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GAROTO LEVADO - POR THEO BRAVO

CONCEITO DE DIREÇÃO – GAROTO LEVADO – POR THEO BRAVO

“Garoto Levado” é um curta-metragem de comédia, que tem como tema o


romance jovem consequente das influências da normalização do consumo da
indústria da pornografia e da violência. É uma narrativa clássica, dividida em três
atos, com dois pontos de viradas. É importante observar que o conceito de direção
ocorre de maneira progressiva, se tornando mais intenso com o decorrer do curta.

No primeiro ato, temos a apresentação dos dois principais personagens da


história: Julia e Gabriel. Ambos são jovens e se colocam em cena de maneira
desconfortável e ansiosa, inexperientes, embora haja uma clara tentativa, nos dois,
de impressionar. Já de cara, nota-se que estão em um quarto de motel. A aparência
do local propõe um “mood” romântico, “brega”, aveludado. O quarto é contaminado
por vermelho, paredes e pisos de veludo, claramente mal lavados e muito usados. A
intenção é criar um contraste entre os personagens e sua relação, e o local “impuro”
que se encontram. Gabriel é tímido e sem jeito, Julia se porta amorosamente. O tom
do filme, no entanto, é quente e sensual. O uso de planos mais fechados nos
personagens coloca certa intimidade com os personagens, ao mesmo tempo que
não sabemos nada sobre quem são ou sua relação, gerando desconforto,
principalmente no momento em que Julia e Gabriel começam a se atracar. Até que
Gabriel decide fazer sua grande proposta: ele pede para que Julia bata nele, como
nos filmes pornôs sadomasoquistas. O menino não tem certeza do que está
pedindo, tão pouco a menina do que está fazendo, mas depois do primeiro tapa,
ambos se empolgam com a situação.

A partir daí se tem a primeira virada para o segundo ato, assim como começa
a se revelar quem de fato é a protagonista da história: Julia. A garota, em busca de
satisfazer o companheiro, não dosa a força das pancadas e acerta Gabriel em
cheio. O mesmo desmaia, mas Julia pensa que tudo faz parte do teatro sexual que
estavam fazendo. Até então, o clima intimista da câmera é o mesmo. Ela se
empolga, atingindo extremos para torturar o garoto sexualmente. Nesse momento, o
jogo de câmera é rápido, mostrando vários objetos aleatórios adquiridos, deixando a
mercê do espectador o que a menina pode estar fazendo para tentar “entreter
sexualmente” seu parceiro com ele. Até que retorna o ritmo padrão. Julia, ao
quebrar uma lâmpada e finalmente parar com os jogos sexuais, tenta falar com
Gabriel e percebe que o mesmo não responde. Com a lâmpada quebrada, a
iluminação do quarto passa a ser um misto entre a luz fria do banheiro e da lua, com
a luz quente das velas, que vem de baixo, o que dá um ar misterioso e levemente
sombrio para a cena.

O conflito se desenrola com Julia chamando seu grande amigo, Felipe, para
o local, afim de conseguir ajuda para Gabriel. No entanto, Felipe é, notavelmente,
por suas posturas, vestes e jeito cantado de falar, extremamente prepotente e,
apesar do jeito doce, tem como único objetivo fazer sexo com Julia. Ele a impede
de chamar ajuda e a convence a resolver tudo por meio de pesquisas no google.
Para esse momento, a referência de direção é o seriado adolescente “Riverdale”.
Em um momento de maior calmaria, enquanto esperam Gabriel acordar, o momento
cresce para o romance, novamente. Dessa vez, entre Felipe e Julia. O amigo
começa a investir em uma conversa agridoce com a menina, enquanto Gabriel
permanece mórbido ao fundo. Ao tentar beijar Julia, a câmera tem pouca
profundidade de campo, criando um clima quase milagroso com o garoto em
chamas ao fundo. Este é o fim do segundo ato.

O terceiro ato se inicia com os dois amigos realizando que Gabriel está em
chamas, no chão. O clima agora é bem mais caótico. Felipe mostra seu lado
“heroico/medroso”, ao se prontificar para salvar o garoto mas não fazer nada. A historia se
desenrola com o fogo sendo apagado. A câmera, nesse momento, tenta captar um
momento caótico, de forma estática. Contra plonges dos rostos preocupados, planos
estáticos com os personagens entrando e saindo em meio as ações corridas e planos muito
próximos, quase invasivos. Dessa forma, será captado a ação de forma incompleta, dando
margem à imaginação do espectador, o instigando a querer mais e o incomodando por não
o fazer. Felipe propõe, mais uma vez, que Julia fique com ele. E mais uma vez, sendo
rejeitado. Ela ama Gabriel. Esse é o plano final. Uma estética completamente mórbida, no
entanto, extremamente romântica e carinhosa, um casal apaixonado na banheira.

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