Você está na página 1de 44

MANIFESTAÇÕES

CULTURAIS GÍMNICAS
Cíntia Regina de Fátima

e-Book 1
Sumário
INTRODUÇÃO������������������������������������������������� 3

EVOLUÇÃO DA GINÁSTICA AO LONGO


DO TEMPO: PASSADO, PRESENTE E
PERSPECTIVAS PARA O FUTURO����������������� 4
A construção da ginástica na história: da Antiguidade
à Idade Contemporânea������������������������������������������������������� 4

CONSIDERAÇÕES FINAIS���������������������������� 38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS &


CONSULTADAS�������������������������������������������� 39
INTRODUÇÃO
Neste e-book você conhecerá a origem da ginástica,
como ela se desenvolveu no decorrer da história
humana e como se encontra na atualidade. Para
isso, vamos passar por quatro momentos que se
articulam, descritos a seguir.

Primeiro, você conhecerá como a ginástica foi retra-


tada nos períodos da história, desde a Antiguidade
até a Idade Contemporânea. No segundo momento,
serão apresentados os métodos ginásticos, que
caracterizam as primeiras sistematizações da
Educação Física e da própria ginástica. No terceiro,
você entenderá como a ginástica é conceituada
atualmente e quais os elementos que a definem.
Por último, estritamente vinculado ao momento
anterior, serão apresentados os diferentes tipos de
ginásticas e quais os campos em que se inserem.
Serão descritas também as possíveis tendências
da ginástica.

3
EVOLUÇÃO DA GINÁSTICA
AO LONGO DO TEMPO:
PASSADO, PRESENTE E
PERSPECTIVAS PARA O
FUTURO

A CONSTRUÇÃO DA GINÁSTICA
NA HISTÓRIA: DA ANTIGUIDADE À
IDADE CONTEMPORÂNEA
O significado da ginástica se transformou ao longo
da história do homem, de modo que a sua função
social e a forma de praticá-la estão relacionadas
aos interesses de cada período. Vamos entender
como se deu essa evolução?

“O termo ‘ginástica’ é de origem grega e significa


a ‘arte de exercitar o corpo nu’” (NUNOMURA;
TSUKAMOTO, 2009, p. 18). Nesse sentido, qualquer
atividade física (andar, correr, saltar, rolar, lançar,
arremessar, jogos individuais e coletivos etc.) era
considerada como ginástica. Inicialmente, não
possuía uma identidade própria, assim como não
havia uma delimitação conceitual, diferentemente
de hoje, que apresenta características particulares
e, muitas vezes, locais e equipamentos específicos.

4
Na Pré-história, o homem se exercitava para garantir
sua sobrevivência. Além desse caráter utilitarista,
a atividade física também estava presente nas
comemorações e adoração aos Deuses.
Figura 1: Como os períodos da história são divididos pela
Historiografia.
queda do
tomada de início da
invenção da Império
Constantinopla Revolução
escrita Romano do
pelos turcos Francesa
Ociedente

PRÉ-HISTÓRIA H I S T Ó R I A

Idade Idade
Antiguidade Idade Média
Moderna Contemporânea

...
4000 a�C 1 476 1453 1789

era cristã

Fonte: https://www.historiafacil.com.br/informacoes/
periodizacao-da-historia/

Na Antiguidade, praticava-se a ginástica para cuidar


do corpo e da saúde, tanto no aspecto estético
quanto moral. Além disso, também era uma forma
de preparação para as guerras. Nesse período, Gré-
cia e Roma eram destaques em exercícios físicos.

Na Grécia (Atenas e Esparta) havia uma grande


preocupação com a preparação militar, de forma
a garantir corpos disciplinados e eficientes, bem
como o fortalecimento espiritual.

No entanto, Esparta se destacava no aspecto do


desenvolvimento de habilidades físicas. A educação

5
do cidadão nessa cidade era dirigida intensamente
à obediência e às aptidões motoras, fundamentais
para o Estado militarizado. Sob essas condições,
a debilidade física era inadmissível e as crianças
que apresentassem algum indício de fraqueza ou
doença eram sacrificadas ao nascer. Somente os
homens eram considerados cidadãos, mas, por
mais estranho que pareça, as mulheres gozavam
de maior liberdade se comparadas às mulheres
de Atenas. Elas eram preparadas fisicamente para
uma maternidade sadia, praticando atividades e
exercícios. Tal fato devia-se à ausência de homens
em Esparta, com suas constantes ações militares
(VICENTINO, 1997).

Em Roma, os exercícios tinham inicialmente um


caráter militar, depois guerreiro e, por último, espe-
tacular (gladiadores e corridas de bigas) (DARIDO;
RANGEL, 2005).

SAIBA MAIS
O gladiador, na Roma Antiga, era um escravo que era
forçado a lutar por sua vida. O termo é proveniente de
uma espada que utilizavam em combate, denominada
gládio. A luta entre gladiadores, em Roma, fazia muito
sucesso, era uma atividade atrativa para toda a popula-
ção e usada como entretenimento pelos governantes.
A luta só terminava quando um dos gladiadores morria
ou ficava sem condições de combate. Quer saber mais?

6
Assista ao filme Gladiador, de 2000, dirigido por Ridley
Scott, com roteiro de David Franzoni, John Logan e
William Nicholson.

Na Idade Média (século 5 ao 15), a atividade físi-


ca foi marginalizada e proibida pela igreja, sendo
perseguidos aqueles que a praticassem como
forma de recreação. Existia uma preocupação em
purificar a alma, que se conquistava pelos sacrifí-
cios do corpo por meio da renúncia aos prazeres
mundanos. Apesar disso, nas Cruzadas e disputas
territoriais, os cavaleiros praticavam exercícios
físicos (como esgrima e equitação, arco e flecha,
luta e corrida) com o objetivo de preparação militar
(DARIDO; RANGEL, 2005).

Já na Idade Moderna (século 15 ao 18), a ginás-


tica passa a ser um instrumento de educação,
capaz de desenvolver capacidades físicas, morais
e intelectuais, além de ser utilizada como forma
de reabilitar os corpos torturados pelas guerras
e imposições religiosas. Nesse período, também
há um avanço no conhecimento sobre a atividade
física, através de publicações que tratavam da sua
importância no desenvolvimento da criança e do
jovem (NUNOMURA; TSUKAMOTO, 2009; DARIDO;
RANGEL, 2005).

No final século 18 e início do século 19 ocorre a


consolidação do modo de produção capitalista. E

7
no que isso se relaciona com a ginástica? Nessa
época, o exercício físico foi utilizado como um dos
instrumentos de manutenção do status quo. Em
outras palavras, por meio da atividade física seria
possível “formar” o homem “moderno”, almejado
pelo capital, ou seja, forte, disciplinado e produtivo.

Tendo em vista as necessidades políticas e eco-


nômicas da sociedade naquele momento, e sob
os interesses da classe dominante, os exercícios
físicos foram sistematizados e institucionalizados
por quatro escolas europeias (Alemanha, Suécia,
França e Inglaterra), que deram origem aos Méto-
dos Ginásticos (Alemanha, Suécia e França) e ao
Movimento Esportivo (Inglaterra).
Figura 2: Sistematização das atividades físicas na Europa.
Exercícios físicos
e as escolas
europeias

Métodos Movimento
ginásticos Esportivo

Alemanha Suécia França Inglaterra

Fonte: elaborado pela autora.

Os Métodos Ginásticos, particularmente, foram


premissas para a ginástica como se encontra

8
atualmente. A seguir, discutiremos as principais
características desses métodos.

Os principais representantes do Método Alemão


foram Basedow – que teve seu método desenvolvido
por Jahn e Spiess – e Guths Muths. A Alemanha
era uma país que vivia em constantes disputas
territoriais, por isso a atividade física era sempre
orientada para a formação de indivíduos fortes e
saudáveis; no caso dos homens, para defender o
país nas guerras, das mulheres por gerarem os
filhos da pátria. O método alemão preocupava-se
em formar espíritos nacionalistas, capazes de fazer
tudo pelo seu país (SOARES, 2004).

Na Suécia, o criador do Método Ginástico foi Ling,


que dividiu a ginástica em quatro partes: pedagó-
gica, médica, militar e estética. O Método Sueco
se preocupava em preparar o povo para as guerras
e disputas territoriais e, ao mesmo tempo, para o
trabalho nas fábricas. Além disso, acreditava-se
que através da atividade física poderiam regenerar
o povo, que sofria de doenças e vícios (SOARES,
2004).

O Método Francês foi proposto inicialmente por


Amorós e, depois, desenvolvido por Demeny, Tissié
e Marey. A Ginástica Francesa visava à formação
do homem completo e universal. Em função dis-
so, defendia que a ginástica, ao desenvolver as

9
faculdades físicas, psicológicas e moral, poderia
promover o desenvolvimento da sociedade e a
regeneração da raça humana, por isso deveria ser
acessível a todos. A Ginástica Amorosiana, seme-
lhante à Sueca, foi dividida em: civil e industrial,
militar, médica e cênica ou funambulesca.

A Inglaterra era considerada uma potência mais


estável no aspecto político e mais desenvolvida
economicamente. Além disso, na Inglaterra não
ocorriam disputas territoriais como nos outros
países europeus, pois possuía uma posição ge-
ográfica favorável e um poder naval que impedia
invasões em seus territórios. Essas características
inglesas fizeram com que os exercícios físicos se
desenvolvessem em uma outra direção, isto é, do
esporte e não dos métodos ginásticos. Em função
disso, esse método não será abordado, uma vez
que o foco aqui é a ginástica.

Na Tabela 1, a seguir, você poderá visualizar a


síntese dos exercícios utilizados por cada Méto-
do Ginástico e quais foram os seus respectivos
representantes.

10
Tabela 1: Movimentos Ginásticos Europeus.

Movimentos Ginásticos Europeus


Características
Escola Representantes
Principais
Corridas, saltos,
arremessos e lutas Basedow
semelhantes aos (1723-1790)
da Grécia Antiga
Exercícios ginás-
ticos, trabalhos
manuais e jogos
Guts Muths
sociais – Ginástica
(1759-1839)
natural;
Movimento
rítmicos
Alemã Jogos e exercí-
cios: correr, saltar,
arremessar e lutar.
Friedrich Jahn
Utilização de apa-
(1778-1852)
ratos utilizados
como barras para
suspensão
Exercícios militares
com fins pedagógi-
Adolf Spiess
cos integrados ao
(1810-1858)
currículo escolar:
eficiência corporal

11
Ginástica e literatu-
ra: instigar a força
e coragem do povo,
para a defesa da
pátria;
Ginástica dividida
em quatro partes,
com objetivos Henrik Ling
Sueca
interdependentes: (1776-1839)
médico, militar,
pedagógico e
estético;
Tem como base o
uso de aparelhos
(exemplos: espal-
dar e banco sueco)
Exercícios milita-
res, que objetiva-
vam aumentar as
potencialidades
Francisco Amorós
dos jovens, uso de
(1770-1848)
aros, escada de
cordas, máquina
para testar força e
Francesa o trapézio
Exercícios físi-
cos de caráter
médico-higienista Georges Demeny
Medir, experimen- (1850-1917) e
tar e comparar Etiene J. Marey
– economizar (1830-1904)
energias – bases
fisiológicas
Movimentos Ginásticos Europeus
Principais
Escola Representantes
Características

12
Ginástica pouco
difundida, o espor-
te foi considerado
o grande meio
para promover a
Inglesa educação, através
de jogos esporti-
vos: organização,
regras, técnicas
e padrões de
conduta

Fonte: adaptado de Darido e Rangel (2005, pp. 232-233).

Por meio do caminho percorrido até aqui, você


pôde perceber que as características de cada Mé-
todo Ginástico se relacionam às necessidades do
país de origem, mas, de forma geral, todas tinham
como objetivo produzir corpos robustos e saudá-
veis. Além disso, acreditava-se que a ginástica
poderia melhorar a qualidade física, psicológica e
moral das pessoas. Dessa forma, ela foi utilizada
como instrumento para “regenerar” a raça humana
e transformar os costumes e tradições do povo.

É importante frisarmos que, naquele momento da


história, com o processo de industrialização, desen-
volvimento de fábricas, crescimento desordenado
e desigual entre os países, a ginástica realmente
foi utilizada como forma de silenciar os problemas
sociais e como um instrumento para produzir
corpos saudáveis, que gastassem menos energia,
fossem mais higiênicos, suportassem mais horas
de trabalho, sem que para isso se modificassem

13
as condições sociais extremamente desiguais e
exploradoras.

FIQUE ATENTO
Você sabe o que é higienismo e higiene social?

Considera-se como higienismo o movimento que pos-


sibilita a criação dos hábitos sadios e a realização das
grandes aspirações sanitárias do Estado, por meio do
trabalho da robustez do indivíduo, tendo como base a
virtude da raça. Segundo a concepção higienista, não
era possível fazer uma grande nação com uma raça
inferior, eivada pela mestiçagem. Nesta questão, o
higienismo se fundamentava na Eugenia. Eugenia foi
o termo “inventado” por Francis Galton (1822-1911),
fisiologista inglês, para designar a ciência que trata dos
fatores capazes de aprimorar as qualidades hereditárias
da raça humana. Afirmava ele que os seres humanos,
assim como os animais, poderiam ser melhorados atra-
vés da seleção artificial. Um dos objetivos de Galton era
encorajar o nascimento de indivíduos mais eminentes
ou capazes, e desencorajar o nascimento dos incapazes
(MANASÈRA; SILVA, 2000).

O higienismo e a eugenia foram as bases filosóficas


para o surgimento do nazismo. Por isso, fique atento!

Apesar disso, vale destacarmos que a ginástica


e os exercícios físicos foram importantes para
auxiliar a promoção da vida, da saúde e para ame-

14
nizar as mortes que ocorriam de forma frequente
e desarmônica. Por isso, a atividade física aparece
como tão importante para saúde física e mental
do ser humano.

E no Brasil, como se desenvolveu a ginástica?

No Brasil, a ginástica foi importada da Europa,


sendo trazida pelos imigrantes. Inicialmente foi
implantado o Método Alemão, seguido do Método
Sueco e Francês, respectivamente.

Segundo Arantes (apud COSTA; PERELLI; MATA-


RUNA-DOS-SANTOS, 2016), a ginástica teve início
no Brasil com a chegada da Imperatriz-Consorte
do Brasil, D. Maria Leopoldina – esposa de D.
Pedro I. A guarda pessoal, de origem prussiana,
que a acompanhava praticava exercícios que aos
poucos foram sendo disseminados, primeiro como
preparação e formação de oficiais (da Marinha e
do Exército), depois de civis. A Ginástica Alemã,
baseada nos ideais do higienismo e do eugenismo,
tinha como objetivo melhorar a raça humana, ou
seja, foi utilizada para tentar esbranquiçar o povo
brasileiro, de caráter miscigenado, e como forma de
impor o eurocentrismo, em que a cultura europeia
se caracteriza como superior às demais.

Em meados do século 19, a ginástica foi incluída


como disciplina obrigatória nos currículos das
escolas primárias, através da Reforma de Couto

15
Ferraz, Ministro do Império. Darido e Rangel (2005,
p. 231) afirmam que:

Os modelos ginásticos europeus influenciaram


o contexto das práticas corporais no Brasil. Rui
Barbosa considerou, na época, o método sueco o
mais apropriado para ser implantado nas escolas
brasileiras, devido ao seu caráter educacional. Porém,
foi o método francês que mais se destacou, sendo
oficialmente implantado nas escolas brasileiras. A
França à época priorizou a racionalidade científica
para sistematizar os saberes que visavam a ordem
e disciplina metódica a serem implementadas nas
instituições que exerceriam controle na sociedade,
como o exército, a saúde e a educação, tendo o
corpo como objeto de controle e responsabilidade
do Estado.

A partir desse momento, que marca a inserção da


ginástica na escola, o Método Alemão se direcio-
nou especificamente à formação de militares e os
métodos Sueco e Francês ao campo educacional.
O predomínio da ginástica francesa no Brasil ocor-
reu, principalmente, por dois motivos: primeiro pela
derrota da Alemanha na Primeira Guerra e vitória
da França; segundo pela chegada da Missão Militar
Francesa ao Brasil (COSTA; PERELLI; MATARUNA-
-DOS-SANTOS, 2016).

16
Como você pôde perceber, os métodos ginásticos,
apesar de terem origem na Alemanha, Suécia e
França, tornaram-se base da ginástica em todo
o mundo, inclusive no Brasil. Esses métodos se
desenvolveram ao longo do tempo, de forma que
os movimentos se tornaram cada vez mais especí-
ficos e os lugares de realização das práticas foram
sendo demarcados, o que possibilitou a criação do
universo gímnico que temos na atualidade.

A Ginástica na Atualidade e as
perspectivas futuras
Devido à sua abrangência, estabelecer um con-
ceito único para a ginástica pode impossibilitar a
compreensão desse campo em sua complexidade,
que é muito vasto e rico. A ginástica é uma prática
que está presente em vários espaços e possui
diferentes intencionalidades, tais como: esporte
de competição; recreação e lazer; promoção de
saúde; proposta educativa etc. Em função disso,
entender o que é a ginástica na atualidade implica
compreender a sua pluralidade, por isso, não é a
ginástica e sim as ginásticas.

Nesse sentido, Souza (1997) propõe a organiza-


ção da ginástica de acordo com seus campos de
atuação: Ginásticas de Condicionamento Físico;
Ginásticas de Competição; Ginásticas de Cons-

17
cientização Corporal; Ginásticas Fisioterápicas e
Ginásticas de Demonstração.

A Ginástica de Condicionamento Físico é consti-


tuída pelas modalidades direcionadas à aquisição
ou à manutenção da condição física e da saúde.
Oliveira e Nunomura (2012) ainda incluem nesse
campo de atuação as ginásticas relacionadas à
dimensão estética, tendo em vista que o culto ao
corpo tem sido uma (pre)ocupação da sociedade
na atualidade. Dessa forma, pode-se dizer que a
Ginástica de Condicionamento Físico está presente
em academias, clubes, parques, ruas, praças, casa
e, tendo em vista a COVID-19, nos aplicativos. As-
sim, as tecnologias digitais se tornaram recursos
muito utilizados pela população para se exercitar.

Apesar de a preocupação com as questões es-


téticas e de saúde parecerem atuais, Oliveira e
Nunomura (2012) relembram que a ginástica surge
justamente com esse propósito, ou seja, tornar os
corpos mais saudáveis, fortes e produtivos. Além
disso, a associação entre a aparência física e a
saúde é uma relação equivocada estabelecida
pela sociedade. Sabe-se, no entanto, que essas
concepções de corpo e beleza mudam de acordo
com o momento histórico. Embora, atualmente,
o corpo magro e malhado seja supervalorizado e
posto como saudável, no Renascimento, por exem-
plo, eram os corpos fartos que eram valorizados.

18
Dentre os tipos de ginástica de condicionamento
estão a musculação, spinning, ginástica localiza-
da, ginástica aeróbica, step, “glúteo, abdômen e
panturrilha” (GAP) etc.

As ginásticas de competição, como o próprio


nome sugere, são modalidades que visam à
competição e que, portanto, possuem regras e
técnicas estabelecidas internacionalmente. Nesse
grupo estão incluídas, principalmente, a ginástica
artística (GA), ginástica rítmica (GR), ginástica
acrobática (GACRO), ginástica aeróbica (GAE) e
ginástica de trampolim (GT), que são as modali-
dades de competição tratadas pela Confederação
Brasileira de Ginástica (CBG). Oliveira e Nunomura
(2012) também mencionam outras modalidades
competitivas pouco difundidas, tais como: a roda
ginástica, a ginástica estética, o team gym, o rock
and roll gymnastics, cheerleading e o volteio.

A GA teve origem na Alemanha, por volta de 1811,


proposta por Jahn, inicialmente como ginástica ao
ar livre. A GA chegou ao Brasil, especificamente
na região Sul e Sudeste, com a colonização dos
Alemães em 1824, mas somente em 1951 tornou-
-se oficial, após a modalidade tornar-se filiada à
Federação Internacional de Ginástica (FIG) (NU-
NOMURA et al., 2009).

19
FIQUE ATENTO
Você sabia que a Ginástica Artística no Brasil ficou muito
tempo conhecida como Ginástica Olímpica? Apesar
disso, o nome oficial da modalidade foi estabelecido
em 2006, pela Confederação Brasileira de Ginástica.

A GA é uma modalidade praticada por ambos os


sexos e se caracteriza pela execução de elemen-
tos corporais sobre aparelhos específicos. Alguns
brasileiros vêm marcando a história do país nessa
modalidade, por exemplo: Daniele Hypólito, Diego
Hypólito, Dayane dos Santos, Jade Barbosa, Flávia
Saraiva, Arthur Zanetti, Arthur Nory e Francisco
Barreto.

SAIBA MAIS
Você sabia que os atletas brasileiros de ginástica ar-
tística têm se destacado nas competições? Nos Jogos
Pan-Americanos, em 2019, os brasileiros conquistaram
11 medalhas, marcando a sua melhor participação na
história desses jogos. Confira na reportagem abaixo:

http://www.rededoesporte.gov.br/pt-br/noticias/ginas-
tica-artistica-brasileira-11-medalhas-e-a-melhor-cam-
panha-da-historia-em-jogos-pan-americanos

20
A GR surgiu a partir do Método Sueco, mas depois
foi se constituindo por outras tendências e autores,
tais como: Noverre (mestre de dança), Delsarte
(ator teatral), Laban, Isadora Duncan e Elizabeth
Duncan (artistas da dança), Dalcroze (compositor
e professor), Rudolf Bode (considerado o criador
da GR) e Henrich Medau (professor e músico)
(TOLETO, 2009). Essas influências tornaram as
características da GR muito particulares, trans-
formando-a em “uma modalidade gímnica com-
petitiva [apenas pelo sexo feminino] que combina,
de maneira harmoniosa, os elementos corporais
(ginásticos e alguns acrobáticos) ao manejo dos
aparelhos [...], contextualizados e executados num
ritmo musical (TOLEDO, 2009, p. 143).

Não há um consenso sobre quando a GR se dis-


seminou no Brasil, mas alguns autores afirmam
que, de modo geral, foi através dos Métodos
Ginásticos. Outros acreditam que foi através da
Ginástica Calistênica.

SAIBA MAIS
Nos Jogos Pan-Americanos de 2019, duas atletas bra-
sileiras de GR se classificaram para a final na categoria
individual. Confira a reportagem e o vídeo da apresen-
tação no link abaixo:

21
https://recordtv.r7.com/pan-lima-2019/brasil-no-pan/
videos/atletas-brasileiras-impressionam-na-ginastica-
-ritmica-03082019

A GACRO estava presente na vida do homem desde


a Antiguidade através de exercícios acrobáticos e é
representada em monumentos, pinturas, cerâmicas
e outros objetos artísticos da época. Além disso,
com o passar dos séculos, as acrobacias também
foram incluídas no circo, sendo apresentadas,
inicialmente, por pequenas troupes ambulantes,
em palácios (MERIDA, 2009).

A consolidação da GACRO enquanto modalida-


de esportiva ocorreu em 1973, quando também
aconteceram as primeiras competições mundiais.
Apesar de inclusa nos Jogos Mundiais, a GACRO
não é uma modalidade olímpica.

A modalidade pode ser praticada por ambos os se-


xos, com o objetivo de formar figuras ou pirâmides
humanas, realizar acrobacias e executar elementos
de dança. No Brasil, é reconhecida como um nú-
mero de circo, mas pouco valorizada e difundida
enquanto modalidade esportiva que possui regras
e características específicas (MERIDA et al., 2008).

A GAE surgiu nos Estados Unidos, na década de


1970, quando Cooper, médico do exército, utilizou
o termo “aeróbica” para denominar atividades que,

22
realizadas por período considerável, propiciavam
benefícios cardiorrespiratórios. Nessa mesma
década, Jacki Sorensen propôs o aerobic dancing,
combinando exercícios de flexibilidade, dança e
música, coreografados, dando origem à ginástica
aeróbica. Depois disso, a atividade desenvolveu-
-se e consolidou-se nos anos 1980, tornando-se
uma modalidade federada, presente em clubes,
academias e centros esportivos. Na década de
1990, ocorreu o primeiro campeonato mundial,
com os regulamentos já estabelecidos pela FIG
(MATTOS, 2009).

No Brasil, a modalidade foi incorporada pelos pro-


fissionais de educação física entre 1981 e 1982,
mas esses profissionais ainda não possuíam
formação para uma prática de qualidade. Apesar
disso, a modalidade não demorou a se desenvol-
ver no país. Por volta de 1999, o Brasil esteve no
ranking mundial, destacando-se nas competições
(MATOS, 2009). Embora as competições nacio-
nais e internacionais ainda permaneçam, Mattos
(2009) sinaliza que atualmente existem poucos
atletas de GAE filiados à Confederação Brasileira
de Ginástica (CBG).

A GT, conhecida como trampolim acrobático ou


cama-elástica, é uma modalidade esportiva, mas
também um aparelho auxiliar na aprendizagem de
outras modalidades que utilizam acrobacias aére-

23
as. Brochado F. e Brochado M. (2009) mencionam
que é difícil se estabelecer a origem da GT, mas
desde a Idade Média já existiam instrumentos para
auxiliar nas impulsões acrobáticas.
O trampolim, como se apresenta hoje, foi criado
por George Nissen por volta de 1930, nos Estados
Unidos. A primeira competição nacional ocorreu em
1941. Em 1964, criou-se a federação internacional
da modalidade, impulsionando os campeonatos
mundiais.
A GT foi implantada no Brasil no final da década de
1970, pelo prof. José Martins Oliveira, à princípio
em São Paulo, mas depois a modalidade foi disse-
minada nos outros estados. O primeiro campeonato
brasileiro de GT ocorreu em 1990, quando o país
também se filiou à Federação Internacional de
Trampolim. Atualmente, a seleção brasileira conta
com três ginastas vinculados à CBG: Alice Hellen
Gomes, Camilla Lopes Gomes E Rayan Victor de
Casto Dutra.

SAIBA MAIS
Para conhecer quais as modalidades de competição
e os atletas da seleção brasileira, basta acessar o site
da Confederação Brasileira de Ginástica, indicado no
link a seguir:

https://www.cbginastica.com.br/

24
Retomando os campos de atuação das ginásticas,
as ginásticas de conscientização corporal (GCC),
consideradas técnicas alternativas, têm origem no
oriente, na Europa e nos Estados Unidos, com o
propósito de “fornecer soluções para problemas de
saúde e posturais através de uma visão integral do
ser humano” (OLIVEIRA; NUNOMURA, 2012, p. 92).

Souza (1992) a defende como uma “nova” forma


de se entender o corpo e a prática de exercícios. É
importante destacarmos que a autora trata desse
assunto em 1992, ou seja, há quase três décadas,
portanto, ainda eram recentes essas práticas no
país.

Na literatura aparecem diferentes nomenclaturas,


tais como: “propostas alternativas de abordagem
do corpo”, “ginásticas suaves”, “ginástica educa-
cional” e “terapias de mediação corporal”. Souza
(1992), particularmente, optou por denominá-las
de “novas propostas de abordar o corpo”, compre-
endendo-as como:

[...] todas as linhas e técnicas que proponham


atividades corporais, diferentes das utilizadas na
Ginástica Tradicional, tendo como ponto comum a
visão integral do ser humano, percebendo e movi-
mentando seu corpo, sem desvinculá-lo de outras
dimensões que o compõem. Essas propostas
valorizam a percepção e buscam a consciência

25
corporal, a fim de que o indivíduo possa expressar-se
livremente (pp. 30-31).

Segundo Souza (1992), a GCC chegou ao Brasil na


década de 1970, através de diferentes propostas,
dentre as quais a “antiginástica” ficou considerada
como sua precursora, uma vez que, como o próprio
nome já diz, se opunha ao modelo da ginástica
tradicional. Alguns exemplos de ginástica de cons-
cientização corporal são: eutonia, antiginástica,
bioenergética, yoga, ginástica holísticas, biodança
e tai chi chuan.

Embora essas propostas tenham origens distintas,


todas apresentam como princípio o autoconheci-
mento através do desenvolvimento da percepção
corporal. Acredita-se que “ao tomar consciência de
seu próprio corpo, o indivíduo retoma [o] contato
com os seus potenciais adormecidos, criando
condições para viver o seu dia a dia de maneira
mais saudável e autônoma” (SOUZA, 1992, pp.
40-41). Além disso, Souza (1992) ainda menciona
outros pontos em comum entre essas práticas: a
interdependência entre as partes do corpo, tornar
o movimento consciente, despertar a sensação do
movimento e respeitar a individualidade.

Tendo em vista as características e os objetivos


das GCC, que trabalha a totalidade do ser, cada
vez mais percebe-se a procura dessas práticas

26
para lidar com as emoções e como forma de tra-
tamento alternativo de determinados estados de
depressão e ansiedade.

As ginásticas fisioterápicas (GF) englobam outro


campo de atuação da ginástica que, particularmente,
tem como objetivo prevenir e/ou tratar doenças.
Essa característica faz com que as GF sejam pouco
abordadas na área da Educação Física. Devido à
sua origem médica, no início do século 19, as GF
estão estreitamente vinculadas às ciências fisio-
lógica e anatômica. Oliveira e Nunomura (2012)
ainda afirmam que também há influências orientais
nas GF, especialmente nas práticas que fazem
uso de massagens e movimentos respiratórios.
Dentre os tipos de ginásticas fisioterápicas mais
conhecidas estão a reeducação postural global
(RPG) e o pilates.

Por fim, o último campo de atuação mencionado


por Souza (1997) é o das ginásticas de demons-
tração, que têm como foco a interação social e a
formação integral do indivíduo. A ginástica que
representa esse grupo é conhecida como ginástica
para todos (GPT) ou ginástica geral (GG).

De acordo com os estudiosos da GPT, primeiro


ela se iniciou enquanto prática e evento social
para, num segundo momento, ser regulamentada,
sistematiza e ter uma terminologia específica. Um

27
dos motivos para a utilização do termo GG foi por
considerar que a proposta estava relacionada às
ginásticas em geral, que mantinha a ginástica
como base, mas sem regras específicas e sem
competitividade, características fundamentais da
modalidade.

Há indícios de que nos anos 1930 já aconteciam


festivais de ginástica com fins demonstrativos,
denominados por Lingíadas. Apesar disso, oficial-
mente, o início da modalidade é datado quando
ocorreu a sua institucionalização pela Federação
Internacional de Ginástica (FIG), entre as décadas
de 1970 e 1980. O interesse pela modalidade se
deu após ser promovido o primeiro evento mundial
de ginástica (Gymnaestrada), em 1953, sem fins
competitivos. A FIG será tratada mais à frente,
mas convém mencionar que até esse período
as federações esportivas só regulamentavam as
ginásticas de competição.

A GPT chegou ao Brasil no início da década de


1980. No entanto, em 2009, Toledo, Tsukamoto e
Gouveia (2009) constataram, através de diferentes
estudos, que a GPT ainda era pouco difundida no
país. Atualmente, existem diferentes grupos vin-
culados a diferentes instituições. Toledo e Silva
(2020) realizaram um estudo recente sobre a terri-
torialidade da GPT e constataram que a modalidade
está presente nas escolas, nas universidades, nos

28
clubes e nas danças folclóricas. Apesar disso, as
autoras afirmam que

[...] embora a abrangência da GPT pareça andar a


passos largos em nosso território brasileiro ainda
há muito o que ser feito. A sua democratização e
acesso pode ser maior, seja no intuito da melhoria
da qualidade de vida da população em geral, por
meio das políticas públicas de saúde (via Sistema
Único de Saúde, por exemplo) ou via projetos de
extensão nas universidades, programas extra-cur-
riculares nas escolas [...] (p. 78).

SAIBA MAIS
A Gymnaestrada Mundial é um evento de ginástica
não-competitiva que ocorre tradicionalmente a cada
quatro anos. A Gymnaestrada é considerada o maior
evento internacional de esporte recreativo do mundo,
a qual reúne milhares de pessoas e dezenas de grupos
de GPT, que se apresentam sem se preocupar com o
desempenho. O último evento, que já está na sua 16ª
edição, ocorreu em 2019, na Áustria. No evento não há
restrições de idade, raça, sexo ou rendimento esportivo.
Confira as informações no site: https://www.wg2019.
at/wg2019/en.

Para sintetizar essas informações, a figura a seguir


retrata os cinco campos de atuação das Ginásticas
e suas respectivas modalidades.

29
Figura 3: A organizadas das Ginásticas.

Ginástica

De condicionamento físico De competição Fisioterápica


- Localizada - Artística - Reeduc� Postural Global
- Aeróbica - Rítmica desportiva - Cinesioterapia
- Musculação - Acrobática - Isostrechting
- Step - Aeróbica Etc�
Etc� - Roda Ginástica
- Trampolim Acrobático

De conscientização corporal De demonstração


- Antiginástica Ginástica Geral
- Eutomia (engloba qualquer
- Feldenkrais modalidade gímnica
- Bioenergética com objetivo
Etc� demonstrativo)

Fonte: adaptado de Souza (1997, p.26)

Além dessa forma de organizar e entender o universo


da ginástica, proposto por Souza (1997), também
é possível compreendê-lo a partir da Federação
Internacional de Ginástica (FIG). A FIG é um órgão
mundial que, desde 1881, é responsável por nor-
matizar e regulamentar a ginástica. Além disso,
promove eventos e é responsável pela modalida-
de nos Jogos Olímpicos. A FIG está subordinada
ao Comitê Olímpico Internacional, assim como a
Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) é su-
bordinada à FIG e as Federações Estaduais ao CBG.

De acordo com a FIG, as ginásticas estão organi-


zadas em competitivas e demonstrativa (SOUZA,
1997). No primeiro grupo estão a ginástica artística
(dividida em GA masculina e GA feminina), a ginás-

30
tica rítmica, a ginástica de trampolim, a ginástica
acrobática e a ginástica aeróbica. No segundo
grupo está a “ginástica para todos”. Recentemente,
em 2017, a FIG incluiu o parkour como uma moda-
lidade federalizada internacionalmente, com fins
competitivos. Dessa forma, acredita-se que há uma
perspectiva de que, futuramente, outras práticas
sejam institucionalizadas e regulamentadas pelo
órgão. Nesse sentido, de acordo com a FIG, a gi-
nástica está organizada da seguinte forma:
Figura 4: Estrutura da FIG.

GR
GA GA
(feminina) (masculina)

GT/TA FIG GACRO

GAE PARKOUR

GPT

Fonte: elaborado pela autora.

31
Até aqui, você aprendeu que a história da ginás-
tica se confunde (ou se aproxima) com a história
da Educação Física. Inicialmente, denominava-se
por ginástica qualquer exercício físico, como cor-
rer, saltar, lançar, dançar, entre outros. No século
19, as atividades físicas foram sistematizadas e
criaram-se diferentes Métodos Ginásticos com o
propósito de moralizar a população e, ao mesmo
tempo, ensiná-la a cuidar do corpo e a ter hábitos
saudáveis e higiênicos, seja para curar os proble-
mas posturais devido à carga horária excessiva de
trabalho ou para tornar os homens mais fortes e
obedientes para o trabalho fabril e para as guerras.

Então, foi a partir desses métodos que a ginástica


se disseminou e, paulatinamente, foi delimitado seu
universo, caracterizado por diferentes práticas e
intenções. Não se pode estabelecer um conceito
único, pois existem inúmeras modalidades, que
foram organizadas em diferentes campos de atu-
ação, nas quais cada uma possui uma origem e
características específicas. Além disso, você também
aprendeu, por meio de um panorama geral, como
essas modalidades surgiram, como chegaram ao
Brasil e como se encontram na atualidade. A seguir,
você conhecerá, de forma introdutória, quais são
os elementos comuns a todas as ginásticas.

32
O que é comum a todas as ginásticas?
Após entender todas as questões históricas e
sociais que constituíram a ginástica, o que se
pode entender como conteúdo da ginástica? O
que delimita uma prática gímnica? Quais são os
elementos constitutivos dessa modalidade?

Uma possibilidade de encontrar respostas para


essas perguntas é proposta por Souza (1997).
Antes disso, é importante entender que as habilida-
des corporais, desenvolvidas historicamente, são
resultados de movimentos naturais combinados
e “lapidados”. Em outras palavras, toda habilidade
complexa é o aprimoramento e complexificação
de um movimento tipicamente humano.

Por exemplo, um movimento próprio do homem


como o saltar, foi sendo estudado, transformado
e aperfeiçoado através dos tempos, para alcançar
os objetivos de cada um dos esportes onde ele
aparece: salto em altura, em distância e triplo no
atletismo, cortada e bloqueio no voleibol, salto so-
bre o cavalo em Ginástica Artística, salto “jeté” na
Ginástica Rítmica Desportiva, entre outros (SOUZA,
1997, p. 27).

Nessa perspectiva, Souza (1997) afirma que as


habilidades específicas das ginásticas, de forma
geral, são constituídas por quatro elementos, que

33
se denominam: elementos corporais, exercícios
acrobáticos, exercícios de condicionamento físico
e manejo de aparelhos.

Os elementos corporais se referem às habilidades


motoras gerais, que podem ser realizadas com
aparelhos, sem aparelhos ou nos aparelhos. Eles
são: passos, corridas, saltos, giros, equilíbrio, ondas,
poses, marcações, balanceamentos e circunduções.

Os exercícios acrobáticos são os elementos ex-


clusivos da ginástica, realizados em/com/sem
aparelhos, tais como: rotações, apoios, reversões,
suspensões e pré-acrobáticos.

Os exercícios de condicionamento físico são


exercícios localizados, que também podem ser
realizados com/sem/em aparelhos, como forma
de preparação do corpo para a realização de movi-
mentos e, sobretudo, para o desenvolvimento das
capacidades físicas (força, resistência, flexibilidade),
que evitam as lesões e possibilitam a execução
de habilidades motoras.

Por último, temos o manejo de aparelhos, que,


como o nome sugere, caracteriza-se pela realiza-
ção de habilidades com determinados aparelhos.
Eles são divididos em tradicionais e adaptados.
Os tradicionais são aqueles aparelhos caracterís-
ticos da modalidade e, geralmente, são utilizados
em competições, por isso possuem propriedades

34
físicas específicas determinadas pela FIG. Esses
aparelhos são, por exemplo: bola, corda, arco, fita
e maças. Os aparelhos adaptados são materiais e
objetos do cotidiano utilizados em espaços que não
têm aparelhos oficiais e por isso são adequados às
possibilidades, além disso, nesses espaços onde
se trabalha com as ginásticas sem fins competi-
tivos, é possível experimentar diferentes objetos
para desenvolver a criatividade, tais como: panos,
pneus e caixas. Souza (1997) sintetiza essas in-
formações na figura abaixo:
Figura 5: Elementos constitutivos da ginástica.

Elementos constitutivos da ginástica

Elementos Exercícios Exercícios Manejo de


corporais acrobáticos de cond� físico aparelhos

Rotações: Para o Tradicionais:


Passos No solo, no ar, desenvolvimento da Bola, corda, arco,
Corridas em aparelhos força� Resistência, fita, bastão etc�
Saltos Apoios: flexibilidade Adaptados:
Saltitos No solo, etc� (exercícios Panos, pneus,
Giros em aparelhos localizados) caixas etc�
Equilíbrios Reversões:
Ondas No solo,
Poses em aparelhos
Marcações Suspensões:
Balanceamentos em aparelhos
Circunduções Pré-acrobáticos

Com aparelhos
Sem aparelhos
Em aparelhos

Fonte: Souza (1997, p. 28).

35
Como você percebeu, a ginástica é compreendida
como um universo, pois são muitas as possibilida-
des de análise e compreensão, que vão desde os
seus objetivos até a forma de praticá-la.
As ginásticas foram se disseminando ao longo do
tempo, algumas mais do que outras, mas ainda
há um longo caminho a percorrer. Muitas práticas
ainda são consideradas elitistas, especialmente
pela complexidade do movimento e dos aparelhos.
Também foi possível perceber que as mudanças
sugerem perspectivas para o futuro. A primeira é
que algumas modalidades existentes podem não
ser reconhecidas pela federação, mas isso pode
se transformar a todo momento, assim como
ocorreu com o parkour. Outro ponto importante
é que já existem algumas competições de GPT,
como a Gym For Life, e a GPT, como estudamos
anteriormente, era considerada somente como
modalidade de demonstração, uma característica
fundante dessa ginástica.
A situação que o mundo enfrenta atualmente, com
a COVID-19, sinaliza algumas transformações so-
ciais, especialmente no que se refere às relações e
contato com o outro. A prática de atividade física
e o processo ensino-aprendizagem (em escolas,
academias ou aulas personalizadas) estão sendo
retomados gradativamente, mas durante todo o
tempo em que foram proibidos, muitos recorreram
às tecnologias digitais e de comunicação para
realizar a atividade, através de videoconferências
pelas plataformas, aplicativos e lives, entre outras.

36
Embora seja um assunto polêmico e delicado,
acredita-se que, futuramente, muitas práticas se-
rão estruturadas pensando nesse novo formato
de aulas.

37
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste e-book você aprendeu que a origem da ginás-
tica é marcada pelos interesses sociais, políticos e
econômicos de cada momento da história. Apenas
no século 19 os exercícios físicos foram sistema-
tizados na Europa, sendo denominados métodos
ginásticos. Os métodos ginásticos da Alemanha,
Suécia e França influenciaram os demais países
na realização desse exercício, e o desenvolvimen-
to desses métodos possibilitou a construção da
ginástica como se encontra na atualidade.
Não há uma única definição para a ginástica,
pois isso a limitaria. Dessa forma, a ginástica foi
organizada em 5 campos de atuação que, atual-
mente, encontra-se como a melhor maneira de
compreendê-la: ginásticas de condicionamento
físico, ginásticas de competição, ginásticas fisio-
terápicas, ginásticas de conscientização corporal
e ginásticas de demonstração.
Além disso, você também pôde conhecer quais
são os elementos constitutivos das ginásticas que
as aproximam: elementos corporais, exercícios
acrobáticos, exercícios de condicionamento físico
e manejo de aparelhos.
A junção dos conhecimentos abordados neste
e-book permitiu que você compreendesse aspec-
tos históricos das ginásticas, desde a sua origem
até a atualidade, elementos essenciais para a sua
formação e atuação.

38
Referências Bibliográficas
& Consultadas
BRIKMAN, L. A linguagem do movimento
corporal. 3. ed. São Paulo: Summus, 2014.
[Biblioteca Virtual]

BROCHADO, F. A.; BROCHADO, M. M. V.


Fundamentos de ginástica artística e de
trampolins. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2019. [Minha Biblioteca]

BROCHADO, F. A.; BROCHADO, M. M. V.


Fundamentos da ginástica de trampolim. In:
NUNOMURA, M.; TSUKAMOTO, M. H. C. (orgs.).
Fundamentos das ginásticas. São Paulo:
Fontoura, 2009.
COSTA, M. G.; PERELLI, J. M.; MATARUNA-DOS-
SANTOS, L. História da Ginástica no Brasil: da
concepção e influência militar aos nossos dias.
Navigator: subsídios para a história marítima do
Brasil, Rio de Janeiro, v. 12, n. 23, p. 63-75, 2016.
Disponível em: https://www.revistanavigator.
com.br/navig23/dossie/N23_dossie4.pdf.
Acesso em: 5 jan. 2021.
DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. Educação
Física na escola: implicações para a prática
pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2005.

DARIDO, S. C.; SOUZA JR, O. M. de. Para ensinar


educação física: possibilidades de intervenção
na escola. Campinas: Papirus, 2015. [Biblioteca
Virtual].

LOPES, P. et al. Motivos de abandono na prática


de ginástica artística no contexto extracurricular.
Rev. bras. educ. fís. esporte, São Paulo, v. 30,
n. 4, p. 1043-1049, dez. 2016. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1807-55092016000401043&lng=pt
&nrm=iso. Acesso em: 5 jan. 2021.

MANASÈRA, A. R.; SILVA, L. C. A influência


das ideias higienistas no desenvolvimento da
Psicologia no Brasil. Psicologia em estudo,
Maringá, v. 5, n. 1, pp. 115-137, abr. 2000.

MATTOS, P. S. Fundamentos da Ginástica


Aeróbica Esportiva. In: NUNOMURA, M.;
TSUKAMOTO, M. H. C. (orgs.). Fundamentos das
ginásticas. São Paulo: Fontoura, 2009.

MERIDA, F. Fundamentos da Ginástica


Acrobática. In: NUNOMURA, M.; TSUKAMOTO, M.
H. C. (orgs.). Fundamentos das ginásticas. São
Paulo: Fontoura, 2009.

MERIDA, F.; NISTA-PICCOLO, V. L.; MERIDA,


M. Redescobrindo a ginástica acrobática.
Movimento (ESEFID/UFRGS), Porto Alegre, v. 14,
n. 2, pp. 155-180, 2008. Disponível em: https://
seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/5755.
Acesso em: 7 out. 2020.

NUNOMURA, M. et al. Fundamentos da Ginástica


Artística. In: NUNOMURA, M.; TSUKAMOTO, M.
H. C. (orgs.). Fundamentos das ginásticas. São
Paulo: Fontoura, 2009.
NUNOMURA, M.; TSUKAMOTO, M. H. C. (orgs.).
Fundamentos das ginásticas. São Paulo:
Fontoura, 2009.

OLIVEIRA, M. S.; NUNOMURA, M. A produção


histórica em ginástica e a constituição desse
campo de conhecimento na atualidade.
Conexões, v. 10, pp. 80-97, 2012.

POSSAMAI, V. D. Metodologia da ginástica.


Porto Alegre: SAGAH, 2018. [Minha Biblioteca].

ROSA, L. H. T. da.; SANTOS, A. P. M. dos.


Modalidades esportivas de ginástica. Porto
Alegre: SAGAH, 2018. [Minha Biblioteca].
SOARES, C. L. et al. Metodologia do ensino de
Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

SOARES, C. L. Educação Física: raízes europeias


e Brasil. 3. ed. Campinas: Autores Associados,
2004.

SOUZA, E. P. M. A busca do autoconhecimento


através da consciência corporal: uma nova
tendência. 1992. Dissertação (Mestrado) –
Universidade Estadual de Campinas, Campinas,
1992.

SOUZA, E. P. M. Ginástica Geral: uma área do


conhecimento da educação física. 1997. Tese
(Doutorado) – Faculdade de Educação Física,
Universidade Estadual de

Campinas, Campinas, 1997.

TANI, G. O.; CORRÊA, U. C. Aprendizagem


motora e o ensino do esporte. São Paulo:
Blucher, 2016. [Minha Biblioteca].

TOLEDO, E. de; SILVA, P. C. da C. A ginástica para


todos e suas territorialidades. Corpoconsciência,
v. 24, n. 1, p. 71-82, 2020. Disponível em: https://
periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/
corpoconsciencia/article/view/10092. Acesso
em: 9 out. 2020.
TOLEDO, E. Fundamentos da Ginástica Rítmica.
In: NUNOMURA, M.; TSUKAMOTO, M. H. C.
(orgs.). Fundamentos das ginásticas. São Paulo:
Fontoura, 2009.

TOLEDO, E.; TSUKAMOTO, M. H. C.; GOUVEIA,


C. R. Fundamentos da Ginástica Geral. In:
NUNOMURA, M.; TSUKAMOTO, M. H. C. (orgs.).
Fundamentos das ginásticas. São Paulo:
Fontoura, 2009.

VICENTINO, C. História geral. São Paulo:


Scipione, 1997.

WERNER, P. H.; WILLIAMS, L. H.; HALL, T. J.


Ensinando ginástica para crianças. 3. ed.
Barueri: Manole, 2015. [Biblioteca Virtual].

Você também pode gostar