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Psicologia Hospitalar

Luto e Comunicação de Más Notícias


Professora Vitoria Nathalia do Nascimento
• Qual o sentido da
morte?
• O que acontece
quando alguém morre?
• Como diferenciar um
luto normal e o luto
complicado?
• Quais intervenções são
mais eficazes e para
quem?
“A morte é soberana e é a situação
limite de todos os seres humanos que
vivem. Sendo assim, há que se indagar:
existe a possibilidade de se ter o
controle sobre a morte do outro? A
resposta é negativa, pois também se
acredita não ser possível ter o controle
sobre a vida do outro. O trabalho do
psicoterapeuta, portanto, não deve ser
o de evitar a morte, mas, de fato, o de
promover a ampliação de situações nas
quais o cliente possa se sentir vivo.”
Luto
• A maioria das mortes ocorre na 3ª idade;
• Metade da população feminina está viúva depois dos 65
anos;
• As causas externas são responsáveis por uma parte
menor das mortes, precedida pelas neoplasias e doenças
do aparelho circulatório;
• A população que morre por causas externas é, geralmente,
composta por jovens, mortos por assassinato, suicídio ou
acidentes automobilísticos.
Luto
“Luto é o custo do compromisso
• Rituais sociais de luto; (Parkes, 1998)”.
• Crenças e significados sobre a
morte;
• Formas culturais de expressar e
compartilhar a dor da perda;
• Demarca socialmente o tempo do
luto; VÍNCULO
Representações do luto no último milênio (ARIÉS, 1981)

§ IDADE MÉDIA - Morte em massa, naturalizada;

§ RENASCIMENTO – através da arte e dos sermões puritanos;

§ SÉCULO XIX – movimento romântico e da subjetividade do luto


(experiência de separação).

§ SÉCULO XX – secularização da morte e do luto e privatização da


experiência de sofrimento - Psicologia do Luto
Denominações sobre a experiência de luto ao longo do
século XX

• Luto é uma doença (Engel, 1960): envolve uma etiologia(perda)


e provoca danos à saúde.

• Luto como uma síndrome (Lindemann, 1944): envolve uma


sintomatologia específica.

• Luto como um processo (Parkes, 1988): é um conjunto de


emoções, ações e eventos que se sucedem ao longo do
tempo (grief process).
• QUAIS SÃO OS
PROCESSOS
PROCESSO ENVOLVIDOS?
• Reações?
DE LUTO Sintomatologia?
Intervenção
Perda é um evento percebido antecipadamente ou não.

REAÇÕES INDIVIDUAIS E RELACIONAIS

Emocional ! profunda dor mental, perda de interesse e a inibição das atividades (Freud,
1017/1974) – “ausência” do outro em si

Comportamental ! Busca pela pessoa perdida - reações de anseio e protesto (Bowlby, 1961) –
desamparo/sobrevivência

Cognitiva ! dar sentido à perda (Neimeyer, 2001) – falta de sentido

! Realinhamento das relações familiares (Walsh e Mcgoldrick, 1998) – desequilíbrio na


Reação familiar organização e dinâmica familiar
MODELOS TEÓRICOS SOBRE O PROCESSO DE
LUTO

Psicanalítica
Etológica Cognitivista

TRABALHO DE LUTO TRANSIÇÃO


FASES DE LUTO
(hipótese grief (Bowlby, 1961/1990
PSICOSSOCIAL
work) Freud (Parkes, 1988)
1017/1974)

Cognitivo-comportamental
Sistêmica

MODELO DUAL DO PROCESSO DE PROCESSO FAMILIAR DE LUTO


LUTO (Walsh e McGoldrick, 1998)
(Stroebe e Schut, 1999)
• ENTORPECIMENTO – choque e incredulidade,
sentimento de estar vivendo num sonho. Pode
durar até uma semana ou mais, e ser mesclado
por acessos de raiva e tristeza;
• ANSEIO E PROTESTO - raiva, angústia,
desespero, inquietação física e psíquica, desejo de
reencontro. O enlutado fica à procura da pessoa
perdida;
• DESORGANIZAÇÃO – é a fase mais difícil, lenta e
dolorosa, desamparo, provocando apatia, tristeza
profunda, raiva, depressão e desmotivação para a
vida;
• RESTITUIÇÃO – sentimentos renovados e
adaptação as mudanças, tornando possível o
investimento afetivo em novas situações ou figuras
de apego.
• Dar sentido para a perda vivida (Por
que perdi? Por que eu? Por que deste
jeito?)

• Encontro de benefícios na perda (O


que aprendi? Crescimentos obtidos)

• Mudança na identidade (Quem sou


eu agora? O que é importante para
mim?)
Trajetórias de luto: normal e complicada

Luto Normal Luto Complicado


• “[...] uma reação emocional à • É denominado como um
situação de luto, coerente com significativo desvio do que é
determinadas normas, dadas as esperado pelas normas da cultura
circunstâncias e implicações da no curso do tempo ou na
morte, com respeito ao tempo, intensidade das reações,
curso e intensidade dos sintomas” comprometendo o funcionamento
(Stroebe, Hannson, Schut & social e ocupacional, além de
Stroebe, 2008, p. 6) outras áreas da vida (Stroebe
Hannson, Schut & Strobe, 2008)
Luto Complicado
Luto inibido Luto adiado
• O enlutado não
demonstra reações de • O enlutado tem
luto durante semanas ou consciência da sua dor,
mais tempo, podendo mas por outras
transportar consigo uma circunstâncias adia a
dor não resolvida e vivência do luto.
negada, podendo emergir
mais tarde por
circunstâncias banais. • Ex. viuvez precoce X
filhos pequenos.
"reações distorcidas de
luto”.
LUTO CRÔNICO

• Caracteriza-se pela intensidade e


magnitude das reações à perda desde
o início do processo, mas que não
diminuem após os seis meses.

• A pessoa mantém-se num profundo e


doloroso luto como forma de vida,
tendo efeitos negativos na saúde
física e emocional a curto, médio e
longo prazo.
Luto antecipatório

• Cuidados paliativos têm se mostrado importantes para


aceitação da morte, ter a oportunidade de se despedir,
resolver questões pendentes de forma a não deixar em
aberto pontos de arrependimento;
• Conferências familiares: espaço aberto para escuta da
família, sendo possível conhecer e compreender seus
pensamentos, sentimentos, medos, angústias e, a partir
disso, responder a tais necessidades, além de ajudar a
promover o enfrentamento da situação
• Reverbera em segurança da rede familiar em relação aos
cuidados com o paciente e com a equipe
INTERVENÇÃO NO LUTO

• Intervenções primária e secundária – auxilia na facilitação


do luto normal (lidar com os estressores) dentro de um
tempo determinado.
• Avaliação de todos enlutados visando identificar
condições, recursos e fatores de risco.
Comunicação de más
notícias
• Diagnóstico de doença grave, transferência
para UTI, prognóstico reservado e óbito;
• Comunicação de diagnósticos, condutas
médicas, constatação e declaração do óbito
são responsabilidades do profissional médico;
• Psicólogo tem muito a contribuir e colaborar
com a equipe multiprofissional ANTES,
DURANTE ou DEPOIS da comunicação em si
ocorrer.
Comunicação
de más
noticias
• 1. ANTES: A atuação tem o objetivo de dar suporte e
orientação à equipe; E/OU iniciar a construção de
vínculo com o paciente, avaliar sua compreensão e
auxiliar no ajuste de expectativas.
• 2. DURANTE: A atuação tem o objetivo de acompanhar
a comunicação, oferecer apoio ao paciente e facilitar a
compreensão das informações.
• 3. APÓS: A atuação tem o objetivo de dar suporte
psicológico (emocional, cognitivo, prático) ao paciente;
verificar o que foi escutado e compreendido e auxiliar
no processo de assimilação da informação pelo
paciente. Também é possível oferecer apoio à equipe,
já que algumas notícias são realmente muito difíceis de
dar.
Luto durante a pandemia

• Ofício do CFP sobre o papel do psicólogo na comunicação dos óbitos


durante a pandemia:
• https://site.cfp.org.br/cfp-publica-recomendacoes-sobre-comunicacoes-de-
obito-por-psicologasos/
• Processo de luto durante a pandemia da COVID-19
• https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/wp-content/uploads/2020/04/Saúde-
Mental-e-Atenção-Psicossocial-na-Pandemia-Covid-19-processo-de-luto-
no-contexto-da-Covid-19.pdf
Avaliação do fatores de risco para o luto complicado

üIdade do enlutado;
üMomento da perda no ciclo vital da família;
üModo de funcionamento da família;
üPersonalidade ou alguma vulnerabilidade pessoal;
üPessoas que tem evidências de transtorno psiquiátricos;
üFalta de apoio social;
üVínculo dependente e ambivalência;
üPerdas invertidas, repentinas e traumáticas;
üOutros estresses associados à morte.
INTERVENÇÃO NO LUTO

• Intervenção terciária – auxilia na resolução de dos


estressores relacionados à separação e à
transformações após a perda.
• Avaliação de quais reações de luto complicado
apresenta, bem como suas condições e
recursos.
Avaliação das reações de luto complicado

• Sentimentos de luto intenso após muito tempo da perda;


• Eventos de menor importância desencadeiam reação de
luto intenso;
• Quando os temas da perda surgem numa entrevista clínica;
• Mumificação (mantém intacto o ambiente e pertences da
pessoa);
Avaliação das reações de luto complicado

• A pessoa fez mudanças radicais em seu estilo de vida depois da


perda, excluindo pessoas ou atividades associadas à pessoa que
morreu.
• Culpa, depressão ou euforia subsequente a morte;
• Compulsão em imitar a pessoa falecida;
• Comportamento autodestrutivos (ideação ou tentativa de suicídio,
abuso de drogas)
Avaliação das reações de luto complicado

• Ter desenvolvido uma fobia de doença ou morte que pode estar relacionada
à doença específica da qual a pessoa faleceu;
• A pessoa apresentou sintomas físicos iguais ao do morto (ou podem
reaparecer quando pessoa atinge a idade da pessoa que morreu).
• Não ter participado dos rituais e não ter tido apoio da família na época da
morte;
• Pendências emocionais com a pessoa que morreu à época da perda.
Talvez estejamos em um bom momento para refletir
que a morte não é um “erro do sistema”, mas uma
dimensão fundamental da natureza humana. A morte
existe e, por sermos mortais, devemos morrer. Porém,
refletir sobre a morte permite que questionamos uma
sociedade que coloca o foco na eficiência, eficácia e
efetividade de todos os processos. Refletir sobre a
morte nos tempos e contextos atuais também permite
que questionamos uma sociedade em que as pessoas
morrerem sós, abandonadas, muitas vezes rodeadas
apenas de tubos e máquinas. Questiona uma sociedade
que despe os indivíduos de sua identidade e os
transforma em algo (um número, uma doença, um
“caso”).
A má notícia é que somos finitos, ou a má notícia é que,
talvez, não tenhamos sido educados para viver a vida
em toda sua grandeza?

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