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DOSSIÊ

sito que transforma e reconhece, ao mesmo tempo, zação da precariedade, isto é, como foi valorizada a

Precariedade como
aquilo que, particularmente nos meios populares, insegurança social na história e no nosso tempo.
constitui a tripla dimensão da condição precária:
Seria errado, na verdade, pensar que a nova ges-

“estilo de vida” na era neoliberal


vulnerabilidade diante do emprego, fragilidade da
tão do emprego é somente negativa, e que se destina
conjugalidade, e exposição à doença.
apenas a desregular o direito do trabalho e a des-
Mas, este naturalismo não seria justamente uma mantelar as proteções sociais para desestabilizar os

Christian Laval
proposta ideológica se não estivesse apoiado em dis- estáveis. Esta nova gestão do emprego apoia-se, em
posições e dispositivos que fazem, com efeito, da vez disso, em uma certa concepção de vida, que não
Professor de Sociologia da Universidade Paris- vida, do trabalho e do amor um certo “estilo de vida”, pode ser compreendida somente como negativa,
Ouest Nanterre-La Defense. Co-autor do livro inscrito e reconhecido na lei e nas instituições. como sugerido pelas palavras “precária”, “insegura”
“A Nova Razão do Mundo”, escrito com Pierre ou “precariedade”. Do ponto de vista patronal, na
A questão que se coloca ao sociólogo, se ele levar
Dardot. concepção propriamente neoliberal, o que chama-
a sério a fórmula de Parisot, seria, então, de saber
mos de precariedade é designado por palavras muito
como essa forma de existência toma corpo, como ela
Longe de ser apenas um modo de gestão do tra- mais positivas: as de “empreeendedor”, “empresa” ou
pode se estender bem além do trabalho tão somente.
balho pelo capital, gostaríamos de propor aqui que, “empreendedorismo”.
No que diz respeito a este último, as coisas são bas-
sob a perspectiva biopolítica do capital, a precarie- tante claras. As últimas décadas mostraram em que O que nos indica que “a cultura da precariedade”,
Resumo dade tornou-se, primeiro intelectualmente e deve
se tornar praticamente uma forma de existência,
consistia a política neoliberal de perda de segu- da parte dos dominantes, ou seja, daqueles que assu-
O autor propõe que, sob a perspectiva biopolítica do ca- rança nos empregos, o que poderíamos chamar de mem o discurso capitalista, existe bela e formosa,
pital, a precariedade já se tornou intelectualmente e logo um “estilo de vida”. Em outras palavras, gostaríamos produção política de insegurança social, e que vai e que se trata da racionalidade empresarial, que é a
deve se concretizar quase em uma forma de existência, de levar a sério a frase bem conhecida de Laurence junto com a segurança policial - uma política neoli- versão positiva, legítima e dominante do que chama-
um “estilo de vida”. As últimas décadas mostraram em que Parisot, a atual presidente do MEDEF1, quando ela beral que recoloca o binômio liberdade e segurança mos aqui de “precariedade”. A empresarialidade4 é a
consistia a política neoliberal de perda de segurança nos disse: “A vida é precária, o amor é precário, por que no qual Michel Foucault viu a marca do governo concepção da precariedade vista do alto. Esta empre-
empregos, o que poderíamos chamar de produção políti- o trabalho escaparia desta lei? (Le Figaro, 2005)”. 101
ca de insegurança social. O texto trata, então, da incerteza liberal. Rememoremos a célebre divisa da fisiocra- sarialidade apresenta-se como um modo de governo
Sempre é bom levar a sério essas pequenas frases que cia francesa: “Propriedade, Liberdade, Segurança”, das condutas dos trabalhadores, mas pretende ser
como forma de existência de uma sociedade de empreen-
dedores e o empreendedor de sua própria vida contra o parecem insignificantes, mas que, sem sequer preci- inscrita na Declaração dos Direitos do Homem de também um modo de existência novo que, além do
assalariado protegido. sar de longa exegese, falam da dominação do capi- 1789 (art. 2)2. Mas, poderíamos igualmente lembrar emprego, faz da ligação instável, móvel, instrumental
tal sobre o trabalho e a vida, como esta outra sen- a proposta de Bentham, cuja obra jurídico-política com a organização produtiva e com as instituições sua
Palavras-chave: precariedade; estilo de vida; neoliberalismo.
tença inesquecível também de Laurence Parisot, que visa estabelecer a “fabric of certainty” 3, o edifício da própria marca e seu alto valor agregado. O que está
afirma: “a liberdade de pensamento termina onde certeza como condição para o desenvolvimento de em questão é algo que poderia ser chamado de “mais-
Résumé começa o código de trabalho”. Temos aqui um dis- interesses privados. Certeza que consiste em assegu- -vida” [por analogia à “mais-valia”] que a empresaria-
L’auteur propose que, du point de vue biopolitique du ca- curso claro de uma estratégia oculta. rar ao proprietário a garantia dos frutos de seu tra- lidade traz, e que também poderia ser nomeado de
pital, la précarité est devenue d’abord intellectuellement
Se seguirmos esse pensamento a respeito da pre- balho e a satisfação das expectativas bem fundadas, precariedade de luxo.
et doit devenir pratiquement une forme d’existence, un
“art de vivre”. Les dernières décennies ont montré en quoi cariedade como lei natural, lei da espécie, veremos e que supõe a educação dos indivíduos para calcular
Poderíamos nos enganar ao pensar que a valori-
consistait la politique néolibérale d’insécurisation des que existe aí um naturalismo que coloca em pé de as consequências de seus atos, antecipando assim o
zação desta “precariedade de luxo” concerne apenas
emplois, ce qu’on pourrait appeler la production politique igualdade nossa condição mortal, nossa situação de princípio de responsabilidade individual ilimitado
a alguns funcionários de altos salários, de “elevado
d’insécurité sociale. L’article traite de l’incertain comme trabalhador exposto à precariedade do trabalho e ao que deve reger as relações entre os indivíduos de uma
la forme de l’existence d’une société d’entrepreneurs et de potencial”. Preferimos sugerir antes que, se a precarie-
desemprego, e nossa relação afetiva com os outros, sociedade reduzida a uma coleção de indivíduos.
l’entrepreneur de sa vie contre le salarié protégé dade pode ser uma “tática” de vida para escapar dos
exposta que está à ruptura, ao divórcio e à separa- Em um momento-chave na história social euro- constrangimentos de um emprego assalariado alie-
Mots clés: precarité; art de vivre; néoliberalisme. ção. A precariedade, segundo o raciocínio da repre- peia e francesa, marcada por uma pressão muito nante, pode também ser uma estratégia para impor
sentante do patronato, é exatamente uma condição poderosa dos empregadores e governos de plantão um modelo para todos os trabalhadores, com efeitos
existencial em sua tripla dimensão de vida: biológica, em favor de uma maior erosão do direito social em altamente diferenciados e desiguais de acordo com a
econômica, afetiva e amorosa. Inútil sublinhar aqui nome da “competitividade” e da “redução da dívida”, posição ocupada nas novas organizações de trabalho.
Versão de_conferência proferida na Universidade de Paris-Ouest a dimensão ideológica, por vezes cínica, do propó- é importante considerar todas as formas de ideali-
Nanterre, La Défense, no quadro do encontro internacional “To have
the courage of incertainty”, Cultures of Precarity, 6-7 de Dezembro de 1_ Nota de tradução: Mouvemment des Entrepeneurs Démocratiques 4_ Nota da revisão técnica: o termo traduz o original entrepreneurialité,
2012. Tradução de Gisely Hime e revisão técnica de Leonardo Gomes Français (MEDEF) é uma organização de empregadores fundada em 2_ Cf. o comentário de Arnault Skornicki (2011). que por sua vez traduz o termo inglês entrepreneurship: veja-se a
Mello e Silva. 1998, que representa as empresas francesas. 3_ Nota da tradução: Em inglês no original. própria explicação do autor em Dardot e Laval (2016, p. 134, nota 4).

PARÁGRAFO. JAN/JUN. 2017 PARÁGRAFO. JAN/JUN. 2017


V.5, N.1 (2017) - ISSN: 2317-4919 V.5, N.1 (2017) - ISSN: 2317-4919
1. A incerteza é a forma de agricultura, onde o agricultor é empreendedor que e que os Empreendedores estão tão incertos quanto mercado, uma sociedade em que a indústria é livre
existência de uma sociedade de trabalha e investe “sem a certeza do benefício a obter aos serviços, quanto os de serviço fixo estão incer- e onde o trabalho é feito por aqueles chamados por
empreendedores dessa empresa” (Cantillon, 1997, p. 28); em seguida, tos em relação ao tempo que usufruirão nele, ainda Cantillon (1997) de “empreendedores de seu próprio
para todos os comerciantes e industriais que usam que suas funções e classificação sejam muito des- trabalho”; expressão que me parece ser a base desta
Que a empresa se apresenta como uma forma de a matéria prima da agricultura, os quais atuam na proporcionais. O General que tem uma remunera- concepção que permite ao trabalho tornar-se uma
vida, não é novidade. A “sociedade comercial”, para incerteza, e, finalmente, para todos aqueles que ção, o Cortesão que tem uma pensão, e a Doméstica mercadoria, de acordo com uma troca que ressalta
retomar as palavras de Adam Smith, é uma sociedade negociam seu trabalho. Para Cantillon, o empreen- que tem um serviço (des gages) enquadram-se nesta o único acordo livre de indivíduo para indivíduo. É
que coloca como centro da vida tanto a busca da feli- dedor está em toda parte e em todas as classes; há última categoria. Todos os outros são empreendedo- o que vamos encontrar no edito de Turgot sobre a
cidade como a incerteza. O raciocínio probabilístico os pequenos e os grandes: “são os empreendedores res, quer estejam estabelecidos com um fundo para abolição das guildas e corporações: “o que o Estado
que trama as reivindicações de uma nova ordem eco- que cultivam a terra, que fornecem pão, carne, rou- conduzir seus negócios, quer sejam eles empreende- deve a cada um de seus membros é a destruição dos
nômica no século XVIII não exclui a incerteza: ten- pas, a todos os habitantes de uma cidade. Aqueles dores de seu próprio trabalho sem nenhum fundo, e obstáculos que os entravam em sua indústria ou lhes
ciona limitá-la, controlá-la por um sábio cálculo dos que trabalham a serviço desses empreendedores bus- podem ser considerados como vivendo na incerteza - perturbam no gozo dos produtos que são sua recom-
riscos, como em uma construção de uma ordem ins- cam também se tornar como eles, invejando uns aos mesmo os Mendigos e Ladrões são Empreendedores pensa” (Turgot apud Castel, 1995, p. 176).
titucional que confinará seus riscos unicamente ao outros” (Cantillon, 1997, p. 117). desta classe” (Cantillon, 1997, p. 31-32).
O que é interessante notar é que muito antes do
jogo do comércio, controlando ou eliminando aque- Mas o que é notável e o situa em seu momento “Viver na incerteza”, tal é a sorte dos empreende- capitalismo industrial se estabelecer, o capitalismo
les ligados aos caprichos de príncipes e humores do histórico é que a marca registrada de todos estes dores. O risco é inerente à sua existência, em que a comercial que faz de cada um empreendedor impôs
povo. Toda a arte do comerciante, do negociante, do “empreendedores” é que eles vivem na dependên- remuneração depende do preço obtido no mercado. seu padrão até nas leis e nos desempenhos. Polanyi
empreendedor, será a arte do cálculo razoável, que cia - o que os opõem aos que vivem com indepen- estava certo quando mostrou o tipo de projeção, para
implica a estabilidade das condições mesmas em que O empreendedor é o homem de uma nova forma
dência, a saber, os proprietários, e, especialmente, o futuro e para toda a sociedade, do trabalho-merca-
se operam as escolhas, em particular a estabilidade de guerra, a guerra comercial, a concorrência. As
o primeiro deles: o Monarca. A independência é o doria e do trabalhador como empreendedor, mesmo
da ordem fiscal, jurídica e política que garantirá aos palavras empreendedor e empresa, que são france-
bem do proprietário que recebe os rendimentos, quando eles não são reconhecidos como cidadãos
investimentos a máxima segurança. sas, são interessantes porque, antes mesmo de reme-
quando os empreendedores são dependentes do plenos.
102 ter à aventura econômica, designam uma ação auda-
Isso não impede que apareça uma nova concep- incerto, ou seja, do mercado. Comércio e finanças, 103
ciosa de herói, especialmente uma ação de guerra. A Mas, ao mesmo tempo em que se alardeia a liber-
ção de vida ao lado daquela que assegura ao pro- contra o policiamento das profissões regulamen-
guerra é o primeiro campo da ação ousada e arris- dade de trabalhar, a natureza contratual da transação
prietário os frutos de sua exploração. Com efeito, tadas, propõem pela voz de Cantillon uma nova
cada. Empreender na guerra é assumir riscos, é se do trabalho, existe a preocupação de que o trabalha-
é em meados do século XVIII que emerge a figura figura social. Cantillon opõe assim o empreende-
arriscar ou arriscar a honra. O que pode ser uma dor deva baixar o preço de sua mercadoria para ser
do empreendedor, ou do fazedor de projetos, o qual dor ao proprietário: “Estabelecerei por princípio
paixão extremamente criticável quando não é dis- empregado em meio à concorrência.
rapidamente se desenha como um novo modo de que os proprietários de terras são independentes,
ciplinada e orientada para uma finalidade aceitável,
existência que faz do incerto seu próprio princípio. naturalmente apenas em um Estado; todas as outras A figura do empreendedor vai se especiali-
é o grande tema desde o renascimento dos “loucos
E não é irrelevante notar que o incerto é, desde cedo, classes são dependentes, quer como empreende- zar, segundo Jean-Baptiste Say, e não será mais o
negócios” (Vérin, 2011, p. 89). O empreendedor con-
apresentado como um modo de vida que se estende dores ou como penhorantes a serviço de outrem (à modelo universal. A diferença para com o traba-
cilia duas imagens: a do herói que “empreende” e a da
bem além da condição única de empreendedor no gages), e toda troca e circulação do Estado é con- lhador assalariado se torna mais precisa. Say dis-
mente que calcula racionalmente. Ele não substitui o
sentido econômico do termo. Tomarei por testemu- duzida por meio desses empreendedores”. tribui a noção de trabalho em três funções distin-
herói, não o demole como escreveu Paul Bénichou
nha aqui, entre outros, Richard Cantillon, que é, com tas: a do cientista que produz conhecimento, do
A dependência, na verdade, assume duas formas: (2008), mas combina as virtudes de herói e espírito
seu Ensaio sobre a Natureza do comércio em geral, empreendedor que o aplica para produzir novas
a do serviço (gage) e a da empresa. Mas os empreen- comercial racional.
publicado em 1755, o grande pensador da incerteza utilidades, e aquela do trabalhador que executa a
dedores não são menos serviçais (à gages) do que os
econômica como dimensão essencial do comércio Permanece a inquietação que atormenta operação produtiva (Say, 1803; 1841).
empregados domésticos ou cortesãos: a diferença é
no sentido mais amplo que ele dá a este termo; uma Cantillon, aquela que liga o empreendimento e a
que seus ganhos são mais incertos. “Por todas estas O empreendedor da indústria é o principal agente
incerteza que não é puro acaso, mas a multiplici- dependência aos mecanismos anônimos do mercado,
induções e uma infinidade de outras que poderiam de produção. As outras operações são essenciais
dade avaliativa de possibilidades, o que torna a vida que é precisamente o lugar de incerteza. Generalizar para a criação de produtos; mas é o empreendedor
ser feitas em um assunto que diz respeito a todos os
um espaço de escolha e estratégia. Cálculo e escolha a dependência ao mercado é fazer da “vida na incer- que as implementa, que lhes dá um impulso útil,
habitantes de um Estado, podemos estabelecer que, que lhes extrai os valores. É ele quem julga as – e
serão precisamente os atributos do homem econô- teza” o modo de existência de todos, e particular-
excetuando o Príncipe e os Proprietários de Terras, sobretudo os meios para atingi-las, e quem com-
mico como “empreendedor”. mente dos empregados, dos não- proprietários. para o fim com esses meios; também é sua princi-
todos os habitantes de um Estado são dependentes;
Exceto para algumas categorias fora do mercado, a pal qualidade o julgamento (Say, 1803, p. 93).
A grande lição de Cantillon é que o comércio e eles podem ser divididos em duas classes, a saber:
dependência ao mercado é generalizada. A incerteza
a incerteza são um só: é verdade que, primeiro na Empreendedores e Pessoas a serviço (gens à gages);
é, pois, a característica central de uma sociedade de Esta valorização do papel do empreendedor o

PARÁGRAFO. JAN/JUN. 2017 PARÁGRAFO. JAN/JUN. 2017


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distingue do empregado. Aqui não cabe nenhuma sentido. É interessante notar que a Organização dos de suas antigas solidariedades e aumenta com Esta será a sociedade salarial em que o salariato não
confusão. É ele quem assume os riscos e o lucro é a de Cooperação de Desenvolvimento Econômico as riquezas das nações (Castel, 1995). é mais um precariado proletário5, mas fornece um
remuneração daquela ocasião. (OCDE) e a União Europeia, sem necessariamente estatuto detentor de direitos. O Estado-Providência
É o que Tocqueville constata em seu pequeno
se referirem ao lugar de elaboração desse discurso faz da remuneração uma condição mais estável, mais
Seria preciso esperar até o século XX para conhe- Memorial sobre o Pauperismo, de 1835. O livre con-
sobre o indivíduo-empresa universal, serão podero- durável, dando direitos objetivos garantidos por
cer novamente uma extensão universal do modelo trato de trabalho, o livre comércio e a natureza cíclica
sos retransmissores dele, fazendo, por exemplo, da acordos coletivos e leis. O que estabiliza tanto a rela-
do empreendedor para toda a sociedade. Os cami- da economia produziram um estado de dependência
formação dentro do “espírito da empresa” uma prio- ção de subordinação do trabalho ao capital quanto a
nhos para tanto foram múltiplos. Podemos citar que se descobre, então, como um fenômeno novo e
ridade dos sistemas de educação nos países ociden- constituição de diferentes grupos profissionais ciosos
tanto as teses sobre o capital humano de Gary Becker trágico. Tocqueville observa, como muitos outros, que
tais. Que cada um seja empreendedor por si só e de de sua distinção.
quanto a concepção do homem-empreendedor de as regiões mais prósperas e industrializadas são tam-
si mesmo: a maior inflexão que a corrente austro-a-
certas correntes advindas do movimento austro-a- bém aquelas com o maior número de pobres, e isto Sabemos agora que a norma neoliberal genera-
mericana e o discurso gerencial neo-schumpeteriano
mericano, ou ainda a promoção da gerência como porque a “classe industrial” recebeu de Deus “a mis- lizada da concorrência é incompatível com este tipo
atribuem à figura do homem econômico.
nova cultura do risco e da mudança. são especial e perigosa de prover por sua conta e risco de propriedade social, com este salariato integrado e
Aqui está o conteúdo das estratégias políticas a felicidade material de todas as outras” (Tocqueville, estabilizado, dito fordista. Tem sido frequentemente
A grande figura da administração, Peter Drucker,
ativamente incentivadas pelo patronato. A oposição 1999, p. 21). É a multiplicação de necessidades artifi- descrita a desintegração da condição salarial “por
na esteira de Schumpeter, reatribui ao empreende-
entre dois tipos de homens: os “riscófilos”, dominan- ciais que aumentou tanto a indústria quanto a expo- baixo”, isto é, pela proliferação de formas precárias
dor um valor heroico portador da “mudança” e do
tes corajosos, e os “riscófobos”, dominados temero- sição dessa classe industrial às variações do mercado de emprego. Ora, uma tal desintegração certamente
“risco” em um contexto de concorrência exacerbada
sos. O “riscófilo” é a característica própria e positiva não somente nacional, mas mundial. se encontrou com um outro processo, que é a recusa
entre as empresas. A gestão é a arte de explorar as
da cultura da precariedade vista do topo, na quali- da condição operária, a qual está bem demostrada
oportunidades, de inovar, de introduzir mudanças. Qual seria, pois, a solução para Tocqueville? A da
dade do empreendedor. Estamos lidando aqui com por pesquisas como as de Beaud e Pialoux, e algu-
Uma “sociedade de empreendedores”: tal deve ser o propriedade! O que é necessário, com efeito, ao pro-
um discurso estratégico que se pretende como eman- mas formas de recusa do trabalho, fazendo assim da
objetivo perseguido por governos, escolas e empre- letariado, àqueles “que não tem sob o sol outras pro-
cipatório, libertador de encargos legais e regulamen- precariedade uma tensão, a saber, uma contradição
sas. Todos empreendedores e em todos os domínios priedades senão seus braços” e estão, portanto, por
tações governamentais. Não devemos negligenciar – como diz Patrick Cingolani.
104 da existência! A nova “gestão dos empreendedores”, isso em “dependência absoluta do acaso”? Eles pre-
essa pretensão emancipatória, mesmo que a crença 105
conforme define Drucker, pretende difundir e siste- cisam da propriedade da terra, caso sejam trabalha- Gostaria de lembrar aqui que o processo de pre-
nela, assim como o fazem alguns discípulos de
matizar o espírito do empreendedorismo em todas dores rurais, e a possibilidade de criar suas empre- carização não poderia se espalhar se não houvesse,
Foucault – François Ewald ou atualmente Geoffroy
as áreas de ação coletiva, especialmente no serviço sas industriais, caso sejam operários, por meio do por parte da gestão, uma política de valorização da
de Lagasnerie – pareça distorcer a leitura dos cursos
público, tornando a inovação o princípio organi- recurso a empréstimos bancários alimentados pela precariedade e um pacote de medidas, de dispositi-
de Foucault em um sentido problemático.
zador universal. Todos os problemas são solúveis poupança das classes pobres. Que os pobres empres- vos de acompanhamento dessa valorização da pre-
dentro do “espírito gestor” e da “atitude gerencial”; Preferiria enfatizar a dimensão estratégica que tem aos pobres para que se tornem proprietários, e o cariedade. Tal valorização da precariedade passa
todos os trabalhadores devem enxergar a sua função contém essa figura do indivíduo- empresa e a con- problema será resolvido (Tocqueville, 1999). precisamente pela restauração da velha figura rejuve-
e o seu envolvimento com a empresa com olhos de cepção dessa sociedade empreendedora, em oposi- nescida do empreendedor de si mesmo.
Seria vão, de fato, contar com assistência. Não
gerente. Mas essa gestão da inovação e da exploração ção à suposta tese foucaultiana que veria aí uma con-
é que esses novos pobres da era industrial estejam Sabemos que a gestão põe em funcionamento
não se detém nas portas da empresa. Como a “pra- cepção libertadora e emancipadora.
permanentemente abaixo do nível da miséria. É que novas formas de mobilização da mão de obra, novas
xeologia” de Mises mostrou a seu modo, o modelo
recaem na miséria como resultado da crise econô- formas de organização, de contratação e avaliação de
de gestão aspira uma validade prática universal. De 2. O empreendedor de sua vida mica. Mas a contradição salta aos olhos: a proprie- funcionários por “missão” e “projeto”. Um dos aspec-
maneira que o indivíduo pode e deve se considerar contra o assalariado protegido dade não impedirá esses trabalhadores de serem tos dessa gestão contemporânea é a reabilitação do
um empreendedor em todas as áreas. Existência e
expostos aos riscos do comércio, aos perigos da “empreendedor de seu próprio trabalho”, descrita por
empresa identificam-se sob o efeito unificador de um A “questão social”, tal como ela se coloca no concorrência. Cantillon, ainda que em um contexto muito diferente,
certo “espírito” que é transversal e abrangente. século XIX, remete à perplexidade de muitos obser- como o “empreendedor de sua própria carreira”.
vadores ante a dependência do novo assalariado O Estado-Providência põe fim a esta ficção de
Esta dimensão do discurso neoliberal se mani-
proletarizado às mudanças no comércio nacional e empreendedores ou de comerciantes trocando ser-
festa de muitas formas. Educação e imprensa são soli- 5_ Nota da revisão técnica: As duas expressões – salariato e precariado
internacional. O pauperismo explode a olhos vis- viços por contratos de aluguel mais ou menos pon- – são neologismos e não existem na língua portuguesa. São, contudo,
citadas a desempenhar um papel decisivo na difusão
tos, monstro social de uma população excedente. A tuais. Se seguirmos Castel, a solução consistirá em amplamente empregadas no jargão da sociologia do trabalho. A
deste novo modelo humano genérico. As principais primeira foi consagrada pela literatura francesa e sua variação nativa
incerteza da economia vira drama social. A incer- expandir o regime de propriedade aos assalariados é o termo “salariado”; a segunda alcançou grande repercussão com o
organizações internacionais e intergovernamentais,
teza é o pauperismo industrial. A vulnerabilidade sob a forma não de uma propriedade individual ou livro de Guy Standing, The Precariat. The new dangerous class, London
quase vinte ou trinta anos mais tarde, desempe- and New York: Bloomsbury, 2011. Desde então, o termo vem sendo
de massa afeta a nova classe de assalariados corta- mesmo coletiva, mas como uma propriedade social. utilizado largamente entre especialistas da área, sendo que edição
nharão um papel poderoso de encorajamento neste
brasileira da obra (Autentica, 2013) manteve o termo original.

PARÁGRAFO. JAN/JUN. 2017 PARÁGRAFO. JAN/JUN. 2017


V.5, N.1 (2017) - ISSN: 2317-4919 V.5, N.1 (2017) - ISSN: 2317-4919
Em outras palavras, a pulverização da proteção tiplas experiências que se deve viver para construir trabalho. Ela mascara inicialmente o fato de que este ching, da gestão de riscos, percebido por Castel já no
do assalariado proprietário de direitos coletivos, a um “portfólio” de competências. Em outras palavras, “mercado de altas competências” que permite esse início dos anos 1980 como uma das manifestações do
erosão da sociedade salarial, passa por uma genera- para ser eficiente, para ser inovador, é preciso tornar- nomadismo profissional não produz efeitos benéfi- governo neoliberal, desde então tem se expandido; o
lização do modelo do novo empreendedor, na qual -se si próprio objeto de desempenho, invenção, cria- cos sobre a remuneração e a cotação dos profissio- coaching acompanha, daí em diante, o reinventar-se
esse último retira a sua fonte, em alta não tanto entre ção. Essa literatura gerencial apresenta o trabalhador nais senão em setores restritos da economia e em de si mesmo; visa reforçar a capacidade de mudar a
artistas e pesquisadores, mas na elite do salariato de alta qualificação como um empresário de sua car- empregos específicos. Ela mascara igualmente alguns carreira, a vida. “Atreva-se a ser você mesmo”, mas,
burguês diplomado, que faz da precariedade uma reira, mas também e mais profundamente como um dos efeitos subjetivos dessa “responsabilização” do especialmente, atreva-se a se produzir você mesmo.
escolha assumida, de sua mobilidade profissional e “artista” de si mesmo. indivíduo, exposto sem proteção às mudanças do Os coaches também aconselham aqueles que que-
geográfica um verdadeiro estilo de vida, como que mercado das altas competências. Ela não retém disso rem subir ao mais alto na hierarquia, no sentido de
Trata-se de levar uma “vida de artista”? Não se
decalcado e ritmado pelo fluxo do próprio capital. senão os aspectos precisamente mais idealizadores “sair dos caminhos batidos, de deixar as zonas de
trata aqui tanto de viver como um artista, mas de se
Um estilo de vida que produz a figura de um indiví- da invenção de si mesmo. Mascara a generalização conforto”.
tornar um artista de si mesmo, de se tornar obra, de
duo-capital, cuja situação de emprego é precisamente estratégica da figura do trabalhador-empreendedor,
se transformar permanentemente. Não apenas um Mas, se Castel já demonstrava, no início dos anos
tão móvel e tão mundial quanto o próprio capital. o que serve obviamente para obter dois efeitos: por
profissional que goza da liberdade de organizar seu 1980, o avanço da psicologização das relações pro-
um lado, uma naturalização-eufemização da invali-
Essa estratégia cultural de pulverização vem do trabalho e gerenciar sua carreira segundo uma liga- fissionais e sociais, em particular com o desenvol-
dação social dos excluídos; por outro, uma alavanca
“alto”: ela consiste em fazer do jovem executivo e ção mais fraca com a organização fordista, mas ser vimento de “tecnopsicologias”, ele não podia ainda
de destruição do Estado Social. Não se trata do “fim
graduado o vetor de um “novo estilo de vida” válido aquele que consegue produzir, fabricar seu próprio avaliar a extensão que atingiriam os dispositivos de
do salariato”, mas de uma reformulação do trabalho
para todos. Não se trata, portanto, de uma vítima da trabalho, segundo receitas de “job crafting”, e que desempenho e de gozo no capitalismo e na sociedade
assalariado sob a figura do empreendedor. O que é
máquina a ser excluído, mas um voluntário da liber- os consultores e coaches resumem na frase “faça do trinta anos mais tarde. O que mereceria ser analisado
também uma reformulação do indivíduo orientado
dade empresarial no seio mesmo do salariato. Essa trabalho que você tem o emprego dos seus sonhos”. aqui é o conjunto de técnicas de si, o conjunto das
a “assumir o comando”, a gerenciar seus riscos, e isso
empresarialidade salarial, se se pode dizer assim, essa Poderíamos aqui nos remeter tanto às análises de novas profissionalidades que operam as novas asce-
não só para destruir as estruturas protetoras estáveis
condição de empreendedor de sua própria carreira e Boltanski e Chiapello como aos trabalhos de Pierre- ses da invenção de si mesmo, o “desenvolvimento
e os direitos sociais excessivamente rígidos, mas para
de sua própria vida assume múltiplas formas, adap- Michel Menger, mesmo se nelas possamos encontrar pessoal”, que visam ao aperfeiçoamento contínuo e
106 colocar a serviço do capital uma força criativa, uma
tadas aos dispositivos de intermitência de missões e uma dimensão demasiadamente complacente.
força inovadora que é pensada para andar junto com
ao incremento do seu potencial humano, a se aumen- 107
projetos. Super interinos, job crafting, trabalhadores tar a si mesmo se reinventando7.
Não se trata apenas de recuperar a crítica, inte- a concorrência interindividual.
de portfólio – tantos termos que falam da variedade
grando as formas de distância ou de recusa dos cons- Minha terceira observação diz respeito ao fato de
de novas formas idealizadas de precariedade de luxo6. Fazer do neo-assalariado o artista de si mesmo,
trangimentos do trabalho; trata-se, provavelmente, que a estratégia do empregador, que consiste em ata-
aquele que se faz a si próprio, inventando-se, reno-
Nessa literatura, é raro o questionamento sobre de tudo isso, porém de ainda mais. Trata-se do que car o coração do sistema de salários, particularmente
vando-se, não é endossar uma evolução espontânea
os fatores que, por parte das formas do capitalismo, Pierre Dardot e eu próprio chamamos de uma nova o contrato de trabalho de duração indeterminada,
para uma maior autonomia, mas reformular as con-
determinam a promoção de um tal modelo de enga- forma de subjetivação, de ultrasubjetivação que con- estendendo-o, como faz o MEDEF, nas discussões
dições de engajamento no trabalho, alterando as con-
jamento no trabalho. A exploração de novos recur- siste na exigência de auto-superação constante, na atuais, e propondo o contrato intermitente a todos
dições de emprego, a fim de fazer jorrar de uma nova
sos subjetivos e cognitivos, a pressão da concorrên- busca de um além de si mesmo, que não pode mais os setores da economia, fundamenta-se ou toma pé
subjetividade reservas de produtividade, fontes de
cia por inovação, a relativa escassez de competências encontrar nas formas tradicionais de emprego o qua- em uma “cultura de si” destacada por muitos auto-
competitividade e justificativas para lucros fabulosos
gerenciais ou de informática, o fluxo de capital finan- dro onde essa subjetivação pode ser formada e ter os res de longa data. O que me impressiona é a tensão
acumulados por algumas estrelas. Não se deve esque-
ceiro, a exigência de desempenho, contam muito seus efeitos desdobrados. extrema que vivemos entre a consideração da devas-
cer que essa cultura de empreendedorismo é também
pouco. Por outro lado, o que é destacado é a liber- tação social causada pela precarização do emprego,
uma máquina argumentativa muito poderosa que
dade criativa, mais ainda a capacidade redescoberta 3. Conclusão gostaria de tornar a riqueza desejável e justificada.
particularmente nas classes mais baixas, e o sucesso
de se fazer, de se produzir e, sobretudo, de se inventar das temáticas do desenvolvimento do auto-poten-
ou de se reinventar constantemente por meio da ati- De minha parte, gostaria de ressaltar qua- O segundo ponto que gostaria de enfatizar é que cial, da reinvenção de si mesmo. Para colocá-lo de
vidade profissional ou, mais precisamente, por múl- tro dimensões que me parecem importantes para essa cultura do empreendedorismo não é apenas forma bem rápida, devemos nos perguntar como a
nossa reflexão sobre as “culturas da precariedade”. uma mistificação ideológica. É “operacional” – se lógica do capital do tipo “sempre mais” ressoa subje-
6_ Para dar apenas um exemplo, as revistas de gestão, voltadas ou não
ao grande público, estão agora repletas de discursos que valorizam o Primeiro, uma observação bastante evidente sobre me for permitida esta palavra da gerência – ela fun- tivamente na “mais-performance”, e mesmo naquilo
interim management, apresentado como um equivalente de liberdade. a natureza mistificadora desta “cultura do empreen- ciona. E funciona com o apoio de todo uma gama que eu chamaria daqui em diante de “excedente de
O fenômeno conquistou o assalariado de alto nível, com um discurso
positivo sobre “supertemp” – uma contração das palavras “super” e dedorismo”, que não caminha sem a dissimulação e de profissionais de acompanhamento e de invenção vida” (plus-de-vie); a intensificação da vida por meio
“temporário”, aqueles que poderiam ser chamados os “super interinos” sem as condições e consequências dessa nova relação de si, desses “gestores da alma” dos quais fala Valérie de comportamentos de risco.
ou “interinos de luxo”. Um deles declarou à revista Management
(Dezembro de 2012, p. 109): “Ao abandonar o sistema assalariado, eu com o emprego e desse tipo de compromisso com o Brunel. O trabalho de acompanhamento por coa- 7_ Redireciono ao cap. XIII de Dardot e Laval (2010) [versão
me tornei um ator da minha vida profissional e meu próprio patrão”. brasileira, 2016]

PARÁGRAFO. JAN/JUN. 2017 PARÁGRAFO. JAN/JUN. 2017


V.5, N.1 (2017) - ISSN: 2317-4919 V.5, N.1 (2017) - ISSN: 2317-4919
Meu quarto comentário tratará daquilo que DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. La Nouvelle
temos debaixo dos olhos e não sabemos como dizer, Raison du monde: essai sur la societé néolibérale.
ou não o dizemos suficientemente. Lê-se, inclusive Poches/ La Découverte, 2010. [Versão brasileira:
na literatura acadêmica, que o artista e o pesquisa- DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A Nova Razão
dor são os modelos idealizados do novo assalariado do Mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São
inventor de si mesmo, desfrutando de uma liberdade Paulo: Boitempo, 2016).
tanto maior quanto a sua relação com as limitações
da burocracia é enfraquecida por seu nomadismo. LE FIGARO. 30 de agosto de 2005
Esse retrato do trabalhador como artista e pesquisa-
MANAGEMENT. Dezembro, 2012.
dor, esse discurso bem-sucedido, legitima as formas
mais extremas de dependência – uma dependên- SAY, Jean-Baptiste. Cours Complet d’Économie
cia sobre a qual Cantillon insistia. O que é hoje este Polirique Pratique. Paris: Daire, 1803.
“viver com a incerteza” no mundo da pesquisa e da
cultura? Onde está a liberdade do jovem pesquisador SAY, Jean-Baptiste. Traité d’économie politique.
condenado a estágios, férias e concorrência? Paris: Daire, 1843.

A precarização como reinvenção permanente SKORNICKI, Arnault. L’économiste, la Cour et la


de sua vida, o artista de si mesmo, o criador de si Patrie. CNRS editions, 2011.
mesmo, é a figura mais ideológica de uma realidade
mais sórdida ainda. E nós temos a evidência disso TOCQUEVILLE, Alexis de. Sur le Paupérisme.
diante de nós, nós que conhecemos os doutoran- Allia, 1999.
dos, os que frequentam os pós-doutoramentos, que
VÉRIN, Hèlene. Entrepreneurs, entreprise: histoire
aumentam diariamente as fileiras de empreendedo-
108 d’une idée. Paris: ClassiquesGarnier, 2011.
res. Essa famosa liberdade é aquela da concorrência
acirrada por empregos estáveis, mas também a da
padronização profissional e da conformação de “pro-
dutos” a normas cada vez mais restritas. A competi- Recebido_ 07 de janeiro de 2017
ção uniformiza, modela, esquematiza os trajetos. Nós Aprovado_ 10 de fevereiro de 2017
estamos bem posicionados para ver aonde conduz,
em termos de pesquisa e ensino, essa precarização;
a qual “cultura” ela afinal nos conduz. Certamente
não aos grandes riscos da aventura intelectual, mas
ao conformismo das publicações padronizadas, ao
desengajamento político, à subordinação a regras
burocráticas absurdas as quais Roland Gori e outros
psicanalistas chamaram de “loucura-avaliação”.

Referências

BÉNICHOU, Paul. Morales du grand siècle. Folio,


2008.

CANTILLON, Richard. Essai sur la nature du com-


merce en general. INED, 1997.

CASTEL, Robert. Les Métamorphoses de la


Question Sociale. Fayard, 1995.

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