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AULA 1

ELABORAÇÃO DE PLANOS
DE CONTINGÊNCIA

Profª Larissa Ferentz


INTRODUÇÃO

Nesta aula, serão abordados os principais conceitos e definições para a


elaboração de planos de contingência. As temáticas apresentadas serão sobre o
que é um plano de contingência, o papel do plano de contingência na Política
Nacional de Proteção e Defesa Civil, plano de contingência para produtos
perigosos, plano de contingência para desastres de origem natural e a
estruturação-base do plano de contingência.

TEMA 1 – O QUE É UM PLANO DE CONTINGÊNCIA?

O Plano de Contingência (PLANCON) é um instrumento da gestão de


riscos de desastres (GRD) que reúne um conjunto de procedimentos e ações para
o atendimento das comunidades durante situações emergenciais. Dessa forma,
ele é a ferramenta utilizada para planejar as ações de resposta e conter os
impactos. A contingência é definida como “a situação de incerteza quanto a um
determinado evento, fenômeno ou acidente, que pode se concretizar ou não,
durante um período de tempo determinado” (Brasil, 2017, p. 21). Por isso, por
meio da estrutura do plano, é possível preparar melhor os gestores locais quanto
ao enfrentamento dos riscos e à redução dos impactos negativos resultantes das
anormalidades.
De modo geral, esses planos devem ser estruturados com a caracterização
das medidas de prevenção e mitigação, dos sistemas de alarme e alerta, dos
recursos disponíveis para o atendimento das calamidades e das
responsabilidades das áreas setoriais municipais. Essas ações devem funcionar
de maneira integrada, considerando todos os agentes envolvidos, objetivando o
atendimento das pessoas com maior grau de risco e de vulnerabilidade. Esse
objetivo está diretamente ligado à resiliência local, tendo em vista que as ações
devem visar ao salvamento de vidas e ao reestabelecimento da situação de
normalidade dos municípios atingidos no menor tempo possível.
Com um plano bem elaborado, mantendo atualizações constantes, pode-
se investir em estratégias que visem à maior efetividade das ações de
atendimento. A partir do momento que todas atividades a serem executadas
durante a ocorrência de desastres estão definidas, deve-se iniciar o processo de
melhoria contínua, priorizando a utilização de recursos financeiros para medidas
de prevenção e mitigação. Esse cenário reflete diretamente na redução das

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vulnerabilidades, na minimização de danos e prejuízos e também na segurança
das comunidades.
Conforme a Defesa Civil do Estado do Paraná (2021), os principais
objetivos do Plano de Contingência são:

• Verificação de existência de ocupações em áreas suscetíveis à ocorrência


de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos
geológicos ou hidrológicos correlatos;
• Possibilitar mobilização e resposta mais rápida e eficaz de órgãos de
emergência em caso de desastre;
• Monitoramento das áreas mapeadas no plano de contingência a fim de
facilitar a evacuação das áreas caso necessário;
• Realizar regularmente exercícios simulados, com instituições e
comunidades envolvidas em desastres;
• Definir competência e responsabilidade de cada instituição frente ao
desastre;
• Mobilização em menor tempo dos órgãos de emergência;
• Identificar áreas de riscos prioritárias para realização de estudos de
impacto e medidas para redução do risco de desastre, possibilitando
planejamento de redução dos riscos;
• Elaboração de projetos que possam ser subsidiados através do SICONV,
ou outras fontes de recursos, por exemplo, aqueles subsidiados pelo
Ministério da Integração Nacional;
• Planejar e implantar métodos de monitoramento de alerta e alarme nas
áreas prioritárias;
• Adotar medidas de redução de riscos e desastre em áreas prioritárias como
obras de contenção de encosta, remoção de edificações, reassentamento
etc.

A partir do momento em que eventos extremos atingem os municípios, o


plano de contingência deve ser ativado. Nesse sentido, todos os procedimentos
definidos anteriormente devem ser colocados em prática para sua
operacionalização durante a ocorrência dos desastres. Observa-se que a
elaboração e estruturação desses planos se refere à etapa de preparação da
Gestão de Riscos, com medidas preventivas. Entretanto, quando o desastre

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acontece, o plano se torna um elemento essencial da etapa de resposta da Gestão
de Desastres (Ferentz; Garcias, 2020).
Destaca-se ainda que os Planos de Contingência consideram em seu
escopo a delimitação de áreas de atenção. Diferentemente das áreas de risco, as
áreas de atenção são pequenas regiões em que a ocorrência de desastres foi
mais frequente ao longo do tempo ou que resultou em grandes danos e prejuízos
locais. Segundo Pinheiro (2016, p. 87), uma área de atenção é:

A delimitação apontada pelos gestores municipais de Proteção e Defesa


Civil baseada na recorrência de desastres, no seu histórico ou na
probabilidade de danos e prejuízos não avaliada nem produzida a partir
da aplicação de metodologias científicas, sobre a qual, enquanto não se
possuem mapeamentos de risco em escala adequada, deflagram-se as
ações preparatórias iniciais do órgão de coordenação municipal [...] em
caráter provisório e temporário.

Nesse sentido, pode-se afirmar que as áreas de atenção são pertencentes


às áreas de risco, sendo pequenas parcelas que foram o todo. Além disso,
conforme exposto por Pinheiro (2016), essas áreas acabam sendo uma opção
viável e real de serem executadas, já que a falta de recursos materiais e humanos
impossibilita a elaboração de mapeamentos completos de áreas de risco.
Tendo em vista o alto nível de informações e respectivas responsabilidades
que o plano de contingência possui, é essencial que sejam realizadas
atualizações constantes. Dentre as principais revisões, estão os dados e
caracterizações das áreas de atenção dos municípios, a distribuição de
responsabilidades e funções, informações de novas parcerias firmadas, etc. Não
obstante, o plano de contingência também deve ser um instrumento divulgado à
população, sendo o orientador das ações de simulados e treinamentos.

TEMA 2 – O PAPEL DO PLANO DE CONTINGÊNCIA NA POLÍTICA NACIONAL


DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL

O Plano de Contingência é um instrumento que deve ser instituído por uma


Política Municipal de Defesa Civil. Entretanto, ressalta-se que sua estruturação é
realizada seguindo os princípios impostos pela Política Nacional de Proteção e
Defesa Civil (PNPDEC), integrada às ações e estratégias setoriais do município.
A PNPDEC apresenta as diretrizes para a realização de planos e programas que
visam à redução de riscos de desastres, assim como define as competências dos
Municípios, Estados e União. A sua integração com as políticas setoriais permite

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uma perspectiva sistêmica das ações pertencentes à Gestão de Riscos e
Desastres.
A fim de contribuir nos processos de planejamento, coordenação e
implementação desses programas e ações, a Proteção e Defesa Civil é
organizada pelo Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC). O
SINPDEC é formado pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil,
Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil e Coordenadoria Municipal
de Proteção e Defesa Civil. A Política Nacional de Proteção e Defesa Civil ainda
define, em seu art. 11, a estruturação do SINPDEC, conforme apresentado no
Quadro 1. Com a integração desses órgãos, a redução de riscos se apresenta
como uma estratégia muito mais eficaz.

Quadro 1 – Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil

Órgãos que gerem


Descrição
o SINPDEC

A Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC/MI) atua


como órgão central do SINPDEC e faz parte da estrutura do
Órgão central Ministério da Integração Nacional (MI). Como órgão central, é
responsável por coordenar as ações de proteção e defesa civil em
todo o território nacional.

A Lei n. 12.608/12 não define hierarquia nem estrutura mínima para


esses órgãos, de maneira que Estados e Municípios possuem
Órgãos regionais autonomia para definir como organizam sua área de proteção e
estaduais e defesa civil dentro da administração pública local. Assim, há locais
municipais de em que esses órgãos se constituem em secretarias específicas, e
proteção e defesa outros em que se integram à estrutura de outras secretarias ou ao
civil gabinete do prefeito, por exemplo. Independentemente da forma,
Estados e Municípios devem responder pelas competências
definidas em lei.

Embora também em relação aos órgãos setoriais a Lei n.


12.608/12 não defina diretamente quais sejam e como atuam,
pode-se considerar que estes sejam, principalmente, os
Órgãos setoriais
responsáveis pelas políticas públicas setoriais: políticas de
dos três âmbitos
ordenamento territorial, desenvolvimento urbano, saúde, meio
de governo
ambiente, mudanças climáticas, gestão de recursos hídricos,
geologia, infraestrutura, educação, ciência e tecnologia, além dos
órgãos responsáveis pelos programas do PPA.

Em parágrafo único, a Lei n. 12.608/12 abre a possibilidade para


que organizações comunitárias de caráter voluntário e outras
entidades com atuação significativa nas ações locais de proteção
Organizações
e defesa civil possam também participar do Sistema Nacional de
comunitárias e
Proteção e Defesa Civil. Sua participação pode se dar pela
sociedade civil
composição paritária nos Conselhos ou ainda se vinculando
localmente às ações de gestão de risco a critério de cada órgão
municipal.
Fonte: Brasil, 2017, p. 18-19.

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Como uma medida de integrar todo o sistema e acompanhar o andamento
dos municípios, em nível Federal foi criado o Sistema Integrado de Informações
sobre Desastres (S2ID), o qual possui uma parte específica para registro dos
planos de contingência. Além disso, a União e os Estados devem apoiar os
municípios quanto à execução desses planos. Conforme a Política Nacional de
Proteção e Defesa Civil, é responsabilidade dos municípios elaborar, atualizar e
executar o Plano de Contingência.
Para a execução dessas responsabilidades no âmbito municipal, os
municípios contam com a Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil
(COMPDEC). A COMPDEC é o primeiro organismo a atender à população em
uma situação de desastre, visando ao salvamento de vidas e à minimização de
perdas e prejuízos. Para isso, tem como responsabilidade a preparação dos
gestores locais, comunidades e demais partes interessadas.
A composição da Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil não
segue um padrão obrigatório, porém, pode ser formada por uma equipe com
Coordenação, Conselhos e Setores. Suas principais atribuições variam entre
(Oliveira et al., 2013, p. 83-84):

Área Administrativa: secretaria, cadastramento e revisão de recursos


materiais, humanos e financeiros;
Área de Minimização de Desastres: deverá ser composta por dois
setores: Setor de Prevenção de Desastres – responsável pela
Avaliação de Riscos aos quais o município está sujeito e Redução de
Riscos de Desastres; e Setor de Preparação para Emergências e
Desastres – responsável pelo desenvolvimento institucional, de
recursos humanos (cursos de treinamento) e científico-tecnológicos,
mobilização, monitorização, alerta, alarme, aparelhamento, apoio
logístico, entre outros;
Área Operacional composta por dois setores: Setor de Resposta e
Reabilitação aos Desastres – responsável pelas atividades de socorro
às populações em risco, assistência aos habitantes afetados e
reabilitação dos cenários dos desastres; e Setor de Reconstrução –
responsável pelo restabelecimento dos serviços públicos essenciais,
reconstrução e/ou recuperação das edificações e infraestrutura, serviços
básicos necessários a restabelecer a normalidade.

Com as responsabilidades bem definidas, o Plano de Contingência pode


ser elaborado e executado de maneira abrangente, contando com a participação
das áreas setoriais, organizações comunitárias e até da sociedade civil. Além
disso, o aperfeiçoamento desses instrumentos com atualizações constantes se
faz necessário para o aumento da capacidade de prevenção e de resposta, a fim
de minimizar os riscos de desastre. Esse processo se resume à unificação dos
esforços entre os diferentes setores da sociedade, a fim de atingir um objetivo
comum: o reestabelecimento da normalidade local e a proteção da vida.
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Não obstante, a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil também prevê
que as estratégias sejam tomadas a partir das cinco fases da gestão de riscos e
desastres: prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação. Desse
modo, cada medida faz parte de uma etapa específica em um processo contínuo
e integrado, potencializando as ações propostas.

TEMA 3 – PLANO DE CONTINGÊNCIA PARA PRODUTOS PERIGOSOS

Cada vez mais cresce a preocupação com acidentes rodoviários


envolvendo produtos perigosos, tendo em vista sua capacidade de causar
grandes impactos. Por isso, um dos planos mais conhecidos quanto a desastres
de origem humana é o de produtos perigosos. Instituído pelo Decreto Federal n.
5.098, de 2004, o Plano Nacional de Prevenção, Preparação e Resposta Rápida
a Emergências Ambientais com Produtos Químicos Perigosos (P2R2) visa
prevenir a ocorrência de acidentes, direcionar as políticas públicas e aprimorar o
sistema de gestão de riscos e desastres químicos no Brasil.
Destaca-se que acidentes com produtos químicos são extremamente
perigosos à vida humana e ao meio ambiente. O grau de risco nesses casos
depende de alguns fatores como o tipo de produto, o estado físico, a quantidade
que foi liberada com o acidente, a dispersão dos compostos químicos, os tipos de
reações existentes e a exposição de pessoas. Eles também podem afetar diversas
cidades indiretamente, quando o evento ocorre próximo a áreas de proteção
ambiental. Caso o acidente resulte no vazamento de produtos químicos que
atinjam corpos d’água ou aquíferos, estes podem afetar o abastecimento de água
dos municípios da região.
Levando em consideração o potencial de risco apresentado, o número
elevado de acidentes no modal rodoviário e a necessidade de transportar cargas
perigosas por todo o país, os planos são essenciais para preparar os agentes
responsáveis a uma resposta eficaz. Deste modo, deve-se considerar as diretrizes
estratégicas impostas pelo Decreto n. 5.098 de 2004, art. 3°:

I - elaboração e constante atualização de planejamento preventivo que


evite a ocorrência de acidentes com produtos químicos perigosos;
II - identificação dos aspectos legais e organizacionais pertinentes a tais
ocorrências;
III - criação e operação de estrutura organizacional adequada ao
cumprimento das metas e dos objetivos estabelecidos no P2R2;
IV - estímulo à adoção de soluções inovadoras que assegurem a plena
integração de esforços entre o poder público e a sociedade civil,
especialmente no âmbito dos Estados e Municípios;

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V - definição das responsabilidades respectivas do poder público e dos
setores privados em casos de acidentes com produtos químicos
perigosos, e dos compromissos a serem assumidos pelas partes de
proteger o meio ambiente e a saúde da população;
VI - desenvolvimento e implementação de sistemas de geração e
compilação de informações essenciais à execução eficaz do P2R2,
integrando as ações de controle (licenciamento e fiscalização) e de
atendimento a emergências, com as atividades de produção,
armazenamento, transporte e manipulação de produtos químicos
perigosos, bem como assegurando ao cidadão o acesso à informação
sobre os riscos de acidentes com produtos químicos perigosos;
VII - mobilização de recursos humanos e financeiros apropriados e
suficientes para assegurar os níveis de desempenho estabelecidos pelo
P2R2;
VIII - fortalecimento da capacidade de gestão ambiental integrada dos
órgãos e instituições públicas no âmbito federal, distrital, estadual e
municipal, para o desenvolvimento de planos de ações conjuntas, no
atendimento a situações emergenciais envolvendo produtos químicos
perigosos, estabelecendo seus níveis de competência e otimizando a
suficiência de recursos financeiros, humanos ou materiais, no sentido de
ampliar a capacidade de resposta; e
IX - aperfeiçoamento contínuo do P2R2 por meio de processo
sistemático de auditoria e avaliação do desempenho e da revisão
periódica das diretrizes, dos objetivos e das metas. (Brasil, 2004)

Para regulamentar e padronizar a estruturação dos planos de atendimento


às emergências com produtos perigosos, diversas agências têm publicado e
atualizado manuais técnicos. Dentre essas, estão a Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT), Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM)
e Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), as quais visam fortalecer
as políticas de prevenção para a segurança das pessoas, infraestruturas e do
meio ambiente. Nesse contexto, a CEP2R2 (2016, p. 13) traz como principais
objetivos dos Planos de Contingência para incidentes com produtos perigosos no
modal rodoviário:

• Definir o cenário de aplicação do Plano de Contingência;


• Estabelecer parâmetros para o atendimento conjunto, pelos órgãos, dos
incidentes ocorridos no modal rodoviário envolvendo produtos perigosos;
• Definir a atribuição de todos os órgãos dentro do sistema de atendimento e
de gerenciamento da ocorrência;
• Estabelecer o fluxograma de ações para o primeiro respondedor;
• Estabelecer o fluxograma de ações para o atendimento geral;
• Definir a estrutura organizacional de atendimento, de acordo com a
atribuição de cada órgão e das ferramentas gerenciais utilizadas;
• Definir os métodos de acionamento dos órgãos envolvidos no atendimento
de maneira a garantir a atuação rápida e eficiente nos casos de sinistros
envolvendo produtos perigosos no modal rodoviário;
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• Estabelecer um modelo de atendimento que possa ser integrado
futuramente para o atendimento interestadual.

Com base nesses objetivos, as principais etapas para o atendimento à


ocorrência de incidentes podem ser resumidas em 13 fases, conforme
apresentado no Quadro 2. Destaca-se que o enfrentamento de acidentes com
produtos perigosos está diretamente ligado às Fichas de Informação de
Segurança de Produtos Químicos (FISPQ). Esse é um documento da ABNT que
contém toda a caracterização do produto, de suas reações e de como controlá-lo.
Por isso, o conhecimento às normas e legislações, além da revisão constante dos
planos, é muito importante para o atendimento das estratégias de preparação e
resposta aos eventos.

Quadro 2 – Etapas após a ocorrência do incidente

ETAPAS DESCRIÇÃO

1. Informação sobre a. Recebimento do aviso de ocorrência de incidente.


a ocorrência b. Coleta preliminar de informações sobre a ocorrência (NBR 14.064).

a. Acionamento preliminar dos órgãos envolvidos no socorro do


incidente, COMPDEC, Corpo de Bombeiros local ou da região, Polícia
2. Acionamento
Militar, Polícia Rodoviária etc., conforme necessidade e
preliminar dos
responsabilidade legal evidenciada no plano de contingência.
órgãos locais de
resposta b. Informação à Coordenadoria Regional de Proteção e Defesa Civil.
c. Informação à Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil.

3. Informação à coordenadoria estadual de proteção e defesa civil

a. Informação preliminar do acidente aos órgãos estaduais de


4. Informação às atendimento pela Coordenadoria Estadual da Defesa Civil, Instituto
gerências estaduais Ambiental, Companhia de Saneamento, Secretaria de Saúde etc.
dos órgãos de
b. Informação da ocorrência do incidente.
resposta e apoio
c. Identificação de riscos relacionados ao incidente.

5. Deslocamento do socorro ao local do evento

6. Ativação do sistema de comando de incidentes

a. Confirmação da ocorrência de acidente com produto perigoso.


b. Identificação do produto com base no manual da ABIQUIM, da ficha
de emergência, FISPQ ou Nota Fiscal do Produto.
7. Análise da c. Identificar a existência de vítimas.
ocorrência
d. Identificar tipo e quantidade de veículos envolvidos.
e. Dimensionar a gravidade do incidente (possibilidade de atingimento
de ponto de captação de água, área de proteção ambiental, área de
adensamento populacional e/ou grande quantidade de vítimas).

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a. Acionamento dos órgãos de atendimento estaduais, Instituto
8. Acionamento Ambiental, Companhia de Saneamento, Secretaria de Saúde, pela
complementar de Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil.
órgãos de resposta e
apoio b. Acionamento das empresas responsáveis pelo transporte,
transportadoras, expedidora e destinatário.

a. Isolamento do local e definição das zonas quente, morna e fria de


atendimento.
b. Organização/gerenciamento da cena.
c. Montagem do corredor de descontaminação e outras estruturas.
d. Atendimento à ocorrência:
i. Avaliar;
ii. Planejar;
iii. Implementar com:
 Combate a incêndio;
9. Atendimento à  Salvamento e socorro às vítimas;
ocorrência
 Eventual descontaminação;
 Confinamento;
 Contenção do escape (derramamento/vazamento).
i. Checar efetividade das ações;
ii. Finalizar com:
 Limpeza/descontaminação de área e de materiais;
 Entrega às autoridades competentes.
e. Reavaliação da cena.
f. Descontaminação

a. Eventual coleta de produto e material contaminado para análise.


10. Avaliação e b. Identificação da área atingida pelo vazamento do produto químico.
monitoramento de
c. Identificação de área de proteção ambiental ou manancial afetados.
danos ambientais e
minimização de d. Identificação das ações a serem deflagradas para recuperação.
danos e prejuízos
e. Monitoramento dos danos ambientais e das ações de recuperação
com eventual liberação de áreas afetadas.

11. Recuperação a. Descontaminação da área e destinação do material contaminado.

12. Avaliação da recuperação pelo órgão ambiental

13. Cadastramento
a. Preenchimento da Ficha de Informações do Desastre da ocorrência
de dados no Sistema
na base de dados do Sistema de Defesa Civil.
de Defesa Civil
Fonte: CEP2R2, 2016.

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TEMA 4 – PLANO DE CONTINGÊNCIA PARA DESASTRES DE ORIGEM
NATURAL

O Plano de Contingência para desastres de origem natural apresenta as


ações a serem tomadas pelos responsáveis do município quanto à resposta às
emergências de eventos extremos. Tendo em vista a abrangência e diversidade
de eventos relacionados a esse plano, seus aspectos estruturantes serão
detalhados ao longo da disciplina. Neste momento, destaca-se as principais
diferenças com o Plano para produtos perigosos: a caracterização dos cenários
de risco dos municípios e suas respectivas ameaças.
Como visto anteriormente, os planos para produtos perigosos são voltados
ao atendimento de incidentes a partir de vazamentos ou liberação de compostos
químicos danosos à saúde e ao meio ambiente. Entretanto, dificilmente será
possível caracterizar os cenários de localização dos eventos antes que eles
ocorram. No caso de desastres de origem natural, os municípios já possuem um
histórico de desastres, atrelado à experiência de quais lugares são mais afetados
por eles. Além disso, soma-se à identificação das vulnerabilidades as ameaças e
possíveis danos e prejuízos para aquelas comunidades específicas.
Nesse cenário, as medidas de preparação são mais voltadas ao socorro de
pessoas e estratégias que diminuam os impactos às infraestruturas essenciais.
Para a efetividade dessas ações, bem como para o monitoramento do
desempenho dos responsáveis e das atividades do plano, a integração entre as
áreas setoriais e demais organismos envolvidos na resposta dos eventos é
extremamente necessária. Quando as estratégias são desenvolvidas em
conjunto, tem-se um olhar mais abrangente das situações e dos possíveis
impactos que os desastres podem causar nas comunidades.
Em um primeiro momento, deve-se levar em consideração as prioridades
para o atendimento emergencial:

• Quais são as regiões com a maior concentração de pessoas em situação


de vulnerabilidade?
• Quais são as áreas com menor disponibilização de infraestruturas ou nos
casos em que ela é insuficiente?
• Onde estão localizados os empreendimentos essenciais, como escolas,
asilos, estações de tratamento, estações de energia, postos de saúde e
hospitais?
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A partir dessa ordem de atendimento prioritário, é possível caracterizar os
cenários de risco presentes nos municípios já pensando nas estratégias para a
implementação das ações de resposta.
Uma forma de caracterizar os cenários dos municípios é realizar o
levantamento de informações das áreas que possuem os maiores registros de
desastres ao longo do tempo. Conforme visto anteriormente, essas áreas com
uma alta recorrência de eventos extremos, sejam por registros históricos ou
aqueles que continuam a ocorrer sazonalmente, são denominadas áreas de
atenção. Destaca-se que as áreas de atenção formam pequenas delimitações em
locais específicos, podendo haver uma ou mais em um mesmo bairro, por
exemplo. As informações básicas que podem ser coletadas para a caracterização
dessas áreas são apresentadas no Quadro 3.

Quadro 3 – Informações básicas sobre as áreas em risco

Categorias Descrição do conteúdo

Local;
Detalhamento do desastre;
Dados Básicos
Coordenadas;
Bacia hidrográfica.

Média de vezes por ano em que o desastre acontece;


Recorrência Intervalo de tempo em que o desastre tem mais probabilidade de
ocorrer.

Residências;
Prédios públicos;
Infraestruturas;

Identificação dos Pontos sensíveis;


possíveis danos População que pode ser afetada;
Caracterização da área afetáveis;
Tipo de ocupação;
Predominância construtiva da região;

Descrição do cenário de risco;


Fatores de risco Responsável pelo levantamento de dados de risco;
Cargo ou função.

Fotos das áreas em risco;


Fotos do local
Fotos da ocorrência de desastre.
Fonte: Brasil, 2017.

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Quanto mais preparado o município estiver para o atendimento das áreas
de atenção, maiores serão as chances de sucesso. Por isso, é importante que os
gestores locais dediquem tempo e recursos para a definição e caracterização de
todas as áreas de seus municípios. Com essas informações, é possível criar uma
rede interna para alertar as comunidades quanto aos riscos, capacitar as pessoas
em situação de vulnerabilidade e definir estratégias que auxiliem os agentes de
proteção e defesa civil na melhoria continua de suas ações. Não obstante, essa
caracterização também é ideal para ajudar a priorizar as áreas que necessitarão
de atendimento imediato.
Por fim, cabe lembrar que a definição das ameaças também reflete
diretamente na efetividade dessas ações. De modo geral, os Planos de
Contingência podem apresentar a caracterização das áreas de atenção para
riscos de alagamento, deslizamento, enxurrada, granizo, inundação, tempestades
e vendaval. Entretanto, cabe ressaltar que o mais comum será encontrar medidas
de prevenção, mitigação e preparação frente a alagamentos, inundações,
enxurradas e deslizamentos. Isso se dá pela delimitação das áreas em que essas
ameaças podem ocorrer. Se pensarmos em situações de chuvas intensas,
vendavais e granizo, por exemplo, esses tipos de eventos podem alcançar o
município inteiro, ou variar as áreas afetadas a cada ocorrência. Percebe-se a
complexidade para antecipação das medidas nesses casos, resultando em uma
preparação com foco nos danos e prejuízos que os desastres podem causar.

TEMA 5 – ESTRUTURAÇÃO-BASE DO PLANO DE CONTINGÊNCIA

A estruturação dos Planos de Contingência deve considerar o melhor


aproveitamento dos recursos materiais e humanos, dos investimentos financeiros,
das medidas que visem à redução dos impactos negativos dos eventos extremos
e de processos mais eficientes para a gestão local. Conforme o art. 3° da Lei n.
12.983, de 2014, sobre a transferências de recursos, os elementos básicos que
devem ser considerados nos Planos de Contingência de Proteção e Defesa Civil
Municipais são:

I - indicação das responsabilidades de cada órgão na gestão de


desastres, especialmente quanto às ações de preparação, resposta e
recuperação;
II - definição dos sistemas de alerta a desastres, em articulação com o
sistema de monitoramento, com especial atenção dos radioamadores;
III - organização dos exercícios simulados, a serem realizados com a
participação da população;

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IV - organização do sistema de atendimento emergencial à população,
incluindo-se a localização das rotas de deslocamento e dos pontos
seguros no momento do desastre, bem como dos pontos de abrigo após
a ocorrência de desastre;
V - definição das ações de atendimento médico-hospitalar e psicológico
aos atingidos por desastre;
VI - cadastramento das equipes técnicas e de voluntários para atuarem
em circunstâncias de desastres;
VII - localização dos centros de recebimento e organização da estratégia
de distribuição de doações e suprimentos.

Independentemente dos processos adotados para a estruturação dos


planos, é importante destacar que isso requer a integração setorial e a
participação de todos os envolvidos durante a resposta de eventos extremos, seja
a própria Proteção e Defesa Civil, os voluntários, empresas, órgãos não
governamentais ou as comunidades afetadas.
Para auxiliar na elaboração do documento oficial, pode-se partir de três
questões importantes:

1. Qual é a probabilidade de um desastre ocorrer?


2. Como serão executadas as medidas de preparação dos agentes de defesa
civil, gestores das áreas setoriais, comunidades em risco e demais
organismos envolvidos?
3. Como serão realizadas as ações de resposta ao evento, com o
restabelecimento das infraestruturas essenciais, atendimento às vítimas e
ações de socorro?

Para responder a essas questões, será necessário identificar os principais


elementos que irão compor o plano de contingência. Pode-se iniciar com a
definição dos cenários de risco e principais ameaças, conforme apresentado
anteriormente. A partir dos riscos é que será possível planejar as ações a serem
tomadas durante a resposta. Embora não seja possível prever com toda a certeza
os danos, perdas e prejuízos das comunidades afetadas, essa preparação
auxiliará os gestores na definição dos responsáveis pelas atividades e dos
recursos necessários ao atendimento.
Outro ponto importante é que, com a definição das áreas com maior
potencial de risco, é possível realizar treinamentos e simulados com a população.
Embora os gestores e demais agentes envolvidos sejam os responsáveis por
articular e implementar as estratégias para uma resposta eficaz, a população
também precisa compreender as ações e suas próprias responsabilidades para
contribuir com a segurança local. Deste modo, os planos de contingência também

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são uma oportunidade para o envolvimento das comunidades nas medidas de
gestão dos riscos.
Além disso, outras informações que não podem faltar na estruturação são
a definição dos sistemas de monitoramento, alerta e alarme; as rotas de
evacuação; ações de socorro e de assistência às vítimas; ações de
restabelecimento dos serviços essenciais; e a instalação de um Sistema de
Comando de Incidentes (SCI). Essas informações podem ser subdivididas em 11
capítulos principais, conforme apresenta a Figura 1.
Destaca-se que o SCI é uma ferramenta gerencial utilizada para a
padronização de incidentes. Essa padronização permite uma maior organização
dos usuários quanto à integração das medidas e ações a serem tomadas,
apresentando três objetivos principais (Souza, 2018, p.10-11): “A segurança dos
respondedores do incidente, bem como de todas as pessoas envolvidas ou
atingidas pelo evento; O cumprimento dos objetivos táticos definidos para o
desenvolvimento das ações relacionadas ao incidente; O uso eficiente dos
recursos disponibilizados”.

Figura 1 – Componentes do Plano de Contingência de Proteção e Defesa Civil

Introdução
• Documento de aprovação
• Página de assinaturas
• Instruções para o uso e manutenção
Finalidade
• Pressupostos do planejamento
Caracterização do Cenário
• Áreas de alagamento
• Áreas de deslizamento
• Áreas de inundação
Cadastro de Abrigos
• Quando ativar o abrigo
Cadastro de Recursos
Ativação do Plano
• Autoridade para ativação, critérios e procedimentos
Desmobilização do Plano
• Critérios, autoridade e procedimentos para a desmobilização
Ações Operacionais
• Monitoramento
• Prioridades na gestão da ocorrência
Ações de Resposta
Instalação do SCI
• Organograma do SCI
Atribuições Gerais
Fonte: Pinheiro, 2016.

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Percebe-se que essa estruturação visa preparar todos os profissionais,
voluntários, organizações e comunidades envolvidas com as situações
emergenciais para um reposta eficaz. Desse modo, todo o planejamento e a
preparação devem ser muito bem pensados, a fim de alcançar a predefinição dos
elementos essenciais para o enfrentamento dos desastres: gerenciamento e
logística de recursos, processos institucionais, materiais e equipamentos
necessários, sistemas de comunicação e preparação técnica para a resposta.

16
REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n. 12.608, de 10 de abril de 2012. Diário Oficial da União, Brasília,


DF, 11 abr. 2012.

_____. Lei n. 12.983, de 2 de junho de 2014. Diário Oficial da União, Brasília,


DF, 3 jun. 2014.

_____. Decreto n. 5.098, de 3 de junho de 2004. Diário Oficial da União, Brasília,


DF, 4 jun. 2004.

_____. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Proteção e


Defesa Civil. Departamento de Minimização de Desastres. Elaboração de plano
de contingência: livro base. 1. ed. Brasília: Ministério da Integração Nacional,
2017.

CEP2R2. Plano de Contingência para incidentes com Produtos Perigosos no


modal Rodoviário. Paraná, 2016.

DEFESA CIVIL DO PARANÁ. Plano de Contingência Online. Curitiba:


Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil, 2021.

FERENTZ, L. M. S.; GARCIAS, C. M. A Capacidade do Estado frente a gestão de


riscos e desastres após a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (Lei
12.608/2012). Revista Brasileira de Políticas Públicas, v. 10, n. 1 p. 244-267,
2020.

OLIVEIRA, M. de. et al. Departamento de Ciências da Administração.


Capacitação dos Gestores de Defesa Civil para uso do Sistema Integrado de
Informações sobre Desastres (S2iD). 2 ed. Florianópolis: Ministério da
Integração Nacional, Secretaria Nacional de Defesa Civil, Universidade Federal
de Santa Catarina, Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres,
2013.

PINHEIRO, E. G. A efetividade do planejamento contingencial elaborado a


partir das áreas de atenção no município de Almirante Tamandaré/PR. 250 f.
Tese (Doutorado em Gestão Urbana) – Pontifícia Universidade Católica do
Paraná, Curitiba, 2016.

SOUZA, P. H. Sistema de Comando de Incidentes – Nível Operações. 1. ed.


Corpo de Bombeiros do Paraná, 2018.

17
AULA 2

ELABORAÇÃO DE PLANOS
DE CONTINGÊNCIA

Prof.ª Larissa Maria da Silva Ferentz


CONVERSA INICIAL

Elementos prévios

A elaboração de planos de contingência demanda alguns conhecimentos


prévios essenciais para a sua efetividade. Com isso, as temáticas apresentadas
nesta aula versarão sobre a identificação das ameaças, vulnerabilidades e dos
elementos essenciais de um plano de contingência; as normas e leis locais; os
cenários de risco e o cadastramento de recursos.

TEMA 1 – IDENTIFICAÇÃO DAS AMEAÇAS E VULNERABILIDADES EM UM


PLANO DE CONTINGÊNCIA

O reconhecimento local é uma das primeiras etapas a serem realizadas nos


municípios, para elaboração de um plano de contingência. A caracterização dos
elementos que geram o risco nas comunidades, no que se refere às ameaças e
vulnerabilidades, é um passo importante para a efetividade de um plano de
contingência. Por isso, gestores locais, entidades privadas e não governamentais,
líderes comunitários e demais moradores precisam ter consciência dos riscos a
que estão submetidos e serem preparados para lidar com eles.
Para a elaboração de planos de contingência, os gestores precisam partir
do princípio de que a preparação das comunidades e dos demais agentes técnicos
deve ocorrer quanto a ameaças específicas. Essas ameaças devem estar
diretamente ligadas à realidade local. Não faria sentido se todos os municípios
utilizassem o mesmo plano para combate a eventos extremos, tendo em vista que
cada região possui suas próprias características sociais, ambientais e
econômicas. A associação dessas características com os perfis territoriais dos
municípios resulta em riscos e ameaças totalmente diferentes de um município
para o outro.
Desse modo, em uma primeira análise, se faz necessária a identificação de
todas as ameaças que assolam municípios. Para isso, os gestores locais
precisarão analisar todos os cenários possíveis. Caso o município já possua um
histórico de registros de ocorrências de eventos extremos, a identificação dessas
ameaças será mais fácil. Entretanto, se esse histórico não houver, é possível
realizar o resgate de informações com diálogo com a própria população local,
dando preferência aos moradores mais antigos. Com as ameaças bem definidas,

2
inicia-se o seu processo de classificação. Nesse sentido, cabe determinar a sua
frequência e magnitude ao longo do tempo.
Conforme visto anteriormente, as principais ameaças presentes nos planos
de contingência do país são: alagamentos, inundações e movimentações de
massa (deslizamentos). Entretanto, caso os municípios não possuam esses tipos
de riscos, os gestores podem e devem determinar quais são as ameaças que
assolam suas comunidades. Com essas definições, a identificação das
vulnerabilidades pode ser realizada mediante cadastramento de informações-
chave como: caracterização dos moradores que habitam áreas de risco (com
nome, sexo, idade, grau de instrução, medicamentos utilizados, presença de
animais de estimação etc.); e caracterização dos empreendimentos essenciais
mais vulneráveis (escolas, hospitais, postos de saúde, centros comunitários etc.)
(Calheiros; Castro; Dantas, 2007).
Nesse contexto, os municípios precisam de um órgão responsável para a
organização e coordenação das atividades, como a Coordenadoria Municipal de
Proteção e Defesa Civil (Compdec). É esse órgão que irá comandar as ações de
identificação das ameaças e vulnerabilidades municipais, a fim de elaborar planos
específicos que auxiliarão as comunidades quanto à prevenção, mitigação e
preparação para os municípios e seus habitantes lidarem com essas ameaças e
vulnerabilidades. Com base nesse conhecimento, é possível se preparar para o
enfrentamento dos riscos. A elaboração dos planos estabelecerá “[...] o que fazer,
quem faz, como fazer, e quando deve ser feito” (Calheiros; Castro; Dantas, 2007,
p. 3).
Com as ameaças e vulnerabilidades locais bem definidas, é possível iniciar
a associação dos riscos do município, como citam Calheiros, Castro e Dantas
(2007, p. 42), mediante consideração dos:

a. riscos mais frequentes, sua época de ocorrência e área atingida;


b. riscos presentes (iminentes);
c. riscos cíclicos (desastres que ocorrem frequentemente);
d. riscos potenciais (desastres que podem ocorrer).

Com base nessas informações, deve-se realizar a elaboração dos mapas


das áreas em risco, apresentando as cotas máximas de cheia dos rios; as áreas
que podem ser ou que já foram atingidas por enxurradas e deslizamentos; a
localização de indústrias e demais empreendimentos com riscos tecnológicos,
entre outras informações que os gestores acharem relevantes. O importante é que
3
se tenha bem definidas a localização das pessoas e infraestruturas mais
vulneráveis, as áreas de risco do município e o seu grau de vulnerabilidade.
Atrelado àqueles fatores, também é possível considerar a percepção local
do risco, a fim de auxiliar na determinação das comunidades prioritárias para os
cenários de risco (Brasil, 2017). É importante que essas avaliações sejam
realizadas semestralmente. Desse modo, os mapas de riscos e o plano de
contingência estarão sempre atualizados.

TEMA 2 – IDENTIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS ESSENCIAIS PARA


FUNCIONAMENTO DE UMA CIDADE

Os elementos essenciais para funcionamento de um município se referem


a tudo aquilo que pode interferir no dia a dia das pessoas da cidade caso não
esteja funcionando a contento. Pensando em um exemplo prático, podemos
imaginar que há um curso sobre medidas de prevenção de riscos em uma outra
cidade que não naquela em que residimos e que precisamos nos deslocar até
essa cidade, para frequentá-lo. No primeiro momento, adotamos a modalidade de
ônibus para realizar esse deslocamento, por ele ser mais econômico. Entretanto,
a companhia de ônibus que opera o trajeto que precisamos cumprir entrou em
contato para informar que, após a incidência de um desastre provocado por fortes
chuvas, as pontes e principais vias de acesso àquela cidade estão bloqueadas e,
com isso, não será possível viajar de ônibus até lá, em uma data específica. Dado
esse problema, o único acesso que resta à cidade se dá via aeroporto. Nesse
caso, ainda podemos optar por comprar uma passagem aérea. Chegando ao
aeroporto da cidade, é necessário se deslocar até o hotel. Nesse trajeto, a
problemática de vias bloqueadas fica mais perceptível devido ao trânsito ostensivo
para desviar dos deslizamentos ou alagamentos existentes, por exemplo. Porém,
como se não bastasse tudo isso, ao chegar ao hotel reservado, percebe-se que
ele foi afetado indiretamente pela situação ocorrida, pois, mesmo ele estando
distante do ocorrido, toda a infraestrutura básica que atende ao hotel está com
algum tipo de interrupção. Como o curso foi muito procurado, não há outra opção
disponível de hotel, no momento. Então, é necessário permanecer sem água e
sem energia, no local. Por outro lado, ao tentar entrar em contato com os
responsáveis pelo curso, descobre-se que os telefones pararam de funcionar e,
consequentemente, não há conexão à internet. Entretanto, como uma reviravolta
da sorte, o hotel possui um radioamador treinado, o qual comunica que a escola
4
em que o curso seria realizado também foi afetada. Como o curso ocorrerá apenas
no dia seguinte, podemos aguardar e ver se a situação se normaliza.
Nesse exemplo, podemos ter dois finais:

1. durante a noite a chuva volta e o aeroporto local tem de cancelar os voos


pela dificuldade de abastecimento dos aviões, o que resulta em ter de
permanecer na cidade por mais alguns dias até a situação melhorar;
2. a chuva não volta mais e as equipes de trabalho conseguem identificar e
cuidar das principais infraestruturas afetadas, normalizando os sistemas
essenciais.

Independentemente do final da história, com esse exemplo podemos


perceber a problemática por que alguns municípios passam com eventos de
grande magnitude, especialmente em épocas em que a incidência de chuva é
constante. No caso, o exemplo serviu para tentarmos nos imaginar em uma
situação grave, após a ocorrência de um desastre natural. Agora, podemos pensar
como é tal situação para os moradores do município afetado pelo desastre, cuja
rotina é totalmente alterada e precisa conviver com a interrupção dos serviços
essenciais na cidade, que complica ainda mais a situação dessas comunidades,
até que possam voltar à normalidade.
Entre os elementos essenciais para funcionamento de um município, foram
citados no exemplo: interrupção de acesso a pontes e vias principais; do
abastecimento de água; do fornecimento de energia; das comunicações por
telefone e internet; e de atendimento nas escolas. Esses elementos podem ser
divididos em quatro grupos principais: infraestrutura, transporte,
empreendimentos essenciais e comunicação. Cada grupo possui uma série de
elementos que o compõem e que podem afetar o funcionamento das cidades.
Esses grupos podem ser observados no Quadro 1.

Quadro 1 – Elementos essenciais para o funcionamento das cidades

Elementos
Exemplos
essenciais
• Estação de tratamento de água (ETA)
• Estação de tratamento de esgoto (ETE)
Infraestrutura
• Gás
• Energia elétrica
• Pontes
• Aeroportos
Transporte
• Ferrovias
• Vias e rodovias principais
Empreendimentos • Escolas

5
Essenciais • Asilos
• Prefeitura e órgãos públicos
• Hospitais
• Postos de saúde
• Sistema penitenciário
• Bancos
• Obras de contenção
• Telefones
Comunicação
• Internet

Tendo em vista a abrangência de setores que podem ser afetados no


funcionamento de um município, é importante aqui compreender a necessidade
da integração dos esforços dos diferentes profissionais envolvidos com esses
setores. Não obstante, outras duas ações são essenciais para a normalização dos
problemas o mais rapidamente possível:

1. a definição dos responsáveis por cada um dos elementos essenciais, além


de respectivos substitutos e equipe de atuação;
2. a definição das tarefas de cada um dos profissionais envolvidos.

Em resumo, essa fase deve abranger quatro etapas principais:

a) Cadastramento do pessoal institucional (engenheiros, mecânicos,


arquitetos, especialistas em telecomunicações) que deverão atuar nos
serviços essenciais (abastecimento de água, energia elétrica,
saneamento, comunicações, abastecimento alimentar);
b) Realizar estudos de localização de fontes em áreas de risco;
c) Estabelecer alternativas para resolver as emergências em cada uma
das áreas essenciais;
d) Estimativa da população potencialmente atingível em cada caso de
desastre, para elaborar o planejamento dos serviços emergenciais que
serão necessários, bem como do trabalho de recuperação já a partir da
fase assistencial. (Calheiros; Castro; Dantas, 2007, p. 59)

Será importante ter em mente também o planejamento de quanto as


atividades irão custar e quais são os recursos necessários para sua efetivação.
Tais temas ainda serão por nós abordados. Com a identificação dessas
informações e o conhecimento dos principais elementos essenciais para o
funcionamento de uma cidade, é possível iniciar o processo de identificação dos
cenários de risco dos municípios.

TEMA 3 – CENÁRIOS DE RISCO

Conforme a Instrução Normativa do então Ministério da Integração


Nacional n. 2/2016, os planos de contingência são documentos que registram “[...]
o planejamento elaborado a partir da percepção e análise de um ou mais cenários
de risco de desastres [...]” (Brasil, 2016). Um cenário de risco pode ser definido

6
como um conjunto de elementos que compõe a probabilidade da ocorrência de
impactos negativos decorrentes de um evento, em uma determinada região. Os
principais fatores que contribuem para o aumento do risco nos municípios são:
ameaças, vulnerabilidades, incapacidade de enfrentamento de eventos e
indisponibilidade de recursos. Esse conjunto de elementos se conectam entre si,
definindo o cenário de risco. Cabe destacar que uma mesma região pode ter mais
de um cenário, alternando os riscos em decorrência dos tipos de ameaça que
assolam o município.
Para a elaboração do plano de contingência, devem ser considerados os
cenários de desastres que ocorrem com maior frequência e daqueles que
resultam nos maiores danos e prejuízos. Essas duas situações são muito
utilizadas para o planejamento da gestão de riscos e desastres no mundo todo.
Um exemplo disso são as diretrizes da Estratégia Internacional das Nações
Unidas para a Redução de Desastres (UNDRR, 2020) na campanha Construindo
Cidades Resilientes, em que cada município participante deve definir seus
cenários mais frequentes e mais impactantes. Com base nessa definição é que
se inicia o processo de planejamento para o alcance da resiliência local.
Com o detalhamento de cada cenário, é possível compreender a realidade
local por meio de análises específicas (Quadro 2). O conhecimento das ameaças,
vulnerabilidades e das capacidades e recursos existentes possibilita construir os
cenários de riscos locais, desde os mais simples até os mais complexos. Além
disso, é possível proceder a outras classificações, como de percepção sobre o
risco e sua temporalidade (Narváez; Lavell; Ortega, 2009). Só após esse
entendimento será possível definir medidas e estratégias eficazes para
preparação e resposta aos desastres.

Quadro 2 – Matriz de orientação de busca de dados e informações organizados


por ameaça, vulnerabilidades, capacidades e recursos

Temas Documentos sugeridos


• Mapa falado
• Mapas de risco, geológicos de áreas suscetíveis a movimentos de
massa, hidrológicos ou de áreas suscetíveis a alagamentos
Ameaças • Registro de estações de monitoramento
• Dados de vento, chuva, nível do mar e dos rios
• Relatórios de vistorias
• Histórico de desastres
• Carta geológica
Vulnerabilidades • Plano Diretor
• Dados demográficos

7
• Diagnósticos socioambientais (das Secretarias de Meio Ambiente,
Saúde, Economia, Assistência Social, Educação, Planejamento)
• Relatórios de equipes de saúde da família (sobre grupos
vulneráveis, por exemplo)
• Cadastro da população situada no cenário de risco contendo
peculiaridades de: idosos, crianças e adolescentes, ressaltando a
presença de recém-nascidos; pessoas com necessidade de
entendimento especial; hospitais locais e regionais; e demais
equipamentos sociais etc.
• Planos de emergências das agências de resposta
• Estrutura e equipe da prefeitura municipal
Capacidades e • Equipamentos sociais com capacidade de suporte (hospitais locais e
recursos regionais de infraestrutura, de transporte, abrigos, ginásios, entre
outros)
• Lideranças comunitárias
Fonte: elaborado com base em Brasil, 2017, p. 34.

Observa-se novamente que a integração entre as áreas de gestão do


município é essencial para o andamento do processo. A abrangência de
informações para o desenvolvimento das ações resulta em uma necessidade
eminente de participação de vários agentes, a fim de otimizar o tempo de
execução e a eficiência do cumprimento das etapas previstas do planejamento.
Para isso, também é possível contar com diversas agências para a coleta de
dados, durante a análise dos cenários de risco, tais como (Brasil, 2017):

• cartas geotécnicas: Ministério do Desenvolvimento Regional;


• dados demográficos: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);
• dados hidrológicos: Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico
(ANA);
• dados meteorológicos: Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e Centro
de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Cptec/Inpe);
• estações de monitoramento: Centro Nacional de Monitoramento e Alertas
de Desastres Naturais (Cemaden);
• histórico de desastres: Secretaria de Estado de Defesa Civil (Sedec),
entrevistas com moradores e fontes jornalísticas;
• histórico de desastres no Sistema Integrado de Informações sobre
Desastres (S2ID): Ministério do Desenvolvimento Regional e Secretaria de
Estado de Defesa Civil (Sedec);
• setorização de risco: Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
(CPRM).

8
Esse conjunto de informações auxiliará os gestores na compreensão dos
cenários de risco para a elaboração do plano de contingência. O importante é
sempre ter em mente que os planos devem ser elaborados conforme a realidade
dos municípios. Quanto mais próximas da realidade local, mais eficientes serão
as medidas de prevenção, mitigação e preparação para desastres. Nesse sentido,
todas as análises deverão resultar na descrição completa das informações
pertinentes sobre as regiões abrangidas no plano de contingência, tais como a
quantidade de pessoas afetadas; quais serão as áreas prioritárias para
atendimento, durante uma ocorrência; qual o acesso para as áreas de risco; como
realizar a logística de materiais e pessoas; quais serviços essenciais podem ser
afetados; e quem serão os agentes envolvidos na resposta aos eventos (Quadro
3).

Quadro 3 – Exemplo de definição de cenários

Capacidades e
Ameaça Vulnerabilidades Riscos
recursos
• Infraestrutura deficiente • O rio inunda afetando
• Treinamento
• Sistema de drenagem casas da vizinhança
• Pessoas
falho • Casas são alagadas no
capacitadas
• Sistema de saneamento nível do chão
• Locais para
Inundação falho • Aparelhos domésticos
estocagem dos
• Condição das edificações são danificados
aparelhos
precária • Mortes entre os grupos
domésticos
• Grupos sociais mais vulneráveis
• Plano de fuga
vulneráveis (idosos e crianças)
Fonte: elaborado com base em Brasil, 2017, p. 35.

A partir do momento que os gestores locais compreendam que os cenários


de risco devem ser parte do seu planejamento, a formulação de políticas públicas,
de novas estratégias e de novos instrumentos para lidar com desastres será
baseada em processos holísticos estabelecidos com base nos problemas a serem
enfrentados, reduzindo-se assim os riscos e vulnerabilidades locais e
aumentando-se a resiliência das comunidades (Narváez; Lavell; Ortega, 2009).

TEMA 4 – NORMAS E LEIS LOCAIS

O plano de contingência é um instrumento que pode contribuir com o


cumprimento das obrigatoriedades da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil
(Pnpdec), por parte dos municípios. As atribuições dos municípios para
elaboração dos seus respectivos planos de contingência estão listadas no art. 8°
da Lei n. 12.608/2012, a saber:

9
[...]
III - incorporar as ações de proteção e defesa civil no planejamento
municipal;
IV - identificar e mapear as áreas de risco de desastres;
V - promover a fiscalização das áreas de risco de desastre e vedar novas
ocupações nessas áreas;
VI - declarar situação de emergência e estado de calamidade pública;
VII - vistoriar edificações e áreas de risco e promover, quando for o caso,
a intervenção preventiva e a evacuação da população das áreas de alto
risco ou das edificações vulneráveis;
VIII - organizar e administrar abrigos provisórios para assistência à
população em situação de desastre, em condições adequadas de
higiene e segurança;
IX - manter a população informada sobre áreas de risco e ocorrência de
eventos extremos, bem como sobre protocolos de prevenção e alerta e
sobre as ações emergenciais em circunstâncias de desastres;
X - mobilizar e capacitar os radioamadores para atuação na ocorrência
de desastre;
XI - realizar regularmente exercícios simulados, conforme Plano de
Contingência de Proteção e Defesa Civil;
XII - promover a coleta, a distribuição e o controle de suprimentos em
situações de desastre;
XIII - proceder à avaliação de danos e prejuízos das áreas atingidas por
desastres;
XIV - manter a União e o Estado informados sobre a ocorrência de
desastres e as atividades de proteção civil no Município;
XV - estimular a participação de entidades privadas, associações de
voluntários, clubes de serviços, organizações não governamentais e
associações de classe e comunitárias nas ações do SINPDEC e
promover o treinamento de associações de voluntários para atuação
conjunta com as comunidades apoiadas; e
XVI - prover solução de moradia temporária às famílias atingidas por
desastres. (Brasil, 2012)

Não obstante, os municípios também dependem da transferência de


recursos federais para a execução das atividades de defesa civil, conforme a
Portaria n. 724/2002 do então Ministério da Integração Nacional. Nesse sentido,
para o atendimento das obrigatoriedades das presentes normativas, um órgão
municipal de defesa civil deverá ser instituído e manter-se ativo em suas
atividades, tornando-se “[...] o órgão responsável pelo planejamento, articulação,
coordenação, mobilização e gestão das ações de Defesa Civil, no âmbito do
município” (Calheiros; Castro; Dantas, 2007, p. 4).
Para o bom funcionamento da Compdec, é essencial que haja a definição
do plano de trabalho a ser seguido. Esse plano também pode servir como base
para a elaboração de planos específicos, tendo em vista que é necessário definir
atividades prioritárias, estratégias para execução das medidas instituídas, prazos
e responsáveis pelo cumprimento das atividades, entre outros aspectos. Para
facilitar a construção do plano, é possível realizar perguntas como as de Calheiros,
Castro e Dantas (2007, p. 12), a saber:

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a) O que vai ser feito e em qual período, respondendo as seguintes
perguntas: quais são os aspectos? Quais os problemas prioritários?
b) Quando deve ser realizada cada atividade, ou seja, o tempo que deve
ser utilizado para cada uma delas;
c) Como vai ser feito? Ou seja, a metodologia e tecnologia adequadas a
serem aplicadas, com facilidade de execução;
d) Quem são os executores? Quais os recursos a serem utilizados e
mobilizados – capacitação, treinamento e apoio previsto?
e) Como será feita a avaliação do andamento e da qualidade de cada
tipo de atividades;
f) Qual a frequência da avaliação e revisão desse plano de trabalho?

Percebe-se que a constituição organizacional dos planos de trabalho pode


ser utilizada também nos planos de contingência. Tendo em vista que uma das
principais atribuições da Compdec é realizar a identificação das ameaças e
vulnerabilidades do município, a fim de apresentar os seus cenários de risco, a
elaboração de planos bem completos e organizados pode contribuir com a eficácia
das atividades durante a ocorrência de emergências. Entretanto, cabe destacar
que, se apenas a Compdec fizer parte da constituição dos trabalhos, o
atendimento aos objetivos não será atingido. É necessário que os moradores e
demais organizações interessadas participem dos processos de construção das
estratégias e metas a serem alcançadas. Por isso, o contato constante com as
comunidades deve ser uma prática estabelecida. Mesmo que os planos sejam
realizados de forma a atender as leis vigentes, é a população que se mobilizará
diante dos riscos. Por isso, ela deve ser capacitada para agir nas situações de
desastre, contribuindo com as atividades da Defesa Civil.
Com a unificação das ações, a Compdec poderá atuar de maneira eficiente,
especialmente ao considerar as atividades prévias aos desastres. Dentre as
principais ações desenvolvidas, estão as de prevenção e preparação para
emergências (Calheiros; Castro; Dantas, 2007, p. 3), a saber:

• prevenção, que tem por objetivo reduzir a incidência dos desastres,


ou minimizar seus efeitos adversos;
• preparação, que tem por objetivo preparar os órgãos do Sistema
Nacional de Defesa Civil – SINDEC, no município, e a comunidade,
para garantir uma resposta adequada aos desastres e minimizar os
danos e prejuízos consequentes.

Para auxiliar no cumprimento dessas obrigações, os municípios precisam


contar com outras normativas e regulamentações (Quadro 4). Essa legislação é
peça-chave para a elaboração de políticas locais e, consequentemente, a
instituição de regras a serem seguidas pelas comunidades.

11
Quadro 4 – Integração da Pnpdec às políticas públicas

Políticas Principais leis alteradas


Ordenamento
Lei n. 6.766/1979 – parcelamento do solo urbano
territorial
Constituição Federal, art. 182 e 183 – política urbana; Lei n.
Política urbana
10.257/2001 – Estatuto da Cidade
Desenvolvimento Decreto n. 9.810/2019 – Política Nacional de Desenvolvimento
regional Regional
Lei n. 8.080/1990 – Código de Saúde; Portaria n. 1.271/2014 do
Ministério da Saúde (MS) – notificação compulsória de doenças,
Saúde
agravos e eventos de saúde pública; Portaria n. 30/2005 do MS – Centro
de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde
Lei n. 6.938/1981 e Lei Complementar n. 140/2012 – Política Nacional
de Meio Ambiente; Lei n. 12.651/2012 – proteção da vegetação nativa;
Política ambiental
Lei n. 9.605/1998 – sanções penais e administrativas derivadas de
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente
Mudanças do clima Lei n. 12.187/2009 – Política Nacional de Mudanças do Clima
Lei n. 9.433/1997 – Política Nacional de Recursos Hídricos e Sistema
Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos; Lei n. 9.984/2000
Recursos hídricos
– ANA; Lei n. 12.873/2013 – Programa Nacional de Apoio à Captação
de Água de Chuva e Outras Tecnologias Sociais de Acesso à Água
Geologia Lei n. 8.970/1994 – transforma a CPRM em empresa pública
Saneamento básico Lei n. 11.445/2007 – Política Nacional de Saneamento Básico
Resíduos sólidos Lei n. 12.305/2010 – Política Nacional de Resíduos Sólidos
Lei n. 12.796/2013 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira;
Educação
Lei n. 9.795/1999 – Política Nacional de Educação Ambiental
Ciência e tecnologia Decreto n. 7.513/2011 – Cemaden
Lei n. 12.334/2010 – Política Nacional de Segurança de Barragens;
Resolução do Conselho Nacional de Recursos Hídricos n. 143/2012 –
Segurança de
critérios gerais de classificação de barragens; Resoluções ANA n.
barragens
91/2012 e n. 742/2011 – critérios para o plano de segurança da
barragem e inspeções de segurança
Constituição Federal, art. 6º – a moradia como um direito social; Lei n.
Habitações de 11.124/2005 – Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social,
interesse social Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social e Conselho Gestor;
Lei n. 11.977/2009 – Programa Minha Casa, Minha Vida
Constituição Federal, art. 203 – Política Nacional de Assistência
Assistência social Social; Lei n. 12.435/2011 – Lei Orgânica de Assistência Social;
Resolução n. 109/2009 – Conselho Nacional de Assistência Social
Lei n. 12.983/2014 e Lei n. 12.340/2010 – Sistema Nacional de Defesa
Defesa civil Civil; Lei n. 8.239/1991 – Serviço Alternativo ao Serviço Militar
Obrigatório
Fonte: elaborado com base em Ferentz; Garcias, 2020.

A identificação das ameaças e sua respectiva consideração no


planejamento fazem com que as leis municipais sejam eficazes quanto à redução
dos riscos de desastres presentes nas comunidades. Como visto anteriormente,
o plano de contingência é elaborado com base na identificação dos cenários de
risco locais. Por isso, os gestores podem considerar diferentes cenários no
planejamento, a fim de preparar as comunidades e demais agentes para as
ocorrências. Com uma política definida, considerando os riscos identificados pela
Compdec, o município poderá ter uma redução nos impactos negativos dos
eventos, desde que o plano seja bem fiscalizado.

12
TEMA 5 – CADASTRAMENTO DE RECURSOS

O cadastramento de recursos é parte central de um plano de contingência,


pois por meio dele os gestores locais poderão analisar todos os materiais,
equipamentos e pessoas disponíveis para auxiliá-los na resposta aos eventos
extremos. Nesse sentido, cada instituição será caracterizada com a descrição de
informações como tipo de auxílio prestado, quantidades disponíveis, pessoas
responsáveis e seus respectivos contatos.
O cadastramento de recursos deve abranger os seguintes elementos:

a. recursos humanos – técnicos das áreas setoriais do município, agentes de


proteção e defesa civil, voluntários, militares, socorristas, população das
próprias áreas de risco, entre outros;
b. recursos institucionais – organismos dos setores público e privado;
c. recursos materiais e equipamentos – recursos próprios ou terceirizados,
empreendimentos utilizáveis durante os eventos, modais de transporte,
aparelhagem de saúde, equipamentos de proteção individual (EPIs),
elementos para sinalização das áreas e rotas de fuga, roupas e sapatos
adequados, entre outros;
d. recursos financeiros – doações e aqueles provisionados por Plano
Plurianual (PPA), Lei Orçamentária Anual (LOA), Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO), entre outros instrumentos de arrecadação.

Esses elementos são um pouco mais detalhados por Calheiros, Castro e


Dantas (2007, p. 44). Os autores consideram que a abrangência das atividades a
serem consideradas no cadastramento de recursos deve contemplar:

1. Cadastro de membros e substitutos da Comdec [Compdec].


2. Cadastro de responsáveis de instituições.
3. Cadastro de veículos existentes para transporte.
4. Cadastro dos estoques de combustíveis.
5. Cadastro de equipamentos para resgate de vítimas.
6. Cadastro de recursos para atendimento de emergência.
7. Identificação e cadastro de locais possíveis para abrigos provisórios.
8. Cadastro de recursos para sobrevivência.
9. Cadastro de recursos para manejo de mortos.
10. Elaboração de um mapa (croqui) de recursos disponíveis no
município.
11. Análise orçamentária e de recursos financeiros.

O importante é que o gerenciamento dos recursos seja realizado de


maneira integrada. Todos devem ser cadastrados e organizados, a fim de
permanecerem disponíveis quando houver necessidade. Por questões de

13
organização, é importante seguir uma padronização na hora desse
cadastramento, facilitando para que os responsáveis encontrem as informações
de que precisem rapidamente. Com a ocorrência de desastres e a necessidade
de utilização dos recursos, eles são separados em três fases principais: recurso
disponível – quando ele está pronto para ser utilizado; recurso designado –
quando ele está em uso durante e após a ocorrência de eventos; e recurso
desmobilizado – quando ele já não é mais necessário (Oliveira, 2009).
De modo geral, o modelo utilizado no Brasil para o cadastramento de
recursos nos planos de contingência os categoriza em quatro tipos principais:
veículos, materiais, recursos humanos e instituições voluntárias. Em cada uma
das categorias é possível armazenar informações sobre a quantidade de recursos
disponível, quem são os responsáveis pelo armazenamento e distribuição dos
recursos e seus meios de contato (Quadro 5). As descrições e exemplos de
recursos possíveis para cada uma das categorias são:

• Veículos: essa categoria deve apresentar os tipos de veículos que podem


ser utilizados durante a resposta aos desastres e posterior reconstrução do
que se perdeu. Os veículos podem ser da própria prefeitura, assim como
de empresas privadas, instituições e municípios vizinhos. Exemplos:
automóveis, caminhões, veículos quatro por quatro, tratores,
retroescavadeiras, barcos, aviões particulares, entre outros.
• Materiais: nos planos de contingência, os materiais são subdivididos em
estruturais e de assistência humanitária. Exemplos: materiais estruturais –
lonas, telhas, tijolos, madeira etc.; materiais de assistência humanitária –
cestas básicas, água potável, materiais de limpeza, colchões, roupas,
materiais de higiene pessoal, entre outros.
• Recursos humanos: se referem a todas as pessoas que podem ajudar os
agentes de defesa civil quando da ocorrência de eventos extremos. Nesse
caso, podem ser cadastrados tanto funcionários da própria prefeitura, como
demais indivíduos interessados em auxiliar nas ações. Exemplos: militares,
médicos, engenheiros, gestores das áreas setoriais, líderes comunitários,
veterinários, entre outros.
• Instituições voluntárias: tendo em vista a necessidade de atendimento e
acompanhamento das comunidades afetadas por desastres, é importante
cadastrar instituições que possam ajudar nas atividades de resposta a

14
eventos extremos. Exemplos: igrejas e locais de culto, associações
comunitárias, organizações não governamentais (ONGs), entre outras.

Quadro 5 – Modelo de apresentação e detalhamento dos recursos

Telefone
E-
Tipo Quantidade Responsáveis Instituição de
mail
contato
VEÍCULOS
MATERIAIS
Estruturais
Assistência
humanitária
RECURSOS
HUMANOS
INSTITUIÇÕES
VOLUNTÁRIAS

Nessa fase de cadastramento de recursos é preciso compreender que não


há necessidade de se adquirir de uma vez todos os recursos que devem ser
mobilizados quando da ocorrência de um evento extremo, como equipamentos
específicos ou grandes maquinários. O importante é identificar, por exemplo,
quais são as organizações que possuem esses materiais e como fazer para
mobilizá-los o mais rápido possível quando da ocorrência de desastres. Por conta
disso, a revisão dos recursos e de seus contatos deve ser feita de maneira
constante, estipulando-se para isso um prazo máximo de seis meses para os
municípios em que a frequência de eventos não é tão elevada e prazos menores
para aqueles em que há recorrência mais comum de desastres. Destaca-se ainda
que essa fase do processo deve ser realizada com muita atenção, pois a obtenção
de recursos durante as emergências só será possível se o cadastramento dos
responsáveis e de seus respectivos contatos estiver correto.

15
REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n. 12.608, de 10 de abril de 2012. Diário Oficial da União, Brasília,


11 abr. 2012. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12608.htm>. Acesso em: 5 maio 2021.

BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Gabinete do Ministro. Instrução


Normativa n. 2, de 20 de dezembro de 2016. Diário Oficial da União, Brasília, 22
dez. 2016. Disponível em: <https://www.in.gov.br/materia/-
/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/24789597/do1-2016-12-22-instrucao-
normativa-n-2-de-20-de-dezembro-de-2016--24789506>. Acesso em: 5 maio
2021.

______. Portaria n. 724, de 23 de outubro de 2002. Diário Oficial da União,


Brasília, 24 out. 2002. Disponível em:
<https://www.normasbrasil.com.br/norma/portaria-724-2002_182706.html>.
Acesso em: 5 maio 2021.

BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Proteção e


Defesa Civil. Departamento de Prevenção e Preparação. Módulo de formação:
elaboração de plano de contingência – livro base. Brasília, 2017.

CALHEIROS, L. B.; CASTRO, A. L. C.; DANTAS, M. C. Apostila sobre


implantação e operacionalização de Comdec. 4. ed. Brasília: Ministério da
Integração Nacional; Secretaria Nacional de Defesa Civil, 2007.

FERENTZ, L. M. S.; GARCIAS, C. M. A capacidade do Estado frente à gestão de


riscos e desastres após a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (Lei
12.608/2012). Revista Brasileira de Políticas Públicas, v. 10, n. 1, p. 244-267,
2020.

NARVÁEZ, L.; LAVELL, A.; ORTEGA, G. P. La gestión del riesgo de desastres:


un enfoque basado en procesos. San Isidro: Secretaría General de la Comunidad
Andina, 2009.

OLIVEIRA, M. Manual gerenciamento de desastres: sistema de comando de


operações. Florianópolis: Ministério da Integração Nacional; Secretaria Nacional
de Defesa Civil; UFSC; Ceped, 2009.

16
UNDRR – Estratégia Internacional das Nações Unidas para a Redução de
Desastres. Making Cities Resilient 2030 (MCR2030): Networking Event.
Genebra, 2020.

17
AULA 3

ELABORAÇÃO DE PLANOS
DE CONTINGÊNCIA

Profª Larissa M. S. Ferentz


INTRODUÇÃO

O envolvimento multissetorial das pessoas para a elaboração do Plano de


Contingência é essencial para a efetividades dos processos de resposta. Nesse
sentido, serão apresentadas as temáticas correlacionadas com as capacidades
presentes nos órgãos públicos e sociedade civil; os mecanismos de participação;
as atribuições; e os mecanismos de coordenação e operação.

TEMA 1 – CAPACIDADES PRESENTES NOS ÓRGÃOS PÚBLICOS

Com o reconhecimento dos cenários de risco municipais e dos respectivos


recursos necessários para o desenvolvimento das ações, é importante iniciar o
processo de identificação dos grupos de trabalho. As etapas de planejamento, de
definição das medidas de redução de riscos, de preparação e das ações de
resposta, demandam o envolvimento de diversos profissionais das áreas mais
variadas. Por isso, a participação de diferentes organizações somente agrega na
eficácia das estratégias. Desse modo, é importante “realizar um planejamento
participativo, com ações articuladas e previamente acordadas entre diversas
instituições” (Brasil, 2017, p. 32).
Os órgãos públicos devem reconhecer os principais agentes a serem
envolvidos nas ações de resposta de seus municípios, a fim de definir suas
responsabilidades e realizar sua preparação. Entre as principais áreas setoriais
que devem ser consideradas durante a elaboração dos Planos de Contingência
estão (Brasil, 2017, p. 33):

• Busca e salvamento;
• Ciência e Tecnologia;
• Comunicações;
• Controle de custo e avaliação de bens;
• Corpos de Bombeiros e polícias civil e militar;
• Educação;
• empresas, organizações não governamentais, instituições locais;
• Engenharia e evacuação;
• Entidades de classe;
• guardas municipais;
• Habitação e abrigos;

2
• Lideranças comunitárias e moradores de áreas de risco;
• Meio ambiente;
• Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil;
• ONGs com atuação humanitária;
• Saúde e saneamento;
• Segurança aérea e marinha;
• Serviços de emergência médica, como o Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência (Samu);
• Socorro e emergência (comida, água, vestuário).

Uma das principais responsabilidades dos grupos de trabalho é identificar


as medidas estratégicas a serem adotadas, consideradas as características
locais. Cada município apresenta suas próprias particularidades, sejam elas
territoriais, ambientais ou sociais. A partir do momento em que elas são
conectadas, as ameaças e vulnerabilidades geram diferentes graus e cenários de
risco. Nesse sentido, as ações devem levar em conta as capacidades locais para
o enfrentamento dessas ameaças, como os materiais disponíveis, quais as
principais rotas de fuga a serem utilizadas, a existência de sistemas de alerta e
alarme, como é feita a comunicação entre os gestores públicos e a população,
entre outros fatores.
Também é importante considerar os fatores culturais da região.
Comunidades em que a frequência de eventos é mais recorrente tendem a serem
mais participativas. O conhecimento desse aspecto é essencial para o
planejamento de recebimento de doações, atuação voluntária na organização dos
abrigos e no atendimento às famílias afetadas, assim como nas atividades de
reconstrução dessas comunidades. Quanto mais participativo o processo de
preparação for, maiores serão as chances de as medidas adotadas durante a
ocorrência de desastres serem efetivas.
É necessário destacar que todo esse processo depende de um órgão que
seja responsável pela organização das atividades. Como visto anteriormente,
esse papel pode ser desenvolvido pela Coordenadoria Municipal de Proteção e
Defesa Civil (Compdec). Quando o município já apresenta uma Compdec criada
e estabelecida, é possível realizar a identificação dos parâmetros que auxiliarão
nas estratégias do plano de contingência (Calheiros; Castro; Dantas, 2007, p. 38),
dispostos a seguir:

3
• estrutura e organização da Compdec;
• atuação e funcionamento;
• identificação dos membros;
• informações sobre os principais desastres do município;
• problemas e dificuldades existentes ou tidas anteriormente;
• informações sobre:
− estudos das ameaças e vulnerabilidades;
− sistemas de monitoramento de riscos, alerta e alarme;
− plano de atuação em situação de emergência e desastres;
− atividades não concluídas;
− atividades sobre capacitação e treinamento de pessoal e voluntário;
• recursos humanos, equipamentos e materiais;
• atividades desenvolvidas pela Compdec;
• comunidades parceiras.

Entretanto, nos casos em que o município ainda não criou o órgão de


Proteção e Defesa Civil Municipal, o primeiro passo será identificar as pessoas
que poderão ser responsáveis por um conselho municipal. Esse conselho deverá
se reunir com as autoridades presentes no município, sejam das áreas setoriais,
de organizações interessadas ou da própria sociedade civil, a fim de orientar sobre
as responsabilidades e o funcionamento de uma Coordenadoria Municipal de
Proteção e Defesa Civil. A estruturação da Compdec deve ser uma das
prioridades, já que é previsto por lei que os municípios comprovem a existência
de órgãos com essa atuação frente aos riscos, a fim de receberem recursos da
União (Portaria n. 724, de 2002).
Desse modo, será importante definir as funções e as áreas de atuação
específicas de cada um dos membros do conselho municipal. Além disso, nas
reuniões com as autoridades, pode-se sugerir quem devem ser os membros a
compor a Compdec, levando em consideração algum tipo de experiência anterior
com a área de desastres. O importante é que o prefeito e vereadores
compreendam as vantagens de se criar a Coordenadoria Municipal de Proteção e
Defesa Civil, ajudando na identificação dos recursos disponíveis para sua
estruturação: financeiro, comunicação, empresas privadas, serviços públicos
essenciais, associações comunitárias, administração municipal, entre outros.

4
Com base no exposto, percebe-se como a atuação de um grupo de trabalho
multidisciplinar, que também seja composto pelos diferentes setores da
sociedade, pode influenciar diretamente na eficácia do atendimento e da
preparação das comunidades em risco. “O importante é garantir a presença de
representantes que tenham, de um lado, poder decisório, e de outro,
conhecimento efetivo” (Brasil, 2017, p. 33). Com essas definições, os grupos
responsáveis devem realizar reuniões constantes para dar início ao planejamento
das atividades do Plano de Contingência. Entre as fases iniciais, estão a
caracterização local e coleta de dados, a fim de determinar os cenários de risco e
as áreas prioritárias. Além disso, durante o planejamento, também devem ser
considerados os procedimentos e prazos de avaliação e revisão dos planos.

TEMA 2 – CAPACIDADES PRESENTES NA SOCIEDADE CIVIL (SETORES


PRIVADOS, NÃO GOVERNAMENTAL E ACADEMIA)

A fim de auxiliar nas atividades de preparação e resposta dos órgãos


públicos, a sociedade civil e as instituições privadas são peças-chave durante a
ocorrência de emergências. As empresas podem contribuir tanto na prevenção de
acidentes tecnológicos como na resposta de desastres naturais. No primeiro caso,
é importante que os empreendedores tenham a responsabilidade da elaboração
do Plano de Contingência específico para suas atividades, como o caso do plano
de produtos perigosos já apresentados em momento anterior. Nesse sentido, além
da identificação dos cenários de risco, as empresas também podem elaborar
outros tipos de projetos que sejam integrados ao planejamento municipal, tais
como planos de segurança e de gerenciamento dos riscos.
Ao tratar do auxílio para as ações de resposta durante ou após a ocorrência
de eventos extremos, as instituições privadas apresentam muitos materiais e
equipamentos que podem ser emprestados e/ou doados aos órgãos públicos. Um
dos exemplos mais comuns se refere ao empréstimo de veículos e maquinários,
especialmente para situações em que houve o desabamento de casas e é
necessário realizar o resgate de vítimas localizadas debaixo dos escombros.
Alguns municípios não têm esse tipo de equipamento disponível. Desse modo, a
busca por parcerias com o setor privado é essencial.
A sociedade civil também tem forte relação com as ações a serem
desenvolvidas. Primeiramente, tem-se os próprios moradores das comunidades
em risco. Tendo em vista que esses são os primeiros a serem afetados, é
5
importante que eles sejam altamente capacitados para que consigam sair em
segurança de suas residências, ajudando também àqueles que mais precisam.
Em razão da convivência com o risco, as pessoas tendem a reconhecer alguns
indicativos de que desastres estão para ocorrer. Por isso, é importante que as
comunidades tenham contato direto com a Proteção e Defesa Civil do município,
a fim de avisar os agentes caso percebam algum cenário suspeito.
Diante do exposto, percebe-se que os moradores podem agir em conjunto
com a Defesa Civil local na fiscalização de suas comunidades. Por meio do canal
de comunicação direto, a emissão de alertas pode partir dos próprios moradores,
fazendo com que os agentes tenham mais tempo de ativar os Planos de
Contingência e iniciar a evacuação das comunidades. Os canais de comunicação
podem ser de páginas oficiais do município, nas redes sociais ou por telefone
próprio. O importante é que eles sejam exclusivos da Proteção e Defesa Civil
municipal e que todas as ligações sejam registradas e comunicadas aos
responsáveis.
Entre os principais elementos que os moradores poderão identificar nas
áreas de risco são: aumento do nível do rio; erosão próxima às margens de rios
ou em encostas de morros; trincas nas edificações; curvatura ou inclinação de
muros, paredes, postes ou árvores; e demais indícios de instabilidade dos
terrenos que possam indicar desastres de inundação ou movimentos de massa,
por exemplo (Fernandes, 2018). Percebe-se que, por conviverem com essas
situações de risco, as comunidades podem ser um forte apoio para a efetividades
das ações de Defesa Civil antes mesmo dos desastres ocorrerem.
Além dos moradores que habitam as proximidades de áreas em risco, os
gestores municipais também podem contar com a ajuda de organismos não
governamentais, grupos e líderes comunitários, associações de classe, técnicos
e estudantes, moradores voluntários, entre outros. Nos casos de representantes,
é importante determinar as relações com os moradores. Por exemplo: atuação
comunitária integrada a fim de solucionar algum problema; mecanismos utilizados
para o trabalho em conjunto; experiências com a ocorrência de desastres; maiores
problemas identificados nas comunidades e na cidade em geral etc.
Tratando-se de instituições sociais ou não governamentais, é importante
conhecer a atuação perante as comunidades e a governança. Nesse cenário,
pode-se identificar se as instituições já participam de alguma atividade com a
ocorrência de desastres, seja como forma preventiva, de resposta ou para a

6
reconstrução; caso contrário, pode-se verificar se já houve alguma participação
de trabalho com a Compdec; as ações desenvolvidas em prol das comunidades;
e sugestões de estratégias que possam ser adotadas para aumentar a integração.
Posteriormente às ocorrências, a academia também tem forte participação
para medidas preventivas e mitigatórias. Os pesquisadores podem fazer utilização
dos bancos de dados disponíveis nos sistemas de defesa civil, Centro Nacional
de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), Companhia de
Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), Centro Nacional de Gerenciamento de
Riscos e Desastres (Cenad) etc. a fim de avaliar as medidas tomadas em
comparação às ocorrências e respectivos impactos. Desse modo, é possível
realizar contribuições para novas estratégias que ampliem a preparação local. Por
exemplo: “refinamento dos limiares para geração de alertas mais precisos;
compreensão e retroanálise do evento de movimento de massa ocorrido, se as
ações de contingência internas e externas da defesa civil municipal foram efetivas
ou precisam ser revisadas” (Fernandes, 2018, p. 35).

TEMA 3 – MECANISMOS DE PARTICIPAÇÃO

A efetividade do plano de contingência está diretamente relacionada com


os mecanismos de participação da população e demais instituições pertencentes
a ela. Como visto anteriormente, os moradores das áreas de risco são essenciais
para a efetividade das ações, devendo ser parte dos processos desde o início, no
planejamento. Além disso, as organizações comunitárias, setor privado e
organismos não governamentais também têm contribuições significativas para a
preparação dos municípios. Nesse sentido, percebe-se como a composição dos
grupos de trabalho deve ser pensada de maneira multidisciplinar e com a
oficialização de parcerias.
Antes de se determinar as formas de participação nas ações de Defesa
Civil municipais, é necessário compreender que a ocorrência dos desastres
perpassa por um processo de construção social. Esse processo pode ser
subdividido em três fases principais: a. produção e reprodução; b. ruptura e
emergência; e c. reconstrução e desenvolvimento social (Ribeiro, 1995). A
primeira fase, produção e reprodução, se refere à construção das relações sociais.
Essas relações partem da interação entre as pessoas e o ambiente em que
habitam, podendo-se considerar os processos de planejamento econômico, uso e

7
ocupação do solo, movimentos demográficos etc. (Freitas; Netto, 2016,
p. 168-169):

É nesta fase, portanto, que se estruturam as opções que terão influência


decisiva para a dinâmica social dos desastres, podendo contribuir para
a mitigação ou acentuação da vulnerabilidade e dos riscos frente aos
desastres. Nessa fase são estabelecidas as dinâmicas operacionais de
preparação para as situações de emergência. É durante a
produção/reprodução social que podem ser construídos ou não
instrumentos e políticas de prevenção e estabelecidos padrões de
referência sociocultural que podem induzir ações de preparação aos
desastres ou políticas de omissão que irão comprometer a posterior
resposta em situação de crise.

A segunda fase, ruptura e emergência, refere-se às ações durante a


ocorrência dos desastres. Por fim, a reconstrução e o desenvolvimento social
ocorre quando os eventos já começaram a se normalizar e a necessidade de
recuperar as comunidades afetadas é mais evidente. Cabe destacar que essa
etapa pode ser uma oportunidade para reconstruir as cidades com a minimização
dos riscos. Entretanto, se não houver o planejamento prévio dessas atividades,
esse processo pode se tornar o oposto do esperado.
Percebe-se que existem grandes desafios para a participação. Além dos
fatores políticos e de mobilização, também devemos sempre considerar as
questões culturais e psicológicas. Conforme cita Cardona (2007, p. 1):

[…] o risco é um conceito estranho, representa algo irreal, na medida em


que está sempre relacionado ao acaso, à possibilidade, a algo que ainda
não aconteceu. É uma abstração de um processo de transformação que
denota simultaneamente a possibilidade e a realidade. É algo imaginário
e indescritível que parece existir apenas no futuro e que reflete um
estado indesejável da realidade […].

Entretanto, com o avanço das tecnologias e das políticas de transparência,


as pessoas têm se interessado cada vez mais em saber como anda o
funcionamento e estruturação dos setores públicos. “Nesse raciocínio, é
visualizado ainda a possibilidade de muitos cidadãos poderem contribuir, expondo
o seu ponto de vista em conformidade com sua realidade” (Oliveira, 2018, p. 2),
de modo que cada pessoa tem suas próprias experiências e conhecimentos,
expondo visões totalmente diferentes umas das outras ao olhar para o mesmo
problema em comum. Com essa relação, do interesse mútuo para benefício de
ambos os lados, os gestores locais têm o papel fundamental de buscar por
atrativos que continuem trazendo a população para seus processos de decisão.

8
O envolvimento da sociedade civil apresenta diversos benefícios para os
agentes de Proteção e Defesa Civil municipais, entre os quais podem ser citados
(Brasil, 2017, p. 24):

• Amplia a compreensão da população acerca dos riscos e das ações


de gestão, gerando uma postura de corresponsabilidade.
• Reforça a credibilidade do gestor e de sua equipe, pois a população
sente-se parte integrante do processo de tomada de decisão.
• Favorece o cumprimento de exigências legais em relação à
participação e controle social.
• Há maior probabilidade de corresponder às necessidades reais e ser
eficientes.
• As decisões e os programas são enriquecidos pelo conhecimento e
experiência de muitas pessoas.
• As pessoas que cooperam na elaboração ou nas decisões tornam-se
mais interessadas e envolvidas.

Desse modo, quando pensarmos em mecanismos de participação, eles não


podem permanecer exclusivos e engessados em treinamentos e capacitações,
quando os Planos de Contingência já estão prontos e divulgados. É importante
que os gestores adotem outras medidas que possam ser implementadas nas
fases de planejamento das ações, envolvendo as comunidades durante a
estruturação. Entre essas medidas estão o colegiado de Proteção e Defesa Civil;
espaços formais de participação e controle social; audiências públicas; validações
e capacitações, entre outros. A descrição dessas medidas pode ser observada no
Quadro 1 a seguir.

Quadro 1 – Maneiras de realizar a aproximação com a sociedade civil

Exemplos de aproximação Descrição


A composição de um colegiado deve refletir a governança
local, incluindo a representação de órgãos públicos (de
proteção e defesa civil e setoriais), iniciativa privada e
Colegiado de Proteção e
sociedade civil. Assim, quanto mais incentivo houver para que
Defesa Civil
a população faça parte desse espaço, maior será sua
capacidade de envolver-se na gestão de risco do município,
inclusive na elaboração do plano de contingência.
Além dos Conselhos, as políticas públicas brasileiras preveem
outros espaços de participação e controle social, como as
audiências públicas, as conferências nacionais em suas
Espaços formais de
etapas locais; as consultas públicas; os planos diretores
participação e controle
participativos; os fóruns interconselhos e as ouvidorias. É
social
recomendável manter um diálogo permanente nesses
espaços e incentivar que o tema do plano de contingência
faça parte de suas pautas.
(continua)

9
(Quadro 1 – conclusão)

Exemplos de aproximação Descrição


Devem ser realizadas após a elaboração do plano de
contingência, como parte do processo participativo. Quando o
envolvimento da sociedade civil ocorre desde o início do
planejamento, as audiências são espaços de diálogo mais
tranquilos e organizados. Entretanto, se a população apenas
toma conhecimento das decisões previstas no plano no
Audiências públicas momento da audiência, é mais provável que haja conflitos de
ideias e necessidade de adequações. As audiências de
avaliação e prestação de contas estão previstas na Lei
12.608/2012, art. 22, parágrafo 6.º. “O Plano de contingência
de Proteção e Defesa Civil será elaborado no prazo de 1 (um)
ano, sendo submetido à avaliação e prestação de contas
anual, por meio de audiência pública, com ampla divulgação”.
Embora muitas vezes essas sejam as atividades mais
rotineiras quando se trata de envolver a população, elas são
o encerramento de um ciclo de participação. São, portanto,
Validações e capacitações
atividades realizadas após a conclusão do plano de
contingência, como palestras, visitas em escolas, capacitação
de voluntários e os próprios simulados.
Instrumentos correlatos e de apoio à elaboração de um plano
de contingência, que envolvem desde o mapeamento de risco
até a implantação de sistemas de monitoramento, alerta e
Outros instrumentos de
alarme. É importante manter o envolvimento direto da
gestão de risco
população também no planejamento e execução desses
processos, como na leitura de pluviômetros e na elaboração
de mapa falado.
Fonte: Brasil, 2017, p. 25.

A demonstração dos gestores públicos quanto à importância da


participação social na elaboração de políticas, planos e estratégias municipais é
essencial para que a sociedade civil compreenda o seu papel perante suas
comunidades. Partindo desse princípio, percebe-se como a formação de uma rede
integrada para a articulação das ações voltadas à gestão de riscos e desastres é
uma das melhores estratégias que o município pode ter. O processo de
participação possibilita que os laços sejam fortalecidos, resultando em melhores
resultados diante das ameaças e vulnerabilidades (Comfort, 2005).

TEMA 4 – ATRIBUIÇÕES

De maneira geral, se pensarmos nas atribuições dos órgãos responsáveis


pela Proteção e Defesa Civil Municipal, podemos resumi-las em: mapeamento das
áreas de risco; isolamento e evacuação de áreas vulneráveis; promoção da
mobilização social para o funcionamento de Núcleos Comunitários de Proteção e
Defesa Civil (Nudec); capacitação de gestores e comunidades; priorização de

10
medidas e estratégias para a gestão de riscos (prevenção, mitigação e
preparação); compartilhamento de informações sobre desastres; previsão de
recursos orçamentários para resposta e reconstrução; e elaboração de Planos de
Contingência (Pinheiro et al., 2013). Além disso, dentro de sua própria
estruturação, cabe destacar as atribuições por área setorial (Furtado et al., 2013,
p. 84):

Área de Minimização de Desastres:


• Setor de Prevenção de Desastres – responsável pela Avaliação de
Riscos aos quais o município está sujeito e Redução de Riscos de
Desastres; e
• Setor de Preparação para Emergências e Desastres – responsável
pelo desenvolvimento institucional, de recursos humanos (cursos de
treinamento) e científico-tecnológicos, mobilização, monitorização,
alerta, alarme, aparelhamento, apoio logístico, entre outros.
Centro de Operações:
• Com plantão 24 horas.
Área Operacional:
• Setor de Resposta e Reabilitação aos Desastres – responsável pelas
atividades de socorro às populações em risco, assistência aos
habitantes afetados e reabilitação dos cenários dos desastres; e
• Setor de Reconstrução – responsável pelo restabelecimento dos
serviços públicos essenciais, reconstrução e/ou recuperação das
edificações e infraestrutura, serviços básicos necessários a
restabelecer a normalidade.

Cada um desses setores está diretamente ligado à área administrativa.


Essa área é responsável pelo cadastramento e revisão dos recursos materiais,
humanos e financeiros (Furtado et al., 2013). Não obstante, em uma análise mais
específica, com os recursos e responsáveis já definidos é necessário identificar
as atribuições perante cada uma das ações previstas no planejamento. Entre elas,
estão o monitoramento, o alerta, o alarme, as rotas de fuga, o socorro, a
assistência às vítimas e o reestabelecimento de serviços essenciais. Cada uma
dessas ações apresenta uma gama de procedimentos essenciais a serem
cumpridos por um ou mais responsáveis. Um exemplo organizacional para
identificação das atribuições é apresentado no Quadro 2 a seguir.

11
Quadro 2 – Resumo de apresentação dos recursos, responsáveis e atribuições

Ação Procedimento Recurso Responsável Atribuição


Definição de índices
pluviométricos (índice de
chuvas) limítrofes
Monitoramento
Acompanhamento de cota
alerta e de transbordamento
hidrológicos
Checagem municipal
comprando os dados do
Alerta
monitoramento com os
parâmetros de risco
Acionamento mecanismos de
Alarme difusão a partir de XX mm de
precipitação
Acionamento da equipe que
guiará a população para o
Fuga ponto de encontro
Acionamento do ponto de
encontro
Busca e salvamento
Primeiros socorros
Socorro
Assistência médica para a
população afetada
Instalação de abrigo
Suprimento de material de
abrigamento, vestuário,
limpeza e higiene pessoal
Fornecimento de água
Assistência às potável
vítimas Provisão de meios
preparação de alimentos
Instalação de lavanderias e
banheiros
Protocolo de atendimento aos
animais
Suprimento e distribuição de
energia elétrica
Esgotamento sanitário
Limpeza urbana
Reestabelecimento
de serviços Suprimento e distribuição de
essenciais água potável
Restabelecimento dos
sistemas de comunicação
Desinfecção e desinfestação
dos cenários de desastres
Fonte: Brasil, 2017, p. 38.

Cada responsável será designado com atribuições específicas. Por isso,


na hora de determinar as pessoas que trabalharão durante a implementação das
estratégias, deve-se escolher as que têm mais tempo disponível e melhores
condições técnicas. Além disso, também devem ser consideradas as atuações
dos responsáveis, ou seja, aqueles que já têm experiência de campo. “Essa
seleção deve considerar a experiência institucional acumulada de cada um desses

12
órgãos, seguindo uma estrutura básica de ação, procedimento, recursos
necessários, responsáveis e atribuições” (Brasil, 2017, p. 37).
Não obstante, é importante também citar as atribuições correlacionadas
com a sociedade civil (Freitas; Netto, 2017):

• construção de uma rede de comunicação via rádio amador, envolvendo os


moradores dos bairros mais afetados, a fim de dar suporte às ações da
Defesa Civil durante as emergências;
• elaboração de vídeos e outros materiais eletrônicos visuais sobre
desastres;
• desenvolvimento de oficinas que discutam os eventos extremos da região,
envolvendo também alunos e professores;
• construção de Planos de Convivência com os riscos mais frequentes;
• inserção da temática de gestão de risco de desastres nas escolas das
comunidades em áreas de risco;
• construção de mapas, cartilhas e outros materiais comunicativos a fim de
informar a população.

Observa-se que, quando todas as ações são elaboradas de forma conjunta,


a preparação global do município se torna mais eficaz. Com pessoas bem
preparadas, as ações de resposta aos eventos extremos tendem a ocorrer de
maneira centrada, em atendimento aos objetivos. Esse ciclo possibilita uma
cultura local de gestão de riscos e desastres fortificada.

TEMA 5 – MECANISMOS DE COORDENAÇÃO E OPERAÇÃO

Para a coordenação e operação das estratégias, é importante que já se


tenha compreensão de seis aspectos principais: 1. responsáveis por autorizar a
resposta em cada nível; 2. responsável pela operação geral; 3. responsável pela
gestão da operação diária; 4. organização técnica e distribuição geográfica das
unidades; 5. política de voluntariado; e 6. relação com a mídia e com o
fornecimento de informações. Até aqui foi possível perceber como as etapas para
a elaboração de Planos de Contingência são totalmente interligadas e
dependentes umas das outras. Embora esse plano faça parte de um arcabouço
teórico-legislativo, ele também é um instrumento inteiramente prático.
A operacionalização das Coordenadorias Municipais de Proteção e Defesa
Civil pode ser dividida em dois períodos: nas etapas antecessoras ao desastre

13
(prevenção, mitigação e preparação) e após a ocorrência dos eventos (resposta
e reconstrução). Destaca-se que, aqueles que não se estabelecerem, se
prepararem e se fortificarem nas etapas prévias aos eventos extremos, não
estarão aptos a agirem durante as situações de anormalidade. As etapas da
gestão de riscos compreendem as ações que buscam pela redução dos impactos
negativos causados pelos desastres, preparando os gestores e as comunidades.
Já as etapas de gestão de desastres, quando a anormalidade se estabelece,
perpassam por ações de alerta, socorro, assistência e reabilitação.
Para a organização desses processos e implementação de medidas
práticas, os agentes de coordenação e operação podem contar com sistemas de
comando. Por exemplo, tem-se o Sistema de Comando de Incidentes (SCI) e o
Sistema de Comando Operacional (SCO), os quais são ferramentas de gestão
unificadas para auxiliar os envolvidos com as situações emergenciais em uma
resposta efetiva. Ambos os sistemas se baseiam no Incident Command System
(ICS) dos Estados Unidos, tendo como objetivo a determinação de estruturas
organizacionais mais integradas.
Esses sistemas podem ser utilizados nos planos de contingência para
estruturar as medidas e ações de resposta. De modo geral, muitos municípios já
utilizam esses modelos para ajudar nas definições de coordenação. Esses
sistemas de comando serão apresentados de maneira mais detalhada em
momento futuro. Entretanto, cabe destacar que podem adotar seus próprios
modelos organizacionais mesmo aqueles que não têm estrutura e capacitação
necessárias para a utilização dessas ferramentas. O importante é que se tenha
em mente que todas as estratégias adotadas para preparação das comunidades,
devem ser colocadas em prática conforme o planejamento (Fernandes, 2018).
Outra forma de manter o controle dos riscos é realizando o monitoramento
in loco. Quando o risco da ocorrência de um desastre aumenta, deve-se realizar
vistorias nos lugares com maiores índices de vulnerabilidade. Geralmente esses
locais são caracterizados como prioritários pelos cenários de risco. Essas vistorias
têm o objetivo de verificar se, com a materialização da ameaça, outros indícios
podem provocar desastres. Considerando inundações ou deslizamentos, por
exemplo, pode-se observar: índices de chuva e o nível atual do rio em comparação
com os municípios a montante; trincas em terrenos ou nas construções; inclinação
de estruturas ou de árvores etc. Todos esses elementos se referem à instabilidade

14
dos terrenos, auxiliando os agentes na ativação do Plano de Contingência, a fim
de evacuar as comunidades em tempo hábil (Fernandes, 2018).
Para a realização dessas vistorias, as equipes devem receber um
treinamento contínuo, tendo em vista os riscos a que estarão submetidas. A
caracterização de áreas, rotas de fuga e principais perigos da região devem estar
muito claros antes do início das atividades. Não obstante, a capacitação técnica é
essencial nesses casos para a efetividade das ações, já que será necessário o
conhecimento específico daquilo que se deseja analisar.
Considerando que as vistorias são realizadas quando a probabilidade de
um desastre ocorrer já é alta, é importante trabalhar com elementos sonoros para
que tanto os técnicos quanto a população estejam preparados para saírem das
áreas de risco rapidamente. Nessas condições, os gestores precisarão determinar
os procedimentos para encerramentos das atividades de vistoria, podendo ser por
avisos no rádio ou por padrões previamente estipulados nos sistemas de alarme.
De modo geral, são essas técnicas e medidas que darão suporte às ações
de resposta. As ações de resposta abrangem questões como socorro, assistência
às vítimas e reabilitação de cenários. Para cada um dos cenários identificados em
que as emergências se materializarem, será necessário consultar os responsáveis
pelas medidas estratégicas de resposta. Destaca-se que, para cada ação,
também é necessário apresentar as pessoas e instituições responsáveis, assim
como telefones e e-mails de contato.

15
REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Integração, Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil.


Departamento de Minimização de Desastres Nacional. Módulo de formação:
elaboração de plano de contingência – livro base. Brasília, 2017.

CALHEIROS, L. B.; CASTRO, A. L. C.; DANTAS, M. C. Apostila sobre


implantação e operacionalização de Comdec. 4. ed. Brasília: Ministério da
Integração Nacional, Secretaria Nacional de Defesa Civil, 2007.

CARDONA, O. D. Midiendo lo inmedieble: Indicadores de vulnerabilidad y Riego.


La Red, 2007.

COMFORT, L. Risk, security, and disaster management. Annual Review of


Political Science, v. 8, p. 335-356, 2005.

FREITAS, L. E.; NETTO, A. L. C. Reger Córrego Dantas: uma ação coletiva para
enfrentamento de ameaças naturais e redução de desastres socioambientais.
Ciência & Tropico, Rio de Janeiro, v. 40, p. 165-190, 2016.

FURTADO, J. et al. Capacitação básica em Defesa Civil. 3. ed. Florianópolis:


Ceped/UFSC, 2013.

FERNANDES, N. Manual de Planos de Contingência para Desastres de


Movimento de Massa. v. 3. Brasília: Ministério da Integração Nacional, Secretaria
Nacional de Proteção e Defesa Civil, 2018. (Projeto de Fortalecimento da Estratégia
Nacional de Gestão Integrada de Desastres Naturais – Gides).

OLIVEIRA, V. A participação popular na gestão pública. In: SEMINÁRIO


INTERNACIONAL DEMANDAS SOCIAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS NA
SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA, 15., Santa Cruz do Sul. Anais… Santa Cruz do
Sul: Unisc, 2018.

PINHEIRO, E. G. et al. Defesa Civil. Módulo II. Curitiba: CEPDC, 2013.

RIBEIRO, M. J. Sociologia dos desastres. Revista Sociologia – problemas e


práticas, CIES/ISCTE, n. 18, 1995.

16
AULA 4

ELABORAÇÃO DE PLANOS
DE CONTINGÊNCIA

Prof.ª Larissa Ferentz


CONVERSA INICIAL

Tendo em vista a identificação dos elementos prévios e das definições


presentes nos grupos de trabalho, nesse momento passamos para a
determinação dos componentes essenciais para a estruturação dos Planos de
Contingência. Os principais componentes abrangem os sistemas de
monitoramento, alerta e alarme; caminhos de fuga e evacuação, atendimento
hospitalar e psicológico, abrigos e logística de suprimentos e reestabelecimento
de serviços essenciais.

TEMA 1 – SISTEMAS DE MONITORAMENTO, ALERTA E ALARME

Atualmente várias ferramentas de tecnologia da informação vêm sendo


empregadas em atividades de monitoramento e gestão de risco de desastres
ambientais, sendo hoje, fundamentais para a organização e sistematização
espacial e temporal do conhecimento, modelagem dinâmica de cenários de risco,
aquisição e cruzamento automatizado de dados de sensores diversos em tempo
real, para sistemas de monitoramento, controle e alerta precoce de risco iminente,
entre outros (Reis, Cordeiro; Lopes, 2011). Os sistemas de monitoramento e alerta
visam transmitir avisos relacionados a um tipo específico de risco para as regiões,
a fim de antecipar as ações de contingência e preparar a população local para a
resposta (Gides, 2018). A fim de compreender a diferença entre os sistemas de
monitoramento, alerta e alarme, o Quadro 1 apresenta suas definições e objetivos.

2
Quadro 1 – Conceituação de Monitoramento, Alerta e Alarme.

Sistema Definição e Objetivos


tem o objetivo de prever a possibilidade de uma ocorrência de um desastre
determinado, com o máximo de antecipação possível, com a finalidade de
reduzir o fator surpresa; reduzir os danos e prejuízos; aperfeiçoar as ações
Monitoramento de resposta aos desastres; e minimizar os impactos sobre a população em
risco. O monitoramento pode ser realizado com o apoio de órgãos nacionais
e estaduais, ou ser feito localmente, verificando as áreas de risco e o avanço
das ameaças.
tem o objetivo de definir os parâmetros de emissão toda vez que o
monitoramento identifica uma situação potencial de desastre, a partir de
critérios pré-definidos. Os alertas são comunicações que partem dos órgãos
Alerta
de monitoramento para os órgãos de resposta. O alerta deve ser emitido
toda vez que o monitoramento identifica uma situação potencial de desastre,
a partir de critérios pré-definidos.
tem o objetivo de definir como será o acionamento de um aviso de ocorrência
do evento, que deve se desdobrar em ações práticas por parte de todos os
Alarme envolvidos no plano de contingência e por parte da população. Pode-se
adotar uso de WhatsApp, sirenes, apitos, e-mail, sinos de igreja, carro de
som, sonorizações diversas, dentre outros.

Fonte: Brasil, 2017.

Observa-se que os três sistemas se referem a um processo integrado.


Embora sejam realizados em momentos diferentes e de forma independente, eles
ainda dependem um dos outros para sua efetividade, em forma sequencial.
Destaca-se que muitos municípios do país já possuem esses sistemas. Em alguns
casos, trabalham apenas com monitoramento e alerta. Independente dos
procedimentos adotados, esses processos devem se apresentar nos Planos de
Contingência Municipais.
Para auxiliar os Estados e Municípios nessas atividades, foram criados o
Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN)
e o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (CENAD), com o
objetivo de desenvolver, testar e implementar um sistema de previsão de
ocorrência de desastres naturais em áreas suscetíveis de todo o Brasil. O
CEMADEN é responsável pelo monitoramento das ameaças, podendo enviar
alertas de risco de desastres de origem natural com até seis horas de
antecedência. Já o CENAD, é responsável pelo gerenciamento das informações
geradas pelo CEMADEN, a fim de preparar os gestores e a população para uma
resposta mais eficaz frente aos eventos extremos (Brasil, 2012).
Deste modo, observa-se que o CEMADEN busca aumentar a capacidade
da sociedade na redução das catástrofes naturais, diminuindo o número de
vítimas e os prejuízos decorrentes a partir do fornecimento de informações sobre
risco iminente de desastres naturais. Para isso, desenvolve atividades e

3
pesquisas em diversas áreas de conhecimento, como meteorologia, geologia e
hidrologia. Neste âmbito o órgão tem a função, entre outras, de desenvolver
modelos matemáticos, ferramentas de alerta de previsão de inundação, cheias e
enxurradas em áreas urbanas e rurais. O monitoramento é realizado em 959
regiões do país (CEMADEN, 2021).
Além do CEMADEN, que monitora os eventos geohidrológicos
(Inundações, enxurradas e deslizamentos), outras agências têm papel importante
nos processos de monitoramento, alerta e alarme (Brasil, 2017):

• Tornados, vendavais, granizos (meteorológicos) – INMET e CPTEC


• Inundações (hidrológicos) – SUDAM/UFPA, ANA, CPRM, CENSIPAM,
CEMADEN
• Secas e estiagens – ANA
• Incêndios florestais – IBAMA e Plataforma CIMAN Nacional
• Radiológicos/Nuclear – CNEN/SIPRON
• Produtos Perigosos – IBAMA/CONASQ
• Saúde – Ministério da Saúde
• Sismológicos – ObSIS/UnB e CPRM
• Ruptura de barragens – Aneel, DNPM e ANA

Todos esses organismos são essenciais para a segurança local, tendo em


vista que o trabalho conjunto a essas agências pode resultar em menores índices
de perdas, danos e prejuízos aos municípios. No Plano de Contingência, as ações
de monitoramento são o início de qualquer estratégia a ser tomada frente aos
eventos extremos, tendo em vista a sua capacidade de antecipar avisos para os
gestores e população. Esse processo é parte das ações operacionais, tendo em
vista que é necessário realizar o monitoramento constante de rios e corpos d’água,
morros e encostas, estações pluviométricas e meteorológicas.
Por isso é necessário determinar os limites de perigo e os responsáveis
pelas atividades. A coleta de dados das estações de monitoramento, a verificação
das informações e a leitura dos instrumentos, são responsabilidades que devem
ser cumpridas de forma contínua. Além disso, todos esses processos devem ser
integrados ao sistema de Proteção e Defesa Civil, a fim de manter a divulgação
dos monitoramentos para todo o estado. Quanto mais sistemas de monitoramento
forem utilizados pelos municípios, mais seguras serão as estratégias para a
segurança e proteção das comunidades.

4
TEMA 2 – CAMINHOS DE FUGA E EVACUAÇÃO

Um dos pontos essenciais para o Plano de Contingência é a determinação


das rotas de fuga e evacuação. Tendo em vista as diversas comunidades em
situação de perigo e vulnerabilidade, é essencial que medidas sejam tomadas
para retirar a população local em segurança. Para isso, é importante considerar
dois fatores: (1) as pessoas precisam ter conhecimento sobre os caminhos, saídas
e obstáculos em sua rota, pois se decidirem sair dela, o resultado pode ser fatal;
e (2) a população precisa estar segura dos procedimentos, pois durante a
evacuação, multidões em pânico podem resultar em fugas mais lentas, empurrões
e situações de pisoteio (Zheng, Zhong; Liu, 2009).
A partir desse cenário, os caminhos de fuga e evacuação têm como
objetivos principais o planejamento da saída da população das áreas de maior
vulnerabilidade e risco, de forma rápida e segura; a definição das melhores rotas
para que todos possam sair dos cenários de risco durante a evacuação; e a
organização a curto, médio e longo prazo dos pontos de encontro. Essas medidas
são essenciais para a efetividade das ações de resposta, tendo em vista que a
prioridade sempre será em salvar o máximo de vidas possíveis. Para atender
esses objetivos, é importante preparar os gestores e a população quanto aos
seguintes fatores (Brasil, 2017):

• Identificação de todos os caminhos possíveis de fuga, sejam estes os


principais ou os alternativos;
• Definição e treinamento da equipe de moradores responsável por
direcionar as comunidades durante a evacuação;
• Identificação das regiões mais críticas, onde a localização das vias pode
ser difícil de reconhecer, necessitando suporte;
• Definição dos pontos de encontro para a contagem e o direcionamento da
população;
• Promoção de treinamentos para as comunidades;
• Proposição de treinamentos específicos para a população mais crítica:
idosos, portadores de necessidades especiais etc.

Percebe-se que o envolvimento da população nas ações de fuga e


evacuação é primordial. Durante situações de emergência, as pessoas tendem a
buscar por saídas que já lhe são familiares, de maneira automática. Basta
perguntar a si mesmo se para sair do seu bairro você usaria as ruas que já
5
conhece ou escolheria correr o risco de optar por aquelas que não sabe aonde
vão levar? Por isso os treinamentos e a realização de simulados são partes
fundamentais na determinação de rotas. As pessoas precisam se familiarizar com
os diferentes caminhos, assim como, com os elementos que os constituem:
sinalizações, rota alternativas, pontos de encontro, dentre outros.
Observa-se que o Plano de Contingência se enquadra cada vez mais como
um instrumento de preparação local. Não são apenas os gestores que possuem
papel fundamental para a efetividade do plano durante a resposta de eventos,
mas também, a comunidade como um todo de forma participativa. Lembrando que
simulados constantes também possibilitam a atualização do plano, determinando
sempre as melhores estratégias. Para auxiliar os gestores na escolha das rotas e
nos elementos essenciais de treinamento, é possível considerar alguns requisitos
básicos (Quadro 2).

Quadro 2 – Requisitos para definição de rotas de fuga.

Ação Descrição das Rotas de Fuga


Pode utilizar tanto o mapa de perigo quanto o de risco elaborado
com a metodologia do manual desenvolvido pela CPRM (Serviço
Geológico do Brasil).
Lembrando que, de acordo com este manual, mapa de perigo
Utilizar Mapas de considera apenas elementos de instabilidade do terreno (trincas,
Risco e/ou Perigo degraus/subsidência, árvores inclinadas, cicatrizes de
deslizamentoetc.).
A influência da presença humana (vulnerabilidade física) no terreno
juntamente com a análise de instabilidade (perigo) define o mapa de
risco.
Preferencialmente devem ser traçadas em um trabalho conjunto
entre agentes da defesa civil municipal e moradores das áreas de
Definir as rotas em risco.
conjunto com a Essa população alvo é a mais indicada para definir essas rotas de
população fuga, uma vez que, constitui-se de pessoas com conhecimento do
seu ordenamento espacial (acessos, escadarias, concentrações de
construções etc.) de onde vivem.
Deve evitar cruzar áreas de perigo que coloquem a população em
risco durante a evacuação da área.
Evitar fugas por Quando for impossível evitar que uma rota de fuga atravesse uma
áreas perigosas área de perigo recomenda-se que o trecho perigoso (suscetível a
movimento de massa e até mesmo a inundação) seja devidamente
identificado, sinalizado e de conhecimento da população alvo.
Devem buscar trajetos que minimizem as dificuldades de
Adotar caminhos de deslocamento, evitando barreiras físicas, inclinações excessivas,
fácil deslocamento transposições de obstáculos, levando em conta eventuais
necessidades especiais de pessoas da comunidade.
Adotar medidas Devem permitir a saída da população das áreas de risco no menor
rápidas para a fuga tempo possível.
Devem ser sinalizadas por meio da instalação de placas indicativas
Sinalizar os
da direção a seguir e da distância a percorrer até ao ponto de
caminhos de fuga
encontro;

6
As placas devem ser instaladas a cada mudança de direção ou em
linha reta e, dentro do limite do alcance visual. Ou seja, estando em
uma placa, deve-se enxergar a outra;
As placas devem ser confeccionadas em material durável e pintadas
em cores vivas utilizando tintas ou adesivos refletivos, facilitando sua
visualização quando da utilização de lanternas durante períodos de
pouca luz solar.
Iluminar os Quando as condições permitirem, é desejável que haja iluminação
caminhos de fuga artificial ao longo das rotas de fuga.
Definir moradores
Definir, entre a própria população residente dessas áreas de risco,
responsáveis pela
equipe responsável por conduzir os moradores vulneráveis pelas
mobilização da sua
rotas de fuga de forma adequada durante a evacuação.
própria comunidade
Fonte: GIDES, 2018, p. 25-26.

De modo geral, as rotas de fuga e evacuação devem ser estabelecidas para


todos os cenários de risco identificados no município, constituindo-se também de
diferentes caminhos, rápidos e seguros, pontos de encontro e abrigos.

TEMA 3 – REESTABELECIMENTOS DE SERVIÇOS ESSENCIAIS

A partir do momento que o atendimento às vítimas e a assistência da


população afetada estão normalizados, deve-se iniciar o reestabelecimento de
serviços essenciais para o funcionamento das comunidades. A Instrução
Normativa n° 36 de 2020 define o reestabelecimento de serviços essenciais como
“ações que têm por finalidade assegurar, até o retorno da normalidade, o
funcionamento dos serviços que garantam os direitos sociais básicos aos
desamparados em consequência do desastre”.
O restabelecimento de serviços essenciais tem como objetivo definir as
estratégias necessárias para restabelecer as áreas que foram atingidas pelos
eventos, desde a demolição de empreendimentos ou estruturas que tenham sido
comprometidas; remoção de escombros; e a volta da normalidade de serviços
essenciais como a “distribuição de energia elétrica, água potável, esgotamento
sanitário, limpeza urbana, drenagem das águas pluviais, transporte coletivo,
trafegabilidade e comunicações” (Brasil, 2017, p.36).
Conforme visto anteriormente, nas etapas prévias aos desastres, o
cadastramento dos responsáveis por cada serviço essencial e suas respectivas
medidas estratégicas, já deve estar concretizado. Com a ocorrência dos desastres
e o atingimento das atividades essenciais, será necessário contatar todos os
envolvidos para buscar pela normalidade dos serviços o mais rápido possível.
Entretanto, destaca-se que embora o reestabelecimento seja uma das
7
competências do município (art. 8º da Lei n.12.608 de 2012), é importante
ressaltar que existem situações em que a ajuda externa é essencial.
Com a ocorrência dos desastres, os municípios devem classifica-los quanto
a três níveis de intensidade: nível I - pequena intensidade; nível II - média
intensidade; e nível III - grande intensidade. Nos desastres de nível I, ocorrem
apenas danos humanos, e a normalidade pode ser alcançada com recursos
locais. No nível II, ocorrem dois tipos de dano, sendo um deles o humano. Nesse
caso a situação de prejuízo ainda é suportável, reestabelecendo a situação de
normalidade com complementações dos recursos estaduais ou federais. Por fim,
os desastres de nível III são aqueles em que tanto os danos quanto os prejuízos
não podem ser normalizados pelos governos locais, dependendo da ajuda
nacional ou até internacional.
É importante saber que a interrupção de serviços essenciais, geralmente
acontece nos casos mais graves dos eventos extremos, conforme exposto no
artigo 5° da Instrução Normativa n. 36 de 2020:

Art. 5º Os desastres de nível III são caracterizados pela concomitância


na existência de óbitos, isolamento de população, interrupção de
serviços essenciais, interdição ou destruição de unidades
habitacionais, danificação ou destruição de instalações públicas
prestadoras de serviços essenciais e obras de infraestrutura
pública.

Nessas situações, é obrigatoriedade dos municípios em decretar a


Situação de Emergência ou o Estado de Calamidade Pública. Com a decretação,
os municípios ou estados podem solicitar diretamente no site Governo do Federal
recursos que sirvam de apoio para o reestabelecimento dos serviços essenciais.
O objetivo é que se possa realizar o rápido atendimento à população,
especialmente em questões básicas como água, esgoto e energia elétrica. Tais
recursos são assegurados pela Lei n. 12.340, de 1º de dezembro de 2010.
Destaca-se também que para o recebimento dos recursos, o município
precisa ter o Cartão de Pagamento de Proteção e Defesa Civil (CPDC). Este
cartão é específico para ações de resposta e recuperação frente a desastres, tais
como assistência humanitária, socorro às vítimas e é claro, o reestabelecimento
de serviços essenciais (Defesa Civil, 2017).
Nesse sentido, compreende-se a importância do planejamento das ações
no Plano de Contingência, a fim de garantir as “condições mínimas de segurança
e habitabilidade nas áreas afetadas pelos desastres, que permitam o retorno da
normalidade para a população” (Defesa Civil, 2017, p.31). Tendo em vista que em
8
situações de desastres não é possível prever se haverá algum tipo de interrupção,
os responsáveis devem estar muito bem preparados e capacitados para
reestabelecer esses serviços o mais rápido possível.

TEMA 4 – ATENDIMENTO HOSPITALAR E PSICOLÓGICO

A área de saúde tem papel essencial frente aos riscos e desastres


municipais. Quando os eventos extremos tomam proporções negativas, não é
possível prever o local, o horário ou a quantidade de pessoas que serão atingidas.
Por isso, a preparação dos agentes e das infraestruturas de saúde deve levar em
conta o aumento exponencial da demanda durante a ocorrência de desastres. Se
o sistema não for capaz de suportar o atendimento emergencial, as
consequências poderão ser agravadas.
Para suprir essas demandas, os planos de contingência devem seguir os
mesmos padrões já vistos até aqui, com a identificação e determinação dos
responsáveis. Entretanto, tendo em vista a gravidade e a especificidade da área
em questão, os municípios também devem possuir estratégias específicas para o
atendimento à saúde, como por exemplo, nos Planos de Atendimento a Desastres
e Incidentes com Múltiplas Vítimas. Nesses documentos, é possível detalhar as
ações de preparação e resposta no socorro às vítimas, dando destaque à
(Prefeitura de Guarulhos, 2019, p. 8):

• Proteção dos pacientes e das equipes de saúde;


• Transporte seguro de pacientes;
• Garantir continuidade no tratamento tanto dos pacientes que são recebidos
para o atendimento emergencial, quanto para os pacientes que já se
encontram sob cuidados médicos;
• Atender os afetados, mantendo a credibilidade dos serviços de urgência e
emergência perante a sociedade; e
• Confortar as famílias envolvidas e as manter informadas sobre os
acontecimentos.

Então quais são as informações necessárias para a composição do plano


de contingência? Elas devem focar nas ações de socorro, a fim de se
compreender como o atendimento à população afetada pelos eventos extremos
será realizada. Dentre essas ações pode-se citar “ações de busca e salvamento,
primeiros-socorros, atendimento pré-hospitalar e atendimento médico e cirúrgico

9
de urgência” (Brasil, 2017, p.36). Além disso, é importante ressaltar que uma área
da saúde ainda pouco considerada nos processos de planejamento a desastres,
é a psicológica.
O profissional da psicologia atua de forma multidisciplinar, devendo ter
conhecimento sobre os principais impactos que as situações de desastres podem
resultar na vida das pessoas. Desta forma, com suas responsabilidades
integradas à Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, a psicologia tem um
elevado grau de importância na identificação dos efeitos colaterais das
comunidades, em curto e principalmente, em longo prazo (Stringari et al., 2019).
Diante das crises, os profissionais têm a capacidade de compreender a força da
população para a sua recuperação e reconstrução. Nesse sentido, pode-se definir
a psicologia em desastres como:

“o ramo da psicologia que se concentra no estudo das reações


indivíduos e grupos humanos no antes, durante e depois de emergência
ou de catástrofe e a realização de estratégias de intervenção
psicossocial que visam a mitigação e preparação da população, estudar
como os seres humanos respondem aos alarmes e como otimizar o
alerta, prevenção e redução de respostas inadequadas durante o evento
de impacto e facilitando posterior reabilitação e reconstrução”. (Valero,
2007, p. 3)

Cabe destacar que a atuação desses profissionais também é de grande


valia nas ações prévias aos desastres. Por exemplo, se considerarmos a etapa
de prevenção, ela “precisa ser instalada como uma premissa, para que os
psicólogos atuem eficientemente na construção de comunidades mais seguras”
(Albuquerque; Zacarias, 2016, p. 110). Se a prevenção e a preparação local
estiverem bem estabelecidas, as comunidades serão capazes de resistir melhor
determinados traumas e crises. Isso permitirá a garantia da integridade mental,
voltando ao estágio de normalidade em um tempo menor. Fica claro que,
independentemente da etapa, a participação dos profissionais é imprescindível
para amenizar os efeitos psicológicos negativos na população (Quadro 3).

10
Quadro 3 – Psicologia e a GRD.

Pré-Desastre Durante o Desastre Pós-Desastre


As etapas de Prevenção, O atendimento aos mais O sofrimento psicológico
Mitigação e Preparação devem vulneráveis deve ser deve ser avaliado e
envolver equipes realizado junto à família; monitorado para a melhoria
multidisciplinares para ações A prioridade deve ser por contínua da atuação
voltadas à percepção dos aqueles com maior profissional frente aos
riscos de desastres; possibilidade de apresentar desastres;
A educação da comunidade Transtorno do Estresse Pós- Devem-se envolver as
deve ser presente, Traumático; comunidades na formulação
fortalecendo e integrando as A orientação à comunidade de novos projetos de
pessoas e a defesa civil; deve buscar pela integração e prevenção;
A educação da comunidade estruturação comunitária; A cultura local deve ser
deve ser presente, A orientação deve buscar levada em conta nas
estabelecendo uma cultura de pela resiliência individual e prospecções de ações
redução de riscos e de coletiva. futuras.
vulnerabilidade.

Fonte: Alves, 2012.

Ao pensar em um cenário de desastre, é importante destacar que os danos


psicológicos podem ser tão graves, ou até mais graves, do que os danos físicos.
Lembrando que danos físicos tendem a durar um período mais curto de tempo,
em que, com o tratamento adequado, segue-se para a sua cura natural.
Entretanto, os danos psicológicos podem iniciar no momento do evento ou apenas
anos depois, tendo a possibilidade de durar a vida toda (Albuquerque; Zacarias,
2016). Dentre os principais problemas psicológicos que ocorrem nesses casos
estão o transtorno de estresse pós-traumático devido a ferimentos e contusões; e
o luto pela morte de pessoas próximas ou conhecidas.

Incidentes críticos afetam indivíduos, famílias e organizações. Incluem


situações que desestabilizam os modos cotidianos e rotineiros de
adaptação e exigem respostas criativas. As crises põem em risco a
qualidade da adaptação, podendo acarretar intenso sofrimento
emocional e a manifestação de sintomas. Falecimentos inesperados,
rupturas afetivas, demissões, acidentes, violência urbana, até desastres
de origem natural ou antropogênica, fazem parte do rol de eventos que
são denominados incidentes críticos ou Psicologia de Emergências.
(Vieira; Neto, 2019, p.1)

Esse tipo de situação acaba sendo inevitável quando desastres ocorrem.


Entretanto, os impactos negativos podem ser reduzidos quando profissionais da
área de psicologia são incluídos nos processos de preparação frente às
emergências. Deste modo, é muito importante considerar no Plano de
Contingência a necessidade da realização de intervenções nas comunidades, a
fim de transmitir para a população os ensinamentos sobre os efeitos que os
desastres podem resultar em suas vidas e consequentemente, em auxiliá-las na
volta de suas rotinas. Essas intervenções podem auxiliar na redução de

11
transtornos pós-traumáticos e na identificação dos melhores tratamentos
disponíveis para atender os afetados (Vieira; Neto, 2017).

TEMA 5 – ABRIGOS E LOGÍSTICA SUPRIMENTOS

Os caminhos de fuga e evacuação devem direcionar a população para os


abrigos. Deste modo, a definição de abrigamento deve levar em consideração a
facilidade de acesso e a distância percorrida pelos moradores. Por isso, estudar
as regiões ao entorno das áreas de risco é essencial para determinar quais serão
as melhores localidades para a instalação das ações e estratégias previstas nos
Planos de Contingência Municipais.
Os abrigos têm o objetivo de dar assistência às vítimas, garantindo
segurança e condições básicas essenciais para a população afetada. Dentre o
auxílio prestado, devem ser considerados o gerenciamento das doações
recebidas para a distribuição de materiais de limpeza e higiene, roupas, itens para
cama e banho; organização de banheiros, lavanderias, cozinhas e refeitórios;
fornecimento de serviços básicos como água e energia; instalações para o apoio
logístico das equipes responsáveis pelos abrigos e também, para atendimentos
médicos (Brasil, 2017).
Para definir quais são os melhores espaços para a definição de abrigos,
podem ser considerados alguns requisitos, como apresentados no Quadro 4.

Quadro 4 – Requisitos para definição de abrigos.

Ação Descrição dos abrigos


Um abrigo deve ser localizado em local seguro, interna ou
Abrigos localizados externamente aos dos cenários de risco. Internamente, apenas
em lugar seguro quando definitivamente não tiver outro lugar seguro, próximo e no
entorno das áreas de perigo e de risco
As rotas de fuga devem ser de fácil acesso para que os moradores
Optar por rotas de das áreas de risco possam se deslocar sem impedimentos, tanto dos
fuga mais fáceis pontos de encontro como de suas residências para os abrigos ou
locais de abrigamentos
Pontos de encontro Caso o município não possua ou não tenha condições de construir
podem servir de abrigo próprio, os pontos de encontro, nesses casos, podem servir de
abrigamento locais de abrigamentos temporários, desde que tenham estrutura
temporário adequada para tal
A Defesa Civil Municipal deverá mapear todos os elementos de
Mapeamento de interesse dentro e no entorno dos Cenários de Risco, ou seja,
todos os cenários instituições públicas (por exemplo, escolas) e privadas que podem
de risco servir de locais de abrigamentos, além de cadastrar os abrigos
propriamente ditos, caso existam no município
De acordo com a Lei Federal n. 12.608/2012, compete aos municípios
Organização e organizar e administrar abrigos provisórios para assistência à
administração população em situação de desastre, em condições adequadas de
higiene e de segurança

12
A Política Nacional de Assistência Social incluiu o gerenciamento de
Participação de abrigos na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais,
assistentes sociais cabendo ao Assistente Social a responsabilidade de gerenciar os
abrigos provisórios em calamidades públicas emergenciais
O planejamento das ações de abrigo deve essencialmente garantir o
provimento de água, alimentação, boas condições de higiene, saúde e
Planejamento dos
segurança, além de elementos mínimos que garantam o respeito e a
abrigos e das
dignidade humana.
condições de
Em uma situação de abrigamentos, é de fundamental importância a
entorno
garantia da segurança nas áreas evacuadas e interditadas por parte do
Poder Público
Os abrigos ou locais de abrigamentos têm que prever ações de
preparação para o processo de evacuação, antes mesmo do desastre
se concretizar.
Preparação de
A depender das proporções e da complexidade do cenário, esta ação
evacuação das
pode ser subdividida em outras ações menores, como a mobilização da
áreas de risco
equipe responsável pelo abrigo, preparação do local para recebimento
da população, abertura do abrigo e até mesmo a finalização das
atividades do abrigo, após o desastre e do retorno à normalidade

Fonte: GIDES, 2018, p. 29-30.

Com a realização das análises e definição dos abrigos mais próximos às


áreas de risco dos municípios, é necessário realizar o cadastramento dos locais.
O cadastramento de abrigos deve levar em consideração a estruturação e
organização, pois apenas ter um empreendimento sem a determinação das ações
necessárias para o seu funcionamento, não cumprirá com os objetivos. Todos os
ambientes devem estar propícios para o recebimento de pessoas e também de
materiais, sendo a atividade de logística de suprimentos essencial para a
efetividade das ações.
Além de informações básicas como localização do abrigo, coordenador e
equipe responsável pelo gerenciamento das ações, também é importante realizar
um checklist durante o cadastramento dos locais que servirão de apoio para os
agentes de defesa civil e a população. Dentre as informações essências, estão:

• Capacidade do abrigo • Espaço para lavanderia e


• Energia elétrica secagem de roupas
• Coleta seletiva de lixo • Espaço para almoxarifado
• Água encanada • Cozinha no local
• Capacidade do reservatório de • Espaço para alimentação
água • Espaço para recreação
• Quantidade de banheiros e • Espaço para animais
chuveiros

13
O reconhecimento e o detalhamento dessas informações darão suporte
para o momento em que seja necessário realizar a ativação dos abrigos. Com a
ocorrência dos eventos extremos e a emissão de alertas para as comunidades
localizadas em áreas de risco, deve-se avisar os responsáveis cadastrados para
realizar a ativação do Plano. Dependendo da intensidade dos eventos e da
probabilidade de pessoas terem de ser removidas das áreas de atenção, os
responsáveis também deverão realizar a ativação dos abrigos. A ativação dos
abrigos deve ser realizada prioritariamente, antes dos desastres se efetivarem,
dando tempo de alocar as pessoas de maneira segura.

Observa-se que diversas ações estão diretamente relacionadas e


dependem umas das outras para a efetividade das estratégias de evacuação.
Considerando a emissão de alertas, os gestores locais devem estar atentos aos
níveis mais altos de risco emitidos pelo CEMADEN e demais agências de
monitoramento vigentes (Quadro 5).
Para auxiliar nas movimentações, um segundo checklist também pode ser
utilizado durante a ativação dos abrigos:

• Necessidade de realocação de pessoas após a emissão de alertas ou


ocorrência de desastres;
• Verificação das áreas atingidas;
• Escolha dos abrigos mais adequados para receber a população atingida,
levando em consideração o número de pessoas e a capacidade dos
abrigos disponíveis;
• Definição dos meios de transporte e das rotas a serem adotados para a
retirada de pessoas dos locais de risco;
• Acionamento dos responsáveis pelos abrigos, conforme contatos
disponíveis no Plano de Contingência.

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Quadro 5 – Principais ações de preparação para evacuação com a emissão de
alertas em nível Alto e Muito Alto.

Proteção e Defesa Civil Municipal (PDCM)


Alerta Atividades Responsável Alvo da Ação
Acionar o Plano de Evacuação;
Emitir ALERTA DE PREPARAÇÃO PARA
EVACUAÇÃO para a população das Áreas de
Risco (sirenes, SMS, mídias sociais etc.);
Mobilização externa da equipe técnica da PDCM; Autoridade Representantes
Alto
PREPARAÇÃO dos abrigos ou locais de competente municipais
abrigamentos;
Comunicação com os NUPDEC’s e outros órgãos
do município;
Registrar ocorrências em campo.
Emitir ALARME PARA EVACUAÇÃO IMEDIATA
para a população das Áreas de Risco (sirenes,
SMS, mídias sociais etc.);
Muito Autoridade Moradores das
Mobilização externa da equipe técnica da PDCM;
Alto competente áreas de risco
ABERTURA E GERENCIAMENTO dos abrigos ou
locais de abrigamentos;
Registrar ocorrências em campo.

Fonte: GIDES, 2018.

É importante considerar também que a preparação dos abrigos deve levar


em conta um intervalo de sete dias, ou seja, a disponibilização de materiais,
donativos, voluntários, dentre outros, devem estar organizados e estimados para
esse período. Além disso, estipular horários para atividades diárias também é
necessário, como horário das refeições, abertura e fechamento dos abrigos,
horários para recreação e para tratamentos específicos, como medicamentos e
amamentação.

15
REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, B. S. de. ZACARIAS, G. M. A Psicologia como aliada à Gestão


de Risco em Desastres. Revista Ordem Pública, v. 9, n. 1, p. 109-120, 2016.

ALVES, R. B., LACERDA, M.A.C., LEGAL, E.J. A atuação do psicólogo diante


dos desastres naturais: uma revisão. Psicologia em Estudo [on-line], Maringá,
v. 17, n. 2, p. 307-315, 2012.

BRASIL. Forças Armadas e Defesa Civil. Governo do Brasil, 2020.

BRASIL. Lei n. 12.608 de 10 de abril de 2012. Brasília, 10 de abril de 2012.

BRASIL. Módulo de formação: elaboração de plano de contingência: livro


base. Brasília: Ministério da Integração, Secretaria Nacional de Proteção e Defesa
Civil, Departamento de Minimização de Desastres Nacional, 2017.

CEMADEN. O Cemaden. Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e


Comunicações. Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres
Naturais, 2021.

Defesa Civil. Resposta: Gestão de desastres, decretação e reconhecimento


federal e Gestão de Recursos federais em Proteção em Defesa Civil. Ministério
da Integração Nacional. Subchefia de Proteção e Defesa Civil. Rio Grande do Sul,
2017.

GIDES. Manual de Planos de Contingência para Desastres de Movimento de


Massa. vol. 3. Brasília: Defesa Civil. CENAD, 2018.

REIS, J. B. C.; CORDEIRO, T. L.; LOPES, E. S. S. Utilização do Sistema de


Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais aplicado a situações de
escorregamento - caso de Angra dos Reis. In: 14° SIMPÓSIO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA, 2011, Dourados, MS. Anais… 2011.

STRINGARI, D.; PINHEIRO, E. G.; FERENTZ, L. M. S.; FONSECA, M. N.;


FÁVERO, E. Intervención y salud mental en desastres: capacitación para la
actuación de profesionales de la psicología en la gestión de riesgos y desastres.
Apuntes de Psicología, v. 37, n. 1, p. 13-19, 2019.

VALERO, S. A. Emergência e psicologia desastre em uma nova


especialidade. Monografias.com, 2007.

16
VIEIRA, C. M. S.; NETO, O. V. Curso de extensão em Psicologia das
Emergências. Alto da Boa Vista: Núcleo Foccus, 2019.

ZHENG, X.; ZHONG, T.; LIU, M. Modelling Crowd Evacuation of a Building Based
on Seven Methodological Approaches. Building and Environment, v. 44, n. 3, p.
437-445, 2009.

17
AULA 5

ELABORAÇÃO DE PLANOS
DE CONTINGÊNCIA

Profª Larissa M. S. Ferentz


INTRODUÇÃO

Nesta aula vamos apresentar o modo como os organismos são capacitados


e treinados para atuar em situações emergenciais. Para isso, vamos nos
aprofundar em três etapas principais de simulados: (1) concepção e organização;
(2) participação e realização; (3) avaliação e revisão do plano. Além disso,
também vamos abordar a capacitação para radioamadores e a estruturação do
Sistema de Comando de Incidentes.

TEMA 1 – SIMULADOS: CONCEPÇÃO E ORGANIZAÇÃO

Para avaliar a efetividade das ações previstas no plano de contingência, é


necessário adotar a prática de simulados. Tais práticas devem ser realizadas com
uma frequência mínima semestral, dependendo do grau de risco das
comunidades. Também é importante entender que os simulados devem ser muito
bem estruturados e regulamentados, tendo em vista que os resultados dos
exercícios contribuirão para melhorias nas estratégias de atendimento aos
afetados. Os simulados podem ser classificados em quatro tipos principais: de
mesa, de acionamento, interno ou externos (Quadro 1).

Quadro 1 – Tipos de simulados

Tipo Descrição
Por meio de recursos como mapas das áreas de risco e veículos de
brinquedo dispostos em uma grande mesa, por exemplo, as equipes de
resposta selecionadas treinam aspectos específicos do plano de
Simulados de
contingência, como deslocamentos e os posicionamentos de segurança,
mesa
rotas de fuga, recursos necessários etc. Esta modalidade permite uma
visão sistêmica de toda operação de resposta, com a percepção da
ocupação de cenários de risco e requisitos de segurança para as equipes.
São os exercícios e treinamentos que executam apenas a parte do plano
de contingência referente à mobilização das equipes de resposta. Servem
Simulados de
para avaliar os tempos de acionamento, a informação correta e atualizada
acionamento
de contatos, o conhecimento do plano de contingência de quem está sendo
acionado etc. Nesta modalidade, não há deslocamentos reais de recursos.
São os exercícios que não envolvem a população, mas apenas as equipes
de resposta. Neste caso, é preciso escolher o cenário de risco e
Simulados
desenvolver detalhes sobre a evolução desse cenário, de modo a avaliar a
internos
organização das informações, o desenvolvimento do plano de ação, a
organização estrutural e de controle de recursos da operação etc.
Neste caso, após a definição do cenário e dos detalhes sobre sua
evolução, será preciso mobilizar, além das equipes de resposta, a própria
comunidade afetada pelo cenário que está sendo avaliado. São treinados
Simulados
aspectos como sistemas de alerta e alarme, fuga, deslocamento das
externos
equipes de resposta, gestão do desastre como um todo etc. O mais
importante nesse simulado é a avaliação do tempo de resposta de equipes
de resposta e procedimentos, além do envolvimento da população.
Fonte: elaborado com base em Brasil, 2017.
2
De modo geral, a organização de simulados pode ser resumida em nove
etapas principais (Brasil, 2017). As quatro primeiras serão apresentados nesse
tema, e representam as ações de planejamento e organização.
A primeira delas se refere ao processo de decisão para colocar os
exercícios em prática. Assim, é importante que os grupos de trabalho estejam bem
definidos no plano de contingência, a fim de iniciar o planejamento das ações.
Cabe destacar que esse planejamento deve ser o mais detalhado possível,
contendo informações sobre a periodicidade dos treinamentos, as
responsabilidades dos indivíduos participantes, além do cronograma completo
das etapas até o encerramento do processo.
Com essas definições realizadas, o grupo de trabalho deverá analisar
cenários e áreas de risco instituídos no plano de contingência. Tais cenários
condizem com as principais ameaças a que os municípios estão sujeitos. Por isso,
os responsáveis deverão buscar por critérios que ajudem a determinar quais são
os piores cenários identificados e as áreas mais vulneráveis. Dessa forma, o
planejamento das ações será específico para cada localidade. Durante o
detalhamento das etapas, será necessário considerar também grupos especiais,
como crianças, idosos, pessoas com problemas de acessibilidade etc. (Quadro 2).
A terceira etapa está diretamente relacionada aos procedimentos e ações
previstos no plano de contingência. Com a definição dos cenários de risco e dos
tipos de desastres que serão trabalhados, deve-se determinar as atividades
prioritárias que serão testadas durante os exercícios. Dentre elas, estão: sistemas
de alerta e alarme entre os órgãos e as comunidades; atendimento dos moradores
com necessidades especiais; ações de busca e primeiros socorros; atuação dos
voluntários; evacuação das áreas de risco; gerenciamento de abrigos e doações
etc. Para cada uma dessas atividades, deve-se definir os responsáveis pelas
ações; a descrição das medidas a serem adotadas; o tempo necessário para a
realização das atividades; e a definição das datas em que as atividades serão
encerradas.
Observa-se que, com a definição dos procedimentos a serem adotados, os
responsáveis já devem ser definidos. Desse modo, na quarta etapa é feita a
distribuição de tarefas. Existem três equipes principais necessárias para a
efetividade dos exercícios: treinamento; observação e avaliação; equipe de
suporte. A equipe de treinamento é composta pelos responsáveis por ações de

3
resposta e moradores das comunidades em risco, tendo em vista que os
exercícios práticos de prospecção dos cenários futuros são realizados com eles.

Quadro 2 – Detalhamento dos simulados

Itens Descrição
Inserir data, horário de início e fim da atividade,
Data, horário e município além de nome do município em que irá ocorrer o
exercício.
Endereço da área de risco e noma da comunidade
Local de execução do simulado
que irá participar do simulado.
Número de residências na área de risco;
População da área de risco;
Tempo de ocupação da área de risco;
Infraestrutura existente na área de realização do
Descrição do cenário de risco em que simulado;
irá acontecer a atividade Locais públicos existentes na área de realização do
simulado;
Tipo predominante de construções;
Perfil da população com as suas respectivas
necessidades especiais.
Principais ocorrências, as mais recentes, as mais
relevantes;
Definição do risco
Indicar período de ocorrência, magnitude e
abrangência.
Critérios para acionamento de alerta Quais são os sistemas de alerta e alarme
e alarme existentes; quando, como e quem irá acioná-los.
Número de pessoas que participará
População prevista que participará do simulado.
do simulado
Órgãos envolvidos na organização e Indicar os órgãos estaduais e municipais que
execução do simulado participarão do simulado.
Previsão de início e término da
Tempo estimado de execução da atividade.
atividade
Local do simulado;
Posto de comando;
Área de espera/pontos de encontro, de apoio ou de
Organização da área que irá segurança;
acontecer o simulado Áreas de evacuação;
Rotas de fuga;
Abrigo;
Sinalização.
Atividades lúdicas a serem Desenvolvimento de atividades voltadas para
desenvolvidas com crianças crianças no abrigo temporário.
Articulação com centros de zoonoses;
Tratamento de animais
Utilização de bichos de pelúcia para o simulado.
Todos devem participar e apresentar suas
considerações sobre o evento;
Avaliação do Simulado e do Plano de
Tudo correu como previsto (tempo e recursos), ou
Contingência
se há necessidade de ajustes;
Ajustes no plano de contingência, se necessário.
Fonte: elaborado com base em Brasil, 2017.

A equipe de observação e avaliação é composta por voluntários e técnicos


habilitados, a fim de verificar se os procedimentos e estratégias adotados estão
sendo realizados conforme proposto nos Planos de Contingência. Além disso,
também avalia-se o tempo de resposta dos envolvidos, verificando se será

4
necessário algum tipo de alteração. Por fim, a equipe de suporte é composta pelos
responsáveis de organização. Nesse caso, as equipes cuidam da logística de
materiais, das filmagens e materiais fotográficos, da identificação dos
participantes, das reuniões de início e fim das atividades, da distribuição de
material efetivo, dentre outros aspectos.

TEMA 2 – SIMULADOS: PARTICIPAÇÃO E REALIZAÇÃO

Seguindo com a apresentação das etapas (Brasil, 2017), passamos agora


às fases que representam a participação de todos os envolvidos e a realização de
simulados na prática.
Até o momento, a preparação das ações e a definição dos responsáveis
são de conhecimento apenas dos grupos de trabalho envolvidos. Assim, deve-se
iniciar o processo de divulgação das informações para as comunidades. Nesse
sentido, a quinta etapa trata das ações de mobilização, que podem ser
subdivididas em: comunicação oficial aos órgãos de resposta; reuniões
comunitárias; ampla divulgação; e produção de material de orientação, conforme
vemos no Quadro 3.
Sabendo que todos os indivíduos têm conhecimento sobre a realização dos
exercícios práticos, é importante concretizar as atividades a serem seguidas na
preparação, durante a realização e após os simulados. Tal concretização se refere
à etapa seis, de definição do roteiro final. O roteiro de preparação deve ser
detalhado, incluindo todos os recursos necessários, logística de materiais,
equipamentos e pessoas, assim como responsáveis pela realização das
atividades. Nessa etapa, a definição de fornecedores também deve ser definida,
tendo em vista que os produtos e serviços terceirizados devem estar prontos e
disponíveis antes da realização dos simulados. Aqui, estão inclusos os materiais
de sinalização, os locais para a realização das reuniões, os materiais impressos,
a alimentação dos participantes, dentre outros pontos.
O roteiro para a realização do simulado condiz com as etapas necessárias
para o desenvolvimento das ações, como sinalização e isolamento das áreas,
montagem e desmontagem de estruturas etc. Podemos dividir esse processo em
três itens principais: (1) procedimentos de resposta – treinamento das atividades
previstas no plano de contingência; (2) procedimentos de desmobilização –
atividades de desmontagens e limpeza; (3) procedimentos gerenciais – avaliação
dos responsáveis e recursos cadastrados no plano de contingência durante as

5
ações. No terceiro caso, a avaliação também consiste na organização de
materiais e equipamentos, com eficácia em logística e agilidade dos
respondentes.

Quadro 3 – Ações de mobilização

Ações Descrição
Cada órgão envolvido no simulado deve receber uma
comunicação oficial que descreva, pelo menos, o objetivo do
Comunicação oficial aos simulado, a data e horário de realização, as responsabilidades do
órgãos de resposta órgão e a agenda de mobilização. Além da comunicação oficial,
é possível promover reuniões específicas com um ou mais
órgãos e convidá-los para as reuniões comunitárias.
A depender da modalidade de simulado selecionada e do
tamanho da comunidade que será treinada será preciso fazer
reuniões para explicar o passo a passo do simulado e esclarecer
qualquer dúvida que moradores, empresas e demais envolvidos
Reuniões comunitárias
na área a ser trabalhada venham a ter. Nesses espaços, é
importante que os representantes comunitários que integram o
grupo de trabalho estejam presentes para validar as decisões
tomadas durante o planejamento.
Algumas vezes, os exercícios simulados mudam a rotina, não
apenas daqueles que fazem parte diretamente do treinamento,
mas de toda a região. Isso porque o fluxo de veículos oficiais
pode aumentar, algumas vias podem ser interditadas, poderá
haver deslocamento de grande número de pessoas, etc. Por isso,
Ampla divulgação
é importante garantir ampla divulgação sobre a realização do
simulado, de maneira a evitar qualquer transtorno. A divulgação
pode ser feita com o apoio de redes sociais; imprensa; agentes
comunitários de saúde e de assistência social; rádio comunitária;
panfletagem; instituições religiosas; faixas de sinalização etc.
É importante que informações sobre local, data, horário e roteiro
do simulado sejam organizadas em um material de orientação.
Se houver a possibilidade, é também interessante elaborar um
Produção de material de material mais completo, que contenha mapas, croquis, para que
orientação seja possível divulgar, inclusive, o conteúdo do plano de
contingência. Esse material pode ser utilizado como apoio na
mobilização com órgãos oficiais, comunidades, via redes sociais
e para a imprensa.
Fonte: elaborado com base em Brasil, 2017.

Por último, há o roteiro após o simulado, que deve conter todas as


avaliações realizadas durante os treinamentos. Além disso, nessa etapa também
deverão ser apontadas as revisões a serem realizadas no plano de contingência,
conforme o que foi observado na prática. Destaca-se que, em quaisquer revisões,
todos os envolvidos pelas ações devem ser comunicados. Desse modo, é
importante realizar uma reunião final com os participantes, a fim de apresentar a
prestação de contas das atividades e o plano de contingência com as atualizações
realizadas.
Com todos os roteiros definidos, a sétima etapa condiz com a realização
do simulado. Nesse momento, todas as etapas previstas no planejamento são

6
colocadas em prática. Para isso, podemos organizar as atividades em três grupos
principais. Primeiramente, a reunião de abertura para as apresentações oficiais e
formalidades. Nessa reunião, também devem ser apresentados os roteiros e as
equipes, além da distribuição de materiais e formulários para a avaliação do
treinamento. Após a reunião, é realizado um treinamento de resposta à
ocorrência. Nessa fase, todos os passos de sinalização, rotas de fuga, pontos de
encontro etc. são avaliados. Para concluir o simulado, é possível realizar a reunião
de encerramento. Nessa última reunião, os avaliadores podem expor suas
opiniões a partir do exercício realizado. Além disso, também é importante coletar
as assinaturas dos envolvidos para controle e acompanhamento futuro.

TEMA 3 – SIMULADOS: AVALIAÇÃO E REVISÃO DO PLANO

As duas etapas finais apresentadas por Brasil (2017) estão relacionadas


com a avaliação e a revisão do plano de contingência. A etapa oito está
diretamente ligada aos resultados apresentados na reunião de encerramento. Ela
consiste na avalição dos simulados, realizada durante a execução do treinamento.
Os avaliadores são profissionais técnicos, especializados nos tipos de ameaça
que os cenários de risco apontaram. Além disso, eles também podem ser
escolhidos pela sua experiência em campo, na atuação em situações reais de
resposta. Independente dos métodos utilizados para a determinação dos
avaliadores, eles têm a função de responder algumas questões essenciais, tais
como (Brasil, 2017, p. 49-50):

• Quais foram os pontos fortes e fracos do plano de contingência? Como


podem ser modificados ou aperfeiçoados?
• Quais foram as causas da maioria dos imprevistos ou prejuízos? O que
cada parceiro pode fazer para solucionar ou prevenir que isso ocorra no
futuro?
• Quais foram as maiores dificuldades em conseguir ajudar as pessoas
que precisam de atendimento? O que cada parceiro pode fazer para
solucionar ou prevenir que isso ocorra no futuro?
• Como funcionou o sistema de alarme? Existem necessidades de
aprimoramento?
• Quais erros foram identificados? Que mudanças precisam ser feitas
para evitá-los no futuro?
• Quais acertos foram identificados? O que deve ser feito para garantir a
manutenção desse padrão?
• Quais recursos estavam disponíveis e quais fizeram falta? Como
corrigir deficiências no futuro?
• Qual o nível e qualidade da coordenação e dos parceiros? Que ações
adicionais de coordenação são necessárias?
• O tempo de resposta (tanto das equipes de resposta como da fuga do
cenário de risco) foi o previsto?

7
Para avaliar essas questões, é essencial que o município adote um padrão
a ser utilizado nos exercícios de simulado. Formulários padronizados podem
ajudar os gestores locais a comparar os resultados entre diferentes comunidades.
Essa estratégia pode ser usada para melhorar performances e medidas adotadas
em diferentes regiões, monitorar os avanços das comunidades, definir novas
ações no plano de contingência, entre outras possibilidades. Dois exemplos de
formulários podem ser observados a seguir.

Quadro 4 – Avaliação dos simulados pelo nível de satisfação

Atividades Nível de satisfação


Cenário de risco escolhido E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
Rotas de fuga selecionadas E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
Áreas seguras selecionadas E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
Sistema de alerta e alarme utilizado E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
Mensagens utilizadas E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
Deslocamento das pessoas para o abrigo E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
Qualidade do abrigo provisório E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
Qualidade das atividades desenvolvidas no abrigo
E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
provisório
Tarefas executadas pelas intuições parceiras E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
Finalização do exercício e regresso dos participantes às
E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
suas casas
* Legenda: Excelente (E), Bom (B), Satisfatório (S), Ruim (R), Não Observado (NO).
Fonte: Brasil, 2017.

Quadro 5 – Avaliação dos simulados pelo aspecto organizacional

Atividades SIM NÃO


Foi organizado o grupo coordenador do simulado
Foram definidas as tarefas a serem desenvolvidas por cada um de seus
membros
Foi elaborado um plano de ação do simulado, guia ou passo a passo
O guia elaborado estava de acordo com o plano de ação existente e com os
recursos disponíveis
Foi organizado e divulgado o plano de contingência local
O plano para remoção de pessoas foi revisado
As pessoas da comunidade conheciam os procedimentos a seguir em caso de
remoção
Foi realizada reunião informativa com as pessoas da comunidade que
participaram do simulado
Foi realizada reunião interinstitucional para planejar e coordenar as ações das
outras instituições
As rotas de fuga e as áreas seguras foram sinalizadas
Os meios de comunicação foram informados acerca da realização do simulado
As pessoas da comunidade que não participaram do exercício foram
informadas sobre sua realização
Os participantes foram informados sobre o sinal para iniciar o exercício
Foi informado aos participantes sobre seu comportamento durante a remoção
e nas áreas de segurança
Foi designado local e tarefas para os observadores durante o exercício
Foram tomadas as medidas necessárias e foi dado sinal para suspender o
simulado no momento adequado

8
Foram elaborados planos de ação complementares (animais, crianças
sozinhas, entre outros)
Fonte: elaborado com base em Brasil, 2017.

Por fim, a última etapa desse processo de simulados se refere aos registros
e à atualização do plano de contingência. Como pode ser observado, a etapa
nove está relacionada com a reunião de encerramento, citada no sétimo passo.
Após o desenvolvimento das atividades e a avaliação dos técnicos, a reunião final
pode ser agendada para a discussão dos itens apresentados. Dentre os
documentos a serem produzidos com a elaboração dos simulados, estão: (1)
Registro de treinamento – deve conter registro fotográfico, depoimentos dos
participantes e descrição das atividades realizadas; (2) Registros de avaliação –
deve conter principais pontos identificados pelos avaliadores e discussões
realizadas na reunião de encerramento; e (3) Atualização e revisão do plano de
contingência – com todos os registros realizados, deve-se identificar quais
medidas serão alteradas.
As etapas devem funcionar como um ciclo. Ou seja, após a atualização do
plano, ele deve ser novamente validado por meio de simulados, que irão gerar
novas avaliações e revisões. Esse sistema deve se manter com os processos de
melhoria contínua.

TEMA 4 – CAPACITAÇÃO DE RADIOAMADORES

Uma informação importante que deve constar no plano de contingência é o


contato de radioamadores do município. Dependendo dos impactos negativos
resultantes dos eventos extremos, os meios de comunicação podem parar de
funcionar, como telefones fixo e celular, e a própria internet. Embora possa
parecer uma atividade pouco comum para casos de desastres, nesse cenário o
radioamador é uma ferramenta importantíssima, pois o sistema continua
funcionando mesmo em casos críticos.
O radioamadorismo é regulamentado pela Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) a partir de três normas principais: Resolução n. 449,
de 2006, que aprova o regulamento do serviço de radioamador; Resolução n. 697,
de 2018, que atribui e destina faixas de radiofrequência ao serviço de
radioamador, além de aprovar o regulamento sobre condições de uso de
radiofrequências pelo serviço de radioamador; e o Ato n. 9106, de 2019, que
apresenta a lista de características básicas de emissão, plano de faixas com

9
aplicações, canalização de radiofrequências para estações repetidoras de fonia e
canalização de radiofrequências para estações IVG do Serviço de Radioamador.
A partir dessas regulamentações, entende-se que, em casos de eventos
extremos, o sistema tem a finalidade de permitir a comunicação entre os diferentes
órgãos governamentais. Nesse sentido, a atividade pode ajudar os agentes locais
na promoção da segurança das comunidades durante o atendimento às
emergências. No Art. 39 da Resolução n. 449 de 2006, por exemplo, é
mencionado que as estações de radioamadores podem ser utilizadas até para a
transmissão de comunicados internacionais em situações emergenciais.
Tendo em vista a alta frequência de desastres que tem atingido as cidades
nos últimos anos, cada vez mais é possível encontrar cursos e treinamentos
oferecidos pelas Proteções e Defesa Civis Estaduais e pela Anatel. A partir do
momento em que os gestores municipais de Defesa Civil e os voluntários são
capacitados, eles se tornam peças-chave para a comunicação local. A certificação
de radioamador permite que, mesmo com a interrupção dos serviços, as
comunidades ainda tenham um meio para se comunicar. Destaca-se que os
profissionais podem fazer toda a diferença durante a resposta de emergências,
principalmente quando se trata do salvamento de vidas.
Além dos radioamadores locais, os gestores precisam ter consciência da
necessidade de manter uma rede de contato regional ou estadual, muito útil em
situações críticas. Diversos estados brasileiros já instituíram grupos oficiais de
radioamadores em seu sistema de Defesa Civil. No estado do Paraná, por
exemplo, foi criada a Rede Estadual de Emergência de Radioamadores (REER).
A REER está diretamente vinculada à Coordenadoria Estadual de Proteção e
Defesa Civil do estado (CEPDEC), tendo como objetivo prestar apoio aos agentes
durante a ocorrência de desastres, a fim de reestabelecer a comunicação local.
No Paraná, a Rede Estadual de Emergência de Radioamadores apresenta
uma frente de ação estratégica, subdividida em nível organizacional (coordenação
e operação estadual), nível regional e nível municipal (Figura 1).

Figura 1 – Rede estadual de emergência de radioamadores

Coordenadoria Operacional Regionais Muicípios

10
Para o funcionamento do sistema radioamador, o estado conta com duas
tecnológicas centrais: o Echolink e o Automatic Position Reporting System
(APRS). O Echolink utiliza a tecnologia Voice over Internet Protocol (VoIP),
diretamente na internet, possibilitando a comunicação entre diversos operadores.
Já o APRS é um software que interliga o rádio com o sistema de posicionamento
geográfico (GPS), permitindo contato a longas distâncias (Lambaret, 2018).

TEMA 5 – SISTEMA DE COMANDO DE INCIDENTES (SCI)

Considerando uma perspectiva geral das etapas necessárias para a


elaboração e implementação do plano de contingência, é importante contar com
um sistema capaz de organizar, monitorar e auxiliar os envolvidos nas ações.
Nesse sentido, diversos desafios devem ser enfrentados, como a inexistência de
objetivos e prioridades; de termos em comum para comunicação dos atores; de
integração e padronização dos processos, dentre outros. Em todas essas
problemáticas, a instituição de um Sistema de Comando de Incidentes (SCI) pode
garantir a eficácia das estratégias em relação aos riscos.

SCI é uma ferramenta de gerenciamento de incidentes padronizada,


para todos os tipos de sinistros e eventos, que permitindo aos seus
usuários adaptar uma estrutura organizacional integrada para suprir as
complexidades e demandas de incidentes únicos ou múltiplos,
independente das barreiras jurisdicionais. (Senasp, 2008, p. 19).

Ao adotar pelo Sistema de Comando de Incidentes, deve-se levar em


consideração três objetivos principais: garantir a segurança de todos os
envolvidos pela resposta aos eventos e de todas as pessoas afetadas; utilizar os
recursos disponíveis de maneira eficaz e estratégica; cumprir com as metas de
atendimento às emergências previamente definidas. Esses objetivos devem ser
considerados para todas as ações do sistema. Vale destacar que o SCI é uma
ferramenta flexível, ou seja, ele pode ser ajustado de acordo com as necessidades
que venham a surgir durante o atendimento dos desastres.
Tendo como finalidade a identificação de funções e ações a serem tomadas
pelos responsáveis no atendimento aos desastres, o SCI pode variar de acordo
com a magnitude e a intensidade dos eventos. Em situações com menos
impactos, o atendimento pode se desencadear com grupos específicos.
Entretanto, nos casos em que o evento atinge grandes áreas, ou quando o número
de afetados é elevado, será necessário que os grupos oficiais deleguem funções

11
para outras equipes. Desse modo, observamos a importância de manter um
sistema integrado com o poder público, o setor privado, comunidades etc.
De modo geral, o Sistema de Comando de Incidentes pode ser subdividido
em dois grupos principais: Comando e Equipe de Comando. O Comando é
responsável por toda a operação, sendo formado por três grupos principais:
Ligação, Segurança e Informações ao Público (Figura 2). Dentre as suas
atividades, está a instalação do SCI, a avaliação de campo, a escolha de melhores
instalações e áreas para o desenvolvimento das atividades, a estruturação dos
organogramas de responsabilidades, a definição dos objetivos e prioridades de
ação, o desenvolvimento do plano estratégico, e a coordenação das atividades
administrativas e gerenciais (Defesa Civil ES, 2018).

Figura 2 – Staff de Comando

COMANDO

INFORMAÇÕES
LIGAÇÃO SEGURANÇA AO PÚBLICO

O Quadro 6 apresenta cada uma das funções pertencentes ao Comando


detalhadamente.

Quadro 6 – Funções do Comando

Comando Funções
É o responsável por avaliar e monitorar, constantemente, condições inseguras
de trabalho no local da operação. Ou seja, tem a função de vigilância e
Segurança
avaliação de situações perigosas e inseguras, assim como de
desenvolvimento de medidas para a segurança do pessoal.
É o responsável pela formulação e divulgação de informações sobre a
situação crítica e a operação para a mídia, além das comunidades afetadas
pelo evento. Ou seja, responsável pelo contato com os meios de comunicação
Informação ou outras organizações que buscam informação direta sobre o incidente.
Pública Ainda que todos os órgãos que estejam respondendo ao incidente possam
designar membros de seu pessoal como oficiais de Informação Pública,
durante o evento haverá somente um “Porta-Voz”. Os demais atuarão como
auxiliares. Toda a informação deverá ser aprovada pelo Comando.
É o responsável pelo enlace (contatos externos) com os representantes dos
organismos que cooperam com a operação, especialmente aqueles que não
estão no posto de comando e autoridades políticas. Ou seja, é responsável
Ligação
pela integração das instituições que estejam trabalhando no incidente, ou que
possam ser convocadas. Inclui organismos de primeira resposta, saúde, obras
públicas ou outras organizações.
Fonte: elaborado com base em Defesa Civil ES, 2018; Souza, 2012.
12
Por outro lado, a Equipe de Comando é responsável por atividades
diretamente ligadas ao Comando, sendo formada por quatro grupos principais:
Planejamento, Operações, Logística, Administração e Finanças (Figura 3). Cada
um desses grupos tem responsabilidades específicas durante a ocorrência dos
eventos. Cabe destacar que as atribuições a serem desempenhadas pela equipe
são definidas pelo Comando conforme a necessidade. Quanto maior a intensidade
e a magnitude dos eventos, mais postos de equipe são ativados (Defesa Civil ES,
2018).

Figura 3 – Staff geral

GERAL

PLANEJAMENTO OPERAÇÕES

Operações
Situação Recursos Área de Espera
Aéreas

Concentração
Documentação Desmobilização Socorro
de Vítimas

Assistência Reabilitação

ADMINISTRAÇÃO
LOGÍSTICA
E FINANÇAS

Materiais Instalações Recursos Compras

Apoio Terrestre Alimentação Custos

Médica Comunicações

A descrição das funções da equipe, e respectivas subseções, pode ser


observada no Quadro 7. É importante destacar que, dependendo do tipo de
13
incidente e do tipo de impacto gerado, é possível ativar ou não determinadas
funções da equipe. Esse tipo de ação é uma das vantagens do Sistema de
Comando de Incidentes, em que as funções são muito bem definidas e
estruturadas, a fim de que possam agir individualmente. Além disso, cada função
pode se desdobrar em mais níveis de atividades, conforme a necessidade (Defesa
Civil ES, 2018).

Quadro 7 – Funções da Equipe de Comando

Comando Funções
O Coordenador de Operações conduz as atividades operacionais no nível
tático, executando o plano de ação do comando.
Operações Sob sua responsabilidade, encontram-se o Encarregado da Área de Espera
e os Chefes das Seções Operacionais (bombeiro, polícia, saúde, defesa
civil, operações aéreas etc.) que se fizerem necessários.
O Coordenador de Planejamento prepara e documenta o plano de ação
para alcançar os objetivos e as prioridades estabelecidos pelo comando;
coleta e avalia informações; e mantém um registro dos recursos e da
emergência ou situação crítica como um todo.
Unidades da Coordenação de Planejamento:
• Situação: acompanha a evolução do evento, analisando o seu
Planejamento desenvolvimento;
• Recursos: documenta e monitora os recursos envolvidos na operação;
• Documentação: registra e protege todos os documentos relevantes para o
evento e a operação;
• Desmobilização: determina os procedimentos para a desmobilização dos
recursos empenhados na operação de forma gradual, ordenada e segura.
O Coordenador de Logística fornece suporte, recursos e outros serviços
necessários ao alcance dos objetivos e prioridades da operação como um
todo. Sob sua responsabilidade encontram-se os líderes das unidades de
suporte (normalmente atuam com suprimentos e instalações) e serviços
(comunicações, alimentação, serviços médicos) que se fizerem necessários.
Unidades da Coordenação de Logística:
• Comunicação: fornece e controla os meios de comunicação eletrônica na
operação, integrando a comunicação dos diversos órgãos, agências e
jurisdições envolvidos. Coordena as redes de comunicação;
Logística
• Médica: faz o acompanhamento preventivo das condições de saúde, bem
como o atendimento do pessoal envolvido na operação;
• Alimentação: providencia o fornecimento de alimentação para o pessoal
envolvido na operação;
• Suprimentos de Materiais: fornece os materiais necessários para que os
recursos permaneçam em condição operacional, incluindo combustível,
peças, reposição de itens etc.;
• Instalações: organiza e coordena instalações para o pessoal e
equipamentos empregados na operação.
O Coordenador de Administração controla e monitora os custos
relacionados à operação como um todo, providenciando o controle de
emprego de pessoal, horas trabalhadas para fins de indenização, compras
(orçamentos, contratos, pagamentos) e custos.
Unidades da Coordenação de Administração:
Administração
• Emprego/Recursos: controla as horas de trabalho do pessoal empregado
e Finanças
na operação para fins de pagamento, hora extra e adicional noturno, além de
diárias no caso de deslocamento;
• Compras: realiza os procedimentos legais e operacionais para a compra
de bens e serviços, seja para o pessoal empregado na operação, seja para a
população afetada pelo evento;

14
• Custos: controla os gastos com a operação, a fim de determinar o custo da
mesma e identificar a necessidade de recursos financeiros adicionais.
Fonte: elaborado com base em Defesa Civil ES, 2018.

Outro ponto que pode determinar a ativação de funções na equipe é a


disponibilidade de recursos. Se houver necessidade do uso específico de
materiais ou equipamentos, por exemplo, alguma parte da equipe pode ser
solicitada para o atendimento desse fim. A ideia central é que, independentemente
de quem esteja atuando, toda a atenção precisa ser voltada para normalizar as
situações críticas e atender os afetados. Isso mostra como o sistema pode ser
resiliente, adaptando-se a qualquer ameaça.

15
REFERÊNCIAS

BRASIL. Módulo de formação: elaboração de plano de contingência – livro base.


Brasília: Ministério da Integração, 2017.

DEFESA CIVIL ES. SCO: Sistema de Comando em Operações. Vitória: Corpo


de Bombeiros do Espírito Santo, 2018.

LAMBARET. O que é a rede de radioamadores. Curitiba: Defesa Civil do Paraná,


2018.

SENASP – Secretaria Nacional de Segurança Pública. Curso de Sistema de


Comando de Incidentes – SCI. Brasília: Senasp, 2008.

SOUZA, P. H. Sistema de Comando de Incidentes: Nível Operações. 1. ed.


Curitiba: Corpo de Bombeiros do Paraná, 2012.

16
AULA 5

ELABORAÇÃO DE PLANOS
DE CONTINGÊNCIA

Profª Larissa M. S. Ferentz


INTRODUÇÃO

Nesta aula vamos apresentar o modo como os organismos são capacitados


e treinados para atuar em situações emergenciais. Para isso, vamos nos
aprofundar em três etapas principais de simulados: (1) concepção e organização;
(2) participação e realização; (3) avaliação e revisão do plano. Além disso,
também vamos abordar a capacitação para radioamadores e a estruturação do
Sistema de Comando de Incidentes.

TEMA 1 – SIMULADOS: CONCEPÇÃO E ORGANIZAÇÃO

Para avaliar a efetividade das ações previstas no plano de contingência, é


necessário adotar a prática de simulados. Tais práticas devem ser realizadas com
uma frequência mínima semestral, dependendo do grau de risco das
comunidades. Também é importante entender que os simulados devem ser muito
bem estruturados e regulamentados, tendo em vista que os resultados dos
exercícios contribuirão para melhorias nas estratégias de atendimento aos
afetados. Os simulados podem ser classificados em quatro tipos principais: de
mesa, de acionamento, interno ou externos (Quadro 1).

Quadro 1 – Tipos de simulados

Tipo Descrição
Por meio de recursos como mapas das áreas de risco e veículos de
brinquedo dispostos em uma grande mesa, por exemplo, as equipes de
resposta selecionadas treinam aspectos específicos do plano de
Simulados de
contingência, como deslocamentos e os posicionamentos de segurança,
mesa
rotas de fuga, recursos necessários etc. Esta modalidade permite uma
visão sistêmica de toda operação de resposta, com a percepção da
ocupação de cenários de risco e requisitos de segurança para as equipes.
São os exercícios e treinamentos que executam apenas a parte do plano
de contingência referente à mobilização das equipes de resposta. Servem
Simulados de
para avaliar os tempos de acionamento, a informação correta e atualizada
acionamento
de contatos, o conhecimento do plano de contingência de quem está sendo
acionado etc. Nesta modalidade, não há deslocamentos reais de recursos.
São os exercícios que não envolvem a população, mas apenas as equipes
de resposta. Neste caso, é preciso escolher o cenário de risco e
Simulados
desenvolver detalhes sobre a evolução desse cenário, de modo a avaliar a
internos
organização das informações, o desenvolvimento do plano de ação, a
organização estrutural e de controle de recursos da operação etc.
Neste caso, após a definição do cenário e dos detalhes sobre sua
evolução, será preciso mobilizar, além das equipes de resposta, a própria
comunidade afetada pelo cenário que está sendo avaliado. São treinados
Simulados
aspectos como sistemas de alerta e alarme, fuga, deslocamento das
externos
equipes de resposta, gestão do desastre como um todo etc. O mais
importante nesse simulado é a avaliação do tempo de resposta de equipes
de resposta e procedimentos, além do envolvimento da população.
Fonte: elaborado com base em Brasil, 2017.
2
De modo geral, a organização de simulados pode ser resumida em nove
etapas principais (Brasil, 2017). As quatro primeiras serão apresentados nesse
tema, e representam as ações de planejamento e organização.
A primeira delas se refere ao processo de decisão para colocar os
exercícios em prática. Assim, é importante que os grupos de trabalho estejam bem
definidos no plano de contingência, a fim de iniciar o planejamento das ações.
Cabe destacar que esse planejamento deve ser o mais detalhado possível,
contendo informações sobre a periodicidade dos treinamentos, as
responsabilidades dos indivíduos participantes, além do cronograma completo
das etapas até o encerramento do processo.
Com essas definições realizadas, o grupo de trabalho deverá analisar
cenários e áreas de risco instituídos no plano de contingência. Tais cenários
condizem com as principais ameaças a que os municípios estão sujeitos. Por isso,
os responsáveis deverão buscar por critérios que ajudem a determinar quais são
os piores cenários identificados e as áreas mais vulneráveis. Dessa forma, o
planejamento das ações será específico para cada localidade. Durante o
detalhamento das etapas, será necessário considerar também grupos especiais,
como crianças, idosos, pessoas com problemas de acessibilidade etc. (Quadro 2).
A terceira etapa está diretamente relacionada aos procedimentos e ações
previstos no plano de contingência. Com a definição dos cenários de risco e dos
tipos de desastres que serão trabalhados, deve-se determinar as atividades
prioritárias que serão testadas durante os exercícios. Dentre elas, estão: sistemas
de alerta e alarme entre os órgãos e as comunidades; atendimento dos moradores
com necessidades especiais; ações de busca e primeiros socorros; atuação dos
voluntários; evacuação das áreas de risco; gerenciamento de abrigos e doações
etc. Para cada uma dessas atividades, deve-se definir os responsáveis pelas
ações; a descrição das medidas a serem adotadas; o tempo necessário para a
realização das atividades; e a definição das datas em que as atividades serão
encerradas.
Observa-se que, com a definição dos procedimentos a serem adotados, os
responsáveis já devem ser definidos. Desse modo, na quarta etapa é feita a
distribuição de tarefas. Existem três equipes principais necessárias para a
efetividade dos exercícios: treinamento; observação e avaliação; equipe de
suporte. A equipe de treinamento é composta pelos responsáveis por ações de

3
resposta e moradores das comunidades em risco, tendo em vista que os
exercícios práticos de prospecção dos cenários futuros são realizados com eles.

Quadro 2 – Detalhamento dos simulados

Itens Descrição
Inserir data, horário de início e fim da atividade,
Data, horário e município além de nome do município em que irá ocorrer o
exercício.
Endereço da área de risco e noma da comunidade
Local de execução do simulado
que irá participar do simulado.
Número de residências na área de risco;
População da área de risco;
Tempo de ocupação da área de risco;
Infraestrutura existente na área de realização do
Descrição do cenário de risco em que simulado;
irá acontecer a atividade Locais públicos existentes na área de realização do
simulado;
Tipo predominante de construções;
Perfil da população com as suas respectivas
necessidades especiais.
Principais ocorrências, as mais recentes, as mais
relevantes;
Definição do risco
Indicar período de ocorrência, magnitude e
abrangência.
Critérios para acionamento de alerta Quais são os sistemas de alerta e alarme
e alarme existentes; quando, como e quem irá acioná-los.
Número de pessoas que participará
População prevista que participará do simulado.
do simulado
Órgãos envolvidos na organização e Indicar os órgãos estaduais e municipais que
execução do simulado participarão do simulado.
Previsão de início e término da
Tempo estimado de execução da atividade.
atividade
Local do simulado;
Posto de comando;
Área de espera/pontos de encontro, de apoio ou de
Organização da área que irá segurança;
acontecer o simulado Áreas de evacuação;
Rotas de fuga;
Abrigo;
Sinalização.
Atividades lúdicas a serem Desenvolvimento de atividades voltadas para
desenvolvidas com crianças crianças no abrigo temporário.
Articulação com centros de zoonoses;
Tratamento de animais
Utilização de bichos de pelúcia para o simulado.
Todos devem participar e apresentar suas
considerações sobre o evento;
Avaliação do Simulado e do Plano de
Tudo correu como previsto (tempo e recursos), ou
Contingência
se há necessidade de ajustes;
Ajustes no plano de contingência, se necessário.
Fonte: elaborado com base em Brasil, 2017.

A equipe de observação e avaliação é composta por voluntários e técnicos


habilitados, a fim de verificar se os procedimentos e estratégias adotados estão
sendo realizados conforme proposto nos Planos de Contingência. Além disso,
também avalia-se o tempo de resposta dos envolvidos, verificando se será

4
necessário algum tipo de alteração. Por fim, a equipe de suporte é composta pelos
responsáveis de organização. Nesse caso, as equipes cuidam da logística de
materiais, das filmagens e materiais fotográficos, da identificação dos
participantes, das reuniões de início e fim das atividades, da distribuição de
material efetivo, dentre outros aspectos.

TEMA 2 – SIMULADOS: PARTICIPAÇÃO E REALIZAÇÃO

Seguindo com a apresentação das etapas (Brasil, 2017), passamos agora


às fases que representam a participação de todos os envolvidos e a realização de
simulados na prática.
Até o momento, a preparação das ações e a definição dos responsáveis
são de conhecimento apenas dos grupos de trabalho envolvidos. Assim, deve-se
iniciar o processo de divulgação das informações para as comunidades. Nesse
sentido, a quinta etapa trata das ações de mobilização, que podem ser
subdivididas em: comunicação oficial aos órgãos de resposta; reuniões
comunitárias; ampla divulgação; e produção de material de orientação, conforme
vemos no Quadro 3.
Sabendo que todos os indivíduos têm conhecimento sobre a realização dos
exercícios práticos, é importante concretizar as atividades a serem seguidas na
preparação, durante a realização e após os simulados. Tal concretização se refere
à etapa seis, de definição do roteiro final. O roteiro de preparação deve ser
detalhado, incluindo todos os recursos necessários, logística de materiais,
equipamentos e pessoas, assim como responsáveis pela realização das
atividades. Nessa etapa, a definição de fornecedores também deve ser definida,
tendo em vista que os produtos e serviços terceirizados devem estar prontos e
disponíveis antes da realização dos simulados. Aqui, estão inclusos os materiais
de sinalização, os locais para a realização das reuniões, os materiais impressos,
a alimentação dos participantes, dentre outros pontos.
O roteiro para a realização do simulado condiz com as etapas necessárias
para o desenvolvimento das ações, como sinalização e isolamento das áreas,
montagem e desmontagem de estruturas etc. Podemos dividir esse processo em
três itens principais: (1) procedimentos de resposta – treinamento das atividades
previstas no plano de contingência; (2) procedimentos de desmobilização –
atividades de desmontagens e limpeza; (3) procedimentos gerenciais – avaliação
dos responsáveis e recursos cadastrados no plano de contingência durante as

5
ações. No terceiro caso, a avaliação também consiste na organização de
materiais e equipamentos, com eficácia em logística e agilidade dos
respondentes.

Quadro 3 – Ações de mobilização

Ações Descrição
Cada órgão envolvido no simulado deve receber uma
comunicação oficial que descreva, pelo menos, o objetivo do
Comunicação oficial aos simulado, a data e horário de realização, as responsabilidades do
órgãos de resposta órgão e a agenda de mobilização. Além da comunicação oficial,
é possível promover reuniões específicas com um ou mais
órgãos e convidá-los para as reuniões comunitárias.
A depender da modalidade de simulado selecionada e do
tamanho da comunidade que será treinada será preciso fazer
reuniões para explicar o passo a passo do simulado e esclarecer
qualquer dúvida que moradores, empresas e demais envolvidos
Reuniões comunitárias
na área a ser trabalhada venham a ter. Nesses espaços, é
importante que os representantes comunitários que integram o
grupo de trabalho estejam presentes para validar as decisões
tomadas durante o planejamento.
Algumas vezes, os exercícios simulados mudam a rotina, não
apenas daqueles que fazem parte diretamente do treinamento,
mas de toda a região. Isso porque o fluxo de veículos oficiais
pode aumentar, algumas vias podem ser interditadas, poderá
haver deslocamento de grande número de pessoas, etc. Por isso,
Ampla divulgação
é importante garantir ampla divulgação sobre a realização do
simulado, de maneira a evitar qualquer transtorno. A divulgação
pode ser feita com o apoio de redes sociais; imprensa; agentes
comunitários de saúde e de assistência social; rádio comunitária;
panfletagem; instituições religiosas; faixas de sinalização etc.
É importante que informações sobre local, data, horário e roteiro
do simulado sejam organizadas em um material de orientação.
Se houver a possibilidade, é também interessante elaborar um
Produção de material de material mais completo, que contenha mapas, croquis, para que
orientação seja possível divulgar, inclusive, o conteúdo do plano de
contingência. Esse material pode ser utilizado como apoio na
mobilização com órgãos oficiais, comunidades, via redes sociais
e para a imprensa.
Fonte: elaborado com base em Brasil, 2017.

Por último, há o roteiro após o simulado, que deve conter todas as


avaliações realizadas durante os treinamentos. Além disso, nessa etapa também
deverão ser apontadas as revisões a serem realizadas no plano de contingência,
conforme o que foi observado na prática. Destaca-se que, em quaisquer revisões,
todos os envolvidos pelas ações devem ser comunicados. Desse modo, é
importante realizar uma reunião final com os participantes, a fim de apresentar a
prestação de contas das atividades e o plano de contingência com as atualizações
realizadas.
Com todos os roteiros definidos, a sétima etapa condiz com a realização
do simulado. Nesse momento, todas as etapas previstas no planejamento são

6
colocadas em prática. Para isso, podemos organizar as atividades em três grupos
principais. Primeiramente, a reunião de abertura para as apresentações oficiais e
formalidades. Nessa reunião, também devem ser apresentados os roteiros e as
equipes, além da distribuição de materiais e formulários para a avaliação do
treinamento. Após a reunião, é realizado um treinamento de resposta à
ocorrência. Nessa fase, todos os passos de sinalização, rotas de fuga, pontos de
encontro etc. são avaliados. Para concluir o simulado, é possível realizar a reunião
de encerramento. Nessa última reunião, os avaliadores podem expor suas
opiniões a partir do exercício realizado. Além disso, também é importante coletar
as assinaturas dos envolvidos para controle e acompanhamento futuro.

TEMA 3 – SIMULADOS: AVALIAÇÃO E REVISÃO DO PLANO

As duas etapas finais apresentadas por Brasil (2017) estão relacionadas


com a avaliação e a revisão do plano de contingência. A etapa oito está
diretamente ligada aos resultados apresentados na reunião de encerramento. Ela
consiste na avalição dos simulados, realizada durante a execução do treinamento.
Os avaliadores são profissionais técnicos, especializados nos tipos de ameaça
que os cenários de risco apontaram. Além disso, eles também podem ser
escolhidos pela sua experiência em campo, na atuação em situações reais de
resposta. Independente dos métodos utilizados para a determinação dos
avaliadores, eles têm a função de responder algumas questões essenciais, tais
como (Brasil, 2017, p. 49-50):

• Quais foram os pontos fortes e fracos do plano de contingência? Como


podem ser modificados ou aperfeiçoados?
• Quais foram as causas da maioria dos imprevistos ou prejuízos? O que
cada parceiro pode fazer para solucionar ou prevenir que isso ocorra no
futuro?
• Quais foram as maiores dificuldades em conseguir ajudar as pessoas
que precisam de atendimento? O que cada parceiro pode fazer para
solucionar ou prevenir que isso ocorra no futuro?
• Como funcionou o sistema de alarme? Existem necessidades de
aprimoramento?
• Quais erros foram identificados? Que mudanças precisam ser feitas
para evitá-los no futuro?
• Quais acertos foram identificados? O que deve ser feito para garantir a
manutenção desse padrão?
• Quais recursos estavam disponíveis e quais fizeram falta? Como
corrigir deficiências no futuro?
• Qual o nível e qualidade da coordenação e dos parceiros? Que ações
adicionais de coordenação são necessárias?
• O tempo de resposta (tanto das equipes de resposta como da fuga do
cenário de risco) foi o previsto?

7
Para avaliar essas questões, é essencial que o município adote um padrão
a ser utilizado nos exercícios de simulado. Formulários padronizados podem
ajudar os gestores locais a comparar os resultados entre diferentes comunidades.
Essa estratégia pode ser usada para melhorar performances e medidas adotadas
em diferentes regiões, monitorar os avanços das comunidades, definir novas
ações no plano de contingência, entre outras possibilidades. Dois exemplos de
formulários podem ser observados a seguir.

Quadro 4 – Avaliação dos simulados pelo nível de satisfação

Atividades Nível de satisfação


Cenário de risco escolhido E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
Rotas de fuga selecionadas E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
Áreas seguras selecionadas E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
Sistema de alerta e alarme utilizado E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
Mensagens utilizadas E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
Deslocamento das pessoas para o abrigo E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
Qualidade do abrigo provisório E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
Qualidade das atividades desenvolvidas no abrigo
E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
provisório
Tarefas executadas pelas intuições parceiras E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
Finalização do exercício e regresso dos participantes às
E ( ), B ( ), S ( ), R ( ), NO ( )
suas casas
* Legenda: Excelente (E), Bom (B), Satisfatório (S), Ruim (R), Não Observado (NO).
Fonte: Brasil, 2017.

Quadro 5 – Avaliação dos simulados pelo aspecto organizacional

Atividades SIM NÃO


Foi organizado o grupo coordenador do simulado
Foram definidas as tarefas a serem desenvolvidas por cada um de seus
membros
Foi elaborado um plano de ação do simulado, guia ou passo a passo
O guia elaborado estava de acordo com o plano de ação existente e com os
recursos disponíveis
Foi organizado e divulgado o plano de contingência local
O plano para remoção de pessoas foi revisado
As pessoas da comunidade conheciam os procedimentos a seguir em caso de
remoção
Foi realizada reunião informativa com as pessoas da comunidade que
participaram do simulado
Foi realizada reunião interinstitucional para planejar e coordenar as ações das
outras instituições
As rotas de fuga e as áreas seguras foram sinalizadas
Os meios de comunicação foram informados acerca da realização do simulado
As pessoas da comunidade que não participaram do exercício foram
informadas sobre sua realização
Os participantes foram informados sobre o sinal para iniciar o exercício
Foi informado aos participantes sobre seu comportamento durante a remoção
e nas áreas de segurança
Foi designado local e tarefas para os observadores durante o exercício
Foram tomadas as medidas necessárias e foi dado sinal para suspender o
simulado no momento adequado

8
Foram elaborados planos de ação complementares (animais, crianças
sozinhas, entre outros)
Fonte: elaborado com base em Brasil, 2017.

Por fim, a última etapa desse processo de simulados se refere aos registros
e à atualização do plano de contingência. Como pode ser observado, a etapa
nove está relacionada com a reunião de encerramento, citada no sétimo passo.
Após o desenvolvimento das atividades e a avaliação dos técnicos, a reunião final
pode ser agendada para a discussão dos itens apresentados. Dentre os
documentos a serem produzidos com a elaboração dos simulados, estão: (1)
Registro de treinamento – deve conter registro fotográfico, depoimentos dos
participantes e descrição das atividades realizadas; (2) Registros de avaliação –
deve conter principais pontos identificados pelos avaliadores e discussões
realizadas na reunião de encerramento; e (3) Atualização e revisão do plano de
contingência – com todos os registros realizados, deve-se identificar quais
medidas serão alteradas.
As etapas devem funcionar como um ciclo. Ou seja, após a atualização do
plano, ele deve ser novamente validado por meio de simulados, que irão gerar
novas avaliações e revisões. Esse sistema deve se manter com os processos de
melhoria contínua.

TEMA 4 – CAPACITAÇÃO DE RADIOAMADORES

Uma informação importante que deve constar no plano de contingência é o


contato de radioamadores do município. Dependendo dos impactos negativos
resultantes dos eventos extremos, os meios de comunicação podem parar de
funcionar, como telefones fixo e celular, e a própria internet. Embora possa
parecer uma atividade pouco comum para casos de desastres, nesse cenário o
radioamador é uma ferramenta importantíssima, pois o sistema continua
funcionando mesmo em casos críticos.
O radioamadorismo é regulamentado pela Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) a partir de três normas principais: Resolução n. 449,
de 2006, que aprova o regulamento do serviço de radioamador; Resolução n. 697,
de 2018, que atribui e destina faixas de radiofrequência ao serviço de
radioamador, além de aprovar o regulamento sobre condições de uso de
radiofrequências pelo serviço de radioamador; e o Ato n. 9106, de 2019, que
apresenta a lista de características básicas de emissão, plano de faixas com

9
aplicações, canalização de radiofrequências para estações repetidoras de fonia e
canalização de radiofrequências para estações IVG do Serviço de Radioamador.
A partir dessas regulamentações, entende-se que, em casos de eventos
extremos, o sistema tem a finalidade de permitir a comunicação entre os diferentes
órgãos governamentais. Nesse sentido, a atividade pode ajudar os agentes locais
na promoção da segurança das comunidades durante o atendimento às
emergências. No Art. 39 da Resolução n. 449 de 2006, por exemplo, é
mencionado que as estações de radioamadores podem ser utilizadas até para a
transmissão de comunicados internacionais em situações emergenciais.
Tendo em vista a alta frequência de desastres que tem atingido as cidades
nos últimos anos, cada vez mais é possível encontrar cursos e treinamentos
oferecidos pelas Proteções e Defesa Civis Estaduais e pela Anatel. A partir do
momento em que os gestores municipais de Defesa Civil e os voluntários são
capacitados, eles se tornam peças-chave para a comunicação local. A certificação
de radioamador permite que, mesmo com a interrupção dos serviços, as
comunidades ainda tenham um meio para se comunicar. Destaca-se que os
profissionais podem fazer toda a diferença durante a resposta de emergências,
principalmente quando se trata do salvamento de vidas.
Além dos radioamadores locais, os gestores precisam ter consciência da
necessidade de manter uma rede de contato regional ou estadual, muito útil em
situações críticas. Diversos estados brasileiros já instituíram grupos oficiais de
radioamadores em seu sistema de Defesa Civil. No estado do Paraná, por
exemplo, foi criada a Rede Estadual de Emergência de Radioamadores (REER).
A REER está diretamente vinculada à Coordenadoria Estadual de Proteção e
Defesa Civil do estado (CEPDEC), tendo como objetivo prestar apoio aos agentes
durante a ocorrência de desastres, a fim de reestabelecer a comunicação local.
No Paraná, a Rede Estadual de Emergência de Radioamadores apresenta
uma frente de ação estratégica, subdividida em nível organizacional (coordenação
e operação estadual), nível regional e nível municipal (Figura 1).

Figura 1 – Rede estadual de emergência de radioamadores

Coordenadoria Operacional Regionais Muicípios

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Para o funcionamento do sistema radioamador, o estado conta com duas
tecnológicas centrais: o Echolink e o Automatic Position Reporting System
(APRS). O Echolink utiliza a tecnologia Voice over Internet Protocol (VoIP),
diretamente na internet, possibilitando a comunicação entre diversos operadores.
Já o APRS é um software que interliga o rádio com o sistema de posicionamento
geográfico (GPS), permitindo contato a longas distâncias (Lambaret, 2018).

TEMA 5 – SISTEMA DE COMANDO DE INCIDENTES (SCI)

Considerando uma perspectiva geral das etapas necessárias para a


elaboração e implementação do plano de contingência, é importante contar com
um sistema capaz de organizar, monitorar e auxiliar os envolvidos nas ações.
Nesse sentido, diversos desafios devem ser enfrentados, como a inexistência de
objetivos e prioridades; de termos em comum para comunicação dos atores; de
integração e padronização dos processos, dentre outros. Em todas essas
problemáticas, a instituição de um Sistema de Comando de Incidentes (SCI) pode
garantir a eficácia das estratégias em relação aos riscos.

SCI é uma ferramenta de gerenciamento de incidentes padronizada,


para todos os tipos de sinistros e eventos, que permitindo aos seus
usuários adaptar uma estrutura organizacional integrada para suprir as
complexidades e demandas de incidentes únicos ou múltiplos,
independente das barreiras jurisdicionais. (Senasp, 2008, p. 19).

Ao adotar pelo Sistema de Comando de Incidentes, deve-se levar em


consideração três objetivos principais: garantir a segurança de todos os
envolvidos pela resposta aos eventos e de todas as pessoas afetadas; utilizar os
recursos disponíveis de maneira eficaz e estratégica; cumprir com as metas de
atendimento às emergências previamente definidas. Esses objetivos devem ser
considerados para todas as ações do sistema. Vale destacar que o SCI é uma
ferramenta flexível, ou seja, ele pode ser ajustado de acordo com as necessidades
que venham a surgir durante o atendimento dos desastres.
Tendo como finalidade a identificação de funções e ações a serem tomadas
pelos responsáveis no atendimento aos desastres, o SCI pode variar de acordo
com a magnitude e a intensidade dos eventos. Em situações com menos
impactos, o atendimento pode se desencadear com grupos específicos.
Entretanto, nos casos em que o evento atinge grandes áreas, ou quando o número
de afetados é elevado, será necessário que os grupos oficiais deleguem funções

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para outras equipes. Desse modo, observamos a importância de manter um
sistema integrado com o poder público, o setor privado, comunidades etc.
De modo geral, o Sistema de Comando de Incidentes pode ser subdividido
em dois grupos principais: Comando e Equipe de Comando. O Comando é
responsável por toda a operação, sendo formado por três grupos principais:
Ligação, Segurança e Informações ao Público (Figura 2). Dentre as suas
atividades, está a instalação do SCI, a avaliação de campo, a escolha de melhores
instalações e áreas para o desenvolvimento das atividades, a estruturação dos
organogramas de responsabilidades, a definição dos objetivos e prioridades de
ação, o desenvolvimento do plano estratégico, e a coordenação das atividades
administrativas e gerenciais (Defesa Civil ES, 2018).

Figura 2 – Staff de Comando

COMANDO

INFORMAÇÕES
LIGAÇÃO SEGURANÇA AO PÚBLICO

O Quadro 6 apresenta cada uma das funções pertencentes ao Comando


detalhadamente.

Quadro 6 – Funções do Comando

Comando Funções
É o responsável por avaliar e monitorar, constantemente, condições inseguras
de trabalho no local da operação. Ou seja, tem a função de vigilância e
Segurança
avaliação de situações perigosas e inseguras, assim como de
desenvolvimento de medidas para a segurança do pessoal.
É o responsável pela formulação e divulgação de informações sobre a
situação crítica e a operação para a mídia, além das comunidades afetadas
pelo evento. Ou seja, responsável pelo contato com os meios de comunicação
Informação ou outras organizações que buscam informação direta sobre o incidente.
Pública Ainda que todos os órgãos que estejam respondendo ao incidente possam
designar membros de seu pessoal como oficiais de Informação Pública,
durante o evento haverá somente um “Porta-Voz”. Os demais atuarão como
auxiliares. Toda a informação deverá ser aprovada pelo Comando.
É o responsável pelo enlace (contatos externos) com os representantes dos
organismos que cooperam com a operação, especialmente aqueles que não
estão no posto de comando e autoridades políticas. Ou seja, é responsável
Ligação
pela integração das instituições que estejam trabalhando no incidente, ou que
possam ser convocadas. Inclui organismos de primeira resposta, saúde, obras
públicas ou outras organizações.
Fonte: elaborado com base em Defesa Civil ES, 2018; Souza, 2012.
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Por outro lado, a Equipe de Comando é responsável por atividades
diretamente ligadas ao Comando, sendo formada por quatro grupos principais:
Planejamento, Operações, Logística, Administração e Finanças (Figura 3). Cada
um desses grupos tem responsabilidades específicas durante a ocorrência dos
eventos. Cabe destacar que as atribuições a serem desempenhadas pela equipe
são definidas pelo Comando conforme a necessidade. Quanto maior a intensidade
e a magnitude dos eventos, mais postos de equipe são ativados (Defesa Civil ES,
2018).

Figura 3 – Staff geral

GERAL

PLANEJAMENTO OPERAÇÕES

Operações
Situação Recursos Área de Espera
Aéreas

Concentração
Documentação Desmobilização Socorro
de Vítimas

Assistência Reabilitação

ADMINISTRAÇÃO
LOGÍSTICA
E FINANÇAS

Materiais Instalações Recursos Compras

Apoio Terrestre Alimentação Custos

Médica Comunicações

A descrição das funções da equipe, e respectivas subseções, pode ser


observada no Quadro 7. É importante destacar que, dependendo do tipo de
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incidente e do tipo de impacto gerado, é possível ativar ou não determinadas
funções da equipe. Esse tipo de ação é uma das vantagens do Sistema de
Comando de Incidentes, em que as funções são muito bem definidas e
estruturadas, a fim de que possam agir individualmente. Além disso, cada função
pode se desdobrar em mais níveis de atividades, conforme a necessidade (Defesa
Civil ES, 2018).

Quadro 7 – Funções da Equipe de Comando

Comando Funções
O Coordenador de Operações conduz as atividades operacionais no nível
tático, executando o plano de ação do comando.
Operações Sob sua responsabilidade, encontram-se o Encarregado da Área de Espera
e os Chefes das Seções Operacionais (bombeiro, polícia, saúde, defesa
civil, operações aéreas etc.) que se fizerem necessários.
O Coordenador de Planejamento prepara e documenta o plano de ação
para alcançar os objetivos e as prioridades estabelecidos pelo comando;
coleta e avalia informações; e mantém um registro dos recursos e da
emergência ou situação crítica como um todo.
Unidades da Coordenação de Planejamento:
• Situação: acompanha a evolução do evento, analisando o seu
Planejamento desenvolvimento;
• Recursos: documenta e monitora os recursos envolvidos na operação;
• Documentação: registra e protege todos os documentos relevantes para o
evento e a operação;
• Desmobilização: determina os procedimentos para a desmobilização dos
recursos empenhados na operação de forma gradual, ordenada e segura.
O Coordenador de Logística fornece suporte, recursos e outros serviços
necessários ao alcance dos objetivos e prioridades da operação como um
todo. Sob sua responsabilidade encontram-se os líderes das unidades de
suporte (normalmente atuam com suprimentos e instalações) e serviços
(comunicações, alimentação, serviços médicos) que se fizerem necessários.
Unidades da Coordenação de Logística:
• Comunicação: fornece e controla os meios de comunicação eletrônica na
operação, integrando a comunicação dos diversos órgãos, agências e
jurisdições envolvidos. Coordena as redes de comunicação;
Logística
• Médica: faz o acompanhamento preventivo das condições de saúde, bem
como o atendimento do pessoal envolvido na operação;
• Alimentação: providencia o fornecimento de alimentação para o pessoal
envolvido na operação;
• Suprimentos de Materiais: fornece os materiais necessários para que os
recursos permaneçam em condição operacional, incluindo combustível,
peças, reposição de itens etc.;
• Instalações: organiza e coordena instalações para o pessoal e
equipamentos empregados na operação.
O Coordenador de Administração controla e monitora os custos
relacionados à operação como um todo, providenciando o controle de
emprego de pessoal, horas trabalhadas para fins de indenização, compras
(orçamentos, contratos, pagamentos) e custos.
Unidades da Coordenação de Administração:
Administração
• Emprego/Recursos: controla as horas de trabalho do pessoal empregado
e Finanças
na operação para fins de pagamento, hora extra e adicional noturno, além de
diárias no caso de deslocamento;
• Compras: realiza os procedimentos legais e operacionais para a compra
de bens e serviços, seja para o pessoal empregado na operação, seja para a
população afetada pelo evento;

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• Custos: controla os gastos com a operação, a fim de determinar o custo da
mesma e identificar a necessidade de recursos financeiros adicionais.
Fonte: elaborado com base em Defesa Civil ES, 2018.

Outro ponto que pode determinar a ativação de funções na equipe é a


disponibilidade de recursos. Se houver necessidade do uso específico de
materiais ou equipamentos, por exemplo, alguma parte da equipe pode ser
solicitada para o atendimento desse fim. A ideia central é que, independentemente
de quem esteja atuando, toda a atenção precisa ser voltada para normalizar as
situações críticas e atender os afetados. Isso mostra como o sistema pode ser
resiliente, adaptando-se a qualquer ameaça.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Módulo de formação: elaboração de plano de contingência – livro base.


Brasília: Ministério da Integração, 2017.

DEFESA CIVIL ES. SCO: Sistema de Comando em Operações. Vitória: Corpo


de Bombeiros do Espírito Santo, 2018.

LAMBARET. O que é a rede de radioamadores. Curitiba: Defesa Civil do Paraná,


2018.

SENASP – Secretaria Nacional de Segurança Pública. Curso de Sistema de


Comando de Incidentes – SCI. Brasília: Senasp, 2008.

SOUZA, P. H. Sistema de Comando de Incidentes: Nível Operações. 1. ed.


Curitiba: Corpo de Bombeiros do Paraná, 2012.

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