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SÃO PAULO
2022
LETICIA MADEIRA SOUSA FERNANDES
RELATÓRIO DO PROJETO:
SÃO PAULO
2022
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 3
2. OBJETIVOS 3
3. METODOLOGIA 3
4. DESENVOLVIMENTO 4
4.1. Introdução 4
4.2. Palavra e Imagem na História 5
4.2.1. Origem do alfabeto e da escrita ocidental 5
4.2.2. Evolução técnico-formal 8
4.2.3. Exemplos de vínculos entre palavra e imagem 9
4.3. O período moderno 14
4.3.1. A imprensa e a popularização da informação 14
4.3.2. O cubismo, a colagem e o caligrama 17
4.3.3. Futurismo, dadaísmo e surrealismo 19
4.4. A arte do pós-guerra 23
4.5. A arte contemporânea brasileira 27
5. RESULTADOS PRÁTICOS 33
5.1. “Entupidora” (2021) e “Desvendo” (2021-22) 33
5.2. Exercícios 39
6. CONCLUSÃO 42
7. BIBLIOGRAFIA 43
3
1. INTRODUÇÃO
2. OBJETIVOS
3. METODOLOGIA
1. Levantamento bibliográfico:
1.1. Seleção do material bibliográfico indicado, relacionando referências básicas
que sejam pertinentes ao escopo da pesquisa.
1.2. Sugestão de material bibliográfico complementar, para apoiar considerações
sobre o espaço urbano.
4
2. Leitura e fichamentos:
2.1. Análise das referências bibliográficas, tanto as indicadas quanto as
complementares, para o embasamento das formulações teóricas.
3. Trabalhos de campo:
3.1. Levantamento de exemplos de obras visuais de artistas que estabeleceram
ou desenvolveram a relação imagem-texto.
3.2. Coleta de informações gráficas do cotidiano das cidades, selecionando
características que contribuam para a reflexão teórico-prática.
4. DESENVOLVIMENTO
4.1. Introdução
Poesia é como pintura; uma te cativa mais, se te deténs mais perto; outra, se
te pões longe; esta prefere a penumbra; aquela quererá ser contemplada em
plena luz, porque não teme o olhar penetrante do crítico; essa agradou uma
vez; essa outra, dez vezes repetida, agradará sempre. (HORÁCIO, 2005,
p.65)
seja, definiu o trabalho de arte como objeto capaz de narrar por meio de imagens, de
caráter meramente descritivo.
Um novo ponto de vista sobre a questão seria levantado no Tratado da
Pintura, escrito entre 1490 e 1517 por Leonardo da Vinci (1452-1519). Como afirma
Alberto Roiphe em seu artigo “Literatura e Artes Plásticas: uma revisão bibliográfica
do diálogo” (2010), Leonardo defende a supremacia da pintura sobre as demais
artes e, partindo da noção aristotélica de representação, escreve:
A pintura é uma poesia muda e a poesia uma pintura cega; e tanto uma
quanto a outra tentam imitar a natureza segundo seus limites, e tanto uma
quanto a outra permitem demonstrar diversas atitudes morais, como fez
Apeles na sua Calúnia. (DA VINCI apud LICHTENSTEIN, 2005, p. 19-20)
O poeta não pode colocar em palavras a verdadeira forma das partes que
compõe o todo, como o pintor, que a apresenta com aquela verdade que só é
possível na natureza. (DA VINCI apud LICHTENSTEIN, 2005, p. 21)
Mais tarde, e sem dúvida porque era necessário escrever nomes sem
ambiguidade, foi atribuído um valor fonético aos signos originalmente
pictográficos. A coisa torna-se assim uma espécie de quebra-cabeça: uma
palavra difícil de expressar por meio de um desenho é escrita com o sinal de
outra que se pronuncia de maneira mais ou menos semelhante.
(SANDBERG, 1965: 10. Tradução nossa.)
Por volta de mil anos antes de Cristo, os gregos, então, adotam o alfabeto
consonantal semítico, desenvolvendo diversas mudanças em sua estrutura. A mais
considerável está na adição das vogais ao alfabeto, formando um sistema completo.
E, para representar as vogais, eles usaram letras correspondentes a consoantes
semíticas inexistentes em grego. Assim, o princípio fonográfico da escrita é
plenamente realizado, substituindo a escrita iconográfica no Ocidente.
8
Fig. 2: Livro de Kells, folio 8 recto c. 800. Fonte: MORLEY, Simon, “Writing on the Wall – Word and
Image in Modern Art”, University of Califórnia Press, Berkeley, 2005, p. 14
Fig. 3: “O Machado”, 325 a.C., Símias de Rodes. Fonte: Xavier, H. P. (2002). A evolução da poesia
visual: da Grécia Antiga aos infopoemas. Significação: Revista De Cultura Audiovisual, 29(17), p. 165
Fig. 4: "O Ovo", 325 a.C., Símias de Rodes. Fonte: Xavier, H. P. (2002). A evolução da poesia visual:
da Grécia Antiga aos infopoemas. Significação: Revista De Cultura Audiovisual, 29(17), p. 167
próprio poema e seu aperfeiçoamento, criando uma metáfora com o ovo de rouxinol.
Aedóon significa rouxinol, em grego, e deriva de aeídoo, o verbo cantar, que
também origina aedo: cantor ou poeta.
Fig. 5: Carmina figurata n-28, Rabanus Maurus. Fonte: Xavier, H. P. (2002). A evolução da poesia
visual: da Grécia Antiga aos infopoemas. Significação: Revista De Cultura Audiovisual, 29(17), p. 173
Partindo para a Baixa Idade Média, Rabanus Maurus (780-856) é o autor que
se destaca na produção de poemas visuais. A chamada carmina figurata (fig. 5) é o
gênero no qual o texto é elevado a uma manifestação sagrada, como defendiam os
clérigos carolíngios. Conta com uma estrutura complexa, que permite a união entre a
escrita latina e símbolos visuais:
Uma dessas alegorias possui o título de In Occasionem (fig. 6), que quer dizer
“oportunidade”. Para representar essa noção, uma figura é situada logo abaixo do
título, seguida por sua descrição em forma de texto. Na imagem, é possível observar
uma mulher, a oportunidade, que está sobre uma roda e possui asas nos pés. O
texto explica que a roda está sempre girando, enquanto as asas podem levar a
oportunidade para qualquer direção. A mecha de cabelo em sua testa, por sua vez,
é para que ela seja agarrada pelos cabelos enquanto corre em nossa direção. Já a
parte de trás da sua cabeça está careca. Isso porque, se seus pés alados a levarem
para longe antes que a capturemos, não poderemos mais apanhá-la pelos cabelos.
Alegorias assim podem ser percebidas, por exemplo, na obra do pintor
Hieronymus Bosch (c. 1450-1516). Segundo Michel Butor (1969), “O Jardim das
Delícias Terrenas”, de 1515 (fig. 7), é constituído por uma série de emblemas e
figurações alegóricas, em particular de vícios e virtudes. O painel central mostra um
Paraíso que engana os sentidos, um falso Paraíso entregue ao pecado da luxúria.
Essa ideia de falso Paraíso é reforçada pelo uso de uma paisagem única e contínua
entre o Éden e o painel central, com uma linha do horizonte alta que continua até o
painel do Inferno, permitindo uma composição ampla.
Outro famoso exemplo de representação alegórica é a pintura de Pieter
Bruegel, “Os Provérbios Flamencos”, de 1559 (fig. 8). A tela abriga numerosas
ilustrações literais de provérbios holandeses. Ao todo, são 120 provérbios e ditados,
12
Fig. 7: Hieronymus Bosch, O Jardim das Delícias Terrenas, 1515. Óleo sobre madeira, 185.8 x
172.5 cm. Fonte: https://www.museodelprado.es/en/the-collection/art-work/the-garden-of-earthly-
delights-triptych/02388242-6d6a-4e9e-a992-e1311eab3609
Fig. 8: Pieter Bruegel, Os Provérbios Flamencos, 1559. Óleo sobre madeira, 117,2 x 163,8 com.
Fonte: https://artsandculture.google.com/story/OgKCUsSHOXLXIQ?hl=fr
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Por fim, resta tratar de quando a palavra aparece literalmente na obra de arte,
a começar por dois exemplos do artista alemão Albrecht Dürer (1471-1528). São
eles a gravura “Erasmo de Roterdã” (1526) e a pintura “Retrato de Maximiliano”
(1519). Na primeira (fig. 9), o texto aparece como uma descrição da imagem, o ano
em que foi realizada e a assinatura do artista. Entretanto, esse texto é incorporado à
imagem representada na gravura: as informações aparecem escritas em um quadro
ao fundo da composição, como parte integrante dela. Assim, a palavra se faz
presente em consonância com a ilusão de tridimensionalidade da imagem.
Fig. 9: Albrecht Dürer, Erasmo de Roterdã, 1526. Gravura em metal, 24.8 x 19.1 cm. Fonte:
https://www.metmuseum.org/art/collection/search/336231
Fig. 10: Albrecht Dürer, Retrato de Maximiliano, 1519. Óleo sobre madeira, 615 x 740 cm. Fonte:
https://artsandculture.google.com/asset/portrait-of-maximilian-i-albrecht-
d%C3%BCrer/LQG_SIsDPpL2aQ
Fig. 11: Fra Angélico, Anunciação, c. 1430. Têmpera sobre madeira, 150 x 180 cm. Fonte: MORLEY,
Simon, “Writing on the Wall – Word and Image in Modern Art”, University of Califórnia Press, Berkeley,
2005, p 11
14
Fig. 12: Jean Béraud, Colonne Morris, 1870. Fonte: MORLEY, Simon, “Writing on the Wall – Word
and Image in Modern Art”, University of Califórnia Press, Berkeley, 2005, p. 22
Fig. 13: Henri de Toulouse-Lautrec, Moulin Rouge: La Goulue, 1891. Litografia, 190 x 116.5 cm.
Fonte: https://www.metmuseum.org/art/collection/search/333990
Fig. 14: Jules Chéret, L'Horloge: Les Girard, c. 1880. Litografia, 57.15 × 43.18 cm. Fonte:
https://artsandculture.google.com/asset/lhorloge-les-girard/hwEP5T2GPcW56w
17
Fig. 15: Pablo Picasso, Guitarra, partitura e taça de vinho, 1912. Colagem, tinta e papel, 117 x 81 cm.
Fonte: https://www.wikiart.org/en/pablo-picasso/guitar-sheet-music-and-wine-glass-1912
Fig. 16: Guillaume Apollinaire. Chuva, 1918. Fonte: Xavier, H. P. (2002). A evolução da poesia visual:
da Grécia Antiga aos infopoemas. Significação: Revista De Cultura Audiovisual, 29(17), p. 184
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Desse modo, a sintaxe é desafiada nas obras futuristas, nas quais a tipografia
age para expressar o significado da palavra iconicamente. Ou seja, a palavra não
aparece apenas como símbolo, já que, além de referenciar algo externo, ela fala
sobre si mesma e suas propriedades visuais. A palavra não está limitada a um
significado isolado, envolve todo o campo visual e está diretamente relacionada ao
impacto emocional. Emancipada do canal lógico da sintaxe, a escrita é capaz de
evocar barulhos, cheiros e estados sinestésicos nos trabalhos futuristas. Todavia,
assim como a ruptura sintática, o apoio à guerra também era central nas obras
italianas. Com a apologia à velocidade do mundo moderno e à incorporação não
crítica da tecnologia, o Futurismo produzia uma retórica de violência, que logo seria
superada por outras vanguardas modernistas.
Fig. 17: Gino Severini, Cannon in Action, 1915. Óleo s/ tela, 50 x 60 cm.
Fonte: https://dome.mit.edu/handle/1721.3/23768
Com o Dadaísmo, que surge logo após a Primeira Guerra Mundial, uma nova
visão da cidade moderna entra em cena. Diferentemente dos cubistas e dos
futuristas, os dadaístas não enxergam o caos da vida urbana com empolgação. As
palavras são percebidas como signos arbitrários, há uma desconstrução da
linguagem como entidade material sem sentido. A retórica da perda de sentido faz
com que os artistas dadaístas trabalhem com significados já constituídos ao invés de
novos. A opacidade do discurso assume o lugar da transparência, as obras
dadaístas são repletas de rimas e aliterações ao invés de significados precisos. O
Dada, obscuro e aparentemente aleatório, abandona completamente a sintaxe,
resultando em uma confusão premeditada.
O signo linguístico, para os dadaístas, é o mais completo produto da razão
humana, portanto, desafiá-lo é desafiar os valores ocidentais. O poeta romeno
Tristan Tzara (1896-1963), ao escrever o Manifesto Dada (1918), defende que as
palavras não têm a obrigação de fazer sentido, inaugurando uma “era do absurdo”.
21
Fig. 18: Marcel Duchamp, Apolinère Enameled, 1916-17. Guache e grafite sobre cartão, 24.4 x 34
cm. Fonte: https://philamuseum.org/collection/object/51563
Fig. 19: Raoul Hausmann, ABCD, 1920. Colagem,15,1 x 10,1 cm. Fonte:
https://www.metmuseum.org/art/collection/search/265584
Fig. 20: René Magritte, A Interpretação dos Sonhos, 1927. Óleo s/ tela, 38 x 55 cm.
Fonte: Neue Pinakothek, Munich, Germany
A escrita no grau zero é no fundo uma escrita indicativa (…); é antes uma
escrita inocente. Trata-se de ultrapassar aqui a Literatura, entregando-nos a
uma espécie de língua básica, tão afastada das linguagens vivas como da
linguagem literária propriamente dita. Esta fala transparente, inaugurada pelo
Estrangeiro de Camus, realiza um estilo de ausência que é quase uma
ausência total de estilo (BARTHES, 1997: 64).
Barthes define como “grafismo” o ato de escrever, isto é, a escrita que não
está voltada para a leitura, mas para o gesto do corpo, da mão, o dispêndio de
energia realizado na inscrição. A legibilidade é comprometida em prol de uma
comunicação direta e não mediada, produzida por um impulso do corpo. Essa noção
faz com que o artista francês Jean Dubuffet (1901-1985), defensor da Art Brut,
passe a olhar para manifestações marginais, como as produzidas em hospícios,
cadeias e por crianças, muitas vezes consideradas sem sentido.
Segundo o artista, as pessoas tidas como insanas precisam ter seu valor
reconhecido, já que a aparente normalidade ocidental havia levado ao Holocausto.
Dubuffet busca uma expressão pura, impulsiva e não tocada pela cultura artística.
Em “Wall with Inscriptions” (1945) (fig. 21), pode-se fazer uma analogia entre a obra
do artista e uma parede urbana. O “grau zero” de Barthes aparece aqui como uma
ode ao primal e visceral ao invés do sofisticado e intelectual.
Fig. 21: Jean Dubuffet, Wall with Inscriptions, 1945. Óleo sobre tela, 99.7 x 81 cm.
Fonte: https://www.moma.org/collection/works/79071
25
Fig. 22: Jackson Pollock, The She Wolf, 1943. Óleo e guache s/ tela, 106.4 x 170.2 cm.
Fonte: https://www.moma.org/audio/playlist/287/3723
no entanto, seus traços não formam nada legível, a linguagem permanece como
possibilidade, não acontece de fato (fig. 23). É o chamado “campo alusivo da escrita”
(BARTHES, 1990: 144), no qual o gesto é mais importante que o produto. Twombly
retorna ao nível mais primordial da comunicação, onde os movimentos do corpo
precedem códigos culturais elaborados. Em 1957, o artista vai para Roma. As obras
realizadas nesse período possuem elementos legíveis, geralmente, referências ao
mundo clássico e à herança greco-romana, alusões que revelam a pintura como um
continente de narrativas em potencial. Essa forma de registrar anotações e
comentários na tela faz com que a brancura do suporte remeta não apenas à
parede, mas à página de um livro.
Fig. 23: Cy Twombly, Sem título, 1970. Óleo e giz de cera sobre tela, 405 x 640,3 cm. Fonte:
https://www.moma.org/collection/works/80088
Fig. 24: Henry Flynt, Samo Graffiti, Portfolio Nova York [New York], 1979. Fotografia [Photograph]
Coleção particular [Private Collection]
Fig. 25: Jean-Michel Basquiat, Sem título [Untitled], 1983. Acrílica e tinta a óleo em bastão sobre tela,
em 3 partes [Acrylic and oilstick on canvas, in 3 parts] 244 x 181 cm.
Fonte: https://www.bb.com.br/docs/portal/ccbb/JeanMichelBasquiat.pdf
Fig. 26: Augusto de Campos, Ovonovelo, 1956. Fonte: Xavier, H. P. (2002). A evolução da poesia
visual: da Grécia Antiga aos infopoemas. Significação: Revista De Cultura Audiovisual, 29(17), p. 185
28
Fig. 27: Mira Schendel, Zeit, 1965. Papel japonês, 47,4 × 23 cm.
Fig. 28: Mira Schendel, Sem título (Objetos Gráficos), 1965. Monotipia sobre papel e acrílico
transparente, 100 x 100 cm. Fonte: https://www.moma.org/collection/works/108826
Fig. 29: Regina Silveira, Biscoito Arte, 1976. Foto/ photo: Gerson Zanini.
Fonte: https://reginasilveira.com/BISCOITO-ARTE
29
Fig. 30: Vista da exposição de Rubens Gerchman no segundo subsolo do MASP, 1974.
Foto: Romulo Fialdini
Fig. 31: Antonio Dias, Anywhere is my Land, 1968. Acrílico sobre tela, 130,00 cm x 195,00 cm.
Fonte: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra66229/anywhere-is-my-land
30
Fig. 32: Anna Maria Maiolino, Capítulo II, da série Mapas Mentais, 1976. Coleção da artista.
Fig. 33: Forgotten Mantras, 2016 (detalhe). Aço inox colorido e gravado, ACM, alumínio anodizado,
161 x 161 7.5 cm Foto: Jaime Acioli. Fonte: http://anamariatavares.com.br/front/obras/detail/129
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Fig. 34: Hotel, 2002. 25ª Bienal de arte de São Paulo, lâmpadas fluorescentes e estrutura metálica,
3 × 15 m. Fonte: https://carmelagross.com/portfolio/hotel-2002/
Fig. 35: Carmela Gross, Se vende, 2008. Painel luminoso, 3,30 × 13,50 m.
Fonte: https://carmelagross.com/portfolio/se-vende-2008/
32
Fig. 36: Waltercio Caldas, Como Imprimir Sombras, 2012. Acrílico moldado e gravado,
32 x 23 x 5 cm. Fonte: https://www.carbonogaleria.com.br/como-imprimir-sombras-prod.html
Fig. 37: Paulo Bruscky, Esta vitrine foi dedetizada contra arte, 2015.
Fonte: https://www.estudiodezenove.com/paulo-bruscky.html
33
5. RESULTADOS PRÁTICOS
sobre os limites entre arte e comunicação. Por fim, as considerações de Julio Plaza
e Giuliano Tosin, artistas que se apropriam e discorrem sobre o que seria transcriar,
também serão comentadas.
Dentre as contribuições de Peirce aos estudos da linguagem, está a
concepção de uma gramática especulativa, a primeira etapa de sua semiótica,
sendo seguido pela lógica e, finalmente, a comunicação. De acordo com Santaella
(2002, p. 19), a gramática especulativa é um grande veículo para que possamos
investigar os signos e suas possíveis significações. É nela que encontramos as
definições de signo e suas maneiras de operar, além de classificações de tipos de
signos e misturas entre as mesmas. Faremos uso da gramática especulativa para
compreender o que seria, então, a linguagem. Sabemos que o signo é, por
definição, uma coisa que está no lugar de outra. Ele é significante quando, ao ser
percebido, remete a um elemento exterior, ou seja, ocorre uma associação do signo
a algo que difere dele mesmo, ele indica ou representa uma outra coisa. Podemos
dizer, grosso modo, que a linguagem ocorre por meio dessa associação. É a relação
entre os signos que percebemos e as lembranças que associamos a eles.
Sabe-se que a gramática especulativa de Peirce funciona de maneira
tripartida. Ou seja, os signos podem ser classificados e analisados, essencialmente,
por meio de três vias. Um determinado signo pode ser compreendido em relação a
ele mesmo, considerando suas qualidades interiores; em relação àquilo que indica
ou representa, o objeto do signo; e, por último, levando em consideração seus
efeitos, as interpretações que é capaz de suscitar nos receptores. São, então, três
os níveis de consciência nos quais Peirce baseia a leitura dos signos: a
primeiridade, que seria a consciência da qualidade do sinal expressivo percebido; a
secundidade, a consciência do outro, o estágio reativo da percepção; e a
terceiridade, o estágio definido pela síntese que o intérprete é capaz de realizar
diante de determinado signo.
Cabe, agora, tentar compreender como as definições de Peirce podem ser
aplicadas não só em uma mensagem meramente referencial, mas em uma
mensagem estética, ou, como Max Bense denominaria, uma informação estética.
Haroldo de Campos, parafraseando Bense, afirma que a informação estética
“transcende a semântica, no que concerne à imprevisibilidade, à surpresa, à
improbabilidade da ordenação de signos” (CAMPOS, 1992: 32). Assim, a informação
estética possui um caráter essencialmente frágil, o que a diferencia da informação
documentária, voltada ao registro, e da informação semântica, isto é, que está além
do observável. A informação estética, portanto, carrega a fragilidade da essência.
Essa “fragilidade” da informação estética pode ser percebida com clareza
quando tentamos traduzi-la. É aí que se faz necessário refletir sobre quando a mera
transcrição de uma informação não é possível, situação em que qualquer tentativa
de tradução acabaria alterando a própria natureza da informação. Desse modo, a
tradução de uma informação estética daria origem a uma outra informação,
totalmente inédita, o que Haroldo chama de “transcriação”. Sobre esse fenômeno,
Giuliano Tosin afirma:
um caso, para que este seja considerado uma transcriação, precisa deixar
explícito que se opõe à tradução literal e servil e rompe com qualquer
comprometimento em transmitir fielmente a obra original. Esta é quem serve
à transcriação, fornecendo-lhe o conteúdo a ser modificado, com uso de
outras mídias. (TOSIN, 2014: 65)
trabalho faria com que o mesmo perdesse um elemento importante de sua proposta.
Isso porque os símbolos utilizados são comuns à cidade, transferir o trabalho para
outro lugar limitaria a própria leitura que o espectador poderia fazer dele.
Tassinari (2001) diria que, com a modernidade, espaço da obra e espaço do
mundo se confundem. Assim como elementos do mundo passam a invadir o espaço
da obra, o contrário também acontece. A diferença é que, quando no espaço do
mundo, a obra de arte corre o risco de não ser reconhecida como tal. Isso acontece
porque a obra se confunde com o mundo. Entretanto, o trabalho não precisa ser
reconhecido como arte para dar certo, basta ser reconhecido como algo que, de
certa forma, contradiz a própria linguagem que o constitui, a linguagem do mundo.
5.2. Exercícios
Fig. 47: Sem título, 2021. Colagem sobre papel, 21 x 30 cm. Autoria nossa.
Fig. 48: Sem título, 2021. Colagem sobre papel, 21 x 30 cm. Autoria nossa.
40
Fig. 49: Sem título, 2021. Giz pastel sobre papel, 21 x 15 cm. Autoria nossa.
Fig. 50: Sem título, 2021. Giz pastel sobre papel, 21 x 12 cm. Autoria nossa.
41
Fig. 51: Sem título, 2021. Serigrafia sobre papel, 21 x 30 cm. Autoria nossa.
Fig. 52: Sem título, 2021. Serigrafia sobre papel, 21 x 30 cm. Autoria nossa.
42
6. CONCLUSÃO
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS