Os desastres são um conjunto de fatores de riscos, ameaças e
vulnerabilidades em determinado território e que geram grandes efeitos
danosos para determinada população. Segundo as Referências Técnicas para atuação de psicólogas (os) na Gestão Integral de Riscos, Emergências podemos afirmar que:
A conceituação de um evento como desastre depende da
perspectiva daquele que o nomeia e do lugar que ele ocupa nessa interação com o evento. Assim, o conceito de desastre é utilizado para nomear muitos eventos e/ou processos com características distintas. Parte-se da compreensão do desastre como uma ruptura do funcionamento habitual de um sistema ou comunidade, devido aos impactos ao bem-estar físico, social, psíquico, econômico e ambiental de uma determinada localidade. Tal evento afeta um grande número de pessoas, ocasionando destruição estrutural e/ou material significativa e altera a geografia humana, provocando desorganização social pela destruição ou alteração de redes funcionais. Os desastres podem provocar medo, horror, sensação de impotência, confrontação com a destruição, com o caos, com a própria morte e\ou de outrem, bem como perturbação aguda em crenças, valores e significados. Para haver um desastre, é necessária a combinação de um conjunto de fatores: ameaças, exposição, condições de vulnerabilidade e insuficiente gestão integral de riscos. O desastre deve ser compreendido e vinculado ao contexto no qual ele ocorre, ou seja, é necessário considerar as dimensões sócio-político-culturais de vulnerabilidade, capacidade, exposição de pessoas e bens, características e percepções dos riscos e meio ambiente” (CFP, 2021)
Castro (1997) explica que a intensidade dos desastres tem maior
impacto dependendo do grau de vulnerabilidade da população atingida, ou seja, os desastres não estão apenas vinculados a “fenômenos naturais”, mas em grande maioria das populações atingidas são aquelas que não possuem seus direitos humanos e vivem em territórios onde sua segurança não são garantidas. O psicólogo deve estar atento as variáveis e buscar antecipar possíveis ocorrências e possibilitar a aquisição de seus direitos.
No Brasil ainda não há obrigatoriedade do profissional ser membro
efetivo na equipe da Defesa Civil, apesar de estar inserido em outras políticas públicas do SUS e SUAS, mas há cinco fases determinadas pela Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC) em que a atuação do psicólogo se baseia: prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação (CFP, 2016). A partir de uma perspectiva voltada a prevenção, é necessário reduzir novos riscos condições existentes de desastres, e o profissional atuará possibilitando medidas de diversas áreas como econômicas, culturais, judiciais, entre outros. Na fase de mitigação e preparação as ações ocorrem quando os riscos de desastres estão localizados, portanto, as intervenções devem ser para minimizá-los. (FURTADO, 2013 apud CFP, 2021). Efetivando as políticas de direitos humanos e sociais como moradia, educação e saúde.
De acordo com o IASC (2007) conforme citado nas Referências
Técnicas para atuação de psicólogas (os) na gestão integral de riscos, emergências e desastres, as fases de resposta e reconstrução as ações podem ocorrer desde as primeiras horas após um desastre, ofertando serviços básicos de saúde e segurança (água, abrigo, vestimenta, etc.), dando apoio à comunidade e as famílias com a escuta, promovendo a elaboração do luto e realizando grupos de apoio parar desenvolver medidas de enfrentamento. É necessário avaliar quais são os casos não especializados (leve ou moderado), que necessitam de acompanhamento individual e também quais são os casos especializados (graves), onde há um sofrimento intenso, para serem encaminhados aos serviços de Ambulatórios Especializados ou CAPS. As ações profissionais neste meio devem ser em conjunto às redes de serviços públicos, em especial a Defesa Civil, o Sistema Único de Saúde (SUS), o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), Segurança Pública, além da cooperação das iniciativas privadas e de voluntários, de modo a criar estratégias intersetoriais que sejam de curto, médio e longo prazo (CFP, 2016). Evitando sempre ações individuais e desconexas da rede. Realizar de forma diferenciada a atuação, em que não deve se ter um olhar individual como na atuação clínica, no qual o paciente procura por terapia e relata seus sofrimentos, pois as experiencias vivenciadas, as causas e os efeitos dos desastres ocorrem de forma coletiva e as intervenções devem ser feitas da mesma maneira.
Além disso, o entendimento técnico deve ser para além de conhecer
recursos psicológicos, pois haverá uma especificidade territorial, cultural e econômica que se faz necessária ser compreendida. É de suma importância que o psicólogo entenda o contexto social e político da população para desenvolver técnicas comunitárias mediante a essas situações de emergência, através de estratégias para evitar maiores danos, dar suporte tanto aos atingidos quanto aos profissionais e aliviando o sofrimento coletivo; saber dialogar com as propostas de resolução da comunidade, pois estes buscarão colaborar para trazer soluções diante das situações, organizando planos eficazes de enfrentamentos, fortalecendo a população em suas capacidades e a buscar seus direitos.
O trabalho não deve ser realizado de forma assistencialista, pois pode
acarretar em medir as ações em aspecto moral, desconsiderando a perspectiva de injustiça social. Logo, psicólogo deve manter uma postura ética com a sociedade, empenhando em desenvolver projetos voltados para a garantia dos direitos humanos, principalmente nas fases de resposta e recuperação. A partir de uma perspectiva de que cada indivíduo é cidadão e um ser social, buscar a melhor forma de construir uma sociedade mais justa e igualitária, pois a atuação do psicólogo não deve ser reduzida a um discurso, mas se concretizar por meio de posicionamento e ações políticas. (CFP, 2021) Referências:
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP). Referências técnicas para
atuação de psicólogas (os) na gestão integral de riscos, emergências e desastres. 2021. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2021/10/Crepop-RT-Emerge%CC %82ncias-e-Desastres-web_v2.pdf. Acesso em 23 de maio de 2023 CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP). Nota Técnica sobre a Atuação da Psicologia na Gestão Integral de Riscos e Desastres, Relacionadas com a Política de Proteção e Defesa Civil. 2016. Disponível em: https://site.cfp.org.br/documentos/nota-tecnica-sobre-atuacao-dapsicologia- nagestao-integral-de-riscos-e-de-desastres-relacionadascomapolitica-de- protecao-e-defesa-civil/. Acesso em 23 maio 2023 CASTRO, A. L. C. de. Segurança Global da População. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil. SEDEC, Brasília, set, 1997. Disponível em: <http://www.crid.or.cr/digitalizacion/pdf/por/doc10456/doc10456-a.pdf> INTER-AGENCY STANDING COMMITTEE (IASC). Diretrizes do IASC sobre saúde mental e apoio psicossocial em emergências humanitárias. Tradução de Márcio Gagliato. Genebra: IASC, 2007. Disponível em: https://interagencystandingcommittee.org/system/files/iasc_mhpss_guidelines_ portuguese.pdf apud CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP). Referências técnicas para atuação de psicólogas (os) na gestão integral de riscos, emergências e desastres. 2021. P. 71-72. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2021/10/Crepop-RT-Emerge%CC %82ncias-e-Desastres-web_v2.pdf acesso em 23 de maio de 2023 FURTADO, J. et al. Capacitação básica em Defesa Civil. 2. ed. Florianópolis: CAD UFSC, 2013. apud CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP). Referências técnicas para atuação de psicólogas (os) na gestão integral de riscos, emergências e desastres. 2021. P.64. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2021/10/Crepop-RT-Emerge%CC %82ncias-e-Desastres-web_v2.pdf acesso em 23 de maio de 2023