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Fichamento: História da literatura portuguesa – Renascimento e maneirismo,

Antônio José Saraiva e Óscar Lopes.


Discente: Lohayna Maria da Silva Lima

Capitulo IV - Sá de Miranda entre as inovações italianas e tradições medievas

• “(...) desde o século XII praticava-se na Itália um novo tipo de verso e


composição poética, o chamado »dolce estil nuovo«. Este novo estilo impunha o
verso de dez sílabas, o decassílabo, por fim acentuado obrigatoriamente na 4ª e
8ª sílabas (versão sáfico) ou na 6ª (versão heróico) – então denominado
»hendecassílabo« (isto é, verso de onze sílabas), visto que, segundo o sistema
italiano, se contava a sílaba póstônica quando a última era grave.” (p. 257)

• “Quanto as combinações de versos, às construções estróficas, Petrarca


selecionou algumas já cultivadas pelos Provençais: – o soneto, com dois
quartetos de rima geralmente abba e dois tercetos sujeitos a combinações
regulares de duas ou três rimas; a canção, com o número variável de estrofes
iguais e um remate, mas sendo o tipo de estrofe (que é um agrupamento de
decassílabos a escola e quebrados) a escolha do poeta (...)” (p.258)

• Teremos também a sextina, as composições em tercetos e em oitavas.

• “A canção, a composição em tercetos, a composição em oitavas dão ensanchas


para largos desenvolvimentos, para um longo espraiamento do conteúdo
discursivo ou emocional, em contraste com o molde rígido dos gêneros de
Quatrocentos.” (p. 258)

• “O soneto e a sextina, pelo contrário, um pelo esquema estrófico e ambos por


um sistema obrigatório de rimas, mantêm-se mais próximos do formalismo da
poesia medieval, e obrigam a uma condensação conceituosa do pensamento,
ainda comparável àquela que era imposta pelas composições com mote e glosa.”
(p. 258)

• Os Italianos assimilaram gêneros líricos característicos das literaturas grega e


latina, como a écloga, elegia, ode, epístola, epigrama, epitalâmio.

• “(...)a poesia lírica só por si comporta os assuntos mais diversos além do amor:
elogios de heróis, conselhos epistolares sobre o bem público, ensinamentos
morais, políticos, religiosos e filosóficos.” (p.259)

• A influência italiana na poesia peninsular começou no século XV com o


petrarquismo, evidente nos cancioneiros castelhanos e no Cancioneiro Geral.
Embora o marquês de Santillana e Francisco Imperial tenham utilizado formas
italianas antes, foi apenas no século XVI, com Juan Boscán e Garcilaso de la Veja,
que essa influência se consolidou na Península.
Sá de Miranda – a consagração do novo estilo em Portugal

• “Sá de Miranda, colaborador do Cancioneiro Geral, cultivou em língua


portuguesa e castelhana as formas consagradas nessa coletânea, antes e depois
da sua conversão ao novo estilo. Nunca, aliás, repudiou a medida velha, em que
aprendeu a versejar(...)” (p.260)

• Nos poemas que marcam sua campanha pela introdução das formas italianas
em Portugal, Sá de Miranda enriquece seu material literário de forma significativa.
A parte mais original e interessante de sua obra poética é a metrificada em
redondilha menor, como a écloga “Basto” e as “Cartas”, onde expõe de forma
franca e livre seu pensamento sobre o mundo ao seu redor.

• “O elogio da simplicidade rústica, como estado mais seguro e mais repousado


que a vida artificial na cidade ou na corte, é um tema característico da Antiguidade
clássica e particularmente de Horácio. Mas Sá de Miranda dá-lhe novos traços
concretos e combina-o com uma crítica social que lembra os mais audaciosos
utopistas do século XVI.” (p. 262)

• “Outro tema grato a Sá de Miranda é a crítica da corte como centro do governo: a


astúcia dos privados, o seu engrandecimento à custa dos pequenos; a corrupção
da justiça, o exibicionismo devoto; todo um sistema de exploração em proveito de
um grupo dirigente, que consegue perverter as boas leis tornando-as fracas teias
de aranha, de que são vítimas as mulheres, os órfãos, a pobreza dos mesteres.” (p.
263)

• “Contra estes males, Sá de Miranda vê o remédio num poder real justamente


exercido, ao serviço do Povo, idealização típica do Renascimento.” (p. 264)

• “Não é por acaso que nestas cartas (em que predominam as quintilhas de
redondilhas com dois esquemas alternativos de rima), Sá de Miranda conservou
construções e vocábulos arcaicos, como que acentuando o carácter arcaizante
do seu pensamento.” (p. 264)

• “Desta forma Sá de Miranda está na corrente que conduz ao Barroco peninsular,


e torna-se um dos precursores do conceptismo seiscentista.” (p. 265)

• Ele introduziu os primeiros versos na medida nova e escreveu a primeira


comédia em estilo clássico.

Capítulo VIII - Luís de Camões

• “como nenhum outro Camões soube realizar a síntese entre a tradição literária
portuguesa (ou mesmo peninsular) e as inovações introduzidas pelos
italianizantes. Foi o melhor poeta português de escola petrarquista, e, ao mesmo
tempo, o mais acabado artífice da escola do Cancioneiro Geral, na redondilha e
no mote glosado. Foi o poeta que; finalmente, levou a cabo a epopeia, desiderato
do, Renascimento português, com: os tópicos que Antônio Ferreira e outros:
apenas: conseguiram tratar, fragmentariamente. De entre os principais géneros
clássicos, só não cultivou a tragédia.” (p. 332)

Alguns aspectos formais da Lírica:

• “seguindo Sá de Miranda e afastando-se de Antônio Ferreira, Camões cultivou


igualmente a escola tradicional em redondilha maior e menor (vilancetes, cantigas
e outras composições obrigadas a mote, quintilhas, etc.) e os gêneros em
hendecassílabo. Num e noutro metro escreveu em português e castelhano. Por aí
ele constitui um ponte entre certa tradição peninsular representada pelo
Cancioneiro Geral e os seiscentistas.” (p.332)

• “A Variedade do ritmo camoniano evidencia-se nas canções das odes, graças a


liberdade que estas formas concedem, de um para outro poema, na combinação
estrófica entre decassílabos e hexassílabos, com predomínio destes últimos nas
odes, por isso hexassílabos, ritmicamente mais leves.” (p. 333)

• “É sobretudo nestas composições e análogas que encontramos a transição do


Quinhentismo para a poesia seiscentista, a qual em Espanha preferiu os gêneros
em redondilha aos géneros decassilábicos.” (p.334)

Tensões fundamentais da Lírica de Camões

• O Amor – “concepção do amor provençal está informada de platonismo, aliás


por via cristã: a Mulher aparece ali, não como uma companheira humana, mas
como um ser angélico que sublima e apura a alma dos amantes.” (p. 339)

• O desconcerto do mundo – “O mundo aparece assim, sobretudo ao homem


meditativo, como um desconcerto, produto de um destino confuso e irracional.”
(p. 343)

• O ideal renascentista da Epopeia - realizar um poema heroico sobre a expansão


portuguesa.

• "Este projeto dos Humanistas relaciona-se com a ambição de ressuscitar um


dos mais nobres géneros greco-romanos. As viagens dos Portugueses prestavam-
se a uma comparação vantajosa com as de Ulisses, dos Argonautas e de Eneias,
assim como os seus feitos guerreiros com os dos Gregos e Troianos, o que la no
encontro do ideal humanista de emulação com os autores antigos, e satisfazia a
ideologia oficial da expansão." (p.347)

• Intenções inerentes à forma d'Os Lusíadas - "O tema geral escolhido por
Camões para o seu poema foi toda a história de Portugal, como se vê pelo próprio
título: Os Lusíadas. Esta palavra (neologismo inventado por André de Resende)
designa os Portugueses, que a erudição humanística nobilitava como
descendentes de Luso, companheiro de Baco. O próprio autor explicita o seu
propósito, ao afirmar que canta o peito ilustre lusitano»." (p.351)

• Ideário d'Os Lusíadas. - "N'Os Lusíadas combinam-se ou coexistem ideologias e


ideários heterogéneos, além do sentimento da vida mais autêntico e mais
consubstancial ao poeta, que acabamos de indicar. Lá encontramos ideias
pessoais ou coletivas, ou até oficiais; de origem cavalheiresca feudal ou de origem
humanística." (p.356)

• As comédias camonianas - "Camões explora desenvoltamente, numa imitação


livre do modelo latino, todo o chiste e até toda a filosofia do equívoco entre
Anfitrião e Júpiter, e sobretudo entre Mercúrio e Sósía." (p.363)

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