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3. DO CASO.
Em 1989, um século após a transição do processo de escravidão formal
para a informal, José Pereira Ferreira, com apenas 17 anos, foge com um
companheiro, o Paraná, da fazenda Espírito Santo.
Na fazenda, eles e outros 60 trabalhadores haviam sido forçados a
trabalhar sem remuneração e em condições desumanas e ilegais.
Os métodos utilizados para privar-lhes efetivamente de sua liberdade
são a violência pura e simples, mediante um esquema de endividamento
que é uma verdadeira armadilha. Depois que chegam à fazenda se dão
conta que as promessas feitas quando foram contratados, baseadas num
preço acordado por hectare trabalhado, são falsas visto que o trabalho em
geral é muito mais duro que o antecipado. Além disso, ao chegarem à
fazenda são informados que devem dinheiro à fazenda pelos gastos de
transporte, comida e habitação, tanto durante a viagem quanto no seu
lugar de trabalho. Quando descobrem que foram enganados, já é tarde, pois
não podem deixar a fazenda nem deixar de trabalhar, até que paguem
suas “dívidas”, e são ameaçados de morte se tentarem escapar. Em
alguns casos, devem trabalhar sob a mira de pistoleiros armados que os
vigiam. As fazendas estão distantes de qualquer tipo de transporte, o que
torna muito difícil fugir delas.
Diante da situação em que se encontram, resolvem fugir. Após a fuga,
foram emboscados por funcionários da propriedade que, com tiros de fuzil,
mataram “Paraná” e acertaram a mão e o rosto de José Pereira. Caído de
bruços e fingindo-se de morto, ele e o corpo do companheiro foram enrolados
em uma lona, jogados atrás de uma caminhonete e abandonados na rodovia
PA-150, a vinte quilômetros da cena do crime. Na fazenda mais próxima,
José Pereira pediu ajuda e foi encaminhado a um hospital.
Esse caso ficou conhecido como “caso Zé Pereira” e a sua denúncia e
divulgação levaram a importantes, mas tardios, desdobramentos para o
combate ao trabalho análogo à escravidão na sociedade brasileira.
4. DA LEGISLAÇÃO APLICADA.
No caso de José Pereira ficou demonstrado que Brasil infringiu
vários artigos da [Declaração Americana dos Direitos e Deveres], entre
eles:
Art. 207 - Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra
localidade do território nacional:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
§ 1º - Incorre na mesma pena quem recrutar trabalhadores fora da
localidade de execução do trabalho, dentro do território nacional,
mediante fraude ou cobrança de qualquer quantia do trabalhador, ou,
ainda, não assegurar condições do seu retorno ao local de origem.
§ 2º - A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima é menor de
dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de deficiência física ou
mental.
Foi dito ainda, que a Polícia Federal não investigou desde 1987 as
denuncias referentes à fazenda Espírito Santo, o caso José Pereira só foi
investigado após muita insistência de grupos de Direitos Humanos e só após 4
anos da denuncia do referido caso.( Omissão )
Ainda na petição foi dito que o processo do caso José Pereira foi dividido
em dois: um contra o administrador da fazenda, o qual, foi condenado por
dois anos de reclusão com prestação de serviços comunitários por dois
anos, mas não cumprida, pois, prescreveu. O outro processo contra os
outros quatro réus, que foragidos tiveram sua prisão preventiva
decretada, mas também não cumprida. (Impunidade / Ineficiência )
5. DA DECISÃO.
Este caso foi um marco em relação aos direitos humanos, pois, a partir
do acordo feito entre o Estado brasileiro e a Comissão Internacional de Direitos
Humanos, várias medidas têm sido implementadas no sentido de coibir esse
tipo penal, que englobou desde modificações legislativas até.
7. CONSIDERACÕES FINAIS.
Segundo alegações das peticionárias deste caso, durante o biênio 1992-
93, anos imediatamente anteriores à denúncia, a Comissão Pastoral da Terra
(CPT), organização de direitos humanos da Igreja Católica, registrou 37 casos
de fazendas onde imperava o trabalho em condições de escravidão, que
afetavam 31.426 trabalhadores.