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Capítulo

III
Mercado Monetário

Objetivos

■ Definir e descrever o mercado monetário.


■ Apresentar o regime de metas de inflação no Brasil.
■ Apresentar o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) e o
processo de fixação da meta para a taxa Selic.
■ Apresentar os instrumentos de política monetária utilizados pelo Banco
Central do Brasil.
■ Definir e distinguir a taxa Selic da taxa DI.
■ Apresentar o Sistema de Pagamentos Brasileiro.
■ Apresentar a estrutura do Banco Central do Brasil.

BANCO CENTRAL DO BRASIL


O Banco Central do Brasil é a instituição central do mercado monetário,
exercendo, por determinação da Lei no 4.595/64, a política monetária no
Brasil. Utilizando-se dos instrumentos de política monetária, ele atua no mer-
cado de reservas bancárias, alterando sua disponibilidade e ajustando as taxas
de juros básicas da economia brasileira com o objetivo de cumprir sua missão
institucional, que é manter o poder aquisitivo da moeda brasileira, o real, ou
seja, controlar a inflação.
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O Banco Central do Brasil é composto em sua estrutura pela presidência e


por oito diretorias:

I. Diretoria de Administração – responsável, entre outras atribuições, pela


gestão das pessoas e dos recursos financeiros e materiais da instituição,
além de cuidar do meio circulante.
II. Diretoria de Assuntos Internacionais – responsável pela gestão das re-
servas internacionais do país.
III. Diretoria de Estudos Especiais – responsável pela concepção e pela
gestão do regime de metas de inflação.
IV. Diretoria de Fiscalização – responsável pela supervisão das instituições
autorizadas a funcionar pelo Banco Central.
V. Diretoria de Liquidações e Desestatização – responsável pelo processo
de liquidação das instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Cen-
tral que se encontram em situação de insolvência e pelos processos de
desestatização dos bancos públicos federais e estaduais.
VI. Diretoria de Normas e Organização do Sistema Financeiro – responsá-
vel pela edição de normas aplicáveis ao Sistema Financeiro Nacional e
pelos processos de autorização para funcionamento de instituições fi-
nanceiras.
VII. Diretoria de Política Econômica – responsável pelo acompanhamento
dos indicadores econômicos do país e pela formulação de políticas
econômicas.
VIII. Diretoria de Política Monetária – responsável pela administração do Sis-
tema de Pagamentos Brasileiro e pela execução da política monetária.

Às diretorias estão subordinados departamentos responsáveis pela execu-


ção dos diversos serviços de responsabilidade do Banco Central. Entre os di-
versos departamentos, destacamos aqueles que, direta ou indiretamente, in-
terferem no mercado monetário:

• Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab) – responsável


pela execução das operações de mercado aberto, pela administração do
Selic e pelos leilões de títulos públicos federais.
• Departamento de Operações Bancárias e de Sistemas de Pagamento
(Deban) – responsável pelas diretrizes do Sistema de Pagamentos Brasilei-
ro (SPB) e pelo gerenciamento e acompanhamento das contas de reser-
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vas bancárias e de liquidação, pelo recolhimento compulsório e pelo


redesconto.
• Departamento Econômico (Depec) – responsável pelo assessoramento eco-
nômico da diretoria colegiada do Banco Central e pela elaboração e divul-
gação de informações econômico-financeiras e análise de conjuntura.
• Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep) – responsável pela elabo-
ração de pesquisas sobre matérias de interesse do Banco Central e pela
elaboração e administração do sistema de metas para inflação.
• Gerência Executiva de Relacionamento com Investidores (Gerin) – res-
ponsável por atender os investidores domésticos e estrangeiros, autorida-
des de outros governos e de organismos multilaterais; responsável pela
elaboração, atualização e divulgação de relatórios sobre temas conjunturais
de interesse para a condução das políticas econômica, monetária, creditícia
e fiscal.
• Departamento de Operações das Reservas Internacionais (Depin) – res-
ponsável pela administração das reservas internacionais e por assessorar e
operacionalizar a política cambial.

MERCADO MONETÁRIO
O mercado monetário pode ser definido como o segmento do mercado
financeiro caracterizado por operações de curto e curtíssimo prazos, no qual
ocorrem o ajuste da liquidez do sistema econômico e a formação das taxas de
juros básicas da economia. O mercado monetário pode ser caracterizado, tam-
bém, pelas operações com reservas bancárias efetuadas pelas instituições fi-
nanceiras. Os principais participantes do mercado monetário, além do Banco
Central, são as instituições captadoras de depósitos à vista (bancos comerci-
ais, bancos múltiplos com carteira comercial e caixas econômicas). As demais
instituições financeiras autorizadas a emitir e/ou adquirir depósitos inter-
financeiros também participam do mercado monetário.
Em decorrência do recolhimento compulsório imposto pelo Banco Cen-
tral sobre os depósitos à vista e a prazo, as instituições detentoras de conta de
reservas bancárias são obrigadas a manter um nível mínimo de recursos nessa
conta. Para atender à exigibilidade do compulsório, as instituições financei-
ras trocam reservas bancárias por meio de operações compromissadas com
títulos públicos federais ou por meio da negociação de depósitos interfinan-
ceiros (DIs). Se por um lado os bancos não podem apresentar saldo na conta
de reservas insuficiente para atender ao recolhimento compulsório, por ou-
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tro também não é interessante manter saldos excessivos na conta de reservas


além do exigido, posto que esse excesso normalmente não é remunerado
pelo Banco Central e representaria um custo de oportunidade para o banco
(esse recurso excedente poderia ter sido direcionado para alguma operação
de empréstimo que geraria juros para a instituição). Dessa forma, tanto as
instituições com reservas insuficientes quanto as instituições com reservas
excedentes têm interesse em participar do mercado de reservas bancárias.
O Banco Central atua no mercado monetário para ajustar a liquidez do
sistema visando cumprir sua missão institucional de manter o poder aquisiti-
vo da moeda nacional. Essa atuação dá-se pela utilização dos instrumentos de
política monetária:

• Recolhimento compulsório – percentual sobre os depósitos à vista e a pra-


zo que as instituições financeiras são obrigadas a recolher ao Banco Cen-
tral e que, portanto, não pode ser utilizado para a concessão de emprésti-
mos ou para outras finalidades.
• Operações de mercado aberto (open market) – operações de compra e ven-
da de títulos públicos federais que o Banco Central faz com as instituições
financeiras habilitadas, alterando o volume de reservas bancárias disponí-
veis para essas instituições.
• Operações de assistência de liquidez – operações que o Banco Central faz
com as instituições habilitadas para prover-lhes liquidez. Normalmente,
essas operações são viabilizadas por meio do redesconto de títulos.

Nas operações de mercado aberto, o Banco Central opera diretamente


com 22 instituições credenciadas, os chamados dealers do mercado aberto
que intermedeiam o relacionamento do Banco Central com as demais insti-
tuições do mercado e são selecionadas por critérios de desempenho nos
mercados primário e secundário de títulos públicos. Atualmente os dealers
são divididos entre primários e especialistas, atuando os primeiros para o
desenvolvimento do mercado primário e os demais para o desenvolvimento
do mercado secundário.
Além dos instrumentos anteriormente mencionados, o Banco Central exer-
ce, por determinação e na forma definida pelo Conselho Monetário Nacio-
nal, o controle sobre o crédito concedido pelas instituições financeiras.
Na execução da política monetária, o Banco Central se orienta pela
persecução das metas inflacionárias estabelecidas pelo Conselho Monetário
Nacional. A partir da definição da meta inflacionária para o ano, o Comitê de
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Política Monetária do Banco Central estabelece, mensalmente, uma meta para


a taxa básica de juros, orientando a atuação do Banco Central no mercado
monetário.

O REGIME DE METAS DE INFLAÇÃO


O Decreto no 3.088 de 1999 instituiu o regime de metas de inflação como
diretriz para a fixação do regime de política monetária. Esse decreto estabele-
ceu que as metas e os respectivos intervalos de tolerância devem ser fixados
pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) mediante proposta do ministro
de Estado da Fazenda, até o dia 30 de junho de cada ano imediatamente
anterior ao ano de vigência. O Decreto no 3.088 estabeleceu, também, que as
metas seriam representadas por variações anuais de índice de preços de am-
pla divulgação e que esse índice seria escolhido pelo CMN, mediante propos-
ta do ministro de Estado da Fazenda. Atualmente, as metas são representadas
por variações anuais do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apu-
rado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Conforme
dispõe o artigo 2o desse decreto, ao Banco Central do Brasil compete execu-
tar as políticas necessárias para cumprimento das metas fixadas.
A Resolução no 3.108, de 25 de junho de 2003, do Conselho Monetário
Nacional estabeleceu como metas para a inflação e respectivos intervalos de
tolerância para os anos de 2004 e 2005:

• Meta de inflação de 5,5%, com intervalo de tolerância de menos 2,5 pon-


tos percentuais e de mais 2,5 pontos percentuais para o ano 2004.
• Meta de inflação de 4,5%, com intervalo de tolerância de menos 2,5 pon-
tos porcentuais e de mais 2,5 pontos percentuais para o ano 2005.

Já a Resolução no 3.210, de 30 de junho de 2004, do Conselho Monetário


Nacional estabeleceu como meta para a inflação 4,5% com intervalo de tole-
rância de menos dois pontos percentuais e de mais dois pontos percentuais
para o ano de 2006.

Copom
O Comitê de Política Monetária (Copom) foi instituído em 20 de junho
de 1996, com o objetivo de estabelecer as diretrizes da política monetária e
definir a meta para a taxa básica de juros da nossa economia, a taxa Selic. A
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taxa Selic é a taxa média apurada pelo Sistema Especial de Liquidação e


Custódia (Selic) nas operações compromissadas (compra com compromisso
de revenda ao vendedor original) de um dia de prazo que têm como lastro
títulos públicos de emissão do governo federal. A meta para a taxa Selic é
estabelecida em cada reunião ordinária para vigorar até a próxima. O Copom
pode, também, definir o viés, que é a prerrogativa dada ao presidente do
Banco Central para alterar, na direção do viés, a meta para a taxa Selic a
qualquer momento entre as reuniões ordinárias.
As reuniões ordinárias do Copom são mensais, dividindo-se em dois dias:
a primeira sessão às terças-feiras e a segunda às quartas-feiras. O presidente
do Banco Central pode, sempre que necessário, convocar reuniões extraordi-
nárias. Conforme dispõe a Circular no 3.204/2003 do Banco Central, o Copom
é composto pelos membros da Diretoria Colegiada do Banco Central do Bra-
sil: o presidente, que tem o voto de qualidade; e os diretores de Política Mo-
netária, Política Econômica, Estudos Especiais, Assuntos Internacionais, Nor-
mas e Organização do Sistema Financeiro, Fiscalização, Liquidações e Deses-
tatização, e Administração. Também participam do primeiro dia da reunião
os chefes dos seguintes Departamentos do Banco Central: Departamento Eco-
nômico (Depec), Departamento de Operações das Reservas Internacionais
(Depin), Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos
(Deban), Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab), Depar-
tamento de Estudos e Pesquisas (Depep), além do gerente executivo da
Gerência-Executiva de Relacionamento com Investidores (Gerin). Integram
ainda a primeira sessão de trabalhos três consultores e o secretário executivo
da Diretoria, o assessor de imprensa, o assessor especial e, sempre que con-
vocados, outros chefes de departamento convidados a discorrer sobre assun-
tos de suas áreas.
No primeiro dia das reuniões, os chefes de departamento e o gerente
executivo apresentam uma análise da conjuntura doméstica que abrange
inflação, nível de atividade, evolução dos agregados monetários, finanças
públicas, balanço de pagamentos, economia internacional, mercado de câm-
bio, reservas internacionais, mercado monetário, operações de mercado
aberto, avaliação prospectiva das tendências da inflação e expectativas gerais
para variáveis macroeconômicas.
No segundo dia da reunião, do qual participam apenas os membros do
Comitê e o chefe do Depep, sem direito a voto, os diretores de Política Mone-
tária e de Política Econômica, após análise das projeções atualizadas para a
inflação, apresentam alternativas para a taxa de juros de curto prazo e fazem
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recomendações acerca da política monetária. Em seguida, os demais mem-


bros do Copom fazem suas ponderações e apresentam eventuais propostas
alternativas. Ao final, procede-se à votação das propostas, buscando-se, sem-
pre que possível, o consenso. A decisão final – a meta para a taxa Selic e o viés,
se houver – é imediatamente divulgada à imprensa, ao mesmo tempo em que
é expedido comunicado por meio do Sistema de Informações do Banco Cen-
tral (Sisbacen).

SISTEMA ESPECIAL DE LIQUIDAÇÃO E CUSTÓDIA – SELIC


O Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) é um sistema admi-
nistrado pelo Bacen que se destina à custódia de títulos escriturais de emissão
do Tesouro Nacional e do Banco Central do Brasil, bem como ao registro e à
liquidação de operações com esses títulos. As operações compromissadas (com-
pra com compromisso de revenda ou venda com compromisso de recompra)
e as operações definitivas (compra ou venda sem compromisso de reversão da
operação) com títulos públicos federais são normalmente registradas no Selic.
As instituições financeiras participantes dispõem de acesso ao sistema, nele
registrando, ambas as partes envolvidas numa transação (ponta compradora
e ponta vendedora), a operação. O Selic opera na modalidade de Liquidação
Bruta em Tempo Real (LBTR) e as operações nele registradas são liquida-
das uma a uma por seus valores brutos em tempo real.

Podem ser participantes do Selic, na qualidade de titulares de contas:

• Banco Central do Brasil.


• Tesouro Nacional.
• Bancos múltiplos com carteira comercial, bancos comerciais e caixas eco-
nômicas.
• Bancos múltiplos sem carteira comercial, bancos de investimento, socie-
dades corretoras de títulos e valores mobiliários e sociedades distribuido-
ras de títulos e valores mobiliários.
• Bancos de desenvolvimento, sociedades de crédito, financiamento e in-
vestimento e sociedades de crédito imobiliário.
• Sociedades de arrendamento mercantil.
• Fundos de investimento financeiro, fundos de investimento em cotas de
fundos de investimento financeiro, fundos de investimento em títulos e
valores mobiliários, fundos de investimento em cotas de fundos de inves-
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timento em títulos e valores mobiliários e fundos mútuos de privatização


(FGTS).
• Sociedades seguradoras, sociedades de capitalização, entidades abertas de
previdência, entidades fechadas de previdência e resseguradoras locais.
• Câmaras.
• Outras entidades, a critério do administrador do Selic.

Para efeito de liquidação financeira das operações, o participante é con-


ceituado como:

• Liquidante, se liquida operações diretamente em sua conta Reservas Ban-


cárias no Banco Central do Brasil.
• Não liquidante, se liquida suas operações por intermédio de participan-
tes liquidantes.

Os participantes liquidantes e as câmaras têm acesso ao Selic pela Rede do


Sistema Financeiro Nacional (RSFN) e os demais participantes, por outras
redes. O acesso aos módulos complementares do Selic – Oferta Pública For-
mal Eletrônica (Ofbub) e Leilão Informal Eletrônico de Moeda e de Títulos
(Leinf) – dá-se pelas mesmas redes de acesso ao Selic, com exceção da RSFN.
A Rede do Sistema Financeiro Nacional – RSFN é uma estrutura de comu-
nicação de dados implementada por intermédio de tecnologia de rede, cria-
da com a finalidade de suportar o tráfego de mensagens entre as instituições
financeiras, as câmaras e os prestadores de serviços de compensação e de li-
quidação, a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e o Banco Central do Bra-
sil, no âmbito do Sistema de Pagamentos Brasileiro.
As propostas relativas às ofertas públicas e aos leilões informais são acolhidas,
respectivamente, pelo Ofpub, no horário fixado no edital da respectiva oferta
pública, e pelo Leinf, no horário estabelecido pelo Demab a cada evento.
O Ofpub tem por objetivo acolher propostas das instituições e apurar os
resultados de ofertas públicas formais (os chamados leilões formais):

• De títulos públicos federais com custódia no Selic.


• De operações com instrumentos financeiros derivativos a serem contrata-
das com o Banco Central do Brasil.

Os bancos – múltiplos, comerciais e de investimento –, as sociedades


corretoras e as sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários, as
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sociedades de crédito, financiamento e investimento e as sociedades de cré-


dito imobiliário têm acesso ao Ofpub.
O Leinf destina-se ao processamento de leilões informais, do Banco Cen-
tral do Brasil/Departamento de Operações de Mercado Aberto (Demab),
de títulos públicos federais ou de moeda e de títulos públicos federais
custodiados no Selic. Apenas os bancos (múltiplos, comerciais e de investi-
mento), as sociedades corretoras e as sociedades distribuidoras de títulos e
valores mobiliários credenciadas a operar com o DEMAB têm acesso ao Leinf.

CONTA RESERVAS BANCÁRIAS


A Circular no 3.101/2002 do Banco Central do Brasil estabeleceu que
para bancos comerciais, bancos múltiplos com carteira comercial e caixas
econômicas é obrigatória a titularidade de conta reservas bancárias; para
bancos de investimento e bancos múltiplos sem carteira comercial, a
titularidade é facultativa. A conta reservas bancárias pode ser definida como
uma conta que registra, por titular, as disponibilidades mantidas no Banco
Central do Brasil, em moeda nacional, pelos bancos comerciais, bancos múl-
tiplos, caixas econômicas e bancos de investimento.
A Circular no 3.101/2002 instituiu no Banco Central do Brasil a Conta de
Liquidação, de titularidade de câmaras ou de prestadores de serviços de com-
pensação e de liquidação, destinada exclusivamente à:

• Liquidação dos resultados apurados nos respectivos sistemas.


• Realização de movimentações financeiras diretamente relacionadas aos
mecanismos e salvaguardas adotados nos sistemas de liquidação que ope-
rem, ou vinculadas a eventos de custódia atinentes à liquidação de obriga-
ções do emissor.

Conta de liquidação: conta na qual são liquidadas as ordens de transferên-


cia de fundos emitidas pelo seu titular, participante do STR.
Conta Única do Tesouro Nacional: conta que registra depósitos mantidos
pelo Tesouro Nacional no Banco Central do Brasil.

SISTEMA DE TRANSFERÊNCIA DE RESERVAS – STR


A Circular no 3.100/2002 do Banco do Banco Central do Brasil instituiu
o Sistema de Transferência de Reservas – STR, sistema de liquidação bruta
em tempo real de transferência de fundos entre seus participantes. O STR
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entrou em funcionamento no dia 22 de abril de 2002. A finalidade do STR


é possibilitar a transferência de fundos entre seus participantes. O STR é
gerido e operado pelo Banco Central do Brasil, por intermédio do Departa-
mento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamento – Deban.
O STR está disponível aos participantes, para registro e liquidação de or-
dens de transferência de fundos, nos dias considerados úteis para fins de ope-
rações praticadas no mercado financeiro. As transferências de fundos são
processadas por meio de lançamentos nas contas mantidas pelos participan-
tes no Banco Central. O horário de funcionamento do STR para registro de
ordens de transferência de fundos é das 6h30 às 18h30 (horário de Brasília).
São liquidadas pelo STR, exclusivamente, ordens de crédito. No STR po-
dem ser cursadas ordens de transferência de fundos de qualquer valor. Uma
vez realizada, a liquidação da ordem de transferência de fundos é irrevogável
e incondicional. Participam do STR:

• O Banco Central do Brasil.


• As instituições titulares de conta reservas bancárias.
• As câmaras e os prestadores de serviços de compensação e de liquidação
titulares de conta de liquidação no Banco Central do Brasil.

A Circular no 3.100/2002 faculta a Secretaria do Tesouro Nacional a parti-


cipar no STR.

REDESCONTO
O acesso ao redesconto do Banco Central é restrito às instituições finan-
ceiras titulares de conta reservas bancárias. O redesconto do Banco Central
compreende as seguintes modalidades:

• Compra com compromisso de revenda.


• Redesconto.

As operações de redesconto do Banco Central podem ser:

• Intradia, destinadas a atender necessidades de liquidez de instituição fi-


nanceira ao longo do dia.
• De um dia útil, destinadas a satisfazer necessidades de liquidez decorren-
tes de descasamento de curtíssimo prazo no fluxo de caixa de instituição
financeira.
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• De até 15 dias úteis, podendo ser recontratadas desde que o prazo total
não ultrapasse 45 dias úteis, destinadas a satisfazer necessidades de liquidez
provocadas pelo descasamento de curto prazo no fluxo de caixa de insti-
tuição financeira e que não caracterizem desequilíbrio estrutural.
• De até 90 dias corridos, podendo ser recontratadas desde que o prazo
total não ultrapasse 180 dias corridos, destinadas a viabilizar o ajuste patri-
monial de instituição financeira com desequilíbrio estrutural.

A movimentação financeira relativa às operações de redesconto do Banco


Central é realizada na conta reservas bancárias mantida pela instituição finan-
ceira no Banco Central do Brasil. Podem ser objeto de redesconto do Banco
Central títulos públicos federais registrados no Sistema Especial de Liquida-
ção e de Custódia (Selic), outros títulos e valores mobiliários, créditos e direi-
tos creditórios, preferencialmente com garantia real, e outros ativos. As ope-
rações intradia e de um dia útil contemplam exclusivamente os títulos públi-
cos federais.

RECOLHIMENTO COMPULSÓRIO SOBRE DEPÓSITOS À VISTA


A Circular no 3.169/2002 do Banco Central do Brasil estabeleceu como
categorias de Valor Sujeito a Recolhimento (VSR), em cada dia útil, os saldos
das seguintes contas:

• Depósitos à vista.
• Depósitos de aviso prévio.
• Recursos em trânsito de terceiros.
• Cobrança e arrecadação de tributos e assemelhados.
• Cheques administrativos.
• Contratos de assunção de obrigações – vinculados a operações realizadas
no país.
• Obrigações por prestação de serviços de pagamento.
• Recursos de garantias realizadas.

O período de cálculo começa na segunda-feira de uma semana e termi-


na na sexta-feira da semana seguinte. A verificação do cumprimento da
exigibilidade é feita com base nas posições apuradas em cada dia útil do
período de movimentação, que começa na quarta-feira da segunda semana
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do período de cálculo e termina na terça-feira da segunda semana


subsequente. A instituição financeira que apresentar exigibilidade igual ou
inferior a R$10 mil fica isenta da obrigatoriedade de recolhimento
Conforme dispõe a Circular no 3.199/2003 do Banco Central do Brasil, a
base de cálculo da exigibilidade do recolhimento compulsório e do encaixe
obrigatório sobre recursos à vista corresponde à média aritmética dos VSRs
apurados no período de cálculo, deduzida de R$44 milhões. A exigibilidade
de recolhimento compulsório e de encaixe obrigatório sobre recursos à vista
é apurada aplicando-se alíquota de 45% sobre a base de cálculo.

RECOLHIMENTO COMPULSÓRIO SOBRE DEPÓSITOS A PRAZO


A Circular no 3.091/2001 do Banco Central do Brasil estabelece como
Valor Sujeito a Recolhimento (VSR) a soma dos saldos das seguintes contas:

• Depósitos a Prazo.
• Recursos de Aceites Cambiais.
• Cédulas Pignoratícias de Debêntures.
• Títulos de Emissão Própria.
• Contratos de Assunção de Obrigações – Vinculados a Operações Realiza-
das no Exterior.

Conforme dispõe a Circular no 3.091/2001 do Banco Central do Brasil, a


base de cálculo da exigibilidade do recolhimento compulsório e do encaixe
obrigatório sobre recursos a prazo corresponde à média aritmética dos VSR
apurados nos dias úteis do período de cálculo, deduzida de R$30 milhões.
O período de cálculo compreende os dias úteis de uma semana, com iní-
cio na segunda-feira e término na sexta-feira. Conforme dispõe a Circular no
3.127/2002 do Banco Central do Brasil, a exigibilidade de recolhimento com-
pulsório e de encaixe obrigatório é apurada mediante a aplicação da alíquota
de 15% sobre a base de cálculo. A exigibilidade apurada vigora da sexta-feira
da semana posterior ao encerramento do período de cálculo, ou do dia útil
seguinte se a sexta-feira não for dia útil, até a quinta-feira subsequente. A
exigibilidade de recolhimento compulsório e de encaixe obrigatório sobre
recursos a prazo deve ser cumprida, na data de ajuste, mediante vinculação,
no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), de títulos públicos
federais registrados naquele sistema.
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RECOLHIMENTO COMPULSÓRIO SOBRE DEPÓSITOS A PRAZO – ADICIONAL


A Circular no 3.144/2002 do Banco Central do Brasil instituiu exigibilidade
adicional de recolhimento compulsório e encaixe obrigatório sobre depósitos
captados por bancos múltiplos, bancos de investimento, bancos comerciais,
bancos de desenvolvimento, caixas econômicas, sociedades de crédito, finan-
ciamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário e associações de
poupança e empréstimo. A Circular no 3.157/2002 do Banco Central do Bra-
sil alterou os limites estabelecidos pela Circular no 3.144/2002, dispondo que
a exigibilidade adicional corresponderá à soma das seguintes parcelas, deduzida
de R$100 milhões, apurada em cada dia útil do período de cálculo:

• 8% sobre a média aritmética do Valor Sujeito a Recolhimento (VSR) rela-


tivo a depósitos a prazo, recursos de aceites cambiais, cédulas pignoratícias
de debêntures, títulos de emissão própria e contratos de assunção de obri-
gações vinculados a operações realizadas com o exterior, estabelecido no
artigo 2o da Circular no 3.091, de 1o de março de 2002.
• 10% sobre a média aritmética do VSR relativo a recursos de depósitos de
poupança, estabelecido no artigo 2o da Circular no 3.093, de 1o de março
de 2002.
• 8% sobre a média aritmética do VSR relativo a recursos à vista, de que
tratam os artigos 2o e 4o da Circular no 3.134, de 10 de julho de 2002.

O período de cálculo compreende os dias úteis de uma semana, com iní-


cio na segunda-feira e término na sexta-feira. A exigibilidade adicional deve
ser cumprida, em espécie, mediante recolhimento em conta específica, nos
dias úteis da segunda semana posterior ao encerramento do correspondente
período de cálculo. O recolhimento da exigibilidade adicional deve ser efe-
tuado exclusivamente por intermédio de instituição titular de conta Reservas
Bancárias, que comandará a respectiva transferência a crédito da conta de
recolhimento. O saldo de encerramento diário da conta de recolhimento, no
Banco Central do Brasil, limitado à respectiva exigibilidade adicional, faz jus
à remuneração calculada com base na taxa Selic.

AGREGADOS MONETÁRIOS
Os agregados monetários são definidos pelo Banco Central do Brasil da
seguinte forma:
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M1= Papel-moeda em poder do público + depósitos à vista.


M2 = M1 + depósitos para investimento e de poupança e os títulos emiti-
dos pelas instituições financeiras.
M3 = M2 + cotas de fundos de renda fixa e os títulos públicos federais que
dão lastro à posição líquida de financiamento em operações compromissadas.
M4 = M3 + títulos públicos de detentores não financeiros.

SISTEMA DE PAGAMENTOS BRASILEIRO


Uma das funções mais importantes do mercado monetário é prover o sis-
tema econômico com um sistema de pagamentos ágil, seguro e eficiente. As
funções básicas de um sistema de pagamentos são transferir recursos, bem
como processar e liquidar pagamentos para pessoas, empresas, instituições
financeiras para o governo e o Banco Central. A reformulação do Sistema de
Pagamentos Brasileiro a partir de 2002 visou basicamente à redução dos ris-
cos de liquidação (riscos de crédito e de liquidez) envolvidos nas operações
interbancárias e nas transações financeiras em geral, com consequente re-
dução do risco sistêmico (risco de que a quebra de um banco provoque a
quebra em cadeia de outros bancos).
A partir da implantação do STR, as transferências de fundos interbancárias
passaram a poder ser liquidadas em tempo real, em caráter irrevogável e in-
condicional. O STR também propiciou a redução do risco de crédito incorri-
do pelo Banco Central do Brasil, na medida em que a efetivação de uma
transferência de fundos passou a ser condicionada à existência de saldo sufi-
ciente de recursos na conta de liquidação do participante emitente da corres-
pondente ordem. As alterações legais e regulamentares efetuadas por inter-
médio da Lei no 10.214, da Resolução no 2.882 do Conselho Monetário Nacio-
nal, da Circular no 3.057 e da Circular no 3.101, ambas do Banco Central,
propiciaram os fundamentos e contornos do novo Sistema de Pagamentos
Brasileiro. Os princípios fundamentais norteadores do novo SPB envolvem:

• O reconhecimento da compensação multilateral no âmbito dos sistemas


de compensação e de liquidação.
• Os dispositivos que garantem a exequibilidade dos ativos oferecidos em
garantia, no caso de quebra de participante em sistema de compensação e
de liquidação.
• A obrigatoriedade de que, em todo sistema de liquidação considerado
sistemicamente importante pelo Banco Central do Brasil, a entidade ope-
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radora atue como contraparte central e, ressalvado o risco de emissor,


assegure a liquidação de todas as operações cursadas, devendo para isso
contar com adequados mecanismos de proteção.
• O estabelecimento de princípios para o funcionamento do SPB em con-
formidade com as recomendações feitas por organismos financeiros inter-
nacionais.
• A exigência de que, nos sistemas considerados sistemicamente importan-
tes, a liquidação final dos resultados apurados seja feita diretamente em
contas mantidas no Banco Central do Brasil.
• A proibição de saldo a descoberto nas contas de liquidação mantidas no
Banco Central do Brasil.

A Circular no 3.057/2001 do Banco Central do Brasil define sistema de


liquidação como “complexo de instalações, equipamentos e sistemas compu-
tacionais e de comunicação disponibilizado por uma câmara ou prestador de
serviços de compensação e de liquidação, para liquidação de operações se-
gundo regras e procedimentos formalmente estabelecidos”. Sistema siste-
micamente importante é definido como “sistema de liquidação em que o vo-
lume ou a natureza dos negócios, a critério do Banco Central do Brasil, é
capaz de oferecer risco à solidez e ao normal funcionamento do Sistema Fi-
nanceiro Nacional”. Sistema híbrido de liquidação é o “sistema que combina
características dos sistemas de liquidação diferida e dos sistemas de liquida-
ção bruta em tempo real”. Liquidação bruta em tempo real é a “liquidação de
obrigações, uma a uma, em tempo real”; e liquidação diferida, a “liquidação
realizada em momento posterior ao de aceitação das operações que dão ori-
gem às correspondentes obrigações”.
No seu artigo 4o, a Circular no 3.057/2001 estabelece que nos sistemas de
liquidação diferida:

I – a liquidação financeira deve ser precedida de compensação; e


II – a liquidação financeira interbancária é definitiva no momento em que
efetuadas as resultantes movimentações nas contas Reservas Bancárias
mantidas no Banco Central do Brasil.

No seu artigo 5o, a Circular no 3.057/2001 estabelece que, nos sistemas de


liquidação bruta em tempo real, a liquidação financeira interbancária:

I – deve ser feita diretamente em conta Reservas Bancárias; e


78 Mercado Financeiro

II – é definitiva no momento em que são efetuadas as movimentações nas


contas Reservas Bancárias mantidas no Banco Central do Brasil.

No seu artigo 18, a Circular no 3.057/2001 estabelece que a câmara ou o


prestador de serviços de compensação e de liquidação deve manter patrimônio
líquido compatível com os riscos inerentes aos sistemas de liquidação em que
opere, observados os seguintes limites mínimos:

I – R$5 milhões, no caso de ser responsável por sistema de liquidação consi-


derado não sistemicamente importante;
II – R$30 milhões, no caso de ser responsável por sistema de liquidação con-
siderado sistemicamente importante.

A liquidação em tempo real, operação por operação, a partir de 22 de


abril de 2002, passou a ser utilizada também nas operações com títulos públi-
cos federais cursadas no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic),
o que se tornou possível com a interconexão entre esse sistema e o Sistema de
Transferência de Reservas (STR). A liquidação dessas operações passou a ob-
servar o chamado modelo 1 de entrega contra pagamento, conforme deno-
minação utilizada em relatórios do Bank for International Settlements (BIS).
O novo Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) é caracterizado, sobretu-
do, pela assunção do risco de liquidação pelas câmaras e sistemas de liquida-
ção que o integram.

CÂMARAS DE COMPENSAÇÃO INTEGRANTES DO SPB

BM&F – Câmbio
A Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) opera um sistema de liquida-
ção de operações de câmbio contratadas no mercado interbancário, que en-
trou em funcionamento em 22 de abril de 2002. As obrigações corresponden-
tes são compensadas multilateralmente e a BM&F atua como contraparte cen-
tral. Atualmente são aceitas apenas operações com dólar americano e o prazo
de liquidação é quase sempre D + 2.
O sistema observa o princípio do “pagamento contra pagamento” (a en-
trega da moeda nacional e a entrega da moeda estrangeira são mutuamente
condicionadas), sendo que, para isso, a BM&F monitora e coordena o pro-
cesso de liquidação nas pontas em moeda nacional e em moeda estrangeira.
Mercado Monetário 79

Câmara de Derivativos – BM&F


A BM&F, por meio da Câmara de Derivativos (Câmara de Registro, Com-
pensação e Liquidação de Operações com Derivativos BM&F), liquida contra-
tos à vista, a termo, de futuros, de opções e de swaps. Os principais contratos
estão referenciados em taxas de juros, taxas de câmbio, índices de preços e
índices do mercado acionário (Ibovespa).
A Câmara de Derivativos da BM&F é um sistema com compensação multi-
lateral de obrigações, sendo que a liquidação das posições líquidas diaria-
mente apuradas é feita em D + 1, por intermédio do Sistema de Transferência
de Reservas (STR), em contas mantidas no Banco Central do Brasil. A BM&F
atua como contraparte central e garante a liquidação das posições líquidas
dos membros de compensação.

Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia – CBLC


A CBLC liquida operações realizadas na Bolsa de Valores de São Paulo
(Bovespa), na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ) e na Sociedade
Operadora do Mercado de Ativos (Soma) – mercado de balcão organizado.
Na Bovespa são realizadas operações com títulos de renda variável (mercados
à vista e de derivativos – opções, termo e futuro) e com títulos privados de
renda fixa (mercado à vista, operações definitivas e, no futuro, compromis-
sadas). A BVRJ opera com títulos públicos (mercado à vista, operações defini-
tivas e compromissadas). Na Soma são realizadas operações com títulos de
renda variável (mercados à vista e de opções).
A CBLC atua como depositária central de ações e de títulos de dívida
corporativa, mantendo contas individualizadas, o que permite a identificação
do investidor final das operações realizadas.
Normalmente, a liquidação é feita com compensação multilateral de obri-
gações, mas, em situações específicas previstas no regulamento de operações,
pode ser feita em tempo real, operação por operação. Na compensação mul-
tilateral de obrigações, a CBLC atua como contraparte central, assegurando a
liquidação das operações entre os agentes de compensação. A liquidação fi-
nanceira final é feita sempre por intermédio do STR, em contas mantidas no
Banco Central do Brasil.
Nas operações de compra e venda de títulos, a CBLC observa o modelo 3
de entrega contra pagamento, conforme nomenclatura utilizada em relató-
rios publicados pelo Bank for International Settlement (liquidação final de
títulos e fundos com base em posições líquidas no final de cada ciclo).
80 Mercado Financeiro

Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos – Cetip


A Cetip é depositária principalmente de títulos de renda fixa privados
(Certificados de Depósito Bancário – CDBs, Recibos de Depósito Bancários –
RDBs, Depósitos Interfinanceiros – DIs, Letras de Câmbio – LCs, Letras Hipo-
tecárias – LHs, debêntures e commercial papers, entre outros), títulos públicos
estaduais e municipais e títulos representativos de dívidas de responsabilida-
de do Tesouro Nacional, de que são exemplos os relacionados com empresas
estatais extintas, com o Fundo de Compensação de Variação Salarial (FCVS),
com o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e com a
dívida agrária (TDA). Na qualidade de depositária, a entidade processa a
emissão, o resgate e a custódia dos títulos, bem como, quando é o caso, o
pagamento dos juros e demais eventos a eles relacionados. Com poucas exce-
ções, os títulos são emitidos escrituralmente, isto é, existem apenas sob a for-
ma de registros eletrônicos (os títulos emitidos em papel são fisicamente
custodiados por bancos autorizados). As operações com esses títulos são reali-
zadas no mercado de balcão, incluindo aquelas realizadas por intermédio do
Cetipnet (sistema eletrônico de negociação).
Conforme o tipo de operação e o horário em que é realizada, a liquidação
é em D ou D + 1. As operações no mercado primário, envolvendo títulos
registrados na Cetip, são geralmente liquidadas com compensação multilate-
ral de obrigações (a Cetip não atua como contraparte central). A compensa-
ção bilateral é utilizada na liquidação das operações com derivativos e a com-
pensação bruta em tempo real, nas operações com títulos negociadas no mer-
cado secundário. A entrega contra pagamento (a entrega do ativo e o cor-
respondente pagamento são mutuamente condicionados e ocorrem no mes-
mo momento) é observada em todas as operações com títulos.

Sistema Especial de Liquidação e de Custódia – Selic


O Selic é o depositário central dos títulos emitidos pelo Tesouro Nacio-
nal e pelo Banco Central do Brasil e nessa condição processa, relativamente
a esses títulos, a emissão, o resgate, o pagamento dos juros e a custódia. O
sistema processa também a liquidação das operações definitivas e
compromissadas realizadas em seu ambiente, observando, a partir de 22 de
abril de 2002, o modelo 1 de entrega contra pagamento, conforme denomi-
nação utilizada em relatórios do Bank for International Settlements (a liqui-
dação final da ponta financeira e da ponta do título ocorre ao longo do dia,
Mercado Monetário 81

de forma simultânea, operação por operação). Todos os títulos são escriturais,


isto é, emitidos exclusivamente na forma eletrônica. A liquidação da ponta
financeira de cada operação é realizada por intermédio do Sistema de Trans-
ferência de Reservas (STR), ao qual o Selic é interligado.
Tratando-se de um sistema de liquidação em tempo real, a liquidação de
operações é sempre condicionada à disponibilidade do título negociado na
conta de custódia do vendedor e à disponibilidade de recursos por parte do
comprador. Se a conta de custódia do vendedor não apresentar saldo sufi-
ciente de títulos, a operação é mantida em pendência pelo prazo máximo de
30 minutos ou até às 12h, o que ocorrer primeiro (não se enquadram nessa
restrição as operações de venda de títulos adquiridos em leilão primário rea-
lizado no dia). A operação só é encaminhada ao STR para liquidação da pon-
ta financeira após o bloqueio dos títulos negociados, sendo que a não liquida-
ção por insuficiência de fundos implica sua rejeição pelo STR e, em seguida,
pelo Selic.

Câmara Interbancária de Pagamentos – CIP


A CIP opera o Sistema de Transferências de Fundos (Sitraf), que utiliza
compensação contínua de obrigações. Salvo na situação de agendamento, as
ordens de transferência de fundos são emitidas para liquidação no mesmo dia
(D), por assim dizer, “quase em tempo real”. É um sistema híbrido de liquida-
ção. Na situação de agendamento, a ordem de transferência de fundos é sub-
metida ao processo de liquidação no início do dia indicado. O sistema entrou
em funcionamento em 6 de dezembro de 2002.
O Sitraf funciona com base em ordens de crédito, isto é, somente o titular
da conta a ser debitada pode emitir a ordem de transferência de fundos, que
pode ser feita em nome do próprio participante ou por conta de terceiros, a
favor do participante destinatário ou de cliente do participante destinatário.
A liquidação é efetuada com base em recursos mantidos pelos participantes
no Banco Central do Brasil, seja no que diz respeito aos pré-depósitos efetuados
no início de cada dia e às suas eventuais complementações, seja no que se
refere às transferências efetuadas para atendimento das ordens de transfe-
rência de fundos no denominado ciclo complementar.
Condicionada também à participação no capital social da CIP, a partici-
pação direta no Sitraf é restrita às instituições titulares de conta Reservas
Bancárias, isto é, bancos comerciais, bancos múltiplos com carteira comerci-
al, caixas econômicas e bancos de investimento.
82 Mercado Financeiro

Câmara Tecban
No sistema de compensação e de liquidação operado pela Tecnologia Ban-
cária S.A. (Tecban), que entrou em funcionamento em 22 de abril de 2002, são
processadas transferências de fundos interbancárias relacionadas principalmente
com pagamentos realizados com cartões de débito e saques na rede de atendi-
mento automático de uso compartilhado, denominada Banco24Horas. O siste-
ma utiliza compensação multilateral de obrigações, com a liquidação final dos
resultados apurados sendo feita, por intermédio do Sistema de Transferência
de Reservas (STR), em contas mantidas pelos participantes no Banco Central
do Brasil. Como esse sistema de liquidação, na forma da regulamentação em
vigor, não é considerado sistemicamente importante, a liquidação em contas
mantidas no Banco Central do Brasil decorre de opção da entidade operadora.
Com poucas exceções, a liquidação é garantida pela (Tecbran) e, para
tanto, os participantes depositam garantias e se sujeitam à observação de limi-
tes operacionais.
A liquidação ocorre em D ou D + 1, dependendo do horário em que a
operação que dá origem à transferência de fundos for realizada. Para isso, em
cada dia considerado útil para fins de funcionamento do sistema financeiro o
sistema realiza dois ciclos de liquidação. No primeiro, que se encerra às
10h10min, são liquidadas as transferências de fundos originadas em opera-
ções confirmadas pelos participantes entre 14h e 0h do dia útil anterior, no
caso de operações garantidas, e entre 14h do dia útil anterior e 8h do próprio
dia, no caso de operações não garantidas. No segundo ciclo, que se encerra às
17h10min, são liquidadas as transferências de fundos relativas a operações
confirmadas pelos participantes entre 0h e 14h do próprio dia, no caso de ope-
rações garantidas, e entre 8h e 14h também do próprio dia, no caso de opera-
ções não garantidas.
É utilizada rede de comunicação própria para transmissão de dados entre
os pontos de captura (máquinas de autoatendimento, pontos de venda etc.)
e a Tecban. Todas as confirmações são feitas pela Tecban em tempo real, salvo
nos casos de débitos diretos e créditos diversos.

Centralizadora da Compensação de Cheques


e Outros Papéis – COMPE
A Compe liquida as obrigações interbancárias relacionadas principalmen-
te com cheques, documentos de crédito (ordem de transferência de fundos
por intermédio da qual o cliente emitente, correntista ou não de determina-
Mercado Monetário 83

do banco, transfere recursos para a conta do cliente beneficiário em outro


banco, podendo o cliente emitente e o cliente emissário serem a mesma
pessoa) e bloquetos de cobrança (documento representativo de dívida ori-
ginada na compra de bens e serviços, liquidado na rede bancária em espécie
ou por intermédio de cheque).
Os bancos comerciais, os bancos múltiplos com carteira comercial e a Caixa
Econômica Federal são titulares, no Banco Central, de conta vinculada à li-
quidação financeira das obrigações interbancárias apuradas na Compe. Essa
conta vinculada recebe depósito mediante transferência de fundos ordenada
pelo titular por meio do Sistema de Transferência de Reservas.
A Centralizadora da Compensação de Cheques e Outros Papéis (Compe),
regulada pelo Banco Central e executada pelo Banco do Brasil, é composta
por três sistemas:

• Sistema Local – abrange as dependências de participantes localizadas em


qualquer praça onde o executante (Banco do Brasil) mantenha agência e
em praças circunvizinhas.
• Sistema Integrado Regional (SIRC) – abrange as dependências de partici-
pantes localizadas em praças de uma mesma região previamente determi-
nada pelo executante (Banco do Brasil).
• Sistema Nacional – abrange todas as dependências de participantes insta-
ladas no país.

O prazo de bloqueio dos valores depositados em cheques compensáveis


por meio da Compe não pode ser superior a:

• Sistema Local – um dia útil.


• Sistema Integrado Regional (Sirc) – um dia útil para os cheques de valor
superior ao valor limite (R$299,99) e dois dias úteis para os cheques de
valor inferior ou igual ao valor limite.
• Sistema Nacional – três dias úteis, para quaisquer praças envolvidas, desde
que uma delas seja integrada ao Sistema Integrado Regional (Sirc) de São
Paulo, e quatro dias úteis para quaisquer praças envolvidas desde que nenhu-
ma delas seja integrada ao Sistema Integrado Regional (Sirc) de São Paulo.

Para as praças de difícil acesso o prazo é de 20 dias úteis. Todos os prazos


são contados a partir do dia seguinte ao depósito.
Cobrindo todo o território nacional, o sistema é composto, para fins de
troca física dos documentos não truncados (é admitida a truncagem de che-
84 Mercado Financeiro

ques na forma de acordos bilaterais e os demais documentos são sempre trun-


cados), por uma câmara nacional, 15 câmaras regionais e 10 câmaras locais.
Em uma câmara local, são trocados os cheques sacados contra as agências loca-
lizadas na praça por ela atendida. Na câmara regional, são trocados os cheques
sacados contra agências bancárias localizadas nas praças por ela atendidas, vin-
culadas a uma praça centralizadora, sempre uma capital de estado. Os cheques
sacados contra bancos sem presença nas câmaras locais e regionais são trocados
na câmara nacional, localizada em São Paulo, da qual todos os bancos obrigato-
riamente participam, diretamente ou por intermédio de representação.
A cada dia são realizadas duas sessões de compensação, apurando-se, em
cada sessão, um resultado multilateral único, de âmbito nacional, para cada
participante. Tomando-se como base a data de acolhimento do documento
que dá origem à obrigação, a liquidação interbancária na Compe é feita, por
intermédio do Sistema de Transferência de Reservas, nas contas Reservas Ban-
cárias mantidas no Banco Central do Brasil, em D+1.
O Banco do Brasil S.A., operador da Compe, fornece o espaço físico e o
apoio logístico necessários ao seu funcionamento, seja para a troca física de
documentos, nas situações em que isso acontece, seja para a compensação
eletrônica de todas as obrigações. O operador mantém um centro de
processamento principal em São Paulo e um centro secundário no Rio de
Janeiro, que funciona em hot standby.
Participam da Compe as instituições bancárias, nomeadamente os bancos
comerciais, os bancos múltiplos com carteira comercial e as caixas econômi-
cas, totalizando 142 instituições em dezembro de 2002. A participação é con-
dicionada à constituição de depósito prévio no Banco Central do Brasil até
9h30min de cada dia.
O depósito prévio foi instituído com o propósito de desestimular o trânsi-
to pela Compe de pagamentos de valor superior a R$5 mil, efetuados por
intermédio de cheque ou documento de crédito.
Os cheques podem ser truncados, isto é, retidos pelo banco acolhedor e
mantidos sob sua custódia, na forma de acordos bilaterais entre os partici-
pantes. Os demais documentos baseados em papel são sempre truncados.

Sistema de Transferência de Reservas – STR


O STR é um sistema de transferência de fundos com liquidação bruta em
tempo real (LBTR), instituído e operado pelo Banco Central do Brasil, por
intermédio do Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pa-
Mercado Monetário 85

gamentos (Deban). O sistema funciona com base em ordens de crédito, isto


é, somente o titular da conta a ser debitada pode emitir a ordem de transfe-
rência de fundos. O STR é fundamental principalmente para liquidação de
operações interbancárias realizadas nos mercados monetário, cambial e de
capitais, inclusive no que diz respeito à liquidação de resultados líquidos apu-
rados em sistemas de compensação e liquidação operados por terceiros.
As ordens de transferência de fundos podem ser emitidas pelos partici-
pantes em nome próprio ou por conta de terceiros, a favor do participante
destinatário ou de cliente do participante destinatário, sendo que, por acor-
do entre os participantes, atualmente observa-se o limite mínimo de R$5 mil
por transferência. O participante destinatário é informado da transferência
de fundos apenas no momento em que ocorre sua liquidação.
O STR entrou em funcionamento no dia 22 de abril de 2002 e está dispo-
nível aos participantes, para registro e liquidação de ordens de transferência
de fundos, nos dias considerados úteis para fins de operações praticadas no
mercado financeiro. As transferências de fundos são processadas por meio de
lançamentos nas contas mantidas pelos participantes no Banco Central. O
horário de funcionamento do STR para registro de ordens de transferência
de fundos é das 6h30min às 18h30min (horário de Brasília). São liquidadas
pelo STR, exclusivamente, ordens de crédito. No STR podem ser cursadas
ordens de transferência de fundos de qualquer valor. Uma vez realizada, a
liquidação da ordem de transferência de fundos é irrevogável e incondicio-
nal. Participam do STR:

• O Banco Central do Brasil.


• As instituições titulares de contas reservas bancárias.
• As câmaras e os prestadores de serviços de compensação e de liquidação
titulares de conta de liquidação no Banco Central do Brasil.

A Circular no 3.100/2002, que institui o STR, faculta a Secretaria do


Tesouro Nacional a participar nesse sistema.

RESUMO
O mercado monetário pode ser entendido como um segmento do mer-
cado financeiro, caracterizado, sobretudo, por operações de curto e
curtíssimo prazos, nas quais as instituições financeiras, em especial aquelas
que captam depósitos à vista, trocam reservas bancárias entre si e com o
86 Mercado Financeiro

Banco Central. No mercado monetário são formadas as taxas de juros básicas


da economia brasileira, a taxa Selic e a taxa DI. O mercado monetário tem
também a função de prover o sistema econômico com um sistema de paga-
mentos. O Sistema de Pagamentos Brasileiro sofreu mudanças profundas, a
partir de 2002, que o tornaram mais seguro, ágil e eficiente.

QUESTÕES PARA REFLEXÃO


1. O que é o mercado monetário e como podemos caracterizá-lo?
2. Quais são os principais participantes do mercado monetário?
3. O que é o regime de metas de inflação adotado no Brasil?
4. Quem define a meta de inflação no Brasil?
5. O que é o Copom e quais são as suas principais funções?
6. Quais são os principais instrumentos de política monetária de que o Ban-
co Central do Brasil dispõe?
7. Defina a taxa Selic e a taxa DI. Qual a influência dessas taxas em nossa
economia?
8. O que é um sistema de pagamentos?
9. O que é uma clearing?
10. Qual o papel das clearings no Sistema de Pagamentos Brasileiro?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDREZO, A. F.; LIMA, I. S. Mercado financeiro: aspectos históricos e conceituais. São Paulo: Pioneira,
1999.
ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
CARDIM, F. J.; PIRES, F. E.; SICSÚ, J.; RODRIGUES, L. F.; STUDART, R. Economia monetária e finan-
ceira. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
LOPES, J. C.; ROSSETTI, J. P. Economia monetária. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
BANCO CENTRAL DO BRASIL, www.bc.gov.br.
— Resolução 3.108/2003 do Conselho Monetário Nacional.
— Resolução 3.210/2004 do Conselho Monetário Nacional.
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— Circular 3.204/2003 do Banco Central do Brasil.
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— Circular 3.262/2004 do Banco Central do Brasil.
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Mercado Monetário 87

— Circular 3.157/2002 do Banco Central do Brasil.


— Circular 3.093/2002 do Banco Central do Brasil.
— Circular 3.134/2002 do Banco Central do Brasil.
— Circular 3.057/2001 do Banco Central do Brasil.
— Circular 3.101/2001 do Banco Central do Brasil.
— Lei 10.214/2001.

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