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Assembleia das Mulheres, de Aristófanes

A ação inicia-se com um monólogo de Praxágora, que irá liderar um grupo de mulheres
que se irão fazer passar por homens. Uma das mulheres menciona que deixou crescer os
pelos nos sovacos, assemelhando-se a um mato, e sempre que o marido se dirigia à
ágora (parte mais baixa da polis) untava o corpo com óleo de forma a que, quando se
colocava ao sol de forma a escurecer a sua pele; outra deixou crescer os pelos no corpo,
de forma a assemelhar-se a um homem. Praxágora pergunta às mulheres se conseguiram
arranjar as barbas postiças, uma das mulheres compara a barba que trouxe à de
Epícrates, um orador e demagogo famoso pela barba que possuía. Praxágora repara que
as mulheres traziam também consigo as sandálias, os bastões e as vestimentas dos
maridos. As mulheres e Praxágora dialogam enquanto colocam as barbas, e iniciam uma
simulação como se estivessem presentes num debate na Assembleia. Uma das mulheres
discursa, sob o olhar atento de Praxágora, que dá indicações, de forma a que parecessem
credíveis as suas “atuações”. Uma das correções que Praxágora faz é corrigir uma
mulher que jura pelas deusas, algo que os homens não fariam, e exige que estes erros
sejam prontamente corrigidos, de forma a que a sua passagem na Assembleia seja
frutífera. Após terminar um discurso, Praxágora é elogiada por uma mulher, explicando
que quando vivia junto à colina Pnix (local onde se reunia a Eclésia) com o seu marido,
aprendeu a ouvir os oradores nos seus discursos. As mulheres levantam questões
relativos a possíveis eventualidades que poderiam suceder, desde a resposta de algum
orador até à intervenção de arqueiros, às quais Praxágora apresenta soluções de uma
forma calma, assumindo a dificuldade que estão prestes a enfrentar, e ordenando que se
inicie a viagem até à Eclésia.

Blépiro, o marido de Praxágora acorda, e estranha a ausência da mulher,


supondo que ela terá saído de casa e deverá arranjar algum problema. Blépiro encontra
Cremes, que regressava da Assembleia, o que lhe causou espanto. Cremes conta que se
atrasou para a Assembleia, porque estava presente uma quantidade enorme de pessoas
presentes, mais que as usuais. Cremes então conta a Blépiro o que foi discutido na
Eclésia, mencionando que um dos jovens (na verdade seria uma mulher disfarçada)
discursou, tecendo diversos elogios às mulheres, e que seria melhor entregar o governo
da cidade às mesmas. Cremes conta que o “jovem” que tomava da palavra começou a
insultar Blépiro, acusando-o de ser desavergonhado, ladrão e denunciante. Cremes
remata com a afirmação da decisão de entregar o governo às mulheres, visto que estas
continham as virtudes que os homens não tinham. Isto causa nos dois dialogantes
preocupação, porque com as mulheres ocupadas, nenhuma teria tempo para cozinhar
para os maridos.

Praxágora fala com as mulheres, começando por referir o sucesso da sua


façanha, e pede que se dirijam para as suas casas, antes que os maridos as vejam na rua,
pedindo que elas a ajudem nesta tarefa. Blépiro encontra a mulher, e questiona-a de
onde ela vinha, ao que esta responde com ironia, que esteve com um amante. Blépiro
questiona porque Praxágora envergava o seu manto, as suas sandálias e o seu bastão,
tendo Praxágora respondido que seria para se abrigar do frio. Blépiro anuncia a
Praxágora que foi decidido que o poder seria entregue às mulheres, ao que esta se finge
admirada. Ao ouvir a mulher, Blépiro apresenta desespero, pedindo à mulher que não
interfira no governo da cidade, deixando essa função para os homens. Cremes pede que
Blépiro deixe Praxágora retome o seu discurso, apresentando curiosidade no discurso da
mulher. Praxágora pede que ninguém interrompa o seu discurso antes de ouvi-lo na sua
totalidade. Praxágora dirá aos cidadãos presentes que é útil tornar todos os bens comuns
a todos, acabando assim com a distinção entre ricos e pobres. Sobre as mulheres, esta
estabelece que antes de se poderem deitar com homens jovens bonitos, antes terão de
satisfazer os mais velhos. Marido e mulher iniciam um diálogo: Blépiro coloca questões
relativas a diversas políticas da cidade, e Praxágora responde-lhes como procederá.
Sobre as refeições, Praxágora revela a medida, em que tenciona colocar urnas na ágora,
sorteando onde cada cidadão irá comer, e para esse efeito transformará todos os
tribunais e pórticos em refeitórios. Surge então um arauto de sexo feminino convidando
os cidadãos presentes para se dirigirem até à estratega da polis, de forma a que lhes seja
atribuído o local onde poderão tomar a sua refeição.

Entretanto o cenário altera-se, passando para uma rua, onde irão surgir mulheres.
Em cena está uma velha, que anseia pela chegada de um homem para que se possa
lançar aos braços dele. Uma mulher mais jovem dirige-lhe a palavra, de uma forma mais
revoltada, ao que a mulher mais velha reage com certo desprezo, e pede a um flautista
que comece a entoar uma melodia, a qual é trauteada tanto pela mulher mais velha como
pela mais jovem. Ambas iniciam uma discussão: a velha menciona que antes de irem ter
com a rapariga mais jovem, irão antes ter com ela. Ao longe aproxima-se um jovem, já
visivelmente embriagado, e ambas tentam ver com quem o jovem dormirá. O jovem
embriagado inicia a sua fala, e expressa o desejo de estar com a mulher mais jovem. A
mulher mais jovem abre a porta da sua casa, perguntando o porquê de o jovem
embriagado ter estado a bater-lhe à porta. A mulher mais velha tenta proibir o jovem
embriagado de jantar, e diz-lhe que antes de ir ter com a mulher jovem, terá de a
satisfazer. O embriagado prontamente responde, e tenta esquivar-se, mas a velha
continua a insistir que ele a beije1. Habilmente, o jovem diz que tem medo do amante da
velha, deixando-a intrigada. O jovem responde que o seu amante é de facto um pintor
que trabalha para os mortos, e pede que a velha entre de novo em casa. O jovem tenta
fugir, mas a mulher lê o que foi decretado na Assembleia (antes de se poder envolver
com uma mulher mais jovem, o homem teria de satisfazer uma mulher mais velha). O
rapaz tenta desesperadamente fugir à sentença de ter relações. Entretanto, a jovem sai de
casa e questiona a velha, para saber para onde esta levava o jovem. A velha prontamente
responde que o leva para sua casa de forma a que este a satisfaça. A jovem acusa a
velha de louca, porque o jovem tem idade para ser seu filho, e usa o caso de Édipo Rei,
o que ofendeu a velha que se retira. O jovem embriagado e a jovem dirigem-se para
casa, mas surge uma outra velha, impedindo-os de prosseguir caminho e acusa a jovem
de estar a desrespeitar a lei. O jovem já desesperando assusta-se ao ver a velha, e a
jovem rapariga foge assustada. Quando a segunda velha levava o jovem, surge uma
terceira jovem, questionando-a para onde leva o jovem. Ambas as velhas disputam com
quem dormirá o jovem.

O cenário volta ao inicial da peça. Uma criada discursa, já bebida, acompanhada


de dois jovens. A criada de Praxágora pretende saber onde está Blépiro, que surge em
cena à janela de sua casa. Blépiro então surge, e a criada menciona que o levará a jantar.
A peça termina com o corifeu dirigindo-se aos jurados (esta peça estava a ser
representada num concurso) para que tenham em conta as piadas misturadas com a
sensatez da encenação, não sendo como as mulheres que se lembram dos últimos
amantes, pedindo que caso a peça fosse representada em primeiro lugar, não a
esquecessem com as outras.

1
“Vamos, trae acá esa boca.”

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