamos
aproveitar o bolo grátis.
Voltei meu olhar para o balcão onde o rapaz de boné
estava sentado e me surpreendi ao ver o local vazio. Escutei o
sino da porta e olhei rapidamente para o ver saindo.
Quem é esse cara?
Eu vou matar Henri Hayes.
Faltando menos de um mês para o baile trimestral da
empresa, o cretino mudou todo o cronograma do evento, não
será apenas um baile trimestral, mas também uma festa de
boas-vindas para os novos funcionários. Henri teve a incrível
ideia de recrutar alguns funcionários da sua outra empresa para
a nossa.
Mas, nossa Ella, quanto drama.
Não é drama quando ele decide dar um tema para o
baile, que será à fantasia. Não é drama quando ele anunciou na
frente de todos na sala de reunião que eu, Ella Meredith Jones,
estaria na comissão de frente do evento, sendo total
responsável por tudo. Pegando a todos e principalmente a
mim, de surpresa.
— Sério, cara. Você está ferrado. Ninguém em sã
consciência gostaria de ser avisado de última hora e de
surpresa sobre estar na frente de um evento enorme. — Niall,
meu amigo e funcionário da Hayes Enterprises, gargalhou pelo
telefone.
— Mas eu ia contar para ela antes, eu só não tive tempo.
Estive muito ocupado nessas últimas semanas, eu quase não a
vejo, eu quase não durmo e isso está me matando. Eu queria
alguém confiável e que fosse 100% qualificado para fazer esse
evento dar certo. Ella é essa pessoa e não por estarmos tendo
algo, mas porque ela é extremamente competente, criativa e eu
teria o bônus de tê-la por perto. — Respirei fundo. — Ela vai
me matar não vai?
— Sim, ela vai. — Ele riu ainda mais. — Mulheres não
gostam de serem intimadas, Henri. Você simplesmente não
pode chegar e mandar ela fazer o que você quer só porque
você a quer por perto. Mas, explique a situação, ela vai
compreender, depois de te dar uns bons gritos, óbvio. Até
porque ela não irá fazer isso sozinha. Eu te conheço, você
gosta de fazer tudo, ela será apenas uma ajuda. E aposto que
ela nem sabe disso.
— Exatamente, eu deveria ter… — Antes que eu
pudesse responder, Ella entrou pela minha porta, marchando
em minha direção.
— Eu vou matar você. — Vociferou.
— Eu te avisei. — Niall gargalhou.
— Niall, eu falo com você depois. — Finalizei a ligação
e voltei meu olhar para Ella. — Ma belle. Que bom te ver.
Posso ajudar em algo? — Sorri para ela.
— Oh sim. Você pode me ajudar em algo sim. Como por
exemplo, me explicar por que diabos eu não fui avisada com
antecedência sobre a organização do evento. — Estava linda e
tentava controlar sua raiva.
— Ah, isso. — Respondi, fazendo pouco caso,
esperando ela explodir.
— Você tem noção que eu tenho menos de trinta dias
para organizar seu baile à fantasia? Um baile à fantasia.
Estamos acostumados a um simples evento a cada três meses,
em que bebemos, comemos e nos divertimos.
— E? Esse lugar precisa de algo diferente. Eu não sou o
Josh. Não se preocupe, querida. Você dá conta. Confio no seu
potencial. — Continuei provocando.
— Henri.
— O que?
— Você é uma pessoa muito inteligente, você sabe que
um evento grande precisa de organização, precisa fazer lista de
convidados, preparar os convites, procurar um novo local já
que terá o triplo de pessoas que estamos acostumados, entrar
em contato com bufês para a comida e bebida, escolher
decoração, contratar uma equipe de segurança, sem esquecer
da música. — Ela falou sem parar, indicando nos dedos as
opções.
— E eu já resolvi a maioria disso. — Soltei.
— O que? — Ela me olhou como se eu tivesse um
terceiro olho.
Me levantei e fui até ela, pegando suas mãos.
— Eu gosto de estar envolvido em tudo no trabalho,
Ella. Colocar você na linha de frente foi só uma desculpa para
passar mais tempo com você. Não estivemos juntos há
semanas. Sempre fiz a maioria das coisas sozinho. Porém,
ultimamente estou atolado de trabalho e precisava de ajuda. Eu
queria a sua ajuda. E planejar esse baile juntos foi a melhor
forma de juntar o útil ao agradável. Sem contar o seu talento,
você é incrivelmente criativa, comunicativa, hábil e
comprometida com o seu trabalho, tenho te observado, você
sabe.
— E você não poderia ter me avisado antes?
— Eu não tive tempo. — Sorri para ela. — E confesso
que adoro te ver com raiva. Você fica ainda mais linda assim
com esse olhar selvagem, como se fosse voar no meu pescoço
a qualquer momento. — Soltei sua mão e levei a minha para
acariciar seu rosto.
— Cretino. — Sussurrou, batendo na minha mão para
afastá-la do seu rosto. Gargalhei vendo um pequeno sorriso
que ela conteve imediatamente. — Eu quase tive um treco. Da
próxima vez que você tiver uma ideia dessas, me avise
primeiro.
— Tudo bem. Agora venha aqui. — Falei, puxando-a
para mim. — Senti sua falta. — Beijei-a apaixonadamente.
Todos esses dias viajando a negócios e trabalhando sem
parar, me deixaram louco. Eu ansiava ainda mais por ela. Meu
peito doía de saudade.
— Também senti sua falta. Você não sabe o quanto. —
Respondeu, ofegante. — Estava contando os dias para a sua
volta e quando felizmente esse dia chega você me apronta uma
dessas.
Eu ri.
— Desculpa, meu amor. Prometo que de agora em
diante você saberá de tudo com antecedência. Sem surpresas
assim. — Beijei de leve seus lábios.
— Acho bom.
Me afastei dela por um instante para ir até a porta.
— O que você está fazendo? — Ela perguntou intrigada.
— Matando a saudade da minha garota sem ser
interrompido.
Tranquei a porta, fechei as persianas deixando a sala
escura e caminhei calmamente até ela.
— Venha aqui. — Peguei em sua mão e a levei até o
sofá. Puxando-a para o meu colo.
— Estamos em horário de trabalho. Você sabe, não é?
— Cale-se. Eu sou o chefe.
Beijei ela lentamente.
— Henri, eu tenho muita coisa para fazer.
— E eu estou te dando uma pequena folga.
Ela me deu um olhar pensativo.
— Foda-se. — Rosnou, voltando a me beijar.
— Da próxima vez que eu viajar, você irá comigo. —
Falei convicto.
— Por que?
— Porque duas semanas sem você foram um inferno.
— Mas o que os outros vão dizer?
— Foda-se o que eles pensam ou dizem. Mas, se isso
importa tanto, pode apenas dizer que te dei novos projetos e
que precisa fazer uma pesquisa de campo. Todos sabem o
quanto sou rígido.
— Bem rígido, hein? — Provocou, passando a mão pela
minha ereção, me fazendo soltar um gemido baixo. — É
perceptível.
— Não me provoque. — Mordi seu lábio inferior.
— Eu apenas concordei com a sua afirmação.
— Eu não sou o único a ficar rígido então. — Desci
meus beijos até o seu pescoço enquanto minhas mãos foram
em direção aos seus seios enrijecidos. — Olhe só para eles.
— Está muito frio aqui. — Disfarçou.
— Mentirosa. Essa sala está parecendo uma sauna.
Voltei para sua boca novamente, aprofundando mais
ainda nosso beijo, cada vez que eu a beijava, melhor ficava.
Ella levou suas mãos até meus cabelos e ao puxá-los com
força um rugido saiu da minha boca. Estava impossível de me
controlar. Minhas mãos viajaram pelo seu corpo, parando em
suas coxas, acariciando a pele nua e macia. Subi até o seu
pescoço, cobrindo-o com a minha mão. Um gemido escapou
de seus lábios quando fiz um pouco de pressão.
Sem perceber, Ella desabotoava os botões da minha
camisa. Não reclamei. Estávamos numa bolha de desejo. Após
terminar, ajudei-a a tirar minha camisa. Meus dedos foram até
a sua e comecei a subir.
— O que estamos fazendo? — Ela sussurrou de olhos
fechados.
— Cedendo ao nosso desejo. — Retirei sua blusa e seus
lindos seios entraram em meu campo de visão. — Você vem
trabalhar sem calcinha também? — Provoquei.
— Não. Mas agora que você falou, vou pensar na
possibilidade. — Ela piscou.
Imaginar ela andando pela empresa em suas saias que
me matam e sem calcinha fez meu pau latejar ainda mais.
Estava tão excitado que chegava a doer.
Sem anúncio nenhum, minha boca encontrou seu seio
esquerdo e ela arfou.
— Henri…
— Relaxe e aproveite, Ma belle. Não vou fazer nada que
você não queira.
Voltei minha atenção para os seus seios e gemi quando
Ella se remexeu no meu colo. Sua saia havia subido e a fricção
dos nossos corpos estava me levando à loucura. Subi minhas
mãos por suas coxas, chegando até sua bunda, dando um leve
aperto.
— Essa saia está nos atrapalhando.
— Tire-a de mim e resolva o problema.
— Eu amo seu atrevimento. — Abri o zíper de sua saia e
Ella se levantou, fazendo-a cair no chão aos seus pés.
— Você está vestido demais e eu de menos. Isso não
parece justo.
— Fique à vontade para igualar a situação.
Ella se ajoelhou na minha frente, tirando meu cinto e
abrindo minha calça. Após se livrar da mesma, ela encarou
meu corpo por um tempo.
— Gosta do que vê?
— Tem certeza que você não é um deus grego?
— Assim você me ofende.
— Como assim?
— Você já olhou bem para aquelas esculturas? — Ela
assentiu ainda sem entender. — Olhe para isso e veja a
diferença. — Apontei para minha cueca que marcava minha
ereção.
Ella ficou calada por um instante pensando, até que
explodiu em gargalhadas altas.
— Você não existe, Henri.
— Eu existo e estou bem aqui.
Puxei-a de volta para mim e a deitei no sofá. Beijei seus
lábios e segui uma trilha até sua barriga, descendo meus beijos
até a parte interna da sua coxa. Eu não sei qual dos dois
ansiava mais por esse momento. Subi um pouco, dando um
pequeno beijo no início da sua calcinha de renda e olhei para
ela.
— Posso amar seu corpo inteiro, Ma belle? — Pedi
permissão.
— Você pode tudo. — Ella disse ofegante.
Sorri em resposta.
Minha língua a provocou por cima da calcinha e senti
seu corpo tremer. Ela estava tão molhada, porra.
— Henri… Por favor.
— O que você quer, Ma belle? É só pedir. — Provoquei
mais ainda, agora usando meus dedos para acariciá-la.
Era possível ver seus olhos queimando em desejo.
— Eu quero que você me chupe. — Implorou.
— O que? Eu não ouvi direito.
— Eu quero que você…
Antes que ela pudesse terminar a frase, afastei sua
calcinha e beijei seus lábios, a pegando de surpresa.
— Henri… Isso. — Ela gemeu.
Eu queria poder parar o tempo. Permanecer aqui e agora.
Com minha garota deitada no meu sofá, sua pele nua brilhando
com o pouco de luz que entrava na sala. Minha boca
provando-a e ela gemendo meu nome. Ella era uma deusa, eu
tinha certeza. Estava completamente encantado.
Nos próximos minutos, eu a amei com minha boca, eu a
chupei, beijei e acariciei até ela explodir em prazer.
— Eu não aguento muito mais. — Ela suplicou. — Oh
mon dieu Henri. Je te veux pour moi.
Meus dedos juntaram-se à minha boca, penetrando-a e
acariciando seu ponto G.
— C’est moi, chérie. Goze para mim, Ma belle. —
Ordenei.
Em segundos Ella explodiu em um orgasmo intenso.
Senti seu corpo tremer na minha língua. Sua boceta apertando
meus dedos. Isso era quente como o inferno.
Esperei seu corpo se acalmar e subi para sua boca,
beijando-a intensamente.
— Isso foi perfeito. — Ella falou com os lábios colados
aos meus, ainda com seus olhos fechados.
— Fico feliz que tenha gostado. — Mordi seu pescoço.
— Porque pretendo fazer isso muitas vezes. Venha. — Falei,
me levantando e estendendo minha mão para Ella. — Tome
banho comigo.
— Não acho que consigo andar agora, minhas pernas
estão tremendo. — Respondeu tímida.
Sorri e peguei-a no colo em estilo noiva. Entramos no
banheiro e a coloquei no box. Entrei logo em seguida e liguei
o chuveiro, deixando a água quente nos molhar.
O banho iniciou cheio de beijos e carícias apaixonadas.
Até eu sentir a sua mão macia me acariciar.
— O que você está fazendo?
— Cuidando de você, como você cuidou de mim. — Ela
respondeu, sorrindo sapeca, caindo de joelhos e me dando o
melhor boquete da minha vida.

— Fique calma, Ma belle. Ninguém vai perceber. —


Tentei acalmá-la enquanto eu penteava seu enorme cabelo.
— Oh, claro. Ninguém vai ver meu cabelo molhado. —
Respondeu sarcástica.
— Você fala como se eles não fossem capazes de escutar
seus gemidos.
— O que? — Ella se virou para mim, seus olhos verdes
arregalados. — Henri, me diz que você está brincando. Oh
meu Deus. Eu não vou sair dessa sala nunca.
Gargalhei.
— Sabe, Ma belle, você não é nem um pouco silenciosa.
— Você não está ajudando. — Choramingou.
— Como era mesmo que você fazia? Ah… “Oh Henri”
“Isso, assim mesmo”, ficou melhor quando você começou a
gemer em francês. Foi magnífico.
Seu rosto estava num tom forte de vermelho.
— Eu me demito.
— Vai se demitir depois do melhor oral da sua vida?
Logo agora, sério? — Gargalhei.
— Você é um cretino.
— E estou com fome. Podemos ir almoçar?
— Não vou sair daqui. — Ella cruzou os braços e bateu
o pé.
— Tudo bem então.
Fui até ela e a peguei, jogando-a no meu ombro.
— Me ponha no chão, Henri Hayes. — Minhas costas
viraram um saco de pancada para suas pequenas mãos.
Não respondi e continuei andando. Todos os olhares se
voltaram para nós quando saímos da minha sala.
— Olá, pessoal. Boa tarde. — Sorri.
— Boa tarde, chefe. — Responderam boquiabertos.
— Eu vou te matar, Henri. — Ela soltou com uma voz
fina.
Quando chegamos no elevador, coloquei-a de volta no
chão, recebendo uma série de tapas.
— Nunca mais faça isso. — Vociferou.
— Não prometo nada. — Pisquei.

Depois de passar o almoço inteiro sem falar com Henri,


meu surto passou. Agora estávamos dividindo um sorvete de
baunilha como se nada tivesse acontecido.
Em algum momento Henri acabou se sujando sem
perceber, peguei um guardanapo e limpei o seu rosto. Fiquei
encarando-o em silêncio e me dei conta de uma coisa.
— Por que está olhando assim para mim? — Ele
perguntou sorrindo, levando a colher com sorvete até minha
boca.
— Nada não. — Respondi, aceitando o sorvete.
Eu estava me apaixonando perdidamente por esse
homem.
— Precisamos decidir nossa fantasia para o baile.
— Você quer ir combinando? — Perguntei incrédula.
— Claro. Criaremos também uma competição. E por
isso, nossa fantasia tem que ser espetacular.
Gargalhei.
— Você é uma caixinha de surpresas. — Beijei ele.
Seu celular começou a tocar em cima da mesa e pude ver
o nome de Jacob aparecendo.
— Ei, Jacob. — Henri falou ao atender.
Meu coração se apertou em angústia, Jacob era médico
da Instituição. Será que aconteceu algo?
— O que? Como assim? Como ela está? Estou a
caminho. — Ele falava rápido e nervoso.
Henri desligou o celular e o jogou na mesa, suas mãos
foram até seus cabelos e ele puxou os mesmos.
— Hey, querido, fale comigo. O que aconteceu? — O
abracei preocupada.
— Isso não pode estar acontecendo de novo, Ella. —
Ele sussurrou desesperado.
— Converse comigo, meu amor. Olhe para mim. —
Puxei sua atenção.
Quando ele olhou para mim, seus olhos estavam
vermelhos.
— Preciso que venha comigo, tá bom?
— Eu vou a qualquer lugar com você. Mas preciso saber
o que está acontecendo.
— Annie está hospitalizada. O câncer se espalhou e está
bem mais agressivo.
Annie, me lembro desse nome na noite do jantar da
Instituição. Eu não fazia a menor ideia de quem era, mas sabia
que era importante para Henri.
Peguei em sua mão e fomos até o carro.
Decidi que não perguntaria nada. Não era o momento.
Henri precisava de mim agora e eu estaria ali para ele.
A viagem até o hospital foi feita em um silêncio
angustiante. Quis respeitar o que Henri estava sentindo no
momento.
Me ofereci para dirigir, já que ele não estava em
condições. O trânsito estava calmo, o que era muito bom.
Levamos 15 minutos para chegar ao hospital.
Entramos juntos e seguimos até a recepção.
— Boa tarde, em que posso ajudar? — Saudou a
recepcionista.
— Estamos aqui para ver Annie Theodore.
— Vocês são da família?
— Eu sou Henri Hayes, dono da Cancer Hayes
Institution, onde Annie vive, responsável por ela. Tenho
permissão para vê-la a qualquer momento. E essa é Ella Jones,
— Ele olhou para mim. — Minha namorada.
Minha namorada.
Suas palavras me pegaram de surpresa. Antes que eu
pudesse responder qualquer coisa, Henri já havia se voltado
para a recepcionista.
— Ok, Sr. Hayes. Vocês estão liberados, a paciente está
no quarto B-304, 7º andar. — Ela voltou a falar depois de
verificar algo no computador.
— Obrigado. — Henri agradeceu e me guiou até o
elevador.
Decidi não comentar nada sobre ser nomeada sua
namorada sem um pedido. Outra coisa atormentava minha
mente e era estar nesse hospital.
Foram tantas noites dormindo aqui à base de sedativos.
Lembro do meu corpo frágil e fraco. Me olhei no espelho do
elevador e era como se eu pudesse ver meu passado. Uma Ella
sem vida, medicada o tempo inteiro, com menos 16 quilos,
completamente devastada e sem vontade alguma de viver.
Essas lembranças sumiram dando lugar ao meu presente,
quem eu era hoje, a mulher que me tornei, forte, decidida,
cheia de vida. A Ella que eu sou hoje não se parece nem um
pouco com quem eu era anos atrás. Depois de tudo que ele me
fez.
Tremores percorreram o meu corpo e lágrimas
ameaçaram cair. Olhei para o meu refúgio. O homem, cujo os
olhos mais lindos do mundo estavam vermelhos e seu brilho
estava apagado. Peguei sua mão e a beijei.
— Hey. — Sussurrei e ele me encarou triste. — Não
importa o que aconteça, eu estou aqui com você, ok? Não
esqueça disso.
— Você não sabe o quanto isso é importante para mim.
Obrigado, Ma belle. — Henri respondeu, me abraçando. Ele
beijou o topo da minha cabeça, apoiando seu queixo em
seguida. Inspirei seu perfume, deixando-o me acalmar.
As portas se abriram e saímos juntos, nossas mãos se
entrelaçaram automaticamente. Henri estava tenso e o seu
aperto forte mostrava isso.
Jacob o aguardava no corredor.
— Henri. Que bom que você veio.
— Como ela está, Jacob? — Sua voz falhou.
— Fraca, mas estável. O pior já passou, fique tranquilo.
Escute, preciso conversar com você sobre algo. Há um novo
tratamento para o câncer de Annie, estão nas fases finais dos
testes e querem fazer o experimento com ela. As chances são
altas. Mas você é quem decide. — Henri respirou aliviado por
um segundo.
— Se você garante que os resultados são bons, confio
em você.
— Eu não faria isso de uma opção se não fosse.
Obrigado pela confiança.
Henri assentiu.
Então Jacob olhou para o lado, me notando pela primeira
vez.
— Ella? Bom te ver. — Ele sorriu confuso olhando para
minha mão e a de Henri entrelaçadas. — Perdi alguma coisa
aqui?
— Acho que mamãe conseguiu o que ela tanto queria.
— Respondi, sorrindo fraco.
— Não acredito que Helena não me contou que vocês
estão juntos.
— Isso é porque ela ainda não sabe. — Henri respondeu
por mim.
— Por favor, não comente com ela ainda. Mamãe me
mataria se descobrisse por outra pessoa e não por mim.
— Serei um túmulo. Bem, fico feliz que esteja aqui para
o Henri nesse momento. — Jacob sorriu, abraçando Henri de
lado. — Esse cara, mais que ninguém, merece a felicidade.
— Eu também fico feliz por ela estar aqui comigo. —
Henri soltou, me puxando para si e beijando o topo da minha
cabeça.
— Não vou mais tomar o tempo de vocês, Annie está
sob efeito de sedativos, mas logo, logo deve acordar. Vou
deixar vocês à vontade. E Henri?
— Sim?
— Cuide bem da Ella. — Jacob falou sério para Henri
que sorriu em promessa, depois virou-se para mim. — Estarei
no próximo jantar, espero te ver.
— Estarei lá. — Respondi.
Nos despedimos de Jacob e paramos em frente ao quarto
B-304.
— Preciso de você lá dentro comigo mais do que preciso
de ar para respirar. — Suplicou.
— Eu estou aqui, querido. Não vou a lugar nenhum. —
Tranquilizei. — Estamos juntos.
Henri sorriu em agradecimento, virou-se para a porta e
respirou fundo antes de abri-la.
Entramos no quarto e só me dei conta que prendia a
respiração quando a soltei. Eu estava entrando em um
território desconhecido, meu estômago se contorcia.
Meu coração se despedaçou por completo ao ver um
pequeno anjinho, uma linda garotinha deitada na enorme cama
do hospital. Ela dormia, estava pálida e parecia muito fraca.
Eu fiquei paralisada. Henri soltou a minha mão e foi até ela.
Me sentia estupidamente tola por ter sentido ciúmes de
uma pessoa que eu nem conhecia. Principalmente agora que
sei que é uma criança. Mas a dúvida sobre quem ela era na
vida do Henri cresceu ainda mais.
De onde eu estava, o assisti acariciar seus cabelos e
beijar sua testa, vi também seus olhinhos se abrindo.
— Oi, príncipe Henri. — Annie falou com sua voz fraca.
— Oi, minha princesa linda. Que susto você me deu. —
Sua voz estava embargada.
— Eu estou bem. Levantar sempre que cair, lembra? —
Respondeu ela, fazendo as lágrimas transbordarem pelos meus
olhos.
— Isso, minha garota.
Annie pediu para Henri se aproximar mais e sussurrou
em seu ouvido. Vi quando ele sorriu e olhou para mim,
fazendo um gesto para eu me aproximar. Caminhei lentamente
até eles.
— Ella, esta é Annie. — Henri a apresentou, me
abraçando de lado.
— Oi, linda. — Sorri para ela.
— Oi, princesa Ella. É um prazer finalmente te
conhecer, mesmo eu estando nesse estado. Me sinto sonolenta
por conta dos medicamentos. — Devolveu o sorriso.
Finalmente me conhecer?
Olhei para Henri que estava sério. Suas bochechas
ganharam um leve tom rosado. Ele estava corando?
— Então quer dizer que alguém andou falando de mim
por aí?
— O Henri fala de você o tempo todo. — Soltou,
fazendo meu coração acelerar.
— Ele fala? — Olhei para Henri novamente e o peguei
no flagra tentando repreender Annie com um olhar.
— Sim, e você é ainda mais bonita de perto. E ele está
me olhando feio, vou me calar.
Soltei uma boa risada. Annie começou a rir também, o
que a fez tossir. Henri e eu nos aproximamos dela
rapidamente.
— Ei, não se esforce, garotinha. — Henri a repreendeu.
— Você precisa descansar.
— E você precisa admitir o que faz. — Annie atacou
baixo e simplesmente caiu no sono depois de um longo bocejo.
Ela era uma garota bem esperta.
Henri beijou sua testa e voltou para mim.
— Vem, vamos pegar um café, preciso conversar com
você. Dá para ver a confusão da sua mente daqui.
Estava prestes a me abrir para Ella, contar as minhas
dores, todo o meu sofrimento. E por incrível que pareça, hoje
isso não me deixava nervoso como antes.
Caminhamos até a lanchonete do hospital e pegamos
dois cafés. Procurei por uma mesa afastada, encontrando uma
no canto, perto de uma janela.
Puxei a cadeira para Ella e me sentei na sua frente.
— Olha, não quero que você se sinta na obrigação de
falar algo… — Começou.
— Ei, eu quero. — Interrompi, tranquilizando-a. —
Quero fazer isso porque quero que saiba tudo sobre mim. —
Ou quase tudo.
Ella assentiu, segurando minha mão
— Tudo começou há nove anos, quando minha mãe
descobriu que estava com câncer.
Respirei fundo e continuei.
— A notícia foi um baque terrível. Eu tinha 19 anos,
havia acabado de me formar na faculdade, trabalhava na
empresa da família, tinha uma namorada perfeita… Minha
mãe aceitou a notícia melhor que todos nós, claro. Nos
primeiros seis meses o tratamento estava indo muito bem. A
esperança estava cada dia maior. Até que um dia recebemos a
notícia de que minha mãe estava praticamente curada.
— Oh, isso é bom, não é? — Perguntou.
— Teria sido ótimo se um ano depois o câncer não
tivesse voltado ainda pior. — Ella apertou mais ainda a minha
mão. — No início, o tratamento seguiu normal, minha mãe por
sorte estava se adaptando mais uma vez bem. Então, tudo
desandou nove meses depois. Ela passava mais tempo no
hospital do que em casa. Meu pai, se assim posso chamá-lo,
nos deixou, fugiu de sua responsabilidade, largou minha mãe e
eu com a desculpa de que não aguentaria ver a mulher que
“amava” morrendo. Dois meses depois descobri que ele tinha
outra mulher. Outra família. Lutei todas as lutas da minha mãe
ao seu lado. Éramos apenas eu e ela. Em um fim de tarde,
estávamos nós dois tomando chá em frente a janela do seu
quarto de hospital. Recebemos a notícia de que finalmente em
breve ela poderia receber o tratamento em casa. Eu fiquei
muito feliz e aliviado por novamente tudo estar melhorando.
Estar em casa com minha mãe era tudo que eu mais queria.
Então, ela me contou sobre o planejamento da Instituição,
mamãe estava planejando tudo há meses em segredo. Ajudei
no que fosse preciso. Aos poucos tudo estava ficando como ela
queria. Foi quando encontrei a carta, logo após deixar mamãe
descansando em seu quarto de hospital depois de um longo dia
de quimioterapia. Estava em cima da minha cama. Melanie,
minha namorada, estava terminando comigo por uma carta,
alegando que não queria estar presa a alguém que não a fazia
de prioridade. Minha namorada perfeita não era nada além de
uma maldita egoísta, igual ao meu pai, ela me largou no pior
momento da minha vida. — Respirei fundo para controlar a
raiva. — Dois meses depois, Annie chegou em nossas vidas,
logo de cara mamãe e eu nos apaixonamos por ela, a irmã e
filha que nunca tivemos. Pouco tempo depois, mamãe nos
deixou. Meu mundo desabou completamente, sem pai, sem
namorada, sem minha mãe… — Engoli em seco, contendo as
lágrimas. — Tudo caiu sobre os meus ombros. A empresa da
família, a Instituição. Eu estava sozinho para lidar com tudo. E
Annie foi meu suporte. O motivo de eu estar de pé todos os
dias e continuar lutando. Eu não posso perdê-la também. —
Uma lágrima escorreu pelo meu rosto, seguida de outra e mais
outra.
Ella levantou-se e me abraçou, beijando minhas
lágrimas, acolhendo meu sofrimento e o fazendo seu também.
— Oh meu Deus, Henri. Eu sinto muito por tudo isso.
Eu sinto muito pela sua mãe, eu não fazia ideia. Se eu pudesse
tirar toda essa dor de você, eu faria agora, qualquer coisa para
te livrar de todo esse sofrimento. — Suas mãos seguravam
meu rosto e seus olhos marejados nunca saíram dos meus. —
Seguir em frente, sozinho, com tanto peso na bagagem e ainda
assim conseguir tudo o que conseguiu até agora. Eu amo a sua
força. Eu amo o quanto o seu coração é grande e generoso. Eu
amo o quanto você ama aquela garotinha.
— O peso da minha bagagem é realmente muito pesado,
Ella. Tem certeza que quer encarar? — Perguntei baixo.
— Bem, todos nós temos nossos pesos em nossas
bagagens, os meus também não são leves. Mas estou disposta
a dividir com você. — Respondeu em um sussurro.
— Namora comigo?
— Achei que já fosse sua namorada, segundo o que
disse a recepcionista.
— Percebi que apenas nomear você como namorada não
tinha sido romântico o suficiente, — Ri fraco. — Agora
também não estou sendo, mas preciso saber se você está nessa
comigo.
— Não há outro lugar no mundo que eu queira estar a
não ser com você.
Ela juntou nossos lábios em um beijo apaixonado,
diferente de todos os outros. Havia mais sentimento, vários
deles, era uma mistura de paixão, compreensão e acolhimento.
Meu corpo vibrou com isso. Meu coração agora não doía tanto
como antes, ele estava em paz, estava batendo muito mais
forte e tudo isso graças a linda mulher que estava agora em
meus braços.
Era isso, agora Ella sabia todas as minhas dores e
fraquezas. Eu estava me sentindo leve, meu coração estava
realmente em paz. Guardei todo esse sofrimento por muito
tempo, a maioria das pessoas não sabiam a real verdade sobre
mim. Eu não suportava a ideia de que sentissem pena. Mas em
seus olhos só havia compaixão e compreensão.
Após nossa conversa, ficamos o resto da tarde com
Annie, mesmo sonolenta por conta das medicações ela
conseguiu nos fazer dar boas risadas, aliviando o clima. Era
incrível ter minhas duas garotas favoritas no mundo comigo.
Jacob voltou para examiná-la e nos acalmou ao falar que
na manhã seguinte Annie daria início ao novo tratamento.
A verdade era que eu estava em pânico total. O medo de
perdê-la tomava meu coração.
Quando a noite chegou, Ella e eu fomos para seu
apartamento depois dela muito insistir que eu precisava
descansar e comer alguma coisa. Realmente estava precisando
de tudo que ela disse.
— Jesus Cristo, preciso de uma massagem. —
Comentou, espreguiçando-se enquanto entrávamos no seu
apartamento.
— Isso é uma indireta?
— Entenda como quiser. — Piscou, começando a tirar
sua blusa.
— O que você está fazendo? — Perguntei, sentindo meu
amigo ganhar vida.
— Indo tomar banho. Sinta-se convidado para me
acompanhar. — Respondeu, agora abrindo o zíper de sua saia,
deixando-a cair no chão.
Ella foi em direção ao seu quarto, desfilando apenas em
sua lingerie. A segui imediatamente, encontrando-a no
banheiro apenas de calcinha na frente do espelho, enquanto
prendia seu longo cabelo. Parei atrás dela, abraçando seu
corpo e beijando seu pescoço.
Olhei para nós dois pelo reflexo do espelho, era uma
visão e tanto.
— Deixe-me te ajudar. — Ela virou-se para mim e
começou a desabotoar os botões da minha camisa.
Ella me despiu lentamente, e eu não parava de olhar para
seu rosto, a ternura em suas expressões, o modo como ela
cuidava de mim, como me olhava com carinho.
Guiei-a até a banheira já cheia depois de tirar sua
calcinha. Entrei primeiro, pegando em sua mão, ajudando-a a
entrar. Sentei-a de costas para mim e comecei a fazer uma
massagem, na qual ela gemeu em resposta. Por mais que meu
pau estivesse duro igual uma pedra, minha mente e meu
coração sabiam que não faríamos nada naquele momento. Ella
também sabia, recostou-se em mim e respirou fundo, deixando
minhas mãos e a água quente a relaxarem.
Ficamos um bom tempo assim, se amando e trocando
carícias. Fechei meus olhos por um momento, enquanto Ella
passava suas unhas pelos meus braços, causando-me arrepios.
Comecei a pensar em tudo que já havia acontecido comigo.
Pensei em minha mãe, sorri em saudade, depois de um tempo
a gente para de pensar tanto na dor e passa a substituir isso por
todas as lembranças boas.
Olhei para Ella quase cochilando em meus braços e
sorri. Sorri porque após um longo tempo, finalmente ela estava
em meus braços e eu estava voltando a viver novamente. A
puxei mais para mim. Com medo de que ela sumisse e que
tudo não passasse de um lindo sonho.
Só quando a água começou a esfriar, relutantemente
saímos da banheira.
— Temos um problema. — Falei enquanto envolvia a
toalha no meu corpo.
— O que? — Ella perguntou, enquanto penteava o
cabelo.
Fui até ela, tirando a escova de sua mão e comecei a
pentear no seu lugar. Estava viciado em fazer isso.
— Eu não tenho nenhuma roupa aqui.
— Pode usar as minhas, aposto que ficarão uma graça
em você.
— Acho que suas calcinhas não cobririam nem a metade
do que deveriam. — Provoquei.
— Promete que não vai rir?
— Prometo.
— Às vezes eu uso cuecas para dormir. Devo ter alguma
que sirva em você. — Admitiu tímida, saindo do banheiro e
indo até seu closet.
— Sério? — Perguntei, sorrindo.
— Você prometeu que não iria rir. — Protestou lá de
dentro.
— Eu não estou rindo, estou sorrindo, é diferente. E eu
acho fofo que durma de cueca.
Ela voltou, vestindo apenas calcinha e sutiã e me
entregou uma boxer preta, junto com a minha camisa que ela
derramou bebida no nosso primeiro encontro.
— Aqui. Estou abrindo mão do meu pijama por você.
— Você dorme com a minha camisa?
— Todos os dias. — Revelou e meu coração se encheu
ainda mais. — Vou preparar algo para a gente comer. —
Mudou de assunto.
— Vai cozinhar assim?
— Não. — Ela respondeu, pegando minha camisa de
volta e vestindo.
Ela saiu em direção a cozinha e a visão da sua bunda na
minha camisa nunca ficou tão sexy.
Vesti a cueca que ela me deu, ficou meio apertada, mais
ainda agora que estava excitado. Sem vestir mais nada além
disso, fui atrás de Ella.
A encontrei totalmente inclinada enquanto procurava
algo no armário. Meu pau latejava tanto que doía.
— Você ainda vai me matar.
Ella pulou em susto, colocando a mão no peito e eu
comecei a rir. Sua expressão assustada foi impagável.
— Se tem alguém que vai morrer aqui sou eu se você
não parar de me dar sustos.
— Nunca foi minha intenção, Ma belle.
— Sei.
— Precisa de ajuda?
— Não, querido. Tenho tudo sob controle. Por que você
não abre o vinho que tá na geladeira e escolhe algo pra gente
assistir? A comida não vai demorar. As taças estão no armário
de cima.
— Tudo bem.
Fui até sua geladeira, pegando o vinho e duas taças no
armário. Em seguida, coloquei o vinho em um recipiente com
gelo que ela me instruiu e fui para a sala.
Ao ligar a televisão, um filme inacabado estava pausado.
O Inferno de Gabriel.
Então quer dizer que Ella se interessa por esse tipo de
filme… interessante.
Minutos depois estávamos os dois comendo um
delicioso macarrão à bolonhesa.
— Isso está muito bom. — Gemi.
— Ei, quem geme enquanto come sou eu.
Gargalhei.
— Tudo bem, Ma belle. Não vou roubar o seu lugar.
Sorri ao vê-la bocejar.
— Você está cansada. Vamos para a cama.
Ella levantou os braços.
— O que é isso?
— Me carregue em seus braços. — Ela pediu manhosa.
Sorri ainda mais.
Peguei-a em meus braços, a levando para o seu quarto.
Aconcheguei-a na cama e beijei sua testa.
— Durma, eu cuido da bagunça.
— Você vai voltar? — Perguntou de olhos fechados.
— Sempre. — Prometi.
Então a vi cair em um sono tranquilo.
Voltei para a sala, pegando os pratos e as taças, os
levando para cozinha. Lavei a louça e fui para o quarto.
Ella suspirava em meio a seu sono. Parecia um anjo. Me
deitei ao seu lado, puxando-a para mais perto de mim,
envolvendo meus braços ao seu redor e a observei dormir.
Flashs invadiram minha mente.

FLASHBACK ON

Acabei de chegar no hospital após ter ido resolver umas


coisas da empresa e ir em casa tomar um banho. Chegando no
quarto de mamãe, ouvi vozes lá dentro. A porta estava aberta,
parei ao lado e observei o que estava acontecendo.
— Eu tinha cabelos enormes e lindos como os seus,
querida. Cuide bem dele. Meu pequeno H amava puxá-los
quando era pequeno.
— Que fofinho.
Elas riram.
— Posso te fazer uma trança? — Mamãe pediu.
— Oh, claro. — Confirmou animada.
Nos próximos minutos vi mamãe trançar seu cabelo e
trocarem conversas carinhosas.
— Sabe, Ella. Você vai sair dessa. É uma garota forte.
Podemos não ter o mesmo problema, mas ainda assim
sabemos que é difícil para nós duas. Permaneça forte, ok? Por
mim.
— Eu irei, senhora H. E trate de vencer esse câncer mais
uma vez, ouviu? Vou estar aqui para ser eu a trançar seu lindo
cabelo.
As duas se abraçaram por alguns instantes.
— Tenho que ir ou a Márcia irá me repreender mais uma
vez. Volto no mesmo horário amanhã.
— Estarei aqui, querida.
Me afastei da porta e virei de costas para ela não me ver.
Quando ela saiu, entrei no quarto e sorri para minha mãe.
— Ela é incrível, filho. Quero vários netinhos cabeludos
e com os olhos iguais aos de vocês correndo pela casa.
— Mamãe não me iluda mais do que já estou.
Mamãe gargalhou.
— Uma hora você vai ter que criar coragem de falar com
ela. Como ela vai se apaixonar por você sem te conhecer?
— Na hora certa, mamãe. Na hora certa.
— Eu juro por Deus que se você ligar mais uma vez para
mim em menos de dez minutos, eu vou terminar com você. —
Ameacei assim que atendi a chamada.
Era a sétima vez que Henri me ligava em menos de uma
hora. O baile aconteceria hoje e eu estava desde às 7h da
manhã no salão onde vai acontecer. A equipe de decoração e
iluminação estavam a todo vapor.
— Acalme-se, Ma belle. — Henri riu. — Dessa vez não
é trabalho, estou ligando para avisar que nossa fantasia
chegou. — A empolgação em sua voz era contagiante, fazendo
meu estresse se desfazer e um sorriso brotar em meu rosto.
— Uh, graças a Deus. Estou ansiosa para te ver vestido
nela. Pego a minha com você no almoço.
— E eu estou ansioso para tirar a sua mais tarde. — Me
contorci no lugar e suspirei. — Tudo bem, não vou te
atrapalhar mais. Te busco às 12h.
— Até lá, querido.
— Não morra de saudades.
— Não morra você de saudades. — Gargalhei e
desliguei.
— Mas tá muito apaixonada mesmo né? — Rosie gritou
no meu ouvido, me fazendo pular de susto.
— Você quer me matar?
— De forma alguma. Seu namorado daria um jeito de
me mandar junto para te fazer companhia. — Ela riu, me
entregando um café do Starbucks.
— Ainda bem que você chegou, estou quase
enlouquecendo. — Suspirei.
Tinha chamado Rosie para me ajudar, ela era ótima em
apoiar minhas ideias.
— O que seria de você sem mim? Vamos começar, me
mostre tudo. — Ela me empurrou em direção ao centro do
salão.

O relógio marcava 12h06 quando Henri chegou. Rosie e


eu estávamos deitadas no chão olhando para o teto decorado.
O resto da decoração estava protegida por cortinas.
Conseguimos adiantar boa parte do trabalho, restando apenas
alguns retoques finais para a parte da tarde.
— O que vocês estão olhando? — Ele perguntou,
deitando-se ao meu lado.
— Shhh, apenas observe. — Respondi.
A equipe de iluminação conseguiu projetar o teto
encantado de Harry Potter. Agora, a neve parecia cair sobre
nós.
— Uau. — Henri sussurrou surpreso. — Está idêntico.
— Ideia minha. — Me gabei.
— Você é perfeita, Ma belle. — Falou, beijando meus
lábios e se levantando logo em seguida. — Não tenho dúvidas
que tudo estará perfeito. Essa noite será inesquecível. Agora
vamos, eu estou morrendo de fome. Rosie vai almoçar com a
gente?
— Mas que pergunta… É claro que eu vou. — Em um
pulo ela estava de pé.
— Ótimo, você cozinha. — Henri anunciou e saímos
andando.
— O que? Como assim? — Rosie gritou e continuamos
andando. — Ei, eu estou falando com vocês.

— E aí, o que acharam? — Rosie perguntou ansiosa.


Estávamos no meu apartamento, ela tinha feito uma lasanha e
Henri estava amando provocá-la.
— Já comi melhores.
— Da próxima vez você cozinha. — Ela respondeu,
jogando o pano de prato nele.
— Ótimo, vou te mostrar o que é uma lasanha de
verdade.
Claro que ele estava brincando com ela, a lasanha estava
perfeita.
— Henri, não me faça enfiar esse garfo na sua goela.
Ele gargalhou.
— Estou brincando, Rosie. Está ótima.
— Até parece que ele iria repetir três vezes se não
tivesse gostado. — Falei, rindo.
Henri levantou-se e retirou a louça, colocando-a na
máquina para lavar. E então seu alarme tocou.
— Droga, tenho uma reunião em uma hora. Vou tomar
um banho e levo vocês de volta para o salão. — Ele falou
aborrecido, me abraçando por trás.
— Não se preocupe com a gente, vamos no meu carro.
— Me virei de frente para ele. — Adoraria te acompanhar,
mas Rosie está aqui. — Sussurrei para que só ele pudesse
ouvir.
— Mais tarde compensamos. — Ele me beijou e foi para
o meu quarto.
Henri passava bastante tempo aqui, então,
automaticamente, as roupas dele se misturavam com as
minhas, como também seus produtos de higiene. Nesse último
mês tudo fluiu muito rápido. Estávamos quase sempre juntos,
até mesmo quando estávamos os dois ocupados, dávamos um
jeito. Ele sempre trazia o trabalho para cá e isso resultava em
boas séries de amassos no meu sofá nos intervalos das
videoconferências. Annie recebia nossa visita sempre que
tínhamos um tempo livre e eu estava cada vez mais apegada
àquela garotinha.
— É tão bom ver você assim. — Rosie me abraçou. —
Henri te faz feliz e isso é nítido. Eu amo vocês dois, mesmo
ele sendo um pé no saco.
— Pela primeira vez, depois de anos, eu me sinto
completamente feliz, amiga. Em paz, leve. Como o amor deve
ser.
— Eu ouvi amor? — Ela perguntou incrédula.
Eu não tinha mais dúvidas sobre os meus sentimentos.
Por mais que eu tivesse convicção de que não amaria
novamente depois de Sebastian. Henri me fez ter a certeza que
eu poderia amar sim de novo.
— Sim. — Falei tímida e senti meu rosto esquentar.
— Você o ama?
— Bom, é meio cedo pra dizer, mas sim, eu o amo.
— Eu esperei anos para ouvir você dizer isso. — Seu
olho encheu de lágrimas e o eu a acompanhei no choro. — E
olha, não é cedo, nada é sobre o tempo. O amor não tem data
ou hora marcada. Ele simplesmente chega de surpresa e se
instala. Quando você perceber, ele estará com seus pertences
misturados aos seus. — Ela riu apontando pro meu quarto.
— Ok, isso é verdade. Agora chega de choro. — Falei
rindo enquanto secava nossas lágrimas.
Escutamos um barulho e logo em seguida Henri
xingando alto. Fui até o quarto verificar se estava tudo bem.
— Está tudo bem aí?
Entrei e o vi abaixado, segurando o pé esquerdo.
— Bati meu pé na mesinha.
Gargalhei.
— Tinha que ter um defeito, né? — Pensei alto.
— O que?
— Nada não. Vem cá.
Puxei ele para mim e comecei a abotoar sua camisa. Seu
olhar estava atento aos meus movimentos. Suas mãos se
juntaram às minhas e as levaram até o seu pescoço. E então ele
me beijou. Um beijo doce, suave e ao mesmo tempo tão
intenso.
Se eu falasse que esse beijo fez minha alma sair do
corpo, me chamariam de boba.
— Eu poderia passar horas beijando você e não me
cansaria.
— Eu sei disso, sinto a mesma coisa.
Ele então pegou uma das minhas mãos e a colocou no
seu peito esquerdo, onde seu coração batia forte e rápido.
— É incrível como ele fica assim somente com você. Só
de pensar em você, ver você, tocar você…
— Henri…
— Estou completamente apaixonado por você, Ma belle.
Espero que saiba disso. — Anunciou, me deixando nas
nuvens. O fato dele me dizer isso em um momento aleatório
me deixou ainda mais feliz. Eu não precisava de nada além da
sua voz rouca dizendo que estava apaixonado por mim. —
Preciso ir. Sua fantasia está no closet junto com uma surpresa.
— Ele me beijou e saiu sem me dar chance alguma de
respondê-lo.
Eu também estou completamente apaixonada por você,
Henri.
Resistindo a vontade de correr para o meu closet e ver a
surpresa, tomei meu banho e sorri ao usar o shampoo de Henri
de propósito.
Me vesti rapidamente e peguei a estrada com Rosie.
— Por que você está sorrindo desse jeito? — Ela
perguntou quando paramos no sinal.
— Que jeito?
— Parecendo uma psicopata. Está me assustando.
— Ele disse que está completamente apaixonado por
mim. — Respondi baixinho, logo em seguida soltei um
gritinho.
— E você ainda tinha dúvidas sobre isso? Basta alguém
reparar em como ele te olha. Mas, confesso que saber que ele
falou é bom pra caralho. Estou tão feliz. — Demos mais
alguns gritinhos e fomos interrompidas por buzinas, o sinal
estava aberto há algum tempo.
— Desculpa. — Gritei e acelerei, caindo na risada.
Era tão bom me sentir assim novamente.
Horas mais tarde finalmente acabamos.
— É isso. Está pronto. — Respirei fundo olhando para o
salão perfeitamente decorado.
Eu quis transformar aquele salão vazio em um mundo
totalmente diferente. Em cada parte dele você encontrava um
tema. Um deles era os sucessos do cinema, onde todos
poderiam passear por Hogwarts e logo ao lado estariam no
meio de uma guerra dos Vingadores. Enfrentariam um
apocalipse zumbi e seriam salvos por uma porta secreta que os
levaria para Nárnia.
E a melhor parte. Projetamos parte dos cenários de
Friends, Gossip Girl e Pretty Little Liars. Eu não preciso nem
falar que passei uns bons minutos tendo sonhos eróticos
acordada apenas olhando fixamente para o totem em tamanho
real do Chuck Bass.
Que Henri não saiba disso.
O pessoal do buffet iria chegar a qualquer momento para
organizar os comes e bebe, logo em seguida o DJ. Mas Deus
era justo, uma equipe já estava programada para recebê-los.
— Foi um ótimo trabalho. — Rosie falou.
— Você acha que vão gostar? — Perguntei nervosa.
— Ella, está tudo perfeito. Todo o trabalho duro resultou
nesse espetáculo. Agora, vamos para casa abrir um vinho e nos
arrumar.

Na banheira, me permiti relaxar um pouco. Só então me


vi bastante tensa. Nesses últimos dias, finalmente, me sentia
mais que pronta para dar o próximo passo com Henri. Em
pouco mais de um mês não fizemos nada além de trocar
carícias. Eu não estava pronta e ele respeitou o meu tempo e a
mim.
Mas, ao mesmo tempo que eu me sentia pronta agora,
minha mente viajava para sete anos atrás, lembrando-me de
quando tive esse mesmo sentimento. Eu sabia que Henri não
era Sebastian, eu sabia que ele não iria me fazer mal algum.
Mas, minha mente ainda entra em alerta após anos.
Respirando fundo, deixei o passado de lado e comecei a
lembrar de todos os momentos que tive com Henri, o que me
ajudou bastante.
Lembrei do nosso primeiro beijo e a forma como ele me
fazia sentir amada e principalmente desejada. O que me faz
lembrar do dia em que ele voltou de viagem e me deu o
melhor oral no sofá do seu escritório.
Sem perceber, minhas mãos começaram a acariciar meu
corpo, descendo até o ponto mais sensível e massageando-o.
Eu estava sedenta por ele, extremamente excitada. De repente,
não era minha mão que estava ali e sim a dele. Imaginar seus
dedos me acariciando, estava me fazendo delirar. Na minha
imaginação ele estaria fazendo mágica com seus dedos,
enquanto olhava em meus olhos. Henri amava observar
minhas reações, ele sempre enfatizava isso. Então, juntando
minha imaginação com a realidade, eu dei o que ele queria.
Me permiti sentir o orgasmo intenso que acabei de me
proporcionar enquanto imaginava seus olhos verdes em mim.
Esperei meu corpo se acalmar e saí da banheira.
Vestindo meu roupão, fui até o closet. Meu coração acelerou
ao ver uma caixa ao lado da minha fantasia. Sorri e fui até ela.
Tremores percorreram meu corpo quando percebi que era uma
caixa da Victoria’s Secret. Assim que abri, um bilhete chamou
minha atenção.
Há semanas eu venho sonhando com esse momento, há
semanas eu venho reprimindo todo o desejo que sinto por
você. No minuto em que você aparecer vestida com isso para
mim, irei saber que poderei dar o próximo passo. Então, te
darei tudo de mim.
Para minha linda garota sexy.
H.
Sorrindo ainda mais, retirei o embrulho que envolvia
uma linda e cara lingerie de renda preta.
Se havia alguma insegurança dentro de mim, naquele
momento saiu correndo.
Após hidratar minha pele, vesti a lingerie e me admirei
por alguns instantes na frente do espelho. Minhas bochechas
estavam coradas, deixando minha pele radiante.
Vesti meu robe e voltei para o quarto. Rosie entrou
assim que sentei na penteadeira, nem lembrava da presença da
minha amiga no meu apartamento.
— Vamos começar a produção. — Ela gritou, batendo
palmas.
Rosie fez minha maquiagem que se resumia em um bom
esfumado preto, contorno marcado e batom escuro, logo em
seguida foi fazer a dela. A única coisa que a fantasia exigia do
meu cabelo era ele estar completamente liso, então eu mesma
o arrumei.
Com a maquiagem e o cabelo pronto, vesti o vestido
longo e preto que abraçava todas as minhas curvas. O decote
era maravilhoso e a lingerie que Henri havia me dado caiu
bem.
Rosie entrou no closet fazendo uma dança egípcia e eu
caí na gargalhada. Ela era uma linda Cleópatra.
— Rosie, isso está perfeito. — Gritei empolgada.
— Eu sei, menina. Espero arrumar uma múmia para me
amarrar. — Respondeu, desfilando pelo closet, parando ao
meu lado. — Agora olhe só para isso. Você está melhor que a
personagem. Morticia Addams te daria uma surra de tanta
inveja que ela estaria agora.
— Henri que escolheu. Espere até você ver ele de
Gomez Addams. Nem eu estou preparada para esse momento.
— Comentei, colocando os saltos. — Falta só o perfume e
estou pronta.
Assim que fechei a boca, a campainha tocou.
— Meu Deus é ele! — Gritei.
— Quer que eu vá abrir a porta?
— Sim, avisa que estou aqui.
Segundos depois de Rosie ir atender a porta, Henri
adentrou o closet e meu coração parou.
Ele estava perfeito.
— Oh meu Deus, olha só pra você. — Sorri.
— Eu disse que essa fantasia era ótima, Mi Amor. —
Ele se aproximou, me abraçando e respirando fundo no meu
pescoço. — Você está perfeita.
— Você está realmente entrando no personagem.
— Eu pesquisei muito antes de ter certeza, Ella. Veja só
porque os escolhi. — Ele se afastou um pouco, pegando o
celular e lendo a matéria de um site. — “Eles são apaixonados
um pelo outro, sem medo ou vergonha de admitir e transpor
isso; são extremamente românticos, independente do momento
ou lugar, o que importa é a demonstração de amor e desejo; e
ambos só somam na vida um do outro. Ou seja, o amor deles é
puro, sincero e singelo, não havendo abuso, possessão ou,
ainda, aparentando algo forçado.”
— Isso é… lindo.
— Eu não terminei. “Acima disso, não há momentos
ruins para o casal, mas quando há são driblados de forma
conjunta e nada prejudicial para a relação, pois há respeito e
cumplicidade. As declarações são sinceras e peculiares à sua
maneira. Ambos admiram e exaltam as qualidades e defeitos
um do outro, sempre demonstrando que cada parte de si é
linda, até mesmo as mais sombrias e inalcançáveis. A
companhia de seu companheiro é incomparável e se torna
insaciável a cada metro de distância, porque há uma
necessidade de estarem juntos e ambos adoram essa sensação,
mesmo que cada um dê prosseguimento em sua vida também
de formas separadas e independentes.”. Eu nos vi neles, por
isso escolhi. Quero que nossa relação seja assim. Eterna,
duradoura e acima de tudo, repleta de muito amor e respeito.
Um sorriso sincero brotou nos meus lábios e meus olhos
encheram de lágrimas.
— Eu não posso chorar agora. Rosie vai me matar se
borrar essa maquiagem. — Henri pegou um lenço e secou o
início do que seria uma cachoeira de lágrimas. — Você é a
melhor coisa que me aconteceu. — Abracei ele. — Obrigada
por me fazer sentir e vivenciar tudo isso.
— Eu que te agradeço por trazer sentido a minha vida de
novo. — Respondeu, beijando de leve meus lábios.
— Não borre o batom dela, Henri. Eu mato você. —
Rosie gritou da sala, nos fazendo rir. — Hora de irmos,
pombinhos. Vamos arrasar naquele baile.
A viagem até o salão foi rápida, mas a fila de carros para
o estacionamento do local estava enorme.
— Nossa, quanta gente. Nos bailes anteriores tudo era
tão parado. Obrigada por trazer a diversão, Henri. — Rosie
comentou animada.
Todos os bailes Rosie junto com as outras meninas eram
as minhas convidadas. Inclusive elas já deveriam ter chegado.
Enviei uma mensagem no grupo e Mad respondeu que já
estavam lá dentro e enfatizou o quanto estava feliz por ter
tantos homens bonitos.
— Rosie, aposto que vai gostar mais ainda do que te
espera lá dentro. — Comentei.
— O que tem lá dentro? — Ela e Henri perguntaram
juntos.
Henri era um grande curioso.
— Seus convidados. — Respondi para Henri.
— O que tem eles?
— Mad acabou de surtar sobre o quanto são bonitos.
— Vem pra mamãe. — Rosie gritou e soltou um assovio.
Henri fez careta.
— Estou começando a achar isso uma péssima ideia. —
Resmungou.
— Ei. — Cheguei mais perto dele. — Meus olhos não
sairiam de você, nem se eu quisesse.
Ele relaxou, apertando minha coxa.
A fila de carros começou a diminuir e logo já estávamos
entrando no grande salão lotado.
Um rapaz loiro vestido de pirata veio em nossa direção.
— Hey, Niall. — Henri o abraçou.
— Hey, H. Bom te ver, amigo.
Olhei para Rosie que já estava pronta para dar o bote.
— Meninas, esse é o Niall, um grande amigo meu e um
dos funcionários que irão trabalhar na J&J Company. Niall,
essa é a Ella, minha garota, e sua amiga, Rosie. — Henri nos
apresentou.
—É bom te conhecer, Ella. Parabéns pela festa, eu
estava no telefone com ele quando você quase o matou. —
Rimos juntos. — E pela fantasia também, vocês dois estão
incríveis. Aposto que vão ganhar a competição. — Niall sorriu
gentilmente.
— Essa é a intenção. — Henri concordou orgulhoso.
Niall assentiu e olhou para Rosie, seu sorriso mudou
para galanteador imediatamente.
— Oh, vejam só, é um prazer conhecê-la, Cleópatra.
Adoraria roubar todo o ouro que você me pedir em troca de
uma dança.
— Pois então pode começar a roubá-los, pirata sexy. —
Rosie piscou.
Olhei para Henri e rimos juntos.
— Boa sorte com ela, Niall. — Avisei.
— Vai precisar. — Henri completou. — 50 dólares que
eles vão se pegar no final da festa. — Ele falou baixo.
— No final? Eu aposto 100 que eles se pegam antes.
— Feito.
Nos encaramos cúmplices e caminhamos pelo salão.
Fiquei feliz ao ser parabenizada pela organização por várias
pessoas, não estava familiarizada com toda atenção voltada
para mim, mas confesso que era bom pra caralho. Henri logo
se ocupou com seus convidados. Sem tirar sua mão da minha,
ele me apresentou a todos que eu não conhecia. Após uma
pausa, puxei ele e Rosie que estava em um papo intenso com
Niall, me desculpando em seguida e fomos à procura das
outras meninas, que pela minha intuição estavam no bar.
Encontrei-as exatamente onde pensei.
— Ei, vocês. — Elas gritaram já animadas.
— Já começaram sem nós? — Perguntei, rindo.
— Ei amigo, mais uma rodada de shots de tequila, com
três adicionais. O resto do grupo e a organizadora desse evento
acabaram de chegar. — Clair gritou para o barman em sua
fantasia de anjo.
— Vocês demoraram. — Jô comentou, estava de mulher
gato.
— A fila de carros estava enorme lá fora. — Respondi.
— Sem contar que Henri demorou mais que nós duas para se
arrumar.
— Que calúnia. — Ele fingiu estar ofendido. — Não
deixem a Ella queimar minha imagem. É um prazer finalmente
conhecê-las.
Henri foi devidamente apresentado e todos entramos em
uma conversa calorosa. Até ele precisar se retirar. Se
despedindo com o beijo, ele se misturou no meio da multidão.
— O que está acontecendo com você? — Mad que
estava vestida de agente secreta, perguntou para Rosie que
estava calada olhando para um ponto fixo.
— Ela está de olho na nova presa.
— Ei, ele é um baita dum gostoso. — Ela respondeu.
— Quem é ele? — Clair perguntou.
— Niall, amigo do Henri. Vai trabalhar com a Ella
também.
— Coitado.
De repente, uma música que conhecíamos bem começou
a tocar. Don’t Worry do Madcon.
— Ai. Meu. Deus. — Jô começou a gritar. — Vamos
dançar. — As outras concordaram dando gritinhos.
— Acho que ainda estou um pouco travada. —
Comentei.
Na mesma hora o barman colocou nossos shots no
balcão.
— Resolvido o seu problema. No três, rápido. — Rosie
gritou, pegando o seu copo e nos juntamos a ela.
— 1, 2, 3… — Contamos e viramos juntas.
Senti minha garganta arder e balancei minha cabeça,
sentindo todo o meu corpo formigar.
— Puta merda, vamos dançar. — Gritei.
Corremos em direção a pista de dança e todos pararam
para ver um grupo de garotas dançando loucamente. Estava
tão imersa a situação que só depois me dei conta que várias
pessoas se juntaram a nós. Sorri para as meninas que pareciam
voltar à realidade do que estava acontecendo junto comigo e
continuamos dançando. A música acabou, dando início a
Locked Out Of Heaven do Bruno Mars e mais uma série de
gritos surgiu entre nós.
— Isso está muito bom. — Jô gritou.
— Nunca mais tínhamos nos divertido assim. — Clair
mencionou.
— Eu amo vocês. — Mad gritou bêbada, fazendo todas
rirem.
Senti uma mão forte em meu quadril, me puxando para
trás e sorri ao sentir o perfume do meu namorado quando
minhas costas encontraram o seu peito forte. Com a outra mão
ele me entregou seu copo e eu bebi, o gosto forte do whisky
fez meu corpo arrepiar. Henri entrou no ritmo, dançando junto
comigo. Comecei a fazer movimentos sensuais enquanto ele
apertava ainda mais seu corpo no meu.
— Eu não tenho palavras para descrever como você está
hoje, principalmente nesse exato momento enquanto rebola
sua bunda para mim. Estou perdendo o controle. — Ele
sussurrou em meu ouvido.
Virei de frente para ele, grudando ainda mais nossos
corpos e sussurrei de volta contra os seus lábios.
— Eu não me importo que você o perca.
Ele me beijou ali, numa pista de dança escura e lotada,
fazendo todos ao redor desaparecerem, fazendo eu me perder
em mim mesma. Nossos corpos estavam tão juntos que éramos
capazes de nos tornar apenas um.
— Preciso te contar um segredo. — Falei ofegante, após
quebrar o beijo.
— O que?
— Estou com o presente que você me deu.
Senti seu coração acelerar pela nossa proximidade. Olhei
em seus olhos que queimavam em desejo.
— Você está brincando? — Ele perguntou surpreso.
— Eu brincaria com isso? — Arqueei minha
sobrancelha, pegando sua mão e a colocando discretamente
dentro do meu decote para que ele pudesse sentir a renda.
— Você tem certeza? — Perguntou, demorando sua
mão ali e acariciando meu seio rígido. — Eu não quero que
ache que esse presente é uma forma de apressar ou cobrar
algo. Eu vou esperar o tempo que precisar.
— Hey, Sr. Addams/Hayes, se tem uma coisa que eu
tenho certeza é de que quero ser sua por completo. Esta noite.
Ele me beijou outra vez.
— Contarei os minutos para o fim da festa.
— Eu também. — Sorri boba. — Agora vamos nos
divertir.
Henri me acompanhou até o círculo de garotas e foi
bombardeado logo em seguida com perguntas e ameaças
bêbadas. Ele estava se divertindo com tudo isso.
— Se você a machucar, eu mesma mato v… O que é
isso, Rosie? — Mad se perdeu no meio da frase e todos nós
olhamos para Rosie que beijava ferozmente o pobre Niall.
— Ela é rápida. — Henri riu.
— E eu ganhei a aposta. — Sorri vitoriosa. — Meu
dinheiro. — Pedi, mostrando a mão em sua direção.
Henri gemeu frustrado, colocando a mão no bolso do
paletó e tirando a nota, me entregando em seguida.
— Espera aí, vocês apostaram sobre mim? — Rosie
gritou.
— Claro. — Respondemos juntos.
— Vão à merda vocês dois.
— Eu vou ao bar.
Puxei Henri até o bar e pedimos nossas bebidas. De
longe vi Ethan e Marina prestes a se beijar.
— Dá pra acreditar? — Chamei a atenção de Henri para
a cena.
— Puta merda. — Riu e eu o acompanhei. — Se
merecem.
Nossas bebidas chegaram e eu não me demorei, bebi
grande parte em um só gole.
— Ei, vai com calma, Ma belle.
— Acha que eu não aguento? — Duplo sentido.
— Não sei. Descobrirei mais tarde. — Ele piscou,
mostrando que havia entendido a intenção.
Hoje estava sendo a melhor noite em muito tempo.
— Ei, pessoal. Roubei a jóia mais preciosa. Minha
Cleópatra. — Niall estava incrivelmente bêbado.
— Ei, Ella, acho que vou me casar com ele. — Rosie
anunciou.
— Tem minha benção. — Entrei na brincadeira.
— Henri. Você aceita ser meu padrinho?
— Será uma honra, irmão.
Os dois abraçaram-se e não pude deixar de rir. Eles
estavam levando tudo aquilo muito a sério. Eu só desejava que
não fizessem nenhuma besteira.
— Gente, gente… — Mad surgiu. — Vão anunciar
quem ganhou para a melhor fantasia.
— O que? — Perguntei assustada. — Mas já? Eu nem
votei.
— Não se preocupe, Ma belle. Tenho certeza que
ganhamos.
Henri estava confiante até demais. Suspeito.
— Você sabotou isso não foi?
— Eu sou o chefe. — Ele deu de ombros. — Todo
mundo vota no chefe.
— Seu grande…
Fui interrompida pela voz de Josh.
— E os vencedores são… Ella Jones e Henri Hayes com
a fantasia do querido casal Mortícia e Gomez Addams.
Os aplausos e gritos eram infinitos. Senti meu rosto
esquentar. Droga.
— Pronta? — Henri pegou minha mão.
Virei o resto da minha bebida.
— Agora sim.
Ele me guiou em meio a multidão que nos parabenizava.
Subimos no pequeno palco e fomos recebidos por Josh que
nos abraçou e colocou a coroa na nossa cabeça.
Deixei a timidez de lado e sorri para a grande quantidade
de convidados que gritavam para Henri discursar.
Josh passou o microfone para ele que não hesitou em
pegar.
— Boa noite a todos! Estão gostando dessa noite? —
Gritos afirmativos foram dados. — Que bom. Eu gostaria de
começar agradecendo a todos que estão aqui hoje, a você que
faz parte de alguma forma da nossa empresa, a todo o pessoal
que trabalhou duro para estar tudo impecável hoje, a você que
votou e que fez isso acontecer. Seu emprego está garantido,
cof cof. — Risadas explodiram. — Mas, preciso agradecer
principalmente a esta mulher que está aqui ao meu lado. —
Pausou, olhando para mim, aumentando o aperto entre nossas
mãos e me puxando para si, fazendo meus olhos encherem de
lágrimas. Eu vou matá-lo. — Minha admiração por você
depois dessa noite foi além do que você possa imaginar, se
antes eu já te achava competente, criativa e muitas outras
coisas, agora nem se fala. Não estou falando isso só porque ela
é minha namorada, pessoal. Mas porque eu a vi, nesse último
mês, dar tudo de si em algo que quase a fez me matar. Não é
fácil assumir a frente de um evento grande como este, faltando
menos de um mês e sendo pega de surpresa. Uma salva de
palmas para quem desenvolveu todo o projeto e esteve a par de
todo o trabalho feito, Ella Jones.
Aplausos e assobios preencheram o salão e meu sorriso
não podia ser maior.
Esse cara não existe.
Antes de qualquer coisa, Henri voltou a falar.
— Ah, e sim, estou confirmando todos os rumores que
correm por aí. Estamos mesmo namorando.
Mais aplausos e gritos.
Tomei o microfone de suas mãos.
— Obrigada, obrigada. Confesso que não foi fácil e que
quis sim muitas vezes matar esse camarada aqui. Ele sabe ser
um grande pé no saco quando quer. Mas também consegue ser
aquela pessoa que nos motiva e que nos ensina a não ter medo
de enfrentar um desafio só porque achamos que ele é grande
demais. Seremos sempre maiores que eles. No fim, tudo deu
certo e estar aqui hoje, com esse cara ao meu lado e vendo
todos vocês felizes e se divertindo, faz o sentimento de dever
cumprido me tomar. Obrigada mais uma vez por estarem aqui
e por confiarem em mim. E obrigada a você, amor. Por me
colocar nisso tudo. — Fiquei na ponta do pé e dei um selinho
nele.
Foi então que me voltei para a multidão e o vi,
escondido no canto esquerdo do salão. Minha vista escureceu.
Senti que iria cair ali mesmo. Henri foi rápido em me segurar
antes que eu pudesse pensar em desmaiar.
— Você está se sentindo bem, querida? — Perguntou
preocupado.
Olhei assustada para o local que o vi e ele não estava
mais lá. Talvez eu devesse estar vendo coisas.
Assenti e sorri para Henri.
— Estou bem, meu amor. Foi só emoção.
Ele balançou a cabeça ainda desconfiado.
Posamos para algumas fotos e voltamos para o bar.
— Nossa, vocês dois estavam perfeitos lá em cima. —
Jô gritou.
— Sim, meu Deus. Vocês são tão sexys. — Clair
concordou.
Ri um pouco e pedi uma água. Ainda tremia e estava
torcendo para Henri não perceber.
— Sr. Hayes. Precisamos de você. Agora. — Alguém da
equipe de segurança o chamou.
Era minha deixa. Me afastei, indo até o banheiro.
Agradeci mentalmente por não ter uma fila.
Entrei no banheiro, me deparando com o mesmo vazio.
Fui até uma das pias, jogando um pouco de água no rosto, com
cuidado para não borrar a maquiagem. A primeira ânsia de
vômito veio.
Acalme-se, Ella. Não era ele. Ele não pode mais te
atingir.
Respirei fundo e me olhei no espelho. Foi quando as
luzes se apagaram. Gritei pelo susto e a ânsia novamente me
atingiu.
Ouvi passos perto de mim e me encolhi.
— Quem está aí?
Não obtive resposta.
— Quem está aí? — Meu corpo tremia quando perguntei
mais uma vez.
Os passos estavam cada vez mais perto de mim. O
desespero dominou o meu corpo e me afastei rapidamente.
Minha voz havia sumido.
Então ouvi uma risada, juntamente com o perfume forte
que eu conhecia.
— Sentiu minha falta, amor?
Era ele. Ele havia me achado. Isso não podia estar
acontecendo.
— Sebastian…
— Achou que eu não viria atrás de você?
Eu conseguia sentir sua respiração em meu rosto. Juntei
toda a força que me restava e o chutei entre suas pernas.
Escutei quando ele se afastou gemendo de dor.
— Sua vadia… Eu vou acabar com você e com aquele
playboyzinho de merda.
Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, escutei
alguém gritando por mim.
— Ella? Você está aí? — A voz do meu anjo de olhos
verdes me atingiu e solucei alto.
— Henri! — Gritei em meio aos soluços e escutei os
passos apressados de Sebastian o deixando longe de mim. Mas
não antes de Henri alcançá-lo e socar o seu rosto.
— Hey! Ma belle, eu estou aqui. Ele encostou em você?
Você está machucada? — Henri veio até mim com a lanterna
do celular iluminando o caminho e me abraçou apertado, me
fazendo chorar ainda mais. A movimentação no banheiro era
grande, entendi como os seguranças. — Ei, calma, eu estou
aqui, meu amor. Eu estou aqui.
— Me leve para casa. — Sussurrei desesperada antes de
desmaiar.

Abri meus olhos devagar e vi que estava no carro de


Henri. Seus dedos estavam vermelhos e seu aperto no volante
era forte. Seu olhar fixo na estrada era sério e frio.
Ele percebeu que eu estava acordando e me olhou
preocupado.
— Já estamos chegando, meu amor. Você está bem, tudo
está bem. — Ele tentou me tranquilizar.
Nada estava bem, não quando Sebastian estava de volta.
Eu não conseguia falar. Olhei para a estrada e não
reconheci o caminho. Não estávamos mais na cidade, mas uma
enorme casa me chamou atenção.
— Chegamos, Ma belle. Você está em casa.
Henri havia me levado para a sua casa.
O carro entrou na propriedade, tudo era lindo, as
árvores, os campos.
Ele saiu do carro e deu a volta, abrindo a porta e me
pegando no colo.
Eu me sentia tão segura em seus braços, nada no mundo
poderia me atingir enquanto eu estivesse ali.
Ele entrou na casa escura e subiu as escadas em silêncio.
Caminhou lentamente até o fim do corredor, entrando em seu
quarto. Não pude ver muita coisa pela falta de iluminação.
Senti seu colchão macio quando ele me deitou na cama.
— Eu já volto, meu amor.
Ele entrou em uma das portas que havia no quarto e
voltou instantes depois, me pegando no colo mais uma vez.
Henri me levou para onde tinha ido, que descobri ser seu
banheiro, onde a banheira estava pronta.
Ele me despiu, beijando-me suavemente. Me colocou
devagar na banheira e entrou depois de se despir. Deixei que
ele cuidasse de mim.
Ficamos algum tempo na banheira. Eu sentia as dúvidas
rondando-o, eu sabia que ele não perguntaria nada até eu estar
pronta para contar, porque Henri era assim, ele me conhecia a
esse ponto.
Após o banho, Henri tirou minha maquiagem, penteou e
secou meus cabelos, me vestiu com suas roupas e me levou
novamente para sua cama.
Ele deitou-se ao meu lado, me puxando para si, para
seus braços, para a minha proteção.
Me aconcheguei nele, sentindo o seu cheiro natural e
meu corpo amoleceu.
Eu precisava de seus braços em volta do meu corpo. Eu
precisava do seu corpo no meu. Eu precisava ser amada por
inteiro por alguém como ele. Eu precisava dele mais do que
tudo. Eu precisava finalmente me libertar e esquecer tudo que
me aconteceu.
— Henri. — Sussurrei.
— Sim, Ma belle?
— Faça amor comigo.
— Por que está pedindo isso? É por causa do meu
presente? — Henri perguntou preocupado. — A situação
mudou, Ella. Não se sinta na obrigação de fazer algo que não
está pronta. Eu vou esperar você. — Ele segurou em minhas
mãos.
— Não, não é por causa do presente. Eu preciso disso,
eu preciso de você. Agora! — Respondi, sentindo as lágrimas
molharem meu rosto. — Isso nunca foi fácil para mim. Pela
primeira vez, em toda a minha vida, eu tenho a chance de ser
uma mulher com desejos, uma mulher que não tem medo de
sentir. Eu estou tendo a chance de ser feliz com quem eu
quero.
— Eu fico feliz e honrado em poder te proporcionar
isso, mas preciso saber se você está realmente bem com toda a
situação. Entenda que eu sinto que estou pisando em cascas de
ovos. Eu sei que há algo mais grave envolvido, eu não quero te
pressionar e principalmente te magoar.
— Eu admiro sua preocupação, Henri. Mas eu nunca
tive tanta certeza sobre algo como agora.
Eu vi a dúvida diminuir em seus olhos, os mesmos que
nunca deixaram os meus. Com a minha mão o empurrei e subi
em seu colo.
— Fazer amor com você é tudo o que eu mais quero. Me
faça sua, Henri. Me faça esquecer os meus demônios. Me faça
esquecer os meus medos. — Supliquei.
— O que você quiser, meu amor. Sempre.
Nossas bocas se juntaram no mesmo instante. Nosso
beijo era forte, intenso, necessitado.
Eu estava beijando-o com todo o meu amor, como se
minha vida dependesse daquilo. E talvez realmente
dependesse. Eu não me importava com mais nada.
Suas mãos foram em direção a camisa que eu vestia,
lentamente ele a tirou de mim, deixando meus seios expostos.
Tirei a sua e juntei ainda mais meu corpo no seu, sentindo sua
pele quente.
Henri me virou na cama, ficando por cima de mim e
distribuiu beijos por todo o meu rosto, me fazendo sorrir boba.
Ele desceu seus beijos pelo meu pescoço até os meus seios.
Ele os beijava e massageava, era torturante e delicioso.
Em cada parte que sua boca tocava, uma chama se
acendia. Pegando minha perna direita, Henri a beijou e fez um
rastro até parar no meio da minha coxa, onde deixou uma
mordida. Meu corpo gritava por mais.
Senti sua respiração quente perto do meu ponto sensível
e estremeci. Ele me beijou por cima da calcinha, puxando-a
para o lado logo em seguida. Seus dedos me acariciaram e eu
gemi seu nome baixinho, o que o incentivou ainda mais. Antes
que eu pudesse pensar, minha calcinha foi rasgada. Sua língua
voltou a me encontrar, agora sem nada para atrapalhar.
Suspirei alto quando ele introduziu um dedo.
— Henri… — Arfei e sua língua começou a me explorar
por inteira, um segundo dedo me preencheu. Minhas mãos se
prenderam ao seu cabelo. Ele sabia como me beijar. Meu
corpo o conhecia tão bem.
Sua língua fazia movimentos mágicos em meu clítoris,
enquanto seus dedos me penetravam cada vez mais rápido. Eu
já sentia a pressão no pé da barriga.
— Goze para mim, Ma belle. — Ele ordenou,
aumentando a sucção.
Meu corpo atendeu o seu comando. Tremores se
espalharam, meus olhos reviraram e eu estava no céu.
— Você é perfeita. — Declarou, me beijando uma última
vez lá embaixo e subiu devagar até nossas bocas se
encontrarem novamente. — Lembre-se sempre disso.
Minhas mãos empurraram sua calça e alcançaram sua
ereção, acariciando-o por cima da cueca. Seus olhos fecharam
e uma respiração pesada saiu de seus lábios. Voltei a beijá-lo e
nós dois tiramos o livramos do tecido. O desejo encontrava-se
impossível de controlar. Henri esticou o braço até a mesa de
cabeceira e pegou o preservativo, rasgando-o com a boca. Sua
mão guiou a minha para que eu mesma o vestisse.
— Você está pronta? — Ele perguntou, juntando sua
testa na minha.
— Para você, estou. — Sorri sincera, olhando em seus
olhos.
Henri se acomodou no meio das minhas pernas,
posicionando-se na minha entrada, deslizando para cima e para
baixo antes de me penetrar devagar. Sentir ele me preencher
cada vez mais me fazia transbordar. Ele gemeu após entrar por
completo, se demorando um pouco para que meu corpo se
acostumasse com o seu tamanho.
— Ella… — Suspirou, movendo-se lentamente. —
Entrar em você é como um sonho. Você é tão apertada.
Em instantes seus movimentos se tornaram mais rápidos,
meu quadril encontrou o seu ritmo perfeito. Nossas línguas
entraram em uma batalha de domínio.
— Isso é incrível. — Sussurrei em meio aos gemidos.
— Nosso encaixe é incrível. — Ele respondeu.
Henri me penetrou mais fundo, me fazendo arfar. A
sensação de estar mais que completa era maravilhosa. Sentir-
me desejada, sentir o verdadeiro prazer de dois corpos unidos.
Em um rápido movimento, ele nos virou, me deixando
no comando, suas mãos me ajudavam a controlar e intensificar
os movimentos. Eu podia senti-lo por completo dessa forma.
Era perfeito. Joguei minha cabeça para trás e gemi quando
seus dedos voltaram a me acariciar.
Eu poderia explodir a qualquer momento.
— Henri… — Choraminguei, sentindo o orgasmo me
atingir fortemente.
Ele se inclinou, abraçando meu corpo e movimentando
seu quadril, me penetrando mais fundo. Henri chegou ao seu
limite gemendo meu nome e me beijando intensamente.
Ficamos ali parados na mesma posição, ofegantes,
beijando-nos apaixonadamente.
Senti-o se levantar comigo em seu colo.
— Para onde estamos indo?
— Terminar o que começamos.
Ele entrou no banheiro, me colocando na bancada,
descartou a camisinha e começou a encher a banheira.
Enquanto o banho ficava pronto, voltamos ao ato ali mesmo.
Henri me puxou mais para a beirada e se posicionou entre
minhas pernas, entrando novamente dentro de mim. Entrelacei
minhas pernas ao redor do seu quadril, prendendo-o a mim.
— Agora que eu sei como é estar dentro de você, nunca
mais quero sair. — Sussurrou contra meus lábios.
— Agora que eu sei como é você dentro de mim, nunca
mais quero que saia. — Respondi, beijando-o.
Henri aumentou suas investidas, tocando em uma parte
dentro de mim que me fez vibrar, eu sentia outro orgasmo
chegando.
— Não pare, estou quase. — Implorei ofegante.
— Goze comigo, meu amor. Grite meu nome.
Senti todo o meu corpo tremer, enquanto as ondas de
prazer me faziam perder os sentidos, tudo estava escuro.
— Henri. — Gritei. — Oh meu Deus.
Abri meus olhos para ver duas esmeraldas olhando para
mim e presenciei a beleza do seu orgasmo o atingindo. O
abracei, sentindo nossos corpos molhados de suor.
— Hora do banho, querida.
Ele me desceu da bancada e me agarrei nele quando
minhas pernas não me sustentaram.
— Ok, acho que você me impossibilitou de andar. Me
leva. — Ri alto.
— Com todo prazer.
Seus braços fortes me envolveram e ele nos levou até a
banheira, me colocando dentro dela. A água morna e toda
aquela espuma eram tudo o que eu precisava. Henri entrou
logo em seguida, me puxando para si.
— Obrigada. — Falei contra seu peito.
— Pelo que?
— Por tudo e principalmente por hoje.
— Não precisa agradecer.
— Preciso e vou.
Ele riu me abraçando mais forte.
— Teimosa.
Ficamos em silêncio, nos banhando e nos amando.
Quando terminamos, Henri me pegou no colo de novo e me
levou até a cama. Deitamos os dois nus, roupas não eram mais
necessárias. Ele me aconchegou nele e nos cobriu com o
edredom.
— Durma, estarei aqui quando acordar.
Meu corpo pareceu processar tudo naquele momento e o
cansaço me alcançou. Em meio aos braços do meu homem,
sentindo o seu cheiro e sorrindo apaixonada, eu tive ainda
mais certeza de que pertencia a ele e que ali era o meu lugar.
Estava quase dormindo quando o ouvi sussurrar contra
meus cabelos.
— Eu amo você, Ella.
— Eu também amo você, Henri.
E com isso, dormi profundamente nos braços do meu
amor.
Acordei, mas mantive os olhos fechados com medo de
que quando eu os abrisse tudo isso não passasse de um sonho.
Mas quando algo se enroscou mais ainda em mim, não
pude deixar de sorrir. Sonhos seriam assim tão reais?
Abri meus olhos devagar e vi minha garota linda em um
sono pesado. Seu longo cabelo estava espalhado, ela estava tão
serena, tão em paz. Passei alguns minutos observando-a
dormir e a cada vez que ela ressonava baixinho, eu me
apaixonava ainda mais. Se é que isso é possível.
Ontem foi além de tudo que imaginei, e eu imaginei isso
várias vezes. Não era somente desejo, era amor. Não eram
apenas dois corpos, eram duas almas se unindo.
Mamãe ficaria tão feliz.
Sorri triste ao me lembrar dela e com cuidado saí da
cama, acomodando Ella em meu travesseiro, o qual ela
agarrou com toda a sua força.
Fui até o banheiro, tomei um banho rápido e escovei os
dentes. Depois de vestir uma cueca limpa e uma calça
moletom, desci para preparar o café da manhã. A casa estava
toda escura, indo até o interruptor que ficava no corredor entre
a sala e a cozinha, apertei o botão que fez as grandes cortinas
se abrirem, deixando a luz do sol abraçar os cômodos.
Eu não costumava fazer isso, geralmente a casa vivia
escura. Mas hoje tudo estava diferente. Graças a ela.
Comecei a preparar o café e me perguntei quando foi a
última vez que cozinhei para alguém, além de mim.
Depois que mamãe morreu eu meio que me fechei para o
mundo, todas as pessoas importantes na minha vida foram
embora. Ela, meu pai, Melanie.
O pensamento sobre meu pai e minha ex fez o ódio
começar a crescer dentro de mim, junto com a tristeza e então
o medo. Eu tentava a todo custo não pensar nisso, foram anos
de terapia para aprender a viver no mundo novamente, ter
contato com as pessoas e perder o medo do abandono. Mas,
agora com o assunto em mente, o pensamento de ser
abandonado por Ella me consome e isso dói. Dói tanto que
preciso parar o que estou fazendo e me apoiar na bancada para
tentar respirar melhor.
Se ela soubesse…
Não! Pare com isso! — Me repreendi.
Fui até a geladeira e peguei alguns morangos para
colocar nas panquecas. Voltei a preparar o café e isso ocupou
minha mente, o que era bom. Estava tão concentrado que não
escutei Ella chegar.
Seus braços envolveram minha cintura, me pegando de
surpresa. Senti um beijo em minhas costas e me virei sorrindo
para abraçá-la, deixando um beijo de leve em seus lábios.
Senti meu cheiro em seu cabelo molhado e sorri ainda mais.
— Bom dia, meu amor. Como está se sentindo? Dormiu
bem?
— Bom dia, querido. Estou bem melhor. Dormi
maravilhosamente.
— O café ficará pronto em um minuto. — Anunciei,
pegando-a no colo e a colocando no balcão.
— Ainda bem, estou faminta.
Sorri, voltando para o fogão.
— Tem gastado muita energia? — Brinquei com ela.
— Oh, sim. Uma certa pessoa me fez gastar todas elas
ontem a noite.
— Mas isso foi uma coisa boa?
— Achei que seria melhor. — Ela desdenhou.
— O que você disse? — Perguntei, me virando para
olhar seu rosto que tinha um sorriso brincalhão.
— Que achei que seria melhor? — Ela gargalhou.
Fui até ela, ficando entre suas pernas, puxando-a para
frente, friccionando nossas intimidades. Ella gemeu baixinho.
— A é? Não foi bom o bastante para você? — Beijei seu
pescoço.
— Talvez eu precise de mais para chegar a uma
conclusão.
— Eu ficaria feliz em poder te dar mais do que você
precisa. — Deixei minhas mãos invadirem a camisa e apertei
seus seios que já estavam animados.
Eu sabia muito bem o que ela estava fazendo.
— Eu sei que sim. — Disse em um sussurro.
O apito da torradeira quebrou nosso clima.
— Preciso te alimentar primeiro. — Me afastei para
pegar as torradas. Coloquei-as em um prato, deixando-o no
balcão, ao lado de Ella e fui buscar o resto das coisas.
Nosso café da manhã se resumiu em torradas com bacon
e ovos mexidos, panquecas doces com morango e chantilly,
suco de laranja e café.
— Hummm. — Ella gemeu enquanto mastigava a
panqueca. — Isso está muito bom. Largue sua carreira de CEO
e cozinhe para mim.
— Se é isso que deseja. — Respondi, levando um
morango a sua boca. Permanecemos da forma que estávamos,
ela no balcão e eu entre suas pernas.
— Eu desejo várias coisas. — Pegando o chantilly, ela o
passou na minha boca, limpando com a sua logo em seguida.
Eu sabia muito bem o que ela estava tentando fazer. Sua
cabeça precisava da maior quantidade de distração para não
pensar nos acontecimentos de ontem. E, mesmo preocupado e
não achando isso saudável, eu ainda era um covarde protetor
que não queria ver Ella triste. Faria tudo que ela precisasse
para não afundar. Se o que aconteceu ontem a machucava, eu a
faria esquecer por completo.
— Você está muito sapeca hoje.
— Você me causa isso.
Sorrimos.
— Você me causa várias coisas. — Respondi, pegando o
chantilly e passando no seu pescoço.
Vi sua pele arrepiar quando minha língua percorreu o
rastro doce.
— É melhor parar ou não vamos terminar o café da
manhã.
— Mas eu estou tomando o meu café da manhã. —
Minha mão foi até o centro de suas pernas e senti sua umidade
em meus dedos. — Tão molhada para mim. — Sussurrei em
seu ouvido.
Ouvi seu protesto quando afastei meus dedos. Puxei
minha camisa que a vestia e peguei o frasco de chantilly.
— Fique quietinha. — Ordenei.
Depositei o chantilly em seus seios, em seu umbigo e
olhei para ela quando depositei no lugar mais desejado.
Comecei a lamber seu seio esquerdo e ela gemeu meu
nome, empurrando ainda mais seu corpo para frente.
— Quieta ou não vou fazer nada.
Ela acenou com a cabeça, ficando parada no lugar.
Voltei para seu seio limpando todo o chantilly, indo para
o outro logo em seguida. Minha língua desceu até seu umbigo
e sua respiração ficou mais pesada. Ella estava impaciente e eu
resolvi provocá-la. Terminei no seu umbigo e fiquei parado
olhando para seu rosto, seus olhos fechados e sua necessidade
do meu toque.
— Henri… — Suplicou. — Não me faça implor… — A
interrompi com minha língua lambendo toda a sua região,
sentindo-a estremecer.
Seu gosto era delicioso, eu poderia prová-la todos os
dias e nunca me cansaria.
Minha língua fez movimentos giratórios em seu clítoris
e senti seu orgasmo chegando. Introduzi dois dedos e Ella
gemeu ainda mais.
— Eu vou…
— Deixe vir, querida.
Senti sua boceta apertar meus dedos e o meu nome saiu
trêmulo da sua boca. Continue chupando até o último segundo
do seu orgasmo.
— E então? Conseguiu chegar a uma conclusão? —
Perguntei, mordendo sua barriga.
— Não consigo pensar em nada, mas de todas as escalas,
você ultrapassou a porcentagem máxima. — Respondeu ainda
de olhos fechados.
— Vamos, vou te mostrar minha casa.
— Agora?
— Sim. Estou duro como uma pedra e quero fazer amor
com você em todos os cômodos possíveis.
Peguei-a no colo, indo em direção às escadas.

— Ok, está sendo uma bela tour. — Ella falou saindo de


cima de mim e deitou-se ao meu lado no chão da academia.
— Que bom que está gostando. — Respondi ofegante.
— Mas acho que os outros cômodos podem esperar para
depois. Sinto que vou desmaiar a qualquer momento. —
Comentou, rindo.
— Sim, para depois. Concordo com você.
Senti uma vertigem me atingindo e a ignorei.
— Preciso de um banho. — Ella anunciou, se
levantando. — Você vem?
— Pode ir, vou depois de você.
— Ainda bem. Eu não tenho certeza se aguentaria outra
rodada. — Riu, saindo do cômodo.
Suspirei aliviado, sentindo outra tontura me atingir.
Fechei os olhos e aguardei que passasse.
Me levantei devagar e esperei escutar a água do chuveiro
caindo para entrar no pequeno banheiro que havia na
academia.
Senti uma imensa vontade de tossir e assim o fiz. A
tosse não cessava e eu estava com medo de Ella escutar. Senti
uma secreção sair junto a tosse e o pânico me atingiu quando
vi o sangue na pia.
Liguei a torneira rapidamente, lavando o sangue da
minha boca e da pia.
Isso não podia estar acontecendo, não agora.
Puxei meus cabelos com força, socando o espelho que se
partiu em vários pedaços.
— Henri? Está tudo bem? — Escutei o chuveiro ser
desligado e Ella gritar.
— Está tudo bem, Ma belle. Não se preocupe. — Gritei
de volta, tentando manter a voz calma.
Escutei o chuveiro ser ligado novamente e suspirei.
Entrei no box depois de tirar a roupa e deixei a água gelada
cair sobre minha cabeça.
Fiquei alguns minutos ali tentando organizar meus
pensamentos que estavam a mil. Desliguei o chuveiro quando
meu corpo começou a tremer de frio. Envolvi a toalha no meu
quadril e fui para o meu quarto.
Hora de agir normalmente, Henri.
— Ei, querido. Está tudo bem? O que aconteceu? Ouvi
um barulho. — Ella saiu do banheiro penteando seus cabelos.
— Sim, amor. Acabei esbarrando em um vaso e ele
quebrou. Nada grave, estou bem, estou vivo.
— Você é desastre ambulante, Henri. — Ela veio até
mim, me abraçando enquanto ria.
— Sim, eu sou. — Abracei-a com força, fechando meus
olhos enquanto afundava meu rosto em seus cabelos.
— Então, Hayes, está a fim de assistir um filme?
— Pipoca doce ou salgada?
— Doce! — Gritou alegre igual uma criança e meu
coração se encheu.
Nesse momento o que eu precisava era esquecer o que
aconteceu minutos atrás e ocupar minha cabeça com um filme,
minha garota e pipoca doce.

— Você está chorando? — Ela perguntou, fungando.


— Eu não, você quem está. — Virei meu rosto.
Ela riu em meio às lágrimas.
— Eu acho que você está chorando. — Alfinetou.
— Filmes com cachorrinhos são meu ponto fraco, ok?
Satisfeita? — Revelei.
Estávamos assistindo Marley e Eu. E por mais que eu
tivesse assistido o filme umas mil vezes e chorado em todas
elas, dessa vez não seria diferente.
— Você é a coisa mais preciosa desse mundo, sabia? —
Ella falou com a voz fina e apertou minhas bochechas, me
fazendo dar um largo sorriso. — Ok, suas covinhas são o meu
ponto fraco. Eu amo elas. — Confessou beijando minha
bochecha.
— Só elas? — Me fiz ofendido.
— Não. — Ella ficou séria, me olhando nos olhos. — Eu
amo você, por completo.
— Vem cá. — A puxei para o meu colo, acomodando-a
como um bebê. — Eu amo você, Ella. Mais do que você possa
imaginar.
Um sorriso tímido surgiu em seu rosto.
— Eu estou tão feliz por ter te atropelado. — Ela riu
entre as lágrimas, me beijando em seguida.
— Ei, aquilo doeu. — Ri com ela.
— Não mudaria nada, tudo aconteceu por uma razão, e
nos atrasar, o atropelamento… o destino nos queria juntos.
— Sim, ele queria e ele conseguiu.
Se ela soubesse…
Ella ficou em silêncio por um momento e apoiou a
cabeça em meu peito.
— Sabe, eu tinha apenas 16 anos quando me apaixonei
pela primeira vez. — Começou. Então percebi o que ela estava
fazendo. Beijei sua cabeça, indicando que ela continuasse e a
segurei ainda mais forte. — Sebastian foi meu primeiro em
tudo… meu primeiro beijo, meu primeiro namorado, minha
primeira vez, meu primeiro amor… — Ella riu. — Amor…
Que piada, aquilo não era amor, não vindo dele, aquilo era
possessão, loucura, doença, tudo menos amor. No começo
tudo era uma maravilha, ele era o namorado perfeito,
carinhoso, atencioso, então tudo mudou. Eu não era boa o
suficiente, nada do que eu fazia o agradava, tudo o irritava,
tudo era motivo para ele gritar comigo. — Ella engoliu o
choro e eu vi a força que aquela mulher tinha diante dos meus
olhos. — Ele me traiu diversas vezes e a culpa era apenas
minha. “Oh meu Deus, eu sou uma namorada terrível, eu
preciso que o senhor me conserte para que Sebastian volte a
me amar como antes.” Que tola! Burra! Então do nada, por
alguns instantes ele voltava a ser o Sebastian de antes. Me
dava flores, chocolates, me convidava para ir ao cinema, que
na maioria das vezes ele nem aparecia.
O ódio crescia dentro de mim, eu queria poder matá-lo,
por cada dor que ele a causou. Aquele murro não foi o
suficiente. Eu tinha sido chamado por alguém da segurança já
no final do baile para me avisar sobre um impostor. As
câmeras de segurança o flagraram entrando escondido. Eu o
reconheci, o mesmo cara do restaurante. Todo o meu corpo
ficou tenso e então todas as luzes se apagaram. Eu não
enxergava nada e nem tinha noção do que estava fazendo, só
precisava encontrá-la. Entrei em desespero quando não a
encontrei onde a havia deixado. Rosie me disse que ela
poderia estar no banheiro, então corri como se minha vida
dependesse daquilo, e dependia. Quando ela respondeu ao meu
chamado foi como ver a luz no fim do túnel, que escureceu
quando o vi agachado perto dela. Eu não me reconheci naquele
momento. Quando percebi meu punho já estava no meio da
sua cara.
Ella respirou fundo e eu sabia que coisa pior vinha.
— Quando completamos um ano de namoro, o pior dia
da minha vida, ele disse que me levaria para jantar. Eu estava
tão feliz, radiante, ele estava em seu estado antigo, estava mais
calmo, como antes. Eu passei o dia todo me preparando para
ele, Rosie tentou me alertar tantas vezes, lembro-me bem de
brigarmos nesse dia. Ela estava jogando várias coisas sobre ele
na minha cara e eu estava tão cega. Meus pais haviam viajado,
então eu teria a casa só para mim. Nunca tínhamos chegado
“lá”. E naquele dia, eu finalmente achava que estava pronta.
— Ela parou por um instante e minhas mãos fecharam-se em
punhos. Toda a dor dela estava doendo em mim, meu coração
chorava porque sabia o que vinha a seguir.
— Você não precisa falar, meu amor. Não precisa
relembrar tudo isso de novo.
— Eu quero, eu preciso. — Seus olhos se fecharam,
algumas lágrimas pesadas caindo. Ela respirou fundo e voltou
a abrir os olhos. Seu olhar parecia perdido. — Quando ele foi
me buscar, eu estava ansiosamente feliz, um belo vestido
novo, minha primeira lingerie sexy, mas isso não o agradou,
nem um pouco. Então meu vestido lindo foi arrancado do meu
corpo e quando ele viu minha lingerie suas feições mudaram,
ele se tornou razoável. Me vestindo da forma que ele queria,
fomos ao jantar. Eu não tinha fome, eu estava com medo e ele
gritou comigo no meio do restaurante por causa disso. Eu
prolonguei o jantar até onde eu pude, eu temia pela a hora que
voltaríamos para casa. Mas a hora de ir chegou. Minha casa,
meu refúgio, minha segurança… se tornou o lugar onde meu
pior pesadelo aconteceu. Aquela noite me destruiu e eu jurei
que nunca mais voltaria ao normal. — Ella soluçou e meu
aperto só aumentou.
— Mas você voltou, você está aqui, você está bem, você
é forte. — Comecei.
— Agora. Mas isso demorou tanto tempo. Aquela noite
foi só a primeira vez e então o pesadelo durou pouco mais de
um ano, eu não tinha como pedir ajuda, ninguém poderia me
ajudar, eu tinha muito medo, ele me ameaçava todos os dias.
Minha mãe percebeu que algo estava errado, eu caí no choro e
pedi socorro. Meu pai tinha um nome a zelar, assim como o
pai de Sebastian. Um escândalo desse vir à tona? Isso nunca
poderia acontecer. Os dois conversaram, tomaram decisões por
mim de acordo com o que era melhor para eles. Eu não estava
a salvo ali, eu fui abusada de todas as formas possíveis e meu
pai só se importava com o que os outros iriam falar dele.
Minha mãe não aceitou isso, então no meio de uma noite
qualquer, fugimos. Rosie veio logo depois. Afinal, somos
inseparáveis. — Ela sorriu de leve ao mencionar a amiga. —
Era vida nova, livre dele… até as crises de pânico
intensificarem, eu não dormia, os pesadelos não iam embora,
eu tinha medo de tudo e de todos. Tentei tirar minha vida mais
vezes do que posso me lembrar. Comecei a terapia com o Dr.
Mitchell, após alguns meses eu estava um pouco melhor, já
conseguia andar na rua sozinha, ir para a faculdade e não
encarar todas as pessoas e ver o rosto dele. Então, quando a
minha vida estava voltando ao normal, ele me achou… Eu
estava voltando da faculdade, a chuva caía forte, eu deveria ter
escutado os avisos da minha mãe e ter levado a capa de chuva.
Então eu o vi, ele estava me esperando na saída, eu entrei em
choque ali mesmo. Eu não sei como, mas consegui correr,
então corri o mais rápido que pude, minha vida dependia
daquilo. No meio do caminho, um táxi havia parado, um cara
estava prestes a entrar quando eu o impedi, entrando em seu
lugar. — Meu corpo congelou. — Eu precisava ser rápida,
apenas chorei dizendo que precisava de ajuda. E ele o fez.
Ceder seu táxi salvou a minha vida. E eu nem vi o seu rosto.
Se ao menos eu soubesse quem ele era, poderia agradecer.
Meu coração acelerou. Eu me lembrava muito bem
daquele dia.

FLASHBACK ON

Eu estava saindo da empresa para ir para o hospital, meu


carro havia quebrado. Foi o dia em que encontrei a carta de
Melanie, minha vida estava desmoronando. Estava todo
encharcado e prestes a entrar no táxi, quando ela surgiu.
Estava assustada e chorava muito.
— Me ajuda, não deixe ele chegar até mim, por favor.
Eu te imploro.
Estava tão quebrada quanto eu. Em meio ao caos que eu
me encontrava, eu parei de pensar em mim por um instante e
me concentrei nela.
Em meio a toda a bagunça ela era linda. Foi amor à
segunda vista, bem ali, no meio da rua, ela roubando meu táxi,
toda molhada e chorando. Eu só queria protegê-la, mas antes
que eu pudesse fazer qualquer coisa, o táxi foi embora,
levando-a para longe de mim, de novo.
Quando me virei para a direção em que ela surgiu, ele
apareceu. Aquele desgraçado. Ela estava fugindo dele. Se eu
soubesse o que ele havia feito, teria matado ele ali mesmo.
— Para onde ela foi, cara? — Ele perguntou com raiva,
colocando a mão em meu ombro. A mão com a maldita
tatuagem.

FLASHBACK OFF

— Quando cheguei em casa, mamãe me esperava na


porta, desabei em seus braços. Por sorte não havia papai ou
qualquer outro que pudesse sujar o nome. Fomos até a
delegacia e prestamos queixa, a justiça ficou do meu lado, uma
ordem judicial foi entregue a ele. Sebastian não poderia chegar
perto de mim. Se ele fosse pego, não poderia mais entrar no
país. Isso o manteve longe fisicamente, mas ele estava lá em
todos os meus pesadelos, tudo voltou ainda pior. Eu passava
mais dias no hospital do que em casa. Lá eu conheci pessoas
maravilhosas, uma específica foi quem mais me ajudou. A Sra.
H. Ela enxergava em mim o que eu não conseguia. Eu estava
sempre fugindo do meu quarto para ir para o dela. Ela me
contava tantas histórias e trançava meu cabelo, era apaixonada
pelo filho. Ela vivia me falando sobre ele, o quanto ele era
inteligente, forte e amoroso, o quanto ele cuidava dela. Seu
pequeno H, ela sempre ria após dizer isso, “ele tem quase dois
metros e eu ainda insisto em o chamar de pequeno, ele odeia”.
Eu nunca cheguei a conhecê-lo, às vezes o via de longe, mas
não dava pra ver muita coisa. Quando ela morreu eu desejei
mais que tudo ter o conhecido então eu poderia abraçá-lo forte
e dizer o quanto sua mãe o amava. Hoje eu sou forte por causa
dela. A força que ela transmitia, o carinho, o acolhimento… eu
sinto falta dela todos os dias. Eu não sabia seu primeiro nome
ou seu sobrenome, todos as chamavam de Sra. H, não tive
como enviar flores ou visitar seu túmulo. Enfim, hoje eu sou
quem eu sou e ela fez parte disso. Mas então o cretino voltou e
estragou nosso baile.
Aquilo me atingiu em cheio. Eu não contive o soluço.
Todos os acontecimentos recentes me pegaram de vez. Eu não
podia contar tudo, mas isso ela tinha que saber, eu não
aguentava mais.
— Henri? O que foi, meu bem? — Perguntou
preocupada. — Eu sei que foi muita coisa para assimilar. Mas
Sebastian não vai me fazer nenhum mal, não enquanto eu
estiver com você.
As lágrimas continuaram caindo sem parar.
— Querido, eu estou ficando preocupada. Fale comigo,
por favor. — Ella implorou, segurando meu rosto.
— Ella, você precisa saber de uma coisa.
— O que?
— A Sra. H., H de Hayes. Anne Hayes. Minha mãe. —
Sussurrei em meio às lágrimas.
O DIA EM QUE TUDO COMEÇOU

— Vai, mãe. Sorria para a foto. — Eu estava com a


minha câmera fotográfica virada para nós, tentando tirar uma
foto minha e dela com a Torre Eiffel atrás. Estávamos em mais
uma das nossas viagens à Paris. A mulher amava essa cidade.
— H, você já tirou todas as fotos possíveis. — Ela riu.
— Mas nenhuma está saindo do jeito que eu quero.
— Talvez se você pedisse ajuda a alguém… — Ela
olhou ao redor. — Excusez-moi madame, pourriez-vous
prendre notre photo?
A garota de olhos azuis afirmou e entreguei minha
câmera. Abracei minha mãe e algumas fotos foram tiradas.
— C’est ici. Les photos étaient super.
— Merci chéri.
— Rosie… — Uma segunda moça a chamou e quando
olhei em sua direção nossos olhos se encontraram por uma
fração de segundos, uma sensação totalmente estranha e
desconhecida nasceu em mim.
— Je dois y aller, mon ami m’appelle. Ce fut un plaisir.
— A garota que tirou a foto se despediu, mas eu nem a escutei
direito. Estava ocupado demais prestando atenção na sua
amiga.
O que diabos eu estava fazendo? Eu tenho namorada.
— Balancei a cabeça e olhei em outra direção, mas era mais
forte que eu, voltei a olhar para ela que sorria para sua amiga.
Linda.
— Seja lá para quem estiver olhando feito um lunático
apaixonado, apenas tire uma foto e vamos embora, querido. —
Mamãe me trouxe de volta a realidade.
— Eu não estou olhando para ninguém.
— Se você diz.
Continuei em silêncio e então fingi tirar fotos de uns
pássaros que passavam, mas não foram eles que roubaram a
cena da fotografia. E sim ela.
Naquela noite mais tarde, nada no mundo conseguiria
me fazer dormir. Tudo estava uma bagunça. Por que aquela
garota não saía dos meus pensamentos?
Rolei algumas vezes na cama do meu quarto de hotel e
me levantei frustrado, indo até o banheiro.
— O que você pensa que está fazendo, porra? Você tem
namorada. Pare de pensar em outra garota. — Gritei para o
meu reflexo no espelho.
Eu realmente não conseguia entender o que havia
acontecido ali, quando nosso olhar se encontrou. Quem era
ela? Qual o seu nome? Eu não tinha como saber. E nem
deveria…
Lavei meu rosto com água gelada e voltei para a cama.
Mas a câmera em cima da mesinha me chamou atenção.
Passei alguns minutos encarando o aparelho sem saber
se olhava ou não. Sou fraco.
Peguei a câmera e me deitei. Comecei a passar as fotos
até achar a que ela estava. Perdi a noção de quanto tempo
fiquei ali, deitado, encarando seu rosto. Gemi frustrado e
peguei meu celular, olhando para o bloqueio de tela. Uma foto
minha e de Melanie. Pelo menos serviu como um banho de
água fria.
Até eu pegar no sono e acordar duro como o inferno
após sonhar com a garota desconhecida.
Eu só não sabia que esses sonhos durariam tanto tempo.

ANOS DEPOIS

Quantas pedras eu joguei na cruz? Quantos pecados eu


cometi? O que fez Deus se revoltar contra mim? Ele realmente
existe? Eu sou uma pessoa tão ruim assim?
Eu venho fazendo essas perguntas há algum tempo e
ainda não obtive respostas. Minha vida estava desmoronando
bem na minha frente e eu não podia fazer nada.
Segurando a carta na minha mão, me sentei na cama
ainda desacreditado e reli o final.
Eu não posso e não quero estar presa a um
relacionamento onde não sou prioridade. Eu sei que essa
coisa toda de câncer é horrível e que tudo caiu sobre seus
ombros, eu sei que há uma possibilidade de você ter, eu sei
que ela é sua mãe, mas eu sou sua namorada e eu preciso te
dizer algumas verdades. Eu não acho que ela irá durar muito,
espero que você não se arrependa do tempo e de tudo que
perdeu. E espero que me entenda. Eu não posso lidar com
isso. Com sua mãe, com você e a possibilidade… Eu não
quero passar pelo que você está passando se realmente a
possibilidade se confirmar. Isso é um adeus. Estou terminando
tudo.
Melanie
Respirei fundo e esperei as lágrimas virem, mas elas não
o fizeram. Acho que todo o meu estoque já havia esgotado.
Minha namorada acabou de terminar comigo por uma
maldita carta?
Eu sabia quem Melanie era, eu sabia mais que ninguém
que isso poderia acontecer a qualquer momento, ela não estava
contente com a situação e não escondia isso de ninguém.
Minha mãe sempre me alertou, desde o primeiro instante em
que viu ela. Mamãe sabia das coisas, era como um dom, eu
apenas deveria ter escutado mais ela ao longo dos anos.
Nosso relacionamento não estava bem há muito tempo e
nós dois sabíamos disso. Melanie e eu éramos completos
opostos, sua personalidade era forte, digo isso para não chamá-
la de horrível. Mas fazíamos dar certo, pelo menos eu fazia.
Eu não vou dizer que não a amava porque por um
momento eu a amei, eu acho. Começamos a namorar muito
cedo, mas ao passar do tempo o carinho constante havia
desaparecido, a coisa foi esfriando e acho que apenas
aceitamos a situação. Como sempre, estive enganado.
Mas as suas palavras… Suas palavras me derrubaram.
Ela sabia de todas as minhas fraquezas e usou-as para me
atingir. Minha mãe, como ela ousa falar assim da minha mãe?
O ódio me atingiu em cheio, me fazendo amassar a carta
e jogá-la em algum canto do quarto escuro.
Porra de dia ruim. Como se não bastasse os outros.
Como se não bastasse meu pai, agora Melanie…
“Eu não acho que ela irá durar muito, espero que você
não se arrependa do tempo e de tudo que perdeu.”
Ela não vai morrer, porra. Ela é forte. Ela não pode me
deixar também.
Então elas chegaram, as malditas lágrimas que eu achava
que não existiam mais, estavam de volta.
Eu precisava passar na empresa antes de voltar para o
hospital. E eu precisava melhorar meu humor de merda antes
de voltar para minha mãe. Nada melhor que trabalhar para
ocupar minha mente.
Enxugando as lágrimas, saí de casa e entrei no carro,
indo para a empresa.
Eu podia sentir os olhares em mim, eu podia ouvir os
sussurros. Cumprimentei baixo todos os funcionários e me
tranquei na minha sala.
Nas próximas horas mantive minha mente no trabalho,
fiz análises, assinei documentos, autorizei e descartei novas
negociações, conversei com investidores. Quando finalizei
tudo que tinha que fazer, o sol já havia sumido, dando lugar a
escuridão da noite. Nem percebi que estava chovendo até
escutar o som do trovão.
Ótimo.
Corri até meu carro assim que saí do prédio, por sorte
não me molhei tanto. Mas como se trata da minha vida, o azar
foi embora assim que girei a chave e o carro não ligou.
Merda.
Mais algumas tentativas e nada.
— Oh, agora isso? Obrigado, Deus. — Ri irônico.
Não havia jeito de tentar resolver qualquer que fosse o
problema do carro nessa chuva. Peguei meu celular para pedir
um táxi e não me surpreendi ao vê-lo sem bateria.
— Só pode estar de brincadeira com a porra da minha
cara.
Esmurrei o volante para liberar um pouco da minha
raiva e saí do carro batendo a porta com força.
A água da chuva caía sobre mim e dificultava minha
visão. Pensei em voltar para a empresa e ligar para a empresa
de táxis de lá, mas não precisei fazer isso quando um
aproximou-se de mim. Dei com a mão e esperei o carro parar
ao meu lado.
Estava prestes a entrar quando algo me impediu.
Algo não, alguém.
Uma moça simplesmente agarrou meus ombros e
implorou por ajuda.
— Me ajuda, não deixe ele chegar até mim, por favor.
Eu te imploro.
Assustado pela aparição repentina, olhei para ela em
choque. Mas meu corpo acalmou quando prestei atenção na
bagunça quente que estava na minha frente. O cabelo preto e
longo, molhado e grudado em seu rosto, suas roupas
encharcadas. Suas bochechas e seu nariz rosados por conta do
frio.
Era ela.
A porra da garota dos meus sonhos.
Tudo mudou quando olhei em seus olhos.
Seus olhos… A dor, o medo, o desespero.
Eu me vi em seus olhos, eu senti toda a sua dor e por um
instante eu parei de pensar em mim e na minha vida.
Naquele momento, tudo que importava era ela.
Meu corpo estava congelado no lugar, mas meu coração
pela primeira vez em anos voltou a bater forte igual um
tambor.
Eu queria protegê-la de qualquer coisa que estivesse
fugindo. E foi o que eu fiz.
— Certo, está tudo bem agora. Consegue me ouvir? —
Ela assentiu, seu corpo tremia, as lágrimas não cessavam,
creio que ela não estava enxergando nada pela quantidade de
água que saía dos seus olhos. — Respire fundo, ok? Entre no
táxi. — Ajudei-a a entrar no táxi e a colocar o sinto. — Pronto.
Pode me dizer seu endereço? Preciso passá-lo para o
motorista.
Ela respondeu baixo.
Fechei a porta e fui até o motorista, dando-lhe o seu
endereço.
— Certifique-se que ela chegará em casa bem, ok?
Ele assentiu e paguei a corrida, deixando uma boa
gorjeta.
Olhei para ela uma última vez antes do carro partir. Ela
estava encolhida, com medo. Meu coração se partiu ainda
mais.
O motorista arrancou rápido com o carro, me deixando
para trás na chuva, com mais uma dor para carregar no peito.
Mas algo havia despertado em mim. Algo vindo dela.
Fiquei ali parado, perdido em pensamentos, até que um
cara surgiu da mesma direção em que a garota vinha.
— Para onde ela foi, cara? — Ele perguntou ofegante,
colocando sua mão em meu ombro, sua porra de mão tatuada.
“Não deixe ele chegar até mim.” Sua voz desesperada
ecoou em minha cabeça. Ela estava fugindo desse cretino.
— Eu não faço a mínima ideia do que você está falando,
amigo. — Usei todo o restante de força que havia no meu
corpo para não quebrar a cara dele bem ali.
— Como assim? Você não viu nenhuma garota correndo
por aqui? — Ele estava alto, isso era nítido.
— Não mesmo. — Continuei sério. — Desculpa a
pergunta, mas do que ela está correndo?
Ou de quem, seu desgraçado?
— A Ella é minha namorada, cara. Ela sofre de umas
paradas da cabeça, tivemos uma briga boba e ela surtou, você
sabe como as mulheres são né? Loucas. — Ele riu, me
enjoando ainda mais.
Apertei meus punhos e jurei que podia sentir minhas
unhas entrando na minha pele pela força que eu estava usando.
— Certeza que não viu nada suspeito? — Insistiu.
— Não, cara. Sinto muito.
— Merda! Ok, tenha uma ótima noite, amigo.
Assenti e esperei ele virar a esquina para conseguir
soltar a respiração.
O que acabou de acontecer aqui?
Caminhei lentamente para a empresa e liguei para a
companhia de táxi. Enquanto aguardava o meu chegar, liguei
também para o seguro do meu carro. Eles viriam rebocá-lo
pela manhã.
— Mas o que aconteceu com você? — Mamãe
perguntou assim que entrei no quarto.
— Longa história. — Resmunguei.
— Eu não vou a lugar algum e adoro histórias longas.
Olhei sério para ela e ela riu.
— Vá se secar, você vai pegar um resfriado.
— Eu vou ficar bem.
— Henri… — Ameaçou.
— Estou indo. — Cedi.
Fui até o pequeno banheiro que ficava no quarto, me
sequei com uma toalha e vesti uma roupa reserva que mamãe
sempre insistiu que eu deixasse. Quando retornei para o
quarto, minha mãe me lançou aquele olhar.
— O que foi? — Perguntei.
— Venha aqui. — Respondeu, batendo a mão ao seu
lado da cama.
Fui até ela e me deitei do seu lado.
— Pode começar a falar, sua mente está gritando e está
me deixando louca. — Não tinha nada no mundo que eu
pudesse esconder dela, a mulher sempre sabia de tudo. Era um
dom.
— Melanie terminou comigo… — Comecei.
— Ai, graças a Deus. Eu sabia.
— Mamãe. — Repreendi.
— O que? Você sabe que nunca gostei dela, ela nunca
mereceu você. Ela ao menos chorou?
— Bom, isso eu não sei dizer, ela terminou comigo por
uma carta.
— Uma carta? — Assenti. — Ela terminou com o meu
filho por uma maldita carta?
— Por favor, não se preocupe com isso, eu estou bem.
— Não minta para mim, Henri. Você saiu de dentro de
mim, sou sua mãe e sei o que você está sentindo. Meu coração
dói quando o seu dói.
— Meu coração não está doendo por ela ter terminado
comigo.
— Por que ele dói então?
— Pela forma covarde que ela expôs seu desprezo pela
sua doença.
— Querido, as pessoas reagem de formas distintas a
tudo. Minha doença em si não é algo fácil de digerir, são
enormes responsabilidades. Não se sinta mal pelo julgamento
dela.
— Não consigo. — Respirei fundo, sentindo as lágrimas
chegarem novamente.
— Mas vai. — Me abraçou apertado. — Eu te criei bem
o suficiente para isso. — Bocejou. — Olhe só pra você. Meu
lindo e forte rapaz. Eu amo você, H.
— Eu também amo você, mãe. Muito. — Apertei ela
ainda mais forte, enquanto ela adormecia em meus braços, o
medo me tomando cada vez mais.
Medo.
Passei as próximas horas pensando na garota. Me
perguntei como estaria agora. Se ela chegou bem em casa, se
estava protegida, se aquele babaca a encontrou.
Eram tantas perguntas, mas nenhuma era respondida.
Inclusive, a principal: Como ela veio parar aqui?
Todo esse tempo e não esqueci seu rosto. Vivi em um
inferno chamado relacionamento com alguém miserável,
enquanto quem eu queria, não poderia ter. E agora a garota que
nunca deixou meus pensamentos está aqui.
Fiquei inquieto na cama, o que fez dona Anne acordar e
me xinguei mentalmente.
— Me desculpa por ter te acordado. — Fui rápido em
falar.
— Não foi você que me acordou, filho. Eu acabei de ter
um sonho.
Sonho: visão.
Mamãe tinha o hábito de sonhar com coisas que hora ou
outra acabavam realmente acontecendo. Eram avisos. Ela
sonhou com a volta do câncer, com o meu pai indo embora,
sonhou com Melanie partindo e o mais estranho de tudo, ela
sonhou com a garota antes mesmo de contar para ela como me
sentia.
Antes eu insistia em não acreditar. Mas, depois de tudo,
nunca mais duvidei de uma palavra que saía da boca da minha
mãe.
Me endireitei e prestei atenção no que ela iria dizer.
— Henri, você a encontrou?
A pergunta me pegou de surpresa.
— C-como assim? — Gaguejei.
— Você a encontrou novamente, não foi? A garota.
— Sim, eu a encontrei quando estava vindo para cá.
— Ainda não está na hora. Mas escute, em meio a toda a
tempestade e escuridão, vocês serão a luz um do outro. Muitas
dúvidas irão te perseguir, você a encontrará novamente. Outra
vez no momento errado. Mas o destino se encarregará de
colocá-la na sua vida definitivamente quando for a hora certa.
Ame-a com todo o seu amor, filho.
E ali, na cama daquele hospital, fiz uma promessa à
minha mãe.
O mundo era fodidamente pequeno. A prova estava bem
aqui na minha frente.
Como a Sra. H e Anne Hayes, mãe do Henri, eram a
mesma pessoa?
Minha mente estava prestes a colapsar. Várias
lembranças minhas com a doce mulher vieram para mim.
Todas as nossas conversas, nossa cumplicidade…
— Oh meu Deus, Henri… — Falei quando finalmente a
realidade me atingiu dolorosamente.
Meus braços envolveram seu corpo e desabei a chorar.
Era tudo o que eu queria ter feito desde que recebi a notícia de
sua morte e agora eu poderia finalmente fazer. Meu Henri era
o pequeno H da Sra. H.
Mais lágrimas.
— Eu sinto muito. — Solucei. — Eu sinto muito por
você ter passado por tudo isso sozinho. Se tivéssemos nos
conhecido antes… Meu Deus… Você sempre esteve ali… Tão
perto…
— Ei, meu amor. Calma. Respire. — Suas mãos
seguravam meu rosto. — Está tudo bem agora, ok? Tudo no
tempo certo. Apenas não era hora ainda, mas aqui está você e
tenho certeza que onde ela estiver, estará feliz por nós. É só
isso que eu preciso nesse momento. Você em meus braços e
segura. Não vou deixar que nada de ruim te aconteça. Eu não
posso.
Respirei fundo, tentando controlar os tremores que
vagavam pelo meu corpo.
— Eu só queria estar lá para você. — Continuei
chorando. A dor dele era a minha agora. Se o seu coração doía,
o meu também doía. E imaginar todos os anos de sofrimento…
Eu queria gritar e chorar até tudo ficar bem.
— Eu sei disso, linda. Chore, lave sua alma. Deus sabe o
quanto chorar me fez bem. Coloque tudo pra fora. — Henri me
abraçou ainda mais forte e chorou baixo comigo.
Minutos se passaram e continuamos na mesma posição,
acolhendo o sofrimento um do outro. Me soltei do seu aperto
para olhar em seus olhos novamente.
— Eu quero visitar ela. Seu túmulo. Você acha que pode
me levar lá depois?
— Mas é claro que sim. Ela iria amar. Iremos no fim de
semana, se quiser. Espero que não se importe em passar
algumas horas dentro de um carro.
— De forma alguma. No fim de semana está ótimo.
Ele assentiu.
— Algo sobre isso me conforta. — Assumi.
— Sim?
— Sim. Eu sempre senti que te conhecia de algum lugar
e que de alguma maneira estaríamos conectados.
— É. Concordo com você. — Respondeu quebrando
nosso olhar. — Tem mais coisas que quero que saiba, Ella.
Mas não posso contar, pelo menos não agora.
Assenti.
— Está tudo bem. Acho que já deu de carga emocional
por hoje.
— Você não está curiosa?
— Estou morrendo de curiosidade. — Revelei, rindo
fraco. — Mas confio em você.
— Eu amo você, Ella. — Declarou sério e confiante.
Seus olhos eram o maior poço de paixão e amor.
— Eu amo você, Henri. — Beijei seus lábios. — Que
confusão nos metemos.
— Sim. — Ele riu. — Precisamos notificar ao Guinness
Book, batemos o recorde de casal mais fodido.
— Lembre-me de fazer isso amanhã. — Ri com ele.
Meu celular tocou nos interrompendo.
Rosie.
Ao que posso me lembrar da situação que minha amiga
se encontrava na festa, aposto que coisa boa não era.
Olhei desconfiada para Henri e atendi a chamada.
— Rosie?
— Ella. — Gritou. — Que diabos eu fiz da minha vida?
Puta merda.
Afastei o aparelho pelo barulho.
— Calma, Rosie. Do que você está falando?
— Calma? Calma, Ella? Me diga como ficar calma
quando acabo de acordar em um quarto que não é o meu e com
uma aliança no dedo?
Arregalei os olhos e engoli a imensa vontade de rir.
— O que você disse?
Henri me olhou curioso, surrando “O que aconteceu?”,
aproveitei e coloquei no viva voz.
— Rosie você está no viva voz, Henri está aqui comigo.
— Ótimo, é bom ele saber que a benção de padrinho
dele se tornou realidade.
— O que? — Ele gargalhou, fazendo meu coração se
encher novamente. Eu amava esse som. — Onde está Niall?
— Não sei. Acabei de acordar, estou sozinha no quarto.
— Escutamos algo como ela se levantando e então um grito.
— Merda, Cleópatra.
— Rosie? Está tudo bem? — Perguntei.
— Sim. Não. Não sei. Niall estava desmaiado no chão.
Tropecei nele ao me levantar para ir ao banheiro. Você está
bem, pirata sexy? — Gargalhamos ainda mais alto. — Vocês
podem levar essa situação a sério? Estamos com um grave
problema aqui.
— Chegamos aí em instantes. — Henri avisou e
desligou a chamada.
— Ei, como assim “chegamos aí em instantes”? Eu não
tenho roupa aqui.
— Passamos no seu apartamento para você trocar de
roupa e aproveita pra fazer uma mala pequena para passar
mais uma noite aqui. O inferno que eu vou deixar você dormir
longe de mim hoje. Amanhã iremos juntos para a empresa.
— Gosto de como soa seu plano.
— Ainda bem, porque senão, teria que te convencer. —
Piscou, levantando-se do sofá, me levando junto em seu colo.

Após passarmos em meu apartamento, Henri dirigiu até


o apartamento de Niall, onde encontramos uma grande
bagunça. Rosie era o completo caos. Eu já havia visto minha
amiga em situações difíceis, mas essa? Foi a primeira vez.
Incrivelmente os dois não se recordavam de nada que
envolvesse as alianças em seus dedos. Não havia o que fazer, a
não ser esperar o dia seguinte para conversar com um
advogado. Toda a situação era hilária. Henri e eu acabamos
expulsos do apartamento após o jantar por não levarmos nada
a sério e rir o tempo todo.
Ah dá um tempo, eu precisava rir da desgraça de
alguém além da minha.
Agora em sua casa, Henri me abraçava por trás enquanto
eu escovava os dentes no banheiro do seu quarto. Foi um
longo e intenso dia e amanhã iremos nos levantar cedo, então
era normal estarmos no auge do cansaço. Terminei a
escovação e ele começou a sua. Fui direto me acomodar na
grande cama e segundos depois senti seu peso ao deitar-se.
Seus braços envolveram minha cintura, colando nossos corpos.
Henri assoprou em meu pescoço, enviando ondas de arrepios
pelo meu corpo. Seu hálito estava frio, fazendo-me afastar.
— Venha aqui. — Protestou, me puxando de volta.
— Assopre em meu pescoço de novo e vai dormir no
sofá.
— Jesus, mulher. Você está mesmo ameaçando me
expulsar da minha própria cama em sua segunda noite aqui?
— Sim, eu estou.
— Olha só onde eu me meti. — Resmungou. — Ai! —
Gritou após receber um beliscão meu. — Eu estava brincando.
Eu amo você e estar contigo é a melhor coisa que me
aconteceu.
— Sei. — Olhei séria e me virei para o lado oposto.
Tentei esconder meu sorriso quando ele nos juntou novamente.
— Olhe para mim, Ma belle.
— Estou dormindo.
Sua risada gostosa preencheu o quarto.
Por mais simples que fosse, eu sentia falta dessas
brincadeiras. Eram os mínimos detalhes que faziam toda a
diferença.
Henri agiu tão rápido que quando vi, ele já estava em
cima de mim.
— Não vai olhar para mim não? — Balancei a cabeça,
negando. — Tá bom então. — Gritei quando o safado
começou a me fazer cócegas.
— Não, não, não… Isso é golpe baixo. Por favor, Henri.
— Tentei dizer entre as risadas.
— Vai olhar para mim?
— Tudo bem, tudo bem. — Me rendi. — Eu olho para
você.
Respirei fundo, tentando me acalmar e olhei em seus
olhos.
— Agora diga que me ama.
Gargalhei.
— Diga.
— Eu amo você, Henri.
— Não ouvi direito.
— Eu amo você, idiota. — Elevei a voz.
— Você me chamou de idiota? Frase anulada. Vamos,
tente novamente.
— Argh! Você é um chato. — Sorri. — Eu amo você,
querido.
— Agora sim. — Respondeu, sorrindo e me beijou.
Henri saiu de cima de mim, voltando a me aconchegar
em seu peito.
— Boa noite, meu amor. — Falou baixo, beijando meus
cabelos.
— Boa noite, Henri.
Fui acordada com vários beijos sendo distribuídos pelo
meu rosto e pescoço.
— Eu vou ficar mal-acostumada se você continuar
assim.
— Eu não irei reclamar. Adoraria te acordar assim todos
os dias.
Meu coração acelerou e me contorci na cama ao sentir
sua ereção matinal.
— Hora do banho, tive um puta sonho quente fazendo
amor com você no chuveiro. Não acho que meu pau vá ficar
calmo até realizá-lo. — Revelou, me pegando no colo e me
levando para o banheiro.
— Você é louco. — Ri em excitação.
— Por você.
Meu coração ganhou mais um pouco de vida.
Após o sexo ardente no chuveiro, eu me encontrava
agora com todos os meus músculos relaxados e pronta para
mais um dia de trabalho.
— Fecha pra mim, querido? — Pedi quando Henri saiu
do closet. A visão dele com a camisa social aberta e a gravata
solta no pescoço esquentou todo o meu corpo. Duas rodadas
no banheiro e eu ainda queria mais.
— Claro, Ma belle.
Ele veio até mim despreocupadamente enquanto eu o
olhava feroz.
— Por que está me olhando assim? — Perguntou
confuso.
— Assim como?
— Como se quisesse me comer vivo.
— Ah, mas eu quero.
— O que está acontecendo com você, mulher?
— Período da ovulação. É melhor estar preparado. —
Pisquei e seus olhos escureceram.
— Lembre-me de passar na farmácia, desse jeito meu
estoque de camisinhas vai acabar. — Comentou, subindo o
zíper lentamente. Seus dedos gélidos tocaram minha pele
quente e me fizeram gemer. — Se você fizer isso de novo, não
iremos sair desse quarto.
— Tentador.
— Seja uma boa garota não nos atrasando e eu irei te
recompensar na minha mesa. — Sua mão apertou minha
bunda.
— E o que você está fazendo aí parado? Termine de se
vestir. — Falei rapidamente, indo pegar minha bolsa.

Dizer que Henri Hayes levou vinte minutos a menos do


que sua rota normal para chegar ao nosso destino não era
exagero. Confesso que rezei pela minha vida em algum
momento.
Estacionando o carro, ele tirou o cinto de segurança e
virou-se para mim.
— Você me deixou extremamente excitado esta manhã e
fazer amor com você na minha mesa assim que entrarmos, é
minha primeira obrigação.
— Acalme-se, Sr. Ereção ou pensarão que somos dois
coelhos no cio.
— Adoraria fazer várias criaturinhas com você.
A frase me pegou totalmente desprevenida.
Henri quer ter filhos comigo?
Vi quando suas bochechas ganharam um tom
avermelhado. O maldito estava corando mais uma vez. Como
eu amo esse homem.
— Também adoraria ter várias criaturinhas de olhos
verdes com você. — Seu sorriso era insano. — Mas, vamos
esperar pelo menos trinta minutos. Eu irei até você e então vou
receber minha recompensa. — Beijei de leve seus lábios e saí
do carro.
Henri me acompanhou, me abraçando.
— Eu amo você, querida.
Essa frase era tudo que eu desejava ouvir todos os dias.
E ele sempre o fazia.
— Eu amo você.
Um grupo de estagiários juntou-se a nós no elevador e
pude ver quanto Henri era admirado.
— Bom dia, pessoal. — Cumprimentou Henri e eu sorri
ao seu lado para todos.
— Bom dia Sr. Hayes e Srta. Jones. O baile estava
incrível. Parabéns aos dois. — Um deles falou.
— Agradeçam somente a Ella. Minha garota fez tudo.
— Senti meu rosto esquentar.
— Obrigada, mas eu não fiz tudo sozinha. Tive uma boa
equipe. Henri é exagerado. — Eles riram e se despediram ao
chegar no andar que ficariam.
— Eu cuidei de tudo para que ninguém soubesse do
ocorrido e te chateasse com perguntas constrangedoras. —
Confessou assim que ficamos sozinhos.
— E eu não poderia estar mais grata. Obrigada por isso,
meu amor.
— Sempre que precisar, Ma belle. — Respondeu,
beijando minha mão.
Henri fez questão de me acompanhar até a porta da
minha sala. Todos os olhares ainda ficavam em nós dois.
— Estarei contando os malditos minutos para te ter na
minha mesa. — A voz rouca falou no meu ouvido.
— Logo estarei lá. Agora vá.
Ele me deixou, voltando para o elevador, soltando um
beijo no ar antes das portas fecharem. Alguns comentários
fofos voaram na minha direção e sorri boba.
Esse homem ainda vai me matar de amores.
Respirei fundo e entrei na minha sala.
Fiquei intrigada ao ver uma rosa em cima da minha
mesa.
Quem a deixou aqui? Henri era mágico agora? Não nos
desgrudamos desde a noite de sábado.
Fui até a mesa, pegando a rosa e o bilhete preso nela.
Minha visão ficou embaçada assim que o li.
O jogo está apenas começando.
Levei alguns minutos para processar tudo e controlar a
crise que estava por vim. Lembrei de todas as técnicas que o
Dr. Mitchell me ensinou e antes de vim à tona, me libertei.
Joguei a rosa no lixo, pegando o bilhete antes e saí da
minha sala.
Precisava mostrar para Henri.
Entrei às pressas no elevador e subi até a cobertura.
Marina não estava em sua mesa, o que eu agradeci, não estava
em condições de conversar com ela. Caminhei até a sala de
Henri e entrei sem bater como sempre fazia. Mas parei ao ver
que ele estava acompanhado.
— Ella. — Seu olhar estava diferente. Nervoso.
Sua voz fez a pessoa que estava em sua frente virar-se
para olhar na minha direção. Eu nunca a vi, mas não precisei
disso para saber quem ela era.
— Então essa é ela? — O desdém em sua voz me
incomodou. — Francamente.
— Ella, esta é Melanie.
— O que ela está fazendo aqui? — Perguntei, olhando
em seus olhos. Eu estava usando toda a minha força para não
desabar.
— Ela… — Henri iniciou, mas foi interrompido por
Melanie.
— Vim buscar o que é meu.
Após deixar Ella em sua sala, segui para meu escritório
e comecei a contar os malditos trinta minutos para tê-la
comigo novamente.
Tomei consciência de que estávamos cada vez mais
próximos e dependentes um do outro. Conviver com Ella esse
final de semana só aumentou ainda mais o meu amor e a
minha dependência. Se é que é possível.
Se eu estava achando isso errado? Porra nenhuma.
Esperei anos por essa mulher, anos. O desejo de estar
todos os dias com ela sempre esteve em mim. O antigo Henri
nunca acreditou no destino, até ela aparecer. Desde o primeiro
dia em Paris ela dominou meus pensamentos e se tornou dona
dos meus sonhos, até os mais sórdidos.
Eu passava noites em claro após acordar de mais um
sonho e adormecia perto de amanhecer com ela em mente.
Tudo no meu dia a dia a lembrava. Eu jurava que ficaria louco.
Eu a via em outras pessoas.
Lembro-me bem de todos os sinais que Anne me dava.
Minha mãe sempre foi minha melhor amiga. Não havia
segredos entre nós. Óbvio que depois do ocorrido, eu contei
tudo. Contei sobre acreditar finalmente no que dizia sobre ela.
Contei sobre tudo o que eu sentia. Eu nunca tinha visto minha
mãe tão radiante. Finalmente o amor da minha vida havia
aparecido. Demorei um pouco para conseguir assimilar tudo e
entender o que estava acontecendo. Sonho após sonho. Dia
após dia. Ano após ano.
Eu clamava por ela em meus sonhos, a minha garota
linda, proibida temporariamente para mim. Eu só queria
encontrá-la de novo.
Quando mais uma vez a encontrei, no pior momento da
minha vida. Era como se o universo estivesse me dando mais
uma chance, um motivo para lutar, para viver e seguir em
frente. Ella voltou para mim no momento em que tudo
desmoronava, minha linda luz no fim do túnel. Minha razão de
viver.
Não havia mais nada que nos impedisse. — Eu achava.
— Estava enganado.
Naquele momento, alguma esperança foi restaurada.
Saber que teria que esperar por ela algum tempo mais não me
abalou. Eu havia esperado por anos e ela realmente apareceu
na minha vida mais uma vez. Mas saber o estado que ela se
encontrava foi um inferno. Eu pedi a Deus todas as noites que
a protegesse e a trouxesse para mim. E então, quando esse dia
chegasse, eu a amaria com todo o meu amor, até o último dia
da minha vida.
Amar ela era tudo que eu sabia fazer.
— Eu estou tão feliz, mamãe. Obrigado por tudo. Sinto
sua falta. — Agradeci, beijando o pingente do meu colar que
guardava a foto da minha mãe.
O telefone em cima da minha mesa tocou, me tirando
dos pensamentos.
— Hayes.
— Sr. Hayes. Há uma moça aqui que deseja vê-lo sem
hora marcada. Ela diz que é assunto de extrema importância e
não vai sair daqui até conseguir o que quer.
Ótimo. Tudo que eu precisava.
— Ela disse o seu nome? — Perguntei impaciente.
— Melanie Scott.
Congelei.
Quem?
O que diabos Melanie estava fazendo aqui? Depois de
todos esses anos…
Senti meu rosto esquentar de raiva.
— Sr. Hayes? — Marina chamou minha atenção.
Limpei a garganta.
— Diga que estou em reunião e não posso recebê-la.
Mande-a embora e diga que marque um horário da próxima
vez.
— Sr. ela disse que não vai embora. Quer que eu chame
os seguranças?
Merda!
Escândalo era tudo que ela queria. Melanie amava ser o
centro das atenções.
Massageei minhas têmporas e respirei fundo tentando
me acalmar.
— Mande-a entrar.
Segundos depois a mulher entrou na minha sala.
Melanie não havia mudado quase nada desde a última vez que
a tinha visto. Loira, alta e arrogante.
Ela desfilou até minha mesa com um sorriso cínico no
rosto. O qual me enojou.
— Henri! — Soltou alegre. — Quanto tempo.
Cobra!
— O que você está fazendo aqui, Melanie? — Fui rude.
— Isso é jeito de tratar sua namorada de infância? Seu
primeiro amor?
Revirei os olhos.
— Ah, esqueci, você nunca me amou de verdade, não é?
— Eu não estou com paciência para lidar com seus
joguinhos, Melanie. Vá direto ao ponto. O que você quer?
Seu sorriso caiu e uma expressão diabólica surgiu.
— Fiquei sabendo que finalmente você encontrou a tal
garota. Quis ver de perto.
— E o que você tem a ver com isso?
— Eu precisava ver a coisa pela qual fui trocada.
— Melanie, você quem terminou comigo, isso não é ser
trocada.
— Você nunca me amou, Henri. Ela sempre esteve entre
nós, uma desconhecida tomou o meu lugar.
— Você nunca amou ninguém além de si mesma. Por
que cobrar isso dos outros?
Sua boca se abriu em choque. Mais falsa que uma nota
de três reais.
— Como ousa dizer isso?
Esfreguei meu rosto em busca de algum alívio em todo o
estresse.
— Sinceramente, Melanie. Se você veio aqui tentar me
infernizar, sinto muito te informar, mas você perdeu seu
tempo. Estou atolado no trabalho e não tenho a mínima
vontade de olhar para a sua cara. Todos esses anos sem uma
palavra desde a maldita carta. O que você estava pensando
quando decidiu vir aqui?
Vi quando engoliu o seu “choro”.
— Eu estou arrependida, ok?
Piada. Só podia ser uma piada.
Gargalhei alto.
— Do que você está rindo? — Seu rosto demonstrou
ofensa.
— Não sabia que tinha mudado de profissão.
Comediante realmente é a sua praia.
— Eu quero você de volta, Henri. — Soltou.
— O que? — Perguntei incrédulo.
— É isso que você ouviu. Eu quero você de volta e vou
fazer de tudo para conseguir o que é meu por direito.
— Seu por direito? Você está ficando louca? Talvez eu
devesse ligar para o psiquiatra. Você com certeza não está bem
do juízo.
— Eu estou completamente bem. Você é meu, Henri.
Sempre foi. Não vou permitir que uma qualquer o tire de mim.
Eu também não me importo mais sobre as possibilidades, você
sabe… do câncer.
— Pode parar. Você termina comigo por uma carta,
some por anos e volta aqui como se nada tivesse acontecido,
me querendo de volta?
— Sim. — Respondeu.
— Saia. — Ordenei.
Mais um minuto com aquela mulher e eu surtaria.
— O que?
— Você ouviu o que eu falei. Saia, Melanie. Não me
faça chamar os seguranças.
— Não vou sair. — Disse, se levantando e chegando
mais perto da minha mesa. — Cadê ela? Eu sei que ela
trabalha aqui. É nessa mesa que você a fode?
Fechei minhas mãos em punhos, tentando controlar a
raiva.
Sorri para ela.
— É exatamente nessa mesa que eu faço amor com ela.
E estamos prestes a fazer isso. Então, se você me der licença, a
saída é por ali.
Vi seu rosto se contorcer e ela voltar a se sentar.
— Como eu disse a sua secretária. Não vou sair daqui
até conseguir o que eu quero.
— Sem chance. Agora saia.
— O que ela tem que eu não tenho? Olhe só para mim.
— Suas mãos foram até sua camiseta e começaram a abrir os
botões, deixando seu sutiã à mostra. — Costumávamos
funcionar. Você lembra, Henri.
Continuei olhando em seus olhos.
— Se você não tem o mínimo de respeito pelas pessoas
e por você mesma, eu tenho. Agora vista-se e saia da minha
sala.
Estava prestes a colocá-la pra fora eu mesmo quando a
porta se abriu.
Ella.
Meu coração acelerou. O pior estava por vir. Ella e
Melanie no mesmo lugar.
— Ella… — Minha voz saiu mais rouca que o normal.
— Então essa é ela? — Melanie a olhou dos pés a
cabeça, lançando um olhar de desgosto que me fez querer
esconder Ella dela. — Francamente.
— Ella, esta é Melanie. — Avisei. Eu precisava que Ella
fosse minha luz nessa situação de novo.
— O que ela está fazendo aqui? — Seus olhos estavam
nos meus e eu podia ver a dor neles.
Calma, meu amor. Se mantenha forte. Não desabe na
frente dela. Vamos lidar com isso juntos. Não a deixe entrar.
Rezei a Deus para que ela entendesse meu olhar.
— Ela… — Tentei dizer alguma coisa, mas Melanie me
interrompeu.
— Vim buscar o que é meu.
Fechei meus olhos mais uma vez. Que manhã infernal.
— Buscar o que é seu. Bem, o que tecnicamente você
denomina seu? — A confiança estava ali. Fiquei aliviado.
— Eu sei que vocês podem estar apaixonados e toda
essa baboseira. Mas o Henri pertence a mim. Sempre
pertenceu. E não vai ser você que vai mudar isso.
— Bom, eu sinto muito por você. Mas já mudei.
— Quem você pensa que é?
— Ella Jones, eu diria que é um prazer conhecê-la, mas
tudo que sinto é nojo e repulsa. Fora outros sentimentos que
tenho certeza que não te agradaria ouvir.
Vi a guarda de Melanie baixar.
— Você é bem cheia de si né? Confiante. Cuidado para
não cair do salto.
— Não vou cair. Aprendi a andar com eles desde que
nasci. E se eu cair, tudo bem. Tenho quem me segure. —
Olhou para mim. — E mesmo que não tivesse, eu sou
autossuficiente, posso eu mesma me levantar. Ao contrário de
você.
— O que você quer dizer com isso?
— Eu sei tudo o que você fez, Melanie. Henri me
contou. E realmente não entendo o que você está fazendo aqui
hoje. Não preciso nem que se explique. Só peço educadamente
que saia e não volte. Não há espaço para você aqui.
— Ele te contou sobre a carta? O que mais ele te disse?
— Seu tom de voz era pura ameaça. Fiquei alerta.
— Melanie… — Repreendi.
— O que, querido? Se ela sabe da carta, ela sabe da
possibilidade…
Me assustei quando vi Ella caminhar em sua direção. A
mão direita entrando em contato com o rosto de Melanie.
Melanie tentou fazer o mesmo, mas Ella foi mais rápida
segurando seu punho com força.
— Me solta, sua louca. Você está me machucando.
— Isso não é nada comparado ao que você causou a ele.
Eu pedi com educação para sair. Não saiu por bem, vai sair por
mal.
— Você é uma tola, Ella. Ele não te contou né?
Ella se manteve firme no aperto e não olhou para
Melanie.
— Você não contou, Henri? Vai mesmo deixá-la sem
saber do fardo que a espera?
— Cala a boca, Melanie. — Me esforcei ao gritar, o que
me fez tossir.
De novo não.
Vi os olhos de Melanie brilharem.
— Olha só. Ainda está aí.
— Do que ela está falando? — Ella perguntou.
— Não dê ouvidos a ela, Ma belle. Conversamos sobre
isso outra hora.
— Sempre adiando. — Provocou. — Se eu fosse você,
Ella, fazia como eu, pulava fora antes do barco afundar e te
levar junto.
Ella a puxou até o elevador. Seu aperto era firme. Fui
atrás com medo de algo mais grave acontecer.
— Ma belle. — A chamei calmo. — Não se rebaixe a
ela.
— Não estou me rebaixando. Estou fazendo o que me
deu vontade desde o dia que fiquei sabendo da maldita carta.
— Eu vou processar você. — Melanie rosnou.
— Tenta.
O tumulto de funcionários se formou. Ella a levou até a
saída, parando na porta de entrada. E eu continuei perdido,
tentando passar pela multidão.
— Ella.
Seus olhos encontraram os meus, pedindo permissão.
Eu nunca apoiei a violência. E Deus me perdoe por isso,
mas eu cedi. Balancei a cabeça, dando-lhe permissão.
— Olhe bem para mim. — Vociferou. — Esta foi a
primeira e última vez que você entrou aqui. Esta também é a
primeira vez que estou fazendo isso. Não me sinto baixa igual
a você, me sinto vingando uma dor que agora também é
minha. Por Anne e por Henri.
Ella a empurrou para fora. Melanie se desequilibrou e
caiu sentada na rua.
— Isso não vai ficar assim.
— Não vai mesmo. Você está sujando a frente da nossa
empresa. Uma empresa de honra. Volte para o esgoto ou o lixo
de onde você saiu.
Ella virou as costas para Melanie e entrou na empresa,
passando por todos que olhavam confusos.
— Tudo bem, pessoal. Acabou o show. Todos de volta
ao trabalho. — Falei em bom tom e todos correram para seus
afazeres.
Segui Ella até minha sala e a encontrei chorando.
— Ei, ei. — Corri em sua direção, envolvendo-a em
meus braços. — Calma, acabou.
— Desculpa. — Soluçou.
— Não se desculpe, querida. Eu faria o mesmo se
pudesse.
— Não, Henri. O que eu fiz foi horrível. Eu não sei o
que aconteceu comigo. A raiva me dominou quando a vi aqui.
Eu sinto muito por dar esse show na frente de todo mundo.
— Querida, não se sinta culpada por acolher minha dor e
a da minha mãe, não se sinta culpada por expulsar Melanie
daqui. Deus sabe o quanto eu tentei ser civilizado desde o
momento em que ela colocou os pés na minha sala. Não vou te
dizer que apoio a violência, porque não sou assim. Mas você
fez o que foi preciso.
— O que ela quis dizer? Sobre você não ter me contado
algo. Sobre sempre adiar.
Balancei a cabeça e fechei meus olhos.
Merda, Melanie.
— Não posso falar sobre isso agora.
— Por que não? Você não confia em mim? —
Perguntou, se afastando rapidamente.
— Não é isso, meu amor. Eu confio minha vida a você.
Mas preciso ter a certeza de algo antes. Logo mais terei, não se
preocupe. Eu irei te contar. Preciso que confie em mim, Ella.
Tentei olhar em seus olhos, mas ela desviou.
— Ei. — Puxei seu rosto para mim. — Ma belle, olhe
para mim.
— Preciso ir. Tenho muito trabalho a fazer. — Sua voz
era baixa quando se afastou.
— Ella… — Chamei.
— Agora não, Henri.
Ela saiu, fechando a porta devagar, me deixando sozinho
naquela sala.
Puxei meus cabelos frustrado e gritei.
Deus, por que nada na minha vida é simples? Por que
eu não posso viver como uma pessoa normal? Um pouco de
paz é pedir muito?
Tossi novamente, agora mais forte, sentindo os respingos
de sangue mais uma vez.
Não me desesperei como sempre faço. Apenas me sentei
no sofá e fechei meus olhos. Estava cansado demais.
Meu celular tocou no meu bolso e eu o peguei.
— Jacob. — Atendi nervoso.
— Os resultados saíram.
Resolvi dar espaço a Ella durante o resto da manhã.
Estávamos os dois de cabeça quente e tentar uma conversa só
iria piorar as coisas.
Me afundei no trabalho para não ter que pensar nas mil
coisas que tinham acontecido. Mas ao chegar no horário de
almoço, lá estava eu em sua porta. Infelizmente ela se
encontrava trancada e a luz desligada. Ela estava realmente me
evitando.
Bati minha cabeça na porta, bufando em frustração.
Estávamos tão bem. Tão bem, porra.
— Sr. Hayes, está tudo bem? — Marina surgiu no
corredor.
Merda. Tudo que eu precisava agora também era a fonte
master de fofoca.
— Sim, está. — Me endireitei e a olhei.
— Tem certeza? O senhor não parece…
— Tenho. Tudo está perfeitamente bem. — Falei grosso
e a culpa me atingiu. — Me desculpe, apenas estou com a
cabeça cheia demais.
— Compreendo. Gostaria de alguma coisa?
— Não, obrigado.
Quando ela assentiu e se virou para ir embora, a chamei.
— Você sabe para onde a Ella foi?
— Eu a vi deixar a empresa há alguns minutos com a
mãe.
Respirei aliviado. Ela estava em boas mãos. Nada
melhor que conselhos de mãe quando se está confuso. Desejei
ter a minha aqui nesse momento.
— Certo. Tudo bem. Obrigado e desculpe mais uma vez,
Marina. Tenha uma boa tarde.
Voltei para a minha sala após decidir mentalmente que
pediria algo para comer. Não estava me sentindo bem para
enfrentar uma multidão nas ruas e nos restaurantes.
Afundei em minha cadeira e fechei meus olhos. Eu
precisava resolver isso.
O plano era contar para Ella assim que os resultados
saíssem. Iríamos abrir juntos após eu explicar a situação que
estou envolvido e daria a ela a escolha de decidir continuar ou
não, dependendo desse resultado. Se ela aceitasse, ótimo, eu
seria o homem mais feliz do mundo. Se ela negasse… Bem, eu
teria que viver minha vida infeliz e a amando de longe.
Mas, mais uma vez, meus planos foram destruídos.
Pense, pense, Henri.
Massageei minhas têmporas e apertei meu nariz.
O que Annie me aconselharia?
Me levantei com o pensamento, pegando meu blazer e
correndo até a porta. Eu já sabia o que fazer.

— Henri, Henri, Henri… O que eu faço com você? — A


careta enrugada me fez querer rir. Já era possível ver as falhas
em seu cabelo loiro.
— Você está falando igual a minha mãe.
— Aprendi com ela. Alguém precisa colocar um pouco
de juízo na sua cabeça. Tia Anne me deu esse dever.
— Ah, tá bom. Uma criança de 7 anos. — Desdenhei.
— A criança de 7 anos a quem você sempre recorre
quando faz merda.
A danadinha me pegou.
— Você vai me ajudar ou não?
— O que eu ganho com isso?

— Você tem certeza?


Jacob e eu estávamos sentados na lanchonete do
hospital, a luz do dia estava indo embora, a noite caía
lentamente enquanto bebíamos nossos cafés. Resolvi visitar
minha fonte de lucidez na esperança de encontrar a solução
para os meus problemas. Como sempre, uma garotinha de sete
anos me deu uma lição de vida.
— Sim. Eu preciso fazer desse jeito. Não quero saber
agora. Preciso dela comigo.
— Henri?
— Sim?
— Você a ama?
Soltei uma risada triste.
— Amá-la é tudo o que eu sei fazer, Jacob. E faço isso a
mais tempo do que você possa imaginar.
Ele sorriu sincero.
— Quer conversar sobre isso?
— Tem certeza que quer escutar uma longa e triste
história?
— Meu plantão encerrou a algumas horas atrás. Annie
está bem. Estou livre.
Assenti.
— Vamos até minha casa. Você está precisando de uma
dose dupla de whisky, garoto.
Na casa de Jacob, passei algum tempo notando
diferenças nos cômodos. Já estive aqui inúmeras vezes. A casa
costumava ser escura e solitária desde que sua falecida esposa
partiu alguns anos atrás. Eu temia que minha vida estivesse
destinada a isso. A solidão. Por mais que eu adorasse minha
solitude, agora que tenho Ella, estar sozinho ou me imaginar
assim, me assusta pra caramba.
— O que aconteceu com a sua casa? — Perguntei
enquanto ele nos servia.
— Furacão Helena aconteceu. A mulher conseguiu
trazer vida até para essa fonte de escuridão.
Sorri, concordando.
— É de família, posso confirmar.
— Venha, vamos nos sentar lá fora.
Segui Jacob até o seu jardim e nos sentamos em
espreguiçadeiras. No céu as estrelas brilhavam e a brisa
noturna era limpa. Respirei fundo o ar puro fora da cidade.
— Por onde quer que eu comece?
— Que tal pelo começo?
— Tudo bem então. Tudo começou há oito anos… em
Paris. Foi quando a vi e me apaixonei pela primeira vez.

— Uau. — Sua boca era um perfeito O.


— Pois é, uau.
— Eu senti algo forte entre vocês, mas isso… É
inacreditável. É incrível. Ela sabe?
— Não. A única coisa que ela sabe é que conheceu
minha mãe. Todo o resto ainda não foi dito. Agora que a
encontrei novamente e a tenho, preciso de um tempo para
decidir como contar. Tenho medo que ela se assuste, ou pior,
que ela fuja de mim.
— Escute, Henri. Helena me contou em partes sobre o
que passaram, eu sei que Ella não teve uma vida fácil e sei o
quanto deve ser difícil para ela estar em um relacionamento
outra vez. Nunca irei entender completamente o que ela sentiu
e sente. Mas se tem uma coisa que eu sei e vejo, é que Ella se
tornou uma mulher muito forte. Qualquer um ao seu redor
pode ver isso, mas por dentro ainda existe o receio, ainda
existe o medo e a insegurança. Também entendo que se sinta
ameaçado, você perdeu muitas pessoas importantes na sua
vida. Lidou com o medo do abandono todo esse tempo. Mas o
que eu quero dizer com tudo isso é que vocês estão
construindo um relacionamento maravilhoso, existe confiança,
cumplicidade, respeito e amor mútuo. Fora a conexão
inexplicável de vocês. Eu vejo o quanto a ama e sei que nunca
a machucaria. Sei também que fará de tudo para protegê-la.
Não deixe de contar por medo que ela vá deixá-lo. Acho que
nada no mundo pode separá-los agora. Sua mãe teria previsto.
Ella confia e ama você. Tenho certeza que irá entender tudo e
ficará contigo. Independentemente de qualquer coisa.
Era como o sol chegando em um dia chuvoso. Tudo
estava claro agora. Jacob falou tudo o que eu já sabia, mas que
eu precisava ouvir outra pessoa falar para poder entender
completamente.
— Por que a vida é tão complicada?
— Porque ela está querendo o melhor para você. Não
pense que coisas ruins acontecem para o seu mal. Mude a
perspectiva. Tudo o que tem passado só o tornou mais forte.
Você será recompensado. Tenho certeza.
— Mudar a perspectiva. Faz sentido. Obrigado por hoje
e pelas sábias palavras, Jacob. Era o tapa na cara que eu estava
precisando. Acho que no fundo eu já sabia o que fazer, eu só
não me permiti lutar contra o medo.
— Não precisa agradecer, Henri. Sabe que sempre terá
meu ombro amigo. — Seu celular apitou e ele verificou. —
Agora vá atrás da sua garota. Helena acabou de mandar uma
mensagem dizendo que a deixou em casa.
— Irei fazer isso.
Sorri para ele e me levantei. Jacob me seguiu até a porta.
— Não guarde o peso do mundo para você, filho. Pode
sempre dividir comigo.
— Obrigado. Lembrarei disso.
— E, Henri… — Já estava me virando quando ele me
chamou atenção. — Da próxima vez que quiser se aproximar
de alguém procure uma forma mais simples, comprar uma
empresa pode ser um pouco demais. — Piscou, rindo.
— Ok, sem mais empresas. — Me juntei a ele. — Até
mais, Jacob.

Com o horário avançado, tive que correr contra o tempo


para conseguir tudo. Confesso que foi muito difícil, mas agora
estou aqui em sua porta, tentando controlar minha respiração e
limpando o suor do meu rosto.
Eu poderia muito bem usar a chave reserva que Ella me
deu para entrar em seu apartamento, mas não quero aborrecê-
la por entrar quando ela não quer me ver. Se tem uma coisa
que eu sei fazer é respeitá-la.
Meus dedos trêmulos tocaram sua campainha. Um
minuto se passou e nenhum movimento do outro lado da porta.
Toquei novamente. Sem sucesso. Ela deve estar dormindo.
Parei de andar de um lado para o outro e me sentei,
recostando-me na porta. O cansaço de um longo e tenso dia
estava se apossando. Fechei meus olhos para relaxar. Foi
quando a porta se abriu, me fazendo cair deitado no chão.
— Que merda, Henri. Você me assustou.
— Desculpe, não foi minha intenção.
Me levantei rápido, permanecendo do lado de fora.
— O que você está fazendo aqui?
O que eu estava fazendo ali? Bem, nem eu sei mais. Ella
estava só de toalha, seu cabelo molhado colado em seu rosto, o
cheiro do seu shampoo de morango me atingindo em cheio.
— Eu…
— O que veio fazer aqui? — Insistiu.
— Escute, Ella. Sei que está chateada e não me quer
aqui. Vou respeitar sua decisão. Não vou invadir seu espaço e
não vou demorar. Só vim te entregar isso.
Peguei o envelope no bolso do meu blazer e a entreguei.
— O que é isso?
— Você disse que queria saber a verdade. Bem, eu irei
dá-la a você.
— Ok.
— Annie me ajudou. Enfim, espero que goste.
Seus olhos não chegavam aos meus. Eu precisava que
ela olhasse para mim.
— Olhe para mim. — Supliquei.
Vi quando seus lábios tremeram. Seu olhar subiu
lentamente até encontrar o meu. O brilho das lágrimas partiu
meu coração.
— Eu amo você. — Sussurrei.
Seu olhar caiu mais uma vez e meu peito doeu em
pânico.
— Eu também amo você. — Sussurrou de volta.
Fui do inferno ao céu em segundos.
Dei um pequeno sorriso e assenti.
— Boa noite, Ella.
Me virei e fui em direção ao elevador. Entrei e
cumprimentei um senhor que estava lá. Quando as portas
estavam quase se fechando, escutei-a gritar meu nome. Apertei
o botão para as portas se abrirem e seus braços envolveram
meu pescoço. A abracei forte, respirando seu cheiro, sentindo
meu coração entrar em conflito entre se acalmar e bater o mais
rápido que ele podia.
Escutei um pigarro atrás da gente e sussurrei em seu
ouvido.
— É melhor você ir ou será expulsa por nudez. —
Brinquei, tentando aliviar a tensão. — Ou eu serei expulso por
bater em um velhinho tarado.
Suas bochechas ganharam um bom tom de vermelho e
eu só queria arrastá-la até seu apartamento e beijá-la até acabar
meu oxigênio. Mas não podia fazer isso.
— Bem, você está certo. Ok. Boa noite, Henri.
Continuamos nos encarando e não sei por quanto tempo
ficamos assim. Eu não queria deixá-la. Eu só queria relaxar
com ela em meus braços.
O velho chamou nossa atenção mais uma vez e eu o
olhei sério.
— Você vai descer ou não? Estou com pressa, estou
perdendo a sessão de novela com a minha namorada.
Arregalei meus olhos e prendi a risada. O velho estava
melhor que eu.
— Desculpa, eu vou descer. Só um minuto. — Voltei
meu olhar para Ella. — Cuide-se. Amo você.
— Eu amo você.
Esperei Ella entrar em segurança no seu apartamento e
voltei para o velho.
— Podemos ir agora.
— Você é um cara de sorte, filho.
Assenti em silêncio e sorri.
Sim, eu sou um cara de sorte.
Eu só esperava que a sorte estivesse realmente ao meu
favor.
Às vezes compreender a calmaria que antecede a
tempestade é um pouco difícil. Estamos tão envolvidos na
nossa própria bolha que não enxergamos o pior chegando. Eu
deveria ter previsto que tudo estava calmo demais nesses
últimos meses.
Quando deixei a sala de Henri liguei para a única pessoa
que me daria colo e conforto nesse momento, minha mãe.
Assim que ela atendeu no segundo toque, eu já me
encontrava aos prantos. No instante que percebeu o meu
estado, mamãe veio imediatamente me encontrar. Demorei
exatas duas horas pra me recompor e conseguir falar algo sem
chorar. Eu estava exausta emocionalmente e estar no mesmo
local que Henri não me fazia bem agora.
Mamãe me levou para a sua casa e cuidou de mim, eram
nessas horas que a saudade rasgava o peito. Saudades do lar,
da proteção materna, da falta de responsabilidade, da falta de
viver sem medo.
Conversamos sobre o turbilhão de acontecimentos dos
últimos três dias e ela lamentou por não ter estado lá para
mim. Recebi alguns puxões de orelha por não comentar sobre
meu relacionamento com o Henri, mas o sorriso e o brilho no
olhar da minha mãe ao me ver amando novamente foi
impagável.
— Sabe, filha. Lidar com relacionamentos nunca foi
fácil para ninguém. Lidar com isso estando sobrecarregada,
dificulta mais ainda. Eu entendo o que você está sentindo. Eu
sei o quanto está cansada, magoada. — Seus dedos passeavam
pelos meus cabelos. — Mas se tudo que você e Jacob me
contaram sobre ele for verdade, tenho certeza que o motivo
pelo qual ele não te falou nada sobre esse assunto é
importante. Não acho que a intenção dele era te magoar, muito
pelo contrário. Tenha paciência, tome algumas respirações,
tome um banho quente e longo, tente colocar seus
pensamentos em ordem com calma e principalmente, escute
ele, mas quando estiverem os dois prontos. Você sabe que cada
pessoa leva o seu tempo e isso não é questão de falta de
confiança, há pesos que não querem deixar quem os carrega.
— Eu vou fazer isso, mamãe. Eu não queria tratá-lo com
frieza, sabe. Deus sabe o quanto me doeu ver seus olhos
desolados. Mas naquele momento não consegui lidar com
tudo. Eu sei que ele confia em mim, já provou isso várias
vezes. E eu também confio nele, muito. Eu só queria viver um
relacionamento com um pouco de paz, sabe? Longe de tudo
que envolva o Sebastian e agora Melanie. — Suspirei.
— Vocês merecem isso por direito, ambos já sofreram,
não deixe que pessoas alheias e do passado interfiram no amor
de vocês dois. Aliás, quero as gravações das câmeras de
segurança. Preciso ver minha bebê jogando a ratazana na rua.
— Mamãe. — Gargalhei e ela juntou-se a mim. — Você
está parecendo a Rosie.
— Venha, vamos preparar o jantar. Eu pensei em fazer
lasanha e um sorvete de creme para a sobremesa, como nos
velhos tempos. O que você acha?
— Eu amei a ideia. — Sorri nostálgica para ela.
Já se passavam das 20h quando mamãe me deixou no
meu apartamento com uma promessa de reconciliação e Henri
no próximo jantar. E é claro que levei mais outro puxão de
orelha por ter faltado nos últimos.
Quando abri minha porta, uma bola peluda quase me
derrubou ao passar entre as minhas pernas.
— Olá, querida. — Cumprimentei, a pegando no colo.
Joguei minha bolsa no sofá e fui até a cozinha para
alimentar Maggie. Quando entrei no meu quarto, respirei
fundo ao sentir, mesmo que de leve, o perfume de Henri. Ele
estava em todos os lugares.
O que de tão importante ele estava escondendo? Era
algo relacionado a Melanie? Um filho?
Meu coração acelerou ao pensar em Henri ter um filho e
não ter mencionado.
Ele não faria isso. Tinha que ser outra coisa. Mas o que?
Só percebi que estava andando em círculos pelo quarto
quando fiquei tonta.
Como de costume, resolvi separar minha roupa do dia
seguinte para ocupar minha mente.
Ninguém, além dele, resolveria a minha dúvida. E como
ainda não estava pronta para vê-lo, decidi não pensar muito no
assunto. Mas ao me afundar na banheira quente, os
pensamentos insistiram em ficar comigo. Aproveitei a
presença para colocar algumas coisas na balança. A lista de
contras e prós pesou toda apenas para um lado. O único contra
que consegui pensar foi no meu namorado sendo um desastre
ambulante. O que me fez rir. Ri de todos os nossos momentos
constrangedores, de todos os seus tombos, de suas piadas sem
graça, da sua forma boba de me fazer a mulher mais feliz
desse mundo.
Depois da minha crise de riso chegar ao fim, me senti
estranha. Henri pediu para confiar nele. Ele disse que me
contaria quando houvesse a certeza e o que eu fiz foi surtar. Só
me restava ter fé cega e esperar que tudo ficasse bem.
Abracei meus joelhos desejando que o dia de hoje
tivesse sido diferente. Mas a vida não é o que a gente quer, é o
que o destino nos dá, dia após dia. Ou nos adaptamos e
lidamos com o que nos é dado, ou não estamos prontos para
viver.
Fechei meus olhos, imaginando-o atrás de mim como de
costume. Seus braços ao meu redor, minha cabeça encostada
em seu peito e seus batimentos cardíacos servindo de música
para meus ouvidos.
Me assustei quando a campainha tocou.
Quem estava na minha porta a essa hora?
A campainha tocou mais uma vez. Saí da banheira
relutantemente e me enrolei na toalha. Fui até a porta, olhando
pelo olho mágico e não encontrei ninguém.
Me afastei para voltar para o banheiro e então percebi
uma sombra na porta. Olhei novamente o olho mágico e
ninguém estava lá, mas a sombra ainda continuava. Abri a
porta devagar, mas um peso a abriu de vez, fazendo-o cair.
Henri.
Meu coração idiota começou a dançar em meu peito.
Mas minha razão insistiu em se fazer de difícil.
Doía ver seu olhar perdido, cansado. Eu queria abraçá-
lo, beijá-lo, mas não podia fazer isso agora ou então todo o
emocional iria por água abaixo mais uma vez.
Quando deixou claro que não demoraria, quis gritar para
não ir, para entrar e ficar comigo.
Engoli todos os meus desejos e me despedi. Mas,
quando o vi virar as costas e caminhar até o elevador, um
medo desconhecido me atingiu em cheio. Medo de perdê-lo,
um medo gritante e cortante.
Um soluço saiu da minha garganta assim que corri.
Gritei seu nome quando as portas já se fechavam. Seus
braços me seguraram quando o abracei e por um instante eu
estava de volta ao céu. E era assim que eu queria me sentir
para sempre.
Quando o deixei ir novamente, meu coração foi junto.
Claro que ia, pertencia a ele desde o dia que o vi pela
primeira vez.
Na verdade, sinto que já o pertencia muito antes.
Ao voltar para o meu apartamento, vesti uma de suas
várias camisas que estavam no meu closet. Peguei o envelope
que me deu e fui até minha cama.
Ao abrir encontrei um pendrive e três bilhetes
numerados.
O primeiro bilhete dizia:

“No pendrive é apenas um apelo de duas pessoas que te


amam, veja o conteúdo que há nele primeiro.”

Curiosa, peguei meu notebook rapidamente e inseri o


pendrive. Dois vídeos, abri o primeiro.
Quando o rosto de Annie apareceu juntamente com o de
Henri, meus olhos já estavam cheios.
“Oi princesa Ella, aqui quem fala é a princesa Annie do
Reino Hayes. Eu sei que o príncipe Henri é um burro e faz
muitas coisas erradas, mas ele te ama mais do que tudo nesse
mundo. Você poderia perdoá-lo, para que vocês possam se
casar e se tornarem rei e rainha, por favor e obrigada?”
Iniciou ela me fazendo chorar e rir ao mesmo tempo.
Seus cabelos estavam cada vez mais falhos e eu rezava todos
os dias para Deus restaurar a sua saúde. O amor que nasceu em
mim pela linda garota era incontrolável.
“Burro, Annie? Como você quer que eu fique bem na
fita com você me chamando de burro?”
Henri reclamou.
“Cale-se, príncipe Henri. Ser desprovido de inteligência
é um bom apelo.”
“Corta”
Ele pronunciou antes de parar de gravar.
Fui para o segundo vídeo com o coração cheio
novamente.
“Oi princesa Ella, aqui quem fala é a princesa Annie do
Reino Hayes, eu só queria dizer que o príncipe Henri é…” —
Henri lançou um olhar sério e ela riu. — “É um bom príncipe
e nunca teve a intenção de magoar a sua princesa. Ele sente
muito por tudo e está sentindo a sua falta. Você poderia
atender meu desejo de princesa e perdoar o príncipe para
vocês se tornarem rei e rainha e me terem como a princesa de
vocês?”
Meus olhos se arregalaram em choque, assim como os
de Henri no vídeo.
“O que você disse por último?”
“Nada.” — Disse rápido. — “Ele te ama muito,
princesa Ella. Fala para ela, Henri.” — O empurrou e eu ri.
“Eu te amo, minha princesa. Você irá saber de tudo em
breve, eu te prometo. Sem mais segredos. Espero que me
perdoe.”
O vídeo foi finalizado.
Passei algum tempo tentando processar o que foi dito
pela garotinha. O meu coração ganhava mais uma batida
diferente e meu estômago revirou em ansiedade.
Será?
Peguei o segundo envelope e lá estava mais uma vez a
letra que eu conhecia bem.

Ma belle,
Eu havia planejado tudo há algum tempo, mas meus
planos foram por água abaixo. Tive que refazer tudo às
pressas pelo pouco tempo que tinha. Não foi do jeito que eu
planejei, mas será perfeito para nós. Nunca tive a intenção de
magoá-la ou de te fazer pensar que não confio em você. Como
te disse, eu te confio a minha vida. Então irei te contar tudo,
se é isso que quer.
Nos dei alguns dias de folga, então arrume as malas e
venha comigo para o caminho até a verdade.
O destino será surpresa. A finalidade também. Mas se
tudo ocorrer de acordo com o novo plano, serei o cara mais
feliz e sortudo desse mundo, porque terei você.
Encontre-me no aeroporto amanhã, o voo sai às 10h.
Esteja com o seu passaporte.
Mais importante que o passaporte, esteja você lá.
H.

Eu estava em completo choque. Eu não estava


acreditando no que tinha acabado de ler. Ele é louco.
Me recuperei do nervosismo e fui para o próximo.
Se você não aparecer, entenderei que não me quer por
perto no momento. Mas estou pronto para falar sobre o meu
maior medo. Espero que esteja disposta a me ouvir. Mais uma
vez, espero que me perdoe.
Nunca duvide do meu amor por você, ele é infinito.
H.
Já perdi as contas de quantas vezes conferi as horas nos
últimos minutos. O relógio marcava 9:29 e nenhum sinal de
Ella.
Depois de deixá-la ontem a noite, dormi e acordei
confiante. Isso mudou a cada minuto passado e nada dela. Às
9:58 minhas esperanças ainda gritavam no meu peito, mas o
medo e a angústia sussurravam como o diabo em meu ouvido.
Ela não vem.
Às 10:49 eu já estava quase careca. Carter Clynes, meu
amigo e piloto, veio me encontrar pela terceira vez para avisar
que estava tudo pronto para partir. Mas nada estava pronto sem
ela aqui. Estava prestes a cancelar quando escutei sua voz.
— Henri! — Gritou.
Me virei na direção da voz e encontrei minha linda
bagunça em forma de mulher. Seus cabelos estavam ferozes e
em sua testa gotas de suor se formavam.
— Eu… Eu estou aqui. — Falou rápida e ofegante,
enquanto se jogava em meus braços. — Eu estou aqui. Meu
Deus. O trânsito estava parado, eu pulei do carro e vim
correndo. Eu…
— Calma, Ma belle. Respire fundo. Você está aqui. — A
abracei apertado, sentindo todo o medo evaporar. — Você está
aqui. — Repeti.
— Eu estou aqui. — Afirmou.
— Tudo pronto, pessoal? — Carter perguntou.
— Pronta, meu amor?
— Sim.
Fomos até a pista, onde meu jatinho nos esperava.
— Espera aí. — Ella soltou. — Eu corri 1km,
carregando uma mala, cheguei igual uma louca, toda suada
para voar no seu jatinho particular?
— O horário era a garantia de que você vinha, querida.
— Eu vou te matar, Henri.
— Me mate de prazer fazendo amor comigo enquanto
voamos.
— Sonhe alto ou não sonhe nada, Hayes. Irei te matar de
outra coisa.

Ella não estava brincando quando disse que iria me


matar de outra coisa e não de prazer. Começou com ela
sentando-se no lado oposto do meu no avião. Até aí tudo bem,
mas então as provocações começaram. Gemidos ao beber o
vinho que servi, visão perfeita dos seus seios ao abaixar-se
para pegar o celular que ela derrubou propositalmente. Quando
tentei entrar no seu joguinho, ela simplesmente pegou seu
notebook e fingiu estar trabalhando.
— Eu sei que você não está trabalhando, Ella. Pare com
isso e venha aqui.
— O que disse, querido? Estava concentrada. — Fingiu
não me ouvir.
— Vai mesmo me ignorar a viagem inteira?
— Eu não estou te ignorando, Henri. Estou bem aqui,
trabalhando.
— Posso ver no que está trabalhando, então? — Me
levantei.
Suas mãos foram rápidas ao baixar a tela do notebook.
Mas as minhas foram mais rápidas ao tomá-lo das suas.
Quando o abri estava em algum site de “Jogos para
Meninas”.
— Ok. — Gargalhei. — Vejo que tem muito trabalho a
fazer. Talvez eu possa ajudá-la. Qual será o próximo?
Cabeleireira ou Manicure da Barbie? Hmmm acho que serei
manicure.
— Me dê isso aqui, Henri! — Tentou tomar o aparelho,
mas minhas mãos o levantaram e sua altura não era favorável.
— Não. Também quero trabalhar.
— Cretino. — Pulou, tentando pegar o notebook mais
uma vez.
— Desista.
Voltei para o meu lugar, puxando o apoio para o
notebook do meu assento.
— Você vai mesmo jogar isso? — Perguntou incrédula.
— O que? Acha que não tenho habilidades femininas
para pintar uma unha? Francamente, Ma belle. Assim você me
ofende.
Em mais uma das suas tentativas de pegar o notebook,
afastei o apoio e com um puxão a sentei em meu colo. Logo
em seguida começou a se debater.
— Acalme-se, mulher. Não vai querer derrubar o avião.
Seus olhos se transformaram em duas grandes bolas
assustadas e seu corpo paralisou.
— Você sabe que eu estou brincando, certo? Poderíamos
transar feito loucos por todo o espaço e ele nem balançaria.
— Você me assustou, idiota. — Recebi um tapa.
Me levantei com ela em meu colo e segui para a parte
traseira do avião.
— Para onde está me levando?
— Para o quarto, você está tensa, vou te fazer uma
massagem.
Ella ficou em silêncio, mas o sorriso contido no canto da
boca a entregou.
Ao chegar no quarto improvisado, abri a pequena porta e
entrei com Ella ainda nos meus braços. A deitei na cama e tirei
seus sapatos, fiz o mesmo que com os meus e em seguida me
sentei na ponta da cama. Alcançando seus pés, comecei a
massageá-los. O gemido prazeroso saiu de seus lábios,
enviando ondas de calor para o meu corpo. Eu nunca iria me
acostumar com seus sons.
— Henri… — Me chamou.
— Sim? — Respondi sem parar a massagem.
— Desculpa… Pela forma que te tratei. Eu não deveria
ter agido daquele jeito. Não deveria ter fugido. Mas eu vejo
que foi preciso. Só assim eu pude colocar meus pensamentos e
inseguranças em ordem.
Minhas mãos pararam e eu me aproximei, sentando mais
perto dela.
— Eu entendo sua reação. Sério. Não te julguei, Ella.
Talvez, se eu estivesse no seu lugar, agiria da mesma forma.
Você foi bombardeada por mil coisas nos últimos dias. Eu
realmente estava preocupado com o fato de você não se retrair
para se reerguer. Mas você o fez.
— Sebastian havia mandado outro recado, estava na
minha sala, uma flor e um bilhete. Achei que seria seu, mas
quando vi que não, me desesperei, a única coisa que eu queria
era seu conforto e você me dizendo que ele não me faria mal
algum. Eu estava em apuros e fiquei mais ainda quando a vi lá.
Meu corpo ficou tenso.
Como esse maldito teve coragem? Eu precisava resolver
isso.
— Por que não me falou? Depois de tudo.
— Eu estava fragilizada demais. O ambiente estava me
adoecendo, eu precisava sair dali. Mas me fez perceber
também que preciso enfrentar isso pelo menos uma vez
sozinha. Você não pode me proteger pra sempre, mesmo eu
sabendo que você fará de tudo para isso. Eu não posso
depender de você para acabar com meus medos.
Sorri sincero. Eu amava a forma como ela era forte.
— Isso é o que mais amo em você. A sua força, a forma
como enfrenta seus maiores medos sem perder sua essência.
— Segurei suas mãos. — Eu sei que estamos em meio ao caos,
mas passaremos por isso juntos, ok? Irei te proteger mesmo
que não queira. — Ri. — Essa viagem será essencial para o
nosso relacionamento. Não posso falar muito sobre agora, mas
quero que faça uma coisa. Abra sua mente. Esqueça seus
medos, suas crenças e descrenças, esqueça tudo. Concentre-se
apenas em nós dois. Pode fazer isso?
Ela assentiu.
— Sim, eu posso.
— Agora, se afaste. Deixe-me deitar com você e te
segurar em meus braços. A viagem durará algumas horas.
Ella me deu espaço na cama e me deitei, puxando-a para
mim como sempre fazia. Não demorou muito para ela se
aconchegar em mim.
— Um dia brigada com você e eu quase morri. Prometa
que não brigaremos mais.
Ri.
— Não posso prometer que não iremos brigar, você é
sempre teimosa e cabeça dura. — Recebi outro tapa. — Só
brincando. Mas todos os casais têm desavenças, precisamos
lidar com elas da melhor maneira possível. E ainda nem
chegamos na parte crítica da viagem. Mas se tem uma coisa
que prometo, é que lutarei por você com todas as minhas
forças, em qualquer ocasião.
— Eu lutarei por nós e pelo nosso amor, Henri.
— Eu sei disso, meu amor. Você veio até aqui, já me
provou.
Ela bocejou.
— Desculpa, não dormi bem noite passada, estava
ansiosa demais para isso.
— Não se desculpe, descanse. Te acordarei quando
chegarmos.
— Você vai ficar aqui?
— Para onde mais eu iria? — Beijei de leve seus lábios
e comecei a mexer em seus cabelos. Seus olhos pesaram e
lentamente Ella adormeceu mais uma vez em meus braços,
onde ela pertencia.

Beijos por todo o meu rosto. Como era bom ser


acordada assim de novo.
— Só mais cinco minutinhos. — Protestei.
— Eu te daria horas. Mas já vamos pousar.
Abri um olho e me deparei com seu rosto bem perto do
meu. Seus lábios me beijaram lentamente.
— Vamos.
Voltamos para as nossas poltronas e colocamos o cinto.
— Espero que tenham tido um ótimo voo, pessoal. Aqui
quem fala é o Capitão Carter Clynes, foi um prazer trazê-los
até aqui em segurança. Até a próxima.
— Ele sabe que só tem a gente aqui, não é?
— Sim, mas esse é o Carter, ele é assim. — Henri riu.
— Vocês são estranhos.
Em minutos já estávamos dentro de uma SUV preta a
caminho do hotel. Eu não fazia ideia de onde estávamos e não
iria perguntar. Toda essa surpresa me deixava em êxtase.
Quando o carro parou, Henri instruiu o motorista a levar
nossas malas até o quarto e o dispensou, indo para o seu lugar
de motorista. Pulei o banco do grande carro e fui para a frente.
— Não vamos subir?
— Não.
— Para onde vamos?
— Primeiro, vou te alimentar. Segundo, daremos início
ao que viemos fazer aqui.

Almoçamos em um restaurante brasileiro que tinha na


cidade desconhecida. Confesso, nunca comi nada igual. Acho
que se tornou minha comida favorita — feijoada. Mas o que
me deixou mais feliz foi escutar Henri tentando falar os nomes
dos pratos. De sobremesa nos deliciamos com brigadeiro e eu
queria morar naquele momento para sempre.
Após estarmos cheios o suficiente, caminhamos de volta
ao carro. Henri me deixou lá e foi até uma floricultura onde
comprou um buquê de alguma flor que eu não conseguia ver
pelo embrulho.
Ele estava fazendo um suspense com tudo.
Saímos um pouco da cidade e entramos em um campo.
Henri parou perto de uma cabana bem estruturada em meio à
natureza. Dava para escutar o riacho ao fundo. Era linda.
Descemos do carro e ele me conduziu até a parte de trás.
Caminhamos em silêncio até uma grande árvore com balanço.
Ele abriu o embrulho das flores e sorri ao ver
margaridas.
— Eram as favoritas da sua mãe.
— Sim. — Ele sorriu. — Ela te disse?
— Uhum. Sempre que podia, eu arrumava um jeito de
consegui-las para ela. Até fiz minha mãe comprar sementes
para plantá-las no jardim do hospital. — Comentei tímida.
— Você não sabe como me sinto o homem mais feliz do
mundo por saber da cumplicidade de vocês duas.
— Mas o que viemos fazer aqui? De quem é essa
cabana?
— Da minha mãe.
— Henri…
— Adiantei seu encontro, Ma belle. Você me disse que
queria visitá-la. Aqui estamos. — Ele apontou para a árvore.
Atrás dela pude ver uma pequena cruz delicada. Seu
nome gravado em letras elegantes. Anne Hayes.
Minha visão embaçou pela quantidade de lágrimas.
— Minha mãe é a chave principal em toda a nossa
história, Ella. Não havia lugar melhor para começar a contá-la
do que aqui.
❝ Arco-íris: Significa o fim do sofrimento, intervenção
divina e também esperança. Sempre que ele aparece, podemos
entender como uma mensagem dos céus de que tudo irá ficar
bem e de que Deus está olhando por nós. ❞
Uma brisa soprou entre nós dois, fazendo-me me
aconchegar em seu peito. Estávamos sentados no balanço da
árvore que marcava onde Anne estava. O sol estava perto de se
pôr.
Eu estava tomada por emoções e Henri não havia nem
começado a me contar nada.
Ficamos um bom tempo em silêncio, aproveitando a
presença um do outro. O balanço e o vento faziam seu cabelo
se transformar em uma bagunça tão linda, sua cara emburrada
ao tirá-lo do rosto. Havia crescido bastante nas últimas
semanas
Abrir minha mente.
Foi o que ele pediu. E era o que eu estava fazendo.
Eu não sei o que viria a seguir. Mas também não me
importava. Eu sabia o que eu queria. E o que eu queria era ele.
Independentemente de qualquer coisa.
— Eu já te conhecia, Ella.
Ele soltou.
Eu pensei que ficaria surpresa, assustada… Mas isso só
tirou a dúvida que já existia em meu coração.
— Como? — Perguntei calma.
— Vou te dizer, mas não agora. Deixe-me explicar a
parte mais grave.
— Tudo bem.
Entrelacei nossas mãos e esperei ele falar.
— Quando descobrimos o câncer da minha mãe, tudo o
que nos restava era lutar por ela. Eu vivia pela minha mãe.
Abdiquei de várias coisas para cuidar dela. Depois que o
homem que eu chamava de pai nos deixou, só aumentou
minha proteção. Estávamos tão focados na doença dela que
não pensamos na possibilidade de ser hereditário.
Meu corpo congelou. Engoli em seco e o pânico me
atingiu aos poucos. Meus olhos se encheram antes do
pensamento se formar em minha mente.
Ele estava com câncer?
— Eu não sei. — Soltou baixo, como se estivesse lendo
meus pensamentos. — Eu não queria saber, eu tinha medo do
resultado, eu tinha medo de viver o que vi minha mãe
vivenciar diante dos meus olhos e pior… Eu tinha… Eu tenho
medo de ser abandonado como ela foi.
Eu o apertei o máximo que pude.
— Meu amor, quem a abandonou não importa, você
esteve lá. Você não a abandonou.
— E é justamente por estar lá e presenciar seu olhar
devastado pela solidão do abandono que eu temo. Eu não
queria saber do resultado, Ella. Eu viveria minha vida na
dúvida, carregando isso somente para mim. Mas…
— Melanie sabia e jogou contra você.
— Não. Você aconteceu, Ella. Por anos eu te esperei e
quando eu finalmente tive você para mim, as crises voltaram.
Minha mãe faleceu devido a complicações com seu câncer de
pulmão. Alguns anos atrás eu apresentei alguns sintomas, os
mais simples… Deixei para lá, eu estava tão no fundo do poço
que nada me importava. Na sua primeira noite lá em casa,
aconteceu mais uma vez, então o pânico me aturdiu. O medo
de ser abandonado se transformou no medo de deixá-la. Eu
não quero perder a chance de um futuro com você, Ella. Eu
não quero nunca te deixar, como também não quero que me
deixe.
— Henri… Por que não me falou antes?
— Porque eu sou um idiota, o medo de você me
abandonar como Melanie fez e como meu pai fez com minha
mãe me cegou. Você não me deixaria se não soubesse.
— E é aí que você se engana. Eu nunca te abandonaria.
Você é minha vida agora. Como eu poderia viver sem você?
Eu te amo mais do que eu possa pensar, falar…
— Eu sei disso agora, meu amor. E é por isso que eu fiz
os exames.
— Você fez? — Meus olhos viraram cachoeiras. — Qual
o resultado?
— Eu não abri. Eu jurei que só faria isso com você. Eu
não teria forças para abrir sozinho.
— Você está com ele agora?
— Sim.
— Você quer abrir?
— Sim.
Me afastei um pouco para ele pegar o envelope no bolso
da sua calça. Vi a dúvida pairar sobre seu olhar.
— Ei. Eu estou com você nessa, lembra? Eu disse que
iríamos compartilhar o peso da nossa bagagem. Não há nada
no mundo que faça eu te deixar sozinho, Henri.
Ele abriu um sorriso cheio de gratidão e seus olhos
brilharam com as lágrimas. Minhas mãos foram rápidas a
apanhá-las quando começaram a escorrer pelo seu rosto.
— Eu amo você. — Disse, me dando um beijo intenso.
— Eu amo você. Agora vamos descobrir de uma vez por
todas.
Suas mãos eram trêmulas ao abrir o envelope.
Prendi minha respiração. Eu não confessaria a ele, mas
eu estava morrendo de medo. Ele não aguentaria me ver
deixando-o e eu não aguentaria perdê-lo.
Um soluço em conjunto deixou nossos lábios quando a
frase NÃO REAGENTE apareceu no resultado.
— Henri… — Consegui dizer com minha voz
embargada.
Eu não enxergava nada com minhas lágrimas. Ele se
levantou, me puxando para um abraço apertado, me girando no
ar. Acho que Anne também estava emocionada pois em
segundos a chuva caiu sobre nós. O sol nos dando adeus e os
últimos traços de sua luz entrando em contraste com a água da
chuva, nos dando um belo arco-íris.
— Meu Deus… — Henri sussurrou contra meus lábios,
antes de soltar um grito de libertação, seguido de outro e mais
outro.
Primeiro, o observei de longe, deixando-o ter o seu
momento de glória. Depois me juntei a ele. Deixando meus
gritos arrancarem de mim todas as dores e medos. Era
libertador.
— Seja minha para sempre, Ella. — Seus olhos estavam
bem abertos e cheios de adrenalina.
— O que?
Fui pega de surpresa.
— Eu tinha planejado isso de outra forma. Mas parece
que o destino nunca faz o que eu quero. — Ele riu. — Case-se
comigo e me dê a honra de ser o homem mais feliz desse
mundo por tê-la como minha esposa.
Quando eu pensava que ele não poderia me surpreender
mais.
— Se você disser não, vou provar o quanto eu te amo até
que diga sim.
Eu gargalhei.
— Você é louco… — Seu sorriso era tão lindo. Ele na
chuva, livre e me pedindo em casamento era mais lindo ainda.
— Não há outra resposta a não ser sim, Henri. É tudo o que eu
mais quero.
— Ela aceitou, mãe. Você ouviu? — Gritou para o céu,
me fazendo chorar ainda mais.
Seus braços me envolveram e seus lábios me tomaram
com tanta intensidade e amor que eu poderia desmaiar bem
ali.
— As surpresas ainda não acabaram, futura Sra. Hayes.
— O que mais você está aprontando, Sr. Hayes?
— Você não tem nenhuma ideia de onde estamos?
— Claro que não, Henri. Você não me deu nenhuma
brecha e os locais em que passamos não diziam nada. Todos
eles abordavam várias culturas.
— Venha.
Ele me levou para uma escada que dava no telhado da
cabana. Quando chegamos ao topo, suas mãos taparam meus
olhos e ele me direcionou até o fundo.
— Você está em casa, Ma belle.
Quando minha visão focou nas luzes da grande torre lá
no fundo da paisagem eu fiquei tonta. Estávamos em Paris.
Henri me trouxe para casa.
Eu não conseguia parar de andar de um lado para o
outro.
De volta ao hotel, me apressei a tomar banho e Ella me
seguiu. Não tínhamos tempo para carícias agora, algo mais
importante nos esperava, mas, quando voltássemos, ela seria
toda minha.
Agora eu a aguardava ansiosamente, depois de uma
ligação que poderia nos deixar livre de todo o inferno para
sempre.
Ella saiu do quarto, entrando na pequena sala que havia
na nossa suíte. Eu não conseguia falar. Meu amor por ela me
deixou mudo, não tinha outra explicação. Um vestido de seda
que ia até um pouco depois dos seus joelhos abraçava suas
curvas, seus cabelos ferozes estavam soltos e ainda mais
escuros. Por mais que eu a preferisse no seu natural, sua
maquiagem conseguiu destacar e aperfeiçoar mais ainda seu
rosto lindo e exótico. Seus olhos verdes brilhavam para mim e
seu sorriso branco estampado no meio do batom vermelho que
era minha tentação me deixava tonto.
— Estou pronta.
— Você está perfeita. — Encurtei nossa distância,
caminhando até ela.
Minhas mãos agarraram sua cintura e me permiti
apreciar o cheiro doce do seu perfume.
— Qual a chance de eu te beijar agora sem borrar o seu
batom?
— Nenhuma, aqui ainda não virou circo. — Seus olhos
semicerraram e eu gargalhei.
— Eu te amo, mulher. Vamos, o carro já está nos
esperando.
— Agora que sei onde estamos, vai me dizer para onde
vamos ou vai fazer mistério?
— Não. Vamos para a Torre Eiffel.

Seu sorriso era impossível de tão grande.


Ella dava pequenos saltinhos ao sair do carro. Era
contagiante.
— O que é isso? — Perguntou ao me ver pegar uma
cesta na mala do carro.
— Nosso piquenique noturno.
— Henri!
— Hoje está sendo o melhor dia da minha vida, você
precisa saber.
— Se tornou o meu também. — Ela me deu um selinho
rápido.
Caminhamos de mãos dadas até uma parte da grama que
ficava perto o suficiente da torre. Torre essa que estava
esplendidamente linda enquanto brilhava.
Forrei o cobertor, arrumando tudo o que eu trouxe na
cesta antes de ajudar Ella a sentar. Me sentei de frente para ela,
abrindo a champanhe e colocando nas duas taças. Entreguei a
sua e limpei a garganta.
— Um brinde a hoje, ao resultado e a você, por me dizer
sim, quando meu maior medo era que dissesse não.
— Um brinde a hoje, a nós e aos sim’s que te direi todos
os dias da minha vida.
Brindamos e viramos nossas taças, deixando o
espumante tornar aquele momento incrível.
Um artista de rua começou a tocar a introdução de La
Vie En Rose em seu violino e uma moça se juntou para cantar.
Me levantei, estendendo minha mão para Ella.
— O que é isso, agora? — Perguntou confusa.
— Dance comigo, Ma belle.
Ela sorriu envergonhada, mas se levantou, juntando
nossas mãos. A puxei para mim, colando nossos corpos e
balancei-nos ao som suave da música. Eu não queria pensar no
que aconteceria se o resultado fosse diferente.
— Se o resultado fosse positivo, nada mudaria, Henri.
Eu te amo e ficaria ao seu lado, como ficarei, para sempre.
A apertei e enterrei meu rosto em seus cabelos.
— Foi exatamente aqui, anos atrás, onde te vi pela
primeira vez e me apaixonei.
Seu corpo ficou tenso.
— Aqui?
Ela se afastou um pouco para me olhar nos olhos, mas
não deixou de dançar comigo. O medo que eu tinha de assustá-
la com essa outra parte da história se foi quando vi um
pequeno sorriso em seus lábios.
— Sim, aqui. Eu estava com minha mãe, Rosie tirava
uma foto nossa quando você apareceu. Eu não enxergava mais
nada além de você. Naquele momento eu já sabia que você era
o amor da minha vida.
Lágrimas ameaçavam cair.
— Não chore, querida.
— Então é daqui que eu me lembro de você. — Revelou
e quem foi pego de surpresa fui eu.
— Lembra?
— Sim, agora eu me lembro. Céus… Todas as tardes eu
vinha aqui com Rosie. Eu te vi tirando fotos, deixei o sorvete
que eu tomava de lado só para poder te observar com mais
atenção. Eu não conseguia não olhar, Henri. Rosie me disse
que você era apenas mais um turista, mas eu sabia que tinha
algo diferente. Depois daquele dia, minhas vindas aqui tinham
outro propósito, ver você. Mas você nunca mais apareceu.
Então eu acreditei que aquilo que eu estava sentindo era
loucura da minha cabeça e guardei o garoto de cabelos
encaracolados no fundo do meu coração. Mas você sempre
esteve aqui, eu sabia que sim.
— Como é bom saber que não fui o único. Ella, por anos
eu tive sonhos com você. Anos… Eu não acreditava que iria te
encontrar novamente até que… — Parei.
— Até que? — Insistiu.
— Até que te encontrei naquela rua escura, toda
molhada, chorando e roubando meu táxi em um dos piores
dias da minha vida.
— Era você? — Sua voz falhou.
— Sim.
Seus braços voltaram para meu pescoço, Ella enterrou
seu rosto ali também enquanto chorava.
— Era você esse tempo todo? O garoto fotografando
Paris, o cara que me salvou do meu pior pesadelo e o filho da
mulher que me inspirou a ser quem eu sou hoje?
— Sim. Todos eles…
— Como?
— Eu até tenho uma explicação maluca sobre isso, mas
o mais importante é que o destino sempre nos quis juntos, ele
sempre procurou nos preparar aos poucos para termos um ao
outro quando fosse a hora a certa, mas a hora certa foi quando
a J&J Company apareceu na minha lista de compras.
— Henri, isso é loucura. — Soltou uma risada incrédula.
— Você comprou uma empresa por minha causa.
— Ei, não diga que é loucura, mamãe se ofenderia se
estivesse aqui.
— Por que? — Perguntou preocupada.
— Porque ela previu tudo. Ela sabia que você viria. Ela
sabia que enfrentaríamos muitas coisas, mas, o mais
importante, ela sabia que éramos feitos um para o outro. No
começo eu duvidava, mas dia após dia a verdade ficava cada
vez mais clara para mim.
— Eu não sei o que dizer… Estou em choque.
— Eu sei, muitas informações. — Ri fraco.
Peguei minha carteira que estava no bolso da calça e a
entreguei.
— Para que isso?
— Abra.
Suas mãos trêmulas abriram minha carteira devagar e
mais lágrimas caíram quando ela viu as duas fotos que eu
guardava.
Caminhei até ficar atrás dela e a abracei. Meu queixo em
seu ombro, enquanto olhávamos para as fotos.
— A primeira eu tirei no mesmo dia que te vi aqui. A
segunda foi uma das muitas que tirei quando você e minha
mãe estavam juntas. Eu ficava ali, me esgueirando na porta, as
observando. Minha mãe te amava tanto, Ella.
— É difícil acreditar que você estava ali o tempo todo,
Henri.
— Eu não podia contar antes. Tinha que ser na hora
certa.
Virei-a para mim, pegando minha carteira de volta e a
guardando.
— Sabe que dia é hoje, Ella?
— Oito de agosto?
— Sim. Oito de agosto. Nesse mesmo dia, há 8 anos
atrás, eu estava nesse mesmo lugar, me apaixonando
incondicionalmente por você.
— Como é possível isso tudo… Como é possível meu
amor conseguir aumentar a cada palavra que você diz?
— Isso é o nosso amor, ele é intenso, eterno, nunca irá
parar de crescer. Antes eu não me importava em viver ou
morrer, Ella. Mas hoje, tudo o que eu quero é viver e viver por
muitos anos com você ao meu lado. Porque você sempre me
trouxe de volta para a luz mesmo sem me conhecer. Mesmo
não estando lá, você sempre esteve. Eu te amo.
— Eu também te amo, Henri.
Meus lábios encontraram os seus e o gosto salgado das
nossas lágrimas não diminuiu a perfeição.
Uma chuva de palmas surgiu ao nosso redor. Gritos
foram dados e eu não pude deixar de sorrir entre o beijo.
Comecei a me ajoelhar e ela surtou de novo.
— Mas o que diabos você está fazendo, homem? Quer
me matar do coração? Você já me pediu em casamento e eu já
aceitei, lembra?
— Ella, eu não vou esquecer aquilo nunca. Vou procurar
a tecnologia mais avançada para extrair aquela cena da minha
memória e transformá-la em um vídeo, para que no caso de
um de nós dois perder a memória e esquecer um do outro, essa
lembrança seja capaz de trazer todas as outras de volta.
— Você é o meu louco, exagerado preferido. Mas ainda
assim, por que está de joelhos?
— Porque eu não fiz um pedido decente, nem o anel eu
te dei. Estou indo conforme planejei agora.
Limpei a garganta antes de me virar para a multidão.
— Eu me apaixonei por essa mulher exatamente aqui,
nesse mesmo dia, oito anos atrás, pessoal. Eu esperei oito anos
para finalmente tê-la aqui, comigo. E sabe o que ela fez na
primeira vez que nos vimos? Me atropelou. — Gargalhadas
explodiram. — Isso mesmo, ela mandou ver com o carro bem
no meu traseiro. Mas isso só aumentou o amor que já era
grande. — Me virei novamente para ela, abrindo a caixinha
preta de veludo, deixando amostra o anel de diamantes que
minha mãe havia me dado. — Ella, Ma belle, eu sei que parece
cedo, mas não há mais jeito de fugirmos um do outro, o
destino já nos uniu muito antes de imaginarmos. Aceita passar
os próximos anos da sua vida sendo amada e respeitada por
esse louco, exagerado que não sabe mais viver sem você?
— Como eu disse antes, não há outra resposta a não ser
sim. Não há mais ninguém além de você, Henri. Eu amarei
você para sempre. — Finalizou, se jogando meus braços.
Mais gritos e aplausos foram ouvidos.
— Agora me leve daqui e faça amor comigo. — Pediu.
— Não precisa pedir duas vezes.
Recolhemos nossas coisas e corremos para o carro.
Nunca dirigi tão rápido na minha vida.
Quando as portas do elevador se fecharam, Ella pulou
em mim sem aviso, em um reflexo a segurei. Nossas bocas
lutavam para ver quem dominava mais. Quando o apito do
nosso andar soou, Ella desceu do meu colo, mas não
desgrudou sua boca da minha.
Cambaleamos até o nosso quarto, parando somente para
abrir a porta. Assim que ela bateu atrás de nós, Ella deixou
cair o seu vestido. Ela estava totalmente nua. Todo o quarto
sendo iluminado apenas pelas luzes da cidade.
— Você é a coisa mais linda que eu já vi. — Sussurrei
encantado, voltando a beijá-la.
Tirei minha camisa, jogando-a em algum lugar. Caí de
joelhos, deixando minha boca beijar cada centímetro de sua
pele.
— Abra suas pernas para mim. — Ordenei.
Ela soltou um gemido de ansiedade antes de abri-las.
Não esperei nem mais um minuto. Minha boca a encontrou e
eu saboreei o seu gosto doce que eu tanto amava. Suas mãos
agarram meus cabelos e meu nome saía de seus lábios.
Em um rápido movimento me levantei, tirando as roupas
que me sobravam e a puxei para uma das enormes janelas,
colando seu corpo nela.
— Veja. — Apontei para o reflexo. — Veja nosso
reflexo enquanto fazemos amor sob as luzes de Paris.
Minha mão direita enfiou-se no meio de seus cabelos,
segurando-os, enquanto eu me posicionava na sua entrada.
Ella se empinou mais para mim, fazendo-me escorregar para
dentro dela. Ela estava tão molhada. Não contive meu gemido.
As estocadas eram aumentadas a cada gemido e sussurro
que Ella soltava. Nossos corpos unidos brilhavam naquela
janela. Seus olhos tentavam se fechar, mas ela se recusava a
fechá-los e deixar de nos olhar.
— Você é minha. — Rosnei, dando um tapa na sua
bunda, o que a fez gemer mais alto.
— M-mais…
— Você gosta assim? — Sussurrei rouco de prazer em
seu ouvido, depositando outra tapa.
Vi quando seus olhos se reviraram em desejo. Ella se
soltou, virando-se de frente para mim.
— Já chega de olhar para nosso reflexo, quero olhar em
seus olhos.
Logo voltou a me beijar, subindo em meu colo e
entrelaçando suas pernas ao meu redor. Em segundos eu já
estava dentro dela de novo. Suas costas contra a janela. Seus
olhos nunca deixando os meus.
— Você. É. Meu. — Soltou em gemidos.
— Sempre fui, Ma belle. E sempre serei. — Prometi em
silêncio, voltando a beijar seus lábios.
— Eu vou gozar…
— Goze comigo, linda.
Nossos gemidos se misturaram enquanto eu aumentava a
intensidade. Chegamos ao ápice juntos, trocando vários eu te
amo’s desesperados pelo prazer.
Sem a deixar sair do meu colo, a levei para cama que
nos abraçou. Beijando-a apaixonadamente, saí aos poucos de
dentro dela. Me deitei ao seu lado, puxando-a para meu peito.
— Tudo está como deveria ser.
— Então tudo está perfeito.
— Sim. Você não tem mais o que temer, Ella.
— Como assim?
— Recebi uma ligação enquanto você se arrumava hoje
a noite.
Ella se apoiou em seu cotovelo para olhar para mim.
— Sebastian foi preso.
Algo me fez acordar. Me espreguiçando na cama, sorri
ao sentir meu corpo dolorido.
Um barulho vindo do banheiro me deixou confusa.
Atordoada pelo sono, olhei a escuridão para saber que
ainda não havia amanhecido.
Eu não tinha dormido muito.
O barulho se fez novamente e meus olhos se arregalaram
quando tateei o lado direito da cama e vi que estava vazio.
Henri…
Corri para o banheiro imediatamente, sendo parada pelo
choque da cena que vi.
Ele estava debruçado sobre o vaso, enquanto tossia sem
parar.
Mas o que me paralisou foi ver o sangue.
Sangue vermelho e vivo.
Seu olhar cansado e nervoso me alcançou e eu corri até
ele. Meu coração batia tão rápido que eu poderia ter um ataque
a qualquer momento.
— Meu amor, você está bem? O que está acontecendo,
Henri? — Perguntei nervosa, lágrimas molhavam meu rosto.
— Fique calma. — Sua voz saiu em um sussurro.
— Como eu vou ficar calma vendo você assim? —
Gritei. — Eu preciso ligar para emergência!
Peguei seu celular que estava na bancada.
— Eu vou ficar bem… Só preciso esperar passar. Isso já
aconteceu antes. — Tentou me tranquilizar, mas seus olhos
assustados me deixaram em meio ao inferno.
— Pare com isso. — Solucei, me ajoelhando ao seu
lado. — Isso não é normal.
Outra onda de tosse veio, dessa vez ainda mais forte.
Respingos de sangue me atingiram, me transformando em
completo caos.
Meus dedos trêmulos e minha visão embaçada
conseguiram fazer o trabalho de discar os três números.
— Boa noite, qual a sua ocorrência?
— Meu noivo… Ele está tossindo sangue e… — Parei
no meio da frase vendo seu corpo amolecer e ele desmaiar. —
Henri! Amor, ei, fique comigo… Por favor…
— Sua localização, senhora?
— Estamos no Hotel Pullman, quarto 383. — Falei com
a voz embargada.
Meus pulmões se apertaram e o ar faltou, eu estava
tendo um ataque de pânico.
Agora não… Por favor, não.
Mude o foco do pensamento, Ella…
Abracei o corpo de Henri com força e tentei controlar a
respiração.
— Você vai ficar bem, meu amor. Você vai ficar bem…
Os próximos minutos se passaram como um borrão. Era
como estar ali e ao mesmo tempo não estar.
Os paramédicos chegaram e tiraram o corpo desmaiado
de Henri de mim.
Eu não fazia nada além de chorar e rezar… Rezar para
aquele que nos uniu. Eu não poderia perder Henri. Eu não
aguentaria.
Uma das socorristas me auxiliou a vestir meu sobretudo
e me direcionou até a ambulância.
O caminho até o hospital foi rápido, mas para mim foi
lento e torturante.
— Srta. Jones, você terá que ficar aqui. — O médico
anunciou, enquanto levavam Henri para a sala de emergência.
— Eu tenho que ficar com ele… Ele não pode ficar
sozinho. Ele só tem a mim… — Solucei.
— Eu sinto muito, mas são as normas. — Ele me olhou
com um olhar piedoso. — Ele vai ficar bem, Srta. Jones. Eu
prometo.
E simplesmente correu pelos corredores, me deixando
ali sozinha e desamparada.
Isso não podia estar acontecendo…
Ele estava bem… O resultado deu negativo…
Se ele morrer…
Ele não pode morrer. O que eu vou fazer se a minha vida
se for?

Duas horas se passaram e eu continuei no mesmo lugar,


andando pra lá e pra cá. Nenhuma notícia. Eu estava
enlouquecendo.
Meu celular estava sem bateria e eu estava
incomunicável.
Beijei o anel em meu dedo e rezei mais um pouco para
que meu amor voltasse para mim.
Minutos mais tarde, o médico que atendeu Henri
apareceu.
— Como ele está, doutor? — Fui rápida em perguntar.
Seus olhos me olhavam com pena e pura tristeza.
— Diagnosticamos uma Embolia pulmonar. — Prendi
minha respiração. — Os coágulos eram em grande
quantidade, a tomografia mostrou que estavam crescendo
rapidamente. Ele perdeu muito sangue enquanto tossia e
vomitava. Fizemos uma cirurgia de emergência e ele entrou
em parada cardíaca após sofrer uma hemorragia. Conseguimos
controlar. Ele está em repouso agora, mas não achamos que vá
aguentar muito tempo. Eu sinto muito, Srta. Jones. Fizemos
tudo que estava ao nosso alcance.
Minhas pernas falharam na missão de me manter em pé
e caí de joelhos no chão. Tudo ficou em silêncio.
Não, não, não, não.
Henri não.
— Posso levá-la para vê-lo, se quiser.
— Eu quero… — Minha voz era fina.
Ele me levou até o quarto onde Henri estava. Todo o
ambiente estava em luz baixa. Pude ver vários fios ligados a
ele e ainda sim seu rosto era tão bonito.
O médico se retirou, me deixando a sós com ele. Eu
sabia o que isso significava.
Era hora da despedida.
Isso é um pesadelo…
Não pode ser real.
Meu amor não.
Lentamente fui até o seu lado. Seus batimentos estavam
fracos. Eu não conseguia parar de chorar. A dor me rasgava de
dentro para fora.
— Oi, meu amor lindo. — Sussurrei, segurando sua
mão. — Eu não quero acreditar que isso está realmente
acontecendo, H. Ontem foi o melhor dia das nossas vidas.
Como isso mudou tão rápido? O que eu vou fazer sem você?
— Meu choro era desesperado.
Senti sua mão apertar a minha e seus olhos abrirem
devagar.
— Ma belle… — Sua voz estava fraca e rouca. — Me
perdoe…
— Shhh! Você não pode se esforçar.
— Me perdoe, me perdoe por favor. — Ele estava
chorando. — Eu não quero te deixar sozinha. Eu não quero te
deixar…
— Hey, acalme-se, por favor. Não se esforce. Meu
Deus… — Sua mão subiu lentamente para secar minhas
lágrimas.
— Eu preciso que você seja forte, Ella. Mais do que já
é. Prometa para mim que você vai se cuidar e cuidar da
Annie. Não a deixe sozinha. Prometa que vocês serão felizes.
Eu te amo tanto…
— Eu prometo…
Ele sorriu. Um sorriso triste, mas lindo.
— Minha garota linda. Obrigada por me fazer o homem
mais feliz. Eu te amei por todos esses anos e te amarei para
sempre. Eu só queria ter mais tempo… Nós merecíamos isso…
Eu queria acordar todos os dias ao seu lado, escutar seus
gemidos ao comer ou beber algo que gosta… Eu queria ver
você caminhar até mim vestida de branco… Eu queria nossa
casa cheia com nossos filhos lindos… Eu falhei, Ella e eu
sinto muito.
— Você não falhou, meu amor. Pare de dizer isso. O
destino queria que você me encontrasse e você o fez. Você me
encontrou, me salvou, me amou e me fez a mulher mais feliz
do mundo. Seu dever aqui foi cumprido. — Solucei alto. — E
eu queria tudo isso. Queria acordar todos os dias com você,
queria nossos bebês lindos, eu queria a Annie com a gente,
como nossa filha, eu queria cozinhar com você abraçado
comigo, eu queria te ver lindo no altar me esperando, eu
queria… — Não consegui falar. — Eu queria te ver sendo o
atrapalhado que é, sempre trombando nas coisas, eu queria
tudo com você, Henri. Eu queria… — Fui interrompida
quando percebi seu aperto diminuindo.
Ele estava me deixando.
— Henri! — O chamei desesperada. — Por favor, não
me deixe. Meu amor…
Ele me puxou para perto e eu juntei nossos lábios em um
beijo suave. Seus olhos me fitavam, sorrindo fraco. Uma
pesada e solitária lágrima escorreu pelo seu rosto uma última
vez.
— Eu te amo. — Sussurrou antes de fechar seus lindos
olhos verdes para sempre.
O som do monitor de batimentos cardíacos me deixou
surda.
Meu amor não….
Isso não podia estar acontecendo.
Isso não é real. Eu preciso acordar… Eu preciso…
Então tudo escureceu.

A claridade que ultrapassava as grandes janelas do


quarto me fez acordar.
Tentei me levantar em pânico, a dor rasgava em meu
peito e as lágrimas caíram imediatamente. Mas fui impedida
por braços enormes que me seguravam com força como se eu
fosse fugir.
Olhei de relance para ver Henri em um sono profundo.
Seus traços eram tranquilos e o ressonar baixo que saía dos
seus lábios era doce. Ele estava em paz.
Foi um pesadelo?
Meu Deus!
Chorei ainda mais de alívio.
Foi um pesadelo. Um maldito pesadelo.
Olhar para o anel de diamantes na minha mão direita fez
tudo aquilo se concretizar e o vestígio de medo ir embora.
Ele estava vivo e eu estava noiva do amor da minha
vida. Do homem que me inspira todos os dias a ser forte e
principalmente, ser uma pessoa melhor. Do homem que se
tornou a minha pessoa no mundo e que me tinha como sua a
muitos anos.
E que estava aqui, do meu lado.
Virei-me de frente para ele, colando ainda mais nossos
corpos e continuei olhando para seu rosto lindo. Minhas mãos
foram em direção aos seus cabelos e se demoraram ali.
Borboletas voavam eufóricas em meu estômago enquanto eu
me lembrava de todos os detalhes de ontem, tentando
substituir as cenas aterrorizantes e dolorosas do pesadelo. Eu
estava tão aliviada.
Ele está vivo.
Pela primeira vez, minha realidade era a moradia da
felicidade e experimentar isso com Henri era ainda melhor.
Eu sabia que teríamos dificuldades pela frente. Mesmo
Sebastian estando preso, o que fez grande parte do meu alívio,
ainda havia Melanie. Mas duvido que ela seria burra o
suficiente para nos atormentar.
Eu podia finalmente respirar aliviada e em paz.
Um gemido fraco saiu dos lábios do meu homem e eu
sorri.
— Se sua intenção era me acordar com o seu cafuné,
tenha em mente que me manterá dormindo.
Como era bom ouvir sua voz.
— Desculpa. — Sorri em meio às lágrimas. — Eu
acordei com a claridade.
Ele abriu um olho e o fechou rapidamente quando os
raios de sol o atingiram.
— Merda. — Resmungou. — Me desculpe. Eu teria
fechado as janelas, mas se me lembro bem você não me
deixou sair da cama até estarmos os dois desmaiados de
exaustão.
— Assumo a culpa. — Comentei, levantando as mãos
em rendição.
— Ei, traga suas mãos de volta para cá. — Reclamou
pela falta de contato com seus cabelos.
— Você é uma criança reclamona. — Provoquei.
— O que você disse? — Seus grandes olhos verdes
agora estavam bem abertos. Seu semblante ficou sério e
preocupado ao me ver chorando. — O que aconteceu?
— Nada… Apenas estou feliz em poder acordar ao seu
lado, e principalmente, por tudo que está acontecendo,
reclamão. — Sorri. Eu não queria pesar o clima com meu
pesadelo. Joguei-o fora da minha mente, eu precisava viver a
realidade e não ficar presa a um sonho terrível.
— Eu amo acordar com você ao meu lado, minha garota
linda. Mas, amo mais ainda estar dentro de você logo cedo.
O sorriso malicioso que nasceu em seus lábios me fez
contorcer.
Gritei quando ele veio para cima e corri para o banheiro.
Suas mãos alcançaram a porta antes que eu conseguisse fechá-
la.
O cômodo se tornava impossivelmente pequeno para o
seu tamanho.
Ele estava nu e sua ereção matinal me fez perder o foco,
quando menos esperei, eu já estava em cima da bancada com
ele entre minhas pernas.
— O reclamão está com fome, deixe-me tomar meu café
da manhã. — Ele entrou em mim de uma só vez, fazendo-me
arfar.
— Deveríamos tomar café da manhã assim todos os
dias. — Gemi em seu ouvido.
— Eu posso realizar o seu desejo.
Suas investidas eram lentas, mas intensas. Estávamos
apenas começando e meus olhos já reviravam.
Sua boca se distanciou da minha e desceu para o meu
pescoço, mordiscando-o. Suas mãos acariciavam todo o meu
corpo, mas quando elas pararam em meu ponto sensível,
massageando-o, o orgasmo me atingiu em cheio. Forte e
intenso. Fazendo-me esquecer de tudo ao meu redor, mas
lembrando-me do principal, ele estava aqui e vivo.
— Eu te amo, linda. — Gemeu rouco, aumentando a sua
velocidade.
Seus olhos se fecharam, indicando que ele estava quase
lá.
— Porra. Eu amo você, eu amo estar dentro de você.
— Eu te amo tanto.
Eu estava tão encantada com a sua voz rouca que me
surpreendi ao sentir a pressão novamente em meu ventre.
— Não pare. — Supliquei.
— Não vou.

— Sorria, Ma belle.
— Henri, você já tirou milhões de fotos minhas.
— Tirarei mais algumas.
Me aproximei, dando-lhe um selinho demorado para que
no fim eu pudesse roubar sua câmera.
Após passarmos a manhã tomando “café”, esperamos até
depois do almoço para podermos caminhar pelas ruas de Paris.
— Ei, volte aqui.
— Não, vou pedir para alguém tirar uma foto nossa.
— Estou tendo um deja-vu do dia que te conheci. — Ele
sorriu.
— É o destino. — Devolvi o sorriso.
Caminhei até um senhor que estava nas proximidades.
— Bon après-midi monsieur. — Cumprimentei. —
Pourrais-tu prendre une phot… — Minha voz se perdeu
quando o homem se virou para mim, me dando pela primeira
vez o vislumbre de seu rosto. — Papai…
Vi quando seus olhos se arregalaram em surpresa.
— Excusez moi mademoiselle. Ce ne sera pas possible.
— Recusou nervoso.
— Ella! Está tudo bem, querida? — Henri perguntou
atrás de mim.
— E-está sim, meu amor. — Me virei para respondê-lo e
quando voltei para a frente meu pai havia sumido.
Ele não me reconheceu? Impossível! Eu vi o pânico em
seus olhos.
— Querida, você está pálida. Aquele homem te disse
alguma coisa?
— Aquele homem era meu pai, Henri. — Engoli em
seco. — E ele acabou de fingir que não me reconheceu.
— Merda! Eu sinto muito, Ella. Eu estava tão cego pela
minha vontade de te trazer de volta ao seu lar e onde eu me
apaixonei por você, que esqueci o quanto esse mesmo lugar
poderia te machucar.
— Não se culpe, sua intenção foi perfeita. Eu não me
arrependo de nada. E hora ou outra eu o veria. O mundo pode
parecer grande, mas ele não é. Eu estou bem. Ele não fez falta
todos esses anos. Nunca esteve presente. As aparências sempre
importaram mais para ele do que o real sentimento. Eu só
esperava que quando o visse, pelo menos veria um pingo de
arrependimento em seus olhos. Mas não encontrei.
— Vamos, sei de uma coisa que vai te alegrar.
— O que? — Perguntei curiosa.
— Dividir um milkshake. — Sorriu alegre.
— Quantos anos você tem? — Gargalhei. — Vamos!
Corremos de mãos dadas até uma sorveteria próxima.
— Quero recompensar tudo o que Sebastian te impediu
de vivenciar. — Seus olhos brilhavam. — Então, minha noiva,
aceita ter um dia de romance adolescente?
— Aceito, meu noivo. — Meu sorriso era radiante. —
Obrigada. — Agradeci, dando-lhe um selinho.
Fomos até o balcão e pedimos um milkshake de
baunilha com dois canudos. A atendente nos olhou estranho e
foi fazer nosso pedido.
Henri me direcionou até uma mesa para dois, puxando a
cadeira para mim como sempre fazia.
— Eu estive pensando, precisamos jantar com a sua mãe
no domingo, mas não quero encerrar nossas férias.
— E então?
— Eu tenho uma casa na praia em Malibu. Poderíamos
passar o final de semana lá. Nós dois, sua mãe e Jacob.
— Uma viagem de casais?
— Sim. Estaríamos de férias e ainda assim jantaríamos
com a sua mãe. O que você acha?
— Eu acho perfeito. Estou mesmo precisando pegar um
sol. E acho que o clima praiano é tudo que precisamos. Vai ser
ótimo estar lá com você.
— Que bom. Vou ligar para prepararem a casa assim que
voltarmos para o hotel.
A garçonete chegou com o nosso pedido, ainda nos
olhando estranho.
— Você quer dizer alguma coisa? — Henri perguntou.
— Não me leve a mal, é só estranho ver um casal
dividindo um milkshake. Hoje em dia preferem dividir outras
coisas…
— Somos um casal romântico à moda antiga. Fiz até
uma serenata para ela.
— Sério? — Ela estava surpresa e me segurei para não
rir. — Que lindo! Continuem assim, felicidades.
— Obrigada! — Agradeci, sorrindo.
Ela se retirou e eu voltei para Henri.
— Então você me fez uma serenata?
— Eu cantei para você em cima de um palco no karaokê,
dá no mesmo.
— Vou deixar passar. — Tomamos um pouco do
milkshake. — Henri…
— Sim?
— Posso falar sobre algo maluco?
Ele sorriu.
— Você sabe que pode.
— O que vai acontecer com a Annie ao passar dos anos
na Instituição?
— A instituição dará o suporte até que ela esteja curada.
Quando isso acontecer, ela voltará para o orfanato de onde
veio. Se o tratamento durar até ela completar 18, ela poderá
escolher o seu caminho a partir daí.
— Você vai mesmo deixá-la voltar?
— Eu não quero isso, Ella. Mas são as normas.
— E você nunca pensou em… Adotá-la?
Ele se engasgou.
— Várias vezes. Mas…
— Mas…
— Mas eu não sei se é isso que ela quer.
— Meu Deus do céu. Você é burro? — Seus olhos se
arregalaram. — É você por ela e ela por você durante todos
esses anos. Annie é sua melhor amiga e você é o dela. E eu
tenho certeza que você ouviu o que eu ouvi durante o vídeo
que vocês gravaram para mim. Ela nos quer.
— Você a quer também? — Vi um brilho diferente no
seu olhar.
— Eu a quis desde que pus meus olhos nela. — Sorri
sincera.
— Você está falando sério?
— Muito sério.
— Ella…
— Eu quero, Henri. Quero isso. Nós, ela. Nossos filhos.
Eu quero tudo. Quero acordar todos os dias ao seu lado, te ver
esbarrando em tudo, cozinhar abraçados… — Após o sonho
percebi que eu deveria dizer tudo o que eu queria e sentia. Não
podia deixar escapar a sorte de ter sido somente um pesadelo.
— Eu quero tudo isso. Acordar ao seu lado, escutar seus
gemidos ao comer e beber algo que gosta, quero te ver de
branco desfilando até mim no altar. Quero encher nossa casa
com nossos filhos. Quero você para sempre.
Lágrimas desceram sem eu querer. Ele havia dito isso no
sonho.
— Espero que sejam lágrimas de felicidade. — Riu.
— Sim, são. — Sorri. — Henri, mais uma coisa.
— Pode falar quantas coisas quiser, querida.
— Se o exame deu negativo, por que você ainda teve
sintomas? Você não acha que pode ser alguma coisa?
— Sim, e é por isso que já marquei outra bateria de
exames para quando retornamos a Los Angeles. — Me
tranquilizou. — Fique tranquila, Ella. Não vou ignorar isso
dessa vez.
— Eu sei que não vai.
— Termine nosso milkshake, linda. Quero andar de roda
gigante e te beijar quando parar lá no alto.
— Minha bebê vai se casar. — Mamãe berrou com os
olhos cheios de lágrimas assim que entrei em sua casa.
Ela havia me ligado ontem após receber uma foto do
meu anel, aproveitamos o atraso do voo para contar as
novidades.
— Oi, mamãe. — Seus braços me envolveram em um
abraço apertado.
Henri e eu chegamos de viagem à noite, dormi a maior
parte da manhã pelo cansaço e ele se levantou mais cedo para
ir ao hospital fazer os exames. O que me deixou mais
tranquila. Combinamos de nos encontrar aqui para seguirmos
viagem para a casa da praia.
— Deixe-me ver isso de perto. — Pegou minha mão
direita, aproximando de seus olhos. — Uh, ele é realmente
lindo. Isso está mesmo acontecendo, minha bebê.
— Sim. — As lágrimas também chegaram para mim.
— Venha, acabei de fazer um chá. Você está um poço de
emoções.
A segui até a cozinha. Caixas estavam por todo o
cômodo.
— O que é tudo isso?
— Apenas o básico para sobrevivermos na praia.
— Mamãe, você sabe que lá terá tudo que precisarmos,
não sabe? — Ri um pouco.
— Melhor prevenir do que remediar, Ella. —
Respondeu, me servindo o chá. — Agora, vamos ao que
interessa. Me conte tudo do início novamente. Ainda não
acredito que te deixei em casa com um pedido de
reconciliação e você me volta noiva.

— Eu consigo imaginar tudo. — Suspirou encantada.


— Você merece tanto isso, filha. Seus olhos brilhando
enquanto me conta. Meu coração parece que vai explodir a
qualquer instante desde quando me contou. Eu esperei tanto
por esse momento, te ver assim, leve e completamente feliz.
Minha pequena Ella se transformou nessa grande mulher que
vai se casar. Para mim é como se eu te segurasse pela primeira
vez em meus braços ontem. Tão pequena e frágil, mas cheia de
vida. Minha menina. — Ela veio até mim, me abraçando
fortemente. — O destino realmente fez um belo trabalho.
Vocês dois pertencem um ao outro.
— Eu estou feliz, mamãe. De verdade. Vou me casar
com o amor da minha vida.
— Será a noiva mais linda desse mundo.
— Eu também acho. — Henri surgiu atrás de nós, junto
com Jacob. — Bom te rever, Helena. — Sorriu, abraçando
minha mãe, logo em seguida me dando um selinho. — Oi,
meu amor.
— Oi, querido. — Sussurrei contra seus lábios. — Olá,
Jacob.
— Olá, Ella. Você está radiante. Meus parabéns.
— Ela não está? Amor o nome disso. — Mamãe
comentou, indo até Jacob e o abraçando. Depois voltou para
Henri. — Você é ainda mais bonito de dia, rapaz. O que são
esses olhos?
— Obrigado. — Sorriu envergonhado e eu apertei suas
bochechas.
— Eu preciso te agradecer por trazer a felicidade para a
vida da minha menina de novo.
— Eu que agradeço por ter colocado o meu amor no
mundo.
Minhas bochechas esquentaram.
— Acho que já chega de momento meloso. É hora de
pegar a estrada. — Falei, empurrando-os para fora da cozinha.
— Ei, eu preciso dessas caixas. — Mamãe reclamou.
— Boa sorte com isso, Jacob. — Comentei, indo para a
entrada.
Fui até o meu carro para pegar minha mala e levá-la para
o carro de Henri. Iríamos juntos no seu carro e mamãe iria
com Jacob no dele.
— Pronta para ir, Ma belle? — Perguntou, fechando a
mala do carro.
— Sim.
Após colocar todas as caixas de mamãe na mala, Jacob
entrou no carro, buzinando para avisar que estavam prontos
também.
Henri foi na frente para liderar o caminho.
Duas horas de viagem aí vamos nós.

A viagem foi bastante tranquila. Preenchemos o carro


com conversas e declarações. Estávamos convictos e ansiosos
para a adoção de Annie.
Aos poucos a ficha ia caindo. Estávamos criando a
nossa família.
A casa de praia dos Hayes estava mais para mansão. Eu
sabia que Henri tinha muito dinheiro. Mas ainda me chocava
com a beleza de suas propriedades. Desde a sua casa principal,
a cabana de Anne e agora essa.
— Uau. Ela é grande. — Mamãe comentou.
— Sim, ela é. Minha mãe sempre quis casas grandes.
Ela dizia que um dia veria cada uma delas repletas com seus
netos correndo por toda parte. — Sorriu triste.
Mamãe me encarou e eu assenti.
— Tenho certeza que ela verá nossos filhos correndo em
todas elas lá de cima, querido. — Sussurrei em seu ouvido.
— Ela verá. — Sorriu, me beijando. — Vamos entrar.
Vou mostrar tudo para vocês.
Henri nos mostrou cômodo por cômodo. Havia cerca de
8 quartos, quatro no andar de baixo e mais quatro no de cima.
Sala de TV, sala de jantar, cozinha, banheiros por toda parte.
Realmente o pessoal preparou tudo para a nossa chegada. Toda
a casa estava arejada e limpa, a dispensa e geladeira
abastecidas.
O nosso quarto era o último no fim do corredor do
segundo andar e tinha uma vista belíssima da praia.
Desfizemos nossas malas e nos trocamos para aproveitar o
resto da tarde.
— Você de biquíni é a minha morte. — Sussurrou, me
puxando para si.
— Controle-se, garotão. Estamos em família. —
Provoquei-o, apertando sua bunda.
— Ella…
— Sim?
— Não me provoque.
— Eu não fiz nada. — Pisquei meus olhos em inocência
e vesti a saída de banho.
Descemos juntos e sorri ao ver minha mãe e Jacob
deitados na areia.
— Quer mergulhar? — Perguntei.
— Em você? Sempre. — Respondeu malicioso.
— Você é um safado. — O empurrei, rindo.
— Só com você. — Me puxou, beijando a ponta do meu
nariz.
Ficando só de biquíni, corri com ele até o mar, deixando
a água nos engolir. Seus braços envolveram minha cintura
assim que emergimos sobre a superfície. O encarei encantada,
apreciando a beleza dos seus olhos verdes em contraste com a
luz do sol e o azul do mar.
— Você é lindo. — Sussurrei sem nunca tirar meus
olhos dos seus.
— E você é perfeita. — Comentou antes de me abraçar
forte e mergulhar.
Brincamos como duas crianças na praia, alimentando
nosso amor e cumplicidade. Além de meu amante, Henri era
meu melhor amigo. A minha casa. E tudo se tornava perfeito
quando estávamos juntos.
De volta ao deck, uma bela fogueira já estava acesa. Nos
sentamos ali e Henri me abraçou, nos cobrindo com um
cobertor.
A conversa fluiu e se guiou desde a nossa viagem a
Paris, até coisas vergonhosas da infância. Mamãe estava se
divertindo em me matar de vergonha e Henri estava amando
saber de tudo. Dois fofoqueiros.
Ficamos em silêncio para apreciar o sol se despedindo.
Quando a noite caiu, Henri se voluntariou para fazer o
jantar e mamãe o seguiu para ajudar. Continuei no deck
bebericando meu vinho, junto com Jacob.
— Sabe, Ella. Estou realmente feliz em estar aqui hoje
com todos vocês. Eu amo sua mãe e tenho Henri como um
filho. Você veio como um grande bônus e meu carinho e
admiração por você é gigante. Nos vejo como uma família.
— É recíproco, Jacob. Precisa saber disso, mamãe e eu
já sofremos demais e é realmente bom o que está nos
acontecendo hoje.
— Esqueci de dar minhas felicitações mais cedo. Meus
parabéns, tenho certeza que vocês dois serão muito felizes.
Aquele cara é louco por você e fará de tudo por esse amor.
Sem dúvidas, ele cuidará de você. Conversamos muito na
noite que tudo aconteceu. A única vez que eu o tinha visto
perdido daquele jeito foi quando sua mãe se foi. Acho que ele
não aguentaria te perder.
— Obrigada, Jacob. Eu também sou louca por ele. Henri
se tornou a minha vida. Farei de tudo por nós e sempre o
protegerei. E que bom que estamos a sós, queria confessar
uma coisa.
— Pode sempre conversar comigo, Ella.
— Em Paris, eu tive um pesadelo horrível. Eu o
encontrei no banheiro tossindo muito sangue. Íamos para o
hospital com ele desmaiado, tinha uma cirurgia que demorava
horrores e então o médico voltava dizendo que tinham
diagnosticado uma embolia pulmonar e no meio da cirurgia ele
tinha uma parada cardíaca por conta de uma hemorragia que
foi contida, mas ele não aguentaria muito, eu tive a chance de
me despedir dele e foi a coisa mais horrível que vivenciei. Ele
morrendo bem na minha frente. Nunca senti dor maior. Eu não
contei sobre o sonho para ele, não queria assustá-lo e não
queria mais lembrar daquela dor infernal. Mas o chamei
atenção pelo fato de mesmo o teste dos exames negativarem o
câncer, ele ainda ter sintomas.
— Eu compreendo o seu medo e sua preocupação, mas
não deixe esse pesadelo te abalar. Fizemos uma bateria de
exames hoje cedo, os resultados que obtivemos hoje
mostraram que tudo estava normal. Esperaremos os outros.
Tenho certeza que será apenas uma infecção causada por
alguma bactéria ou vírus. Tudo ficará bem, Ella. Ele está em
ótimas mãos.
— Eu sei disso. — Fiquei mais tranquila. — Mais uma
coisa, como minha pequena Annie está?
— A garotinha é dura na batalha. Se tudo ocorrer bem,
mais tarde terei ótimas notícias. Ela irá sair dessa. Eu tenho fé.
— Como é bom ouvir isso.
Escutamos boas gargalhadas vindas de dentro.
— Acho melhor vermos o que está acontecendo. —
Sugeri.
— Vamos lá.
A torneira havia espirrado água em Henri e agora ele
estava todo molhado.
— Tinha que ser alguma coisa com você. — Gargalhei,
indo ajudar ele a se secar.
— Não tenho culpa da torneira me querer molhado.
— Aham. Vem, vamos trocar essa camisa.
Subimos para o quarto e me sentei na cama para esperá-
lo trocar de roupa.
Mas quando sua camisa se foi, mordi meus lábios
reprimindo meu desejo. Eu o desejava de maneira absurda.
— Pare de me olhar assim.
— Por que?
— Porque eu não vou me conter e sua mãe e Jacob estão
lá embaixo esperando o jantar que sai em 15 minutos.
— 15 minutos?
— De tudo que eu falei, você só escutou isso?
— Tenho certeza que você pode ser produtivo em 10
minutos.
— Ella…
— Henri… — Ele olhou para a porta. — Eu tranquei.
Me levantei, indo até ele, que não demorou em me
beijar.
— Precisamos ser rápidos e silenciosos. — Anunciou,
levantando meu vestido. — Principalmente você. — Seus
dedos afastaram minha calcinha para o lado e me acariciaram,
me beijando rapidamente em seguida para engolir meu
gemido. — Sempre pronta para mim. — Gemeu baixo. — O
banheiro abafa o som. Vamos.
Tropeçamos até lá em uma bagunça de beijos, roupas
tiradas e mãos bobas.
Quando a porta se fechou atrás de mim, Henri me virou
de frente para a bancada, debruçando-me sobre ela, ficando
por trás. Sua mão esquerda se fechou em meus cabelos me
fazendo inclinar ainda mais para ele. Beijando o meu pescoço,
o senti entrar em mim lentamente.
— Porra… — Sussurrou em meu ouvido.
A entrada foi lenta, mas as estocadas estavam longe
disso. Minhas mãos se apoiaram no espelho para aguentar o
impacto dos nossos corpos. Tive que rezar a Deus para não
gemer alto. Estava quase impossível me segurar. Ele me
preenchia tão perfeitamente. A adrenalina estava me levando
às alturas. Não podíamos prolongar tanto.
Permiti olhar nosso reflexo no espelho e sorri ao me ver
descabelada e com o prazer estampado em meu rosto. Parecia
uma deusa do sexo. A forma como a sua boca se abria e seus
olhos reviravam eram a coisa mais sexy que já tinha visto.
Quando Henri acertou o ponto sensível dentro de mim,
nós dois sentimos que eu estava prestes a explodir.
— Henri…
Sua mão direita voou para minha boca, abafando o
gemido, enquanto ele ia mais rápido.
— Goze comigo, meu amor.
Em segundos explodimos em um clímax perfeito.
— Eu te amo. — Sussurrou ofegante.
— Não me canso de ouvir isso. Eu também te amo. —
Sussurrei de volta.
Uma batida na porta do quarto nos fez pular de susto.
— Meu Deus!
— O jantar está pronto, crianças. Vistam-se e desçam.
— Estamos indo, mãe. — Gritei, tentando manter a voz
normal e não parecer que estava fazendo coisa errada.
— Bem a tempo. — Riu, beijando meus cabelos, me
ajudando a colocar o vestido.
— Da próxima vez, seja mais convincente sobre não
transarmos quando minha mãe estiver por perto. — Falei
rápido, ainda me recuperando do susto.
— Ei, você quem começou. — Apontou.
— Cale-se e vista-se. Te encontro lá embaixo.

Quando Henri finalmente desceu, começamos o jantar


de uma forma constrangedora.
Mamãe dividia seu olhar entre mim e ele e nós dois
permanecemos calados. Uma súbita vontade de rir me atingiu
e eu me segurei. Mas, quando olhei para ele de relance e o vi
prender a risada também, desmoronei. O que o fez rir no
mesmo instante.
— Desculpa. — Falei quando o ataque de riso cessou.
Mas foi só olhar para Henri de novo que comecei a mais
uma vez.
— Para.
— Mas eu não estou fazendo nada.
— Alguém quer explicar o que está acontecendo? —
Jacob parecia achar graça.
— Também gostaria de saber.
— Não é nada.
— Só estamos felizes.
— É, isso.
— E queremos anunciar uma coisa.
— Queremos?
— Sim, queremos.
— Ella, você está grávida? — Mamãe perguntou
nervosa.
— Não. — Fui rápida em falar.
— Ainda não. — Henri corrigiu e o rosto da minha mãe
empalideceu.
— Henri… — O repreendi, rindo. Eu já sabia sobre o
que ele queria falar. — O que ele está querendo dizer é que, se
tudo der certo, nossa família irá crescer.
— Eu não estou entendendo. Esse alarme todo é sobre
adotar um animal? Ella, você já tem a Maggie.
Sorri ao lembrar da minha gatinha que estava com
Rosie.
— Não é sobre um animal, mamãe.
— Demos entrada no processo de adoção da Annie. —
Henri finalmente falou, segurando minha mão e sorrimos um
para o outro.
Olhamos apreensivos para os dois rostos surpresos que
nos encaravam em silêncio.
— Antes de tudo, Annie já faz parte da minha vida há
muito tempo. Sou a pessoa mais próxima de um familiar que
ela tem. E eu não aguentaria deixá-la partir com outra família.
Sem contar que minha mãe não permitiria, tenho certeza que é
isso que ela iria querer. Annie é minha menina e agora da Ella
também. Pode parecer cedo, mas temos certeza do que
queremos e o que queremos é Annie conosco. Na nossa
família.
— Isso é maravilhoso. — Jacob falou um pouco alto
demais e gargalhou. — Meu Deus, que notícia maravilhosa.
Eu tenho certeza que o lugar dela é com vocês. Ela já sabe?
— Ainda não. Não queremos dar falsas esperanças.
Quando o processo estiver finalizado, contaremos. Faremos
uma surpresa. — Respondi, sorrindo.
Mamãe ainda nos olhava em silêncio.
— Mamãe? Você está chateada?
— Por que eu estaria chateada com o fato da minha
única filha estar criando a sua própria família? Eu estou muito
emocionada e orgulhosa de você, Ella. Vocês irão formar uma
linda família e estarei aqui para ajudar em tudo que
precisarem.
— Eu também. — Jacob concordou, sorrindo.
— Agradecemos por isso. Não será fácil, mas iremos
fazer tudo com amor.
— E sobre o casamento, já decidiram a data e o local?
— Bem, ainda é cedo, mas já decidimos a data e o local
sim. — Henri sorriu para mim.
— E então?
— Será surpresa. —Riu.
— Sério isso? — Reclamou emburrada.
— Sim, dona Helena. Vai ter que aguentar a curiosidade.
— Sé o que querem.
— Acho que é hora do brinde. — Jacob anunciou.
— Com toda certeza.
Unimos nossas taças em um brinde.
— À nossa família que está crescendo.
— À Ella e Henri. E a todos nós, que sejamos sempre
unidos e felizes.
O celular de Jacob tocou e ele levantou-se, pedindo
licença.
Continuamos jantando com mamãe tentando descobrir
alguma coisa sobre o casamento.
— Não vou te dizer nada. — Ri quando ela tentou me
perguntar mais uma vez.
— Droga, Ella. — Reclamou, voltando-se para Henri.
— Nem olhe para mim.
Jacob voltou instantes depois radiante.
— Tenho a melhor notícia de todos os tempos.
— O que? Conta!
— Acho que estávamos todos conectados de alguma
forma. O pessoal do tratamento experimental acabou de me
ligar. 100% eficaz. Nossa garota está livre. Annie venceu o
câncer.
— Precisamos regrar nossa alimentação ou em meses
estaremos iguais uma bola. — Henri comentou, rindo.
Acabamos de almoçar sua deliciosa lasanha e estávamos
voltando para a empresa.
— Obrigada por lembrar. Não comprarei mais o
cheesecake de morango que estava planejando comer na sua
sala. — Pisquei.
Ele me olhou estranho.
— O que?
— Você odeia cheesecake.
— Mudei de opinião.
— Ok, então. Mas não mude de ideia sobre ir à minha
sala. — Piscou de volta. — Merda. Já estava esquecido.
Temos audiência hoje.
— Ai meu Deus, é hoje a decisão final? — Perguntei
nervosa.
— Sim. — Me encarou sério. — Vai dar tudo certo. —
Prometeu.
— Vai sim. — Sorri.
A viagem de volta foi rápida.
Henri me levou até a minha sala como de costume e se
despediu com um beijo demorado.
Me sentei na cadeira e meus olhos se encheram de
lágrimas. Estava muito emotiva ultimamente. Esses últimos
meses passaram como uma tortura.
O tratamento de Henri para a sua infecção pulmonar que
levou semanas por dificuldade na resposta do medicamento.
Todo o processo de adoção da Annie estava se arrastando, mas
hoje, finalmente, teríamos a resposta.
Eu só desejava que fosse a resposta que tanto
desejávamos e que Annie pudesse ir para casa conosco.
Casa.
Ainda nem acredito que Henri e eu estamos morando
juntos.
No meio de uma noite aleatória, estávamos nós dois
dormindo em sua cama quando ele me acordou, dizendo:
“Amanhã iremos pegar suas coisas, você vai morar comigo.”
Não tinha o que discutir, a decisão final seria a mesma.
Iríamos morar juntos mais cedo ou mais tarde. Ele só
adiantou o processo.
Está sendo um sonho conviver com ele. Aprendemos
ainda mais um sobre o outro e principalmente, a lidar com
nossos defeitos.
Maggie se adaptou muito bem ao gigantesco espaço da
casa nova. E principalmente ao novo papai. Henri a tratava
como um bebê, o que era a coisa mais linda. O peguei várias
vezes dormindo no sofá com ela em seu peito.
O toque do meu telefone me tirou dos pensamentos.
Número desconhecido.
Fiquei apreensiva no começo, mas resolvi atender.
— Alô?
— Ella?
O que ela queria?
— O que você quer, Melanie? E como conseguiu meu
número?
— Por favor, me escute.
— Me dê um bom motivo para não desligar agora.
— Eu só peço que me escute. Podemos conversar
pessoalmente?
O que ela estava aprontando dessa vez? A raiva e a
curiosidade entraram em conflito. Sua voz estava desesperada.
— Tudo bem. Mas terá que ser aqui na empresa, na
minha sala. Vou liberar sua entrada. Não faça eu me
arrepender.
— Não vou. — Finalizou a ligação.
Caminhei até a sala de descanso e peguei um chá. Iria
precisar.
Mandei uma mensagem para Henri avisando sobre
Melanie. Ele não respondeu de imediato, eu sabia que ele
estava em uma reunião.
O telefone tocou assim que voltei para a minha sala.
— Ella. Melanie está aqui. Quer que eu chame os
seguranças?
— Não. Pode deixar entrar.
Minutos depois a loira entrou pela porta. Estava
totalmente diferente do dia em que a expulsei, seu rosto estava
magro e apático e ela carregava uma mala.
— Serei rápida. — Anunciou, sentando-se na cadeira à
minha frente.
— Ok.
— Primeiro de tudo, peço desculpas por todo o
transtorno que causei a você e a Henri. — Seus olhos se
encheram. — Eu… Estava com uns problemas financeiros
quando ele me encontrou.
— Ele?
— Sebastian.
O choque atravessou meu corpo.
— Eu não sei como, mas ele sabia da minha ligação com
o Henri no passado e me ofereceu dinheiro… Muito dinheiro
para acabar com o relacionamento de vocês. Era muita grana e
eu estava desesperada. Ele me obrigou a ter relações com ele
para que eu engravidasse. O plano era seduzir Henri no dia
que vim aqui e dopá-lo. Então iríamos para outro lugar, ele
apagaria por completo e eu o faria pensar que transamos. Eu
sumiria e reapareceria “grávida” dele. Você não o perdoaria e
era a chance de Sebastian tê-la de volta. Mas tudo deu errado,
Henri não facilitou nem por um segundo e você entrou na sala.
— Melanie, isso que você está me dizendo é muito
grave…
— Deixe-me terminar. Ele planejou coisas horríveis,
Ella. Ele tentou entrar aqui para matar Henri, mas descobriu
que vocês estavam viajando, então descontou tudo em mim.
Me encontraram em um beco escuro, desacordada e toda
machucada. O desgraçado havia usado luvas e apagou seus
rastros do local e de mim. Mas o que ele não sabia era que eu
tinha várias gravações em meu celular.
— Meu Deus…
— Eu o denunciei, as minhas provas já eram o suficiente
para prendê-lo, mas quando cavaram, descobriram sobre você.
Ele entrou ilegalmente no país e não respeitou a medida
protetiva, além de te atacar em um evento privado. Ele foi
deportado e está preso na França. Não acho que ele será mais
um problema, Ella. Você está livre agora… E eu também.
— Você mencionou uma gravidez.
— Eu perdi o meu bebê quando ele me atacou. Foi a
primeira notícia que me deram quando eu acordei no hospital.
— A dor estampada em seu rosto me fez chorar.
Independentemente de tudo que ela tenha feito, Melanie
era humana, errou e teve as consequências. Além disso,
também era uma mulher desesperada… E que perdeu um
filho…
Levantando-me, fui até ela e me abaixei na sua frente.
— Obrigada por me contar. — Sussurrei.
— Eu sei que errei e nada irá apagar o que eu fiz tanto
com Henri anos atrás, como recentemente com vocês. Eu
nunca irei me perdoar por isso. Me desculpa.
— Melanie… Se perdoe. Por mais que não possa apagar
o que fez, você está aqui assumindo seu erro e se redimindo.
Não podemos viver com esse ódio e rancor dentro de nós.
Nem eu, nem Henri, nem você. O que aconteceu antes, não
podemos mudar. Mas o que vai acontecer daqui para frente,
podemos escolher. E eu escolho perdoar você. Eu espero que
você consiga fazer isso consigo mesma. — Sorri fraco para
ela.
Acho que foi a decisão certa a se fazer, porque um peso
enorme saiu de minhas costas. O ódio e o rancor nunca irão
fazer bem para ninguém.
— Obrigada por isso, Ella. De verdade. Eu estou
partindo para Boston, irei morar com minha tia. Ficarei longe
daqui e de vocês. Eu nunca o mereci. Henri sempre mereceu
alguém que o amasse na mesma intensidade absurda que ele
sente as coisas. E sempre existiu você. No fundo, eu torcia
para que ele te encontrasse e fosse verdadeiramente feliz. Mais
uma vez obrigada por me escutar.
Levantamos juntas e não sei se foi a rapidez dos
movimentos, mas uma tontura me atingiu.
— Você está bem? — Perguntou preocupada.
— Só uma tontura, acho que me levantei rápido demais.
— Tem certeza? Precisa de alguma coisa?
— Tenho… — O enjoo me atingiu mais forte que a
tontura. — Na verdade, preciso do banheiro. — Avisei rápido,
colocando a mão na boca.
Melanie me ajudou a entrar no banheiro e eu me
ajoelhei, me debruçando sobre o vaso, colocando todo o meu
almoço para fora. Senti suas mãos segurarem meu cabelo e
massagear minhas costas.
Baixei a tampa do vaso, dando descarga e Melanie me
ajudou a levantar.
— Que coisa horrível. — Reclamei, indo para a pia
escovar meus dentes.
— Isso significa algo? — Sorriu.
— Do que você está falando?
— É a primeira vez que está sentindo isso?
— Sim.
— Comece a observar, se os sintomas permanecerem
por mais de uma semana já sabe o que fazer. — Piscou.
— Pera aí. Você não acha que eu…
— Está grávida? Sim, eu acho.
Meu Deus! Eu estou grávida?
— Melanie… — Minha voz estava trêmula.
— Isso é ótimo, Ella. Realmente.
— Mas eu tomo a pílula anticoncepcional.
— Nem a camisinha é 100% eficaz, quem dirá o
anticoncepcional. Fique tranquila. Você e Henri merecem isso.
— Ela sorriu. — Preciso ir ou perderei meu voo. Que você
seja feliz, Ella. Obrigada e desculpe por tudo mais uma vez.
Abracei ela.
— Obrigada por vim aqui e por esse momento
inesperado. Seja feliz também, Melanie. E fique em paz. —
Sorri sincera.
Henri entrou correndo na sala e parou chocado quando
nos viu abraçadas.
— O que significa isso?
— Página virada. — Falei.
— Eu estou de saída. Estamos em paz. Adeus.
— Adeus. — Me despedi e ela se foi.
Henri ainda estava parado em pura confusão.
Fui até ele, abraçando-o.
— Isso foi…
— Sim. Inesperado, inacreditável, chocante, maluco. —
Ri. — Está tudo bem agora, querido.

— Diante de todos os fatos apresentados e ouvidos,


declaro que a tutela de Annie Theodore ficará
permanentemente para Henri Hayes e Ella Jones. Fim da
audiência.
Quando o som do martelo batendo na madeira chegou
aos meus ouvidos, o resto de medo e tensão que havia em mim
se desfez. Assim como eu me desfiz em lágrimas.
Annie era nossa, finalmente.
Olhei para Henri que tinha os olhos vermelhos e o
abracei apertado.
— Conseguimos, meu amor. Ela é nossa. — Chorei.
— Ela é nossa. — Repetiu e senti suas lágrimas
molharem meu ombro.

— Eu estou nervosa. Isso está me dando ânsia.


— Acalme-se. Apenas vamos dar a notícia a Annie. —
Riu nervoso, enquanto apertava o nariz.
— Você não está ajudando, Henri.
— Olha, eu também estou nervoso pra caralho. Mas é a
Annie. Nossa garotinha. Vamos lá. — Apertou minha mão e
entramos na Instituição.
Cumprimentamos todos que passavam por nós e
paramos na grande porta de acesso ao jardim, onde várias
crianças brincavam.
— Acho que nunca vou conseguir dizer o quanto admiro
seu trabalho aqui, H. — Sussurrei encantada.
— Às vezes eu mesmo não acredito que fui capaz de
continuar o bom trabalho da minha mãe.
— Anne está orgulhosa, tenho certeza.
Uma bagunça loira correu em nossa direção.
— Henri! Ella! — Gritou, sorrindo.
— Oi, princesa. — Henri a levantou em um abraço,
levando-a até mim para que pudesse beijar minha bochecha.
— O que estão fazendo aqui? O que você está
segurando, Ella?
— Oh, isso? — Mostrei a caixa. — É um presente.
— Para mim?
— Talvez. — Henri riu.
— Por que você não nos mostra o seu quarto? Queremos
contar um segredo a você.
— Ok.
Annie ainda não sabia que havia sido curada. Os
médicos decidiram esperar mais alguns meses para ter certeza
que o câncer não voltaria. Bem, ele não voltou. E cá estamos
nós para lhe contar as novidades.
Ela segurou em nossas mãos e nos levou até o seu
quarto.
— Não reparem na bagunça, não sabia que vocês viriam.
— Não ligamos para isso.
— Então? Cadê meu presente?
Rimos.
Sentamo-nos os três em sua pequena cama e eu coloquei
a caixa em seu colo.
— Aí dentro tem três presentes.
— Três? — Perguntou, animada.
— Sim. Pode abrir.
Ela abriu a caixa e pegou o primeiro item. Era uma
fotografia dela com o pessoal do hospital.
— Que foto linda. Mas, o que significa?
— Lembranças de uma fase difícil. Lembranças de
superação. Apenas lembranças, porque você não está mais
nessa fase. Você está livre, Annie. Está curada.
Seus olhinhos se fecharam e lágrimas desceram pelo seu
rosto. Então, um lindo sorriso se abriu.
— Eu não estou mais doente?
— Não, minha princesa.
— Hoje é o dia mais feliz da minha vida.
— Temos certeza que sim. É um dos nossos também.
Vá, olhe seu próximo presente.
Ela pegou a cestinha de flores com a caixinha preta
dentro.
— Esse é sobre um pedido que não aceitamos não como
resposta.
— Queremos que seja nossa daminha de honra.
— Pensei que nunca fossem pedir. — Gargalhamos. —
É claro que eu aceito. Quero um vestido bem lindo e tranças
no meu cabelo.
— Pode deixar.
— O que é o último?
— Pegue.
Ela pegou o objeto que estava coberto por um pano
preto. O retirou e sorriu.
— Uma coroa?
— Annie…
— Sim?
— Alguns meses atrás eu recebi um vídeo de vocês dois.
— Eles sorriram cúmplices. — Algo naquele vídeo tocou meu
coração e o de Henri. Foi inesperado e assustador, mas ao
mesmo tempo foi incrivelmente lindo e só aumentou o que já
queríamos. Um desejo seu. Que estamos aqui para realizá-lo
hoje.
— O que?
— Annie, Ella e eu vamos nos casar e seremos rei e
rainha do Reino Hayes. Você aceita ser a nossa princesa?
— A princesa de vocês como uma filha? — Sua voz
falhou.
— Sim, como a nossa filha.
— É tudo o que eu pedi a Deus todas as noites.
Ela chorou vindo nos abraçar.
— Eu sempre quis uma família de verdade. Eu sempre
quis vocês.
— E nós sempre quisemos você, minha princesa.
— Eu amo vocês. Muito.
— Também amamos você, querida.
Naquele momento, nós três ali, abraçados e chorando…
Chorando pela felicidade, liberdade e união. Nossa família
estava quase completa…
Faltava só mais uma coisa.
Cinco minutos.
Esse era o tempo que eu precisava esperar para saber do
resultado que mudaria a minha vida para sempre.
Rosie segurava minha mão, enquanto Jô afagava meus
ombros.
— Três minutos, Ella. — Mad sussurrou, dando
pulinhos.
— Acho que vou desmaiar. — Clair anunciou.
— Quem pode estar grávida aqui é a Ella, não você. Se
aquieta.
Consegui rir no meio de tanta tensão e ansiedade.
Desde o momento em que Melanie me abriu os olhos
para o que possivelmente estaria acontecendo, eu me apeguei à
ideia de estar grávida. Ter o meu bebê.
Observei os sintomas por quatro semanas. Tonturas,
enjoos, gostos e desejos exóticos, hormônios à flor da pele,
seios maiores e sensíveis. Se isso não fosse real, eu estava
ficando louca.
Henri sempre deixou claro que queria filhos e eu
também, mas não planejamos.
Ri mentalmente.
Do que adianta planejar, não é? O destino sempre faz o
que quer.
— Deu o tempo.
Me levantei e fui até o palitinho rosa com branco que
estava de cabeça para baixo.
É hora da verdade.
Fechei os olhos, respirando fundo. Abri-os lentamente e
as lágrimas embaçaram minha visão. Mas as duas listrinhas
bem escuras ficaram gravadas perfeitamente em minha mente.
Positivo.
Eu estava grávida.
Henri e eu teríamos um bebê.

Fui acordada por uma Annie saltitante às seis e quarenta


e cinco da manhã.
— Acorda, mamãe. É véspera de Natal.
Sempre que ela me chamava de mamãe, meus olhos se
enchiam. Era como um sonho.
E pelo visto alguém amava tanto o Natal quanto eu.
— Tudo bem, já estou acordada. Só preciso de um
tempo.
Apenas duas semanas que descobri que estava grávida e
o cansaço já havia me dominado. Eu vivia sonolenta pelos
cantos. Para Henri, isso era sedentarismo.
Por falar nele, olhei para o seu lado da cama e encontrei
apenas um bilhete.
“Fui correr, alguém precisa ser saudável nessa relação.
Sua bunda está enorme, preguiçosa. Logo, logo estarei de
volta para você. Te amo. H.”
Sorri e me levantei.
— Eu vou tomar um banho e então iremos fazer o café
da manhã, ok? Papai já deve estar chegando.
— Ok. — Sorriu, saindo pela porta com Maggie em seus
braços.
Fiz minha higiene pessoal e tomei um banho frio para
despertar. Me vesti o mais confortável possível. Não gostava
da ideia de nada apertando o bebê.
Desci as escadas, indo para a cozinha onde encontrei
Annie já me esperando. Comecei a fazer as panquecas e ela
me ajudou a recheá-las.
Nossa relação era incrível. Éramos boas amigas. No
início, eu estava morrendo de medo de não conseguir fazer
isso. Mas, não tive dificuldade nenhuma. Muito pelo contrário.
Annie tornava tudo mais fácil.
— Ansiosa para fazer a sobremesa do jantar de hoje?
— Sim! Você vai me ajudar, não vai? Quero que fique
perfeita.
— Claro que vou. Tenho várias opções para fazermos.
Vai ser incrível.
— Você é a melhor, mamãe. — Me abraçou.
— Bom dia, princesas. — Henri entrou na cozinha todo
suado e veio em nossa direção.
Annie soltou-se dos meus braços e correu para trás de
mim.
— Eca, você está suado.
— E por isso você não vai abraçar o papai?
— Não.
— Vem aqui, sua pirralha. — Tentou pegar ela e os dois
riram.
Meus olhos se encheram novamente, ele era tão perfeito
com ela. Amanhã seria o dia de dar a grande notícia e eu
estava surtando para segurar até lá.
— Bom dia, Ma belle. — Voltou, me dando um selinho.
— Mil vezes eca. — Annie reclamou e eu ri.
— Você realmente precisa de um banho. — Fiz careta.
Ele respondeu balançando a cabeça, fazendo os
respingos de suor do cabelo nos molhar e Annie gritar.
— Eu vou te matar, Henri.
— Na véspera de Natal? Esse é seu espírito natalino?
— Sim.
— Tudo bem. Eu vou tomar banho. — Levantou as
mãos em rendição.
Ele pegou Annie desprevenida e deu um beijo estralado
em sua bochecha.
Minutos depois de subir, ele voltou tomado banho e
tomamos nosso café.
— Precisamos terminar de montar a árvore de Natal. —
Annie lembrou.
— Isso! Eu sabia que estava esquecendo de alguma
coisa.
— Temos um problema. — Henri anunciou.
— O que?
— Eu meio que esqueci de comprar a estrela.
— Você está brincando? — Perguntei em pânico.
— Não.
— Como pôde esquecer da estrela? — Annie falou
chocada.
— Era sua missão comprar a estrela.
— É só uma estrela.
— Só uma estrela? — Minha boca abriu em um O. —
Como ousa dizer isso?
— Você é mau, papai. — O encarou séria.
— Vocês realmente amam o Natal, não é?
— Sim. — Respondemos juntas.
— Eu vou sair e comprar. Já volto. — Jogou as mãos
para cima e saiu.
— Agora que ele saiu, preciso que me ajude com uma
coisa. — Sussurrei e a levei para o andar de cima, abrindo o
quarto de hóspedes.
— O que? Conta!
— Precisa manter segredo até amanhã.
— Eu prometo.
Levantei meu dedo mindinho.
— Jura de mindinho?
— Juro. — Sorriu, juntando nossos dedos.
— Ok. Me dê sua mão.
Peguei sua mão e coloquei delicadamente sobre a minha
barriga, onde uma pequena ondulação se formava.
— O que…
— Você terá um irmãozinho ou irmãzinha. — Sorri.
— Meu Deus, mamãe. Você está grávida? — Gritou
feliz.
— Shhh! Sim, estou. Você gostou?
— Eu amei. — Me abraçou. — Oi, bebê. Meu nome é
Annie. Eu sou sua irmã e já te amo muito. Contarei os dias
para te ver.
— Tenho certeza que ele ou ela vão te amar, Annie. —
Alisei seu cabelo.
— Papai não sabe?
— Não. — Peguei a pequena caixa que fiz embaixo da
cama. — Será o presente dele amanhã.
Eu havia feito uma ultrassom sozinha somente para isso.
— Ele vai desmaiar. — Riu e eu a acompanhei.
— Tomara que não.
— Você está com medo?
— Muito.
— Vai dar tudo certo, mamãe. É só fazer o que faz
comigo. Você é ótima nisso.
— Mesmo com medo, eu me sinto pronta, sabe? Eu
sempre quis uma família.
— E eu sempre quis um irmãozinho. Vou te ajudar em
tudo. Já escolheu os nomes?
— Ainda não, teremos tempo. Escolheremos todos
juntos.
Ela sorriu, me abraçando mais uma vez.
— Vem, vamos descer antes que o papai chegue.

— Agora você adiciona o chocolate e mexe bem. —


Instrui.
— Assim?
— Assim mesmo. Viu só? Você é muito boa nisso. —
Sorri, dando um beijo em sua testa, enquanto ela ria.
— Tive uma ótima professora.
— Começaram a cozinhar sem mim? — Henri entrou na
cozinha.
— Você demorou. Quem trabalha no Natal?
— Desculpa, princesa. Era uma ligação de urgência. O
que estão fazendo? — Perguntou, me abraçando por trás.
— Brownies. Vamos servi-los com sorvete de creme. —
Annie bateu palmas. — Você acha que a vovó Helena vai
gostar?
— Ah, com toda certeza do mundo. Eu já estou louco
para provar. — Tentou afundar o dedo na massa, mas minha
mão foi mais rápida no corte.
— Tire as mãos.
— Você é uma chata. — Soltou, me dando língua.
— Tenha modos. — Annie soltou e eu gargalhei.
Ele se afastou por um instante e continuei ajudando
Annie a colocar a massa na forma.
— Ei, Ella. O que é isso? — Henri perguntou atrás de
mim.
— O que, querido? — Me virei para olhar e ele me
acertou em cheio com a farinha de trigo.
— Você é um homem morto, Hayes.
Fui rápida em pegar um punhado da farinha e jogar em
seu rosto.
Annie gargalhou e nós dois olhamos para ela.
— Não, não, não. Eu sou apenas uma criança.
— Sem desculpas aqui, mocinha.
Atacamos ela e juntos começamos uma guerra.
Me recostei na mesa, tomando fôlego.
— Já cansou? — Me olhou em desafio.
— Nunca. — Ameacei ir para cima dele.
— Parem! — Annie gritou. — Olhem a bagunça.
Olhei ao redor da cozinha e vi o caos que fizemos.
— Toda sua. — Joguei o pano para ele.
— Por que?
— Você começou, você limpa.
— Isso não é justo.
— A vida não é justa, amor.
— Eu te ajudo, papai.
— Bom mesmo, porque a mamãe está morta. —
Coloquei o brownie no forno e limpei um pouco da farinha no
meu rosto. — Preciso de um banho. — Informei, piscando
para só Henri ver.
— Dez minutos. — Ele movimentou os lábios em
silêncio.
Eu amava nossa nova forma de interação quando Annie
estava por perto.
Subi para o quarto, tomando cuidado para não sujar o
resto da casa e fui para o banheiro.
Em frente ao espelho, me despi e automaticamente
minhas mãos foram para minha barriga. A ficha ainda não
tinha caído por completo, então a todo instante eu verificava se
o montinho duro ainda estava ali.
Minha ansiedade para contar para Henri estava me
consumindo. Eu não tinha dúvidas que ele iria amar. Mas
talvez a outra coisa que eu tenho para dizê-lo, o faça surtar por
completo.
Comecei a rir sozinha e entrei no box.
Quando a água morna tocou meu corpo, gemi em
apreciação.
— Nem começamos e já está assim? — Henri sussurrou,
se juntando a mim.
— Onde está Annie?
— No banho.
Ele me puxou para si, me beijando com certa urgência.
— Não temos muito tempo.
— É melhor se apressar então. — Pisquei.
— E lá vamos nós. — Cantarolou, enquanto levava
Annie até o topo da árvore para colocar a estrela.
— Tcharam.
Esperei ele a colocar no chão e me aproximei, ligando o
pisca-pisca.
— Ficou perfeita. — Gritou animada.
— Sabe, essa é a minha primeira árvore de Natal desde
que minha mãe se foi.
— Primeira de muitas, se depender de nós. — Annie e
eu o abraçamos. — Amamos você. Agora, todo mundo se
arrumando, a vovó odeia atrasos.
— Você deve ter dado trabalho então.
— Calado.

Henri tocou a campainha e logo minha mãe apareceu na


porta.
— Oh meu Deus, Feliz Natal! Entrem, entrem! — Abriu
um sorriso enorme, me puxando para um abraço assim que
entramos. — Algo em você está diferente, mas não sei o que é.
Tem alguma coisa para me contar?
Arregalei os olhos.
— Talvez, mas isso é conversa para outra hora. —
Sussurrei.
Ela me encarou desconfiada por uns instantes e me
empurrou para o lado, indo até Henri.
— Henri, querido. Cada dia mais bonito.
Ela amava falar sobre a beleza dele, sabendo que isso o
deixaria sem graça. Sorri quando as bochechas dele ganharam
um tom avermelhado como sempre.
— Oi, sogrinha. Feliz Natal. Você está deslumbrante esta
noite.
— Oh, estou sempre. — Gargalhou. — Agora, cadê
minha garotinha?
— Aqui, vovó. — Annie saiu de trás de Henri, com seus
brownies. — Feliz Natal.
— Você está parecendo uma princesa. O que temos
aqui?
— Brownies e sorvete de creme.
— Eu amo brownies. Foi você que fez?
— Sim. — Sorriu tímida. — Mamãe me ajudou.
— Oh, ela é ótima, tenho certeza que estão perfeitos.
Venham, Jacob está na cozinha em uma guerra com a rolha do
vinho que ganhou de presente.
Seguimos para a cozinha e Annie olhou incrédula para a
decoração. Mamãe sempre foi exagerada, mas quando se
tratava do Natal, isso se multiplicava.
— Consegui. — Gritou Jacob e então se deu conta que
já estávamos ali. — Ei, pessoal. Feliz Natal. Essa belezura
aqui é um Château Lafite Rothschild de 1787. Meu pai me deu
de presente há alguns anos. Peguem as taças. E você
pequenina, tenho suco de pêssego, seu preferido.
— Oba.
Jacob nos serviu com vinho e depois mimou Annie com
o suco. Aceitei a taça somente para não dar na cara, Henri já
andava desconfiado sobre meu comportamento, se ele me
visse recusando algo que tanto amo como vinho, surtaria. Ele
se juntou a Jacob e engataram em uma conversa animada com
Annie.
— Deixe-me ajudar. — Fui até mamãe, auxiliando a
levar as comidas para a sala de jantar.
— Engraçado como tudo mudou em um ano. — Ela
parou ao meu lado, observando os três conversarem. — Em
pensar que éramos apenas nós duas. Hoje temos a casa cheia.
Ficará ainda mais cheia no ano que vem. — Pensei.
— Pois é, surreal.
— Não está bebendo? — Perguntou ao ver a taça
intocada em minhas mãos. — Esse vinho custa 17 mil.
— Não posso. — Sussurrei.
— Por que? — Perguntou intrigada. — Não me diga
que…
Meus olhos se encheram. Droga de hormônios.
— Querida, você está…
— Sim. — Minhas lágrimas se derramaram quando
olhei em seus olhos. — Eu estou grávida.
— Oh meu Deus. — Ela chorou, me abraçando. — Eu…
Você… — Ela olhou em meus olhos, secando minhas
lágrimas. — Eu sabia que tinha algo diferente desde que te vi.
Você está radiante, sua pele está incrível e seu quadril mais
largo. Uma mãe reconhece outra mãe. Minha filhinha…
— Eu me sinto a mulher mais feliz desse mundo,
mamãe. Me sinto transbordar. Eu nunca me senti assim e é
uma sensação tão perfeita.
— Eu sei como se sente, meu amor. Estou tão feliz por
você. Digo e repito, estarei aqui para ajudar em tudo, mesmo
sabendo da sua capacidade de lidar com isso sozinha. Eu te
amo, filha. Você e Henri estão sendo ótimos com Annie e
serão também para essa nova criança. Agora me dê essa taça,
vou beber por você. Afinal, ainda é um vinho de 17 mil.
Ri, entregando minha taça a ela e sua mão roçou em
minha barriga.
— Olá, bebê da vovó. Trate bem sua mamãe. Não seja
duro com ela.
— Os enjoos estão sendo um pesadelo. — Reclamei. —
Mas, tudo por uma boa causa. Henri ainda não sabe. Contarei
amanhã.
— Que belo presente de Natal.
— Espero que estejam falando sobre o meu presente.
Ella não deixou escapar nada ainda. — Henri surgiu e mamãe
se afastou no susto.
— Falta apenas um dia, querido. Amanhã você irá saber.
— Tudo que vier de você será perfeito para mim. —
Sorriu e eu amoleci em seus braços.
— Ok, crianças. Hora do jantar.
Nos reunimos ali na sala de jantar e agradecemos juntos
a Deus pelo privilégio de viver com saúde, com comida na
mesa e ter uma família unida e repleta de amor.
Tudo o que eu queria estava ali. Meu grande amor,
minha mãe feliz e com quem ela ama, minha garotinha Annie
e meus bebês.
Eu não precisava de mais nada. Estava completa.
Em algum momento do jantar, alguém dentro de mim
não gostou muito do que eu estava comendo.
Eu havia esquecido dessa parte. Annie percebeu minha
careta e me salvou.
— Acho que está na hora do brownie. Você me ajuda,
mamãe?
— Claro, meu amor.
Me levantei rapidamente e a segui até a cozinha.
— Vai, eu te dou cobertura. — Sorriu e eu agradeci.
Fui até o lavabo que graças a Deus ficava ao lado da
cozinha e coloquei todo o meu jantar para fora. Após terminar,
procurei minha escova na bolsa e escovei meus dentes.
Retoquei a maquiagem e voltei a tempo de ninguém desconfiar
de nada.
Agradeci aos céus pelo brownie não ser rejeitado, muito
pelo contrário, ele e o sorvete aliviaram o mal-estar, me
deixando mais alegre.
Sentamos todos na sala após estarmos satisfeitos e me
aconcheguei em Henri. Annie recebeu uma série de elogios
pela sobremesa e sorrimos ao vê-la bocejar. A criança era
agitada, mas havia se levantado às 6h e já se passavam das
22h.
— Acho que é hora de irmos. — Henri anunciou,
pegando Annie em seu colo e aninhando-a.
— Sim. Já está tarde e ela acordou bastante cedo. Vou
pegar nossas coisas.
— Vocês sabem que podem dormir aqui, não sabem?
— Não será preciso, mãe. Além disso, Annie tem
dificuldade em dormir fora de casa. Tivemos que recriar o
mesmo quarto da instituição para que ela pudesse dormir em
paz. Muita gente está fora para o feriado, o trânsito está calmo.
— Tudo bem. Me ligue avisando que chegaram bem.
— Eu ligo sim. Boa noite, mamãe. Feliz Natal.
— Para você também, querida. Boa sorte amanhã. —
Sussurrou.
— Obrigada.
Abracei Jacob, me despedindo e desejando Feliz Natal
mais uma vez. Henri colocou Annie no carro e voltou para se
despedir.
A viagem de volta foi tranquila. Henri manteve sua mão
acariciando minha coxa, o que me fez cochilar metade do
caminho.
— Ei, dorminhoca. Chegamos, você precisa me ajudar a
trocar sua roupa. — Me acordou, beijando meus lábios de
leve.
— Nossa… Já? — Olhei ao redor e vi que já estava na
cama. — Você me trouxe? Preciso avisar a minha mãe que
chegamos.
— Claro, o que seria das duas bebezonas sem mim? E
sobre sua mãe, já a deixei informada.
— Eu não sou uma bebezona. — Comentei, emburrada.
— E obrigada por avisá-la.
— É sim. — Rebateu, tirando meus sapatos. Gemi
automaticamente quando ele massageou meus pés.
— Se não estivesse tão cansada, poderia fazer você
gemer de outras formas. — Beijou meu tornozelo, colocando-
me em chamas.
— Quem disse que eu estou cansada? — O empurrei
com o pé, fazendo-o cair na cama e montei nele. — Nunca
estive tão disposta.
— Eu amo você. — Riu.
— Também amo você.

Era engraçado pensar que há um ano eu estava


praguejando nessa mesma sala, passando mais um Natal
embriagado e sozinho. Hoje estou aqui em um pijama natalino,
com minhas duas garotas favoritas no mundo.
O clima esfriou bastante de ontem para cá. O que foi
perfeito para o plano delas. Chocolate quente perto da lareira +
filmes de Natal. Minha sala virou uma espécie de cinema
confortável.
Se eu estava achando isso ruim? De forma alguma. Eu
não poderia estar mais feliz.
— Eu posso ser a primeira a entregar os presentes? —
Annie perguntou.
— Claro que pode, fique à vontade.
Ela foi até a árvore pegando dois saquinhos, entregando-
me um e outro a Ella.
— Qualquer presente que eu desse não chegaria nem
perto do que vocês me deram. — Iniciou.
— Mas nem entregamos o seu ainda. — Ri.
— Não estou falando disso. O melhor presente foram
vocês. Vocês me deram um lar, uma família e amor. Nada
poderá substituir isso.
Essa garotinha havia se tornado tudo nas nossas vidas.
Annie não era apenas nossa filha, era nossa melhor amiga.
Nosso anjinho. Doía lembrar de quando ela estava naquela
cama de hospital. O que tornava vê-la cheia de saúde uma das
melhores coisas.
— Eu queria algo simples, mas com muito significado.
Espero que gostem. Eu mesma que fiz.
Abrimos os nossos saquinhos e havia uma pulseira feita
à mão dentro. Nela continha nossas iniciais e a data que a
adotamos. Era linda.
— Annie, que coisa linda… — Ella foi a primeira a
falar, embargada pela emoção.
— Eu também tenho a minha. — Levantou o pulso,
mostrando a pulseira.
— Eu amei, princesa. — Sorri para ela. — Vamos todos
usar.
Coloquei a de Ella e ela colocou a minha.
— Nossa vez. — Me levantei e Ella me acompanhou.
Peguei a grande caixa embaixo da árvore e entreguei a Annie.
O sorriso dela foi impagável.
— Um álbum de família.
— Nosso álbum de família. Abra.
Ela o abriu.
Ella e eu fizemos o impossível para conseguir as fotos
de Annie mais nova. Graças a Deus o orfanato que ela veio
antes da Instituição guardou todos os seus arquivos. Montamos
uma linha do tempo, tanto minha e de Ella, como de Annie.
— Essa sou eu? — Perguntou incrédula.
— Sim. — Sorri.
— Esses são?
— Nós.
Ella gargalhou ao ver novamente uma foto minha
quando bebê, pelado.
— Há muitas fotos, como também ainda há muito
espaço. — Tirei o álbum de suas mãos e entreguei a câmera
nova. — Ela está configurada para imprimir todas as fotos que
você tirar. É sua vez de preencher o álbum com as melhores
lembranças.
— Ai meu Deus, eu amei. — Sorriu abertamente. —
Venham aqui.
Nos aproximamos dela, eu e Ella beijando cada lado das
suas bochechas e ela tirou uma foto.
— Meu primeiro Natal em família. Minha primeira
lembrança favorita.
— Ella? — Chamei.
— Sim, querido?
— Eu tenho três presentes pra você, de três datas
importantes.
— Estou pronta.
Entreguei duas caixas.
Ella abriu a menor primeira e tirou o primeiro globo.
— Você não fez isso…
— Eu fiz sim.
Contratei uma empresa de globos de neve. Com as fotos
que tinha do dia que vi Ella pela primeira vez, conseguimos
recriar o mesmo cenário com a Torre Eiffel. E lá estava ela
distraída e eu tirando uma foto. Todos os detalhes ficaram
perfeitos.
— Tudo está exatamente igual. É perfeito. Você é
perfeito. Obrigada por isso. — Sorriu com os olhos cheios de
lágrimas.
— Vá para o próximo.
Sua risada gostosa explodiu quando ela retirou o
segundo globo.
— Esse momento não poderia passar em branco. — Ri
junto com ela.
— Foi o dia que a mamãe te atropelou. — Annie
gargalhou.
— Isso mesmo.
— Você não existe, Henri. — Limpou as pequenas
lágrimas que brotavam.
Ela pegou o próximo presente e retirou o mapa estelar.
— Esse era o belíssimo céu da noite que te pedi em
casamento em Paris. Três momentos importantes. Quando te vi
pela primeira vez. Quando nos reencontramos na hora certa,
quer dizer, não tão certa assim. E quando você me disse sim.
— O que eu faço com você?
— Me ame para sempre.
— Isso será fácil. — Me abraçou forte. — Obrigada por
tudo e por ser esse homem incrível por quem sou
perdidamente apaixonada.
— Eu que agradeço, meu amor. Você liberta o melhor de
mim. — Sequei suas lágrimas.
— Bom, acho que chegou a minha vez. Confesso que
estou nervosa. — Segurei suas mãos trêmulas.
— Já disse que vou amar tudo que venha de você.
— Vem de mim mesmo. — Riu nervosa, indo pegar o
presente. — Eu sei que você percebeu que eu tenho andado
um pouco estranha ultimamente. Bem, aqui está o motivo.
Peguei a caixa de suas mãos e lentamente abri. Meu
corpo paralisou no segundo seguinte.
— Ella… — Olhei em seus olhos que derramavam um
mar de lágrimas, assim como os meus.
Reli a carta mais uma vez.

Oi, papai.
Você ainda não nos conhece, mas sabemos que irá
cuidar e nos amar com todo o seu amor. Porque esse é você. O
cara que faz de tudo por aqueles que ama.
Seremos a principal causa dos seus primeiros cabelos
brancos, mas em troca lhe daremos as maiores alegrias. Vai
ser uma vida muito feliz e mal podemos aguardar para o
conhecer.
Antes éramos apenas um sonho, hoje somos a sua
realidade.
Dentro da mamãe agora batem três corações.
Não fique nervoso, sei que é grande a responsabilidade,
mas nosso amor por você já é mais que infinito, papai. Até
breve!
Com amor, gêmeos Hayes.

Junto a carta, havia dois pares de sapatinhos brancos, um


teste de gravidez e um ultrassom que mostrava meus dois
bebês.
Meu coração poderia explodir a qualquer momento.
Meus filhos…
Ella estava grávida de mim.
De gêmeos.
— Dois? — Sussurrei.
— Dois. — Afirmou com a cabeça e fui rápido em pegá-
la no colo e girá-la.
— Puta merda, vamos ter dois bebês.
— Sim, meu amor.
— Esse é o melhor presente de todos. Eu te amo tanto,
Ella. Obrigada por fazer isso. Nossa família. — A beijei
intensamente. Finalizei o beijo, ficando de joelhos, beijando
sua barriga. — O papai está tão feliz. Eu prometo que sempre
irei proteger e amar vocês. Todos vocês.
Annie se juntou a nós.
— Você ouviu isso, Annie? Dois. — Gargalhei.
— Eu já estava feliz com um, mas agora são dois. Eu
estou no céu.
— Você já sabia?
— Claro. Confidente fiel da mamãe.
— E eu fico como nisso?
— Você supera. — Respondeu dando tapinhas no meu
ombro.
— Srta. Jones? — A enfermeira chamou.
— Aqui. — Acenei e nos levantamos.
— A Dra. Sullivan vai te atender agora. — Avisou,
sorrindo e nos guiou até a sala.
— Eu estou ansiosa. — Sussurrei para Henri.
— Estou contigo nessa. — Comentou. — Minhas mãos
estão suando.
— Sim, eu posso sentir. — Sorri, levantando nossas
mãos.
Entramos juntos na sala onde a Dra. Sullivan nos
aguardava.
— Olá mamãe e papai, bom ver vocês novamente.
Ansiosos para saber o sexo dos bebês?
— Muito. — Respondemos juntos.
— Deite-se, Ella. Vamos ver se hoje eles estão de bom
humor.
Eu estava no 6° mês de gestação. Estávamos tentando
descobrir o sexo há um mês, mas nossos bebês não queriam
colaborar.
Henri me ajudou a subir na maca, uma ação simples que
era quase impossível para mim. Eles seriam grandes igual ao
pai, isso ninguém tinha dúvida. Minha barriga estava gigante e
ainda cresceria mais nos próximos três meses.
Levantei meu vestido, deixando a barriga de fora e logo
senti o gel frio contra ela. Isso sempre me causava cócegas e
eu acabava rindo.
— Vamos lá. O que temos aqui? — Nós três olhamos
atentos para a tela do monitor.
Henri apertava minha mão com tanta força que era capaz
de quebrar. Olhei feio para ele e ele suavizou o aperto, se
desculpando.
— Awn, eles estão abraçados. — Comentei quando a
imagem nítida apareceu. — Isso é ruim?
— Não, não. Está dando para ver perfeitamente. —
Respondeu alegre. — Já escolheram os nomes para as opções?
— Sim. — Sorri, olhando para Henri. — Dois nomes
para meninas e dois nomes para meninos.
— Ótimo, vocês irão escolher um de cada. São um casal.
— Um casal? — Perguntei emocionada. — Você ouviu
isso, amor? — Me virei para Henri que se encontrava
chorando.
Ele estava mais emotivo que eu, era fofo e engraçado.
Seus braços me envolveram e sua voz profunda soou.
— Eu nunca vou poder agradecer o suficiente pela
oportunidade que está me dando.
— Ei, estamos vivendo isso juntos. Não há nada que
agradecer.
A Dra. Sullivan me limpou e fez o restante dos exames
de rotina.
Os bebês estavam fortes e saudáveis, assim como eu. O
que nos tranquilizava demais.
Tivemos que adiar a data do nosso casamento, pois por
ironia do destino a previsão do nascimento era para o mês que
havíamos marcado. Como eu já tinha escolhido o vestido
perfeito e ajustar não era uma opção, decidimos que nos
casaríamos na mesma data, um ano depois. Assim, os bebês já
estariam grandinhos o suficiente para participarem.
No meio do caminho para casa, Henri mudou a rota.
— Para onde estamos indo?
— Compras. Estava me segurando esse tempo todo por
não saber o sexo dos nossos bebês. Agora só consigo pensar
em decorações e roupinhas coloridas. Todo aquele branco
estava me enlouquecendo.
Minha risada preencheu todo o carro. Eu sabia que algo
o incomodava. Eu procurei comprar tons neutros para que não
houvesse erro. Mas isso não o agradou.
— Tudo bem então. Vamos às compras.

Nosso carrinho já estava transbordando quando Henri


me deixou sozinha, alegando que esqueceu de algo.
De longe, vi quando várias mulheres se aproximaram
querendo o ajudar. Não as julgo, um homem como ele e
procurando coisas de bebê é de matar.
Henri e eu estávamos num estágio tão avançado da
nossa relação que eu não conseguia sentir ciúmes. Nossa
confiança era linda. Ele é louco por mim como eu sou por ele.
Não havia mais insegurança.
Ele tratou todas com gentileza e depois de encontrar o
que queria, voltou para mim.
— Deixa eu ver. — Pedi.
— Não.
— Por que não? — Perguntei intrigada.
— Porque você dará uma palestra aqui se eu mostrar.
Em casa você vai ver.
— O que você está aprontando, Henri?
— Nada, Ma belle.
Passamos as compras e uma funcionária nos ajudou a
levar tudo para o carro.
— Annie vai ficar chateada por não estar aqui.
— Não vai, ela está ocupada fazendo outra coisa.
— O que você quer dizer com isso, Henri?
— Surpresa.

Antes que eu pudesse entrar em casa, as grandes mãos


de Henri cobriram meus olhos.
— Mas o que é isso?
— Paciência.
Ele me guiou até o segundo andar. Escutei uma porta
abrir. Suas mãos caíram e a visão do quarto dos bebês me
atingiu.
— Como? — Perguntei chocada.
— Planejamos isso há semanas. — Annie surgiu
saltitante com minha mãe.
— Agora eu entendi tudo. As compras.
— Precisávamos de todo tempo possível. — Ele sorriu.
— Eu só precisava saber o sexo. Enviei uma mensagem para
sua mãe e pronto.
O quarto branco estava agora todo decorado com tons
lilases e azuis.
— Você estava mesmo irritado com todo o branco. —
Ri.
— Eu vivia na escuridão, Ella. Você trouxe a luz para a
minha vida novamente. Não quero nada sem cor aqui. — Ele
riu junto comigo. — Você gostou? — Perguntou, me
abraçando por trás.
— Eu não gostei. Eu amei. Obrigada por ser tão
atencioso e cuidar tão bem de nós. Você torna tudo mais fácil.
— Sempre farei de tudo por vocês, Ella. Sempre.
— Então me mostra o que comprou. — Aproveitei.
— Oh, sim. A melhor parte. Eu volto em um instante.
— Parabéns pelo casal filha. Eu disse a você que seriam.
— Ela me abraçou, alisando a minha barriga. — Agora que
vocês chegaram e tudo está bem com os bebês da vovó. Eu
vou indo, tenho um jantar com Jacob hoje. — Avisou. —
Annie foi um anjo como sempre.
— Obrigada mais uma vez, mãe.
— Ligue sempre que precisar, querida. Você sabe que
por mim, eu passaria meu tempo todo com ela. Annie, vem dar
um abraço na vovó.
— Até mais, vovó. — Ela abraçou minha mãe, virando-
se para mim em seguida. — Vem ver, mamãe.
Fui até onde ela me guiou e vi duas coroas, uma em cada
berço.
— Mais uma princesa e um príncipe para o reino Hayes.
Eu que fiz.
— Você é uma das pessoas mais talentosas que eu
conheço, filha. Isso está incrível. Obrigada por tudo. —
Abracei ela como eu podia.
— Opa, voltei. — Henri surgiu com uma sacola. — Não
me mate. — Seu sorriso cafajeste me mostrou que algo de
bom não vinha.
— Me deixe ver isso, Henri.
Ele me entrou a mochila e levantou as mãos.
Abri a caixa que guardava duas camisetas infantis e uma
adulta.
As menores diziam “Chupa mamãe. Eu sou a cara do
papai.” e a maior “Chupa mamãe. Eles são a cara do papai.”.
— Henri… Precisamos conversar sobre o seu ego
elevado quando nossas crianças nascerem. Não tem como você
ter tanta certeza que eles serão parecidos com você. Não tem
cabimento… — Ele me interrompeu me dando um beijo.
— Sem palestra.

Naquela noite mais tarde, encerramos mais um dia com


nosso momento de amor na banheira. Era nosso ritual. Óleos
essenciais e Henri me enchendo de amor. Minha parte favorita
era quando ele cantava e conversava com os bebês. Eu tinha
certeza que eles sentiam aquilo. Eles se agitavam e depois
tranquilizavam. Era lindo. E eu estava ansiosa para tê-los em
meus braços.

TRÊS MESES DEPOIS.

— Mas o que você está fazendo aqui? — Henri entrou na


minha sala com os olhos arregalados.
— Oi para você também, querido. Eu precisava de um
item que só vende aqui do lado. Resolvi dar uma passadinha
para ver se estava tudo bem na minha sala.
— Você deveria estar em casa com os pés para cima. —
Ele puxou a cadeira para o meu lado, colocando meus pés em
seu colo e massageando-os.
— Eu estou bem.
— Ella, os bebês podem nascer a qualquer momento.
— E eu tenho um jantar para fazer. Esqueceu que data é
hoje? — Me alterei. — Desculpa, os hormônios estão me
deixando pior.
— Claro que não esqueci, meu amor. Vamos para casa.
Já terminei aqui.
Ele se levantou, me ajudando logo depois.
— Ai! — Gritei ao sentir uma pontada.
— O que foi? — Perguntou alarmado. — Você está
bem? Fale comigo.
— Calma, foi só uma pontada. — Arfei quando senti o
líquido quente descer pelas minhas pernas. — Ok. Acho que a
bolsa estourou. — Falei calma, enquanto Henri entrou em
pânico.
Dra. Sullivan disse que a data prevista era entre os dias
11 e 15. Mas qual a probabilidade de alguém lá em cima
mexer os pauzinhos e eles nasceram exatamente hoje?
— Calma, respire fundo. Pedi para trazerem a cadeira de
rodas. Vai dar tudo certo. Estou com você. — Falou rápido,
segurando minha mão.
— Henri, eu estou bem. Você precisa se acalmar.
— Ok. Me acalmar. — Ele respirou fundo por alguns
segundos. — Não consigo.
Eu ri, sendo acompanhada pelo seu riso nervoso.
— Está mesmo acontecendo. — Sussurrou, colando
nossas testas.
— Sim, está. Em algumas horas teremos nossos bebês.
— As lágrimas começaram a brotar.
A cadeira logo chegou.
— Vamos no meu carro. A bolsa dos bebês está nele. —
Avisei.
— Tudo bem.
Ele foi rápido e cuidadoso ao me acomodar no banco do
passageiro.
— Ok, Henri. Vamos lá. Chega de tremedeira. — Falou
para si mesmo.
— Ei, você consegue. Vai dar tudo certo. — Peguei sua
mão, apertando-a.
— Eu amo você, Ella. E eu amo vocês, bebês.
— Nós também te amamos.
Parece que tudo estava ao nosso favor, por um milagre
divino o trânsito estava calmo.
Liguei para minha mãe no caminho.
— Como assim sua bolsa estourou e você está
calmíssima?
— Dr. Mitchell me preparou para esse momento. Estou
confiante.
— Por que eu não fiz terapia antes de ter você?
Gargalhei.
— Annie e eu estamos indo. Jacob está no hospital. Vou
ligar para ele. Nos encontramos lá, meu amor. Continue assim,
está indo bem. Beijos, te amo.
— Até logo, mamãe. Eu te amo. — Finalizei a chamada.
— Ok, as contrações estão ficando mais fortes. — Gemi de
dor.
— Já estamos chegando. Aguente firme.
Quando chegamos na entrada do hospital uma equipe já
nos aguardava. Todo o processo foi rápido. Eu estava calma
até não ver Henri mais ao meu lado.
— Cadê ele? — Perguntei nervosa, sentindo as dores
aumentarem.
— Ele está colocando o uniforme para entrar na sala de
parto. Acalme-se. Tudo está bem. — Dra. Sullivan apertou
minha mão.
— Ok. — Respirei fundo, me acalmando.
Fui levada para a sala e segundos depois Henri entrou,
fazendo meu coração explodir em alívio.
— Ok, meu amor. Hora de trazer nossos bebês ao
mundo. Estou aqui, estou com você. Você é a pessoa mais
forte que eu conheço. Vai correr tudo bem.
— Pronta, querida? — Dra. Sullivan perguntou.
— Sim. — Sorri ansiosa.
— Sua dilatação está ótima, é hora de começar a fazer
força, mamãe.
Henri apertou ainda mais minha mão quando gritei ao
empurrar.
— Vamos lá, querida. Conte até três e empurre de novo.
Fiz o que ela pediu durante algum tempo.
— Isso, Ella. Está quase. Você consegue. No três mais
uma vez. 1, 2, 3… Empurre!
Senti os lábios de Henri em minha testa.
— Você está indo bem. Continue firme.
O cansaço tentava me alcançar, mas eu não deixaria.
Esse era o momento mais importante da minha vida.
Juntando minhas forças, empurrei mais uma vez,
gritando alto pela dor e sentindo um alívio seguido de um
choro fino. Minhas lágrimas desceram automaticamente,
embaçando toda a minha visão.
— Oh, aqui está ele. — Dra. Sullivan anunciou. Os
enfermeiros faziam tudo rapidamente.
— Vai até ele… — Sussurrei em meio ao choro para
Henri que estava em choque.
Ele deixou um beijo em meus lábios e correu para pegar
o bebê que parou de chorar assim que ele o aconchegou em
seus braços.
— Oi, meu filho. Eu sou o seu papai. — Sua voz
embargada me fez chorar ainda mais.
— Ok, Ella. Ainda temos a garotinha. Logo logo você
vai estar com eles. Agora força, garota.
Talvez fosse a emoção do momento que meu deu todas
as forças que eu precisava. Não demorou muito para que o
choro da minha menina ecoasse pela sala. Desabei na cama,
chorando em silêncio. Um choro de alegria e realização.
Esperei o que parecia uma eternidade, até Henri entrar
em meu campo de visão, carregando dois pacotinhos em seus
braços.
— Digam oi para a mamãe. — Ele os colocou em meus
braços. E as enfermeiras me ajudaram a amamentar. A
sensação era completamente estranha e desconhecida. Mas eu
estava vivendo com muito prazer cada segundo.
— Oi meus bebês. — Eu imaginei mil formas de como
seria esse momento, mas nenhuma delas chegou a 1% do que
eu tô sentindo agora. — A mamãe ama tanto vocês. — Chorei
baixinho, encantada. — Eles são a sua cara. — Ri,
praguejando baixo.
— Eu tinha razão desde o início. — Ele gargalhou. —
Mas, preste atenção. Os olhos e bocas são seus.
Encarei, memorizando cada detalhe deles. Desde os
cabelos castanhos, o formato dos olhos que ainda
permaneciam fechados, os narizes arrebitados, as bocas
carnudas e rosadas, até as pontas dos dedos dos pés. Eram
perfeitos. Uma mistura minha e de Henri, em dose dupla.
Meu rosto doía de tanto que eu estava sorrindo.
Felicidade, algo que por anos achei que não era digna.
Mas, aqui e agora era definitivamente o que eu mais tinha na
minha vida.
Fomos separados por alguns instantes para que
pudessem preparar os bebês completamente. Fui transferida
para um quarto privado que já estava preenchido por todos
aqueles que amo.
Henri, Annie, minha mãe, Jacob, Rosie, Mad, Joanna e
Clair.
— Eu sei que está aqui, Anne. Esse momento não seria
o mesmo sem você. — Falei em pensamento.
Nos últimos meses eu me vi conversando bastante com
ela. Não haviam respostas, mas eu sentia sua presença. E isso
era reconfortante.
A festa foi grande quando os bebês voltaram para mim.
Todos atenciosos e gentis. Eu queria estar 100% ali, mas o
cansaço que atingia cada vez mais forte.
Henri os dispensou e depois de muita luta para
convencer Annie a ir com minha mãe, ele pegou a garotinha
que cansou de mamar e agora dormia tranquilamente. Ele a
aninhou em seus braços e beijou sua testa antes de colocá-la
no berço.
— Dorminhoca igual a mãe. — Sussurrou.
— Este é guloso igual o pai. — Provoquei.
— Ei, garoto. Espero que consiga dividi-lo com o seu
papai. Sua mãe também é minha.
Os olhos verdes do meu bebê brilhavam, enquanto
encaravam o pai.
— Vem cá. — O chamei.
Henri se acomodou na cama ao meu lado. Encostei
minha cabeça em seu ombro e ele me fez cafuné.
— Acho que nunca me senti tão feliz e completo em
toda a minha vida, Ella. É como viver em um sonho perfeito
que sei que não vou acordar.
— Eu sei bem como é isso. — Respondi sonolenta.
— Me dá ele, vou terminar de colocar pra dormir e você
pode descansar.
— Você é o amor da minha vida, Henri. O destino não
poderia ter feito escolha melhor. Eu te amo.
— Eu te amei por todos esses anos e te amarei pra
sempre, Ma belle. Durma, estaremos aqui quando acordar. —
Beijou de leve meus lábios e tudo ficou escuro.
Mas não era uma escuridão ruim, era só um descanso
rápido e merecido até ser acordada novamente. Eu não estava
nem aí. Estava completa e feliz.
Olá, aqui quem fala é a princesa Annie diretamente do
Reino Hayes.
Estou aqui para agradecer porque Deus foi generoso.
Ele sabia que no nosso lar, perante todo o sofrimento passado,
o amor que existia era avassalador. Então, ele nos presenteou,
não só com um, mas com dois presentes divinos que nos
abençoariam e nos tornariam ainda mais unidos pela
eternidade.
Annelise e Nicolas Hayes nasceram em 8 de agosto, o
mesmo dia em que o papai se apaixonou pela mamãe em
Paris, o mesmo dia em que ele a pediu em casamento e que
escolheram para se casar.
Coincidência ou destino. Dia 8 de agosto era o nosso
dia feliz.
Eu havia vencido o câncer e ganhado uma linda família.
Eu não precisava de mais nada. Estava completa de
amor.
UM ANO DEPOIS

Oito de agosto | Paris, França

Serendipity é uma palavra em inglês que significa uma


feliz descoberta ao acaso, ou a sorte de encontrar algo
precioso onde não estávamos procurando. Serendipity é
quando de repente, e sem querer, alguém descobre algo que o
faz mudar de vida, a solução para os seus problemas, a
resposta para as suas perguntas.
Para mim, Ella Jones, Serendipity se resume em uma
pessoa. Henri Hayes. O amor da minha vida.
O homem que chegou, me amou e me cuidou quando eu
não esperava por mais nada.
O homem que trouxe sentido de volta para minha vida.
O homem que me tirou da escuridão e chutou para fora
todos os meus medos e pesadelos.
O homem que me faz acordar todos os dias com um
sorriso no rosto por saber que tenho a ele e a minha família.
O homem que me deu tudo e que se tornou o meu mundo.
E hoje, 8 de agosto, nosso dia feliz, no nosso lugar feliz,
eu estou aqui prestes a dizer sim mais uma vez e nos tornar
finalmente e para sempre um do outro.

— Se você chorar e borrar a maquiagem, eu juro em


nome do meu bebê que quebro a sua cara.
— Ah, doce Rosie e seus hormônios da gravidez. Pobre
Niall. — Gargalhei. — Lembre-me de ficar bem longe de
você, porque se tem uma coisa que irei fazer hoje é chorar. E
eu tenho três filhos para criar.
— Promete segurar até os votos?
— Prometo tentar.
— Não segure a emoção, Ella. Chore na hora que sentir
vontade. — Mad sorriu carinhosa.
— Eu seguro a Rosie para você. — Mamãe avisou.
— Seguramos. — Jô confirmou.
— Alguém está aqui para ver a mamãe. — Clair surgiu.
— Mama. — Duas bolinhas saltitantes gritaram alegres,
enquanto cambaleavam até mim.
— Oi, meus bebês. — Meus olhos se encheram assim
que os vi. Nicolas em seu terninho preto e Annelise em seu
vestido quase igual ao meu, em uma versão bem menor. —
Olha só para vocês. Tão lindos da mamãe.
— Oh, aí estão vocês, seus pestinhas. — Annie correu
até a gente. — Eles estão agitados demais, mamãe. Não
consegui segurá-los.
— Não tem problema, meu amor. Vem cá, você está
linda. — Sorri, abraçando-a.
— Você é a reine mais linda de todas, maman. — Annie
insistiu em fazer aulas de francês, era realmente adorável.
— Ei, você foi espiar o seu pai, certo? Como ele está?
— Claro. Ele parece estar prestes a desmaiar. — Riu
marota e me juntei a ela.
— Henri sendo Henri.
— Ele não vai fugir. — Me tranquilizou.
— Eu sei que não.
— Ah, ele pediu para te entregar algo.
— O que? — Perguntei ansiosa.
— Hey, Nic e Lis. — Chamou atenção dos bebês. —
Entreguem à mamãe o que o papai pediu.
Eles olharam um para o outro e sorriram, vindo até mim.
— Papa. — Nicolas balbuciou ao me entregar um
envelope.
— Ele pediu para que lesse sozinha. Vem, bebês, vamos
deixar a mamãe sozinha.
Eles gritaram e seguiram Annie.
Minha mãe e as garotas já haviam entendido o recado,
pois saíram, me deixando sozinha.
Olhei para o envelope em minha mão. O papel tinha
algumas manchas que denunciavam não serem recentes.

“Ma belle,
Encontrei isso enquanto vagava pela cabana da minha
mãe na noite passada, eu não entrava lá desde o dia que ela
se foi.
Acho que agora entendi a necessidade que eu senti de ir
lá ontem ver como estava os detalhes do casamento. Eu
precisava encontrar isso e te entregar hoje.
Te amo, meu amor. Contando os minutos para te
encontrar e nos tornarmos um só.
Para sempre seu, H.”

Engoli em seco quando vi meu nome na carta.

Para: Ella Jones | No dia do seu Casamento.


Querida, Ella.
Se você está lendo isso é porque no fim tudo deu certo.
Você conseguiu, minha garota forte. Eu sabia que o
faria. Você venceu a luta por nós duas e eu estou
extremamente orgulhosa.
Eu sabia desde o primeiro momento que pus meus olhos
em você, que seria uma benção nas nossas vidas e que eu
poderia seguir minha missão em paz, pois meu filho estaria
em boas mãos, assim como você.
Eu vi o vislumbre do amor de vocês em meus sonhos. E
foi a coisa mais linda, forte e sincera que vi em toda a minha
vida. Não havia dúvida que vocês eram almas gêmeas e que se
encontrariam novamente.
Eu rezei todos os dias para que meu filho encontrasse a
felicidade e o amor. Que era você. Mas ao te encontrar, não só
ele saiu ganhando, como eu também.
Eu ganhei uma amiga, minha confidente.
E de amiga para amiga e também de sogra para nora,
tenho alguns pedidos para você:
Seja puramente feliz, Ella.
Aproveite todos os dias ao máximo.
Aproveite tudo que a vida tem a lhe oferecer.
Sorria e chore, pois são duas coisas que limpam a alma.
Desabe, mas lembre-se de se reerguer.
Aos dois, encham-me de netinhos.
E por fim, amem-se com todas as suas forças.
Gostaria de estar presente nesse momento tão especial
para você e meu amado filho. Mas não vamos ficar tristes,
estamos em festa.
Aproveite cada momento desse dia e tenha em mente que
estarei acompanhando dentro de cada batida dos corações de
vocês.
Obrigada por todos os momentos e por fazer meu filho
feliz.
Eu te amo, minha garota forte.
Com todo carinho e amor,
Sua Sra. H.
Anne Hayes.
Faltou-me o ar quando todas as lágrimas que eu estava
segurando, caíram. Tudo sobre Anne me atingiu de uma só vez
e eu tive que me sentar para não cair. Acho que a ficha
realmente havia caído.
Solucei ali sozinha, buscando conforto em suas palavras.
Meu coração se aqueceu um pouco mais cada vez que eu reli a
carta. Algo muito forte nos ligava e isso era de muito tempo.
Chorei mais um pouco e conversei com ela em meus
pensamentos como me acostumei a fazer. Agradeci muito a
Deus pelo dia de hoje e por todas as bênçãos que ele me deu.
Pedi proteção e saúde para minha família e descanso eterno
para Anne.
— Mamãe? — Annie bateu na porta antes de colocar a
cabeça para dentro.
— Pode entrar, meu amor.
— Os bebês estão com a vovó. Vim te ajudar, eu sabia
que choraria. — Ela me estendeu um lenço. — Vem, está
quase na hora.
Me levantei e a segui até a penteadeira. Retocamos
minha maquiagem e Annie me ajudou com o vestido. O tal
vestido foi feito especialmente do jeito que eu queria. Eu
sonhei com ele mais vezes do que posso me lembrar. Fiz o
esboço com ajuda da Mad e ele nasceu. Suave, sensual e
único. Combinava bem com o lugar que seria a cerimônia.
— Uma verdadeira rainha.
— E você é a minha princesa.
— Para sempre.
— E sempre.
— Você está pronta?
Respirei fundo e sorri.
— Nunca estive tão pronta.
Minha mãe entrou no quarto junto com os meus bebês.
— Olha só você. Perfeita como sempre. É a noiva mais
linda desse mundo. — Seus olhos estavam brilhando com as
lágrimas que segurava. — Tenho um carro à sua espera,
querida. Pronta para ir?
— Prontíssima.
— Vamos lá te casar, então.
— Mama e papá. — Annelise riu.
— Isso mesmo, Lis. Mamãe e papai. — Ri.

Estava suando e tremendo igual um covarde. Era capaz


de vomitar ou desmaiar a qualquer instante. Talvez os dois ao
mesmo tempo.
Que vergonha, Hayes.
— Cara, eu estou começando a ficar tonto. Você deveria
relaxar. — Niall, meu padrinho, me parou no lugar ao colocar
as mãos em meus ombros.
— Desculpe, estou nervoso pra caramba.
— Eu estou vendo muito bem. Seus olhos parecem que
vão sair da órbita. — Ele riu. — Me diga o que te aflige.
— Não sei, acho que várias coisas.
— Conte-me uma delas.
— Tenho medo de falhar com Ella e com nossos filhos,
tenho medo de não conseguir protegê-los, sinto falta da minha
mãe e queria que ela estivesse aqui para me dizer o que fazer,
estou com medo de desmaiar de emoção quando ver minha
noiva caminhar até mim e parecer um pateta. — Falei rápido.
— Henri, acalme-se. Cara, você está se casando. Com a
Ella. O amor da sua vida. Vocês dois já passaram por trancos e
barrancos tanto separados quanto juntos. Vocês moram na
mesma casa e têm três filhos. Pelo amor de Deus.
— Ainda assim é como se eu estivesse quatorze anos e
fosse dar meu primeiro beijo. Ela sempre me causa isso.
Ele sorriu.
— O que só mostra que vocês foram feitos um para o
outro. Ela é a sua pessoa. Compreendo estar nervoso, mas
ainda assim lembre-se que é a Ella. A sua Ella. Não há o que
temer. Você não vai falhar. Está fazendo um trabalho incrível.
Sua mãe está muito orgulhosa, onde estiver. Tenho certeza. E
sobre desmaiar, eu estarei lá para te levantar. Depois de rir e
filmar, óbvio. — Gargalhou.
— Que ótimo amigo você é.
Que porra eu estou fazendo? Eu posso fazer isso. Eu já
faço isso. Vamos lá, Henri. É a Ella.
Minha mente fez um breve filme com todos os nossos
momentos. Desde o dia que a vi pela primeira vez até ontem
quando a deixei para a nossa despedida. Mentalizei nosso
amor e a nossa família. E foi a minha salvação.
— Ok. É isso. Vou me casar com o amor da minha vida.
Eu estou pronto.
— É assim que se fala. Vamos te casar, garanhão.

Ao meu lado no altar planejado no fundo da cabana da


minha mãe, estavam Niall e Jacob. Do outro lado as meninas
esperavam Ella. Decidimos nos casar em Paris porque não
havia outro lugar ideal para nos unir, senão onde tudo
começou.
Sorri bobo ao ver Lis surgir toda arrumadinha, jogando
as pétalas de rosas. Ela sorria para todos, enquanto cambaleava
de leve até mim. Forte e determinada igual a mãe.
Quando Nic entrou não pude deixar de rir. Ele carregava
uma plaquinha que dizia: “Não foge, papai. A mamãe tá
linda.”
Não fugiria nunca, filho.
Foi algo inexplicável, mas quando vi Ella surgir em meu
campo de visão, acompanhada de sua mãe, incrivelmente
perfeita em seu vestido branco, eu não desmaiei ou vomitei.
Meu nervosismo se foi e eu sorri. Sorri completamente feliz e
hipnotizado. Tudo ao redor sumiu, fazendo só ela existir.
Minha linda garota sexy.
A única coisa que não pude controlar foram minhas
lágrimas.
Não havia forma alguma de não chorar ao vê-la.
Ela sorriu de volta, tentando segurar as lágrimas, mas
falhou na missão.
— Eu sabia que ela não iria aguentar esperar até os
votos. — Rosie sussurrou, fungando logo em seguida.
— Nem você esperou, quem dirá ela. — Mad rebateu.
— Shhh! — Silenciei as duas sem olhá-las.
Helena me abraçou, dando-me um beijo em cada
bochecha minha.
— Continue o bom trabalho protegendo-os e amando-os.
Não há outra pessoa para isso a não ser você. Sempre teve
minha benção, filho.
— Pode deixar. — Sorri grato por suas palavras. — E,
Helena? Obrigado.
Ela assentiu e entregou Ella para mim. Senti os tremores
percorrerem pelo meu corpo quando nossas mãos se tocaram e
ela parou em minha frente.
— Oi, meu amor. — Sussurrou.
— Oi, Ma belle. Você está tão linda. — Sussurrei de
volta encantado e deixei um beijo em sua testa. Ela estava
ainda mais perfeita de perto. — Pronta para ser minha para
sempre?
— Esperei a minha vida toda por esse momento.
Ella apertou ainda mais minha mão e nos viramos para o
juiz de paz que sorria para nós.
— Hoje, nesse dia tão abençoado e cheio de
significados. Estamos aqui para presenciar e celebrar o amor
em sua forma mais pura. Não aquele amor que estamos
acostumados. Mas, aquele que ultrapassou todos os seus
limites, barreiras, dificuldades e provações e no fim,
permaneceu intacto. Aquele amor inabalável e confiante que
nos faz mergulhar em uma imensidão desconhecida sem medo
algum do que nos espera no fim. Porque há a certeza de que
algo melhor nos está destinado. Aquele amor que nasceu e
cresceu de forma árdua e inigualável. Forte. Indestrutível.
Infinito. Que foi abençoado e destinado desde o primeiro
instante por aquele que está acima de tudo e de todos. Ella e
Henri são sinônimos de amor. São a prova viva de que o que
Deus e o destino uniram, ninguém na terra poderá separar.
Dito isso, podemos dar início a nossa cerimônia. Vocês, meus
queridos noivos, querem citar seus votos ou irão seguir a
forma tradicional e repetir minhas falas?
Sem desviar nossos olhares, respondemos juntos.
— Temos nossos votos.
— Ótimo, ótimo. Sintam-se à vontade para começar.
— Eu começo. — Ella anunciou. — Já meio que
combinamos. — Riu. — Não há muito a se dizer quando já
nos declaramos todos os dias um para o outro. Acho que é uma
das coisas que mais amo em nós. Nossa sinceramente e
cumplicidade. Nossas declarações em momentos aleatórios
desde o início é o que nos torna tão nós. Nosso carinho e nossa
forma leve e ao mesmo tempo tão intensa de convivermos e
nos amarmos. Não consigo dizer que hoje é o dia mais feliz da
minha vida, porque todos os dias com você, Henri e com a
nossa família, são os meus dias felizes. Também não consigo
me imaginar em outra vida sem você. Eu amo cada detalhe
seu. Eu amo te ver tropeçar em tudo com seu jeito desastrado.
Eu amo todos os seus defeitos, porque até eles são perfeitos.
Eu sou grata pela sua existência, pela sua persistência, por
nunca desistir de mim e de nós em todos esses anos. Por trazer
a felicidade de volta para as nossas vidas, por amar e proteger
a mim e aos nossos filhos com todas as suas forças. Eu sou
grata por ser tão presente a todo instante. Obrigada por me
fazer viver as melhores coisas ao seu lado e pelo privilégio de
dividir uma vida com você. Eternamente grata por tudo isso e
por aquele lá em cima que nos uniu. Não sou perfeita, como
você também não é. Mas juntos? Somos além da perfeição. Eu
te amo com todo o meu amor, para sempre e sempre. E te
atropelaria mil vezes se significasse que acabaríamos aqui,
dessa mesma forma.
Essa mulher não existe!
— Você foi além do combinado, espertinha. — Ri,
enxugando suas lágrimas. — O que te falar depois disso, Ella?
Perdi totalmente meu foco aqui. Passei todo o tempo antes de
entrar quase desmaiando de tão nervoso que eu estava, nada
me acalmava a não ser pensar em você, em nós e em nossos
filhos. Tive medo de falhar, de não conseguir ser o suficiente
para vocês e depois me xinguei porque se tem uma coisa que
sei fazer, é cuidar e amar vocês. Meu propósito aqui é esse.
Outra coisa também é que eu sabia que pertencia a você antes
mesmo de te conhecer. Eu clamava por você em meus sonhos,
eu pedia a Deus todas as noites que a protegesse e a trouxesse
para mim. E então, quando esse dia chegasse, eu a amaria com
todo o meu amor, até o último dia da minha vida. E é isso que
irei fazer. É a minha promessa a você e agora, a nossos filhos e
que cumprirei com todo prazer, todos os dias. Sempre foi você
e sempre será. Não há vida sem você, Ella. Não há felicidade,
não há amor, não há nada. Você é meu tudo. A minha vida. A
minha mais pura razão de viver. Eu te amo para todo sempre e
um pouco mais.
— Terminaram ou há algo mais para nos fazer chorar?
— Perguntou o juiz, apontando para todos, inclusive ele, que
choravam.
— Já dissemos tudo. — Rimos.
— Daremos continuidade então. Henri Hayes, você
aceita Ella Meredith Jones como sua legítima esposa, para
amá-la e respeitá-la, na alegria e na tristeza, na saúde e na
doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias das suas
vidas, até que a morte os separe?
— Eu aceito! — Assenti confiante, dando à Ella meu
sorriso mais sincero.
— Ella Meredith Jones, você aceita Henri Hayes como
seu legítimo marido, para amá-lo e respeitá-lo, na alegria e na
tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por
todos os dias das suas vidas, até que a morte os separe?
— Minha resposta é unicamente e para sempre, sim! Eu
aceito.
— Hora de selar esse amor eternamente. As alianças?
Olhamos para a entrada, onde Annie surgiu, portando
nossas alianças com um sorriso enorme no rosto. Ela
caminhou até nós e me entregou a caixinha de veludo.
— Finalizando com chave de ouro. — Piscou.
Ela havia pedido para ser quem iria entregar o objeto
que nos uniria para sempre. Nunca iria negar nada a ela.
— Obrigado, minha princesa.
Ela foi até Ella sussurrando um “estou tão feliz” e se
juntou aos irmãos e a avó.
— Eu te amo, Ella. — Sussurrei, enquanto deslizava a
aliança em seu dedo. — Para sempre. — Beijei o anel.
— Eu te amo, Henri. — Sussurrou de volta, fazendo o
mesmo com a minha aliança. — Além do para sempre.
— Pelos poderes a mim concedidos, eu vos declaro
marido e mulher. Pode beijar a noiva. — Finalizou o juiz.
— Além do para sempre, é muito tempo. Tem certeza
que vai encarar?
— Eu já encarei. E a eternidade ao seu lado ainda é
pouco para mim.
Não esperei mais um segundo e a beijei intensamente.
Gritos e aplausos explodiram, mas em minha cabeça tudo foi
silenciado. Só existiam Ella e eu. Minha Ella. Que agora,
finalmente, seria minha para todo sempre.
Como todos sabemos, nada na vida é fácil e o caminho nem
sempre é curto. Mas pensar somente na dificuldade não nos
leva a nada. Precisamos mudar nossa perspectiva, aprender a
vivenciar e desfrutar do caminho da nossa jornada e o
principal, seguir firme.
She foi o meu maior desafio vivido. Dia após dia, crise
após crise. Desistir era a opção mais fácil, mas continuar era o
meu sonho. Venci a insegurança e a ansiedade mais vezes do
que posso me lembrar. A cada página apagada e reescrita, a
cada lágrima derramada, a cada surto que pensei em me
entregar.
Mas, além de toda força que descobri ter, existiram
pessoas por trás disso que me ajudaram a levantar todas as
vezes que caí. Pessoas que choraram e riram comigo, que
estiveram ao meu lado na pior e na melhor, que fizeram eu me
enxergar e não desistir. E que, obviamente, eu não poderia
deixar de agradecer:
Então, às minhas meninas dos grupos GANG e LUNHS.
Às minhas leitoras fiéis (Desde o Wattpad — onde tudo
começou, até o Chapters.). Agradeço por terem achado espaço
em seus corações para que um pouquinho de mim habitasse.
Hoje eu sou quem eu sou e cheguei onde eu cheguei por causa
de vocês. Vocês terão sempre um lugar fixo em meu coração,
juntamente com cada mensagem de apoio e carinho. Mais uma
vez, obrigada! E até breve.

Com amor, Ellie.


Instagram Literário: @allthellie
Instagram Pessoal: @_ellenfeitosa
E-mail: allthellie@gmail.com

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