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O olhar psicopedagógico na avaliação das dificuldades de aprendizagem

The look of psychology in the assessment of learning difficulties

Edvânia Silva Tavares Xavier1

Abstract
This article has the objective of training the psycho-pedagogy in the school
institution, however, the exposure of a case study that involves the problematic
of learning disorders correlated to photophobia, this in turn, leading to the
investigation and survey of the suspected Syndrome, and Irlen, allegedly
suffered by a student, a teenager, in public schools, of the State of
Pernambuco. According to experts in the field of ophthalmology, the
photophobia is aversion or intolerance to light, it is not a disease, but a
symptom that associated with the apparent disorders of the deficits of learning
arremeta the hypothesis of the Syndrome Irlen, a difficulty that includes the
visual system and the ability to be more critical of the learning that is to read.
The S. I. is a change visuoperceptual, caused by an imbalance of the capacity
of adaptation to the light that produces changes in the visual cortex, and deficits
in reading. Unlike photophobia, she is not identified in eye examinations
conventional, the way to identify it is by examining the ability of vision, held in
the Foundation of the Hospital de Olhos de Minas Gerais, is the only one in
Brazil that has a laboratory of applied research to the neurovisão, the LAPAN.
Nevertheless when that was clear, throughout this investigative process is due
to the fact look psychology. In this case, with the use of specific instruments
such as the ANAMNESIS and the EOCA, the psycho-pedagogy not only
evaluates an issue, but contributes to the advancement of scientific discoveries,
in order to improve the quality of life of the people.

Keywords: Photophobia; Psychopedagogy; Syndrome Irlen

Resumo
Este artigo tem o objetivo de qualificar a psicopedagogia na instituição escolar,
apropriando-se da exposição de um estudo de caso que envolve a
problemática de transtornos de aprendizagem correlacionada à fotofobia, esta
por sua vez, conduzindo à investigação e levantamento da suspeita de
Síndrome de Irlen, supostamente sofrida por um estudante, adolescente, da
rede pública de ensino, do Estado de Pernambuco. De acordo com
especialistas da área de oftalmologia, a fotofobia é a aversão ou intolerância à
luz, não é uma doença, mas um sintoma que associado aos aparentes
transtornos dos déficits de aprendizagem arremeta a hipótese da Síndrome de
Irlen, uma dificuldade que compreende o sistema visual e a habilidade mais
crítica da aprendizagem que é ler. A S.I. é uma alteração visuoperceptual,
causada por um desequilíbrio da capacidade de adaptação à luz que produz

1
Pós-Graduanda em Psicopedagogia Clínica e Institucional – Universidade Estácio de Sá.
Graduada em Licenciatura Matemática – Universidade Estácio de Sá.
Email: jae_xavier@hotmail.com
alterações no córtex visual e déficits na leitura. Ao contrário da fotofobia, ela
não é identificada nos exames oftalmológicos convencionais, a forma de
identifica-la é pelo exame de habilidade de visão, realizado na Fundação do
Hospital de Olhos de Minas Gerais, é o único no Brasil que tem um laboratório
de pesquisa aplicada à neurovisão, o LAPAN. Não obstante ao que fora
esclarecido, todo este processo investigativo se deve ao fato do olhar
psicopedagógico. Neste caso, com o uso de instrumentos específicos como a
ANAMNESE e a EOCA, a psicopedagogia não apenas avalia um problema,
mas, contribui para o avanço das descobertas científicas, visando melhorar a
qualidade de vida das pessoas.

Palavras-chave: Fotofobia; Psicopedagogia; Síndrome de Irlen

Introdução
O conteúdo deste artigo surgiu a partir das observações de atuação da
psicopedagoga Ana Maria Alexandre de Oliveira, lotada na Escola Conselheiro
Samuel Mac Dowell, localizada na cidade de Camaragibe, Pernambuco, quem,
dentre as tantas avaliações que realiza, destaca-se a do caso de um estudante
que sofre com fotofobia e que de acordo com ela, há a hipótese de que esta
esteja associada à Síndrome de Irlen.
Este artigo vai discorrer sobre fotofobia como um dos sintomas da
Síndrome de Irlen, outro assunto a ser tratado neste trabalho, considerando o
caso do estudante, atualmente cursando o 9º ano do Ensino Fundamental na
Escola Conselheiro Samuel Mac Dowell, bem como o relato de suas queixas,
incômodos, desconfortos e os prejuízos que afetaram e ainda afetam ao seu
aprendizado.
A importância da avaliação psicopedagógica para a descoberta de que o
referido estudante sofre com fotofobia, bem como o levantamento da hipótese
de que ela esteja relacionada com a Síndrome de Irlen, visando, além de
avaliar, intervir, facilitar as decisões trans, inter e multidisciplinares que incidem
não apenas em sua postura escolar, mas em todas as situações que ele venha
a vivenciar na sua trajetória de vida é evidenciada na análise dos resultados.
Através dessa análise vai ser possível compreender a importância da
psicopedagogia no ambiente escolar e a partir de qual até que ponto o
psicopedagogo pode intervir com as suas colaborações, oferecendo de forma
contributiva ao desenvolvimento cognitivo e à autonomia na realização de
diversas tarefas não apenas deste estudante, mas de qualquer pessoa que
sofra com Síndrome de Irlen, tendo como sinal de manifestação a fotofobia.
Desenvolvimento
Conhecida como aversão, hipersensibilidade ou intolerância à luz natural
ou artificial, a fotofobia pode ser provocada por várias doenças dos olhos como
infecções, inflamações e alergias, dentre outras, mas, também pode ser o
resultado de doenças não relacionadas aos olhos, como as neurológicas, que
por sua vez, provocam as síndromes ou os distúrbios, acarretando déficits
sensórios-cognitivos ao longo do desenvolvimento humano, por exemplo.
Dentre as mais variadas queixas de quem sofre com fotofobia,
destacam-se a dificuldade de sair ao sol e dores de cabeça. Qualquer pessoa,
de qualquer idade está sujeita a sofrer com fotofobia.
Segundo os especialistas, para descobrir a qual doença está associada
à fotofobia, é preciso que se façam exames específicos nos centros
oftalmológicos e quando necessário for, até mesmo, nos centros neurológicos,
já que a fotofobia envolve um esforço nos nervos oculares.
Os exames neurológicos são importantes porque pode acontecer de a
fotofobia não está relacionada à distúrbios oftalmológicos algum, mas vir a ser
conduzida por outros distúrbios neurológicos e por sua vez, afetando outras
áreas do desenvolvimento humano, como a dos processos cognitivos, com o
risco de comprometer a leitura e aprendizado.
Na revista Veja Bem, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), o
oftalmologista Pedro Carricondo explica que,
Fotofobia é uma condição visual que faz com que a pessoa
reaja quando seus olhos estão expostos à claridade (natural ou
artificial), sendo esta intensa ou até mesmo regular. [...] A
reação da pessoa que sofre com esta condição é respondida a
partir da dificuldade que a mesma enfrenta em abrir os olhos
ou mantê-los abertos, em ambientes relativamente claros (Veja
Bem, nº 6, ano 03, 2015, p. 10).

Ele ressalta que “a fotofobia pode ser desencadeada tanto por


problemas visuais quanto por causas sistêmicas” e que, portanto, “não existe
tratamento específico para “curar” o paciente que sofre com fotofobia”. Então,
“o melhor a fazer é estabelecer a causa para reduzir os sintomas” de “uma
sensibilidade dos olhos a qualquer tipo de luminosidade”.
O oftalmologista ainda esclarece que,
Usar óculos escuros em ambientes externos e diminuir a
intensidade da luz em locais fechados podem ajudar a diminuir
os sintomas de quem sofre com esta sensibilidade. Lembrando
que é importante manter uma periodicidade regular com um
especialista para melhor acompanhamento do caso (Veja Bem,
nº 6, ano 03, 2015, p. 11).

No entanto, se mediante os exames oftalmológicos for descartada


qualquer doença dos olhos que provoque a fotofobia e ainda assim os seus
desconfortos persistirem em incomodar, se faz necessário partir para a
observação da adaptação e processamento cognitivo do paciente através da
área visual do cérebro.
Isto é, observar se quem sofre com fotofobia apresenta outros
desconfortos tais quais sejam o estresse e esforço ao realizar leitura, déficit de
atenção, sonolência, ansiedade e nervosismo, dificuldade em acompanhar
objetos em movimento, náuseas e/ou tonturas ao ler, dentre tantos outros,
embora, haja dotação de inteligência e agilidade de raciocínio na maioria dos
casos por quem esteja sofrendo com fotofobia.
Neste sentido, para Jean Piaget, a inteligência e a percepção propõem a
ideia central da “Teoria da Forma”, que rege, simultaneamente, “a percepção, a
motricidade e as funções elementares quanto o próprio raciocínio e, em
especial o silogismo” e, segue afirmando que “a atividade perceptiva não é o
único meio de incubação de que dispõem as operações de inteligência e estas,
entretanto, por sua vez, “encontram-se em estreita conexão a própria
percepção (Piaget, 2013).2
Ou seja, não é porque uma pessoa esteja sofrendo com fotofobia que
ela não possua capacidade intelectual.
Assim sendo, como os olhos são os meios para a organização
perceptiva, entre outras funções, eles imprimem, de acordo com Piaget, “uma
placa fotográfica”, onde, “as intensidades de impressão dependem da
probabilidade de encontro entre os fótons que bombardeiam a placa e as
partículas de sal de prata que a compõem” (Piaget, 2013, p.119).
Assim, dentro da variação estética que envolve cor, textura, sombra,
brilho e luz, são necessários meios de estimulação como o uso de contrastes

2
A Psicologia da Inteligência / Jean Piget; tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira,
2013.
para obtenção de uma leitura visual impactante e de melhor compreensão
sensorial.
Por conseguinte, a fotofobia pode estar associada a essas variações
estéticas, dado em que, havendo as manifestações de desconfortos relativos à
percepção e ao desenvolvimento da capacidade intelectual que conduzem ao
aprendizado significativo por meio da leitura verbal e/ou não-verbal, há a
necessidade de se investigar o caso a fundo.
Acerca desse assunto, em entrevista ao programa Cris Guerra, a
oftalmologista Dr.ª Márcia Guimarães, explica que o olho usa o comprimento de
onda eletromagnético, transformando-o em estímulo na retina, o que por sua
vez, é convertido para estímulos neurológicos. O cérebro, então, faz
associações e forma as imagens.
Assim, a oftalmologista lança e sugere estudar não apenas a anatomia
visual ou a ótica do olho, mas de estudar a habilidade que o cérebro tem de
juntar todas as informações enviadas pela retina, transformando-a em
formação de cor, textura, o significado, o movimento, o formato entre outros, e
que, para tanto, o olho precisa estar bom, é preciso observar o
desenvolvimento da visão, o qual acontece em paralelo ao longo do
desenvolvimento humano em todos os níveis de sensibilidade.
Sendo assim, ela propõe estudos e técnicas de tratamento neurovisuais,
ou seja, a análise de todo processamento cerebral das informações enviadas
pelos olhos, suas funções e distúrbios3.
Estudos neurovisuais são solicitados ao paciente quando se constata a
normalidade do olho após terem sidos feitos todos os exames oftalmológicos
possíveis para se descobrir a causa de determinado sintoma.
Neurovisão, portanto, nas palavras da fisioterapeuta e especialista no
assunto, Dr.ª Cláudia Diniz, “é a área da ciência que estuda a visão do olho até
o cérebro e analisa todo o processamento que o cérebro faz da informação
recebida pelos olhos. Vai além do exame somente ocular feito numa consulta
com o oftalmologista.
Ainda segundo a Dr.ª Cláudia, o processamento neurovisual é a
decodificação daquilo que chega cérebro pelos olhos. Ele se dá pela
“compreensão do que acontece atrás do globo ocular, é compreender o que o
3
Fundação Hospital de Olhos – Belo Horizonte, MG.
cérebro faz, separadamente, com os diferentes comprimentos de onda da luz
que vem na luz branca, do sol, da lâmpada acesa, da tela do computador”, por
exemplo.
Para ela, “às vezes, um desses comprimentos de onda pode produzir
uma perturbação no processo e atrapalhar toda a visão do indivíduo”. Muitas
vezes, por exemplo, “uma criança com esse tipo de atrapalho, apresenta
dificuldades na escola” e que mesmo demonstrando “inteligência, não
conseguem ler ou quando tentam, se queixam de cansaço, se estressam,
mudam de humor e acabam ficando com a sua habilidade cognitiva prejudicada
por uma dificuldade que se suspeita que seja visual”.
Assim, quando uma criança ou qualquer pessoa que apresente, com
frequência, uma hipersensibilidade à luz (natural ou artificial) nos olhos é uma
demonstração de perturbação visual, então, a neurovisão analisa o jeito do
funcionamento visual do cérebro diante luz recebida.
Essa perturbação visual do cérebro provocada pela presença da luz
caracteriza transtorno ou síndrome em detrimento das habilidades cognitivas,
perceptivas e ativas da pessoa que apresente quadro de hipersensibilidade à
luz (natural ou artificial).
Para a Dr.ª Márcia Guimarães, o desconforto neurovisual manifestado
pela fotofobia somado aos problemas pautados no comprometimento do
processo de aprendizagem, os quais muitas vezes aparentam serem déficits
como dislexia ou TDAH, caracteriza, de modo peculiar, uma síndrome
descoberta na década dos anos 80 pela psicóloga e pesquisadora norte-
americana Hellen Irlen, ficou conhecida como Síndrome de Irlen e que desde
então, vem sendo investigada nos centros de diagnósticos e tratamento em
diversos países, já incluindo o Brasil, na Fundação Hospital de Olhos de Minas
Gerais, sob a direção e coordenação da Dr.ª Márcia Guimarães e do Dr.
Ricardo Guimarães.
De acordo com a Dr.ª Márcia,
A Síndrome de Irlen (S.I.) é uma alteração visuoperceptual,
causada por um desequilíbrio de capacidade de adaptação à
luz que produz alterações no córtex visual e déficits na leitura.
Tem caráter familiar, caso em que um ou ambos os pais
também sofrem em graus e dificuldades variáveis e suas
manifestações são mais evidentes nos períodos de maior
demanda de atenção visual4.
São manifestações de desconforto da Síndrome de Irlen:
 Lacrimejamento
 Esfregar os olhos constantemente
 Fazer sombra nos olhos enquanto ler
 Apertar e/ou piscar os olhos excessivamente
 Pedir para trocar de lugar devido à fotofobia
 Enxaquecas após provas longas
São sinais da Síndrome:
 Dificuldade com a percepção de profundidade
 Cefaléia
 Cansaço visual crescente e irritabilidade
 Perda de concentração
 Baixo rendimento escolar/acadêmico
 Impressão de ofuscamento no texto
São sintomas da S.I.:
 Fotofobia
 Estresse e esforço ao realizar leitura
 Déficit de atenção
 Baixa concentração durante atividades e provas
 Dor de cabeça, sonolência
 Dificuldade de dirigir à noite
 Ansiedade e nervosismo
 Dificuldade de acompanhar objetos em movimento
 Náuseas, tontura, dor no estômago ao ler
A Síndrome de Irlen pode causar prejuízos em habilidades tais como:
 Dirigir automóveis
 Prática de esporte com bola
 Coordenação motora fina e grossa

4
Síndrome de Irlen - http://fundacaoholhos.com.br/artigos/sindrome-de-irlen-dra-marcia-
guimaraes/
 Habilidades musicais
 Percepção de profundidade
 Coordenação espaço temporal
A S.I. é identificada através Método Irlen, feita por profissionais da saúde
e da educação capacitados pelo Método que envolve questionários de
caracterização e de habilidades acadêmicas. Após classificado o grau de
intensidade das dificuldades visuoperceptuais do suspeito, é feito o teste de
screening, procedimento no qual ocorre a indução do estresse em atividades
com alta demanda visuointencional e posteriormente, após sobreposição de
uma lâmina colorida individualmente selecionada, esta por sua vez, determina
a transparência ideal para que o indivíduo que sofre com a Síndrome Irlen
possa passar a usá-la sobre o texto durante a leitura, obtendo benefícios
imediatos no conforto visual, fluência e compreensão.
Todo este processo de triagem é feito por profissionais tais como o
oftalmologista, psicólogos, neurologistas, fonoaudiólogos, psiquiatras,
pedagogos e psicopedagogos, entre outros profissionais capacitados na área
em que atuam, mas, que dialogam entre si.
Especificamente a participação da psicopedagogia é de fundamental
importância para a triagem da Síndrome de Irlen no indivíduo, seja ele
acadêmico ou ser aprendente em qualquer etapa de sua vida. Lembrando que
a S.I. foi diagnosticada por meio de uma pesquisa realizada entre um grupo de
adultos considerados analfabetos funcionais pela leitura deficiente e baixa
escolaridade, embora demonstrassem habilidades no trabalho que realizavam.
Então, a psicopedagogia colabora justamente pesquisando, estudando e
analisando as questões relacionadas ao comportamento responsivo do ser
enquanto aprendente, visando possibilitar adaptações necessárias ao
desenvolvimento cognitivo, lançando mão de variadas intervenções,
proporcionando estrutura, organização e constância, satisfatórias ao processo
de ensinagem.
Em casos onde uma população de professores ou ensinantes reporta ao
psicopedagogo da instituição queixas que envolvam distrações visuais de
determinado estudante ou aprendente conduzindo-os, assim, ao desvio do
trabalho ou da atividade a ser realizada, este profissional, por sua vez, inicia
uma série de observações dos fatores que vão do socioeconômico e dos
anatômicos e fisiológicos até aos neurossensoriais.
Ao perceber sintomas tais como a alta sensibilidade à luz, a restrição do
campo visual periférico, a dor de cabeça e as dificuldades de manter o foco
durante a leitura e de adaptação a contrastes e concentração no sujeito
aprendente, que são sinais de fotofobia relacionados com a Síndrome de Irlen,
o psicopedagogo atuando de forma interventora por meio de processos e
estratégias, trabalha, segundo a doutora e mestre em educação, Ligia de
Carvalho Abões Varcelli:
As condições adversas de aprendizagem da criança e do
adulto a fim de que recuperem a autoestima perdida no
percurso escolar, levando-os a perceber que possuem
potencialidades e que são capazes de realizar as atividades
escolares. (Revista Espaço Acadêmico, nº 139, ano XII, 2012,
p. 72)
O estado de quem sofre com S.I. manifestada em fotofobia é, na maioria
das vezes, confundido com o de quem é dislexo ou com o de quem sofre com
TDAH, por possuírem características comuns com a Síndrome de Irlen, mas,
que quando o sujeito passa pela triagem psicopedagógica, inicialmente a
anamnese, e o psicopedagogo não chega à conclusão precisa de um distúrbio
como Dislexia ou TDAH, ele passa, então, a contar com o apoio de uma equipe
multidisciplinar em casos clínicos como o oftalmologista, fonoaudiólogo,
psicólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e neurologista, por exemplo.
Quando o estudante é precisamente diagnosticado com Síndrome de
Irlen, o psicopedagogo, por sua vez, de acordo com Varcelli (apud Bossa),
deve:
Auxiliar o professor e demais profissionais nas questões
pedagógicas e psicopedagógicas; orientar os pais; colaborar
com a direção para que haja um bom entrosamento entre todos
os integrantes da instituição e, principalmente, ajudar o aluno
que esteja sofrendo, qualquer que seja a causa. (Revista
Espaço Acadêmico, nº 139, ano XII, 2012, p. 74)
De acordo com a Dr.ª Márcia Guimarães, a intervenção na Síndrome de
Irlen neutraliza o ponto crítico de manifestação do problema que a pessoa tem
com luminância, propiciando, assim, a solução para o problema de Irlen por
meio de tratamento com overlays (lâminas coloridas de sobreposição no texto)
e filtros de bloqueio espectral seletivo, ambas prescritas exclusivamente por
oftalmologistas através de testes específicos.
Neste caso, de acordo com Varcelli (2012), “a intervenção
psicopedagógica tem um caráter preventivo e deve contemplar a instituição
escolar como um todo”, fazendo com que “a escola seja a solução e não o
problema” à construção da aprendizagem e do conhecimento, realizando “o
diagnóstico institucional para identificar problemas que estão interferindo no
processo ensino/aprendizagem dos alunos envolvidos” e assim, colaborar na
reelaboração dos projetos pedagógicos, a fim de favorecer um processo de
ensino/aprendizagem saudável e prazeroso.

Análise dos resultados


O roteiro de confecção deste artigo começou no segundo semestre do
ano de 2015, a partir da observação de atuação da psicopedagoga Ana Maria
Alexandre de Oliveira, lotada na Escola Conselheiro Samuel Mac Dowell,
localizada na cidade de Camaragibe, Região Metropolitana de
Recife/Pernambuco, onde, cujos professores levaram ao conhecimento dessa
profissional o caso de um estudante, cujo nome não será mencionado neste
artigo por questões éticas, até então, de 12 anos de idade e que cursara o 7º
ano.
Os professores observaram que aquele estudante aparentava não ter
interesse em estudar, pois não copiava o conteúdo exposto no quadro, não
participava das atividades propostas em sala de aula, bem como também não
fazia as atividades propostas para casa e como não poderia ser diferente,
apresentava baixo desempenho nas provas bimestrais.
Quanto ao comportamento em sala de aula, segundo os professores, o
estudante não demonstrava interesse para estudar, aparentava estar sonolento
o tempo todo ou fazia muito esforço para ler o que estava no quadro e assim
poder copiar para o caderno e quando conseguia fazer a cópia, a caligrafia saía
desregular.
O que mais chamava a atenção dos professores era que na maioria das
vezes ele sempre ficava com óculos escuros em sala de aula e quando lhe era
solicitado a retirada dos óculos, ele se queixava por não conseguir olhar para o
“clarão” do quadro ou ficar de olhos totalmente abertos em meio à
luminosidade do ambiente.
Seu aspecto era o de um garoto com baixa autoestima, modo infantilizado
no falar e inabilidade de socialização.
Em seu artigo, Amorim e Silva Junior, refletem sobre a importância do
auxílio psicopedagógico na busca pela obtenção de êxito para o ensino de
crianças com dificuldades cognitivas ou especiais. (Amorim e Silva Junior apud
Parga, 2016, p. 68), “de fato, um olhar mais atento sobre os problemas de
aprendizagem nos possibilita a observação da interação sujeito e objeto,
revelando-nos a trama dialética da objetividade e da subjetividade na qual o
sujeito está inserido”.
Então, com este olhar mais atento, a psicopedagoga Ana Maria Alexandre
de Oliveira, passou a observar o desempenho do estudante, visitando a sua
sala de aula afim de sondar o processo sociointeracionista o qual ele próprio
escolheu como adequado para o seu conforto visuoperceptual e em paralelo às
suas ações psicopedagógicas, começou a pesquisar sobre a problemática
apresentada pelo estudante, visando conhecer técnicas adequadas às
intervenções e específicas no caso, bem como, proporcionar métodos
pedagógicos prazerosos e satisfatórios ao ensino/aprendizagem do mesmo.
Posteriormente, em reunião com os professores da turma a qual o
estudante faz parte, a psicopedagoga os orienta quanto ao olhar diferenciado
para ele, de modo que, a postura adotada por cada professor viesse a ser
colaborativa ao processo de ensino/aprendizagem do estudante e assim, pelo
menos em maioria, foi firmado o compromisso de parceria institucional entre os
professores e a psicopedagoga Ana Maria Alexandre de Oliveira.
O passo seguinte foi convidar os pais/responsáveis pelo estudante para
uma reunião, onde estiveram presentes, além dos mesmos, o estudante, a
Gestora escolar, a Técnica em Assuntos Educacionais da escola, a própria
psicopedagoga Ana Maria Alexandre de Oliveira, bem como, a autoria
responsável pela pesquisa deste artigo.
Nesta reunião, com o objetivo de levantar hipóteses que pudessem
justificar o “déficit” do estudante, bem como encontrar auxílio na seleção de
outros instrumentos do diagnóstico com base nas hipóteses levantadas,
psicopedagoga delineou sua investigação aplicando a técnica da anamnese
psicopedagógica, com a qual:
 Foram levantados os dados gerais do estudante (nome, data de
nascimento, filiação, irmãos, endereço, meios de contato);
 Foram ouvidas as queixas dos pais acerca do desconforto
apresentado pelo estudante;
 Foi levantado um histórico e observada a evolução da queixa
(quando começou, quais os motivos, o que os pais fizeram/fazem
diante do problema, repercussões sociais e como os pais se
sentem diante desta problemática);
 Foram ouvidas as considerações do pai e da mãe sobre a escola
onde o filho estuda atualmente (o critério de escolha da escola,
como foi a entrada do filho nela, qual é a opinião que tanto os pais
quanto o estudante têm da escola, a evolução do estudante nesta
escola percebida pelos pais, as suas contribuições no processo de
escolarização atual do filho, o horário e o local onde o filho prefere
fazer as atividades propostas para casa, se há e quais as
dificuldades/obstáculos de realizar essas atividades sozinho, se os
pais costumam procurar os professores para saber que opinião têm
sobre o desempenho escolar do filho, se há ajuda extraescolar,
como o filho se relaciona com os colegas de classe, algum fato da
história escolar do filho faz lembrar a história dos pais e/ou a dos
irmãos);
 Foram ouvidos os relatos da concepção do estudante, o período de
gestação, as condições financeiras/ambientais/emocionais do
nascimento, bem como o histórico concepcional de sua mãe;
 Também foram relatados os processos de desenvolvimento,
hábitos de alimentação, psicomotricidade, manipulações e atitudes
relacionadas ao caráter do estudante, sociabilidade, reações
emocionais, doenças, ambiente familiar e higiene.
Encerrada a etapa da anamnese e diante das hipóteses levantadas, a
representação da equipe de gestão escolar e os pais, estes ainda que
resistentes por algum momento, concordaram com a psicopedagoga Ana Maria
Alexandre de Oliveira que seria necessário ao estudante uma consulta ao
oftalmologista, ao psicólogo e ao fonoaudiólogo. Ainda ficou acertado que o
estudante passaria a ter Atendimento Educacional Especializado por três vezes
semanais, no contraturno escolar com a mesma psicopedagoga responsável
por todo o processo de observação e investigação, frequentando a Sala de
Recursos Multifuncionais disposta dentro da própria escola.
O intervalo de tempo entre a reunião institucional e o encontro com os
responsáveis pelo estudante foi de aproximadamente 30 a 45 dias, devido a
disponibilidade temporal de seus pais.
Durante o período de atendimento com o estudante, a psicopedagoga
realizou a EOCA, Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem,
evidentemente que não viu a necessidade de questionar alguns pontos, tendo
em vista que os mesmos já haviam sido esclarecidos na anamnese.
A frequência do estudante ao Atendimento Educacional Especializado era
baixa, segundo a psicopedagoga, a cooperação da família seria extremamente
importante na busca por uma solução eficaz ao problema enfrentado por ele e
que por isso, o aprofundamento e processo de tratamento no caso ficou
comprometido.
De acordo com Ana Maria Alexandre de Oliveira, participou de um evento
de formação para profissionais da área, promovido pelo Estado no ano de
2016, onde tomou conhecimento da Síndrome de Irlen, pois até então, não
havia encontrando nada relacionado ao quadro apresentado no caso do
estudante e, estando de posse das respostas obtidas na anamnese e na
EOCA, além das queixas prestadas pelos professores, ela associou uma
informação à outra e levantou a hipótese de que o mesmo estivesse sofrendo
com Síndrome de Irlen.
Passado um período, os pais do estudante trouxeram o resultado do
oftalmologista, o qual constatou que o mesmo sofre com fotofobia.
Informalmente, o pai do estudante confirmou que o filho passou a ter
atendimento psicológico no CAPES da cidade e que, portanto, não seria mais
necessário que ele continuasse no Atendimento Educacional Especializado,
“para não se cansar”. A consulta de fonoaudiologia nunca foi confirmada pelos
pais.
Esta pesquisa foi encerrada no dia 30 de outubro de 2017 com uma
entrevista à psicopedagoga Ana Maria Alexandre de Oliveira, na qual foram
debatidos pontos tais quais sejam:
1. O estudante foi para a consulta oftalmológica?
Ana Maria: Sim.
2. Foi confirmado que o estudante sofre com fotofobia?
Ana Maria: Sim.
3. O estudante passou a ter atendimento psicológico?
Ana Maria: Sim, no CAPES.
4. Você chegou a receber algum parecer do atendimento psicológico
do estudante?
Ana Maria: Não, pois a família parecia não estar dando ênfase ao
transtorno apresentado pelo estudante.
5. Neste ano de 2017 o estudante continua tendo Atendimento
Educacional Especializado?
Ana Maria: Não, embora deveria vir, mas, segundo o pai dele, não
seria necessário já que ele vem recebendo atendimento
psicológico no CAPES.
6. Qual o seu parecer psicopedagógico sobre o quadro do estudante
relacionado às queixas dos professores referente ao antes, durante
e depois do período que o mesmo frequentou o Atendimento
Educacional Especializado?
Ana Maria: Não houve a evolução ou melhoria esperada por parte
do estudante, até porque, como os pais foram orientados a levá-lo
para o CAPES, não retornaram à escola para conversar comigo.
Fiquei sabendo por acaso, através do próprio pai quando o vi na
secretaria da escola, pois fora buscar uma declaração, que o
estudante estava indo para o CAPES.
Quando a sua mãe veio conversar comigo, se limitou em falar que
o filho estava indo para o CAPES.
Quanto aos professores, ao perguntar sobre o estudante, a
resposta é bem evasiva.
7. Num sentido genérico, você continua com as intervenções
psicopedagógicas neste caso, então?
Ana Maria: Sim, estou sempre em contato com os professores,
mesmo o estudante não tendo entrado para o Atendimento
Educacional Especializado, devido ao impasse familiar.
8. Você permite que o seu nome seja citado em determinados
momentos neste artigo?
Ana Maria: Sim.
Para a psicopedagoga, a eficiência do trabalho psicopedagógico se dá
mediante a parceria ininterrupta entre a família e a escola, pois assim, o
estudante vai encontrar o apoio necessário à superação das dificuldades que
vem enfrentando e prejudicando o processo de sua aprendizagem.
Ela ressalta essa importância mencionando os exemplos de casos
analisados no decorrer desta pesquisa e dos que havia tomado conhecimento
nas formações que participou durante o período que este artigo vinha sendo
confeccionado. Foram casos onde as dificuldades puderam ser resolvidas ou
neutralizadas porque a família prosseguiu com os tratamentos indicados e a
escola proporcionou as vias adequadas para a eficácia do processo/ensino
aprendizagem.
Para ela, portanto, o trabalho do psicopedagogo chega a ser limitado
principalmente com a falta de parceria entre a família e a escola, mas, o olhar
psicopedagógico, vai além. De acordo com ela, é possível transpor essa
barreira, embora, os meios e estratégias de intervenção percorram por um
longo caminho.

Conclusões
A presença de um profissional de psicopedagogia na instituição escolar
é importante não apenas pelos atendimentos e intervenções que ele realiza,
mas, principalmente, pela investigação da problemática apresentada pelo
aprendente. O psicopedagogo analisa, estuda, pesquisa, ordena e coordena
como cada caso é devidamente tratado.

Pela problemática de fotofobia relacionada à Síndrome de Irlen,


pressuposta pela psicopedagoga Ana Maria Alexandre de Oliveira e após
terem sido realizados os procedimentos fundamentais à descoberta, ao
levantamento de hipóteses e posterior confirmação ou não dos fatos, ficou
evidente que o planejamento institucional, o envolvimento familiar e o apoio
multidisciplinar de outras especialidades profissionais não teria sido possível
de ocorrer se não houvesse a presença e atuação de um profissional
psicopedagogo.

Diante do exposto, não basta ser psicopedagogo institucional, é preciso


ir além de uma avaliação quanto à queixa ou problemática apresentada, pois,
nem sempre o que parece, o é de fato. Investigar, levantar hipóteses, planejar
e aplicar métodos eficazes de intervenção, não determina a solução definitiva
do problema porque, fatores externos ao ambiente escolar, como a família, por
exemplo, precisam dar suporte a este trabalho psicopedagógico. Porém, nem
sempre este apoio é oferecido e isso acaba impossibilitando o sucesso
gradativo da intervenção, bem como, o progresso do desenvolvimento do
estudante que sofre com Síndrome de Irlen, manifestada pela fotofobia.

Referências
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