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Resumo
Atualmente, com o crescimento desordenado das cidades, a proximidade de pedreiras dos centros urbanos
é cada vez maior. De forma ampla, qualquer processo de desmonte de rocha com o uso de explosivos pode
causar diversos impactos ao meio ambiente e às pessoas, como a liberação de gases e poeiras,
ultralançamentos (arremessos de fragmentos de rocha), sobrepressão atmosférica (deslocamentos de ar),
ruídos e vibrações no solo. São situações que provocam conflitos entre as empresas de mineração e a
população em geral. Em relação às vibrações, o método mais adequado consiste em avaliar a velocidade
de propagação de partícula. Esta velocidade de vibração de partícula, normalmente expressa em mm/s, é o
parâmetro que tem proporcionado a melhor correlação na investigação de possíveis danos às estruturas
civis e às edificações, os quais também são função do tipo de construção e dos materiais utilizados. As
diferentes normas técnicas apresentam valores limites que variam de 2 mm/s a 150 mm/s, diferenciando-se
entre as construções históricas, monumentos, edifícios industriais ou para construções em concreto. Grande
parte destas normas correlaciona ainda a velocidade máxima de partícula à frequência de excitação. Este
artigo apresenta os valores limites estabelecidos em normas brasileiras, discutindo diversas de suas
prescrições. Ilustra-se a discussão teórica com resultados reais de medição das vibrações em edificações
civis provocadas por explosões decorrentes de atividades de mineração.
Palavra-Chave: análise dinâmica, vibração, explosão, mineração.
Abstract
Nowadays, with the disorderly growth of cities, the proximity of quarries to urban areas is increasing. In
general, any strip mining process using explosives can cause a variety of impacts to the environment and
people, such as the release of gases and dust, flyrock, air blasting, noise and ground vibration. These are
situations that cause conflicts between mining companies and the population. Regarding vibrations, the most
appropriate method is to evaluate the particle propagation velocity. This velocity of particle vibration, usually
expressed in mm/s, is the parameter that has provided the best correlation in the investigation of potential
damages to the civil structures and buildings. Besides that, the possible damages are function of the type of
construction and materials used. The various technical codes have limits ranging from 2 mm/s to 150 mm/s,
differentiating historic buildings from monuments or industrial buildings or concrete constructions. Most of
these regulatory codes also correlate the maximum particle velocity with the excitation frequency. This paper
presents the allowable limits established in Brazilian codes, discussing about several requirements set in that
document. Additionally to the theoretical discussion, real experimental results of vibration measurement in
buildings are shown, caused by explosions derived from mining activities.
Keywords: dynamics analyses, vibration, blasting, mining.
De forma ampla, qualquer processo de desmonte de rocha com uso de explosivos pode
causar diversos impactos ao meio ambiente e às pessoas, como a liberação de gases e
poeiras, sobrepressão atmosférica (a propagação pelo ar das ondas de choque, que
geram os “sopros de ar”), ultralançamentos (arremessos de fragmentos de rocha), ruídos
e vibrações no solo.
Em relação aos ruídos, a outra variável que muito incomoda a população lindeira das
pedreiras; busca-se avaliar a pressão acústica utilizando-se equipamentos conhecidos
como “decibelímetros” (medidores de pressão sonora). Para esta avaliação também
ANAIS DO 59º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2017 – 59CBC2017 2
existem diretrizes normativas, como o local de instalação do equipamento (não
demasiadamente próximo a paredes, para não sofrer influência), não haver obstáculos
naturais ou artificiais entre o local da detonação e o ponto de registro, utilizar protetor de
vento no sensor, dentre outras recomendações.
A norma brasileira que estabelece valores limites máximos dos parâmetros relativos à
atividade de mineração, acima dos quais se incorreria em danos às edificações e às
pessoas é a NBR 9653 – Guia para avaliação dos efeitos provocados pelo uso de
explosivos nas minerações em áreas urbanas, editada em 2005.
Uma segunda referência brasileira, mais recente, porém de validade estadual, é a norma
CETESB D7.013 - Avaliação e monitoramento das operações de desmonte de rocha com
uso de explosivo na mineração: Procedimento, publicada em 2015.
Destaque-se que qualquer norma internacional apresenta valores limites próprios, muitas
vezes diferentes em relação às outras, em função de uma maior ou menor segurança
adotada e, às vezes, pela consideração de certos parâmetros que não são
necessariamente levados em conta pelos demais diplomas técnicos.
O foco deste artigo será a avaliação das vibrações, não se detendo a respeito da pressão
acústica, embora seja este também um fator fundamental para a verificação do impacto
ambiental devido à operação das pedreiras e para a salubridade da população do seu
entorno.
Por outro lado, as vibrações são uma decorrência inevitável de qualquer detonação, que
causa a quebra e o deslocamento das rochas pelo uso dos explosivos. Os efeitos das
vibrações, nas edificações civis, são verificados normalmente pela vibração do terreno e
consequentes fissuras nas paredes, calçadas, e outros aspectos.
Alguns singelos exemplos a serem citados, presenciados pelos autores deste artigo, que
demonstram o desconhecimento técnico geral das pessoas leigas, mas ao mesmo o seu
receio frente a estas ocorrências, são:
(i) a interpretação (desde que sem contato visual) das vibrações provocadas pelo
tráfego de veículos pesados como aquelas decorrentes da exploração da pedreira;
(ii) a confusão ao escutar “roncos” de escapamento de veículos, ou barulhos
aleatórios de maior magnitude, com os ruídos originados pelas explosões;
(iii) o entendimento de que o tremor dos vidros das janelas, causados pelos sopros
de ar das explosões, seriam provocadas pro supostas vibrações dos solos;
(iv) a associação de que todas as fissuras visíveis das residências teriam sido
provocadas pelas detonações dos explosivos; embora as edificações nitidamente não
respeitem às especificações técnicas e procedimentos executivos mais simples da
construção civil, como a existência de vergas e contravergas, o que causa patologias;
Obviamente que alguns casos, como os relatados, podem soar como irônicos, mas é
fundamental avaliar os reais efeitos decorrentes da atividade de mineração, e comparar
com os limites admissíveis, posto que o impacto negativo sobre a população é algo
notório. Ressalta-se que estas afirmações são “proporcionais” à distância das áreas mais
urbanas e densamente povoadas. Se a comunidade for de costume “rural”, mais sensível
ela será aos impactos, por um costume aos relativos silêncio e tranquilidade do meio.
Figura 2 – Representação gráfica dos limites da velocidade de pico, figura 1 da NBR 9653 (ABNT, 2005).
Tem-se, de forma resumida, que o limite para a velocidade de pico varia entre 15 a 50
mm/s, dependendo da frequência de excitação.
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Destaca-se que esta “velocidade de vibração de partícula de pico” é definida como o
máximo valor instantâneo de velocidade de uma partícula em um ponto durante um
determinado intervalo de tempo, considerado como sendo o maior valor dentre os valores
de pico das componentes de velocidade de vibração de partícula para o mesmo intervalo
de tempo.
Ocorre, neste contexto, que as partículas do terreno vibram com velocidades variáveis, a
partir da perturbação imposta pela explosão. A fim de que este dado fundamental seja
medido corretamente, monitoram-se simultaneamente as três componentes do movimento
em cada ponto de medição (normalmente as direções vertical, longitudinal e transversal;
podendo ser a vertical, norte-sul, e leste-oeste). Idealmente, estas três direções são
definidas em relação à reta que passa pelo ponto da detonação e pelo ponto de medição.
Por outro lado, afirma ela estabelecer limites para a avaliação do incômodo gerado pelas
operações de desmonte de rochas com uso de explosivos e seus acessórios relacionados
à pressão acústica e vibração. Por certo a norma refere-se aos limites considerando a
tolerância humana e não aos aspectos relativos às construções, ocorrência de fissuras,
patologias ou danos estruturais.
Como valor limite, a norma CETESB D7.013 (2015) estabelece que a velocidade
resultante de vibração de partícula (VR) não poderá ser superior a 4,2 mm/s – pico.
Figura 3 – Limites de vibração do solo (valores de pico), determinado pelo CEB 209.
Figura 4 – Comparação entre limites da NBR 9653 (2005) e CEB 209 (1991).
A figura 5, por sua vez, que reproduz a tabela J.4 do Boletim CEB 209 (1991), prescreve
os valores de velocidade máxima de partícula (ou de pico), em mm/s, que podem ser
registradas nas edificações. Estes limites estão associados ao tipo de solo (se areia,
argila, granito, gnaisse, etc.) e aos efeitos que podem produzir nas estruturas (relativo à
magnitude das fissuras). Este nível de diferenciação também não existe na norma
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brasileira, o que leva à adoção de valores mais conservadores, o que é natural. Observa-
se, ademais, que quanto mais rígido e rochoso for o solo (ao contrário do arenoso ou
argiloso), maior o limite admissível.
Figura 5 – Limites de vibração versus risco de dano, determinado pelo CEB 209.
Os valores das velocidades de pico encontrados são: direção vertical = 0,407 mm/s;
direção transversal 1 = 0,778 mm/s, e direção transversal 2 = 0,858 mm/s. Isto na escala
do tempo (eixo horizontal é o tempo real), como ilustra a figura 8.
Estes são valores relativamente baixos, pois se tratou, neste caso específico, de uma
“detonação-teste” já no intuito de adequar a conduta da mineradora de forma que
provocasse menos impactos à população do entorno da pedreira. A distância do local de
explosão ao de medição (residências mais próximas), por sua vez, também não era
desprezível, cerca de 900m, pois a área pertencente ao empreendimento de extração
mineral constituía-se em uma gleba de terra relativamente grande.
Tem-se, adicionalmente, que a velocidade resultante VR2 = VL2 + VT2 + VV2. Observe-se
que estas três componentes de velocidade devem ser registradas no mesmo instante
temporal. Os valores de pico informados anteriormente, entretanto, não necessariamente
ocorrem simultaneamente. Poder-se-ia, é verdade, definir com facilidade esta velocidade
resultante, pois se tem a listagem completa dos registros de cada um dos sensores.
Todavia, de forma conservadora, tomar-se-á a velocidade resultante como a raiz
quadrada da soma dos quadrados das velocidades de pico, implicando VR = 1,228 mm/s.
A figura 9 (a) apresenta a velocidade de um dos três sensores ortogonais, e a figura 9 (b)
o da resultante VR (correta, registro a registro), por faixa de frequência, superposta à
curva limite da norma brasileira. Os resultados situam-se muito abaixo dos limites.
10,0000 10,0000
Velocidade de particula - sensor 3 (mm/s)
1,0000 1,0000
0,1000 0,1000
0,0100 0,0100
Velocidade - sensor 3
0,0010
Limites de velocidade de 0,0010 Velocidade - Resultante
particula - NBR-9653 (2005)
Limites de velocidade de particula
- NBR-9653 (2005)
0,0001
0,0001
1 10 100
1,0 10,0 100,0
Frequência (Hz)
Frequência (Hz)
(a) (b)
Figura 9 – Gráfico das velocidades (domínio da frequência) em comparação com limites da NBR 9653.
Embora o termo “sismógrafo de engenharia” não seja incorreto, pois a definição de sismo
não se restringe a terremotos (embora este seja o tipo mais conhecido), mas sim a
qualquer movimento ou tremor de terra, traz a ideia que possa existir um sismógrafo que
“não seja de engenharia”. Não há sentido nesta diferenciação. Além do mais, podem-se
combinar diversos equipamentos, fisicamente distintos, para montar um “sismógrafo”,
como um sistema de aquisição de dados e de análise espectral instalado em um
computador portátil, acrescido de sensores (havendo tipos distintos, uni ou multi-axiais)
realizando a mesma tarefa de um dito sismógrafo, peça única. Sobre o registro, o
equipamento nunca executa a leitura direta da velocidade, mas de pulsos elétricos que
são convertido (por uma escala adequada) a valores de velocidade, ou aceleração, ou
mesmo deslocamento. Estas três variáveis são interdependentes, podendo-se calcular, a
partir de uma delas, as outras duas, através das operações matemáticas de integração ou
derivação. O texto faz crer que a leitura é feita diretamente em velocidade, o que é irreal.
A fim de se ilustrar todos estes conceitos e procedimentos, um estudo de caso real foi
discutido.
7 Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Guia para avaliação dos efeitos
provocados pelo uso de explosivos nas minerações em áreas urbanas – NBR 9653.
Rio de Janeiro, 2005.