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BRASIL

200 ANOS DE INDEPENDENCIA

MARIA ISABEL
(CONDESSA DE IGUASSÚ)
A FILHA BASTARDA DE D. PEDRO I
GUILHERME PERES

A MARQUESA DE SANTOS

Domitila de Castro Canto e Melo,


nasceu em São Paulo no dia 27 de dezembro
de 1797. Filha de João de Castro Canto e
Melo e Ecolástica Bonifácia de Toledo
Ribas, casou-se aos 16 anos com o alferes
Felício Luiz Pinto Coelho de Mendonça com
quem teve três filhos, separando-se em 1824.
Residente no Rio de Janeiro, sede do
Império, Domitila veio a ser uma das figuras
mais contraditórias do Primeiro Reinado.
Após conhecer D. Pedro I durante uma viagem que este fizera a São
Paulo em 1822, iniciaram um romance que se manteria ao longo de
sete anos.
Como uma de suas amantes preferidas, o imperador levou-a
para o palácio e a nomeou como dama-do-paço e camarista de sua
esposa, D. Leopoldina. Desse relacionamento com d. Pedro I,
Domitila teve cinco filhos, sobrevivendo apenas duas
meninas: Isabel Maria (1824-1898), reconhecida pelo imperador
e feita Duquesa de Goiás, e Maria Isabel (1830-1896), condessa
de Iguassú por casamento.
Muitos historiadores acreditam que a morte da Imperatriz em
1826 foi atribuída ao desgosto causado pelo imperador ao
reconhecer publicamente Isabel Maria como filha e nomear
Domitila com os títulos de viscondessa e posteriormente, de
marquesa de Santos.

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CASA DA MARQUESA DE SANTOS NO RIO DE JANEIRO

MARIA ISABEL

Quarta e última filha de Pedro I com D. Domitila de Castro


Canto e Melo, Maria Isabel Alcântara Brasileira, nasceu em São
Paulo no dia 28 de fevereiro de 1830. Por não reconhecê-la
legitimamente como filha, seu pai jamais lhe outorgou um título
honorífico, ao contrário de sua irmã D. Isabel Maria de Alcântara
Brasileira, nascida em 23 de maio de 1824, agraciada dois anos mais
tarde com o título de duquesa de Goiás. Maria Isabel, porém,
receberia o título de condessa de Iguassú, após casar-se com Pedro
Caldeira Brant, filho do marques de Barbacena, detentor desse
título.
Em meados de 1829, após ser “convidada” a abandonar a
Corte em razão de D. Pedro I haver contraído “novas núpcias por
procuração com uma princesa européia arranjada pelas
habilidades diplomáticas de Barbacena”, Domitila amargava a dor
de deixar seu palacete em São Cristóvão e partir para São Paulo.
Sem alternativa, despediu-se dos últimos dias na convivência do
Imperador, porém, levava no ventre o fruto do seu amor, mesmo
sem ter o reconhecimento de sua paternidade.
Mais tarde, moça formada, Maria Isabel escreveria a uma
amiga: “Eu nasci a 28 de fevereiro de 1830, com o selo de bastarda,
tanto por parte de pai como de mãe. A culpa não foi dela e sim do
meu pai, que não quis me reconhecer no batistério”. E conclui com
amargura: “Eu nasci sofrendo”, registra Carlos Maul.

2
TESTAMENTO

Embora a tenha citado em seu


testamento feito em Paris no dia 21 de
janeiro de 1832, D. Pedro não a
reconheceu como filha, mencionando
apenas que “aquela menina que lhe
falei e que nasceu na cidade de São
Paulo no Império do Brasil... Desejo
que essa menina seja educada na
Europa para receber igual educação a
que se esta dando a minha sobredita
filha a duquesa de Goiás e que depois
de educada, a mesma senhora D. Amélia Augusta Eugenia de
Leuchtemberg, duquesa de Bragança, minha adorada esposa, a
chame semelhantemente para o pé de si”.
Após a morte de D. Pedro, D. Amélia atendeu seu desejo,
conforme demonstra mensagem enviada por ela “aos banqueiros
Samuel Philips e Companhia, do Rio de Janeiro, para que eles se
incumbissem de encaminhar Maria Isabel à Europa, onde lhe seria
dado o ensino que é hábito então proporcionar à gente da sua
linhagem”.
Acusando o recebimento do pedido, a mensagem foi
respondida por D. Domitila, em carta datada de 15 de fevereiro de
1840, esta agradeceu os “bons ofícios” da duquesa de Bragança, mas
preferiu ela mesma cuidar da filha que sofria de epilepsia, herança
que trazia “como prova da paternidade que a natureza gritava no
corpo daquela criança”. Justificando a longa viagem que teria que
fazer com a saúde frágil da menina, Domitila esclareceu em carta,
que havia voltado à Corte a conselho médico, para cuidar da
educação da menina dizendo: “deixei-a num colégio que se acha em
Botafogo e que me inculcaram como o melhor”. Nesse educandário,
de propriedade da inglesa Miss Poter, Maria Isabel ficaria internada
até a idade de 11 anos.
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RETRATO DE UMA PERSONALIDADE

Como se percebe, o projeto que D. Pedro havia traçado para


Maria Isabel de uma educação européia não saiu do papel. Em 11
de agosto de 1850, em comemoração a data de fundação dos cursos
jurídicos no Brasil, a Academia de Direito de São Paulo, promoveu
um baile realizado como de costume no palacete da Marquesa.
Maria Isabel no brilho de seus vinte anos foi “dona” da noite. “Os
cabelos em bucres, cobrindo-lhes os ombros, como no famoso
retrato pintado por Grumholtz, (que ilustra este artigo), e se
encontra no museu Nacional de Belas Artes, os olhos azuis e
maliciosos, o rosto ovalado, a boca fina e cortada, o colo
descoberto e robusto, as mãos de dedos longos, o vestido com
recamos caros, realçava-lhe a linha principesca. Era para ela os
olhares mais ávidos, a curiosidade cobiçosa dos rapazes, a
consideração grave e sisuda dos velhos que murmuravam:
- É o retrato vivo da mãe!...”.

E assim crescia Maria Isabel, a filha bastarda de D. Pedro I


com D. Domitila. Mais tarde, durante uma viagem do Rio de Janeiro
a São Paulo em dezembro 1874, a bordo de um vapor, a mãe e o avô
de Gastão Penalva conheceram Maria Isabel, então condessa de
Iguassú, com 44 anos. Militar e escritor brasileiro (1887-1944),
Gastão Penalva é autor de vários livros de História e poesia
destacando-se “Claros e Sombras”, “Gente do Mar”, “A Viagem da
Imperatriz” e outros.
Em carta a Carlos Maul, o próprio Gastão Penalva descreve o
seguinte testemunho:
“Sobre a Iguassú, minha mãe viajou com ela do Rio para
Santos a bordo do vapor “Paulista”. Ela era alta, forte, insinuante,
com lindos olhos azuis. Extremamente simpática, procurava
aproximar-se de todos os passageiros com sua palestra finamente
irônica, pontilhada de meiguice.
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Nessa viagem seguiu meu avô materno, o Dr. Joaquim José
do Amaral, para São Paulo, onde ia exercer o cargo de chefe de
polícia. Nasceu-lhe uma filha a bordo, que se chamou Ondina, entre
São Sebastião e Santos. O fato preocupou naturalmente a todos os
passageiros. Foi a condessa quem mais se interessou pela
parturiente e pela menina que acabava de vir ao mundo em pleno
oceano.
À noite sob um lindo luar tropical, a condessa no seu
camarote, sentada no beliche, com o belo rosto na vigia aberta,
cantava com voz belíssima que a todos extasiava.
Em conversa, nunca se esquecia de referir-se à mãe, a
marquesa de Santos, com o afeto mais enternecido. Chegada a
Santos subiu para São Paulo, onde continuaram as relações de
amizade com os meus. Minha mãe não tinha nesse tempo oito anos
de idade, e lembra-se da condessa como uma das figuras marcantes
da sua infância”.
O depoimento de Gastão Penalva, embora longe de expressar
o que seria a verdadeira personalidade de Maria Isabel, nos fornece
alguns elementos para percebermos que apesar de afirmar ter
nascida sofrendo, mostra seu bom relacionamento com a sociedade.

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MARIA ISABEL NA MATURIDADE E AINDA JOVEM

A MARQUESA EM SÃO PAULO


Segundo Pedro Calmon: “A marquesa costumava reunir em
sua casa às vezes vários amigos. Recebia-os no salão e sentava-se
numa cadeira de espaldar alto, espécie de trono, e daí conversava
longamente, ouvia e contava as suas histórias. Diz-se que de uma
feita ela saiu-se com essa observação profundamente irônica:
- São Paulo está cheio de mulheres bonitas, solteiras casadas
e viúvas. Todas muito honestas. Mas a roda dos enjeitados não
cessa de receber crianças... E a mãe de todos eles é sempre a
senhora Marquesa de Santos... “Aceito com satisfação essa
maternidade...”
Esplendidos saraus promovidos por D. Domitila nos fins de
semana, quebravam a rotina de sua casa em São Paulo, e lembravam
os dias de fausto da Corte em seu palacete de São Cristóvão. A
luminosidade dos salões surpreendiam a todos os que chegavam em
liteiras reluzentes trazendo ricos proprietários de fazendas e
senhores de engenhos. Os “cabriolets” e os “tilburis” faziam parte
desse desfile pomposo, onde damas e cavalheiros acompanhados da

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criadagem farfalhavam suas roupas e vaidades ao ritmo das valsas
vienenses e leques de seda rendados.
Neste ambiente de esplendor, Pedro Caldeira Brant
aproximou-se de Maria Isabel. O doce sorriso da menina moça
encantou o já encanecido viúvo que se desmanchava em gentilezas
ao fazer-lhe a corte, iniciando ali um discreto namoro.
Não passando despercebido aos olhos atentos de Domitila, a
marquesa questionou a filha toda aquela intimidade. Mostrando-se
contrária ao início daquele amor, fazia referência ao pai de seu
pretendente, o marques de Barbacena como um de seus maiores
inimigos a liderar o coro das críticas a sua pessoa, incitando o
imperador para seu segundo casamento e censurando a vida
promíscua a que estava entregue.

O CASAMENTO
O ressentimento da marquesa, porém cedeu aos caprichos da
filha, afinal, ele trazia o título de conde de Iguassu. O casamento
realizou-se no Rio de Janeiro, no dia 2 de setembro de 1848, com a
marquesa e amigos presentes ao ato religioso. Os dotes oferecidos à
Maria Isabel por sua mãe somavam uma pequena fortuna em jóias,
apólices e mais oito contos de réis em moedas.
Retirando-se para Iguassú, onde o conde tinha sua
propriedade com engenhos, portos e escravos denominada Brejo,
Pedro Caldeira procurou cerca-la de toda atenção. Durou pouco,
entretanto a lua de mel. Maria Isabel era “irascível, brigona e gênio
tempestivo” estava frequentemente nervosa e por várias vezes
ameaçara deixar o lar.
As despesas se avolumavam com os gastos constantes da
condessa, que não acompanhavam a habilidade comercial do conde
em repor o dinheiro. Apesar disso “nasceram quatro filhos; Pedro
de Alcântara, que viveu até 1868; Maria Isabel, que morreu sem
descendência; Maria Teresa, que se casou com o inglês Charles
Collins, e Isabel, que se casou com o Dr. Antônio Dias Pais Leme”,
diz Carlos Maul em “A Marquesa de Santos”.
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TEATRO SÃO PEDRO, PALCO DE DIVERSÕES DESDE O PRIMEIRO IMPÉRIO.

VIDA MUNDANA
Freqüentadora assídua dos grandes recitais dos cantores
líricos italianos no Teatro São Pedro, Maria Isabel era vista
regularmente desembarcando dos carros que chegavam para os
espetáculos. Participando do “ruge-ruge dos balões de seda e
tafetás; o namoro a distancia entre frisas e camarotes ou deles para
as cadeiras; exaltações dos partidários de seus artistas preferidos;
versos e flores atirados ao palco”.
As oferendas a eles entregues alcançavam valores
impressionantes. Em 1852, A. Stoltz, cantora lírica “que não
percebia menos 28:000$000, quatro vezes o que ganhava um
ministro, recebia em seu “benefício” uma coroa de ouro, brilhantes
e esmeraldas que lhe foi presenteada pela viscondessa de Abrantes,
um colar de pérolas no valor de 4.000$000 que lhe mandou a
imperatriz, um broche de brilhantes de 1.000$000 que lhe deu a
senhora Bregaro, e mais pulseiras,alfinetes, brincos...numa festa
cuja renda em dinheiro subiu a mais de 16.000$000”.
Publicada na revista “Estudos Brasileiros” em 1952, Marques
dos Santos descreve: “essa coroa oferecida pela sociedade
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fluminense era representada por 44 senhoras, entre as quais as
viscondessas de Abrantes, de Monte Alegre, de Paraná, e a
condessa de Iguassú”. Ao final de um espetáculo “cantando o dueto
da Favorita, a senhora viscondessa de Abrantes, reclinando-se
sobre o parapeito do seu camarote, estendeu os braços para a
artista” lhe presenteando o mimo pousado sobre uma almofada. “As
flores e as coroas cruzavam-se no ar antes de cair a seus pés”, diz
Charles Expilly, visitante francês no Rio de Janeiro citado por
Wanderley Pinto em “Salões e Damas do Segundo Reinado”.

A SEPARAÇÃO

Durante esse período, começaram a surgir informações


secretas a respeito do comportamento de Maria Isabel, diz Augusto
Maurício em “O Que Ficou do Passado”. “As suspeitas
acabrunhadoras por parte do marido, e daí a desconfiança que se
converteu afinal em dolorosa realidade – o conde era enganado
pela esposa”.
Em nome do amor, o conde tentou “regenerar a esposa,
prometendo-lhe perdoar a falta prometida”, entretanto “os erros e a
desonestidade da mulher se sucediam com freqüência, enodoando
cada vez mais o brasão que pertencera ao pai do esposo – o
marques de Barbacena, um dos mais respeitados e nobres fidalgos
do Brasil”.
Com a intenção de divorciar-se, o conde procurou
aconselhar-se com D. Pedro II. Este não só “aprovou a sua
resolução, como louvou o passo que ia dar nesse sentido”.
Convidada a comparecer ao palácio, Maria Isabel foi “repreendida
pelo monarca e proibida de entrar no passo imperial”, finaliza
Augusto Maurício.
“Foi uma mulher bonita e atrabiliária... pela sua fraqueza de
espírito foi a mais mimada das filhas da marquesa. Domitila deu-
lhe tudo o que pode”, provando em somas elevadas, reveladas no
inventário após sua morte: “Bens móveis e imóveis, animais,
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escravos, objetos de ouro, prata e pedras preciosas”, completa
Carlos Maul.

OS CALDEIRA BRANT

Felisberto Caldeira Brant Pontes, primeiro visconde e


marquês de Barbacena, nasceu no dia 19 de setembro de 1772 no
arraial de São Sebastião, São João d’El Rei, Minas Gerais, era filho
do coronel Gregório Caldeira Brant “Contratador de Diamantes” e
de Ana Francisca de Oliveira Horta. Desse consórcio nasceram três
filhos: Felisberto Caldeira Brant Pontes, segundo visconde de
Barbacena. Anna Constança, viscondessa de Santo Amaro e Pedro
Caldeira Brant, conde de Iguassú.
Sua filha Anna Constança, casou-se com José Carlos de
Almeida Filho, marquês de Santo Amaro. Felisberto Caldeira Brant
(1802-1906) casou-se com a alemã Augusta Isabel Kirckhoefer e
Pedro Caldeira Brant (1814-1881) casou-se com Cecília Rosa de
Araujo Vahya, Dama do Paço e filha dos condes de Sarapuí. Este,
tendo enviuvado, contraiu segundas núpcias em 2 de setembro de
1848, com Maria Isabel Brasileira de Bragança, filha de D. Pedro I e
da marquesa de Santos.
Ainda na Baixada Fluminense encontramos o nome de
Ildefonso de Oliveira Caldeira Brant, visconde de Gericinó, irmão
de Felisberto, (o pai), proprietário do engenho de Gericinó, próximo
ao engenho São Matheus, (Nilópolis), morreu solteiro.
Mattoso Maia Forte destaca a descendência do marquês pelo
lado materno de Fernão Dias Paes, pois sua mãe, Ana Francisca de
Oliveira Horta, era bisneta do “Caçador de Esmeraldas”. Esta
senhora enviuvando do pai do marquês, casou-se com Garcia
Rodrigues Paes Leme, vindo assim o marquês de Barbacena a ser
irmão pelo lado materno, dos marqueses de Quixeramobim de São
João Marcos.

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Felisberto Brant (pai) estudou em Lisboa no Colégio dos
Nobres, matriculando-se na Academia Real da Marinha onde
assumiu o posto de capitão de mar e guerra. Serviu em Angola
prestando serviços de combate contra corsários que assolavam a
costa angolense. Voltando ao Brasil em 1808 na viagem com D.
João, fixou-se na Bahia sendo promovido a brigadeiro quando ali
fundou o Arsenal de Guerra, recebendo em 1818 o posto de
marechal de campo.
Retirou-se para o Rio de Janeiro em 1822 tomando assento
como deputado à Assembléia Constituinte em 1823. “Dissolvida a
Constituinte, partiu novamente para a Europa em 1824 investido no
cargo de plenipotenciário do governo brasileiro para tratar do
reconhecimento da independência e negociar um empréstimo de três
milhões de libras” destinadas a atender “despesas urgentes”.
Em 1826, os deputados encarregados de examinar as contas
do governo, descobriram que Caldeira Brant “a título de retribuição
pelos serviços prestados, recebeu polpuda comissão de 2% do total
do empréstimo”, cujo escândalo se alastrou por toda a Corte “sob a
acusação de conduta antipatriótica”.
Em 1828 pediu reforma do serviço militar no posto de
marechal do exército. No mesmo ano embarcou para a Europa com
credencial de embaixador, para tratar do segundo casamento de D.
Pedro I com D. Amélia de Leuchtemherg.
Como embaixador credenciado na Inglaterra, foi envolvido
por outro rumoroso caso de empréstimo com a “Casa Rothschild, no
valor de 400 mil libras. Operação negociada ainda mais misteriosa
do que as do empréstimo de 1824 -1825. Dinheiro que nem chegou
ao Brasil, posto que serviu para amortizar os encargos daquela
primeira dívida.”
Sobre o “caso Barbacena”, Octavio Tarquinio de Sousa em
sua magnífica coleção: “História dos Fundadores do Império do
Brasil” no volume IV, resgata a honra do visconde dando voz ao
acusado através da correspondência trocada com o imperador,
desfazendo o peso de sua culpa, interpretadas de maneira

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estereotipada pela historiografia, tanto tradicional como
contemporânea.
Encarregado de acompanhar D. Maria II à Europa, e tratar do
segundo casamento de D. Pedro, Barbacena fez grandes despesas:
aquisição de carruagens, baixelas, viagens, demonstrações de
riqueza etc. “de tudo prestara contas Barbacena, e recebera dois
alvarás de quitação do imperador, um de 1º de dezembro de 1829 e
outro de 14 de abril de 1830”.
Insinuações vindas em cartas do velho continente destinadas
ao imperador colocavam em dúvida a honestidade do visconde, que
além das contas, entregara os livros de escrituração, motivo de
dúvidas das despesas. “Terá sido talvez em novas leituras desses
livros que D. Pedro entrou a descrer na exação do marquês”
Segundo a contabilidade, o imperador era devedor do
Tesouro e sua preocupação em ressarcir o Estado era ponto de
honra. Desconfiado, D. Pedro decidiu refazer todas as contas “e
examinar todos os comprovantes... e para isso passou a perseguir
Barbacena com cartas e pedidos de informação”.
Miguel Calmon ocupava no Gabinete de José Clemente a
pasta da Fazenda “e voltara ao governo por instâncias de
Barbacena”, motivos também dos ataques de D. Pedro, a ponto de
pedir sua demissão diante de evasivas referente aos gastos do seu
protetor.
Sentindo-se ameaçado, Barbacena, segundo Octavio
Tarquínio, escreveu a D. Pedro em 15 de dezembro de 1830, “a
carta mais franca, altiva e profética que jamais terá recebido um
rei”. Recordando seu passado de servidor probo e leal, o marques
declara que “em semelhantes circunstâncias Senhor, necessário é
salvar a minha vida, retirando-me para o engenho de Gericinó,
onde estarei em guarda... mas não posso encetar a minha viagem
sem suplicar a V.M.I. que pondere no abismo em que se lança... a
catástrofe que praza a Deus não seja geral, aparecerá em poucos
meses; talvez não chegue a seis”.
Suas previsões foram precisas: “ao cabo de três meses e vinte
e três dias, realizava-se o vaticínio com abdicação do imperador”.
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Aliados na conspiração, os nomes de Francisco Gomes da Silva e
José clemente Pereira eram citados na missiva como os culpados
pelas intrigas, citando as mazelas com o dinheiro do Estado
envolvendo de seu nome.
Agraciado com os títulos de visconde e marques de
Barbacena, das Ordens de: Pedro I; de Cristo; do Cruzeiro e da
Rosa, além de “outras do estrangeiro”, faleceu no Rio de Janeiro
em 13 de junho de 1841, sendo sepultado na igreja de São Francisco
de Paula. Seus restos mortais foram transferidos mais tarde para um
mausoléu de mármore no cemitério de São Francisco Xavier, por
sua filha a viscondessa de Santo Amaro.

DESCENDENTES
O Sr. Gilmar Barros em carta a este cronista, relata que o
título de primeira condessa de Iguassú para D. Cecília Rosa de
Araújo Vahya, foi outorgado por sua Majestade Imperial no dia 2 de
dezembro de 1840. Nesta mesma data seus pais receberam
respectivamente os títulos de conde e condessa do Sarapuhy. Seu
pai, Sr. Bento Antônio Vahya, era Guarda-roupa do Imperador. No
Almanaque Laemmert de 1850, encontramos o nome desta condessa
como sendo “fazendeira em Merity”.
“A família Caldeira Brant, mesmo sem origem nobre,
enobreceu durante o primeiro e o segundo Impérios, por que
prestou relevantes serviços nos Ministérios, Governos de
províncias, Forças Armadas, Senado e principalmente no Corpo
Diplomático do Império do Brasil” diz o Sr. Gilmar Barros.
Entretanto, no Dicionário do Brasil Imperial, organizado por
Ronaldo Vainfas, fomos encontrar referências de sua origem de
nobres Flamengos.
A mais grave mácula na honra da família Caldeira Brant,
ocorreu em 1830. Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira e
Horta (pai) foi demitido da Pasta da Fazenda sob a acusação de
improbidade administrativa, ou seja: corrupção.

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ENGENHO DO BREJO

O ano de 1815 marcou a chegada da família Brant na região


do Iguassú, com a compra da fazenda do Brejo pelo Sr. Felisberto
Caldeira Brant (pai), das mãos do padre Miguel Arcanjo Leitão.
Com o seu falecimento em 1841, assumiu a propriedade seu filho
Pedro Caldeira Brant, o conde de Iguassú. Segundo Maia Forte,
aquele se recolheu a esta fazenda “quando incorreu no desagrado
de D. Pedro I”.
Executou diversas obras em suas terras “como a canalização
de um braço do rio Sarapuhí, com seis eclusas e a regularização de
seu curso. Obteve a concessão que não se tornou efetiva, para
construir uma linha férrea entre o Brejo e as margens do rio
Guandu”, diz Mattoso Maia Forte. Nomeado por Carta Imperial,
ocupou a presidência da província do Rio de Janeiro como seu
oitavo presidente. Entretanto teve gestão efêmera: de 7 de junho a 9
de outubro de 1848, sem tempo para executar qualquer
empreendimento que viesse marcar sua passagem como governo por
esse Estado.
Ainda como proprietários e fazendeiros na Baixada
Fluminense encontramos o nome de Ildefonso de Oliveira Caldeira
Brant, visconde de Gericinó, “irmão de Felisberto”, (o primeiro),
proprietário do engenho de Gericinó, ao lado do engenho São
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Matheus, (Nilópolis), morreu solteiro. Do casamento de Felisberto
Caldeira Brand (filho), com a alemã Augusta Isabel Kirckhoefer
nasceu Augusta Maria Caldeira Brant que mais tarde se casaria com
José Pereira de Bulhões Carvalho.
Ao que parece os Bulhões Carvalho eram naturais ou
descendentes de pais com bens de raiz na freguesia de Jacutinga,
(Belford Roxo), pois fomos encontrar seus nomes entre os “juizes de
Paz” nesta Freguesia, registrado no Relatório da Província do Rio de
Janeiro no ano de 1850, da mesma forma o encontramos na
Freguesia da Vila de Iguassú, onde ocupavam o cargo de “substituto
de Juiz Municipal de Orphãos e Delegado de Polícia”. A partir
desta data, encontramos seu nome ou de seus ascendentes
comerciando nessa região.
O Almanaque Laemmert registra que durante os anos de
1853, 1854, 1855 e 1856, Francisco Pereira Bulhões Carvalho
ocupou o cargo de vereador na Câmara Municipal da Vila de
Iguassú, sob a presidência de Francisco José Soares.
No “Relatório da Província” do ano de 1854 vemos o nome
Francisco Pereira de Bulhões Carvalho como um dos “principais
fazendeiros e lavradores de café e mandioca” e a referência à Bento
Pereira de Bulhões Carvalho como “fazendeiro”, exercendo também
as funções de “delegado” em Jacutinga.
Segundo o mesmo “Relatório” de 1853 na página 71, está
registrado um porto no Brejo, em nome de “Carvalho Junior & Cia.
ltda.”, acompanhado de um pequeno anúncio no qual descreve sua
atividade. Seria este pertencente a linhagem da família Bulhões de
Carvalho?
O anúncio diz: “PORTO DO BREJO: Recebem todos os
gêneros do interior, compram e remetem por conta de seus donos
para a Corte. Tem um completo sortimento de fazendas secas,
ferragens e molhados que vendem pelo preço do Rio de Janeiro,
Pastos excelentes para as tropas, e boas aguadas. Desembarque na
Corte no trapiche do Cleto. Escritório na Corte na Rua de São
Pedro n. 63, Carvalho e Rocha”.

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CANAL DO BREJO

Com esse título o Relatório da Província publicou em 1849,


um documento descrevendo a conclusão desse canal “desde o
Calhamaço até o Rio Sarapuhy”, feito pelo “Exmo. Visconde de
Barbacena, com a extensão de 4.500 braças”, projetando estende-lo
em associação com os Srs. José Bernardes Brandão e José
Gonçalves de Carvalho Junior “até os rios São Pedro e Santa Ana,
também independente dos cofres públicos e sem outro favor do
governo”.
A construção do canal cortava em três partes a Estrada Geral,
via importante de passagem em direção à Corte, “obrigando-se a
construir as pontes que forem necessárias, para o que solicitaram
ultimamente da presidência, a expedição das convenientes ordens
ao engenheiro chefe do Distrito”.
Aplaudindo “o bom resultado que seu empreendedor há
colhido no canal que abriu no Brejo”, o governo relaciona os
inúmeros benefícios obtidos com a obra, “que além de facilitar a
exportação, tornou aproveitáveis terrenos que até então não
passavam de alagadiços e insalubres”, conclui o Relatório.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

VIANNA, Helio – “Vultos do Império”, Cia. Ed. Nacional – SP, 1968


VAINFAS, Ronaldo – “Dicionário do Brasil Imperial”- Ed. Objetiva,
RJ - 2002
AFRÂNIO PEIXOTO, Ruy – “Imagens Iguaçuanas”- Ed. Autor -1968
MAUL, Carlos – “A Marquesa de Santos” – Liv. Império, 1957- RJ
TAUNAY, Affonso de -“Grandes Vultos da Independência Brasileira”
Cia. Melhoramentos – SP – 1922
MAIA FORTE, José Mattoso – “Memória da Fundação de Iguassú”
Tip. Jornal do Comércio – 1933
BARROS, Gilmar – “a Condessa de Iguassú” – Correspondência com
o autor - 2006
RELATÓRIOS da Província do Rio de Janeiro 1849/1850/1851/1852

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