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DIMENSÕES

HISTÓRICO-
FILOSOFICAS DA
EDUCAÇÃO FÍSICA E
DO ESPORTE

Cristiano Rodrigues Lozada


História e origem
da educação física
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar a origem da educação física e suas características durante


a era pré-histórica.
„„ Descrever as características e a evolução da educação física na China,
na Índia, no Japão e no Egito.
„„ Reconhecer fundamentos históricos que estão presentes na cultura
da educação física dos dias atuais.

Introdução
Você já parou para pensar na grande importância que a história possui
em sua vida? É ela que permite o reconhecimento do sentido das coisas
no mundo. A história mostra que tudo o que cerca as pessoas é fruto de
um processo e está em constante movimentação e construção. Assim,
ela não é constituída apenas de datas importantes ou grandes feitos
heroicos, mas também do dia a dia das pessoas “comuns”, com as suas
mais simples singularidades.
Como acontece com toda área de conhecimento que possui funda-
mentação histórica, é de suma importância conhecer alguns períodos da
história da educação física e suas características. Neste capítulo, você vai
estudar a origem da educação física e as suas características no período
da pré-história, bem como a evolução dessa disciplina nas civilizações
chinesa, indiana, japonesa e egípcia. Assim, você vai reconhecer alguns
fundamentos históricos que estão presentes nas mais diferentes ativida-
des físicas até os dias atuais.
2 História e origem da educação física

A origem da educação física e suas


características durante a era pré-histórica
Desde a sua origem mais remota, o homem vem se adaptando, criando
fórmulas e novas soluções para seguir adiante em seu processo de evolução.
Em função de um habitat hostil, o homem primitivo desenvolveu hábitos
peculiares para lidar com as condições que lhe eram impostas. A luta com
animais que dividiam o espaço de suas cavernas e a caça ao alimento faziam
parte do seu dia a dia. Assim, você pode considerar que já naquela época
os homens realizavam uma enorme e intensa “aula” de educação física
(COSTA, 2000).
Tubino (1992) afirma que o homem pré-histórico, especialmente o da Idade
da Pedra, realizava atividades físicas impostas pelas necessidades advindas
da própria sobrevivência. Nesse período, o ser humano estava submetido a
lutas constantes, à necessidade de obter sua alimentação por meio da caça e
da pesca, aos hábitos migratórios e a outros aspectos ligados à sua segurança.
Portanto, ele vivia em constante atividade física. Esse mesmo autor ressalta
o caráter utilitário da perspectiva guerreira que permeava as atividades do
homem primitivo. Tais atividades englobavam desde longas caminhadas ou
marchas até movimentos relacionados a trepar, saltar, lançar, atacar e defender,
levantar e transportar.
Os homens primitivos, enquanto nômades, contribuíram com o desenvol-
vimento da atividade física no que diz respeito à sua primeira característica:
o utilitarismo. Ou seja, as movimentações que faziam eram decorrentes de
necessidades básicas de sobrevivência, conforme relata Marinho (1980). O
autor ainda menciona que o caráter utilitário-guerreiro foi surgindo à medida
que aquele homem primitivo deixou de ser nômade e fixou-se à terra ao lado
dos rios, tornando-se assim agricultor. Desse modo, ele passou a organizar os
primeiros agrupamentos humanos que dariam origem, nas épocas seguintes,
a grandes nações.
Ramos (1982) detalha as atividades que o homem primitivo execu-
tava dando-lhes duas atribuições bem específicas: atacar e defender-se. A
principal preocupação do homem pré-histórico era a busca constante pelo
alimento para sua subsistência e a de seus familiares ou companheiros. Esse
autor ainda relata que, devido à sua essência nômade, o homem primitivo,
além de andar grandes distâncias nos mais diversos terrenos, também
rastejava, escondendo-se em vegetações ou em meio a árvores para cercar
suas presas.
História e origem da educação física 3

Além disso, nesse período o homem subia em árvores para observar,


apanhar frutos ou até mesmo para fugir de seus inimigos e/ou animais fe-
rozes. Saltava de grandes alturas e transpunha abismos, fossos e obstáculos
presentes em suas jornadas. Levantava e transportava pedras, troncos e
outros objetos. Corria em alta velocidade e/ou por longo tempo em busca
de suas caças ou para fugir de tempestades, de seus inimigos ou de animais
ferozes. Arremessava pedras e paus em alvos quase sempre móveis, usava
muito suas mãos e punhos, além de utensílios ainda rudimentares que se
pareciam com machados, com o intuito de golpear ou até mesmo executar
algum tipo de trabalho. Lutava, de maneira brutal, corpo a corpo, empregando
sua inteligência, que era pouco desenvolvida, para vencer outros homens
ou animais. Transpunha rios e lagos a nado, mergulhava em profundidade
para apanhar peixes ou em alguns casos até mesmo se esconder de possíveis
ameaças.
Você pode considerar que as caminhadas constantes e as corridas, em
particular, eram as atividades físicas básicas da época. Em certos momentos,
correr era uma questão de vida ou morte, conforme relata Ramos (1982).
Séculos mais adiante, se desenvolveram o homem de Heidelberg, o homem
de Neanderthal e o homem de Cro-Magnon, sendo que este último é o
Homo sapiens em sua fase primitiva. Mesmo com uma lenta evolução, foi
o homem paleolítico que melhor se equipou com instrumentos de pedra
lascada, melhorando cada vez mais a organização de materiais que pudes-
sem lhe auxiliar em sua rotina. Surgiram assim objetos como: machado,
raspador, lança, faca, punhal, agulhas de osso, arpões pontiagudos, anzóis
e pedras de pontas aguçadas para o arremesso. No fim desse período,
surgiram o arco e a flecha, usados para abater aninais e inimigos a certas
distâncias.
Na caverna de Mas d’Azil, localizada onde hoje é a França, foram encon-
trados por historiadores desenhos de utensílios de trabalho e armas, todos
eles expressando o uso de pedra lascada (Figura 1). Em muitos outros lugares,
pelos mais diferentes continentes, numerosos registros foram encontrados,
entre eles um interessante desenho de um arqueiro correndo.
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Figura 1. Inscrições em pedras feitas em cavernas pelo homem pré-histórico.


Fonte: Jannarong/Shutterstock.com.

Já na época neolítica, possivelmente 10 mil anos a.C., as principais con-


quistas realizadas pelo homem foram atividades como a tecelagem, a olaria,
a produção artificial de fogo, os instrumentos e armas de pedra polida e o uso
rudimentar de metais. Tal época foi marcada pela fixação do Homo sapiens
ao solo por meio da agricultura efetiva e da domesticação de animais.
Além do aspecto utilitário-guerreiro, havia também as atividades físicas
voltadas aos rituais e cultos. Nessas atividades, o homem primitivo tinha seus
olhos voltados para o céu. O mundo e as forças naturais formavam uma unidade
para ele, que necessitava subsistir mediante grandes esforços, considerando
sempre a sua sobrevivência como um favor dos deuses.
Nesse sentido, a dança, desde a época paleolítica e por anos depois dela,
tornou a atividade física algo místico e lúdico, indicando um estado menos
cruel, um despontar de sentimentos no homem primitivo. Mas não somente sob
a forma de dança eram feitas as manifestações dos ritos. Sabe-se que desde os
tempos mais remotos os exercícios corporais, rudimentarmente sistematizados,
constituíam atos de respeito em grandes festividades religiosas, incluindo até
o culto aos mortos (RAMOS, 1982).
As cerimônias fúnebres encontradas nas mais diferentes civilizações pré-
-históricas explicitam o desejo dos familiares do morto de demonstrarem a
ele que, mesmo após sua morte, nada havia mudado. Os rituais eram, então,
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a possibilidade de, mais uma vez, os mortos participarem das alegrias e dos
bens da existência humana.
Ramos (1982) destaca que as atividades físicas do homem das civilizações
primitivas apresentaram cinco aspectos básicos. Essas atividades eram: na-
turais, utilitárias, guerreiras, rituais e recreativas. Assim, não se constituíam
como uma prática de educação física sistematizada, e sim como uma forma
espontânea e ocasional de o homem daquela época se exercitar.
Dessa forma, como você viu, a educação física surgiu de uma prática natural
de sobrevivência da humanidade. Os homens precisavam desenvolver muitas
das atividades que hoje compõem a cultura corporal de movimento como uma
questão de sobrevivência. Os indivíduos que não conseguiram desempenhar
bem tais atividades não sobreviveram nem deixaram herdeiros. Portanto, a
partir das práticas que o homem levou a cabo para sobreviver e propagar a
espécie, o seu processo evolutivo envolveu também o processo evolutivo da
educação física, que anos mais tarde se desenvolveu de forma específica em
diferentes lugares do mundo.

Confira, no link ou código a seguir, um artigo da re-


vista Supeinteressante que conta a história da evolução
dos ancestrais do homem contemporâneo.

https://goo.gl/KB7Lvd

A evolução da educação física na China,


na Índia, no Japão e no Egito
Com o passar dos tempos, a vida do homem se tornou mais fácil. Com isso,
novas preocupações foram surgindo. Ou melhor: a qualidade de vida passou
a ser cada vez mais almejada, pois a simples sobrevivência já havia sido
superada. Portanto, era o momento de o homem consolidar sua existência em
meio a tantas adversidades já vencidas.
Tubino (1992) ressalta que, ao revisar os exercícios físicos na Antigui-
dade Oriental, observa-se que o caráter higiênico surgiu com os chineses,
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ainda em práticas ritualísticas. Já os hindus realizavam atividades físicas


com caraterísticas medicinais e higiênicas, filosóficas, morais e religiosas.
No povo japonês, as atividades físicas eram relacionadas ao mar, em função
das condições geográficas da região. Também se desenvolviam práticas de
guerra, que eram realizadas pelos conhecidos samurais (Figura 2). Para o povo
japonês, as atividades físicas possuíam caraterísticas utilitárias, guerreiras,
higiênicas, ritualísticas, recreativas e espirituais.

Figura 2. Samurais com vestimentas da época.


Fonte: a) Hein Nouwens/Shutterstock.com; b) Marzolino/Shutterstock.com.

Os egípcios, segundo Herodoto, historiador grego, praticavam ginásticas,


esportes individuais de combate, além de pequenos jogos e danças. Assim
como em outros povos do Oriente Médio, as práticas de atividades físicas
tinham caraterísticas fundamentalmente utilitárias, sempre relacionadas
às guerras com as quais os egípcios se envolviam seguidamente (TUBINO,
1992).

Foi por meio dos chineses, indianos, egípcios e japoneses que o homem aprimorou
as técnicas em atividades físicas, evoluindo não somente em relação aos movimentos
físicos, mas também no que diz respeito aos critérios filosóficos da educação física.
História e origem da educação física 7

Oliveira (2004) diz que os chineses foram os primeiros a racionalizar o mo-


vimento humano, emprestando-lhe, ainda, um forte conteúdo médico. Criaram,
talvez, o mais antigo sistema de ginástica terapêutica do qual se tem notícia.
O kung-fu (a arte do homem) surgiu por volta de 2700 a.C. e era praticado
pela seita Tao-Tsé. Nessa atividade, a pessoa executava os movimentos nas
mais diversas posições, obedecendo a certos critérios de respiração, tudo de
acordo com a doença a ser tratada. Você deve notar ainda o aspecto religioso
dessa prática, que, além de curar enfermidades do corpo, servia para tornar
o praticante um “leal servidor da alma”.
Já a Índia é reconhecida como uma nação que conseguiu atingir elevado
grau espiritual. Entre as práticas hindus, pode-se destacar a yoga como a
sua manifestação suprema. A parte desse sistema que trata do corpo físico
chama-se hatha-yoga e é fundamentalmente uma ginástica de posições re-
alizada com a utilização de respiração adequada. No entanto, é importante
que você perceba que a yoga não é apenas um conjunto de exercícios físicos,
mas uma doutrina. Ela busca tanto purificar o corpo como também, por meio
da meditação, facilitar a identificação do homem com a sua essência divina.
Integra, portanto, o físico, o intelectual e o emocional, numa bela concepção
do ser humano (OLIVEIRA, 2004).
Nessa época histórica, outros povos destacaram-se pela formação guer-
reira que era dada aos seus cidadãos. Os egípcios foram considerados por
vários historiadores como a mais antiga civilização a deixar seus registros,
principalmente por meio dos murais em seus templos e de seus monumentos
funerários, bem como de todo o restante de sua inconfundível arte. Um
exemplo desses registros está nas paredes das tumbas de Beni Hassan, onde
foram esculpidas e pintadas cenas militares muito minuciosas do tempo dos
faraós. A grande maioria das imagens retrata lutas, formando um mural
extremamente detalhado, como quadros de um filme. Estimulados por
uma longa guerra de independência contra os hicsos, povo asiático que os
dominou, os egípcios foram levados a se exercitarem aplicadamente para
expulsar os invasores, oferecendo um treinamento muito rigoroso aos seus
soldados.
Os egípcios eram exímios praticantes de atividades físicas, possuíam
grande força e resistência. Eles desenvolveram intensamente sua formação
guerreira por meio de um adestramento no uso do arco e da flecha, na prática
da equitação e na luta. Eram um povo muito evoluído culturalmente, possuíam
hábeis engenheiros, matemáticos e astrólogos. O povo do Egito, sem dúvida,
atingiu o mais alto grau de aperfeiçoamento no terreno da atividade física. Os
registros de imagens que deixaram mostram corpos fortes e esculpidos dentro
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de padrões estéticos comparáveis aos dos gregos. Tais registros, agregados às


suas práticas esportivas bastante diversificadas, evidenciam a importância não
só da luta, mas também da natação, do remo e do atletismo, o que constitui
um verdadeiro sistema de educação física (Figura 3).

Figura 3. Registro das atividades guerreiras do povo egípcio.


Fonte: a) Nick Starichenko/Shutterstock.com; b) Lui, Tat Mun/Shutterstock.com.

Outra grande contribuição dos chineses, egípcios, indianos e japoneses


foi na área da dança e das expressões culturais realizadas por meio dos mo-
vimentos corporais. Na China, por exemplo, surgiu a dança do dragão, que é
executada com o auxílio de fantoches com formatos de dragões juntamente
a carros alegóricos. Tais fantoches são confeccionados sob medida para que
possam ser manipulados por uma equipe de pessoas que ficam dentro deles,
fazendo movimentações coordenadas como se fossem um dragão de verdade.
Os dançarinos de dragões executam movimentos para mexer a cabeça do
dragão a fim de imitar o deslocamento dos espíritos do rio, de maneira sinu-
osa e ondular. Além disso, a dança demonstra o papel histórico dos dragões,
representando poder e dignidade.
Já no Egito, a dança servia para a comunicação com os deuses, pois seu
objetivo era a ligação com o divino. Ou seja, a dança tinha como principal
função comunicar, agradecer e pedir proteção aos deuses. Foi o povo egípcio
que criou a dança do ventre, considerada sagrada. Essa dança busca dar ênfase
aos movimentos pélvicos, colocando em evidência o ventre da mulher. A ideia
é simbolizar os ciclos da vida, como as fases da lua, as estações do ano, as
marés, o dia e a noite, bem como o nascimento e a morte.
A dança clássica indiana teve sua origem com o teatro clássico da região,
por meio da escritura chamada Natya Shastra. Natya é a fusão de atuação
dramática, música e dança. E shastra significa escritura. Historiadores relatam
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que o Natya Shastra foi criado pelo deus Brahma, que é o senhor da criação na
cultura indiana. Em sua origem, a dança era apresentada dentro dos templos,
em uma sala construída especialmente para esse fim chamada natyamandapa.
Ela era executada somente por mulheres, que eram chamadas de devadasis,
termo que significa, em tradução livre, “serva dos deuses”. O objetivo da
dança era de oferenda aos deuses, por meio de comidas, flores e especiarias.
A dança clássica indiana é composta por dois tipos: uma chamada de nritta
(dança pura ou abstrata) e outra de nrittya (dança expressiva). Nritta é basica-
mente composta por movimentos fundamentados no ritmo e na música, sem
possuir um significado. Ela tem um caráter simplesmente decorativo e abstrato,
e os movimentos são criados pelas várias partes do corpo para produzir uma
beleza puramente estética. Já a palavra nrittya é composta de hastas (mãos) e
abhinaya (atuar ou educar). A ideia é contar histórias por meio da expressão
das mãos, do rosto e do corpo. Abhinaya é uma síntese de vários aspectos
do processo dramático. Há quatro tipos de abhinaya citados nas escrituras:
angika (refere-se às expressões do corpo), vacika (à fala ou ao canto), aharya
(à caracterização) e satvika (ao comportamento das personagens, expressão
e emoção empregadas).
Já no Japão, a dança teve seu desenvolvimento baseado em rituais de evo-
cação dos espíritos mortos ou em orações que buscavam o repouso das almas.
Entre as várias danças criadas pelos japoneses, há uma chamada kabuki, cuja
movimentação era baseada na fixação dos pés sempre ao solo. Essa dança
buscava estabelecer e renovar o contato com a terra. Seus movimentos ainda
tinham a tendência de flexionar os quadris e membros inferiores, deixando
o corpo o mais baixo possível, acentuando ainda mais a movimentação lenta
e firme.
Você pode perceber, assim, que nos mais diferentes povos, durante as mais
diferentes épocas da história, as atividades físicas sempre estiveram presentes,
ajudando na evolução do homem. Com a evolução, essas atividades também
foram se especializando e melhorando, buscando sempre o aprimoramento
dos exercícios. Assim, as atividades físicas se tornaram não somente algo
necessário para a sobrevivência, mas práticas que podem proporcionar mo-
mentos de prazer.
Como você viu, os chineses, indianos, japoneses e egípcios contribuíram
enormemente para a evolução das atividades físicas que hoje são praticadas
nas mais diversas nações. Proporcionaram, assim, o aprofundamento cons-
tante na área conceitual e, principalmente, na área prática da educação física,
tornando-a uma ciência mais efetiva e respeitada. O objetivo principal de
tal área é o bem-estar físico do homem, deixando sua vida mais prazerosa e
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qualificada. Afinal, os exercícios atuam na prevenção e na manutenção do


condicionamento físico.

Os fundamentos históricos na educação física


contemporânea
Contra tudo e contra todos: assim foi a evolução do homem neste planeta.
O ser humano buscou a sua sobrevivência e o seu espaço em meio a uma
imensidão de adversidades que lhe foram impostas a cada minuto, a cada dia,
a cada estação climática. Para chegar onde se encontra hoje, o homem teve
de aprender e evoluir. Quando aprendeu a caminhar, percebeu que precisaria
correr. Após aprender a correr, veio a necessidade de pular. Depois de pular,
a de nadar e assim por diante. Ou seja: a evolução do homem ocorreu em
conjunto com a evolução de suas necessidades.
Mas como está esse cenário hoje? Restou algum daqueles aspectos de
outrora? O homem conseguiu evoluir a tal ponto que pode não necessitar
mais das práticas do passado? Essas são questões que têm muitas respostas e
grande parte delas estará correta. Afinal, a evolução do homem e da própria
educação física como ciência deu origem a métodos e técnicas específicas.
Nesse sentido, você pode considerar que a qualidade de vida do homem
melhorou muito ao longo dos últimos milênios. Muitas das práticas que
antigamente lhe serviam como base para a sobrevivência hoje são atividades
de lazer ou esportivas.
Os fundamentos das atividades físicas do passado estão nos dias atuais.
Contudo, atualmente também estão em cena as metodologias, a tecnologia e
diversos estudos aprofundados. Por outro lado, algumas atividades continuam
tão simples quanto no momento em que surgiram. É o caso das caminhadas.
O que mudou foi o seguinte: caminhar no passado era uma questão de des-
locamento em busca de alimentos, enquanto hoje a caminhada é realizada
geralmente por prazer e qualidade de vida. Correr, no passado, visava, em
alguns momentos, à fuga de inimigos ou até mesmo de animais. Hoje, a corrida
é uma das modalidades mais praticadas no mundo e é encarada como uma
atividade que visa ao bem-estar e à melhoria do preparo físico, bem como a
grandes competições esportivas.
A dança, outra atividade física extremamente antiga, que tinha como
propósito inicial cultuar os deuses, passou hoje a ter os mais diversos objeti-
vos. Atualmente, ela pode ser recreativa, profissional, para o aprimoramento
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físico, para o desenvolvimento cultural, etc. Ou seja, a dança possui diversos


propósitos na atualidade, mas não deixou de ser conhecida como dança.
Talvez a mais antiga de todas as formas de atividade física, a luta foi o
que manteve o homem vivo no momento das adversidades que lhe foram
apresentadas. Presentes nas mais diferentes épocas e nos mais diferentes
povos, as lutas são mais do que técnicas de combate: elas constituem a cultura
de diferentes nações, representando muitas vezes a ligação do aspecto físico
ao espiritual. Hoje, elas possuem inúmeras modalidades, como judô, caratê,
boxe, muay thai, luta greco-romana e sumô. Também são muito praticadas
as chamadas artes marciais mistas, que misturam artes marciais em suas
mais diferentes modalidades em disputas organizadas para combates corpo
a corpo de atletas de alto nível. Como você pode notar, o aspecto guerreiro
ainda existe e foi aprimorado a ponto de um lutador possuir várias especia-
lidades de combate. Em tempos passados, isso não acontecia e, em alguns
casos, nem era permitido.

O UFC (Ultimate Fighting Championship) é um torneio de MMA (Mixed Martial Arts ou


artes marciais mistas, em tradução literal). Nele, é realizado um tipo de luta oficial
em que podem ser utilizadas técnicas de diversas artes marciais, como golpes de
impacto, imobilização e estrangulamentos. O UFC foi criado e realizado pela pri-
meira vez em 1993, consagrando o brasileiro Royce Gracie como primeiro campeão
(RONDINELLI, [201-?]).

Atividades com o auxílio de ferramentas e armas como arco e flecha,


que no início tinham o aspecto guerreiro e de caça, hoje ainda mantêm essas
características, mas incorporaram mais algumas, que são o caráter de lazer e
de esporte. Antes feitas de bambu, madeira e outros materiais rudimentares,
as ferramentas hoje costumam ser construídas com a mais alta tecnologia,
que é a fibra de carbono, que as torna mais potentes e leves, buscando uma
maior performance em precisão e alcance.
A natação, junto às lutas e às corridas, é uma das práticas de atividade
física mais antigas que o homem conhece. Antes praticada como um modo de
sobrevivência, ela tornou-se uma atividade de lazer e de desafio do homem
consigo mesmo e contra adversários. Hoje, a natação é praticada para o homem
colocar à prova seu vigor físico e mental. As técnicas de sua prática foram
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aprimoradas ao longo do tempo, ao mesmo tempo em que foram implantadas


novas tecnologias, como as roupas especiais.

A roupa de natação chamada de “tubarão” foi criada para melhorar a performance


dos atletas em competições de alto rendimento.

O que mais marcou o processo de evolução das práticas de atividades


físicas é que o cerne de cada uma delas se manteve, ao mesmo tempo em
que foram implementadas novas metodologias de execução dos movi-
mentos. Surgiram disciplinas especializadas nas mais diferentes áreas da
educação física, como: fisiologia, treinamento físico, bioquímica, biofísica,
anatomia, entre muitas outras. Agregado a essas diferentes especialidades,
surgiu também o aprimoramento tecnológico, implementado nos materiais
utilizados pelos praticantes das mais diversas modalidades. Além disso,
auxiliando na evolução de tais práticas, surgiu um nicho mercadológico
específico.
Você pode considerar, então, que os fundamentos da educação física,
implementados inicialmente para a sobrevivência humana, passaram por
uma época de evolução em diferentes povos. Tais povos contribuíram para
aperfeiçoar as atividades físicas e para a evolução de métodos e técnicas
específicas de movimento corporal. Hoje, transbordam as possibilidades de
atividades dentro da educação física: o que se pensar em termos de movimento
humano poderá ser executado e com certeza aprimorado. O que dificilmente
vai mudar é a relação do homem com as atividades físicas, talvez a mais
antiga relação de que se tem conhecimento.
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COSTA, M. G. Ginástica localizada. 3. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2000.


MARINHO, I. P. Histórica geral da educação física. São Paulo: Cia. Editora Brasil, 1980.
OLIVEIRA, V. M. O que é educação física. São Paulo: Brasiliense, 2004.
RAMOS, J. J. Os exercícios físicos na história e na arte. São Paulo: IBRASA, 1982.
RONDINELLI, P. MMA: Mixed Martial Arts. Brasil Escola. Disponível em: <https://bra-
silescola.uol.com.br/educacao-fisica/mma-mixed-martial-arts.htm>. Acesso em: 11
jul. 2018.
TUBINO, M. J. F. Esporte e cultura física. São Paulo: IBRASA, 1992.

Leituras recomendadas
DANÇA clássica indiana. In: Wikipédia. 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/
wiki/Dan%C3%A7a_cl%C3%A1ssica_indiana>. Acesso em: 11 jul. 2018.
DANÇAS japonesas. [200-?]. Disponível em: <https://www.sites.google.com/site/
paginasdocaderno/home/dancas-j>. Acesso em: 11 jul. 2018.
LOPES, R. J. A história dos nossos ancestrais: os outros. Super Interessante, dez. 2006.
Disponível em: <https://super.abril.com.br/ciencia/a-historia-dos-nossos-ancestrais-
-os-outros/>. Acesso em: 11 jul. 2018.

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