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Curso de Cirurgia em

Bovinos a Campo

REALIZAÇÃO:

Coordenador
Prof. André Lang, MV, Esp, MSc
Médico Veterinário CRMV: 7422
Mestre em Medicina Veterinária
Doutorando em Medicina Veterinária (UFV)
Especialista em Clínica e Cirurgia de Grandes Animais

VIÇOSA-MG
2010
Apresentação

O Curso de Cirurgia em Bovinos tem por objetivo proporcionar conhecimento


aos alunos para diagnóstico das enfermidades de tratamento cirúrgico e realização
das cirurgias de ocorrência mais freqüente em ambiente de campo, incluindo a
preparação do material cirúrgico e do paciente, realização de técnicas de anestesia
local e geral.

O aluno terá oportunidade de realizar o treinamento em cirurgia, desde o


planejamento, até a execução das técnicas de: descorna, enucleação, orquiectomia
(castração de macho), preparo de rufiões, laparotomia exploratória, rumenotomia,
correções de deslocamento de abomaso (omentopexia e abomasopexia), cesariana,
sutura de Bünner para prolapso uterino e amputação de dígito.

Esta apostila, parte do material teórico do Curso de Cirurgia em Bovinos a


Campo, serve como material de consulta aos alunos e interessados, não somente
durante o evento, mas também durante suas atividades de assistência técnica
veterinária, sem a pretensão de esgotar assunto de tamanha importância à
bovinocultura nacional.

André Lang
Professor Coordenador

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SUMÁRIO

1 – Abordagem Clínica dos Bovinos ........................................................................... 4


2 – Contenção e Anestesia ......................................................................................... 6
2.1- Contenção Física ............................................................................................... 6
2.2 – Sedação ........................................................................................................... 7
2.3 – Anestesia Local ................................................................................................ 8
2.4 – Anestesia Geral ............................................................................................... 14
3 – Principais Cirurgias a Campo
3.1 – Castração de Machos (Orquiectomia)...............................................................15
3.2 – Preparo de Rufiões .......................................................................................... 16
3.3 – Epididectomia .................................................................................................. 17
3.4 – Desvio Lateral do Pênis ................................................................................... 19
3.5 – Fixação do Pênis na Parede Abdominal ......................................................... 20
3.6 – Descorna ......................................................................................................... 22
3.7 – Amputação de dígito ....................................................................................... 23
3.8 –Herniorrafia Humbilical ..................................................................................... 25
3.9 – Laparotomia .................................................................................................... 26
3.10 – Rumenotomia ................................................................................................ 29
3.11 – Abomasopexia ............................................................................................... 31
3.12 – Omentopexia ................................................................................................. 32
3.13 – Cesariana ...................................................................................................... 33
3.14 – Enucleação ................................................................................................... 37
4 – Referência Bibliográfica ........................................................................................39

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1 – Abordagem Clínica dos Bovinos

O objetivo mais importante da assistência veterinária na bovinocultura é o


aumento da eficiência produtiva do rebanho por meio da saúde animal. Não há
produção sem sanidade animal.

Dentre os vários desafios enfrentados pelos profissionais que atuam nesta


área, destaca-se a dificuldade para diagnóstico sem apoio laboratorial ou de
diagnóstico por imagem, embora tais equipamentos e técnicas estejam cada vez mais
acessíveis ao veterinário e ao produtor.

Desta maneira, ainda é essencial que o profissional esteja qualificado para


realizar uma anamnese específica e detalhada para, em seguida, iniciar o exame
físico adequado a fim de alcançar o melhor diagnóstico com rapidez e economia para
que o tratamento e as medidas de controle sejam prontamente instituídos.

Para obter informações importantes, a partir da anamnese, deve-se conhecer


as características físicas, produtivas, adaptativas, comportamentais e aptidões de
cada raça ou cruzamentos utilizados na bovinocultura, seja de corte ou leite, assim
como as instalações mais apropriadas, exigências nutricionais e zona de conforto
(temperatura e umidade). Soma-se o manejo sanitário indicado para determinado
rebanho e localização geográfica, que inclui o controle de endo e ectoparasitas e a
profilaxia de doenças infecto-contagiosas através de vacinação. O relato de doenças
anteriores, na propriedade ou mesma região, é fundamental.

Já no exame físico, além de conhecer os parâmetros fisiológicos da espécie


(Tabela 1), o profissional deve ter habilidade para formular possibilidades de
diagnóstico por meio da inspeção visual, palpação, percussão, auscultação e, em
algumas situações, até pelo olfato. O domínio das técnicas de colheita de amostras
pode representar a definição do diagnóstico imediato ou possibilitá-lo em um segundo
momento, quando da interpretação dos exames laboratoriais (Tabelas 2 e 3).

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Temperatura Freqüência Freqüência Movimentos Eructação
retal (°C) respiratória cardíaca rumenais
Bovinos 38 a 39 10 a 35 50 a 80 10 a 14 em 5 17 a 20
adultos minutos
Bovinos 38,5 a 39,5 50 90 a 110 10 a 14 em 5 17 a 20
jovens minutos
Tabela 1: Parâmetros fisiológicos de bovinos adultos e jovens

Tabela 2: Valores hematológicos no eritrograma de bovinos

Tabela 2: Valores do eritrograma de bovinos

Tabela 3: Valores hematológicos no leucograma de bovinos

Tabela 3: Valores do leucograma para bovinos

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2 – Contenção e Anestesia

A maioria das cirurgias a campo pode ser realizada com contenção física,
sedação e anestesia local. Para maior comodidade do veterinário e bem-estar do
animal, pode-se utilizar anestesia geral de curta duração, dependendo do
procedimento a ser realizado.

2.1 – Contenção Física

Para contenção de bovinos em estação (“em pé”) é indicado o uso de troncos.


Em casos de animais extremamente dóceis, pode-se abrir mão do tronco, mas a peia
deve ser feita para segurança pessoal.

Posicionamentos em decúbito exigem o derrubamento e contenção com


cordas. Existem diferentes formas de derrubamento de bovinos, sendo mais
empregadas as técnicas de “cordas cruzadas” ou método italiano (Figura 1), e o
método de Rueff.

Para o posicionamento de bovinos em decúbito por mais de 30 a 40 minutos, é


essencial o jejum prévio dos animais devido ao risco de ocorrência de timpanismo
rumenal e conseqüente compressão do diafragma sobre os pulmões, impossibilitando
os movimentos inspiratórios.

Após o derrubamento, o animal será contido por meio de cordas de acordo com
a posição mais indicada para a cirurgia, como o decúbito lateral com as patas e o
pescoço estendidos ou decúbito esternal com três patas reunidas e pescoço
flexionado.

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Figura1: Método de derrubamento por cordas cruzadas

2.2 - Sedação

A sedação facilita o manejo do animal. Dependendo do fármaco, pode


promover o decúbito e analgesia (diminuição da sensação de dor). Os principais
fármacos utilizados em bovinos são:

- Acepromazina

Apresentação comercial: Acepran 1% (10mg/ml).

Efeito: Não tem nenhum efeito analgésico, mas causa efeitos de indiferença ao
meio, diminuição da atividade motora e tendência ao decúbito.

Dose: 0,5 ml/100Kg, via IM ou IV.

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- Xilazina

Apresentação comercial (2%): Rompun, Dorcipec (20mg/ml).

Efeito: Sedação, relaxamento muscular e analgesia. É o fármaco mais utilizado


para contenção e associação com anestesia local para procedimentos cirúrgicos a
campo.
Dose: Pode-se utilizar quatro protocolos diferentes tanto IM como IV. Nas
aplicações IM deve-se esperar algum período até seu efeito.

1. Sedação com ligeira diminuição do tônus muscular: 0,25 ml /100Kg.


Efeito: O animal se mantém em pé;

2. Sedação com relaxamento muscular e ligeira analgesia : 0,50 ml /100kg.


Efeito: O animal se mantém em pé e, ocasionalmente, adota o decúbito;

3. Sedação profunda, marcado relaxamento muscular e analgesia: 1 ml /100 kg.


Efeito: O animal adota o decúbito esternal e pode ser facilmente colocado em
decúbito lateral;

4. Sedação profunda, intenso relaxamento muscular e analgesia: 1,5ml / 100kg.

Efeito: O animal fica em decúbito esternal e, depois, em decúbito lateral.

2.3 – Anestesia Local

Por motivos de custo e praticidade, a maioria das cirurgias em bovinos no


campo é realizada sob anestesia local em associação com sedativos. A anestesia
local permite uma dessensibilização completa do local a ser operado.
O agente anestésico local mais utilizado é a lidocaína.

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Lidocaína

Apresentação comercial (2% com vasoconstritor): Anestésico local Pearson,


Bravet;
Apresentação comercial (2% sem vasoconstritor): Lidol
Dose: dose máxima de lidocaína sem vasoconstritor 7mg/kg ou 35 ml/100kg
de uma solução 2%. Dose máxima de lidocaína com vasoconstritor 9mg/kg ou 45
ml/100kg de uma solução 2%.

Ø Anestesias Locais mais freqüentes em bovinos

- Anestesia em linha de incisão:

Método simples de anestesia local infiltrativa, em que o anestésico é


depositado de forma linear no local a ser incisado durante a cirurgia. Para
laparotomia, deve contemplar o espaço subcutâneo e os planos musculares.
Aproximadamente 50 ml são suficientes. Uma desvantagem da técnica é que
não permite muita tração nas bordas da incisão e nem a ampliação da incisão sem
nova aplicação.

- Anestesia em “L” invertido:

Método onde o agente anestésico é injetado na forma de “L” invertido criando


uma área anestesiada no campo cirúrgico. Para laparotomia no flanco, deve-se
realizar uma infiltração linear vertical caudal à última costela e uma infiltração linear
horizontal ventralmente aos processos transversos das vértebras lombares (figura 2 A
e B). Todos os nervos que passam pela região operatória são bloqueados.

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Utiliza-se em torno de 60 a 100 ml.

(A) (B)

Figura 2: Anestesia em “L” invertido. Linha horizontal (A) e vertical (B)

- Anestesia paravertebral proximal

Método bastante eficiente, indicado para laparatomias laterais altas, medias ou


baixas, ruminotomia, cesarianas pelo flanco etc. A aplicação é feita 5cm lateralmente
ao plano sagital, entre as vértebras T13 e L1, L1 e L2, L2 e L3 (figura).

Aplica-se em torno de 20 ml em cada ponto, num total de aproximadamente 60


ml.

- Anestesia paravertebral distal

O método visa a anestesia dos mesmos nervos do bloqueio paravertebral


proximal, mas em região mais afastada do plano sagital. A aplicação é feita na região
dorsal e ventral da borda cranial dos processos transversos das vértebras L1, L2 e
L4(figura 3).

Aplica-se em torno de 10 ml em cada ponto, num total de aproximadamente 60


ml.

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L1 L2 L4

A) B) C)

Figura 3: Anestesia paravertebral proximal


A) T13-L1, B) L1-L2, C) L2-L3 e anestesia paravertebral distal L1, L2, L4.

- Anestesia Epidural

Consiste na injeção de anestésico local sem vasoconstritor no canal formado


pela duramáter.

A aplicação é feita no espaço sacro-coccígeo ou entre a primeira e segunda


vértebra coccígea. Deve-se fazer tricotomia e antissepsia na área, movimentar a
cauda para cima e para baixo para identificação do local e, então, colocar uma agulha
em ângulo de 45 graus com a coluna vertebral (figura 4). O tamanho da agulha varia
de acordo com o porte do animal, mas geralmente utiliza-se uma agulha 40-12 para
animais adultos. Após colocação da agulha, deposita-se um pouco de anestésico no
canhão da agulha e, quando alcançar o espaço epidural, haverá sucção do líquido.
Não haverá resistência para injeção do anestésico se a agulha estiver bem
posicionada.

Pode-se utilizar a epidural baixa ou alta. A diferença está apenas no volume


injetado.

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Epidural baixa:

Indicada em intervenções cirúrgicas na cauda, anus, reto, vulva, vagina e pele


da região perineal, redução de prolapso uterino, parto distócicos, etc.

Dose lidocaína 2%: 1ml /100kg.


Com essa dose o animal se manterá em pé.
Logo após a injeção, deve-se manter a cauda do animal elevada por alguns
minutos para evitar que a pequena quantidade de anestésico deslize em direção
caudal, em função da gravidade.

Epidural Alta:

Indicada para explorações cirúrgicas de pênis e traumas dos membros pélvicos


etc.
Dose lidocaína 2%: 10ml/100 kg.
Deve-se levar em conta que, com essa anestesia, o animal não poderá se
manter em estação.
A técnica é a mesma descrita para a epidural baixa.

Figura 4: Anestesia epidural.

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- Anestesia de Bier

A anestesia regional intravenosa ou técnica de Bier é um método simples e


seguro para promover analgesia nos dígitos de ruminantes. É indicada para debridar
e suturar feridas de extremidades, remoção de neoplasias, tratamento cirúrgico de
pododermatite, amputação de terceira falange, tenotomias e neurectomias.

A técnica consiste em conter o animal em decúbito lateral, fazer um garrote no


membro, acima do local a ser manipulado, canular uma veia calibrosa e retirar uma
determinada quantidade de sangue equivalente com a de anestésico local sem
vasoconstritor a ser depositada na veia, levando em consideração o peso do animal
(Figura 5).

O garrote não deverá ser retirado nos primeiros 15 a 20 minutos após injeção,
para que haja difusão retrógrada e dessensibilização da área, e não deve permanecer
por mais de 60 a 90 minutos, o que poderia predispor a necrose das estruturas
distais.

Para bloqueios até a região da tíbia, colocar uma compressa na depressão que
há entre a tíbia e o calcâneo para evitar que o anestésico se difunda para fora da área
que se quer anestesiar.

Doses de lidocaína 2%:


Até 50 kg = 5 mL,
de 50 - 100 kg = 10 mL,
de 100 - 200 kg = 15 mL,
de 200 - 350 kg = 20 mL
e de 350 kg ou mais = 30 mL.

Figura 5: Anestesia de Bier

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2.4 – Anestesia Geral

A anestesia geral em bovinos favorece a contenção dos animais e permite a


realização de cirurgias maiores com menores riscos e mais conforto ao cirurgião.

- Cetamina

A cetamina, um anestésico dissociativo que produz analgesia e amnésia sem


depressão dos centros cerebrais é o anestésico geral mais indicado para uso no
campo em associação com xilazina.

Apresentação comercial: Suas apresentações comerciais mais freqüentes são


a de 50mg/ml e a de 100mg/ml. (Dopalen, Cetamin)

Efeito: interrompe o fluxo de informação límbica e do córtex sem causar


depressão dos centros cerebrais, podendo oferecer imobilização e analgesia.

Dose: 2 a 4 ml/ 100kg.


Essa dose produz analgesia rápida, eficaz e leva o animal ao decúbito.

Uma dose de 2 a 4 ml de cetamina + 1 ml de xilazina /500kg IV facilita a


contenção, mantém o animal em estação e pode ser complementada com anestesias
locais.

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3 – Principais Cirurgias a Campo

3.1 – Castração de Machos (orquiectomia)

A castração de machos, orquiectomia, é a cirurgia mais rotineira na criação de


gado de corte e tem como principal indicação facilitar o manejo, diminuindo a
agressividade dos animais, principalmente quando confinados. Após a castração, há
tendência para maior acúmulo de tecido adiposo.

a) Anestesia e preparação

Por questões de custo e praticidade, este procedimento é muitas vezes realizado


sem anestesia e cuidados com antissepsia. Tendo em vista o bem-estar animal,
recomenda-se aqui a anestesia local na linha de incisão, de 10 a 20 ml circular no
terço médio do escroto, e 10 ml em cada cordão espermático. A antissepsia com
degermante e álcool iodado é empregada como profilaxia da infecção cirúrgica. O
posicionamento pode ser em estação ou em decúbito contido por cordas.

b) Técnica cirúrgica

O escroto é tracionado e uma incisão circular horizontal é feita entre o terço médio
e o terço distal até exposição dos testículos. O testículo é levemente tracionado e
uma ligadura é feita no cordão espermático o mais proximal possível, onde tem menor
diâmetro, utilizando fio de algodão 000. Cerca de 1,5 cm abaixo da ligadura o cordão
é seccionado e repete-se o procedimento no testículo contralateral. A ferida recebe
povidine tópico e repelente spray.

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c) Pós-operatório

Deve-se observar por até 24 horas a possibilidade de hemorragia e depois permitir


a movimentação dos animais para reduzir a ocorrência de edema intenso. Miíase e
infecção podem ocorrer nos primeiros dias quando os animais não recebem
acompanhamento, então, repelente e antibiótico se fazem necessários.

3.2 – Preparo de Rufiões

O preparo de rufiões visa a utilização destes animais para detecção de vacas


em cio em programas de reprodução assistida. O objetivo é incapacitá-los de
promover a fecundação, por impedir o fluxo espermático e/ou impedir a cópula. Por
questões sanitárias, as técnicas que impedem a cópula são preferidas.
Diversas técnicas estão descritas, como a fixação da curvatura caudal da
flexura sigmóidedo pênis (“S” peniano), vasectomia ou deferentectomia, ressecção da
cauda do epidídimo ou epididimectomia, desvio lateral do pênis, neóstio prepucial,
fixação do pênis na parede abdominal e ressecção do ligamento apical.

Descreve-se aqui as técnicas de epididectomia, desvio lateral do pênis e


fixação do pênis na parede abdominal.

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3.3 - Epididectomia

Técnica simples e barata, que impede fluxo espermático, devendo ser associada a
técnica que impossibilite a cópula.

a) Anestesia e preparação

Posicionamento em estação ou em decúbito contido por cordas. Antissepsia do


escroto e anestesia local infiltrativa em linha de incisão e na região da cauda do
epidídimo, em torno de 10 ml.

b) Técnica cirúrgica

O testículo é pressionado em sua porção proximal e uma incisão de 3 a 5 cm é feita


sobre a cauda do epidídimo até sua extrusão (Figura 6). A cauda do epidídimo é
dissecada do testículo com o uso de tesouras com o cuidado de não lesioná-lo.
Ligadura é feita no ducto deferente e epidídimo com agodão 0 e a cauda do epidídimo
é retirada (Figura7 e 8). A túnica vaginal comum é suturada com pontos simples
separados com categute 2-0 e a extremidade do ducto deferente deve permanecer
fora da túnica vaginal. A pele é suturada com nylon 0,60 (numeração nylon de pesca)
em pontos simples separados. Repetir no outro testículo. A ferida recebe povidine
tópico e repelente spray ao redor.

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c) Pós-operatório

Manter o animal afastado de fêmeas por 3 a 4 semanas.

Figura 6: Cauda do epidídimo Figura 7: Remoção da cauda do epidídimo

Figura 8: Cauda do epidídimo retirada

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3.4 – Desvio Lateral do Pênis

Técnica mais trabalhosa pela quantidade de pontos, mas que impede a cópula e não
interfere na libido.

a) Anestesia e preparação

Posiciona-se o animal em decúbito lateral direito inclinado para permitir acesso à


região mediana. Tricotomia é feita de maneira ampla na região ventral, desde o
prepúcio até a base do escroto, e na região ventral do flanco esquerdo. Anestesia
local infiltrativa é feita nas duas laterais do trajeto do pênis até a base do prepúcio e, a
partir daí, em linha de incisão 45° a 90° lateralmente à esquerda. Antissepsia é feita
com limpezas utilizando escovação e povidine degermante, enxaguando com água,
por 3 vezes, sendo que após a terceira limpeza com povidine degermante enxagua-se
com álcool iodado.

b) Técnica cirúrgica

É feita incisão contornando prepúcio e região do pênis até a proximidade do escroto,


liberando pele, prepúcio e pênis em conjunto (Figura 9). Outra incisão de pele é feita
lateralmente à esquerda em 45° a 90° a partir da base do escroto. Desloca-se o
conjunto com o pênis para a região da segunda incisão, suturando a pele com pontos
Wolff ou simples separado com nylon 0,60 (Figura 10).

c) Pós-operatório

Pela maior exposição tecidual, é importante o uso de antibiótico por 5 dias e limpeza
diária com povidine tópico até a retirada dos pontos, em torno de 20 dias, e repelente
spray ao redor da ferida cirúrgica. Manter o animal afastado de fêmeas por 3 a 4
semanas e permitir a movimentação para reduzir a ocorrência de edema intenso.

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Figura 9: Conjunto pele, prepúcio e pênis

Figura 10: Sutura do desvio peniano

3.5 – Fixação do Pênis na Parede Abdominal

Técnica simples e muito utilizada para impedir a exposição do pênis em virtude da


possibilidade ou suspeita de que rufiões por deslocamento lateral do pênis possam
realizar a cópula.

a) Anestesia e preparação
Posicionamento em decúbito lateral esquerdo, tricotomia entre prepúcio e escroto
retangular sobre a região do pênis e lateralmente à esquerda. Anestesia local

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infiltrativa com 20 ml em linha de incisão cerca de 5 cm lateralmente à esquerda
paralela à linha mediana e com 10 cm de extensão.

b) Técnica cirúrgica

Uma incisão de 10 cm é feita 5 cm lateralmente à esquerda paralela à linha


mediana, entre prepúcio e escroto. Por divulsão romba alcança-se a porção dorsal do
pênis que é escarificada para exposição da túnica albugínea (Figura11). Traciona-se
lateralmente o pênis, evitando-se sua rotação, e sutura-se sua porção dorsal ao
músculo reto abdominal com 3 ou 4 pontos simples separados com algodão 000,
cuidando para não ocorrer perfuração da uretra (figura12). A pele é suturada com
nylon 0,60.

c) Pós-operatório

Limpeza diária com povidine tópico até a retirada dos pontos, em torno de 20 dias.
Manter o animal afastado de fêmeas por 3 a 4 semanas e permitir a movimentação
para reduzir a ocorrência de edema intenso.

Figura 11: pênis já escarificado e início da sutura

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Figura12: Sutura do pênis na musculatura abdominal

3.6 - Descorna

A descorna é realizada com objetivo de facilitar o manejo, reduzindo acidentes por


brigas e disputas entre os animais.

a) Anestesia e preparação

O posicionamento mais utilizado é o decúbito esternal contido por cordas. A região


em torno do corno é tricotomizada e anestesia local infiltrativa circular é feita de 5 a 10
cm a partir de seu tecido germinativo. Antissepsia é feita com limpezas utilizando
escovação e povidine degermante, enxaguando com água, por 3 vezes, sendo que
após a terceira limpeza com povidine degermante enxagua-se com álcool iodado,
tendo cuidado com os olhos.

b) Técnica cirúrgica

Uma incisão é feita 0,5 cm próxima ao tecido germinativo do corno no sentido


caudomedial-rostrolateral com extensão para a região da nuca e crista frontal. O
mesmo é feito contornando a base do corno caudalmente. Procedimento bastante
cruento permite a maior parte da hemostasia por tração e torção A pele é rebatida
através de sua dissecção do osso frontal o suficiente para encaixar a serra ou o fio-
serra para osteotomia do processo cornual. Após osteotomia, as bordas da ferida

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devem se tocar quando a pele é tracionada. Caso isto não aconteça, deve-se ampliar
a osteotomia e a dissecação da pele. Solução estéril deve ser utilizada para lavagem
do seio frontal. A pele é suturada com fio de algodão 0000 em “X” ou “perto-longe-
longe-perto”.

c) Pós-operatório

Limpeza com povidine e repelente spray devem ser utilizados até a retirada dos
pontos após 20 dias.

3.7 – Amputação de Dígito

A amputação de dígito tem como principais indicações: osteomielite,


osteoartrite, artrite séptica interfalangeana distal ou proximal, luxações
interfalangeanas ou fraturas graves de segunda e terceira falanges. Muitas vezes as
artrite sépticas ou osteomielites são provenientes de úlcera de sola, dermatite solear
ou feridas negligenciadas. A amputação visa o alívio da dor, bem-estar animal e
retorno à produção.

a) Anestesia e preparação

Posicionamento em decúbito dorsal e anestesia de Bier (ver em técnicas de


anestesias locais mais freqüentes em bovinos), tricotomia distal ao boleto. Antissepsia
é feita com escovação e povidine degermante, inclusive entre os dígitos, enxaguando
com água, por 3 vezes, sendo que após a terceira limpeza com povidine degermante,
enxagüa-se com álcool iodado.

b) Técnica cirúrgica

Incisão de pele é feita de forma circular, 1 cm acima da coroa do casco e duas


incisões verticais, uma cranial e outra vertical, permitem divulsionar e rebater a pele

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proximalmente para remoção de todo tecido mole. Uma serra ou fio-serra é colocado
de maneira oblíqua, possibilitando maior retirada na porção abaxial, na altura
desejada (terço médio da primeira ou segunda falange) e é realizada a osteotomia
(figura 13 e 14 A).

Após osteotomia e retirada da extremidade distal, solução estéril é utilizada


para limpeza local. A pele recobre o local da amputação e é suturada com nylon 0,60
padrão wolff (“U” deitado) (figura 13 e 14 B). Sobre a ferida coloca-se antibiótico em
pó, gaze e bandagem.

c) Pós-operatório

Troca da bandagem deve ser feita a cada 2 dias. Antibiótico sistêmico deve ser
utilizado em casos de infecção prévia do local. Retirada dos pontos em torno de 20
dias.

Figura 13:
A) Amputação de dígito vista dorsal B) Amputação de dígito vista lateral.

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A B

Figura 14:
A) Amputação de dígito, na coroa do casco, vista dorsal
B) Amputação de dígito, na coroa do casco, vista lateral.

3.8 – Herniorrafia Umbilical A B

Pequenas hérnias umbilicais podem ter resolução espontânea até os seis meses
de idade, mas após esta idade ou em casos de hérnias muito grandes a herniorrafia
deve ser realizada.

a) Anestesia e preparação

O posicionamento é em decúbito dorsal e ampla área é tricotomizada. Antissepsia é


feita com limpezas utilizando escovação e povidine degermante, enxaguando com
água, por 3 vezes, sendo que após a terceira limpeza com povidine degermante
enxagua-se com álcool iodado. Anestesia local infiltrativa é feita em linha de incisão
na forma elíptica ao redor da hérnia no caso de fêmeas e em “V” com vértice cranial
no caso de machos, devido à proximidade do prepúcio.

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b) Técnica cirúrgica

Uma incisão elíptica (fêmeas) é feita em torno do saco herniário ou em “V”


(machos). Por divulsão romba, a pele é separada do saco herniário e seu anel. Nas
fêmeas a pele pode ser descartada e em machos é rebatida caudalmente. O saco
herniário é invertido sem ser aberto quando não há suspeita de estrangulamento, e
seu anel é suturado com fio de algodão 000 com pontos jaquetão. É feita redução de
tecido subcutâneo com categute 2-0 e sutura da pele com nylon 0,40 a o,60.

c) Pós-operatório

O uso de antibiótico é dependente do grau de contaminação da cirurgia e


antinflamatório é indicado para evitar edema intenso. Limpeza com povidine e
repelente spray devem ser utilizados até a retirada dos pontos após 20 dias.

3.9 - Laparotomia

A laparotomia é empregada tanto de maneira exploratória, quando o


diagnóstico clínico é incerto, como para procedimentos específicos diagnosticados ao
exame clínico. Embora seja realizada preferencialmente com o animal em estação,
pode ser realizada com o animal em decúbito sob anestesia geral, epidural alta ou
contenção por cordas, evitando-se o risco de quedas durante o procedimento.

Destacam-se como acessos para laparotomia a laparotomia pelo flanco esquerdo,


pelo flanco direito e ventrolateral oblíqua esquerda ou direita para cesareana.

Ø Laparotomia pelo flanco esquerdo e direito

A laparotomia pelo flanco esquerdo tem como principais indicações casos de:
· laparotomia exploratória;
· abomasopexia;
· rumenotomia;

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· cesareanas;
· ovariectomia e
· transferência cirúrgica de embriões.

A laparotomia pelo flanco direito tem como principais indicações casos de:
· laparotomia exploratória;
· abomasopexia ou omentopexia;
· cirurgias do intestino delgado, ceco e cólon;
· cesareanas quando o acesso pelo lado esquerdo é comprometido;
· ovariectomia e
· transferência cirúrgica de embriões.

a) Anestesia e preparação

O posicionamento padrão é em estação em tronco de contenção e a anestesia


pode ser em linha de incisão, “L” invertido, paravertebral proximal ou distal (ver em
anestesias locais mais freqüentes em bovinos).
A área é tricotomizada e a antissepsia é feita com limpezas utilizando escovação e
povidine degermante, enxagüando com água, por 3 vezes, sendo que após a terceira
limpeza com povidine degermante enxágua-se com álcool iodado.

b) Técnica cirúrgica

Uma incisão horizontal de 20 a 25 cm é feita no centro do flanco, 5 cm abaixo


dos processos transversos das vértebras lombares. Variações podem ser feitas em
direção cranial (rumenotomia), caudal (ovariectomia e inovulação cirúrgica) ou ventral
(cesariana) de acordo com o objetivo da cirurgia. Outra variação é a inclinação da
incisão da pele acompanhando o sentido das fibras do músculo oblíquo interno,
dorsocaudal-ventrocranial.

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Após incisão da pele encontra-se, na seqüência, músculo oblíquo abdominal
externo, oblíquo abdominal interno, músculo transverso do abdômen e peritônio. Os
músculos recebem incisão horizontal ou divulsão no sentido de suas fibras. O
peritônio é tracionado com pinça Allis e recebe pequena abertura com tesoura
permitindo a entrada de ar e produção de som característico. Segue-se, então, com a
exploração do abdômen e realização do procedimento indicado para cada caso
(figuras 15 a 17).

A laparotomia é finalizada com a sutura da parede abdominal, normalmente em


três camadas: peritônio e músculo transverso do abdômen, com categute cromado n°
0 a n°2 em padrão simples contínua, oblíquo abdominais interno e externo com
categute cromado n° 3 em padrão simples contínua, e pele com nylon 0,60 (pesca)
padrão contínuo interrompido com 3 a 4 pontos simples separados na região ventral.
Quando os músculos sofrem apenas divulsão no sentido de suas fibras, devem ser
suturados separadamente.

c) Pós-operatório
Tratamento clínico suporte de acordo com o quadro inicial. O uso de antibiótico
é dependente do grau de contaminação e antinflamatório dependente do grau de dor
ou incômodo. Limpeza com povidine e repelente spray devem ser utilizados até a
retirada dos pontos após 20 dias.

A B

Figura 15: A) Pele e B) Músculo oblíquo abdominal externo


28
A B
Figura 16: A) Músculo oblíquo abdominal interno e B) Músculo transverso do
abdômen

Figura 17: A) Peritônio e B) Exploração da cavidade

3.10 - Rumenotomia

a) Técnica cirúrgica

Após realizada a laparotomia pelo flanco esquerdo, a perede do rúmen é


tracionada para sua exteriorização e suturada à pele com sutura não contaminada
sero-muscular com fio nylon 0,40 a 0,60 padrão cushing, permitindo que haja bastante
tecido da parede do rúmen para sua posterior sutura e evitando que o conteúdo

29
escorra para a cavidade (figura 18). Após incisão horizontal na parede do rúmen é
feita a exploração de seu interior, retículo, cárdia e óstio retículo-omasal.

A sutura do rúmen é feita em duas camadas, uma coaptante com categute cromado
n°2 em padrão simples contínuo e outra invaginante com categute cromado n°2 em
padrão cushing.

A laparotomia é finalizada como descrito.

b) Pós-operatório

É indicado o uso de antibiótico, por exemplo, associação de penicilina e


gentamicina. Antinflamatório é utilizado dependendo do grau de dor ou incômodo.
Limpeza da ferida cirúrgica com povidine e repelente spray devem ser utilizados até a
retirada dos pontos após 20 dias

Figura 18: A) Sutura do rúmen à pele B) Rumenotomia C) Sutura coaptante +


A invaginante B C

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3.11 - Abomasopexia

a) Técnica cirúrgica

Após a laparotomia pelo flanco direito ou esquerdo, o abomaso deslocado


(esquerda ou direita) ou torcido (direita) é identificado e recebe uma linha de sutura
não contaminada seromuscular na curvatura maior, a 5 cm do inserção do omento
maior, com categute cromado n°2 ou n°3 em padrão reverdin, mantendo a porção
cranial e caudal com fios bem longos. O conteúdo é, então, drenado por meio de
agulha 40-12 conectada a um equipo ou a uma sonda ligada em uma bomba de
vácuo.
A extremidade do fio posicionada cranialmente é passada em uma agulha
longa reta ou em “S”. A agulha é levada, com cuidado para não haver perfuração de
vísceras, para uma posição entre a linha mediana e a região da veia subcutânea
abdominal (mamária) direita, 15 cm caudal à cartilagem xifóide e é pressionada para
atravessar a parede abdominal. O mesmo será realizado com a extremidade caudal
do fio, passando pela parede abdominal 10 cm caudal ao fio anterior.

Enquanto o abomaso é empurrado ventralmente, um assistente puxa os fios


exteriorizados na região ventral. Quando o abomaso tiver contato com o assoalho da
cavidade abdominal, o assistente faz os nós no fio, que permanecerá por 4 semanas.

A laparotomia é finalizada como descrito anteriormente.

b) Pós operatório

Antibióticos são recomendados e continuidade do tratamento clínico, pois


animais com deslocamento de abomaso normalmente necessitam correção do
equilíbrio hidroeletrolítico (reposição de água, potássio e cloreto, principalmente) e
tratamento da cetose. Limpeza da ferida cirúrgica com povidine e repelente spray
devem ser utilizados até a retirada dos pontos após 20 dias.

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3.12 - Omentopexia

a) Técnica cirúrgica

Após a laparotomia pelo flanco direito, o abomaso deslocado (esquerda ou


direita) ou torcido (direita) é identificado e seu conteúdo é drenado por meio de agulha
40-12 conectada a um equipo ou a uma sonda ligada em uma bomba de vácuo.
Quando seu conteúdo é reduzido, seu retorno à posição original é facilitada. Após o
reposicionamento do abomaso, o omento maior é identificado e tracionado até
visualização do piloro. Esta porção de omento, mais espessa e com formato
lembrando uma “orelha de porco ou elefante” (figura 19) é suturada ao peritônio e
músculo transverso do abdômen, nas duas bordas da ferida cirúrgica, com fio
categute n°3, dois ou três pontos em padrão wolff (“U” deitado) e o restante será
incorporado à sutura do peritôneo e transverso do abdômen. O restante do
fechamento da cavidade segue como descrito anteriormente.
b) Pós-operatório

Antibióticos são recomendados e continuidade do tratamento clínico, pois


animais com deslocamento de abomaso normalmente necessitam correção do
equilíbrio hidroeletrolítico (reposição de água, potássio e cloreto, principalmente) e
tratamento da cetose. Limpeza da ferida cirúrgica com povidine e repelente spray
devem ser utilizados até a retirada dos pontos após 20 dias.

Figura 19: Tração do omento


(seta) na porção
adjacente ao piloro

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3.13 - Cesariana

A Cesariana é uma técnica cirúrgica utilizada em partos distócicos que não são
resolvidos pelas manobras obstétricas, objetivando-se a sobrevivência da cria e
matriz.

Antes da realização da cesariana, é de suma importância realizar exame clínico


geral que consiste em avaliar condições de saúde do animal gestante, feto e examinar
o aparelho reprodutor, pela palpação retal e vaginal. Este exame permite avaliar a
largura e a abertura das vias fetais em comparação com o tamanho do feto. Além
disso, deve-se avaliar a viabilidade fetal, apresentação fetal, postura e
posicionamento. A avaliação da viabilidade fetal é feita através da realização de
estímulos como reflexo de sucção, estimulo doloroso através de pressão no globo
ocular, afastamento de dígitos, beliscamento retal e pulsação de vasos umbilicais. O
feto pode estar em apresentações, posturas e posicionamentos que venham a
dificultar o parto.

A cesariana é indicada em animais que foram submetidos a manobras


obstétricas improdutivas, devido a distocias de origem fetal e ou materna, nos casos
de longo período gestacional, vacas primíparas, fetos grandes, crias geradas por
cruzamento de raças de dupla musculatura, ou mesmo em animais gerados por
transferência de embriões.

As principais distocias de origem fetal são: gigantismo fetal absoluto ou relativo,


monstruosidades, feto enfisematoso e impossibilidade de correção de distocia ou
fetotomia. As distocias maternas podem ser causadas por estreitamento das vias
fetais, abertura insuficiente ou estreitamento do canal cervical, gestação abdominal,
oclusão do colo uterino, edema de vulva e vagina, torção uterina irreversível, toxemia
e atonia uterina e severas hemorragias uterinas.

A cesariana eletiva é realizada com mais segurança e facilidade no primeiro


estágio do parto. Deve-se decidir por ela quando a cervix estiver completamente

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dilatada. Respeitando esses fatores, o prognóstico em relação ao feto e a parturiente
é mais favorável.

Para o obstetra é fundamental o conhecimento do histórico reprodutivo do animal,


a realização do exame clínico para observar em qual corno uterino o feto se encontra,
assim como o direcionamento do local mais indicado para a laparotomia.

a) Preparativos pré-operatórios

Para a realização da operação é importante a esterilização do instrumental cirúrgico


assim como a disponibilidade de alguns materiais de consumo, como luva de
palpação estéril, lubrificante obstétrico, ocitocina, gluconato de cálcio, antibióticos de
amplo espectro, xilazina, lidocaina 2%, bupivacaina, agulhas 40 x 12, agulha em S,
compressas estéreis, cordas para contenção, correntes e fios de sutura.

3.13.1 - Cesariana pelo flanco esquerdo

Após a laparotomia descrita anteriormente (ver Laparotomia), inicia-se a procura pelo


útero na cavidade abdominal, tentando tomar as partes fetais duras, como metacarpo
e metatarso, apresentando sobre a incisão cirúrgica. O tempo cirúrgico pode
aumentar devido ao tônus uterino, provocado pela xilazina. Outra dificuldade
encontrada é a gestação no corno uterino direito, que leva à dificuldade de
apresentação no campo cirúrgico. Quando apresentado o útero no campo cirúrgico
pode ser feito o ancoramento com uma sutura simples continua do mesmo na parede
abdominal, evitando assim o despejamento de líquidos fetais na cavidade abdominal.
A incisão do útero deve ser feita com a tesoura de Lister, até que seja possível a
retirada do feto, placenta ou parte dela, facilitando a síntese (figura 20). Retira-se o
ancoramento e o útero é suturado com a técnica de Cushing que consiste em uma
síntese invaginante. O fio de sutura utilizado é o categute 2, 3 ou 4 e agulha
atraumática . Solução estéril é utilizada para retirar coágulos aderidos ao órgão. Na
síntese é recomendado aplicar superficialmente antibiótico de base oleosa,
prevenindo futuras aderências.

34
A laparotomia é finalizada como descrito anteriormente.

Figura 20: Tração do feto em cesariana pelo


flanco esquerdo

3.13.2 - Cesariana pela região paramamária (laparotomia ventrolateral


oblíqua esquerda ou direita)

Esta técnica proporciona maior facilidade para exteriorização do útero com menor
possibilidade de contaminação abdominal, embora haja maior risco de herniação
incisional.

a) Anestesia e preparação

O animal deve ser posicionado em decúbito lateral direito com os membros


anteriores e posteriores amarrados, deixando-os esticados. Essa técnica é a mais
comumente empregada em fêmeas que, ao não conseguirem expulsar o feto da
maneira tradicional (em posição quadrupedal), cansadas e exaustas venha a decúbito
lateral, motivo pelo qual se opta por essa técnica, que facilita a retirada do feto e
permite a sutura dos planos.

A anestesia é local infiltrativa em linha de incisão, sendo utilizado em torno de 40 a 80


ml de anestésico local.

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b) Técnica cirúrgica

A incisão é iniciada na porção ventro-lateral caudal esquerda do abdômen e


prolongada até no máximo a 4,5 centímetros da veia epigástrica superficial. Com a
pele incisada deve-se divulcionar o subcutâneo, visualizando claramente a fáscia
abdominal, amarelo-escura. A fáscia deve então ser incisada em um dos vértices com
o bisturi e continuar com a tesoura de Lister. Com a tesoura deve-se iniciar a abertura
sobre o músculo reto-abdominal, no centro da ferida e por divulsão digital separar as
fibras musculares. O plano seguinte, constituído pela fáscia interna do músculo
retoabdominal e o peritônio, é incisado com o bisturi e deve-se continuar com a
tesoura de Lister na mesma direção.

Ao acessar a cavidade abdominal será encontrado o omento que deve ser


rebatido para frente, aprisionado entre o rúmen e a parede abdominal esquerda
(figura 21 A). Inicia-se então a procura pelo útero tentando tomar as partes fetais
como ditos anteriormente na cesariana pelo flanco esquerdo. Após a apresentação do
útero sobre o campo cirúrgico, a incisão deve ser feita pela curvatura maior (figura 21
B) e continuar com a tesoura de Lister até o comprimento necessário para remoção
do feto (figura 22 A). Nesse momento é importante evitar a entrada de líquidos fetais
na cavidade abdominal. A sutura no útero é realizada com padrão simples contínuo e
depois Cushing com fios categute 3 ou 4 e agulha atraumática (figura 22 B).
Higieniza-se a serosa do útero como dito na técnica anterior e instilar antibiótico de
base oleosa na ferida, evitando futuras aderências, pode ser opcional.

A síntese da parede abdominal começa no vértice caudal, sendo realizada com o


padrão de sutura simples interrompida ou em “X”, com categute n° 3 ou nylon 0,60,
que inclui a fáscia e o peritônio de ambas as bordas. Também é aconselhável realizar
sutura contínua do tecido subcutâneo, com pontos distanciados, aproximando as
bordas da pele. A síntese da pele é idêntica à da mesma técnica citada anteriormente.

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A B

Figura 21: A) Acesso para cesariana paramamária B) Exteriorização e histerotomia

A B

Figura 22: A) Retirada do feto B) Histerorrafia coaptante e invaginante

3.14 – Enucleação

A enucleação em bovinos pode ser necessária em casos de traumatismo ou


neoplasias, principalmente carcinoma espino-celular à partir da terceira pálpebra.

a) Anestesia e preparação

Normalmente essa cirurgia pode ser efetuada com uma aplicação de xilazina na
dose de 0,2mg/hg, respeitando-se jejum prévio. Essa tranqüilização é necessária,
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pois a cirurgia traz um desconforto pela manipulação, desconforto este não abolido
pela simples anestesia local, mesmo que bem-sucedida. Anestesia local infiltrativa
subpalpebral (inferior e superior) com agulha 80 X10 injetando-se lidocaína a 21 %
com vasoconstritor. Introduzir uma agulha 100X 10 na comissura nasal rente ao
tabique ósseo até atingir a região retrobulbar injetando-se 5 a 10 ml de lidocaína 2%.

Sugere-se aguardar de 15 a 30 minutos para o inicio da cirurgia, respeitando o


período de latência do anestésico local bem com acolchoar adequadamente a cabeça
para evitar movimentos bruscos durante a intervenção.

b) Técnica cirúrgica

Utiliza-se pinça de campo (Bakhaus) para manter as pálpebras fechadas e


exercer tração enquanto se faz incisão transpalpebral, mantendo tecido suficiente
para posterior sutura. Faz-se divulsão ao redor de todo o globo ocular até
individualizar o troco retrobulbar, com a vascularização do globo ocular, que é preso
por hemostática curva e seccionado distalmente. Retira-se o globo ocular e faz-se a
ligadura proximalmente à pinça. A pele é suturada com nylon 0,60 em padrão simples
contínuo ou separado.

c) Pós-operatório

Limpeza da ferida cirúrgica com povidine e repelente spray devem ser


utilizados até a retirada dos pontos após 20 dias.

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4 - Referências bibliográficas

RADOSTITS, O. M.; GAY, C. C.; BLOOD, D. C.; HINCHCLIFF, K. W. Clínica


Veterinária – Tratado de doenças, 9º edição, Rio de janeiro, Editora Guanabara 2002,
1263p.

REBHUN, W. C. Doenças do gado Leiteiro, Roca, 642p.

ROSENBERGER, G. Exame clínico dos bovinos. Rio de janeiro, Editora Guanabara,


pág. 38 e 39.

TURNER, A. S.; McILWRAITH, C. W. Techniques in Large Animal Surgery, 2ª edição,


Philadelphia, Lea&Febiger 1989, 381p

Figuras:

Acervo do autor

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