Você está na página 1de 35

TÉCNICAS ANESTÉSICAS EM PEQUENOS

E GRANDES ANIMAIS

TÉCNICAS ANESTÉSICAS EM PEQUENOS


1
NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empre-


sários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação
e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade ofere-
cendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a partici-
pação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação
contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos
e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber atra-
vés do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

2
Sumário
NOSSA HISTÓRIA ......................................................................................................... 2
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 4
ADMINISTRAÇÃO ORAL ............................................................................................. 7
TREINO COMPORTAMENTAL PARA INJECÇÕES MANUAIS .............................. 8
SERINGA EXTENSÍVEL ............................................................................................... 9
SISTEMAS DE INJEÇÃO REMOTA ........................................................................... 10
SISTEMAS DE PROJEÇÃO COM CARGA ................................................................ 11
PRÁTICA VETERINÁRIA ........................................................................................... 15
CONCEITOS FARMACOLÓGICOS UTILIZADOS ................................................... 23
FORMAS DE INFUSÃO CONTINUA DOS FÁRMACOS ......................................... 25
FÁRMACOS UTILIZADOS ......................................................................................... 27
MLK, FLK, REMIFLK, SUFLK E ALFLK EM INFUSÃO CONTÍNUA ................... 33
REFERÊNCIAS ............................................................... Erro! Indicador não definido.

3
INTRODUÇÃO
O termo “anestesia”, derivado do grego anaisthaesia, que significa “insensibili-
dade”, é usado para descrever a perda de sensibilidade na totalidade ou em
parte do corpo.
Em Medicina Veterinária de animais domésticos, a anestesia usa-se maioritaria-
mente para a imobilização, a analgesia e o relaxamento muscular necessários à
prática cirúrgica, mas é também usada para a realização de vários procedimen-
tos diagnósticos e terapêuticos, bem como para a eutanásia ou o abate de ani-
mais de produção.
Assim, dependendo do objetivo da anestesia, esta pode ser local, regional ou
geral (Thurmon & Short, 2007). Pelo contrário, em animais selvagens, por serem
agressivos e/ou não estarem domesticados, o recurso à anestesia é necessário
principalmente com vista à imobilização (não necessariamente para cirurgia) e,
neste contexto, a anestesia geral reveste-se da maior importância como método
de contenção química destes animais, sendo uma ferramenta essencial no seu
maneio.
Em cativeiro, a imobilização de animais selvagens é muitas vezes necessária
para exames de saúde e de estado geral e para o diagnóstico e tratamento de
doenças (Fahlman, 2008).
Felizmente, e apesar de o médico veterinário de zoológico ter de lidar com uma
grande diversidade de espécies exóticas, os princípios e técnicas de contenção
e anestesia usados em animais domésticos aplicam-se muitas vezes a essas
espécies (West, 2011).
No entanto, a natureza dos procedimentos de imobilização química de animais
selvagens dita que o médico veterinário não possa cumprir muitos dos princípios
que regem a boa prática anestésica em situações mais convencionais (Caulkett
& Arnemo, 2007).
A história clínica de um animal selvagem só está completa se ele tiver sido sem-
pre propriedade de uma instalação zoológica e geralmente não é possível aceder
aos pacientes para realizar um exame físico pré-anestésico ou colher amostras
para exames laboratoriais (Caulkett & Arnemo, 2007; Mosley & Gunkel, 2007).

4
Até a determinação precisa do peso de um animal é muitas vezes impossível
antes da imobilização, devendo o médico veterinário conhecer a gama de valo-
res padrão do peso da espécie e sexo do animal a imobilizar (Fowler, 2008).
Devido a esta incapacidade de realizar uma avaliação pré-anestésica meticu-
losa, a resposta de cada animal aos fármacos, bem como a sua recuperação,
pode decorrer de forma imprevisível ou mesmo resultar em complicações ines-
peradas (Epstein, White, Horowitz, Kass & Ofri, 2002).
O evento de captura e os fármacos imobilizadores podem influenciar o bem-estar
do animal ao alterar variáveis fisiológicas e bioquímicas (Fahlman, 2008).
Os padrões de perturbação fisiológica variam com o método de captura, os fár-
macos e a espécie.
Além disso, para várias espécies selvagens existe pouca ou nenhuma informa-
ção sobre a sua fisiologia e sobre os protocolos anestésicos para a sua imobili-
zação, e a extrapolação entre espécies pode resultar em complicações inespe-
radas, pelo que é imperativo avaliar o uso de diferentes fármacos e doses em
cada espécie (Caulkett & Arnemo, 2007; Fahlman, 2008).
Assim, é conveniente fazer o registo de todo e qualquer procedimento anesté-
sico, bem como da sua monitorização, incluindo:
 Espécie, idade, sexo, peso e estado físico do animal;
 Motivo da anestesia;
 Agentes pré-anestésicos e anestésicos usados e respectivos métodos de ad-
ministração;
 A pessoa encarregue da administração e monitorização da anestesia;
 Duração da anestesia;
 Valores dos parâmetros fisiológicos monitorizados;
 Medidas de suporte;
 Dificuldades encontradas e respectivos métodos de correção (Heard, 2007;
Muir, 2007).
Provavelmente não existem métodos de captura ou combinações de fármacos
para animais selvagens completamente seguros, mas, se os seus efeitos fisioló-
gicos forem quantificados, documentados e publicados, então a segurança dos
animais pode ser melhorada pela prevenção ou tratamento de potenciais altera-
ções fisiológicas (Fahlman et al., 2011).

5
Dados os inúmeros problemas encontrados durante a captura e a imobilização
de animais selvagens, a morbilidade e a mortalidade destes animais podem ser
elevadas, bem como a incidência de lesões do pessoal encarregue da captura
(Caulkett & Arnemo, 2007). Como tal, a decisão de imobilizar ou não um animal
é um dilema comum em medicina zoológica (West, 2011).
De forma a examinar, diagnosticar e tratar adequadamente qualquer animal sel-
vagem, é necessário aplicar métodos apropriados de contenção.
Os métodos usados em cada situação variam com a espécie do animal, a sua
condição física, a experiência da equipa de captura e o objetivo do procedimento
(Porter, 2005).
Os efeitos adversos da captura e do maneio são geralmente mais marcados em
animais em estado selvagem que não estão acostumados ao contato humano,
mas também pode ocorrer stress de captura em animais em cativeiro que não
estão habituados ao maneio, ou mesmo em animais em cativeiro habituados ao
maneio e à contenção física (Drew, 1998).
As espécies selvagens reagem de formas diferentes aos vários métodos de cap-
tura e contenção, pelo que é muito importante adaptá-los às características com-
portamentais de cada espécie, de forma a causar o menor grau de stress possí-
vel.
Como regra, deve recorrer-se à mínima quantidade de contenção necessária
para atingir o objetivo pretendido, com o bem-estar do animal como principal
preocupação (Fleming, 2005).
Um animal pode ser capturado inicialmente por meios físicos ou químicos (Cau-
lkett & Arnemo, 2007), mas deve ter-se em consideração que cada método de
captura produz diferentes padrões de perturbação fisiológica que podem influen-
ciar o seu bem-estar.
A contenção física, por exemplo através de armadilhas ou redes, é por vezes
necessária durante a captura de animais no seu estado selvagem para confinar
os seus movimentos durante a indução anestésica, mas deve ser de curta dura-
ção, de modo a evitar as complicações associadas com o stress (Caulkett & Ar-
nemo, 2007).
A contenção física pode induzir um grau de stress maior que a contenção quí-
mica (Cattet et al., 2003c) e mesmo um maior número de lesões e mortes rela-
cionadas com a captura (Haulton, Porter & Rudolph, 2001).

6
Porém, em certas circunstâncias a contenção física pode ser o método preferí-
vel. Por exemplo, para procedimentos de curta duração em carneiros-selvagens,
a imobilização química esteve associada a uma maior incidência de complica-
ções relacionadas com a captura e a uma mortalidade mais elevada comparati-
vamente com diferentes métodos de contenção física (Kock et al., 1987b).
No entanto, os procedimentos diagnósticos e terapêuticos, o transporte e a trans-
locação da maioria das espécies selvagens só são possíveis através da conten-
ção química (Larsson et al., 2008).
Esta tem vindo a substituir os vários métodos de contenção física, tendo a dis-
ponibilidade de fármacos adequados melhorado bastante a segurança do ma-
neio, da captura, do transporte e da adaptação após a translocação de animais
selvagens (Swan, 1993).
A contenção química é eficaz, relativamente fácil de aplicar, e muitas vezes mais
rápida e eficiente que os métodos de contenção física (Christman, 2010).
As técnicas utilizadas para administrar fármacos anestésicos a um animal de-
pendem em grande escala da sua cooperação durante o período que precede a
indução (Isaza, 2007).
Existem várias técnicas e equipamentos disponíveis para uma melhor adequa-
ção a cada espécie e situação, de acordo com o tamanho do animal, a capaci-
dade de o confinar, a aptidão do operador e a sua distância ao animal, resu-
mindo-se as opções de administração às vias oral ou injetável (Fowler, 1986a;
Atkinson, Kock & Meltzer, 2006).

ADMINISTRAÇÃO ORAL
A eficácia da administração oral para sedar animais selvagens depende da acei-
tação do fármaco por parte do animal, da sua taxa de absorção e da sua estabi-
lidade no trato digestivo (Atkinson et al., 2006).
A eficácia da administração oral de agentes anestésicos é muitas vezes mínima,
uma vez que muitos deles não são absorvidos ou são destruídos no trato diges-
tivo, dependendo o grau de absorção também da quantidade de alimento inge-
rido (Fowler, 2008), o que faz com que as induções sejam prolongadas e impre-
visíveis (Isaza, 2007).

7
Devido ao desenvolvimento de outros sistemas mais eficazes de administração
de fármacos, a administração oral é geralmente usada apenas para pré-medica-
ção, incorporada no alimento, o que é particularmente útil em animais que nor-
malmente se tornam agitados com a antecipação da imobilização (Fowler, 2008).
Nessas situações, pode-se administrar um tranquilizante por via oral, esperar
que este faça efeito e só então dardejar o animal.
Esta técnica pode ser utilizada em primatas e carnívoros (estes últimos ingerem
mais facilmente os fármacos quando incorporados na carne), mas em ruminan-
tes a grande massa de ingesta e a consequente taxa de absorção mais lenta
tornam a administração oral ineficaz (Atkinson et al., 2006). Por outro lado, a
indução de anestesia através da absorção oral transmucosa de opioides poten-
tes tem sido experimentada em várias espécies.
Este método pode evitar as complicações associadas ao dardejamento, podendo
ser útil em instalações zoológicas e possivelmente em populações selvagens
(Mortenson & Bechert, 2001).

TREINO COMPORTAMENTAL PARA INJEÇÕES MANUAIS


A utilização do treino, dessensibilização e/ou condicionamento operante para fa-
cilitar ou realizar um procedimento com a cooperação de um animal, chamada
de “contenção comportamental”, deve ser tida em conta aquando do desenvol-
vimento de um plano de contenção, de forma a reduzir o stress e dessensibilizar
o animal para o procedimento (Christman, 2010).
Os programas de maneio animal modernos incentivam o treino baseado no re-
forço positivo, que leva o animal a cooperar voluntariamente nos seus próprios
procedimentos de maneio (Laule, 2003).
Este método de condicionamento operante tem sido usado recentemente em
instalações zoológicas para treinar animais selvagens em cativeiro para facilita-
rem alguns procedimentos veterinários (Gamble, 2005; Isaza, 2007; Fowler,
2008).
Os animais podem ser treinados para receberem injeções voluntariamente, quer
intramusculares (IM), quer intravenosas (IV). Clinicamente, o stress é menor, as
induções são mais suaves, as doses anestésicas podem ser reduzidas e o mé-
dico veterinário não é visto como uma ameaça (Gunkel & Lafortune, 2007).

8
Para tal, o médico veterinário deve participar ativamente ao longo de todo o pro-
cesso de treino – primeiro como observador, depois como participante e, final-
mente, como operador (Gamble, 2005).
Este processo é preferível ao recurso a jaulas de contenção para injeções IM
diretas, em que o stress é maior e os animais correm o risco de sofrer lesões
causadas pelas barras de metal durante a indução, ou à contenção manual de
animais mais pequenos, que lhes pode induzir um grau de stress bastante ele-
vado e até exacerbar os efeitos secundários cardiovasculares de certos anesté-
sicos (Gunkel & Lafortune, 2007).
Além disso, o processo de treino fornece exercício físico e estimulação mental,
ao mesmo tempo reduzindo o medo e a agressão dos animais em cativeiro, fa-
cilitando, assim, o seu maneio (Fowler, 2008).
O treino comportamental para injeções é o método ideal de indução e deve ser
encorajado em todas as instituições de cativeiro (Gunkel & Lafortune, 2007).
Muitos felídeos em cativeiro têm sido condicionados para participar neste pro-
cesso, como tigres, chitas, leões africanos, pumas e leopardos (Gunkel & Lafor-
tune, 2007), por exemplo para a punção das veias caudais através das grades
(Gamble, 2005).
Outros exemplos incluem o treino de primatas ou ursos para colocarem o braço
através das grades da jaula para receberem injeções IV, de rinocerontes e gira-
fas para passarem por uma manga de contenção para receberem injeções IM,
ou até de elefantes para manipulação direta e subsequente acesso venoso
(Isaza, 2007).

SERINGA EXTENSÍVEL
A seringa extensível é um mecanismo muito simples usado para aumentar o al-
cance de uma injeção manual até 3 ou 4 metros, consistindo numa vara que
funciona como extensão do êmbolo da seringa.
Pode ser um simples mecanismo caseiro composto por uma seringa descartável
ligada à ponta de uma vara de madeira ou plástico, ou um produto comercial.
Estes últimos estão disponíveis numa variedade de modelos, sendo geralmente
vantajoso optar por um que apresente segmentos desmontáveis e vários cali-
bres, de modo a poder fazer a injeção a diferentes distâncias e de diferentes
volumes (Caulkett & Arnemo, 2007).

9
É tipicamente usada para induzir a anestesia em animais confinados, por exem-
plo em armadilhas ou jaulas, ou ainda para aprofundar a anestesia de animais
já em decúbito, mas apenas ligeiramente anestesiados (Caulkett & Arnemo,
2007).
Apesar de este método ser considerado mais seguro que a injecção manual di-
reta, os animais podem, mesmo assim, reagir à punção e causar lesões ao mo-
ver ou redirecionar a seringa extensível.

SISTEMAS DE INJEÇÃO REMOTA


Os sistemas de injeção remota são ferramentas essenciais para o médico vete-
rinário que trabalha com espécies selvagens.
Permitem uma imobilização segura e eficaz dos animais, sendo mais habitual-
mente usados quando a segurança humana está em risco devido ao tamanho
ou temperamento do paciente (p. ex. carnívoros de grande porte ou primatas) ou
com espécies que não toleram a aproximação (p. ex. cervídeos) (Stetter, 2009).
Para além da anestesia, estes sistemas também podem ser usados para a vaci-
nação, a administração de medicações (como antibióticos e anti-helmínticos) ou
mesmo a realização de biópsias (com dardos modificados para esse efeito).

Zarabatana
A zarabatana é o mais básico dos sistemas de injeção remota, consistindo num
tubo de 1-2 metros para o qual se sopra de modo a impulsionar um dardo leve
(3-5 mL) até 10 a 15 metros.
Existem vários modelos de distribuição comercial, mas também pode ser utili-
zado um simples tubo de metal ou plástico adequado à função (Caulkett & Ar-
nemo, 2007).
Apesar da limitação do volume de fármacos e do pequeno alcance associados a
este método, ele é útil e frequentemente usado em instalações zoológicas, no
resgate de animais selvagens e no controlo urbano de animais erráticos (Caul-
kett & Arnemo, 2007).
A zarabatana é adaptável ao uso em animais pequenos ou grandes, é pratica-
mente silenciosa e os seus dardos causam danos de impacto e trauma tecidular
mínimos, devido ao seu peso, massa e velocidade reduzidos (Atkinson et al.,
2006; Caulkett & Arnemo, 2007; Isaza, 2007).

10
É necessário muito cuidado para não contaminar a peça bucal da zarabatana
com fármacos, não sendo recomendável a utilização de opióides potentes com
este instrumento (Kock, 2006), devido à reduzida margem de segurança desses
fármacos em humanos (Nielsen, 1999).

SISTEMAS DE PROJEÇÃO COM CARGA


Estão disponíveis comercialmente vários sistemas de projeção com carga, vari-
ando no formato e no método de propulsão e permitindo um alcance até 50 me-
tros (Caulkett & Arnemo, 2007).
A utilização destes sistemas de projeção é recomendada apenas para animais
com peso superior a 15 kg, de forma a prevenir lesões graves resultantes do
impacto do dardo (Nielsen, 1999).
Genericamente, estes sistemas projetam dardos de duas formas: através da ex-
pansão de gás resultante do disparo de cargas de pólvora ou através da liberta-
ção de gás comprimido (ar ou CO2).
O primeiro método é o que permite um maior alcance, mas também o menos
silencioso. O segundo é relativamente silencioso e preciso, sendo habitualmente
usado para projetar dardos de baixo peso a distâncias curtas a médias, como,
por exemplo, em animais de zoológico confinados, mas não adestrados.
As espingardas podem utilizar ambos os sistemas, enquanto as pistolas estão
disponíveis apenas com o segundo.

Dardos
O dardo, uma espécie de seringa projetável, é o aparelho que carrega os fárma-
cos desde o projetor até ao animal (Rohr & McKenzie, 1993).
Todos os dardos possuem quatro componentes básicos: um compartimento de
armazenamento dos fármacos, um sistema para os injetar, uma agulha para pe-
netrar a pele e um estabilizador para um voo preciso.
Os dardos comercialmente disponíveis variam nos seus métodos de expulsão
dos fármacos, materiais usados na sua construção, capacidade de volume para
os fármacos e anexos como a agulha ou o estabilizador (Isaza, 2007).
Os métodos de expulsão dos fármacos são desenvolvidos para permitir a admi-
nistração do seu conteúdo num músculo do animal no momento do impacto e a

11
sua escolha deve ser feita de acordo com a situação e o tamanho do animal,
bem como com o equipamento de projeção a utilizar (Caulkett & Arnemo, 2007).
Hoje em dia, existem três métodos principais em utilização – descarga explosiva,
ar/gás comprimido e reação química (Isaza, 2007).
No primeiro, o conteúdo do dardo é expelido através da expansão de gás resul-
tante da detonação de uma pequena cápsula explosiva no momento do impacto.
A agulha deve ser farpada, de modo a permanecer agarrada ao músculo durante
a injeção, uma vez que a força da expulsão dos fármacos pode ser suficiente
para afastar a agulha do músculo e fazer uma injeção apenas parcial. Este tipo
de dardo pode provocar trauma muscular considerável e deve ser reservado
para animais grandes e bem musculados (Caulkett & Arnemo, 2007; Isaza, 2007;
Fowler, 2008).
O segundo funciona através de ar ou gás comprimido, introduzido no dardo atra-
vés de uma válvula unidirecional.
O compartimento com os fármacos fica, assim, sob pressão, pelo que a agulha
é fechada na ponta e apresenta uma porta lateral coberta por um selo de silicone.
Este é deslocado com o impacto, libertando a pressão e, consequentemente,
expelindo o conteúdo do dardo.
Os dardos deste tipo podem ser usados repetidamente, mas eventualmente co-
meçam a perder qualidade.
No terceiro, a expulsão do conteúdo do dardo é feita através de gás produzido
por uma reação ácido-base efervescente que ocorre no momento do impacto. A
velocidade de injeção é mais lenta que com os sistemas anteriores, o que pode
ser benéfico por limitar o trauma de injeção e a possibilidade de o dardo saltar
do músculo antes da injeção completa (Isaza, 2007).
É muito importante que o dardo usado seja compatível com o sistema de proje-
ção selecionado, de forma a não afetar negativamente o voo do dardo e, conse-
quentemente, a segurança e a eficácia da administração (Stetter, 2009).
Há muito tempo, a cirurgia era considerada como algo impiedoso. Assim, um
grande salto foi dado ao se descobrir a anestesia, que é tida até hoje como uma
das invenções mais valorizadas e importantes para a humanidade (Santos et al.,
2015).
Cirurgia e anestesia, que passaram então a ser modalidades clínicas indissoci-
áveis, foram utilizadas primariamente em seres humanos, por profissionais da

12
área médica, alquimistas e dentistas, que à época, usavam técnicas rudimenta-
res em anestesia de modo a tentar minimizar a dor produzida em procedimentos
cirúrgicos (Aguiar, 2002).
O primeiro profissional a utilizar a anestesia com propósitos cirúrgicos foi o mé-
dico Crawford Williamson Long no ano de 1842.
No entanto, só teve seus casos publicados apenas em 1849. Deste modo, o
dentista William Thomas Green Morton, que foi responsável pela realização da
primeira cirurgia sem dor, em demonstração pública no ano de 1846, levou o
total crédito da descoberta.
Horace Wells, dentista, também foi um importante personagem nesta desco-
berta. No entanto, falhou publicamente em sua demonstração anestésica que
data de 1845 (Santos et al., 2015).
As substâncias químicas inicialmente utilizadas como anestésicos foram o éter
etílico e óxido nitroso (Santos et al., 2015).
Junto à descoberta da anestesia, a aplicação de métodos antissépticos, foi outro
marco histórico decisivo para que a cirurgia atingisse o seu presente estágio de
desenvolvimento (McCurnin and Jones, 2007).
Desta maneira, a preparação prévia do paciente e da equipe cirúrgica, tende a
diminuir os riscos de infecção, sendo utilizados para tal fim: antissépticos ade-
quados e barreiras estéreis entre as superfícies contaminadas e a incisão, de
modo a reduzir a contaminação bacteriana da ferida (Fries, 2007).
Na Medicina Veterinária, os passos percorridos foram um pouco mais lentos,
sendo que o uso inicial de técnicas anestésicas se deu apenas a partir do final
do século XIX, por Edward Mayhew, utilizando éter em seus experimentos com
cães e gatos (Aguiar, 2002).
O primeiro médico veterinário a utilizar éter e clorofórmio de forma rotineira em
procedimentos cirúrgicos foi George H. Dadd, no ano de 1852 e no Brasil, os
primeiros relatos sobre anestesiologia veterinária se deram apenas a partir da
década de 1940 (Aguiar, 2002).
Com o decorrer dos anos, muitas técnicas anestésicas e cirúrgicas na Medicina
Veterinária foram incrementadas variando conforme o estado geral do paciente,
idade, presença de dor e doenças associadas (Fantoni et al., 2002).

13
Muitas vezes, a garantia de uma cirurgia com bons resultados pode ser determi-
nada por uma avaliação minuciosa no período pré-operatório, permitindo estabi-
lizar ou mesmo preparar adequadamente o paciente, minimizando-se o risco e o
potencial de complicações no período pós-operatório (Fries, 2007).
A esta conduta, se dá o nome de avaliação pré-anestésica e é por meio dela que
se obtêm dados referentes ao histórico clínico do paciente, exames complemen-
tares, permitindo, ainda, estimar o risco anestésico cirúrgico do paciente, plane-
jar a anestesia e aplicar cuidados perioperatórios essenciais (Futema, 2002).
A avaliação pré-anestésica deve ser considerada parte integrante da técnica de
anestesia e visa a correção dos desequilíbrios orgânicos do paciente antes que
o mesmo seja submetido à anestesia, minimizando as possíveis complicações
decorrentes destas alterações (Laredo et al., 2001).
Uma anestesia realizada com segurança e eficácia resulta, dentre outros fatores,
de uma boa preparação e avaliação prévia, devendo ser levadas em considera-
ção várias características individuais de cada paciente, como: histórico clínico,
idade, raça, temperamento do animal, exame físico e o tipo de procedimento
cirúrgico que será realizado (Bednarski et al., 2011).
Esta avaliação minuciosa, além de fundamental no preparo do paciente, ainda é
considerada como ferramenta auxiliar, direcionando a solicitação de exames
complementares, evitando exames desnecessários e contribuindo assim com a
redução dos custos Estado físico e risco anestésico em cães e gatos, mas sem
haver perda de dados clínicos importantes (Ferrando et al., 2005).
Todavia, há situações emergenciais, no qual o risco de se adiar a cirurgia é con-
siderado maior que o risco anestésico deste momento, devendo, portanto, ser
realizada a intervenção cirúrgica o mais brevemente (Laredo et al., 2001).
Isto exige maior capacitação do profissional envolvido, abrangendo o conheci-
mento de diversas áreas da veterinária como: cirurgia, anestesiologia, oncologia,
cardiologia, neurologia e outras, estando este profissional apto, portanto, a tomar
decisões e intervir rapidamente, já que isto pode ser a diferença entre a vida e a
morte do paciente.

14
PRÁTICA VETERINÁRIA
Na prática clínica veterinária é de grande valia a obtenção de um histórico minu-
cioso da vida do paciente e realização de exame físico completo, sendo este, um
dos principais métodos de determinação do diagnóstico de diversas enfermida-
des, evitando ainda, custos desnecessários ao proprietário com exames auxilia-
res que pouco contribuiria na determinação do diagnóstico definitivo.
No paciente cirúrgico, esta avaliação é particularmente útil porque pode minimi-
zar complicações anestésicas e cirúrgicas que possam ocorrer, além de permitir
a busca por afecções concomitantes e manifestações sistêmicas do problema
primário (Fries, 2007).
Deste modo, deve-se, inicialmente, realizar a anamnese do paciente, entrevis-
tando seu tutor acerca do problema clínico que o animal está apresentando e o
impacto que o mesmo tem causado no seu estado geral de saúde (Shmon,
2007).
Por meio deste histórico podem ser identificadas patologias anteriores, doenças
atuais, fatores de risco, saber o que já lhe foi prescrito e se já houve reações
adversas a algum medicamento (Bednarski et al., 2011).
Em seguida, identifica-se o paciente, de modo a determinar problemas de saúde
inerentes à idade, raça e sexo (Shmon, 2007). A idade por si só não é contrain-
dicação para a anestesia; porém, o paciente canino ou felino idoso, pode ter
patologias relacionadas à sua idade avançada, havendo diminuição de reservas
ou funcionalidade de um órgão. Por isso, neste grupo de pacientes deve ser
realizada avaliação pré-operatória completa e escolha cuidadosa das técnicas
anestésicas e analgésicas.
O monitoramento do mesmo deve ser feito de forma vigilante e cuidadosa, pro-
porcionando-se suporte adequado, melhorando a probabilidade de um resultado
positivo para o paciente idoso (Hughes, 2008). Nos pacientes muito jovens, há
um maior risco de ocorrência de hipotermia, hipoglicemia e diminuição do meta-
bolismo de fármacos (Bednarski et al., 2011).
Portanto, nestes pacientes, são necessários condutas e fármacos que contor-
nem tais situações clínicas. Quanto à raça, características próprias devem ser
consideradas já que determinadas raças apresentam incidência maior de condi-

15
ções que afetam a conduta anestésica e cirúrgica como, por exemplo, raças bra-
quicefálicas que necessitam de exame mais criterioso nas vias respiratórias su-
periores (Shmon, 2007).
No exame físico do paciente, realizado após obtenção da anamnese e histórico
clínico, o profissional deve fazer uso dos sentidos: visão, audição, olfato e tato
para procurar indícios de patologia (Ortenzi, 2006). Nada substitui estas ferra-
mentas próprias do examinador.
Deve-se verificar o peso corporal atual do paciente e avaliar o seu escore corpo-
ral, já que muitas vezes, ele pode ser indicador de prognóstico de algumas en-
fermidades como, por exemplo, na doença renal crônica, no qual a caquexia está
relacionada à maior mortalidade (Nobre et al., 2010).
Já em situação contrária, a obesidade aumenta o risco cirúrgico por dificultar a
ventilação, em decorrência do acúmulo de gordura intratorácica (Shmon, 2007).
Ainda no exame físico, atenção deve ser dada aos sistemas cardiovascular e
respiratório, logo, os sinais vitais devem ser aferidos: frequência cardíaca (em
batimentos por minuto), pulso, frequência respiratória (em movimentos por mi-
nuto) e temperatura corporal (em graus Celsius) (Birchard and Sherding, 2008).
Devem ser considerados ainda os seguintes parâmetros: hidratação, geralmente
verificada pelo turgor cutâneo, presença ou não de retração do globo ocular ou
protrusão bilateral da terceira pálpebra (sinais típicos de um animal desidratado).
A coloração das mucosas deve ser verificada, sendo a conjuntiva e oral as mais
acessíveis, investigando-se alterações como: hiperemia, palidez, icterícia e ou-
tras (Birchard and Sherding, 2008).
Todas as alterações referentes à hidratação, temperatura, coloração das muco-
sas e tempo de preenchimento capilar devem ser verificados para se evidenciar
presença de anemia e anormalidades circulatórias (Shmon, 2007).
Após o exame geral, deve-se proceder à avaliação da área afetada e dos órgãos
adjacentes, embasando assim, a descrição do estado físico do animal e seu risco
anestésico-cirúrgico (Fries, 2007).
Quanto aos exames complementares no pré-operatório, os mesmos devem ser
solicitados de modo seletivo, em função do exame físico minucioso, com o pro-
pósito básico de guiar e otimizar o cuidado perioperatório, levando em conside-
ração as informações obtidas no prontuário do paciente, histórico clínico, exame
físico, tipo e porte do procedimento cirúrgico (Mathias et al., 2006) (Tabela 1).

16
Os pacientes hígidos, que serão submetidos à cirurgia eletiva, necessitam de
menos exames complementares, diferentemente de pacientes que necessitam
de intervenções cirúrgicas mais complexas, uma vez que há maior probabilidade
destas anormalidades afetarem o resultado final da cirurgia (Shmon, 2007).
Vale ressaltar que condições emergenciais, que possuem maior risco de compli-
cação e consequentemente de óbito, podem limitar a avaliação e estabilização
pré-operatórias possíveis, daí a necessidade de intervir rapidamente (Shmon,
2007).
Após finalizar a análise do prontuário clínico do paciente, exame físico e obtidos
os resultados de exames complementares solicitados, pode-se atribuir a catego-
ria de estado físico a qual o animal pertence, conforme estabelecido pela Socie-
dade Americana de Anestesiologistas.

17
Historicamente, em 1941, o pesquisador Saklad elaborou uma classificação de
estado físico, considerando-se a mortalidade secundária à anestesia e as condi-
ções clínicas pré-operatórias, que foi adotada posteriormente pela ASA logo
após adição da quinta categoria e hoje é empregada quase universalmente (Or-
tenzi, 2006), tanto por médicos humanos como na Medicina Veterinária, tendo o
mesmo objetivo, que é normatizar as condutas da avaliação pré-anestésica, as
abordagens a serem realizadas, que incluem: revisão do prontuário, exames fí-
sicos e laboratoriais, histórico de anestesias anteriores, medicações em uso e
classificação quanto ao estado físico (Owens et al., 1978, Novaes, 2006).
Esta classificação ASA é comumente utilizada na avaliação pré-anestésica de
seres humanos e animais, sendo um parâmetro bastante avaliado em pesquisas
nas áreas de cirurgia e anestesiologia.
A classificação de estado físico e risco anestésico qualifica o paciente cirúrgico
de I a VI, variando conforme as características observadas (ASA, 2013):
ASA I – aparentemente hígido, sem alterações orgânicas;
ASA II – apresentando doença sistêmica de grau leve; Estado físico e risco anes-
tésico em cães e gatos
ASA III – doença sistêmica moderada;
ASA IV – presença de doença sistêmica grave;
ASA V – pacientes moribundos, sem expectativa de sobrevivência com ou sem
cirurgia nas próximas 24 horas;
ASA VI – paciente com morte cerebral cujos órgãos estão sendo removidos para
fins doação. Todas estas classificações podem ser qualificadas como condição
de emergência “E” (ASA, 2013), que são casos em que há alta probabilidade de
consequências imediatas de risco de vida, ou que necessitam de cuidados e
intervenções imediatas (Fragata and Santos, 2008).
Como exemplos de cada grupo de risco, são citados:
ASA I – animais submetidos a procedimentos eletivos como orquiectomia, ova-
riossalpingohisterectomia e conchectomia;
ASA II – pacientes neonatos e geriátricos, gestantes, obesos, cardiopatas com-
pensados, fraturas simples, lacerações de pele e os que possuem infecções lo-
calizadas;

18
ASA III – casos de animais anêmicos, caquéticos, que apresentem sopro cardí-
aco, desidratação moderada, hipovolemia, hérnia diafragmática, pneumonia,
pneumotórax, trauma torácico discreto e casos de fraturas complicadas;
ASA IV – casos de: choque, toxemia, uremia, hipovolemia, desidratação grave,
doenças cardíacas e renais descompensadas, anemia grave, síndrome torção-
dilatação gástrica e piometra;
ASA V – exemplificados por casos de: traumas cranianos, choque e falência de
múltiplos órgãos (Futema, 2002, Shmon, 2007).
Em pacientes humanos há o grupo denominado ASA VI, referente aos pacientes
doadores de órgãos (Novaes, 2006) e (ASA, 2013), prática ainda incomum na
Medicina Veterinária.
De um modo geral, a avaliação pré-operatória, na qual a classificação ASA de
estado físico está inserida, mostra-se como importante ferramenta de segurança
ao paciente cirúrgico, visando à redução de intercorrências intra e pós-operató-
rias, evitando-se assim, desfechos desfavoráveis (Schwartzman et al., 2011).
São relatados em seres humanos erros e acidentes no bloco operatório, que
poderiam ser evitados com a prévia avaliação do paciente (Fragata, 2010).
Embora não sejam registrados em Medicina Veterinária, estes mesmos erros
provavelmente ocorrem.
Portanto, a implantação da avaliação pré-anestésica de forma rotineira, pode
contribuir na eficiência dos serviços ofertados e também na melhoria da forma-
ção dos anestesiologistas (Bisinotto et al., 2007).
Quando realizada de modo minucioso, a avaliação pré-operatória permite dimi-
nuir os custos quanto aos exames solicitados, sem que haja perda da qualidade
e informações clinicamente relevantes (Ferrando et al., 2005, Issa et al., 2011) e
possibilita diminuição no tempo de permanência hospitalar (Mendes et al., 2005).
Consequentemente, os pacientes cujo risco pré-operatório é baixo (ASA I ou II)
são os principais contribuintes para a redução do número de exames pré-opera-
tórios e custos desnecessários (Ferrando et al., 2005).
Assim, confirma-se a grande importância da classificação ASA pré-operatória,
sendo que a mesma deve ser incluída na descrição do estado físico pré-anesté-
sica do animal, uma vez que permite estimar os riscos de possíveis complica-
ções anestésicas e cirúrgicas, bem como fornecer o prognóstico do paciente que

19
é considerado como excelente, bom, satisfatório, reservado e grave, para as ca-
tegorias ASA I, II, III, IV e V respectivamente e, prognóstico variável para paci-
entes emergenciais (Shmon, 2007).
O tratamento do paciente com base numa avaliação pré-anestésica completa se
torna bem mais barato que o tratamento decorrente de complicações inespera-
das (Shmon, 2007).
Apesar da incontestável utilidade da classificação ASA de estado físico, a
mesma não mostra total precisão científica (Owens et al., 1978), ou seja, é de
fácil aplicação, importante na avaliação pré-anestésica do paciente, contudo,
não é preciso o suficiente para garantir que todos os anestesiologistas classifi-
quem o paciente de forma semelhante.
No entanto, a mesma tem se mostrado necessária no fim da avaliação realizada
e segundo pesquisas, tem demonstrando estreita relação entre morbidades e
mortalidades anestésicas (Ortenzi, 2006).
Entende-se por mortalidade, o índice que registra o número de indivíduos que
vêm a óbito em determinado intervalo de tempo.
Na anestesiologia humana, que é tida como a área mais segura da medicina,
possui baixíssimas taxas de óbito diretamente relacionadas ao risco anestésico
(ASA I e II), sendo detectada uma morte para cada 250 a 300 mil anestesias em
seus pacientes (Fragata, 2010).
Apesar dos dados supracitados, cabe lembrar que todos os pacientes submeti-
dos à anestesia querem seres humanos ou outros animais, podem apresentar
eventuais intercorrências, mesmo que estejam classificados em ASA I ou II (Fu-
tema, 2002). Isto pode ser notado com base nos resultados de um estudo reali-
zado em cães, no qual Rodrigues et al. houve complicações e mesmo óbito, em
pacientes cuja determinação de risco ASA foi inicialmente dada como baixa: ASA
I e II (Carareto et al., 2005).
Pesquisas sobre a incidência de óbitos anestésico-cirúrgicos são bem mais co-
muns na medicina humana, nos quais se obteve maior taxa de mortalidade nas
primeiras 24 horas em pacientes idosos, do sexo masculino, classificados em
estado físico ASA IV, sendo a maioria das mortes inevitáveis (Cicarelli et al.,
1998).

20
Em outro estudo retrospectivo, também referente aos óbitos anestésico-cirúrgi-
cos nas primeiras 24 horas, notou-se que os óbitos foram considerados inevitá-
veis, cuja incidência maior se deu em pacientes neonatos.
Houve predominância de mortes no sexo masculino, pacientes classificados
como ASA III ou mais, em cirurgias de emergência, cardíacas ou vasculares
(Chan and Auler Júnior, 2002).
De modo semelhante, levantamentos com essa temática são bastante relevan-
tes e necessários, embora ainda em pequeno número na Medicina Veterinária.
Em estudo retrospectivo foram analisadas 7.012 fichas anestésicas de caninos
e felinos, em um intervalo de tempo que totalizou 11 anos, obtendo-se altos ín-
dices de mortalidade para ambas as espécies, no uso de fármacos comprova-
damente seguros, sugerindo que este resultado tenha sido em função da maior
aplicação destes agentes em pacientes com alterações sistêmicas (ASA III, IV e
V) (Corrêa et al., 2009).
Estudo sobre risco de óbitos relacionados à anestesia em cães demonstrou que
este risco está relacionado ao aumento do grau do estado físico ASA, diminuição
do peso corporal, urgência na realização do procedimento cirúrgico e maior du-
ração de tempo do mesmo (Brodbelt et al., 2007).
Em levantamento retrospectivo recente (2007-2011) referente a procedimentos
anestésicos realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 3.834
cães e 1.532 gatos, cuja incidência de óbito foi de 0,96% do total dos procedi-
mentos, sendo 0,55% para pacientes hígidos e 1,32% para os doentes, compro-
vando que a classificação ASA é importante para estabelecer o risco anestésico
em procedimentos cirúrgicos (Luz et al., 2012).
Quando se compara as taxas de óbitos relacionados à anestesia entre as espé-
cies canina e felina, a última tem apresentado maior risco na maioria dos estudos
(Corrêa et al., 2009, Brodbelt, 2009), mas há outros que citam maior incidência
de óbitos em cães, especialmente nos doentes (Luz et al., 2012).
Maiores índices de morbidade e mortalidade também são observados em casos
de procedimentos cirúrgicos extensos, realizados em órgãos vitais ou em casos
de emergência (Ortenzi, 2006).

21
ANESTESIA INTRAVENOSA TOTAL
A anestesia intravenosa total (TIVA ou AIT) é uma técnica na qual a indução e a
manutenção são feitas com o uso de fármacos injetáveis e intravenosos, propor-
cionando as características da anestesia geral que são a hipnose, relaxamento
muscular e analgesia (AGUIAR, 2010).
A ideia de injetar medicamentos na corrente sanguínea iniciou-se por volta do
século XVII, quando Christopher Wren diluiu ópio em água e injetou em um cão.
Quando em 1845 e 1853 foram inventadas, respectivamente, a agulha e seringa,
abrindo caminho em 1875 para Pierre-Cyprien Oré, que retratou o uso do hidrato
de cloral por via venosa em 36 pacientes, sendo o primeiro relato da anestesia
venosa.
Depois desse período, em 1921 houve a introdução dos barbitúricos e em 1934
o tiopental (NORA, 2008).
Em humanos, o desenvolvimento da TIVA cresceu após a segunda metade do
século XX, passando por várias fases, com a introdução de medicamentos intra-
venosos.
Em 1960, Price et al, relatou o modelo fisiológico de distribuição do tiopental,
fazendo com que surgissem trabalhos descrevendo as vantagens da administra-
ção por infusão contínua em vez de bolus (NORA, 2008; AGUIAR, 2010).
O uso desta técnica vem se popularizando tanto na medicina humana como na
medicina veterinária nos últimos anos devido a introdução de novos fármacos de
ação mais curta e rápido, como o propofol, que foi sintetizado nos anos 1980,
tornando-se o fármaco mais seguro e estável, possibilitando o uso na anestesia
intravenosa total (OLIVEIRA et al., 2007).
Existem várias formas de empregar as técnicas da TIVA, podendo ser realizada
através de bolus ou bolus intermitente, por infusão contínua com técnica de men-
suração por gotejamento e infusão alvo-controlada (NORA, 2008).
A técnica por bolus produz variação na concentração plasmática, resultando no
surgimento de “picos” (sobredose) ou “vales” (subdose), além da probabilidade
de surgimento de efeitos indesejáveis, como o prolongamento da recuperação
anestésica.
A Outra forma é através da infusão contínua, que mantém o nível plasmático
constante, permanecendo na faixa terapêutica, evitando assim efeitos adversos

22
e tendo mais controle da profundidade anestésica (OLIVEIRA et al 2007; NORA
2008).
A administração do fármaco pode ser realizada através do gotejamento em
equipo simples, onde o anestésico tem o volume total calculado, podendo ser
diluído ou não em solução fisiológica ou por bomba de infusão, que pode ser de
equipo ou seringa (OLIVEIRA et al 2007).
Há ainda a técnica de infusão alvo-controlada, onde a velocidade de administra-
ção do (s) fármaco (s) é ajustada por softwares a partir de conhecimentos de
peso corporal, taxa desejada em mg ou μg por hora ou minuto e a concentração
do fármaco (OLIVEIRA et al 2007).
A anestesia intravenosa total possui vantagens como a manutenção e equilíbrio
hemodinâmico do paciente; a ausência de poluição ambiental do centro cirúr-
gico, não expondo o paciente e a equipe cirúrgica; redução do estresse cirúrgico;
menor depressão cardiovascular e respiratória; a analgesia é superior compa-
rada a anestesia inalatória; menos alterações hormonais; adequação a procedi-
mentos simples ou mais complexos, nos quais a anestesia inalatória se torna
inviável e sistemas de utilização portáteis e de baixo custo quando comparados
aos equipamentos de anestesia inalatória, visto que só precisa do fármaco, se-
ringa, equipo e agulha (OLIVEIRA et al., 2007; NORA, 2008; AGUIAR, 2010;
AUGUSTO, 2010).
A desvantagem dessa técnica é a canulação de dois vasos, um pra fluidoterapia
e outro para a TIVA; um dispositivo de infusão para cada agente utilizado; au-
mento do período de recuperação e cautela com pacientes que apresentam do-
enças hepáticas e renais, devido a metabolização e eliminação do fármaco e a
difícil monitoração (NORA, 2008; AGUIAR, 2010).

CONCEITOS FARMACOLÓGICOS UTILIZADOS


Farmacocinética e Farmacodinâmica
A farmacocinética engloba os diferentes fatores dos processos de absorção, dis-
tribuição e biotransformação. Já a farmacodinâmica, tem relação entre a con-
centração plasmática do fármaco em seu local de ação e seus efeitos específi-
cos.

23
Volume de distribuição
É definido como o volume aparente em que uma dose deve ser dissolvida para
alcançar uma certa concentração plasmática. Esse conceito se refere ao volume
e a dimensão do compartimento onde é colocado o fármaco (AGUILERA, 2006).

Clearance
É a capacidade do organismo de eliminar um fármaco do sangue ou do plasma
de forma irreversível (AGUIAR, 2010). ·
Estado de Equilíbrio (Steady State)
Ocorre quando não há fármaco sendo distribuído através do organismo. É
quando há o equilíbrio das quantidades administradas pela infusão e remoção
do compartimento (AGUIAR, 2010).

Meia-vida
É o tempo necessário para a redução de 50% nas concentrações plasmáticas
ou na quantidade do fármaco presente no organismo (AGUIAR, 2010).

Meia-vida Contexto-sensível
Determina o tempo necessário para que a concentração plasmática do fármaco
tenha uma diminuição para a metade do valor que se encontrava durante a infu-
são, no momento em que a administração for interrompida.
Esse conceito pode prever o momento de início da recuperação anestésica
(AGUIAR, 2010).

Biofase ou Local de Ação


É o local onde os fármacos exercem sua função, sendo desejada ou não. A mai-
oria dos fármacos geralmente exerce seus efeitos em receptores que se encon-
tra na biofase (MANICA, 2018).

Ke0 (tempo de equilíbrio)


É o tempo que decorre para um fármaco sair do compartimento central, onde foi
administrado, até chegar ao compartimento de ação, fazer seu efeito máximo
(NETO, 1997; MANICA, 2018;).

24
Histerese
É o tempo para um fármaco atingir o equilíbrio entre as concentrações plasmáti-
cas e o local de ação (AGUILERA, 2006; MANICA, 2018). Além dos conceitos
descritos, é importante que se conheça a concentração plasmática após a admi-
nistração dos fármacos para se determinar o regime de infusão contínua apro-
priada (NORA, 2008).
Em 1968 foi elaborado por BISCHOFF e DEDRICK um modelo farmacocinético
que informa o conceito de que o metabolismo hepático, o fluxo entre os tecidos
e a ligação às proteínas poderiam ocasionar alterações nos resultados clínicos.
O que levou em 1978, a YAMAOKA et al., a apresentar os conceitos de modelo
não compartimental, e HULL et al, ao “efeito compartimento” que dizia que um
fármaco atuava em um local especifico e não no sangue, onde era depositado.
Esse modelo informa que a distribuição do fármaco inicialmente ocorre no com-
partimento central, que é responsável pela determinação da concentração plas-
mática quando o anestésico é utilizado (NORA, 2008).
Esse compartimento é composto por órgãos altamente irrigados (coração, rins,
pulmão e fígado), seguido pelo segundo compartimento, onde a droga se di-
funde, esses órgãos são menos vascularizados e são representados pela pele,
ossos e massa muscular. E por fim o terceiro compartimento, que é responsável
pela captação do anestésico e geralmente representado pela gordura.

FORMAS DE INFUSÃO CONTINUA DOS FÁRMACOS


Equipo com controle de fluxo manual
É o meio mais fácil e que apresenta menor custo para administração dos fárma-
cos.
É composta pela substância ativa diluída em uma solução de eletrólitos (por
exemplo, cloreto de sódio a 0,9%) produzindo uma concentração determinada,
conectando-se ao equipo de infusão comum com câmera de gotejamento, que
pode ser micro ou macro gotas (AGUIAR, 2010).
Na mensuração por gotejamento, o volume de infusão baseia-se pelo cálculo da
frequência de gotejamento por unidade de tempo. Ou seja, taxa de infusão (mg
ou μg/kg/min) e o volume necessário do anestésico em uma hora (ml/hora) são
calculados, assim como o volume fluidoterápico de manutenção do paciente
(ml/hora) (OLIVEIRA et al., 2007; AGUIAR, 2010).

25
Apesar de ser uma técnica de baixo custo e com uma simplicidade na operação,
ela apresenta algumas desvantagens, como: a imprecisão necessária para a ad-
ministração dos anestésicos e analgésicos, o fluxo varia com o tempo, a altura
da coluna líquida, variações na pressão venosa, oclusão parcial do cateter e vi-
gilância constante na taxa de gotejamento (AGUIAR, 2010).

Controlador de Infusão
É um sistema de infusão por gravidade com controlador automático ou semiau-
tomático de infusão. Esse equipamento regula a vasão do liquido administrado
ao paciente pela pressão positiva gerada pela força da gravidade. A regulação
do fluxo é controlada por uma contagem eletrônica de gotas (DAVID, 2003). As
vantagens são por ser de baixo custo e controle do gotejamento, porém como
desvantagem é pressão de infusão baixa e pode ocorrer oclusões no equipo ou
na seringa (DAVID, 2003).

Bomba de Infusão de Seringa


Padrão de bomba mais adequado para administração de pequenos volumes de
fármacos e suas soluções com até 50ml (AGUIAR, 2010). Acopla-se ao disposi-
tivo uma seringa descartável, cujo êmbolo é impulsionado por um motor, onde o
fármaco é administrado ao paciente por um tubo extensor conectado ao cateter
intravenoso.
A pressão realizada sobre o êmbolo da seringa é controlada por microprocessa-
dor ajustada por um operador. As taxas de infusão são expressar em ml/hora ou
ml/minuto (AGUIAR, 2010).

Bomba de Infusão Peristáltica


São também conhecidas como bombas de infusão de equipo, sendo mais indi-
cadas para volumes superiores a 50 ml, como cristaloides, coloides e drogas
vasopressoras.
O sistema de funcionamento é peristáltico, no qual o equipo é pressionado por
um sistema de discos, que produz movimentos ondulatórios que promovem a
progressão do fármaco ou solução até o paciente (AGUIAR, 2010).

26
Bombas de infusão Alvo-Controlada
São bombas com modelo de seringa, alta precisão, que utilizam cálculos mate-
máticos para infusão inicial e manutenção, utilizando dados da farmacocinética
do fármaco, como a distribuição, redistribuição e clearence, fazendo com que o
animal atinja o plano anestésico adequado, estimando as concentrações no
plasma e no local de ação, tornando-o estável e com menores efeitos colaterais
(AGUIAR, 2010; WEBER, 2016).

FÁRMACOS UTILIZADOS
Propofol O propofol ou 2,6-diisopropilfenol é o agente hipnótico de curta-duração
mais utilizado em Medicina Veterinária (OLIVEIRA et al., 2007).
É um fármaco intravenoso que possui perfil farmacológico mais adaptado para
administração através de infusão contínua, sendo utilizado para indução e ma-
nutenção da anestesia, por ser constatado que o despertar é mais rápido que
outros indutores (OLIVEIRA et al., 2007; BERRY, 2017).
O propofol é uma substancia composta comercialmente por um óleo em emulsão
aquoso contendo 1% de propofol, 10% de óleo de soja, 2,25% de glicerol e 1,2%
de fosfatídeo de ovo purificado (BERRY, 2017).
É altamente lipossolúvel e insolúvel em soluções aquosas, é apresentada como
uma solução branca leitosa, viscosa com pH de 6,5 a 8,5, estável a luz solar e
temperatura ambiente (NETO, 1997; BERRY, 2017).
Não contém substâncias bactericidas nem bacteriostáticas em sua composição,
o tornando passível de contaminação de seringas ou bombas de infusão. Por
isso as ampolas devem ser abertas e consumidas num período de 24 horas e
mantidas acondicionadas sob refrigeração.
Porém, foi desenvolvido uma formulação de propofol de uso veterinário que con-
tém álcool benzílico com validade de 28 dias após sua abertura. (NETO, 1997;
BERRY, 2017).
A farmacocinética do propofol é caracterizada por um modelo aberto bicompar-
timental, com um início de rápida distribuição para tecidos periféricos, seguida
de uma fase de depuração mais lenta (ZORAN et al., 1993).
Após a injeção, o propofol tem rápida absorção e distribuição no SNC, em se-
guida sofre uma redistribuição do cérebro para outros tecidos no corpo.

27
Na maioria das espécies (exceto em gatos), o propofol sofre metabolização e
eliminação eficiente do plasma por sítios de metabolismo hepático e extra-hepá-
tico, resultando também em uma rápida diminuição da concentração após o ter-
mino na infusão, sem acúmulo nos tecidos (BERRY, 2017).
O propofol tem característica similares aos anestésicos barbitúricos, com a pro-
dução de sedação e hipnose pela interação com o sistema GABA, impedindo a
transmissão pós-sináptica e induzindo à depressão do SNC. Ele também produz
hipotensão arterial moderada, redução da frequência e do débito cardíaco, assim
como depressão respiratória, podendo levar o animal a apneia. Além de exercer
efeitos anticonvulsivante, que pode ser usado em terapias de convulsões refra-
tárias (MUIR et al., 2002; ADAMS, 2003; MASSONE, 2003; BERRY, 2017).

Cetamina
É um anestésico dissociativo derivado da fenciclidina que promove um estado
de dissociação, cujo efeito é alteração do estado de consciência. Foi desenvol-
vido na década de 1960, para uso anestésico em humanos e animais. Atual-
mente é muito usada na medicina veterinária como fármaco de indução e manu-
tenção anestésica dissociativa, assim como para contenção química de animais.
Sua estrutura química é representada pelo cloridrato de 2-(o-clorofenol)-2- (me-
tilamino)-ciclo-hexano com propriedade também analgésicas. É conhecido por
causar bloqueio dos estímulos sensitivos dos sistemas talamocortical e límbico,
regiões responsáveis pelo processamento e fluxo de informações sensitivas da
dor, toque e propriocepção.
Sua estrutura molecular possui dois isômeros óticos, sendo a versão comercial
S (+) da cetamina a que possui propriedade analgésica superior à da mistura
racêmica (NETO, 1997; VALADÃO, 2002; ADAMS, 2003; FRANCO, 2008).
É um antagonista não competitivo dos receptores do tipo N-metil-D-aspartato
(NMDA) no SNC que está envolvido na condução dos impulsos nervosos espi-
nhais; causa analgesia e desligamento do ambiente, sem perda de reflexos pro-
tetores; ação gabaérgica; agonismo dos receptores opioides na medula espinhal;
bloqueio da recaptação de catecolaminas; antagonismo dos receptores musca-
rínicos do SNC (VALADÃO, 2002; CARARETO, 2004; FRANCO, 2008).

28
A cetamina apresenta características de estimulação cardiovascular. Pode cau-
sar aumento da frequência cardíaca, do debito cardíaco e da força de contração
ventricular.
Causa também hipertensão, excitação do sistema nervoso límbico e aumento da
pressão intracraniana, tornando seu uso desaconselhado em pacientes com
trauma crânio-encefálico. Causa efeito psicossomático como alucinações, a res-
piração pode ser irregular ou superficial e aumento do tônus muscular, sendo
aconselhável o uso associado com miorrelaxantes (MUIR et al., 2001; FANTONI
et al., 2002; BELMONTE, 2008; MASSONE, 2003).

Lidocaína
É comercializada sob a forma de cloridrato, tem como a fórmula α_-dietil-amino-
aceto2,6 –xilidina, é hidrossolúvel, apresenta alto poder de penetração, potência
e duração moderada se usado como anestésico local (MASSONE, 2002; BEL-
MONTE, 2008).
Atua nos canais de sódio, evitado propagação do potencial do potencial de ação
pelo axônio, causando sua estabilização no estado de repouso (MUIR et al.
2001; AUGUSTO, 2010; MASSONE, 2011).
É biostransformada no fígado e é altamente lipossolúvel (RANG et al., 2001;
MASSONE, 2002).
A lidocaína é muito administrada em bloqueios regionais e infiltrativos, por via
intravenosa é comumente empregada em terapia analgésica suplementar, du-
rante anestesia geral, seja ela inalatória ou injetável. Por infusão continua, pro-
move a redução na dose do anestésico geral utilizado, minimizando seus efeitos.
Ela também apresenta efeito antiarrítmico eficaz, tornando-a muito utilizado em
arritmias ventriculares, quando administrado via intravenosa (DOHERTY; FRA-
ZIER, 1998).

Fentanil, Remifentanil, alfentanil e Sulfentanil


São agentes agonistas dos receptores opióides µ, responsáveis pela analgesia
no corno dorsal da medula espinhal, possuem latência e curta duração devido à
alta lipossolubilidade (NETO, 1997; FANTONI; MASTROCINQUE, 2002).

29
Esses fármacos possuem potência analgésica de até 150 vezes maior que a da
morfina e por essas características, são analgésicos de eleição para a adminis-
tração através da infusão continua (FANTONI; MASTROCINQUE, 2002; OLI-
VEIRA, 2007). Esse grupo não promove liberação de histamina nem hipotensão,
resulta em menos náuseas e vômitos, mas podem promover apneia e bradicar-
dia quando administrado de forma rápida (FANTONI; MASTROCINQUE, 2002).
O fentanil é muito eficiente no tratamento de dores agudas ou crônicas (BEL-
MONTE, 2008). Durante a infusão continua, o fentanil tem duração esperada de
30 minutos a 2 horas, com a concentração plasmática sendo totalmente elimi-
nada após 3 horas.
Sua meia-vida de distribuição rápida é em torno de 1 a 2 minutos, a de redistri-
buição de 13 minutos e as de distribuição lenta é 30 minutos. Ele é metabolizado
inicialmente no fígado e a maior parte é eliminada pela urina (NETO, 2007).
O remifentanil é um opioide de ultracurta duração. Apresenta propriedades se-
melhantes aos outros opioides potentes, porém suas características farmacodi-
nâmicas são únicas, como o rápido início de ação e curta duração dos efeitos
logo após o fim da infusão intravenosa, independente da duração de sua admi-
nistração (GIMENES, 2005). O sufentanil é um análogo do fentanil que tem como
o tempo de ação curto.
Sua potência é de 5 a 10 vezes maior que o fentanil. Apresenta meia-vida plas-
mática de 17 minutos e meia-vida de eliminação 2 a 4 horas (FANTONI et al.,
1999). Pode ser administrado tanto em dose única ou como infusão contínua
intravenosa e sua recuperação é mais rápida quando comparado ao fentanil (CA-
RARETO, 2007).
Alfentanil é um opióide de ação ultracurto, tem início de ação rápido e menor
efeito cumulativo em comparação ao fentanil (FANTONI et al., 1999). Ele é indi-
cado para infusão contínua, porém seu uso ainda é restrito na medicina veteri-
nária (NETO, 1997).
O remifentanil, sufentanil e alfentanil são derivados do fentanil, com potencias
diferentes.
Tipicamente são administrados por infusão IV, em virtude da meia vida muito
curta. Os efeitos analgésicos desaparecem logo após a interrupção da infusão e
por isso é aconselhado o uso de outro opióide para complementar a analgesia
no pós-operatório para ter controle contínuo da dor (KUKANICH; WIESE, 2017).

30
Morfina
Muito usada na medicina veterinária, é um derivado do ópio que produz boa
analgesia, tanto para dores leves como intensas, por ser um agonista do receptor
µ. Suas doses altas produzem efeitos analgésicos também altos. Pode causar
liberação de histamina e hipotensão quando administrado por via intravenosa,
por isso a indicação de administração é lenta e diluída. Ela é menos lipofílica,
tornando-a seu uso ideal para injeção epidural única, proporcionando uma anal-
gesia por até 24 horas.
Há um intervalo de 5 a 15 minutos entre a administração por via intravenosa e
início do efeito clínicos nos cães. Sua meia-vida é de aproximadamente 1 hora
(KUKANICH; WIESE, 2017). A morfina atua no mesencéfalo e medula, alterando
aos componentes emocionais da dor.
Ela exerce seus efeitos no SNC e órgãos com musculatura lisa, incluindo anal-
gesia, sonolência, euforia, depressão respiratória relacionada com a dose
(THURMON; TRANQUILLI, 1996). Tem capacidade de atravessar a barreira he-
matoencefálica.
Principal via metabólica ocorre por meio da conjugação com o ácido glicurônico
no fígado. Possui meia vida de eliminação de 2 a 3 horas e a eliminação principal
é renal (KUKANICH; WIESE, 2017).
Butorfanol
O butorfanol é um derivado da morfina, conhecido como agonista-antagonista.
Ele pode ser administrado como bolus intravenoso, durante 1 minuto, e em infu-
são continua pela via intravenosa (KUKANICH; WIESE, 2017). Possui ação anal-
gésica e sedativa e não promove liberação de histamina e excitação (BARBOSA,
2007).
O efeito analgésico resulta na interação com o SNC, exercendo uma atividade
antagonista em receptores μ e agonista em receptores κ. Sendo assim, em cães,
esse fármaco é capaz de reverter a sedação e a depressão respiratória produ-
zida pela morfina, preservando o efeito analgésico quando empregado na dose
de 0,2mg/kg pela via IV (BARBOSA, 2007).
A eficácia do butorfanol é dependente da dose, ou seja, doses mais altas produ-
zem efeitos analgésicos clinicamente satisfatório, porém o efeito é inferior ao
encontrado na morfina.

31
Dexmedetomidina
É um fármaco agonista α-2 adrenérgico é utilizado na medicina veterinária para
fornecer sedação, analgesia e miorrelaxamento muscular. Ele é usado na medi-
cação pré-anestésica, anestesia epidural e em infusão continua, como também
é eficaz na administração pelas vias intramuscular e transmucosa oral (BRAGA,
2012; JUNQUEIRA, 2017).
Após a administração pela via IV, a dexmedetomidina tem um pico de sedação
em 10 a 20 minutos e seu feito depende da dose administrada, sua meia-vida é
em torno de 40 minutos. O fármaco é biotransformado no fígado, pelo complexo
P450 e eliminado principalmente pela urina (BRAGA, 2012; RANKIN, 2017).
Na infusão continua é recomendado doses de 1 a 10 μg/kg, e seus efeitos ad-
versos provocam redução na frequência cardíaca, vasoconstrição periférica com
consequente aumento da pressão arterial e bradicardia reflexa nos primeiros mi-
nutos após a administração, com posterior diminuição da pressão arterial.
Os efeitos respiratórios são discretos, 40 apresentando diminuição da frequência
respiratória e do volume por minuto. E assim como outros agonistas α-2 adre-
nérgico, a concentração plasmática de glicose aumenta. (BRAGA, 2012; RAN-
KIN, 2017).

MLK, FLK, REMIFLK, SUFLK E ALFLK EM INFUSÃO CONTÍNUA


É uma técnica que usa a associação de fármacos com propriedades analgésicas
com o propósito de bloquear a dor por diferentes mecanismos farmacodinâmi-
cos, que se denomina analgesia multimodal, atuando nas diferentes etapas dos
processos álgicos como a transdução, transmissão e integração, bloqueado a
nocicepção em diferentes pontos (BELMONTE et al., 2013).
A administração é feita por via intravenosa e continua com um anestésico injetá-
vel (cetamina) associada a um anestésico local, como a lidocaína e um opióide
que pode ser a morfina, fentanil, remifentanil, sufentanil e alfentanil.
O objetivo dessas associações é o melhoramento da terapia anestésica seja ela
no trans ou no pós-operatório, minimizando ao máximo dos anestésicos gerais
utilizados durante o período da cirurgia pontos (BELMONTE et al., 2013).

32
A vantagem dessa associação é complementar as propriedades analgésicas de
cada fármaco; como também possibilitando as doses baixas, diminuindo a ocor-
rência de efeitos adversos e garantindo a analgesia por períodos longos após a
cirurgia (CEREJO et al, 2013).
Os opioides fentanil, remifentanil, sufentanil e alfentanil apresentam curta dura-
ção, sendo necessária uma analgésico complementar para o pós-cirúrgico.
A diversidade de fármacos e suas associações levam a anestesia intravenosa
total a ser considerada uma prática segura, promovendo uma estabilidade car-
diorrespiratória e confiável, sendo uma alternativa à anestesia inalatória em di-
versas situações.

33
REFERÊNCIAS
ADAMS, H. R. Farmacologia e terapêutica em veterinária. 8.ed. Tradução Cid
Figueiredo. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan. 2003.
AGUIAR, A. J. A. Anestesia Intravenosa Total. In: FANTONI, D. T; CORTO-
PASSI, S. R. G. Anestesia em Cães e Gatos. 2. ed. São Paulo: Roca, 2010. Cap.
18, p. 275-297.
FANTONI D. T.; MASTROCINQUE S. Fisiopatologia e Controle da Dor. In. FAN-
TONI D.T; CORTOPASSI S. R. G. Anestesia em Cães e Gatos. São Paulo: Roca,
2002. Cap. 31, p. 323-336.
KUKANICH B.; WIESE A, J.; Opióides In. Grimm K. A.; Lamont L. A.; Tranquilli
W. J.; Greene S. A.; Robertson S. A. Lamb & Jones Anestersiologia e Analgesia
em Veterinária. Rio de Janeiro: Roca, 2017. Cap. 11, p.199-219.
LUFT, A.; MENDES, F.F. S(+) cetamina em baixas doses: atualização. Revista
Brasileira de Anestesiologia. 2005.
MANICA J. Anestesiologia: Princípios e Técnicas. Porto Alegre: Artmed, 2018.
MASSONE F. Anestesia Local. In. FANTONI D.T; CORTOPASSI S. R. G. Anes-
tesia em Cães e Gatos. São Paulo: Roca, 2002. Cap. 18, p. 193-198.
MUIR III W. W.; GADAW SKI J. E. Cardio vascular effects of a high dose of ro-
mifidine in propofol-anesthetized cats. American Journal of Veterinary Research.
2002, v.63, n.9, p. 1241-1246.
MUSK G. C.; PANG D. S. J.; BETHS T. et al. Target-controlled infusion of
propofol in dogs – evaluation of four targets for induction of anaesthesia. Veteri-
nary Record. 2005, v.157, n. 766.
NORA F. S. Anestesia venosa total em regime de infusão alvo-controlada. Uma
análise evolutiva. Revista Brasileira de Anestesiologia. 2008, 58:2: 179-192.
OLIVEIRA F. A.; OLESCOVICKZ N.; MORAES A. N. Anestesia total intravenosa
em cães e gatos com propofol e suas associações. Revista de Ciências Agrove-
terinárias. Lages, 2007, v.6. n.2, p. 170 -178.
PRICE H. L.; KOVNAT P. J.; SAFER J. N.; et al. The uptake of thiopental by body
tissues and its relayions to duration of narcosis. Clin. Pharmacol. Ther, 1960;
1:16-22. 45
RANG, H. P.; DALE, M. M.; RITTER, J. M. Farmacologia. 4. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2001, 703 p.

34
THURMON J. C.; TRANQUILLI W. J.; BENSON G. J. Preanesthetics and anes-
thetic adjuncts. In: Lumb & Jones’ veterinary anesthesia. 3. ed. Philadelphia: Lea
& Feabiger, 1996, p. 183-209b.
VALADÃO C. A. A. Anestésicos Dissociativos. In. FANTONI D. T; CORTOPASSI
S. R. G. Anestesia em Cães e Gatos. São Paulo: Roca, 2002. Cap.15, p. 165-
YAMAOKA K.; NAKAGAW A T.; UNO T. statistical moments in pharmacokinetics.
J. Pharmacokinetic Biopharm, 1978; 6:547-558.
WEBER C.; CÉZAR R. Z.; SOARES A.; COMBAT A. M. R. Modelo farmacociné-
ticos para infusão alvo-controlada de propofol: comparativo entre Marsh e Sch-
nider.Rev Med. Minas Gerais 2016; 26: p. 11-17.
ZORAN D. L.; RIEDESEL D. H.; DYER D. C.; Pharmacokinetics of
propofol in mixedbreed dogs and greyhound. Am J Vet. Res. 1993; 54(5): 755-
760.

35

Você também pode gostar