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Avaliação das Vibrações em Edificações Provocadas por Explosivos

nas Atividades de Mineração


Evaluation of Vibrations in Buildings Caused by Explosives in Mining Activities

Petrus Gorgônio Bulhões da Nóbrega (1); Claudius de Sousa Barbosa (2)

(1) Professor Associado, Departamento de Arquitetura, DARQ-CT-UFRN


(2) Professor Doutor, Departamento de Estruturas, PEF-POLI-USP
Centro de Tecnologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Campus Universitário – Lagoa Nova, Natal / RN, 59072-970
nobrega@ufrnet.br

Resumo
Atualmente, com o crescimento desordenado das cidades, a proximidade de pedreiras dos centros urbanos
é cada vez maior. De forma ampla, qualquer processo de desmonte de rocha com o uso de explosivos pode
causar diversos impactos ao meio ambiente e às pessoas, como a liberação de gases e poeiras,
ultralançamentos (arremessos de fragmentos de rocha), sobrepressão atmosférica (deslocamentos de ar),
ruídos e vibrações no solo. São situações que provocam conflitos entre as empresas de mineração e a
população em geral. Em relação às vibrações, o método mais adequado consiste em avaliar a velocidade
de propagação de partícula. Esta velocidade de vibração de partícula, normalmente expressa em mm/s, é o
parâmetro que tem proporcionado a melhor correlação na investigação de possíveis danos às estruturas
civis e às edificações, os quais também são função do tipo de construção e dos materiais utilizados. As
diferentes normas técnicas apresentam valores limites que variam de 2 mm/s a 150 mm/s, diferenciando-se
entre as construções históricas, monumentos, edifícios industriais ou para construções em concreto. Grande
parte destas normas correlaciona ainda a velocidade máxima de partícula à frequência de excitação. Este
artigo apresenta os valores limites estabelecidos em normas brasileiras, discutindo diversas de suas
prescrições. Ilustra-se a discussão teórica com resultados reais de medição das vibrações em edificações
civis provocadas por explosões decorrentes de atividades de mineração.
Palavra-Chave: análise dinâmica, vibração, explosão, mineração.

Abstract
Nowadays, with the disorderly growth of cities, the proximity of quarries to urban areas is increasing. In
general, any strip mining process using explosives can cause a variety of impacts to the environment and
people, such as the release of gases and dust, flyrock, air blasting, noise and ground vibration. These are
situations that cause conflicts between mining companies and the population. Regarding vibrations, the most
appropriate method is to evaluate the particle propagation velocity. This velocity of particle vibration, usually
expressed in mm/s, is the parameter that has provided the best correlation in the investigation of potential
damages to the civil structures and buildings. Besides that, the possible damages are function of the type of
construction and materials used. The various technical codes have limits ranging from 2 mm/s to 150 mm/s,
differentiating historic buildings from monuments or industrial buildings or concrete constructions. Most of
these regulatory codes also correlate the maximum particle velocity with the excitation frequency. This paper
presents the allowable limits established in Brazilian codes, discussing about several requirements set in that
document. Additionally to the theoretical discussion, real experimental results of vibration measurement in
buildings are shown, caused by explosions derived from mining activities.
Keywords: dynamics analyses, vibration, blasting, mining.

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1 Introdução
Atualmente, a proximidade de pedreiras dos centros urbanos é cada vez maior,
decorrendo de dois fatores principais: (a) o crescimento desordenado e a falta de
planejamento urbano que promoveram a ocupação das regiões fronteiriças das empresas
exploradoras de mineração, normalmente nos arredores das cidades; e (b) o alto custo
dos transportes no preço final do produto, que impede a mudança das áreas de extração.
Este contexto tende a gerar uma situação crescente de conflitos sociais.

De forma ampla, qualquer processo de desmonte de rocha com uso de explosivos pode
causar diversos impactos ao meio ambiente e às pessoas, como a liberação de gases e
poeiras, sobrepressão atmosférica (a propagação pelo ar das ondas de choque, que
geram os “sopros de ar”), ultralançamentos (arremessos de fragmentos de rocha), ruídos
e vibrações no solo.

Faz-se evidente que as consequências são fortemente dependentes do plano de


detonação: a quantidade da carga de explosivos, o número de linhas de furo, seu
afastamento, espaçamento e profundidade, altura e material do tampão, e diversos outros
parâmetros; bem como do tipo de rocha e de suas propriedades físicas, além dos
aspectos topográficos e da distância entre o centro da explosão e as edificações e
pessoas em questão. Além dos resultados serem função direta deste plano de detonação,
sofrem ainda certa influência (em maior ou menor escala) da temperatura, da velocidade
e direção dos ventos, da pressão atmosférica, e outras características físicas e
topográficas.

Os possíveis danos às edificações, igualmente, são função, e com grande importância, do


tipo de construção e dos materiais nela utilizados.

Em relação às vibrações, o método mais adequado consiste em avaliar a propagação de


velocidade de partícula, sendo utilizados equipamentos que fazem a leitura e o registro
instantâneo dos valores indicados nos transdutores (sensores) de aceleração ou de
velocidade (no caso da aceleração, os dados são posteriormente convertidos para
velocidade), estes sempre dispostos em três direções ortogonais. Os equipamentos
podem ser chamados de sismógrafos de engenharia, ou outra denominação, existindo
diferentes fabricantes e modelos. Existe uma série de recomendações e procedimentos
padrões a serem seguidos, normalmente indicados nas normas técnicas ou em
referências bibliográficas específicas, seja para a correta instalação dos sensores (por
exemplo, junto a pilares e cantos de construção, por meio de uma fixação rígida ao ponto
de medição) ou para a configuração dos equipamentos (por exemplo, a capacidade de
realizar a leitura em baixas frequências, a taxa de amostragem mínima, dentre outros
aspectos).

Em relação aos ruídos, a outra variável que muito incomoda a população lindeira das
pedreiras; busca-se avaliar a pressão acústica utilizando-se equipamentos conhecidos
como “decibelímetros” (medidores de pressão sonora). Para esta avaliação também
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existem diretrizes normativas, como o local de instalação do equipamento (não
demasiadamente próximo a paredes, para não sofrer influência), não haver obstáculos
naturais ou artificiais entre o local da detonação e o ponto de registro, utilizar protetor de
vento no sensor, dentre outras recomendações.

A norma brasileira que estabelece valores limites máximos dos parâmetros relativos à
atividade de mineração, acima dos quais se incorreria em danos às edificações e às
pessoas é a NBR 9653 – Guia para avaliação dos efeitos provocados pelo uso de
explosivos nas minerações em áreas urbanas, editada em 2005.

Uma segunda referência brasileira, mais recente, porém de validade estadual, é a norma
CETESB D7.013 - Avaliação e monitoramento das operações de desmonte de rocha com
uso de explosivo na mineração: Procedimento, publicada em 2015.

No plano internacional, existem diversas normas, produzidas em diferentes países


(Alemanha, Estados Unidos, Itália, França, Portugal, Espanha e muitos outros). Cita-se,
como destaque o Boletim 209 do (então) CEB (Comité Euro-International du Béton),
atualmente Fib (Fédération Internationale du Béton), caracterizando-se esta, portanto,
como uma referência multinacional.

Destaque-se que qualquer norma internacional apresenta valores limites próprios, muitas
vezes diferentes em relação às outras, em função de uma maior ou menor segurança
adotada e, às vezes, pela consideração de certos parâmetros que não são
necessariamente levados em conta pelos demais diplomas técnicos.

Neste artigo serão apresentadas algumas medições de vibrações em edificações devidas


ao funcionamento de pedreiras, as quais deram causa a conflitos com os moradores das
regiões limítrofes. Discute-se o procedimento definido pela norma brasileira NBR 9653
(2005), criticando-se algumas de suas prescrições e realizando uma comparação com os
ditames do CEB 209 (1991) e CETESB (2015).

O foco deste artigo será a avaliação das vibrações, não se detendo a respeito da pressão
acústica, embora seja este também um fator fundamental para a verificação do impacto
ambiental devido à operação das pedreiras e para a salubridade da população do seu
entorno.

2 Os Impactos da Atividade de Mineração


De acordo com Bacci et al. (2006), os impactos ambientais da exploração mineral estão
associados, de modo geral, às diversas fases de exploração destes bens, como a
abertura da cava (retirada da vegetação, escavações, movimentação de terra e
modificação da paisagem local), ao uso de explosivos no desmonte de rocha
(sobrepressão atmosférica, vibração do terreno, ultralançamento de fragmentos, fumos,
gases, poeira, ruído), ao transporte e beneficiamento do minério (geração de poeira e
ruído), afetando os meios como água, solo e ar, além da população local.
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Os autores estudaram uma pedreira situada próxima à cidade de Campinas / SP, durante
um período de um ano de monitoramento, num total de 28 desmontes e 146 medições.
Entre os diversos impactos identificados, os que mais se destacaram eram associados ao
desmonte de rocha com explosivos (sobrepressão, vibração do terreno e ruído), pois são
os que causam maior desconforto à população.

Os efeitos da sobrepressão do ar refletem-se nas estruturas pela vibração das paredes,


janelas e objetos no interior das residências. Em relação aos moradores, as
consequências decorrem muito mais pelo susto, no momento da detonação, do que pela
interferência real com as suas atividades. Algumas pessoas não sabem sequer expressar
com exatidão o que sentem, mas manifestam grande temor pelo ocorrido.

Por outro lado, as vibrações são uma decorrência inevitável de qualquer detonação, que
causa a quebra e o deslocamento das rochas pelo uso dos explosivos. Os efeitos das
vibrações, nas edificações civis, são verificados normalmente pela vibração do terreno e
consequentes fissuras nas paredes, calçadas, e outros aspectos.

Os moradores, ao sentirem o barulho da detonação, a vibração do piso e das paredes, e


os efeitos da sobrepressão do ar, normalmente confundem todas estas variáveis e
interpretam o resultado como um mal ainda maior do que o efetivamente ocorrido. Este,
em linhas gerais, é o relato de Bacci et al. (2006) e também corresponde à opinião dos
autores do presente artigo, ao fazerem medições nas vizinhanças de algumas pedreiras.

Alguns singelos exemplos a serem citados, presenciados pelos autores deste artigo, que
demonstram o desconhecimento técnico geral das pessoas leigas, mas ao mesmo o seu
receio frente a estas ocorrências, são:
(i) a interpretação (desde que sem contato visual) das vibrações provocadas pelo
tráfego de veículos pesados como aquelas decorrentes da exploração da pedreira;
(ii) a confusão ao escutar “roncos” de escapamento de veículos, ou barulhos
aleatórios de maior magnitude, com os ruídos originados pelas explosões;
(iii) o entendimento de que o tremor dos vidros das janelas, causados pelos sopros
de ar das explosões, seriam provocadas pro supostas vibrações dos solos;
(iv) a associação de que todas as fissuras visíveis das residências teriam sido
provocadas pelas detonações dos explosivos; embora as edificações nitidamente não
respeitem às especificações técnicas e procedimentos executivos mais simples da
construção civil, como a existência de vergas e contravergas, o que causa patologias;

Obviamente que alguns casos, como os relatados, podem soar como irônicos, mas é
fundamental avaliar os reais efeitos decorrentes da atividade de mineração, e comparar
com os limites admissíveis, posto que o impacto negativo sobre a população é algo
notório. Ressalta-se que estas afirmações são “proporcionais” à distância das áreas mais
urbanas e densamente povoadas. Se a comunidade for de costume “rural”, mais sensível
ela será aos impactos, por um costume aos relativos silêncio e tranquilidade do meio.

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3 Limites de Segurança Estabelecidos por Normas
3.1 NBR 9653 (ABNT, 2005)
No Brasil, a referência da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) relativa ao
assunto é a NBR 9653 – Guia para avaliação dos efeitos provocados pelo uso de
explosivos nas minerações em áreas urbanas, editada em 2005.

A variável mais importante para a avaliação dos efeitos da vibração oriundas da


detonação é a velocidade de pico de vibração de partícula (a qual será explicitada na
unidade mm/s), tendo a NBR 9653 (2005) estabelecido em seu item 4 (Critérios de
avaliação e limites recomendáveis de segurança) os limites além dos quais podem ocorrer
danos induzidos por vibrações do terreno. Eles são apresentados na tabela 1, e
graficamente na figura 1, ambos da NBR 9653; e reproduzidos nas figuras 1 e 2 abaixo.

Figura 1 – Limites da velocidade de pico, tabela 1 da NBR 9653 (ABNT, 2005).

Figura 2 – Representação gráfica dos limites da velocidade de pico, figura 1 da NBR 9653 (ABNT, 2005).

Tem-se, de forma resumida, que o limite para a velocidade de pico varia entre 15 a 50
mm/s, dependendo da frequência de excitação.
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Destaca-se que esta “velocidade de vibração de partícula de pico” é definida como o
máximo valor instantâneo de velocidade de uma partícula em um ponto durante um
determinado intervalo de tempo, considerado como sendo o maior valor dentre os valores
de pico das componentes de velocidade de vibração de partícula para o mesmo intervalo
de tempo.

Ressaltando, é o maior valor dentre os valores de pico das componentes de velocidade. O


pico da componente de velocidade, por sua vez, é o máximo valor de qualquer uma das
três componentes ortogonais de velocidade de vibração de partícula, medido durante um
dado intervalo de tempo.

Ocorre, neste contexto, que as partículas do terreno vibram com velocidades variáveis, a
partir da perturbação imposta pela explosão. A fim de que este dado fundamental seja
medido corretamente, monitoram-se simultaneamente as três componentes do movimento
em cada ponto de medição (normalmente as direções vertical, longitudinal e transversal;
podendo ser a vertical, norte-sul, e leste-oeste). Idealmente, estas três direções são
definidas em relação à reta que passa pelo ponto da detonação e pelo ponto de medição.

A velocidade de vibração de partícula resultante de pico (VR) é o máximo valor obtido


pela soma vetorial das três componentes ortogonais simultâneas de velocidade de
vibração de partícula, considerado ao longo de um determinado intervalo de tempo. Ou
seja:
VR = (VL) 2 + (VT )2 + (VV )2 (Equação 1)
Onde:
VR = Velocidade resultante de vibração de partícula, em mm/s;
VL = Velocidade de vibração, na direção longitudinal, em mm/s;
VT = Velocidade de vibração, na direção transversal, em mm/s;
VV = Velocidade de vibração, na direção vertical, em mm/s.

É importante perceber, todavia, que os limites de velocidade estão indicados em relação à


frequência de excitação, que, no caso, é a detonação da extração mineral. Assim, para os
dados lidos pelos sensores, normalmente no domínio do tempo (velocidade versus
tempo), deve ser feita uma transformação para o domínio da frequência (velocidade
versus frequência de excitação).

Isto normalmente é realizado de forma automática a partir de analisadores espectrais, e a


teoria que rege estes conceitos teóricos está fora do escopo deste trabalho.

Porém, destaca-se: pela fundamentação teórica da Análise das Vibrações, os resultados


no domínio do tempo são maiores que os do domínio da frequência, considerados
individualmente, pois neste (no domínio da frequência) ocorre a decomposição da
velocidade em cada uma das frequências, enquanto naquele (no domínio do tempo) o
valor apresentado engloba todas as frequências.

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Por fim, perceba-se que não há valores de velocidade estabelecidos para frequências
menores que 4 Hz. A Nota da tabela 1 da NBR 9653 (2005) prescreve que nesta faixa
deve ser utilizado o critério de deslocamento de partícula de pico de no máximo 0,6 mm
(de zero a pico). Este deslocamento de partícula de pico é a máxima distância na qual a
partícula se desloca segundo as direções das três componentes ortogonais.

3.2 A Norma CETESB D7.013 (CETESB, 2015)


A norma CETESB D7.013 (2015) possui competência estadual (São Paulo), mas por ser
mais recente, e tratar do mesmo assunto, é aqui citada. Contudo, nos seus objetivos, o
item 2.3 prescreve que esta norma não é aplicável para avaliações de danos estruturais
decorrentes das operações de desmonte de rochas com uso de explosivos e seus
acessórios.

Por outro lado, afirma ela estabelecer limites para a avaliação do incômodo gerado pelas
operações de desmonte de rochas com uso de explosivos e seus acessórios relacionados
à pressão acústica e vibração. Por certo a norma refere-se aos limites considerando a
tolerância humana e não aos aspectos relativos às construções, ocorrência de fissuras,
patologias ou danos estruturais.

Como valor limite, a norma CETESB D7.013 (2015) estabelece que a velocidade
resultante de vibração de partícula (VR) não poderá ser superior a 4,2 mm/s – pico.

Este é um valor no domínio do tempo, independente da frequência de excitação,


relevando-se significativamente mais conservador que o estabelecido na NBR 9653
(2005). Além de menor que o limite prescrito pela NBR, ainda refere-se ao domínio do
tempo. Ademais, não se refere ao pico de uma das componentes de velocidade, mas à
resultante, que finda, obviamente, maior que cada uma das três componentes, tomadas
individualmente.

3.3 O Boletim CEB 209 (CEB, 1991)


Pode-se afirmar que, no contexto internacional, uma importante referência é o Bulletin
d´Information 209 CEB – Vibration Problems in Structures, também detalhadamente
exposto em Bachmann et al. (1995), sendo este autor o “Chairman” do grupo de trabalho
que elaborou o CEB 209 (1991).

Este boletim possui um escopo amplo e o objetivo é essencialmente avaliar os efeitos


sobre as edificações civis (de diversos tipos, como pontes, passarelas, chaminés, torres,
marquises, lajes de piso, etc.), bem como sobre as pessoas, provenientes das vibrações
induzidas por máquinas, tráfego, vento, atividades da construção, e várias outras causas,
estabelecendo valores limites que podem provocar danos ou perturbações.

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A figura 3, que reproduz a tabela J.5 do Boletim CEB 209 (1991), prescreve os valores de
velocidade de partícula de pico máximas (vmáx) referidas ao solo, associadas a uma
vibração por explosão. Este valor vmáx está associado a uma direção normal a uma parede
ou outra direção particular. Aqui também existe uma diferenciação em relação ao tipo de
edificação, se moderna ou antiga (para esta, limite mais restritivo), detalhamento este que
não existe na norma brasileira. Perceba-se que os limites estão nas unidades mm por
segundo (mm/s) ou polegada por segundo (in/s), entre parênteses.

Figura 3 – Limites de vibração do solo (valores de pico), determinado pelo CEB 209.

Os valores da tabela 1 da NBR 9653 (2005) se assemelham razoavelmente aos


constantes do CEB 209 (1991), em parte sendo um pouco mais permissivos, e em parte
menos, em função da conformação gráfica distinta. Na NBR 9653 são duas retas
crescentes e uma constante, enquanto que no CEB 209 são duas retas constantes
definindo duas faixas. A figura 4 ilustra a curva “CEB 209 a” (referente às edificações
modernas), a curva “CEB 209 b” (às edificações antigas) e a curva da NBR 9653 (2005).

Figura 4 – Comparação entre limites da NBR 9653 (2005) e CEB 209 (1991).

A figura 5, por sua vez, que reproduz a tabela J.4 do Boletim CEB 209 (1991), prescreve
os valores de velocidade máxima de partícula (ou de pico), em mm/s, que podem ser
registradas nas edificações. Estes limites estão associados ao tipo de solo (se areia,
argila, granito, gnaisse, etc.) e aos efeitos que podem produzir nas estruturas (relativo à
magnitude das fissuras). Este nível de diferenciação também não existe na norma
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brasileira, o que leva à adoção de valores mais conservadores, o que é natural. Observa-
se, ademais, que quanto mais rígido e rochoso for o solo (ao contrário do arenoso ou
argiloso), maior o limite admissível.

Figura 5 – Limites de vibração versus risco de dano, determinado pelo CEB 209.

4 Exemplos de Resultados Experimentais


A figura 6 ilustra a colocação dos transdutores em direções ortogonais, captando as
alterações de movimento do ponto onde estão fixados. Destaca-se que podem ser usados
três sensores uniaxiais (que são os casos ilustrados), ou um sensor triaxial (que na
verdade é uma composição de três uniaxiais, encapsulados em conjunto).

Figura 6 – Exemplos de colocação de sensores em direções ortogonais em edificações civis.

A figura 7 ilustra o computador portátil onde está instalado o programa de aquisição e


análise de dados e que realiza a análise espectral. Apresenta-se ainda a imagem da tela
do equipamento com os resultados da velocidade ao longo do tempo.

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Figura 7 – Exemplo de monitoramento com os resultados de diversos sensores.

A figura 8 apresenta os gráficos de velocidade para um ponto de monitoramento. São


apresentados três gráficos, pois são três as componentes de direção, ortogonais, onde se
pode perceber os valores de pico. Este não é o gráfico completo de todo o intervalo de
tempo de medição, mas apenas o trecho onde ocorre o(s) pico(s) devido à detonação.

Figura 8 – Gráficos (simultâneos) das velocidades das três componentes de direção.

Os valores das velocidades de pico encontrados são: direção vertical = 0,407 mm/s;
direção transversal 1 = 0,778 mm/s, e direção transversal 2 = 0,858 mm/s. Isto na escala
do tempo (eixo horizontal é o tempo real), como ilustra a figura 8.

Estes são valores relativamente baixos, pois se tratou, neste caso específico, de uma
“detonação-teste” já no intuito de adequar a conduta da mineradora de forma que
provocasse menos impactos à população do entorno da pedreira. A distância do local de
explosão ao de medição (residências mais próximas), por sua vez, também não era
desprezível, cerca de 900m, pois a área pertencente ao empreendimento de extração
mineral constituía-se em uma gleba de terra relativamente grande.

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Tomando-se de forma conservadora os valores medidos das velocidades ao longo do
tempo e realizando a comparação dos mesmos com os limites estabelecidos pela NBR
9653, verificou-se que todos os picos registrados são significativamente inferiores ao
menor limite estabelecido pela NBR 9653 (2005), que é igual a 15 mm/s. Idem em relação
ao CEB 209 (1991), posto que este máximo corresponde a 13 mm/s, já levando em conta
a pior das situações (residências antigas).

Tem-se, adicionalmente, que a velocidade resultante VR2 = VL2 + VT2 + VV2. Observe-se
que estas três componentes de velocidade devem ser registradas no mesmo instante
temporal. Os valores de pico informados anteriormente, entretanto, não necessariamente
ocorrem simultaneamente. Poder-se-ia, é verdade, definir com facilidade esta velocidade
resultante, pois se tem a listagem completa dos registros de cada um dos sensores.
Todavia, de forma conservadora, tomar-se-á a velocidade resultante como a raiz
quadrada da soma dos quadrados das velocidades de pico, implicando VR = 1,228 mm/s.

O resultado (conservador, frise-se) atende, inclusive, à norma CETESB D7.013 (2015),


que estabelece o valor máximo de VR = 4,2 mm/s.

Ocorre, contudo, como já dito, que os resultados obtidos experimentalmente (figura 8)


estão indicados no domínio do tempo. A comparação mais correta seria considerá-los no
domínio da frequência, e compará-los em relação aos limites indicados na NBR 9653, ou
em relação ao CEB 209. Assim, executa-se uma transformação dos resultados do
domínio do tempo para o da frequência.

A figura 9 (a) apresenta a velocidade de um dos três sensores ortogonais, e a figura 9 (b)
o da resultante VR (correta, registro a registro), por faixa de frequência, superposta à
curva limite da norma brasileira. Os resultados situam-se muito abaixo dos limites.

Velocidade de vibração - Sensor 3 Velocidade de vibração - Resultante


100,0000 100,0000

10,0000 10,0000
Velocidade de particula - sensor 3 (mm/s)

Velocidade de particula - Resultante (mm/s)

1,0000 1,0000

0,1000 0,1000

0,0100 0,0100

Velocidade - sensor 3

0,0010
Limites de velocidade de 0,0010 Velocidade - Resultante
particula - NBR-9653 (2005)
Limites de velocidade de particula
- NBR-9653 (2005)
0,0001
0,0001
1 10 100
1,0 10,0 100,0
Frequência (Hz)
Frequência (Hz)

(a) (b)
Figura 9 – Gráfico das velocidades (domínio da frequência) em comparação com limites da NBR 9653.

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5 Discussão de Alguns Procedimentos Normativos
A NBR 9653 (2005) traz ainda a recomendação de diversos procedimentos normativos,
sendo alguns merecedores de ponderação, ao menos breve. Nem todos estão listados
abaixo, apenas alguns, os mais pertinentes a este artigo.

Quanto ao posicionamento dos sensores, a norma estabelece:


a) Deve-se instalá-los junto a pilares e cantos de construção, quando a medição for
executada em locais onde existam edificações;
b) O transdutor deve ser fixado rigidamente ao solo, objeto da medição, e na sua
impossibilidade pode ser fixado à estrutura. Em caso de superfície rígida, esta fixação
deve ser com gesso ou outro material adesivo que torne o transdutor o mais
perfeitamente solidário ao meio de propagação (rocha ou estrutura).

Estes procedimentos parecem corretos e é até preferível fixar os transdutores realmente


na estrutura da edificação, ou em um canto de parede, quando o objetivo for avaliar as
vibrações que a mesma está submetida.

Quanto às características do equipamento de medição da velocidade de partícula:


c) A NBR 9653 sempre o define como “sismógrafo de engenharia”;
d) o equipamento deve registrar os valores de velocidade de vibração em três
direções mutuamente perpendiculares, e em milímetros por segundo.

Embora o termo “sismógrafo de engenharia” não seja incorreto, pois a definição de sismo
não se restringe a terremotos (embora este seja o tipo mais conhecido), mas sim a
qualquer movimento ou tremor de terra, traz a ideia que possa existir um sismógrafo que
“não seja de engenharia”. Não há sentido nesta diferenciação. Além do mais, podem-se
combinar diversos equipamentos, fisicamente distintos, para montar um “sismógrafo”,
como um sistema de aquisição de dados e de análise espectral instalado em um
computador portátil, acrescido de sensores (havendo tipos distintos, uni ou multi-axiais)
realizando a mesma tarefa de um dito sismógrafo, peça única. Sobre o registro, o
equipamento nunca executa a leitura direta da velocidade, mas de pulsos elétricos que
são convertido (por uma escala adequada) a valores de velocidade, ou aceleração, ou
mesmo deslocamento. Estas três variáveis são interdependentes, podendo-se calcular, a
partir de uma delas, as outras duas, através das operações matemáticas de integração ou
derivação. O texto faz crer que a leitura é feita diretamente em velocidade, o que é irreal.

Quanto às características dos transdutores:


e) O transdutor deve realizar medição da velocidade;

Conforme já inicialmente discutido acima, pode-se ter outros transdutores que, na


verdade, não fazem a leitura/registro da velocidade, mas sim das acelerações (os
acelerômetros, que podem ser do tipo capacitivos, piezoelétricos ou resistivos). Os
acelerômetros são a grande maioria dos equipamentos, em contraste com outros que
focam na grandeza velocidade, em si. Sendo assim, a norma deveria trocar este termo
“transdutor de velocidade”, que se revela inadequadamente restritivo.
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6 Conclusões
Neste artigo foi apresentada uma discussão, de forma didática, da metodologia de
avaliação das vibrações em edificações provocadas por explosivos nas atividades de
mineração. Este é um problema que tende a crescer continuamente, em função da
proximidade cada vez maior das pedreiras das aglomerações urbanas, causado pelo
crescimento desordenado das cidades.

Apresentaram-se as prescrições da principal norma brasileira, NBR 9653 (2005),


confrontando-se seus ditames com os da recente publicação CETESB D7.013 (2015) e os
do tradicional e detalhado Boletim CEB 209 (1991).

A fim de se ilustrar todos estes conceitos e procedimentos, um estudo de caso real foi
discutido.

Por fim, deve-se ressaltar a necessidade de atualização e aprofundamento da norma


brasileira que trata deste tema, o qual não incorporou certas variáveis de projeto, a
exemplo de outras normas internacionais. Por exemplo, a especificação a respeito do tipo
de estrutura (função do material utilizado, e/ou sua idade, e/ou sua importância histórica)
a ser protegida das vibrações. Sabe-se que este tema é razoavelmente complexo, mas
que a ele deve ser dada uma devida atenção técnica.

7 Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Guia para avaliação dos efeitos
provocados pelo uso de explosivos nas minerações em áreas urbanas – NBR 9653.
Rio de Janeiro, 2005.

BACCI, D. L. et al. Aspectos e impactos ambientais de pedreira em área urbana. Revista


da Escola de Minas, Ouro Preto, 59(1): 47-54, jan. mar. 2006.

BACHMANN, H. et al. Vibration Problems in Structures: Practical Guidelines. Basel,


Birkhäuser, 1995.

COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Avaliação e monitoramento


das operações de desmonte de rocha com uso de explosivo na mineração: Procedimento
– D7.013. São Paulo, 2015.

COMITÉ EURO-INTERNATIONAL DU BÉTON (CEB-FIP). Vibration Problems in


Structures. Bulletin d´Information 209. CEB, Lausanne, 1991.

ANAIS DO 59º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2017 – 59CBC2017 13

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