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Universidade Federal de Minas Gerais

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas


Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Seleção para o Mestrado em Psicologia

ASSIM COMO NO CÉU, NA TERRA: AS FIGURAS SANTAS DO FEMININO


SACRIFICADO E A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER CARIRIENSE

Área de Concentração: Psicologia Social


Linha de Pesquisa: Cultura, Modernidade e Processos de Subjetivação
ASSIM COMO NO CÉU, NA TERRA: AS FIGURAS SANTAS DO FEMININO
SACRIFICADO E A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER CARIRIENSE

Área de Concentração: Psicologia Social


Linha de Pesquisa: Cultura, Modernidade e Processos de Subjetivação

Objetivos

A presente pesquisa se destina a tratar da discussão sobre o símbolo das figuras


femininas santificadas através do sacrifício causado pelo outro, as quais habitam o imaginário
popular caririense, e como este pode estar reforçando uma cultura machista e patriarcal de
séculos de violência contra a mulher na Região do Cariri, localizada ao sul do estado do Ceará.
Traçando um paralelo entre narrativas antigas e atuais, propomos um diálogo entre a
mitologia da Fundação do Mundo dos Kariri (povos nativos que viveram na região até a
chegada do homem branco em meados do séc. XVI), a história da santa padroeira Nossa
Senhora das Dores incorporada à cultura caririense no século XIX e os relatos populares das
mulheres santificadas pelo povo através do século XX. Todas essas narrativas possuem um
elemento em comum: o ponto central da história diz respeito a uma mulher sacrificada por um
homem em prol de um dito benefício coletivo, a mudar a maneira como a violência é executada.
A análise de tais narrativas será usada como uma lente para enxergar e analisar interfaces dos
crescentes números das atuais estatísticas de violência de gênero e feminicídio na região,
mesmo com a aplicação das políticas públicas para as mulheres implantadas pelo estado.
Como objetivo geral dessa pesquisa, pretende-se lançar mais um ângulo de compreensão
sobre os mecanismos coletivos embutidos na cultura que reforçam a mulher na posição de
vítima da violência, primeiramente no imaginário e posteriormente realizada no real.
Os objetivos específicos são: a) Abranger uma forma de estudo que incorpore as
narrativas populares e ancestrais de uma região como fonte de pesquisa para a compreensão do
funcionamento da vida interna do indivíduo e da coletividade em que está inserido; b) Buscar
traços de valores passados de geração em geração no que se refere ao contexto de violência de
gênero; c) Compreender quais são os lugares em que a mulher é colocada nessa sociedade
patriarcal e quais mecanismos reforçam essa posição; d) Conhecer as formas de resistência
feminina oprimidas através das épocas; e) Interpretar o contexto atual de violência como uma
construção cultural e manutenção de valores arraigados na sociedade caririense desde os tempos
antigos; f) Investigar e pensar intervenções que atuem na desconstrução destes valores culturais.
Justificativa

A Região do Cariri é marcada por recorrentes casos de violência contra a mulher e


feminicídio. Apesar de não ser um fenômeno recente, visto que encontramos esses registros
também nas gerações anteriores à nossa, os números se mantêm em estado de ascensão, apesar
da atuação recente das políticas públicas para as mulheres aplicadas no estado do Ceará.
Uma das maneiras de compreender os fenômenos sociais é estudando as variáveis que
o atravessam, como mostram no nosso caso, as pesquisas que apontam o profundo
relacionamento entre gênero, violência, raça, classe social e o sistema capitalista. Tais estudos
são essenciais para gerar dados concretos da realidade sobre os mais diversos fenômenos
sociais, auxiliando na criação de intervenções adequadas e políticas públicas efetivas que
atendam as legítimas necessidades no campo das nossas mais diversas realidades.
Considerando que a Região do Cariri se faz notar pelas demandas de violência contra a
mulher, a pergunta de partida é qual é a relação dessa realidade atual com o contexto de
sacrifício das mulheres caririenses santificadas vítimas de feminicídio no séc. XX e com a
expressão de valores que apontam para a soberania do homem sobre a mulher passado de
geração em geração na narrativa do mito de fundação do mundo Kariri.
A narrativa Kariri a ser trabalhada se trata de um mito sobre a criação do mundo, onde
aparece o protagonismo da trindade sagrada dos deuses masculinos Badzé, Warakidzã e Poditã,
junto à breve aparição de uma única deusa, a qual é brutalmente assassinada pelos humanos a
mando da trindade divina em prol da fertilidade dos homens e da terra. A análise desse mito é
de suma importância para traçar um paralelo de sacrifício do feminino em benefício da honra
do homem e da sobrevivência do sistema patriarcal, tanto na narrativa primitiva quanto nos
relatos dos casos contemporâneos dessa mesma região.
O recorte ao qual nos ateremos nessa pesquisa é o contexto de violência contra a mulher
e sua relação com as figuras femininas sacrificadas por uma figura masculina, as quais são
santificadas no âmbito coletivo patriarcal do território caririense. Ao nos relacionarmos com o
símbolo da mulher santificada através do sacrifício do outro, abordaremos a fonte sobre um
mito da cosmogonia do Povo Kariri, ancestrais dos caririenses contemporâneos, na tentativa de
amplificar a compreensão dessa violência atual com base na realidade dos antigos.
O diálogo entre tais narrativas visa amplificar a compreensão sobre os mecanismos que
reforçam e naturalizam, quase como uma herança, o contexto de violência praticado contra a
mulher. Segundo (HARDING, 2019, p. 27), “Se nos voltarmos para o fundo da consciência
descobriremos que as ideias, como os mitos primitivos, formam a base dos sentimentos e
estados de espírito do homem contemporâneo. Antigos pensamentos-sentimentos possuem
poder indiscutível”. É a base dos sentimentos da cultura caririense contemporânea que
pretendemos analisar com o recorte do estudo da violência de gênero.
O intuito desta pesquisa não é oferecer resoluções utópicas no campo das violências
contra as mulheres ou mesmo esgotar as discussões sobre o tema, mas estudar mais um braço
deste fenômeno social que atravessa o cotidiano caririense e que tem peso na existência
individual e coletiva. O recorte do qual iremos tratar, apesar de atuar na realidade caririense,
pode ser tido como um pequeno reflexo da realidade brasileira, visto que,, somos um país com
profundas raízes no âmbito da religiosidade e cujo surgimento de figuras femininas santificadas
através do sacrifício se estende por todo o território nacional.
A pesquisa inicia-se com a contação de um mito do Povo Kariri, onde o foco é a figura
do feminino divino sacrificado. Segue-se a observação de figuras femininas humanas
santificadas através do sacrifício de um outro masculino. Analisa-se a relação dessas figuras
divinas e santificadas com o discurso invisível que colabora para reforçar o contexto de
violência contra a mulher da região: a formação de uma cultura psicológica, que reforça e
propaga valores onde o feminino é posto em um lugar de sacrifício simbolicamente em prol da
sobrevivência simbólica de uma coletividade.
Discutimos, então, a ideia de que quando esse sacrifício sai do lugar simbólico e é
manifestado na realidade, gera o ponto onde vemos brotar as estatísticas. É preciso investigar o
motivo de a violência se mostrar descarada mesmo com a atuação de todo o aparato das políticas
públicas implementadas, e buscar traçar um perfil psicológico dessa mulher, identificando os
mecanismos de reforçamento dessa violência e como ela age sendo repassada de geração em
geração através dos valores coletivos.
O motivo da opção pela Psicologia Social para desenvolver esta pesquisa se deve ao
fato de tratarmos aqui de um fenômeno social, onde precisaremos analisar a pergunta-problema
com o pensamento crítico considerando a dimensão histórica, a fundamentação teórica e a
dimensão subjetiva do processo de pesquisa, ferramentas inerentes à esta área de concentração.
Acredito que a pesquisa seria melhor desenvolvida na linha de pesquisa Cultura,
Modernidade e Processos de Subjetivação por encaixar-se no estudo dos processos de
subjetivação de um povo baseado nos valores culturais de violência e subjugação da mulher
passados de geração em geração através das épocas, o que exige uma abordagem que considere
mais de um ângulo de observação e saberes interdisciplinares, dando ao objeto de estudo uma
dimensão mais totalizante e menos unilateral possível.
Referencial Teórico

No princípio era a trindade, e o quarto elemento. No mito fundador do mundo Kariri,


podemos perceber a existência de uma trindade masculina sagrada, criadora dos primeiros
humanos, e uma única deusa, a Mãe-de-todos:

Afirma a tradição que o Cariri era o território mítico de Badzé – o deus do fumo e
civilizador do mundo. No princípio era a Trindade: Badzé era o Grande- Pai, Poditã
era o filho maior e Warakidzã (senhor do sonho), o filho menor. Os dois irmãos
habitavam a constelação de Órion. Badzé enviou Poditã, o seu filho preferido, para a
terra Cariri e esse ensinou aos índios a reconhecer os frutos, a caçar animais, a fazer
farinha de mandioca, a preparar utensílios de uso cotidiano, a dançar, a cantar e a fazer
os rituais de pajelanças. Os índios viviam felizes, mas tinham apenas uma Única-
Mulher, a Deusa-Mãe, princípio primevo do cosmo de onde se originaram todas as
coisas. Eles desejavam mais… desejavam possuir muitas mulheres que pudessem
preparar os alimentos que colhiam e caçavam e que gostassem de se deitar com eles
nas redes para afugentar o frio da noite. Para satisfazer os desejos dos Cariri, Poditã
orientou-os para que eles, quando fossem catar piolhos na Única-Mulher, ferissem a
sua cabeça com um espinho mágico e a matassem. Depois, eles deveriam cortar o
corpo da Única-Mulher em tantos pedaços quanto fossem os homens e cada homem
deveria envolver o seu pedaço da mulher com capuchos de algodão. Os índios fizeram
tudo, conforme as orientações de Poditã, e depois foram para a caça. Quando
regressaram, viram admirados que, na aldeia, havia muitas mulheres. Elas
alimentavam o fogo e tinham preparado uma grande quantidade de bebidas e comidas.
Saciadas a fome e a sede, os índios e as índias sussurucaram em suas redes. Tiveram
muitos curumins (crianças) e ficaram felizes, pois a Única-Mulher tinha se
transformado na Iara – a Mãe das Águas (o feminino cósmico, inumano), o que
assegurava a fertilidade da terra, possibilitando grande abundância de caças e de
frutas. Por tudo isso, os índios viviam felizes e agradecidos, dançando e cantando em
honra de Poditã (...). (CARIRY, 2001)

O que, provavelmente, é o primeiro relato de um feminicídio na região caririense, trata-


se de uma narrativa passada de geração em geração através da oralidade, e que forma o conjunto
de tradições dos Povos Kariris que temos conhecimento. Não sabemos datar essa tradição oral,
mas temos conhecimento que os nativos dessa terra foram massacrados entre o final do séc.
XVII e início do séc. XVIII, sendo esse o recorte de tempo usado para dar idade a tais narrativas
e seus valores expressados.
A Única-mulher morava na terra com a tarefa dos cuidados das criaturas e da criação,
em oposição à morada da trindade que habitava as constelações inalcançáveis. O pedido dos
homens recém-criados culmina no sacrifício da deusa, cujo corpo se transforma em muitas
mulheres, garantindo a fertilidade e portanto um futuro para a tribo, e sua alma se aloja embaixo
da terra, de onde jorra a abundância de águas da região, garantindo a fertilidade das matas. Um
sacrifício causado pelo indivíduo, com o aval dos deuses, e em prol do coletivo.
Entre os séculos XIX e XX há registros de feminicídios em várias partes da Região do
Cariri, também mulheres sacrificadas pelo indivíduo, no papel de um homem, com o aval dos
deuses, os valores da época, em prol do coletivo, a honra desse homem na esfera pública:

Beata Benigna (Santana do Cariri - 1941), que foi assassinada diante da recusa de
manter relações sexuais com o agressor; Luzia Coelho (Barbalha - 1952), morta pelo
enteado diante de um conflito familiar que eclode em meio às relações simétricas de
poder e mando no interior da família tradicional; Francisca Augusta da Silva (Aurora
- 1958), assassinada pelo ex-noivo depois de a mesma ter rompido com a promessa
de casamento; Francisca Maria do Socorro (Milagres - 1943), morta após uma
tentativa de estupro quando buscava água em uma fonte de água nas proximidade de
sua residência; Rufina (Porteiras - XIX-XX) violentada, assassinada e esquartejada
em face da suspeita de adultério com um rico senhor de engenho, pela esposa traída;
Maria Caboré (Crato - 1920-30), mulher tida como louca e que encontra santidade
diante da dedicação aos doentes do cólera e Maria Filomena de Lacerda (Mauriti -
1975), assassinada pelo marido em companhia da amante. (BARRETO, 2018, p.52)

Todos esses casos comungam mais um traço em comum: a santificação dessas mulheres
pela movimentação popular, tornando-se verdadeiras intercessoras pelo sofrimento daqueles
que as buscam. Há relatos de mulheres vítimas de violência doméstica que recorrem com preces
e promessas à Beata Benigna e a Mártir Francisca em favor de findar o seu sofrimento. Nesses
casos, o fenômeno de santificação de mulheres deve ser olhado não como um episódio isolado,
mas como um elemento que dialoga com a violência de gênero nessa região.
As estatísticas apontam que há uma média de 211 casos de violência doméstica por mês
na Região Metropolitana do Cariri (Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha), tendo sido
contabilizadas 13 vítimas de feminicídio (o assassinato de mulheres por menosprezo ou
discriminação à condição de mulher) no período de 2020-2021, mais as subnotificações, pois
muitas dessas mortes entram nas estatísticas como homicídio. Os fatores de vulnerabilidade
dessas vítimas perpassam por gênero, raça, cor e etnia, baixa escolaridade e desemprego.
Safiotti (1987, p.28) nos aponta que “outro fator frequentemente lembrado para explicar
a inferioridade social da mulher concerne aos preconceitos milenares, transmitidos através da
educação, formal e informal, as gerações mais jovens. Não há dúvida de que existem
preconceitos contra a mulher”. Tais preconceitos fundamentaram a formação de uma cultura
patriarcal que exerce o poder através da violência, a qual reforça e propaga valores onde o
feminino ocupa o lugar de inferioridade e de vítima, em que o sacrifício ocorre pelas mãos de
um outro, geralmente masculino, em prol da sobrevivência simbólica de uma coletividade.
Nossa Senhora das Dores ou Mãe das Dores, é o símbolo-mor da religiosidade cristã na
região do Cariri. É a padroeira e protetora do povo sofredor, que se identificam com a imagem
da santa, a qual carrega sete flechas atingidas no coração coroado exposto em sangue. Segundo
notas da CNBB “Nossa Senhora é a “Mater Dolorosa”. A morte de Jesus, sempre unida à
ressurreição, significa a passagem para o Pai, o julgamento definitivo de Jesus sobre o mundo
e suas forças destruidoras, o instante da glorificação plena de Jesus”. Diferente das outras
figuras presente na nossa análise, a Mãe das Dores não sofreu violência diretamente de um
outro, mas sofreu por causa de um outro. As sete flechas no coração da santa simbolizam as
setes dores que a dilaceraram ao acompanhar o processo de sacrifício do seu filho Jesus.
Se por um lado a mulher é sacrificada por outra pessoa, por outro lado ela própria se
sacrifica por outro. Esse contexto de sacrifício relacionado à figura da mulher também age no
imaginário da maternidade e da esposa dedicada. Em todos os contextos dessas figuras, aparenta
que a mulher é quem deve sacrificar-se em prol do outro ou do bem coletivo. Como no caso da
Mae das Dores, que se sacrificou pelo seu filho em prol da salvação da humanidade. Não parece
coincidência o fato de esta figura específica ter sido posta como representação maior da fé cristã
do povo caririense, que com ela mantém profunda identificação e devoção.
A expressão “assim como no céu”, no presente contexto, diz respeito a esse lugar no
imaginário, que apesar de não-palpável nos alimenta com correntes de ideias, valores, normas
e crenças segundo os quais comunga uma comunidade. Nos discursos apresentados, a Deusa
Kariri e a Mãe das Dores habitam nessa dimensão do imaginário popular, sendo o reflexo dos
princípios que regem a vida desta sociedade. Enquanto “na terra” diz respeito à realidade
palpável, onde entramos em contato com as realizações das projeções do imaginário, que nesse
contexto se trata das mulheres violentadas e mortas como símbolo da comunhão desse homem
com os princípios machistas e patriarcais da referida sociedade na qual está inserido.
Quando o sacrifício sai do lugar simbólico e habita a realidade, vemos como resultado a
violência atuada contra os corpos e as subjetividades femininas, e que apesar do aparato
jurídico, policial e assistencial das políticas públicas, não são capazes de conter ou intimidar os
autores dessa violência, o que nos leva a questionar por quais meios estes se sentem autorizados
e amparados na prática da violência sem o temor de um possível acerto de contas.
Finalmente, pensamos em propostas de intervenções na realidade violenta e de
desconstrução de valores machistas patriarcais, considerando a teoria de JUNG (2019) a qual
fala sobre o papel da Anima e do Animus, os quais são, respectivamente, o princípio feminino
e o princípio masculino inerentes à psique de cada ser humano. Ambos coexistem sob o mesmo
princípio de igualdade, sendo opostos complementares. E que podemos pensar que a saída para
o impasse de poder entre um e outro, como estão refletidos no mundo externo, seja o
reconhecimento dessas partes em si, o diálogo e a reintegração destas com elas próprias e com
o todo. Neste caso, que os homens reconheçam e reintegrem sua Anima.
Metodologia

Para tratar da complexidade do tema, propomos uma análise sob a perspectiva


metodológica da Psicologia Social Crítica. Devido à sua característica de engajamento com as
questões sociais e políticas do fenômeno pesquisado, tal metodologia se difere das demais por
oferecer à produção de conhecimento largo potencial de vir a ser “uma estratégia para a
melhoria nas condições de vida das pessoas, especialmente as mais empobrecidas e
vulneráveis” (Lima & Lara, 2014, p. 08).
A discussão teórica é delineada pelo diálogo entre autores de várias áreas do
conhecimento, os quais oferecem aportes conceituais para a compreensão do atravessamento
da violência de gênero no campo religioso, no que diz respeito às figuras femininas sacrificadas
e como estas comungam com a realidade violenta com as mulheres na sociedade caririense.
Os marcos teóricos para análise das fontes se distribui no diálogo entre SAFIOTTI
(1987; 2004) e SCOTT (1988) nas perspectivas de gênero e patriarcado; JUNG (2013) e
WOLFF (1956) no que diz respeito à estrutura psíquica da mulher e análise psicológica do
coletivo; VON FRANZ (1995) e HARDING (2019) trazendo o recorte da função psicológica
do feminino e a imagem da mulher no coletivo; BOURDIEU (2014) na conceituação de
violência simbólica; e demais autores que nos auxiliarão no entendimento dos atravessamentos
da mitologia e do conceito de sacrifício e santidade no tema tratado.
Para mapear essas perspectivas analíticas dos discursos serão utilizados os três
princípios das possibilidades metodológicas das abordagens da análise do discurso em
Psicologia Social Crítica, apontados por (Lima & Lara, 2014, p. 36), como norteadores deste
trabalho: (a) a dimensão histórica dos fenômenos discursivos; (b) a fundamentação teórica que
subsidia a análise do discurso; e, (c) o respeito à dimensão subjetiva do processo de pesquisa.
Nesse entrelaçamento entre história, teoria e subjetividade, o desenvolvimento da
pesquisa seguirá, ainda, os procedimentos de revisão bibliográfica, um levantamento teórico-
conceitual; do método de interpretação filológico e hermenêutico, ferramenta para a
interpretação e comparação do material coletado, permitindo um diálogo entre os saberes;
perpassado pelas inflexões individuais (fruto de leituras, atividades de pesquisa e aproximação
do tema através da experiência de atendimento clínico a mulheres vítimas de violência).
O planejamento das atividades relacionadas ao mestrado e ao desenvolvimento da
pesquisa encontram-se dispostas na tabela a seguir:
2024
Meses
Atividades

Ago

Nov
Mai
Mar

Abr

Dez
Out
Fev

Jun

Set
Jan

Jul
Disciplinas x x x x x x x x x
Obrigatórias e
Eletivas
Estágio em x x x x x x x x x
Docência
Qualificação x

2025
Meses
Atividades Abr

Mai

Ago

Nov
Mar

Out
Jul
Fev

Dez
Set
Jun
Jan

Revisão x x x x x x x x x x x
Bibliográfica
Redação Final e x x x x
Submissão do
Artigo
Defesa da x
Dissertação

Referências

BARRETO, Polliana de Luna Nunes. Educação e Santidade: as representações do feminino


na região do Cariri cearense Psicologia Social – Fortaleza, 2018.

BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina: a condição feminina e a violência simbólica.


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CARIRY, Rosemberg. A Nação das Utopias. Enapegs, UFCA, mar. 2001. Disponível em
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HARDING, M. Esther. Os mistérios da mulher. Tradução: Maria Elci Spaccaquerche
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HUBERT, H.; & MAUSS, M. Ensaio sobre a natureza e a função do sacrifício. In: MAUSS,
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JUNG, C.G. Símbolos da transformação. 9.ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2013.

JUNG, E. Animus e Anima. Trdução Dante Pignatari. São Paulo: Cultrix, 2019.

LIMA, A. F. & LARA, N. Metodologias de pesquisa em Psicologia Social Crítica. In A. F.


Lima & N. Lara. (Orgs). Sulina: Porto Alegre, 2014.

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MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade.
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