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Por inerência do título da obra, Prelúdio, aquilo que anuncia o que há-de vir,
sugere-se que eventualmente existam outros projectos editoriais do autor e que este
pensa em construir uma obra e não apenas um agrupamento de livros. Por consequência,
entendendo o presente título como manifesto introdutório da produção de um conjunto
de livros que se pretendem organizar coerentemente para se constituírem em obra, o
subtítulo deste livro-prelúdio, Dito Interdito, tem força de título, na medida em que se
liga intrinsecamente com muitos dos elementos temáticos constantes no livro,
estabelecendo-se, assim, uma relação de macrotextualidade, não entre título e textos,
mas sim entre textos e subtítulo.
Ismael Farinha apresenta uma poesia experimentalista que defende a tese de que
a poesia é ritmo, som, e, consequentemente, faz do extracto sonoro o elemento
recreativo e criativo, criando circunstâncias acústicas nas quais a linguagem numérica,
de compreensão, aglutina-se a elementos grafemáticos como morfemas e grafemas:
10fazer de ti não dá
10ajeitado, 10agradado
100ti sua falta
(…)
10cartei propostas
10ta vez 100 você
(…)
20buscar no 10aforo
(p.14)
Sugiro que prestemos atenção ao último verso que nos oferecemos à leitura,
Facto de fato é facto, que aponta para o aspecto sociocultural do fato, enquanto vestimenta
que sugere uma postura politicamente e condição social de privilégio. Quer-se dizer
com este verso que, ocorrendo um facto, a forma como te vestes pode determinar a
disseminação do facto, sugerindo-se de fato o facto torna-se ainda mais notório.
A obsessão pela exploração do extracto sonoro é tão evidente que para
impressionar através do movimento acústico, Farinha forja versos em que o processo de
homonímia é incomum e se constrói na leitura do sintagma, não se dando palavra com
palavra, mas palavra com as unidades sintácticas com as quais se relacionam
homonimicamente durante o acto de leitura.
Apesar a pensar pesar, senti sem ti
Depressão de pressão, consenso com senso
(p.15)