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ISBN 978-65-5821-044-3
9 786558 210443
CL I M AT OL OG I A
Código Logístico
59919
IESDE BRASIL
2021
© 2021 – IESDE BRASIL S/A.
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Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Piyaset/ Galyna Lysenko/Shutterstock
1. Climatologia. I. Título.
CDD: 551.6
21-71562
CDU: 551.58
2 Escalas do clima 25
2.1 Escalas espaciais e temporais 25
2.2 Escalas locais – ritmo climático 31
2.3 Escalas regionais – variabilidade climática 33
2.4 Escalas globais – mudanças climáticas 36
3 A atmosfera da Terra 42
3.1 Origem e formação da atmosfera 42
3.2 Características da atmosfera 45
3.3 Estrutura da atmosfera 47
3.4 Balanço de energia 51
5 Climatologia aplicada 74
5.1 Classificações climáticas 74
5.2 Clima e agricultura 79
5.3 Clima urbano 83
5.4 Clima e saúde 87
6 Mudanças climáticas 91
6.1 Os climas do passado 91
6.2 Aquecimento global 95
6.3 Riscos climáticos e desastres naturais 97
6.4 O clima e o futuro da humanidade 101
Introdução à climatologia 9
1.1 História da climatologia
Vídeo Na ordem do desenvolvimento histórico, a ideia de clima sempre foi apresenta-
da de modo inseparável das preocupações biológicas, sociais e produtivas. Nessa
perspectiva, os primeiros registradores não foram os instrumentos tecnológicos
de medida, mas sim os naturais, em particular a sensibilidade dos seres humanos.
Segundo Sorre (1943), não se conhecia o calor e o frio a não ser por seus efei-
tos sobre o organismo humano, e, por isso, grande parte da representação desse
saber, chamado saber climático, foi inicialmente associada às concepções mitoló-
gicas ou sobrenaturais sobre a natureza.
Trata-se do saber climático elaborado pelos primeiros seres humanos, que não
diferenciavam a vontade dos deuses das suas práticas cotidianas. A construção de
instrumentos tecnológicos, apropriados à produção agrícola, foi inserida na estru-
tura socioespacial como meio de realização original de criação de tempo e produ-
ção de espaço.
Esses primeiros saberes climáticos eram obtidos, em geral, por presságios e adi-
vinhações e relacionavam o fenômeno natural com ações associadas à vontade dos
deuses. Em nossa história e até os dias atuais, nós operamos esse saber quando
transvestimos o tempo e o clima de benção, dádiva, castigo e fúria, elementos que
o artista do Romantismo John Martin representou em uma de suas obras (Figura 1).
Figura 1
A sétima praga do Egito (1823)
Na pintura, Martin ilustra uma das histórias bíblicas sobre o processo de libertação do povo hebreu e a ocorrência
de chuva de pedras misturada com fogo.
Nesse período, a produção do espaço era definida pelos ritmos dos sistemas
naturais, em uma concepção sobrenatural de um tempo-espaço eterno e absoluto,
mas que já envolvia alguma possibilidade de se criarem parâmetros de medida e
instrumentos de observação.
10 Climatologia
A título de exemplificação, a Figura 2 representa um tipo de embarcação uti-
lizada pelos egípcios da Antiguidade e que servia para medir as cotas fluviais do
Rio Nilo acopladas. Essa concepção possibilitou representar os limites dos fenô-
menos naturais, bem como princípios de um espaço-tempo cíclico que servia tanto
para descrever o nascer e o pôr do sol, as mudanças das estações e as posições
das constelações no céu quanto para subsidiar a origem das noções de calendário,
orientação e localização geográfica.
Figura 2
Embarcação egípcia retratada em baixo relevo
Rémih/JMCC1/Wikimedia Commons
Desse modo, o saber climático se fazia presente com base no regime de chuvas,
na força do vento, nos espetáculos luminosos e ópticos (raios, auroras, arco-íris,
estrelas cadentes etc.), na dinâmica dos rios e nas plantas que definiam das esta-
ções do ano (a época de inundação, germinação, colheita), associados à história das
primeiras civilizações (SANTOS, 2008).
Introdução à climatologia 11
Glossário própria e autóctone, notadamente no entorno de grandes rios e sob domínio de
autóctone: original,
climas semiáridos (secos ou com baixos índices de precipitação).
primária.
Dentro de uma racionalidade explicada pelo conjunto de saberes empíricos,
repletos de manifestações místicas e religiosas, esse saber pôde ser construído
no conjunto de possibilidades tecnológicas e linguísticas das primeiras formas de
apropriação da natureza. É importante considerar esses aspectos, uma vez que
mostram desde esse momento uma estreita relação de princípios-base da geogra-
fia no que se refere às relações natureza-sociedade e clima-sociedade.
Artigo
https://revistas.ufpr.br/revistaabclima/article/view/27788/20844
Como todo conhecimento humano, o saber climático foi inicialmente construído com base
em concepções sobrenaturais. Atualmente, podemos atribuir esses saberes ao conjunto de
tradições, folclores, artes e obras cinematográficas. Isso significa que, até os dias atuais, esse
conhecimento subsidia grande parte das nossas concepções de clima, natureza e sociedade.
Para que você tenha mais elementos sobre esse momento histórico, leia o artigo Mitologia e
Climatologia: um estudo das divindades relacionadas à ocorrência de tempo severo, de Daniel Hen-
rique Candido e Lucí Hidalgo Nunes, publicado na Revista Brasileira de Climatologia em 2012.
12 Climatologia
ção, que posteriormente seria chamado na geografia de Determinismo Ambien-
tal. Nesse sentido, até hoje essa concepção tende a oferecer sentidos de que o
clima é o principal agente determinante da vida, da sociedade, do desenvolvi-
mento e da produção do espaço
Essas concepções, em geral, prevaleceram por quase 1500 anos até a revo-
lução científica, quando, a partir do século XIII, o cientista inglês Francis Bacon
introduziu de maneira crítica aos estudos de Aristóteles o método experimen-
tal. Após esse momento, houve um avanço expressivo das experimentações,
que deram outra qualidade às observações do tempo e do clima (SANT’ANNA
NETO, 2001).
Ao mesmo tempo que essas experimentações foram paulatinamente intro-
duzindo a instrumentalização para mensuração quantitativa dos elementos
climáticos e meteorológicos, suplantando sobretudo as concepções religiosas
vigentes, elas também ofereceram mais possibilidades de ampliação do uso
do saber climático para fins de dominação dos povos e exploração das rique-
zas naturais.
Para exemplificar, a invenção de instrumentos de medida do vento, da umi-
dade, das chuvas e da temperatura ocorre analogamente aos registros sobre o
magnetismo e as manchas solares, bem como à explicação empírica dos equi-
nócios, dos solstícios e das estações do ano. Observe que todos esses conheci-
mentos formavam o estabelecimento de um momento rico sobre as dinâmicas
da natureza, tanto em termos de produção de informação quanto de geração
de dados.
Essas transformações no conhecimento ofereceram aos agentes he-
gemônicos da época uma visão ampla de mundo. Trata-se da origem
ons
ia Comm
da sociedade capitalista, cuja funcionalidade do instrumental técnico
não servia somente para medir os elementos climáticos nos luga-
Wikimed
res, mas também para sistematizar um conjunto de informações
sons/
sobre as riquezas naturais (metais e pedras preciosas) a serem
Mark Par
exploradas, especialmente a partir da fase mercantilista, das
grandes navegações e do processo colonial.
Da mesma forma, o desenvolvimento do saber climá-
tico ocorre de maneira paralela ao conhecimento filo-
sófico e se fundamenta notadamente pela sofisticação
dos instrumentos tecnológicos. Em outras palavras,
filosofia e técnica uniram-se em um único processo
de produção do conhecimento científico, tanto para
indicação de seus procedimentos como para consoli-
dação de um campo que no futuro marcaria a gêne-
se da climatologia e da meteorologia moderna
(SANT’ANNA NETO, 2001).
Introdução à climatologia 13
metido a fragmentações para se diferenciar e se distanciar de outros campos em
termos metodológicos e em propósitos de análise.
14 Climatologia
Figura 3
Carta de isotermas do mundo (1823)
Slick-o-bot/Jujutacular/Wikimedia Commons
William Channing Woodbridge, criador do mapa, foi o primeiro a utilizar cores representando temperaturas. O
geógrafo o elaborou baseando-se em dados de Humbodlt sobre as condições climáticas de vários países.
Introdução à climatologia 15
O conjunto de campos que envolvem as ciências atmosféricas define o clima
como o principal fenômeno do ambiente atmosférico. Seus processos de aná-
lise são diversos, uma vez que cada campo científico retira do clima aquilo que
é mais interessante para dimensionar seus estudos. Dessa forma, devido ao
caráter múltiplo do clima, o fenômeno não pode ser reduzido e restrito a um de-
terminado campo – pelo contrário, é fundamental entender que, antes de mais
nada, o clima é uma teoria. O sentido é de que cada investigador implementa
uma dada experiência de tempo meteorológico adequada aos seus próprios
propósitos (CURRY, 1952).
Figura 4
Organização da climatologia como campo científico
CLIMATOLOGIA
estudo científico do clima
Geografia
Hidroclimatologia
É por isso que os subcampos da climatologia não são puros e separados en-
tre si; na verdade, cada um deles se articula e nutre o processo de produção do
conhecimento do clima como um todo, sendo particularizados exclusivamente
com base em critérios definidos e aplicados às suas indagações.
16 Climatologia
A climatologia geográfica, ou a climatologia que interessa aos estudos geográfi-
cos, além de aumentar a relação com outras áreas da geografia (física e humana),
atende à particularidade de desenvolver a análise que envolve a ordem espacial
do fenômeno climático. Isso significa afirmar que se trata essencialmente de uma
análise orientada para integrar a complexidade do clima no escopo das relações
natureza-sociedade considerando suas espacialidades, ou seja, sua realização,
apropriação e construção no processo de produção do espaço geográfico.
Artigo
http://docplayer.com.br/21446875-Objeto-e-metodo-da-climatologia-max-sorre-1.html
Introdução à climatologia 17
Saiba mais Essa perspectiva valoriza a espacialidade do clima como um fator estático
A definição de clima de Hann e um fenômeno passível de fragmentação, sendo bem definido em termos es-
é tradicionalmente expressa
no sequenciamento das con- tatísticos e associado às configurações territoriais (limites e abrangência) dos
dições de tempo, em termos sistemas naturais – os domínios vegetacionais, por exemplo. Em seu processo
de observação da tempera-
tura, chuva, umidade do ar, de análise, a climatologia estática oferece inicialmente a caracterização do clima
visibilidade etc. O período tratando os valores médios e o regime climático. Pelo tipo climático regional, ela
mínimo de observação é de
30 anos, sendo admitido pela confere a indicação geográfica e o enfoque locacional de onde, como e quando
OMM e comumente denomi- as riquezas dos lugares poderiam ser extraídas.
nado normal climatológica. As
normais climatológicas para Contudo, a concepção de clima como estado médio apresenta duas limi-
todo o território nacional
podem ser acessadas no
tações importantes, que foram bastante debatidas pelo geógrafo francês
site do Instituto Nacional Maximilien Sorre em pelo menos dois pontos. O primeiro se refere ao uso ex-
de Meteorologia (INMET),
que é a instituição federal
cessivo das médias. Segundo Sorre (1943), os valores médios são abstrações e
responsável por prover não permitem a compreensão da realidade climática concreta em suas caracte-
informações meteorológicas
por meio de monitoramento,
rísticas e sua manifestação. O segundo é que esse conceito representa o clima
análise e previsão do tempo como fenômeno estático, com limites e valores quase absolutos, o que não pos-
e do clima. No portal são
apresentados dois conjuntos
sibilita compreender como o desenvolvimento e a formação de paisagens, bem
de dados – 1961-1990 e como os sistemas produtivos e sociais podem estar adaptados às condições
1981-2010. Acesse o site e
descubra quais são os valo-
climáticas.
res médios da sua região.
A título de exemplificação, apresentando os valores médios de 30 ºC de tem-
Disponível em: https://portal.inmet.
peratura no deserto do Saara, sugere-se um clima típico de verão no Brasil, ou
gov.br/normais. Acesso em: 29
abr. 2021. seja, não se tem a noção de uma paisagem naturalmente seca e que apresenta
grandes amplitudes térmicas, podendo variar de -10 ºC a 50 °C diariamente,
Importante dependendo da época do ano. O valor médio de 30 ºC mascara uma realidade
O regime climático é em que diferentes tecnologias, como construções, vestimentas, domesticação
um conceito-chave da de animais e conservação de água e alimentos, ofereceram historicamente às
climatologia estática e que
serve para caracterizar populações africanas um conhecimento adequado sobre a dinâmica climática
inicialmente os climas par- do clima semiárido.
tindo da variação anual dos
elementos. Habitualmente,
Anna Om/Shutterstock
o regime é apresentado de
modo gráfico, sendo con-
vencionalmente represen-
tado pela variação anual,
como por termogramas
(representação gráfica de
temperaturas máxi-
mas, médias e mínimas
mensais); pluviogramas
(representação gráfica da
média dos totais mensais
de chuva); e climogramas
(representação gráfica
das temperaturas médias
mensais e da precipitação
média mensal conjun-
tamente). Para além da
representação gráfica, a
análise estatística também
valoriza a descrição dos
valores médios, máximos,
mínimos, entre outras
medidas de descrição
estatística. Deserto do Saara, terceiro maior deserto da Terra e maior deserto quente.
18 Climatologia
Partindo dessas críticas, Sorre (1943) elaborou o conceito de clima que está di- Dica
retamente relacionado com a vertente da climatologia dinâmica, que Pédèlaborde Como você descreveria
a sucessão dos tipos de
(1970) intitulou de climatologia sintética das massas de ar e dos tipos de tempo, tempo da sua cidade, co-
essencial para definir e caracterizar o clima de um lugar. É importante considerar munidade e região? Você
pode encontrar a resposta
que essa abordagem foi desenvolvida em outro contexto técnico-científico, sobre- para essa pergunta em
tudo porque as ciências da natureza já apresentavam incorporações das teorias do sites, pesquisando a
tipologia climática. Seguem
movimento (gravidade e termodinâmica). algumas dicas:
Sorre (1943) conceituou o clima como sendo a sucessão habitual dos tipos de • Weather Spark - O clima
típico de qualquer lugar
tempo sobre um determinado lugar. Essas interpretações já estavam sendo con- da Terra é um portal
templadas na meteorologia sinótica pelos estudiosos da Escola Escandinava de que apresenta análises
com gráficos de regimes
Meteorologia Sinótica, que ofereciam à sociedade a inclusão da dinâmica do ar climáticos para qualquer
atmosférico pelos conceitos de massas de ar, frentes, ciclones e anticiclones, bem lugar do planeta. Inclui
também possibilidades
como a organização dos movimentos atmosféricos por modelos de circulação geral. de comparação do clima
entre lugares diferentes.
Nessa abordagem a dinamicidade do clima está presente nos princípios de va-
Disponível em: https://
riação, duração, intensidade e frequência, que pressupõem a existência de ritmos, pt.weatherspark.com/. Acesso em:
sendo fundamentais para uma interpretação do tempo (uma parte do fluxo, uma 29 abr. 2021.
Introdução à climatologia 19
ca foi organizada em dimensões escalares (global, zonal, regional, local e micro),
contemplando a participação de eventos excepcionais ou extremos como parte da
dinâmica natural do clima dos lugares.
Dessa forma, o sistema climático pode ser interpretado por meio da ocorrência
dos eventos e episódios concretos, que, para além das condições médias e habi-
tuais, são os processos que se constituem como os principais insumos, por ex-
celência, das transformações ecológicas e históricas da paisagem, bem como das
calamidades que causam alterações para o ambiente e para os sistemas sociais,
produtivos e humanos (SANT’ANNA NETO, 2008).
Desse modo, são os contextos social, político e cultural das sociedades que de-
vem produzir, desenvolver e orientar determinadas ideias, que caracterizam uma
concepção ou tendência mais geral do que o tempo e o fenômeno climático. No
processo, não somente a gênese e a configuração espacial do clima são interes-
santes, mas também as múltiplas concepções de clima que orientam e revelam a
ordem espacial das relações entre sociedade e natureza.
20 Climatologia
Por isso, a incorporação da dimensão socioespacial na interpretação do clima
na produção do espaço deve compreender que a repercussão dos fenômenos
atmosféricos na superfície terrestre se dá em um território, transformado e produ-
zido pela sociedade, e apropriado segundo os interesses, as intencionalidades e as
capacidades dos agentes sociais (SANT’ANNA NETO, 2001).
Artigo
https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/anpege/article/view/6599/3599
Essa perspectiva de análise foi denominada por Sant’Anna Neto (2001) como
Geografia do Clima. Observe que essa noção qualifica uma abordagem geográ-
fica orientada para explicação dos processos formadores do planeta (com con-
junção com estrutura geológica, relevo, solo, água, fauna e flora no escopo da
paleoclimatologia), como também da problemática ambiental, do aquecimento
global, dos desastres naturais e das alterações antrópicas no escopo de um
mundo em globalização.
Por esses aspectos, a relação entre clima e sociedade, com base na climatolo-
gia geográfica, sugere pelo menos duas abordagens complementares. A primeira é
que o clima desempenha um importante papel como condicionante ambiental,
principalmente quando ele é entendido como: gerador de impactos e se qualifica
na ocorrência de desastres, influencia a saúde ambiental, o desempenho humano
e as perdas e os prejuízos econômicos; modificante e estruturante da paisagem
natural, quando é a variável de primeiro tratamento para explicar as diversas varia-
ções (pretéritas e atuais) e os níveis de intervenção humana em termos de degra-
dação ambiental, alteração climática, entre outros.
Introdução à climatologia 21
impacto é relativo à capacidade de elaborar planos de ação e de adaptabilidade
frente à dinâmica climática, uma concepção que não dissocia os padrões climáticos
das consequências humanas e das decisões políticas.
22 Climatologia
Assim, na climatologia geográfica é importante incorporar a dimensão socioes-
pacial do fenômeno climático, na qual ele deve ser sistematicamente conhecido
e definido segundo suas manifestações socioespaciais, sendo negativas ou positi-
vas. Ou seja, desde que previamente estabelecidos, representados e conhecidos,
o clima e suas variações e manifestações poderão ser suportáveis, o que oferece
possibilidades de qualificar os processos de mitigação e adaptação.
Mas como isso pode ser apresentado de maneira prática? Vejamos a situação
do clima no Brasil. Na qualidade de condicionante ambiental, o clima é apresen-
tado em grande parte do país como tropical, por isso ele oferece naturalmente,
e a partir da sazonalidade, pelo menos duas estações: uma chuvosa e outra seca
ou menos chuvosa. A primeira é também predominantemente mais quente que a
segunda e, em razão disso, muitas dinâmicas dos sistemas naturais ocorrem e são
desenvolvidas com base nessa organização – por exemplo, o fluxo sazonal dos rios
(enchente e vazante) e de reprodução plantas e animais.
3
O conhecimento da dinâmica climática tropical é utilizado também para desen-
Mercadorias produzidas
volver uma série de práticas espaciais, como as atividades turísticas e de lazer, que em larga escala e que são
comercializadas no mer-
na estação chuvosa ocorrem concentrando atividades na zona costeira ou próximo
cado internacional (bolsa
a rios, cachoeiras, resorts, clubes etc. Podemos destacar, ainda, as atividades agrí- de valores). O Brasil é um
dos principais produtores
colas, como é o caso do cerrado brasileiro, que, devido ao desenvolvimento de uma
de c ommodities do mundo,
agricultura altamente tecnológica e adaptada, tem transformado a paisagem natu- sobretudo no que tange à
3 produção de soja, milho,
ral no maior território produtor de commodities e também em um dos ambientes
laranja, petróleo, minério
mais degradados do país. de ferro, entre outros.
Observe que nesses dois exemplos destacamos o clima como um dos fatores
de produção do espaço, mas, para que esse processo aconteça, é preciso ainda
muito conhecimento sobre a dinâmica (condicionante ambiental), algo que não se
dá sem o avanço técnico-científico, e também sobre sua participação nas políticas
de desenvolvimento regional e territorial (insumo econômico).
Introdução à climatologia 23
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Inicialmente apresentamos que as bases mitológicas e o instrumental foram funda-
mentalmente os antecedentes dos saberes climáticos. Da mesma forma, destacamos
a elaboração das primeiras noções de tempo e clima, da dimensão espaço-temporal e
da racionalidade científica, que promoveu a instituição da climatologia moderna. O es-
tudo do clima incorpora, mais recentemente, uma multiplicidade de concepções, por
isso distintos campos do saber são organizados para dar ênfase em seus interesses,
definindo suas particularidades.
Podemos considerar, assim, que o estudo do clima sempre muda quando o conhe-
cimento sobre a dinâmica natural se modifica, e esses avanços sempre são incorpo-
rados de transformações nas formas de observação, sobretudo a cada novo contexto
técnico-científico.
Nesse sentido, o estudo geográfico do clima não limita o fenômeno climático a ser
físico e natural, uma vez que ele é também uma construção social, ou seja, um conjun-
to de processos e práticas espaciais. Essa análise pode ser elaborada desenvolvendo
estudos que orientem as questões evolvendo a constituição de paisagem (clima como
condicionante ambiental) e/ou a definição de territórios (insumo econômico). Separa-
das ou combinadas, as duas formas de análise são bastante adequadas ao trabalho
do geógrafo.
ATIVIDADES
Vídeo 1. Quais são os atributos fundamentais de constituição do clima?
REFERÊNCIAS
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https://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/123516/119794. Acesso em: 29 abr. 2021.
CURRY, L. Climate and economic life: a new approach with examples from the United States. Geographical
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MONTEIRO, C. A. de F. Análise rítmica em climatologia: problemas da atualidade climática em São Paulo e
achegas para um programa de trabalho. Climatologia, São Paulo, n. 1, p. 1-21, 1971a.
MONTEIRO, C. A. de. F. Análise rítmica em climatologia. São Paulo: USP/Igeog, 1971b.
MENDONÇA, F.; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Oficina
de textos, 2007.
PÉDÈLABORDE, P. Introduction a I´étude scientifique du clima. Paris: Sedes, 1970.
SANT’ANNA NETO, J. L. Por uma geografia do clima: antecedentes históricos, paradigmas contemporâneos
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SANT’ANNA NETO, J. L. Da climatologia geográfica à geografia do clima gênese, paradigmas e aplicações
do clima como fenômeno geográfico. Revista da Anpege, v. 4, n. 4, p. 51-72, 2008. Disponível em: https://
ojs.ufgd.edu.br/index.php/anpege/article/view/6599/3599. Acesso em: 29 abr. 2021.
SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2008.
SORRE, M. Les fondements biologiques de la géographie humaine. Paris: Colin, 1943.
24 Climatologia
2
Escalas do clima
Objetivos de aprendizagem
Escalas do clima 25
Com o auxílio das escalas, é possível revelarmos sistematicamente a definição
do fluxo atmosférico com base em sua duração, abrangência, domínio, padrão,
intensidade, frequência, variação e ritmo, oferecendo, assim, uma maneira lógica
para entendermos a dinâmica, os movimentos, o funcionamento e a manifestação
em impactos concretos.
Para contemplar esse caráter do uso das escalas do clima, Monteiro (1999) apre-
senta uma organização hierárquica e taxonômica das escalas do clima (Quadro 1),
articulando os níveis de influência superiores (na faixa dos milhões de km² de
abrangência espacial), passando pelas dimensões intermediárias (da ordem de
centenas ou milhares de km²), chegando às escalas inferiores (a dezenas de km²)
na dimensão dos climas locais, dos topoclimas (climas organizados pelo relevo) e
dos microclimas (climas muito específicos relativos a qualquer fluxo turbulento ou
unidade muito particular).
Quadro 1
Ordem de grandeza e níveis taxonômicos das escalas do clima
1:5.000.000
Milhares de km²
1:2.000.000 Regional
Regional Centenas de Um dia a um mês
1:1.000.000 Sub-regional
km²
1:500.000
1:250.000
Dezenas de km² 12 horas a uma 1:100.000 Local
Local
Centenas de m² semana 1:50.000 Mesoescala
1:25.000
(Continua)
26 Climatologia
Estratégias de abordagens
Espaços rurais Espaços urbanos
Técnicas de
Meios de observação Fatores de organização
análise
Latitude e centros de Caracterização
Grandes zonas climáticas Satélites e reanálise
pressão comparativa
Observamos que para ordem de grandeza – zonal, regional, local, topoclima e mi-
croclima – Monteiro (1999) oferece unidades de espaço e de tempo específicas, as
quais podem ser tanto representadas pela escala cartográfica quanto por processos
espaciais, sobretudo quando atendem à dinâmica dos espaços rurais e urbanos. Além
disso, precisamos destacar a preocupação do autor com a qualificação das estratégias
de abordagem, em que os parâmetros de análise e os instrumentos de observação são
decisivos para o desenvolvimento do estudo do clima por meio das escalas.
Por exemplo, no clima local, que ocorre em espaços urbanos, o debate entre cli-
matologia, geografia, arquitetura e engenharias é tão importante quanto a articula-
ção entre agronomia e biologia nos espaços rurais. O mesmo nível de diálogo deve
acontecer quando são integrados os impactos do clima na saúde e no conforto
humano, que atendem também um rico diálogo com a medicina, a saúde pública,
a epidemiologia, a educação física etc.
Escalas do clima 27
1 é por meio delas que o clima se articula ao espaço geográfico (SANT’ANNA NETO,
A escala cartográfica (gráfi- 2013). Nesse caso, as escalas do clima não devem ser entendidas como a tradi-
1
ca ou numérica) é utilizada cional escala cartográfica , isto é, apenas com base nas dimensões espaciais ou
fundamentalmente para
reproduzir de maneira pro- temporais nas quais os elementos climáticos se manifestam.
porcional determinada área
de um mapa. Trata-se, por-
De outro modo, as escalas climáticas devem ser compreendidas como processos
tanto, de um valor arbitrá- dinâmicos dotados de atributos altamente sensíveis aos ritmos, às variações e às
rio de referência espacial,
que depende da finalidade
alterações de todas as forças terrestres, atmosféricas e cósmicas que de alguma
do produto e do propósito forma exercem ou provocam qualquer tipo de interferência no sistema climático.
de sua representação.
Incluem-se também as interferências de origem antrópica e socioespacial com valor
importante na dinâmica integrada do sistema climático (SANT’ANNA NETO, 2013).
Figura 1
Processos espaçotemporais das escalas geográficas do clima
Temp
o cur
to (h
istór
ico)
Mudança
Variabilidade
Ritmo
Temp
o lon
go (g
eológ
ico)
28 Climatologia
Enquanto o tempo longo é definido pela escala geológica de processos que
duram milhares ou milhões de anos, modificando os climas do planeta (global),
ora mais quentes, ora mais frios, alternadamente mais secos ou mais úmidos, o
tempo curto relaciona-se diretamente ao tempo histórico, ou seja, as variações
do clima estão associadas à presença do homem e da sociedade como agentes de
transformação das paisagens e modificadores dos ambientes (regional e local) ou
como grupo social que percebe e sofre as suas variações (SANT’ANNA NETO, 2013).
Quadro 2
Escalas geográficas do clima
Movimentos astro-
nômicos, glaciações,
Generalização Global Mudança Natural
vulcanismo, tectônica
de placas
Sazonalidade, padrões
e ciclos naturais,
Natural e
Organização Regional Variabilidade mudanças da paisa-
antrópica
gem (desmatamento,
poluição)
Escalas do clima 29
É importante observarmos que esses processos são essencialmente temporais,
manifestando-se em todas as escalas espaciais. Entretanto, alterações espaciais
em escalas inferiores (locais e regionais) podem resultar em modificações na cir-
culação da atmosfera capazes de afetar todo o planeta (SANT’ANNA NETO, 2013).
Figura 2
Processos climáticos de ciclos da Terra
6 meses
Ciclos sazonais
30 a 60 dias
100 a 400 anos
50 a 90 anos
25 a 35 anos
10 a 20 anos
5 a 7 anos
2 a 2,5 anos
Enos
QBO
OMJ
3 a 7 dias
Ciclos sinópticos
200 a 400 Ma*
30 a 60 Ma (impacto de
100 a 400 Ma
1,5 Ma
Eventos de
Dansgaard-Oeschger
OMA
NAO
ODP
asteroides)
Excentricidade da órbita
40 Ma
22 Ma
Precessão dos equinócios
Obliquidade eclíptica
Impacto de grandes
asteroides
Ciclos vulcânicos e tectonismo
Ano galáctico – Órbita do Sistema
Sistemas atmosféricos
Ciclos multidecadais
Ciclos interanuais
Ciclos geológicos
Ciclos milenares
Ciclos semanais
Ciclos seculares
Ciclos decadais
Ciclos mensais
Ciclos diários
Láctea
30 Climatologia
2.2 Escalas locais – ritmo climático
Vídeo Como inicialmente apresentado, na escala do ritmo, as interações dos
processos climáticos apresentam velocidades muito variadas, por isso são muito
complexas em termos de dinâmicas, ciclos e manifestações associados à articula-
ção do tempo histórico.
Figura 3
Exemplo de gráfico de análise rítmica
Em função de todos esses processos, o clima urbano contempla ainda uma série
de derivações associadas, que, em geral, deve se constituir em outros fenômenos
de mesma complexidade, como as ilhas de calor (Figura 4) e de frescor, as inver-
sões térmicas, a insalubridade do ar, a inércia térmica, o conforto bioclimático e as
morbidades negativas à saúde humana.
Figura 4
Representação do efeito das ilhas de calor urbanas em diferentes solos
Alexchris/Wikimedia Commons
33.3
32.8
32.2
31.7
31.1
30.6
30.0
29.4
Temperatura
ºC
32 Climatologia
natural ao regime pluviométrico, à variação da temperatura, ao fotoperíodo e à ra-
diação solar. Basicamente, os tipos de tempo devem revelar os graus de interação
e dependência, nos quais o clima é fator natural que condiciona o desenvolvimento
da diversidade de práticas econômicas. O resultado é sem dúvida reconhecer a
influência climática no rendimento e na produtividade.
Escalas do clima 33
Figura 5 A dinâmica atmosférica regional associa a cir-
Fluxos atmosféricos da América do Sul culação geral à circulação secundária dos sistemas
atmosféricos e das áreas homogêneas de pressão
atmosférica. Além disso, ela contempla a influência do
relevo, da altitude, da maritimidade, da continentali-
dade, dos domínios morfoclimáticos, do uso da terra
e das transformações históricas da paisagem na orga-
nização, estruturação e trajetória habitual dos fluxos
atmosféricos na superfície.
Além disso, nessa abordagem, grande parte das interpretações assume a in-
fluência das oscilações climáticas de baixa e alta frequência e as teleconexões
climáticas. Segundo Cavalcanti e Ambrizzi (2009), as teleconexões climáticas
referem-se a um padrão recorrente e persistente de anomalias de certa variável,
que pode persistir por várias semanas ou meses e, algumas vezes, tornar-se domi-
nante por vários anos consecutivos.
34 Climatologia
Figura 6
Desvios da temperatura média global de 1880 a 2021
1.40 ºC 2.52 ºF
1.20 ºC 2.16 ºF
0.80 ºC 1.44 ºF
0.40 ºC 0.72 ºF
0.00 ºC 0.00 ºF
-0.40 ºC -0.72 ºF
-0.80 ºC -1.44 ºF
1880 1900 1920 1940 1960 1980 2000 2021
Durante o La Niña, as temperaturas da superfície do mar no Pacífico tropical oriental ficam abaixo da média e as temperaturas
no Pacífico tropical ocidental ficam acima da média. Esse padrão é evidente nesta figura de anomalia da temperatura, que
mostra a temperatura do milímetro superior da superfície do oceano em novembro de 2007, em comparação à média de longo
prazo. Uma forte faixa de água fria (azul) aparece ao longo do Equador, perto da América do Sul, e condições quentes (laranja
a vermelho) aparecem ao norte e ao sul dessa faixa azul. Os dados foram coletados pelo Advanced Microwave Scanning
Radiometer (AMSR-E) voando no satélite Aqua da Nasa. A média de longo prazo é baseada em dados de uma série de sensores que
voava nos satélites Pathfinder da Noaa de 1985 a 1997.
Escalas do clima 35
Distinguem-se as áreas em que a atmosfera mostra acoplamento com os ocea-
nos, incluindo a influência das correntes oceânicas, da temperatura da superfície
do mar, da estrutura vertical da atmosfera e da articulação de ventos em superfí-
cies com baixos e altos níveis. Por esse caráter, partimos dessa escala para inferir
que todos esses mecanismos podem agir conjuntamente, separadamente e alter-
nadamente e que oferecem modificações importantes na intensidade e estrutura
dos sistemas atmosféricos, dos tipos de tempo e do clima.
3 Por isso, grande parte dos estudos da escala da variabilidade também contem-
Conjunto de processos
pla interpretações das modificações nas estruturas das paisagens e seus impactos
oriundos das atividades
3
humanas que oferece incre- no clima oriundos ou não das forçantes antropogênicas . Assim, podem ser de-
mento, redução ou alteração
tectadas alterações por meio da identificação de tendências, ciclos e períodos, os
dos movimentos do sistema
climático, como mudanças quais se baseiam em séries temporais de dados observados (oriundos de rede
no uso da terra ou modifica-
de estações meteorológicas), orbitais (obtidos por imagens de satélite e radar) e
ções na composição química
da atmosfera. de reanálise (produtos gerados da composição de dados climáticos de diferentes
fontes e instituições).
36 Climatologia
Figura 8
Modelo tricelular da circulação geral da atmosfera
Hadley Hadley
Ferrel Ferrel
Polar Polar
Polo Sul 60º Sul 30º Sul Equador 30º Norte 60º Norte Polo Norte
Anticiclones Florestas
Florestas Desertos Anticiclones
oceânicos Desertos Florestas subtropicais e
subtropicais e oceânicos
equatoriais temperadas
temperadas
Grande parte dos estudos dessa forma de análise é voltada para o entendimen-
to dos processos climáticos na perspectiva naturalista, uma vez que contemplam
os mecanismos que remetem à origem das paisagens naturais e aos impactos dos 4
períodos glaciais e interglaciais, especialmente desenvolvimentos durante a época Esses elementos foram
4 estudados, sobretudo, com
do Pleistoceno no período Quaternário . base nas contribuições
do professor Aziz Nacib
A Teoria dos Ciclos de Milankovitch, que explicita os diferentes processos de Ab’Saber a respeito da Teo-
alteração da posição da Terra em relação ao Sol e, consequentemente, as altera- ria dos Refúgios Florestais.
Escalas do clima 37
por décadas e até séculos. Nesse caso, inserem-se as influências das manchas sola-
res na incidência da radiação solar que chega à Terra, ou ainda os movimentos das
correntes oceânicas, associando objetos arqueológicos e documentos históricos,
como registros de eventos, relatos de viajantes, obras de arte etc.
Figura 9
A Batalha de Óstia, pintura atribuída a Rafael.
Sailko/Wikimedia Commons
Já entre os séculos XIII e XIX, o Rio Tâmisa, que se situa na Inglaterra e banha as
5
cidades de Oxford e Londres, estava totalmente congelado, a ponto de Thomas Wyke
Período entre 1645 e 1715,
quando foi observada uma representá-lo como uma pista para esquiar (Figura 10). Esse período é documentado
redução da atividade solar, na história moderna, sendo conhecido como a Pequena Era do Gelo, associada ao
sobretudo no número 5
de manchas solares, em mínimo de Maunder , devido à diminuição da radiação solar na época.
relação a outros períodos
pretéritos e posteriores.
A terceira forma de análise na escala da mudança climática contempla a
designação do aquecimento global contemporâneo, que resulta de alterações
na composição da atmosfera (sobretudo devido à queima de combustíveis fós-
seis pelas atividades humanas). Como consequência, vemos a intensificação
do efeito estufa planetário e o aumento da temperatura média do planeta.
Nesse caso, as transformações antropogênicas (a causa) datam particular-
mente da Revolução Industrial, a partir do final do século XVIII, e atualmente se
38 Climatologia
manifestam na diversidade de altera- Figura 10
ções (os efeitos), sendo as mais impor- Thames frost fair
tantes a elevação do nível dos mares,
Sailko/Wikimedia Commons
as modificações nos padrões climáticos
regionais, o aumento e a intensidade
de eventos extremos e os impactos na
biodiversidade.
Cabe destacarmos que tradicional-
mente os estudos com base na escala
da mudança não compreendiam a inter-
pretação exclusivamente geográfica. De
outro modo, grande parte dos processos
era mais bem explicada pela geologia,
oceanografia e meteorologia. Mas, nos
dias de hoje, dada a imperativa emer-
gência climática, o debate por meio da
geografia tem se tornado essencial para
pensar as estratégias de adaptação, mi-
tigação e proteção dos impactos negati-
vos das mudanças climáticas.
territórios como resposta à mudança climática. Podemos afirmar que ela não é
nova, há tempos tem sido gerida nos mais diversos setores da sociedade e mo-
mentos distintos da humanidade, em que o clima sempre foi colocado no centro do
debate social, econômico e político, sendo sistematicamente apresentado desde as
primeiras discussões a respeito do futuro do planeta na problemática ambiental.
Vídeo
Podemos, então, argumentar que a origem dessa preocupação coincide com
Para saber mais do debate
a importância do clima no trato das questões construídas no interior do movi- da emergência climática,
mento ambiental-ecologista entre as décadas de 1950 e 1960. Naquele momen- recomendamos a live
O que é clima e como
to, a problemática concentrava-se nos temas da degradação ambiental, da falta compreendê-lo em tempos
d’água, da proliferação de pestes, da desertificação, dos desastres naturais, dos de emergência climáti-
ca?, apresentada pelo
processos migratórios e da fome. Desse modo, o clima esteve sempre no centro Congresso Virtual da UFBA.
do debate, sendo reduzido aos problemas relativos à desertificação, ao buraco Disponível em: https://youtu.be/Uz_
3gi2GDbA. Acesso em: 10 maio 2021.
da camada de ozônio e ao aquecimento global. Hoje, a sua forma mais avançada
chamamos de mudança climática global.
Com base nessas escalas, também têm sido fonte de debate dentro da clima-
tologia geográfica as questões fortemente associadas a parâmetros geopolíticos e
econômicos, designando um papel imperativo dos Estados-nação nas formas de
implementar políticas e marcos regulatórios para assegurar o futuro da humani-
dade, os modelos de desenvolvimento, as fontes alternativas de energia – com a
valorização das renováveis e limpas – e o reconhecimento dos níveis de vulnerabi-
lidade e exposição de populações e países aos impactos das alterações climáticas.
Escalas do clima 39
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
As escalas do clima são um recurso de análise fundamental para a compreensão
das relações temporais e espaciais entre o clima e o espaço geográfico. A necessidade
de compreendê-las como processo dá o sentido de que todo fenômeno climático exi-
ge uma articulação espaçotemporal para sua interpretação, explicação e análise.
Em linhas gerais, podemos considerá-las um processo de adequação espa-
çotemporal segundo um conjunto sistematizado de atributos. Elas devem servir
para que o estudo do clima seja realizado de modo consistente, garantindo con-
fiabilidade e validação da análise. A finalidade é evidenciar os graus de articulação
físico-natural e socioeconômica do fenômeno climático e sua relação com a produ-
ção do espaço geográfico.
Os conceitos básicos para operacionalizar as escalas são definidos pela mudança,
pela variabilidade e pelo ritmo climático e devem integrar os processos climáticos que
se manifestam no tempo longo (geológico) e no curto (histórico). Cada escala também
orienta um conjunto metodológico de técnicas de análise, sistemas apropriados de
instrumentos tecnológicos, formas de validação e modelos de representação gráfica e
cartográfica significativos.
Para além dos atributos inerentes a cada escala, é importante entendermos que
sua definição deve estar inicialmente associada às espaçotemporalidades que o estu-
do exige para interpretar, explicar e analisar algum fenômeno ou os eventos climáti-
cos, garantindo um processo analítico e investigativo consistente e firme.
ATIVIDADES
1. Como as escalas podem ser estruturadas e combinadas?
Vídeo
2. Quais critérios podem ser admitidos para utilizar determinada escala?
REFERÊNCIAS
BORSATO, V. da. A.; BORSATO, F. H. A elaboração dos gráficos da análise rítmica por meio do software
livre gnuplot. In: 11º SBCGA – SIMPÓSIO BRASILEIRO DE CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA APLICADA E 5°
SPEC – SIMPÓSIO PARANAENSE DE CLIMATOLOGIA. Anais [...] Curitiba: Contribuições Científicas, 2014.
CAVALCANTI, I. F. de. A.; AMBRIZZI, T. Teleconexões e suas influências no Brasil. In: CAVALCANTI, I. F. de.
A. et al. (org.). Tempo e clima no Brasil. São Paulo: Oficina de textos, 2009.
MONTEIRO, C. A. de. F. O estudo geográfico do clima. Cadernos Geográficos, Florianópolis, n. 1, 1999.
NOAA. Global climate report for March 2021. National Centers for Environmental Information, abr. 2021. State
of the climate. Disponível em: https://www.ncdc.noaa.gov/sotc/global/202103. Acesso em: 10 maio 2021.
SANT’ANNA NETO, J. L. Escalas geográficas do clima: mudança, variabilidade e ritmo. In: AMORIM, M. C.
de. C. T.; SANT’ANNA NETO, J. L.; MOTNEIRO, A. (org.). Climatologia urbana e regional: questões teóricas e
estudos de caso. São Paulo: Outras Expressões, 2013.
40 Climatologia
3
A atmosfera da Terra
Objetivos de aprendizagem
A atmosfera da Terra 41
Nesse sentido, consideramos inicialmente que a atmosfera é o ambiente forma-
do pelo ar atmosférico, tradicionalmente uma fina camada de ar que envolve a Ter-
ra, constituída por diferentes gases e agregada à superfície terrestre pela força da
Figura 1 gravidade (BARRY; CHORLEY, 2013). Ela não apresenta um limite superior em um
A atmosfera terrestre
sentido físico, fixo e marcado; pelo contrário, o que se verifica é uma progres-
siva rarefação do ar atmosférico com a altitude (Figura 1).
Com base nos estudos geológicos, a história natural mostra que o planeta Terra,
antes muito semelhante a uma bola de fogo, começou a diminuir a velocidade do
movimento de rotação e, em seguida, passou por um grande resfriamento, for-
mando a primeira crosta terrestre. Trata-se do momento que marca o fim do éon
Hadeano e início do éon Arqueano, há 3,85 bilhões de anos (TEIXEIRA et al., 2001).
Nesse momento, o Sol era em torno de 40% mais ativo do que é hoje, não havia
oxigênio suficiente para atuar como filtro dos altos níveis de radiação UV e uma at-
mosfera pretérita começava a se formar como um ambiente rico em hidrogênio
(H), oxigênio (O), carbono (C), enxofre (S), hélio (He), sulfetos (elementos químicos
42 Climatologia
compostos de enxofre), cianetos (compostos de carbono e hidrogênio), e que, por
processos fotoquímicos, provavelmente se transformavam em metano (CH4), nitro-
gênio (N), amônia (NH3) e dióxido de carbono (CO2) (TEIXEIRA et al., 2001).
Artigo
http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc38_4/06-EA-57-15.pdf
Como você deve perceber, a formação da atmosfera terrestre aconteceu de maneira paralela
ao fenômeno da vida (origem e evolução). Para aprofundar esse detalhamento, recomenda-
mos a leitura do artigo A evolução da composição da atmosfera terrestre e das formas de vida
que habitam a Terra, publicado na QNEsc em 2016, no qual os autores Eduardo Galembeck e
Caetano Costa discutem conceitos fundamentais da seleção natural.
O resultado foi a origem dos compostos do tipo óxidos de ferro (FeO), que pre-
cipitaram criando uma fina camada no fundo do oceano, a lama anóxica, formando
xisto e cherts (rochas sedimentares constituídas por sílica – SiO2). Uma parte desse
oxigênio fixava-se em rochas sintetizando como óxido de ferro – as formações
ferríferas bandadas, por exemplo (Figura 2) (FERREIRA; ALVES; SIMÕES, 2008).
A atmosfera da Terra 43
Figura 2
1
Rocha oriunda de formações ferríferas bandadas
44 Climatologia
vez que estes tendem a apresentar importante variabilidade espaçotemporal de
acordo com a sazonalidade (estações do ano) e as fontes de emissão na superfície
2
2
terrestre .
Por exemplo, é natural o
Especificamente o nitrogênio, embora seja o constituinte mais abundante, não vapor d’água existir em
maior quantidade sob
desempenha papel relevante em termos químicos e energéticos na superfície ter- a superfície de lagoas e
restre. Na alta atmosfera, no entanto, esse gás absorve uma parte de energia solar mares do que em uma área
de solo exposto e seco.
na faixa das ondas curtas, no domínio do ultravioleta, que é nocivo à vida. A mesma razão acontece
para o CO2, que pode ser
O oxigênio, por outro lado, desempenha um papel essencial do ponto de vista observado em grandes
químico e biológico: torna possível a vida aeróbica da Terra, a oxigenação dos com- quantidades no ar próximo
a florestas ou em áreas
postos orgânicos, por meio do processo fisiológico da respiração, e a reciclagem onde há queima de com-
dos elementos químicos por meio da oxidação. Além disso, sua participação na bustíveis fósseis.
Quadro 1
Principais componentes gasosos da atmosfera
A atmosfera da Terra 45
mar, o ar atmosférico satura e há ocorrência de condensação e/ou precipitação
(BARRY; CHORLEY, 2013).
Por outro lado, durante o verão, nas latitudes médias a capacidade de retenção
do vapor d’água na atmosfera é maior do que no inverno. Sobre a Floresta Amazô-
nica há cinco vezes mais vapor d’água do que sobre o Deserto do Saara e sobre a
Amazônia; ainda, sua concentração varia de 30% entre a estação seca e a chuvosa.
Em regiões polares e em regiões tropicais a uma altura acima de 4 km existe pouco
vapor d’água (BARRY; CHORLEY, 2013).
O vapor d’água também é quase ausente em altos níveis da atmosfera, entre
cerca de 10 e 12 km acima da superfície. Além disso, ele é um dos principais gases
de efeito estufa (GEE). O efeito estufa é o mecanismo planetário caracterizado pela
retenção de calor irradiado pela superfície terrestre que promove a manutenção da
temperatura da Terra, um dos atributos essenciais para as formas de vida atuais.
Assim, a atmosfera e o conjunto dos GEE agem como controladores da radiação
solar, não permitindo que a radiação terrestre saia para o espaço sideral. Sem essa
capacidade, a Terra seria de 30 a 40º mais fria do que atualmente.
Além disso, o vapor d’água é único constituinte da atmosfera que muda de es-
tado em condições naturais e, em consequência disso, ele também é o responsável
pela origem das nuvens, por uma série de fenômenos meteorológicos importantes
(chuva, neve, orvalho etc.), e sua proporção na atmosfera também determina o ní-
vel de conforto ambiental e humano (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007).
Com concentração até 100 vezes inferior à do vapor d’água, o dióxido de car-
bono é o segundo gás do efeito estufa mais importante da atmosfera, por isso ele
desempenha um papel de destaque nos processos energéticos do sistema terrestre,
absorvendo energia solar e terrestre de comprimentos de onda longa. Ao mesmo
tempo, sua entrada na atmosfera se dá principalmente por processos biológicos de
organismos vivos nos oceanos e continentes. Há um intercâmbio contínuo entre o
CO2, a atmosfera e os seres vivos (respiração e fotossíntese), os materiais da crosta
(combustão e oxidação) e os oceanos; ainda, cerca de 90% dos constituintes vegetais
não provêm do solo, mas da atmosfera, por meio da atividade fotossintética. Por
exemplo, o carbono integrante das moléculas sintetizadas pelos vegetais provém do
CO2 atmosférico. Assim, é possível considerar que o processo de fotossíntese ajuda a
manter o equilíbrio do CO2 na atmosfera (TORRES; MACHADO, 2008).
Contudo, a utilização crescente de combustíveis fósseis desde a industrializa-
ção tem proporcionado cerca de 27% de aumento de CO2 na concentração no ar
atmosférico, sendo atualmente o principal debate acerca das mudanças climáticas,
do aquecimento global e da precarização do ar nas cidades.
3 Por esse motivo é um gás que tem causado grande polêmica, pois sua con-
3
1 ppmv = 1 parte por centração, embora baixa, aumentou de 315 ppmv em 1958 para 379 ppmv em
milhão por volume, ou seja, 2005, crescendo à taxa média de 0,4% ao ano. Esse crescimento é atribuído às
1 ml de gás por m3 de ar.
emissões decorrentes das atividades humanas, como a queima de combustíveis
fósseis e o desmatamento das florestas tropicais (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA,
2007). Além desses gases, a atmosfera também é composta de material particulado
em suspensão (aerossóis, poeira, fumaça, matéria orgânica, sais, pólen etc.), que se
apresentam em quantidades significativas, mas mesmo assim variáveis segundo as
46 Climatologia
características naturais ou de uso da superfície. Esses materiais podem, inclusive,
ser associados ao nível de salubridade, sobretudo nos ambientes urbanos e em
áreas muito poluídas. Em grande parte, doenças do aparelho respiratório, viroses,
e alergias têm como fonte a presença desses compostos no ar.
A atmosfera da Terra 47
10.000 km Figura 3
Características e estrutura da atmosfera
NOAA/Mysid/Pedro Spoladore/Wikimedia Commons
Exosfera
TERMOSFERA
mb
MESOPAUSA
00,1
690 km MESOSFERA
0,1
PRESSÃO
ESTRATOPAUSA
1
Termosfera
10
Satélite ESTRATOSFERA
100
TROPOPAUSA
TROPOSFERA
1000
-80 -60 -40 -20 0 20 ºC
TEMPERATURA
Aurora Fonte: Adaptado de Torres; Machado, 2008.
te. De todo modo, ela é mais elevada na região equatorial (16 km) e mais baixa nos
polos, onde pode chegar a 8 km.
Meteoros
A estratosfera é a segunda camada principal da atmosfera, entende-se até
50 km da superfície e apresenta aquecimento da temperatura em altitude. Isso
acontece porque é nessa camada que se encontra grande concentração de ozônio
50 km
(em torno dos 22 km), que, em contato com a radiação solar, libera uma grande
quantidade de energia e provoca o aumento da temperatura.
Balões
meteorológicos Essa camada é muito importante para o transporte aéreo, pois diminui proces-
sos mecânicos entre o ar atmosférico devido à baixa temperatura, favorecendo a
6-20 km redução de movimentos turbulentos e a condição de estabilidade.
48 Climatologia
ra, que apresenta aumento da temperatura devido à absorção e reflexão de
radiação de ondas curtas (UV, X etc.), provocando forte ionização ou carregamento
elétrico. É denominada às vezes de ionosfera na seção acima de 100 km.
Isso significa entender que a superfície terrestre não pode ser reduzida como
espaço geográfico, mas compreende todo o planeta, desde o ponto central do nú-
cleo, indo à periferia da atmosfera, até os limites do universo. Essa abrangência
deve ser considerada espaço geográfico, já que é por esse meio que nós, os seres
humanos, temos construído o nosso lugar.
A atmosfera da Terra 49
3.4 Balanço de energia
Vídeo Como apresentado, a radiação solar é um dos elementos climáticos que serve
para estruturar e organizar a atmosfera verticalmente. Mas, para além disso, a ra-
diação também está associada à energia disponível para o sistema terrestre e aos
diversos processos de transformação e circulação da matéria no planeta, sendo
crucial para o desenvolvimento do fenômeno da vida. Vamos por partes.
Consideramos inicialmente que o Sol é a primeira e principal fonte de energia
de que o planeta Terra dispõe para efetivar os diversos processos físicos, químicos
e biológicos. No sistema terrestre a radiação solar incidente tende a ser diferencia-
da por pelo menos três fatores: período do ano, período do dia e latitude. Dessa
forma, sua distribuição espaçotemporal não é simétrica.
O processo começa assim: o Sol emite para o espaço sideral uma grande quan-
tidade de energia, chamada de energia radiante ou radiação. A radiação solar apre-
senta configurações de ondas eletromagnéticas em diversos comprimentos de onda
(principalmente radiação de onda curta – ROC), que se propagam de maneira difusa
(em todas as direções) até interagir com o planeta Terra (BARRY; CHORLEY, 2013).
A quantidade de radiação solar interceptada pela Terra está relacionada com o
total de energia emitida pelo Sol, ou seja, quanto maior for a atividade solar, maior
será a energia que chega ao planeta. Convencionalmente, essa radiação é constan-
te e pode variar entre 1 e 2%, dentro do valor de 1360 kW/m2.
Os fluxos de ROC não refletido passam pela atmosfera terrestre e boa parte
deles é absorvida pela superfície, que se aquece. Porém, para as temperaturas dos
corpos, encontrados tanto na superfície como na atmosfera terrestre, os compri-
mentos de onda emitida estão entre 4,0 e 50 micrometros, em uma faixa espectral
denominada radiação de ondas longas (ROL). O fluxo de ROL emitida pela superfície
é absorvido por gases, material particulado e pequenos constituintes da atmosfera.
Saiba mais Esses, por sua vez, emitem ROL em todas as direções, inclusive à superfície terres-
Dos instrumentos desig- tre e ao espaço exterior (BARRY; CHORLEY, 2013).
nados para a mensuração
da radiação, o piranómetro Empiricamente, o mecanismo pode ser explicado com base no total de radiação
é usado para medir toda
solar (ROC) que chega à Terra (100%). Desse total, pelo menos 6% são difundidos
a radiação que chega à
superfície da Terra, quer de volta para o espaço sideral pela própria atmosfera e, em seguida, 20% são re-
seja direta, difusa ou refle- fletidos pelas nuvens e 4%, pela superfície do globo. Assim, 30% da radiação em
tida. Ele mede a radiação
direta, e o heliógrafo regista
ROC perdem-se para o planeta, recebendo o nome de albedo planetário (BARRY;
o número de horas de CHORLEY, 2013).
insolação. Desse ponto,
é importante destacar o Dentro do sistema terrestre, as nuvens absorvem 3% da radiação solar restante,
papel da OMM em fornecer ao passo que o vapor d’água, as poeiras e outros componentes no ar contam para
padronização de equipa-
mentos, instrumentos e mais 16%. O resultado de todas essas interferências atmosféricas garante que ape-
lugares de instalação de nas 51% da radiação solar incidente atinja verdadeiramente a superfície do globo
estações meteorológicas
com a introdução dessas
(BARRY; CHORLEY, 2013) (Figura 4).
ferramentas para obten-
Como resultado, apenas uma pequeníssima quantidade de radiação terrestre
ção de séries históricas
confiáveis e consistentes, escapa diretamente para o espaço, e a radiação que por fim chega à superfície da
bem como suas formas de Terra promove todos os processos físicos, químicos e bióticos. O balanço de ener-
representação e análise.
gia, assim, é resultado da diferença entre quantidade de radiação de ondas curtas
(radiação solar) e de ondas longas (radiação terrestre) que é absorvida e transfor-
mada em energia térmica (calor).
50 Climatologia
Figura 4
Representação do balanço de energia
VectorMine/Shutterstock
Albedo planetário Energia
solar
Topo da atmosfera
era
osf
Atm
ens
Nuv
e
str
rre Nuvens, gases
te
ie
fíc atmosféricos
per e material em
Su
suspensão
Superfície terrestre
A atmosfera da Terra 51
forme a altitude do Sol, sendo o movimento de rotação o processo que organiza a
radiação solar quando a face exposta do planeta está virada para o Sol.
A altura do Sol também é determinada pela latitude dos lugares. Quanto a esse
4
aspecto, a radiação solar tende a diminuir conforme aumenta a latitude. Isso acon-
O planeta Terra apresenta 4
uma forma quase esferoi- tece porque o planeta é um geoide e os raios solares tendem a incidir de maneira
dal, ou seja, ela não é uma perpendicular na zona equatorial e tangencialmente nos limites dos polos.
esfera como concebida
idealmente nos globos Essa situação faz com que nas baixas latitudes seja observado um superávit
terrestres.
radiativo (máximos de incidência solar), enquanto nos polos ocorre déficit radiativo
(mínimos de incidência solar), e pode ser particularizada também na duração do
dia com horas de Sol. Por exemplo, durante o solstício de verão no Hemisfério Sul,
os dias são mais longos do que a noite, e no Polo Sul a luz solar é constante por pra-
ticamente as 24 horas do dia. O contrário acontece no Hemisfério Norte, quando,
no mesmo momento, observa-se o solstício de inverno (Figura 5).
Figura 5
Diferenciação da radiação no Hemisfério Sul e Norte
EreborMountain/Shutterstock
Noite Dia Luz do Sol
Além dos superávit e déficit radiativos, nas baixas latitudes, devido à passagem
do máximo solar duas vezes ao ano, observa-se uma sazonalidade marcada prin-
cipalmente pela presença de períodos chuvosos e secos, típicos dos climas tropi-
cais. Nas latitudes médias e altas, a sazonalidade está condicionada à variação das
temperaturas, sendo comum observar diferença estacional entre verão, outono,
inverno e primavera.
52 Climatologia
Figura 6
Representação da distribuição da radiação
A atmosfera da Terra 53
Figura 7
A estabilidade do clima da Terra resulta do balanço entre o fluxo de radiação absorvido pelo planeta e o emitido
para o espaço
Vitoriano Junior/Shutterstock
A análise da radiação no estudo geográfico do clima pode indicar diferentes
possibilidades. Por exemplo, na bioclimatologia e no clima urbano o estudo tem
sido realizado com foco na função fisiológica e ambiental, sugerindo o encontro da
exigência ecológica e das derivações ambientais associadas aos impactos na pro-
dutividade agrícola e animal, na qualidade ambiental e na saúde humana na cidade
e no campo. Além disso, os valores de radiação são um indicador interessante para
identificação de sistemas atmosféricos e de tipos de tempo estáveis e instáveis.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A atmosfera é caracterizada por um complexo de inter-relações, envolvendo pro-
cessos de trocas de matéria e energia, segundo sua composição química, sua estru-
tura física etc. Altamente mutável, variável, fluida e dinâmica, a atmosfera interage
com oceanos, continentes, solos, vegetação e o conjuntos de seres vivos e define de
modo abrangente a organização das paisagens naturais e a constituições dos sistemas
produtivos.
Cabe ressaltar que a relação entre temperatura e altura e os limites entre as diver-
sas camadas variam, entre outros fatores, em função do local e do período do ano.
Também não podemos esquecer que a divisão em camadas depende dos critérios
estabelecidos, e isso quer dizer que, em um dado instante e região da atmosfera, as
condições reais podem estar diferentes daquelas previamente estabelecidas. Por isso,
não podemos deixar de considerar que a atmosfera é um ambiente fluido, bem como
não devemos esperar que existam limites absolutos.
Além disso, a radiação tem papel crucial na análise geográfica do clima, uma vez
que as variações sazonais e diárias são importantes, principalmente pelos impactos
que tendem a promover nos sistemas produtivos e humanos, e em interação com os
fatores geográficos pode qualificar os processos atmosféricos em sua função fisiológi-
ca, ambiental, natural ou antropogênica.
54 Climatologia
ATIVIDADES
1. Explique as principais características da atmosfera pretérita, primitiva e atual.
Vídeo
2. Qual é a importância dos vulcanismos e da vida para a formação da atmosfera
terrestre?
REFERÊNCIAS
BARRY, R. G.; CHORLEY, R. J. Atmosfera, tempo e clima. Porto Alegre: Bookman, 2013.
FERREIRA, S.; ALVES, M. I.; SIMÕES, P. P. Ambientes e vida na Terra: os primeiros 4.0 Ga. Revista Estudos do
Quaternário, n. 5, p. 99-116, 2008.
GLOBAL SOLAR ATLAS. Direct normal irradiation. 2019. Disponível em: https://globalsolaratlas.info/
download/world. Acesso em: 30 jun. 2021.
MENDONÇA, F.; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Oficina
de Texto, 2007.
TEIXEIRA, W. et al. (org.). Decifrando a terra. São Paulo: Oficina de Texto, 2001.
TORRES, F. T. P.; MACHADO, P. J. O. Introdução à climatologia. Ubá: Geographica, 2008. (Série Textos Básicos
de Geografia).
A atmosfera da Terra 55
4
Dinâmica climática e fatores
geográficos do clima
Objetivos de aprendizagem
56 Climatologia
4.1 Elementos climáticos
Vídeo Tradicionalmente os elementos climáticos são definidos como atributos físi-
cos que representam as propriedades da atmosfera em um determinado lugar
(MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007). Em outras palavras, eles representam variá-
veis climáticas, por isso podem ser medidos, observados, mensurados.
Essa interação acontece em variados níveis de influência, mas pode ser inicial-
mente explicada por meio da dinâmica da atmosfera, sobretudo assumindo os mo-
vimentos que envolvem a transferência de energia no sistema climático, iniciado a
partir do instante que a energia solar atinge a superfície terrestre.
quanto mais rápido é o deslocamento de calor entre os corpos, mais elevado será o
aquecimento, e maior será a temperatura. Por isso, a temperatura é sempre definida em
termos relativos, considerando-se o grau de calor que um determinado corpo possui.
Entende-se que o calor é deslocado de um corpo que tem uma temperatura mais elevada
para outro com temperatura mais baixa. O movimento de troca de calor ocorre porque
a temperatura é determinada pelo balanço entre a radiação eletromagnética que chega
e sai de um determinado corpo ou sistema e pela sua transformação em calor latente e
sensível. A temperatura do ar, então, é a medida do calor sensível armazenado no ar e é
comumente dada em escalas de graus (Celsius ou Fahrenheit) e medida por termômetros
ou por termógrafos.
58 Climatologia
A advecção ocorre em conjunto com a convecção, mas nesse processo o movi-
mento ocorre quando o volume de ar é forçado a deslocar-se horizontalmente. Na
atmosfera esse processo está análogo ao ar que se desloca de uma área de maior
pressão para outra de menor de pressão e leva consigo as características do lugar
de origem. Nesse caso, por ser gasoso e submetido à termodinâmica, o ar atmos-
férico tende a instalar-se em áreas contíguas com pressões distintas (alta x baixa
pressão). E para que se estabeleça equilíbrio barométrico, o ar mais denso da alta 1
pressão flui em direção à área de menor pressão, tendo como resultado a geração A intensidade, a ve-
1 locidade, e o tipo do
do vento, isto é, o ar em movimento .
vento é controlado pelo
gradiente de pressão, o
O processo de condensação transfere para o ar quantidades importantes de
qual é estabelecido pela
calor que foram consumidas no ambiente durante a evaporação da superfície, por diferença de pressão entre
as duas áreas contíguas.
isso envolve a transformação do calor latente (quantidade de calor que promove
Ou seja, quanto maior for
mudanças no estado físico da água) em calor sensível (quantidade de calor que o gradiente, maior será a
velocidade do vento, que
pode ser mensurada por termômetros).
tende a convergir em áreas
de baixa pressão e divergir
em alta pressão.
E o que é umidade? A água em estado gasoso (vapor d’água) é definida como umidade atmosféri-
ca e pode ser descrita em termos de pressão de vapor (que auxilia na compreensão dos processos
de saturação do ar), umidade absoluta (definida pelo peso em g/m³ do vapor d’água em um dado
volume de ar), umidade específica da razão de mistura (razão entre o peso do vapor d’água e o
peso do ar) e umidade relativa (razão da proporção entre vapor d’água existente no ar e o pon-
to de saturação). A umidade relativa é sem dúvida o parâmetro mais usual e comum para se
tratar da umidade atmosférica. De modo geral, ela é inversamente proporcional ao ponto
de saturação de vapor e, em consequência disso, é também inversamente proporcional
à temperatura do ar, uma vez que é o elemento controlador do teor de umidade máxima
presente em um volume de ar. Isso significa que o aumento da temperatura do ar resulta
na diminuição da umidade relativa no
ambiente observado. Por isso, a quantidade de umidade é uma indicação da capaci-
dade potencial de a atmosfera produzir precipitação, isto é, toda água proveniente do
meio atmosférico que atinge a superfície terrestre, seja em estado líquido ou sólido. Os
parâmetros de medição da umidade obtidos por instrumentos, tais como o higrômetro, seus
S te f
equivalentes higrógrafo (baseado na relação entre a temperatura do ar e o coeficiente de alonga- an H o
lm/Shutterstock
mento do cabelo) e psicrômetro (formado por dois termômetros – bulbo úmido para temperatura
da água em processo de evaporação e bulbo seco para temperatura do ar).
Ao contrário do que acontece com os demais gases que compõem o ar, a umi-
dade atmosférica se apresenta em proporções muito variadas. Em primeiro lugar,
porque a umidade atende fundamentalmente aos processos de transformação do
estado físico da água que ocorrem na movimentação do ciclo hidrológico. Neste
caso, ela é um dos indicadores de como o calor latente é liberado, sobretudo quando
ele é utilizado para efetivar os processos de evaporação (passagem do estado líquido
para o gasoso) e de condensação (passagem do estado gasoso para o líquido).
Em segundo lugar, a umidade pode absorver tanto a radiação solar quan-
to a terrestre e, assim, desempenha papel de regulação térmica no sistema
atmosfera-superfície. Esses processos ocorrem pela presença de água em super-
fície, que, dependendo do ambiente fornecedor (solo, vegetação, oceanos, mares,
lagos rios e banhados) e da variação diária da atmosfera, pode oferecer alterações
espaço-temporais bastante significativas, acarretando inclusive outros elementos
do clima, como a temperatura e a pressão.
60 Climatologia
dos elementos climáticos deve ser orientada para definir a gênese e a trajetória
em sua sucessão habitual e manifestação espacial. Vamos nos aprofundar nesses
mecanismos?
Figura 1
Movimentos ciclônicos e anticiclônicos
Designua/Shutterstock
aprofundamento maior
dos elementos climáticos,
recomendamos a leitura
do capítulo 3 do livro
Climatologia: noções básicas
e clima do Brasil. Além de
trazer uma definição mais
completa dos elementos,
os autores oferecem ou-
tros exemplos que devem
ampliar sua compreensão
sobre o tema.
Figura 2
Formação de frente fria e frente quente
Frente quente
Massa de ar úmida e
quente
Massa de ar seca e
fria
Frente fria
62 Climatologia
Por esse caráter, as massas de ar, com algumas exceções, estão diretamente
vinculadas com a localização dos anticiclones (subtropicais e polares), que podem
ser entendidos como as áreas fonte ou centros de ação. Por apresentarem desco-
lamentos em função do movimento da circulação geral e da sazonalidade, sempre
resultam em alterações das características das condições de tempo dos lugares
localizados no caminho de sua trajetória (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007).
Figura 3
Condições favoráveis para formação de massas de ar
Situação do ar atmosférico estacionário
Ausência de movimentos horizontais
64 Climatologia
tipos de tempo frios e geadas, ocasionando precipitações em forma de neve, parti-
cularmente nas regiões serranas de Santa Catarina e Rio Grande Sul, e o fenômeno
da friagem no norte do país, sobretudo quando são reforçadas pelos fluxos oriun-
dos da Massa Polar Pacífica (mPp).
De maneira geral, a mPa apresenta característica física seca e fria e em sua tra-
jetória habitual pode encontrar algumas das massas tropicais, oferecendo a ge-
ração de Frente Polar Atlântica (FPA). Monteiro (1962) sugere que a frente polar é
responsável por cerca de 80% das chuvas no sul do Brasil e esse valor pode não ser 7
diferente para outros estados, uma vez que em sua rota habitual tende a provocar O termo frente é análogo às
frentes de batalha da Pri-
também a geração de outros sistemas atmosféricos associados. meira Guerra Mundial e é
7 um dos principais conceitos
É importante ressaltar que as frentes (fria ou quente) são um sistema atmos- da meteorologia sinótica e
da climatologia dinâmica.
férico resultante do encontro de massas de ar de características diferentes (Figura
4). Trata-se de uma zona ou superfície de descontinuidade térmica, anemométri-
ca, barométrica e higrométrica, que sempre atua como dinamizadora dos tipos de
tempos estáveis, transformando-os em instáveis.
Figura 4
Zona de contato entre duas massas de ar com características distintas e organização de frente fria e frente quente
Frente
fria
TPO
te
en
Ar frio Ar quente e qu
nt Ar fresco
Fre
Superfície
Você já deve imaginar que é por essa movimentação que as condições de esta-
bilidade e instabilidade do tempo são desenvolvidas, ou seja, toda a situação de es-
tabilidade atmosférica deve mudar com a entrada de uma frente fria. Esse sistema
Figura 5
Entrada de uma frente fria (A) e condições de nebulosidade de seu anúncio (B)
A
Cumulonimbus Cirrostratus Cirrus
stihii/Shutterstock
Direção
do vento
Altocumulus
Massa de ar
quente
Sorin Vidis/Shutterstock
B
Curiosidade
Será que você consegue
fazer relação entre a
explicação sobre o anúncio
da chegada de frente fria
e o ditado popular “céu
pedrento, ou chuva ou
vento”? Observe que por
mais tradicional que esse
conhecimento seja, ele
explica de maneira muito
coerente que nuvens do
tipo altocumulus anunciam
a chegada de uma frente e
apresentam configurações
análogas a pedras no céu.
66 Climatologia
As nuvens de halo (Figura 6) também podem ser enquadradas como sinal que
anuncia uma frente, já que o levantamento do ar antes da chegada da frente gera
a formação de cirrus stratos, os quais tendem a dispersar a luz do Sol ou da Lua por
serem compostos de gelo.
Figura 6
Nuvens halo em torno do Sol (A) e da Lua (B)
Lucian Coman/Shutterstock
cihanyuce/Shutterstock
A B
Figura 7
Condições atmosféricas (A) e nuvens (B) associadas à frente fria
: Nicola Patterson /Shutterstock
Cammie Czuchnicki/Shutterstock
A B
Assim como a frente fria, a frente quente também promove instabilidades. Ela
sugere que o ar quente, que foi forçado a ascender na dianteira da massa polar,
escoa em altitude e por resfriamento adiabático desce e avança na retaguarda da
massa de ar frio, completando o movimento ciclônico e provocando a ampliação da
área de atuação da massa (Figura 8). A frente quente se desloca mais lentamente
do que a frente fria e de maneira gradativa altera a temperatura e aumenta a ne-
bulosidade. Sua extensão pode chegar a 1.000 km.
A Cirrus
Cirrosstratus
stihii/Shutterstock
Altostratus
Nimbostratus
Direção do vento
Stratocumulus
Massa de ar
quente
Somyot Mali-ngam/Shutterstock
B
68 Climatologia
estacionário até que seu movimento seja incorporado ao movimento da massa de Vídeo
ar quente, ou que outro sistema frontal reinicie o ciclo. Assista ao vídeo Weather fronts
explained (Frentes meteo-
Nesta perspectiva, os elementos climáticos são como o resultado de uma série rológicas explicadas),
publicado pelo canal
de forças e processos atmosféricos organizados segundo suas fases no ciclo de Met Office – Weather, ins-
uma frente polar. Cada tipo de tempo associado é exclusivamente a representação tituição responsável pelos
serviços meteorológicos
de um momento, uma parte do movimento completo de um ciclone, que deve du- do Reino Unido. No vídeo,
rar, inclusive, em torno de cinco a sete dias. você vai compreender
melhor como visualmente
Você já deve imaginar que nem elementos, nem sistemas atmosféricos fluem os fluídos – ar e água –
apresentam os movi-
sem uma determinação espacial, certo? Todos eles estão de alguma forma entre-
mentos se submetidos a
laçados a partir da importância dos fatores geográficos do clima, que comumente temperaturas distintas.
são entendidos como controles climáticos – grandezas objetivas que condicionam Disponível em: https://youtu.be/
naarbGHoAGU. Acesso em: 20
a interação e a manifestação dos elementos climáticos.
maio 2021.
A latitude é o fator que explica as alterações sazonais da radiação, uma vez que
a incidência dos raios solares sobre a superfície muda de ângulo de acordo com a
posição que se encontra a Terra em sua órbita ao redor do Sol, o que leva a dispo-
nibilizar quantidades diferentes de energia para os aquecimentos do ar em cada
época do ano.
Figura 9
Avanço de uma massa de ar marítima sob superfície continental fria
Superfície continental
Superfície oceânica
Figura 10
Avanço de uma massa de ar marítima sob superfície continental quente
Superfície continental
Superfície oceânica
70 Climatologia
Figura 11
Neve na Cordilheira dos Andes mostra como relevo e altitude são fatores diversificadores do clima
VectorMine/Shutterstock
Condensação de
vapor de água
Ar seco
descendente
Precipitação
Ventos
prevalecentes
Vapor d’água
ATIVIDADES
Vídeo 1. Quais condições atmosféricas são favoráveis à concentração de poluentes e qual
impacta diretamente as operações em aeroportos e transportes aéreos?
3. Como você explica a condição em que o Chile Meridional é uma região úmida e a
Patagônia uma região seca, apesar de serem regiões vizinhas?
4. Quais sinais podem ser observados na fase de anúncio de uma frente fria?
5. Como podemos desenvolver uma análise geográfica inicial do clima dos lugares?
REFERÊNCIAS
CAVALCANTI, I, F. A. et al. (org.). Tempo e clima no Brasil. São Paulo: Oficina de Textos. 2009.
MENDONÇA, F; DANNI-OLIVEIRA, I. Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Contexto,
2007.
MONTEIRO, C. A. F. Da necessidade de um caráter genético à classificação climática. Revista Geográfica, Rio
de Janeiro, v. 31, n. 57, p. 29-44, jul./dez. 1962.
SANT’ANNA NETO, J. L. A climatologia dos geógrafos: a construção de uma abordagem geográfica do
clima. In: SPOSITO, E.; SANT’ANNA, J. (org.). Uma geografia em movimento. 1. ed. São Paulo: Expressão
Popular, 2010. p. 295-318.
72 Climatologia
5
Climatologia aplicada
Objetivos de aprendizagem
Climatologia aplicada 73
Por meio da organização dos dados climáticos e dos tipos de tempo em sua
sucessão habitual, as classificações orientam a necessidade de sintetizar e agrupar
aspectos similares, resultando, por sua vez, na elaboração de tipologias climáticas,
sendo que a principal finalidade é a “obtenção de um arranjo eficiente de informa-
ções em uma forma simplificada e generalizada” (AYOADE, 2010, p. 224).
Não à toa, existe também uma estreita relação entre as diversas concepções de
clima na história e as diferentes abordagens rebatem diretamente nas representa-
ções dos tipos climáticos e na realização das classificações.
Artigo
https://www.revista.ueg.br/index.php/elisee/article/view/5769
Podemos dizer que a primeira classificação mais sistemática do clima foi rea-
lizada, na Antiguidade, no Egito. Preocupados com os períodos de cheias e com
o aproveitamento de várzeas do Rio Nilo, os egípcios consideraram aspectos da
sazonalidade, oferecendo a classificação
matrioshka/Shutterstock
que combinava o regime de chuvas e a
dinâmica fluvial do rio em estações de
inundação, germinação e colheita, valo-
rizando significativamente a dimensão
temporal da dinâmica climática.
74 Climatologia
Em outro contexto técnico, os gregos desenvolveram uma série de estudos em-
píricos sobre temperatura, água, precipitação, ventos e im-
plicações nas culturas e na saúde humana, dentre eles a
Zona frígida
introdução de instrumentos de medição. Com base no con-
ceito de Klima, ofereceram a primeira classificação global,
que dividia o planeta em zona tórrida (quente), zona frígida Zona Temperada
(fria) e zona temperada (tépida). A classificação grega se as-
semelha com as modernas latitudes, sua elaboração estava
Zona tórrida
associada à distância/proximidade do Sol, sendo a zona
temperada a única ideal e possível de sobreviver e se repro-
duzir. Com essa classificação os gregos atribuíram diversas Zona temperada
condições climáticas encontradas em diversos lugares do
mundo.
Zona frígida
Atualmente, os princípios dessa classificação podem
ser equivalentes a grandes zonas climáticas da Terra, que
designam as áreas distintas de acordo com a incidência da
radiação solar e a latitude. Nesse sentido, o planeta contempla os domínios dos
climas equatoriais e subequatoriais nas baixas latitudes; os domínios tropicais, sub-
tropicais, e temperados das médias latitudes; e os domínios subpolares e polares
das altas latitudes (Figura 1).
Figura 1
Principais zonas climáticas do planeta
Zona equatorial
Zona subequatorial
Zona tropical
Zona subtropical
Vector Image Plus/Shutterstock
Zona temperada
Zona subpolar
Zona polar
Climatologia aplicada 75
A título de exemplificação, a principal contribuição é sem dúvida a classificação
de Köppen-Geiger, a mais conhecida. Essa classificação climática oferece a divisão
planetária do clima, na qual os tipos climáticos são definidos segundo os limites
dos conjuntos vegetacionais nativos e a sua relação com os graus de aridez (indica-
dos pela relação entre precipitação, temperatura e evapotranspiração).
Figura 2
Classificação climática segundo Koppen-Geiger
VectorMine/Shutterstock
Equador Equador
Seco (árido e
Tropical Temperado Continental e
semiárido) Polar
subártico
A B C D E
76 Climatologia
Em outro contexto técnico-científico, a climatologia mostrava incorporação das
teorias do movimento (gravidade e termodinâmica) na dinâmica do ar atmosférico
pelo conceito de massas de ar, ciclones e anticiclones explicados com base nos
modelos de circulação atmosférica e na teoria da frente polar. Nessa abordagem,
às classificações climáticas caberia a explicação da sucessão dos tipos de tempo
segundo um caráter genético, com base na movimentação dos campos de pressão
atmosférica, mesmo que se utilizassem os valores médios dos elementos climáti-
cos (ROSSATO, 2011).
Nimer (1989) ofereceu cinco grandes domínios climáticos zonais para o Brasil:
Clima equatorial
Climatologia aplicada 77
Figura 3
Climas do Brasil segundo a classificação de Nimer
78 Climatologia
Cabe ressaltar que, embora as classificações estáticas e dinâmicas apareçam
em parte significativa da literatura como oposições de perspectivas climáticas dis-
tintas, os dados sintetizados nas médias, por si só, não bastam para compreender
a dinâmica atmosférica. Mas podemos partir dos valores médios para buscar a
gênese e sucessão habitual dos tipos de tempo.
Climatologia aplicada 79
ra da água, o que favorece a definição de um calendário agrícola ou a demarcação
dos períodos de migração sazonal de determinadas espécies marinhas.
Figura 4
Causas da variabilidade anual da produção agrícola
Manejo
Dificuldade de ação humana
Solo
Genética
Tempo e clima
Nesse sentido, a importância das relações entre clima e planta, além de deter-
minar a distribuição global dos cultivos, é explicada pelas práticas agrícolas, que
compreendem desde o preparo da terra para receber as sementes até o rendi-
80 Climatologia
mento final da produção, o uso de fertilizantes, os sistemas de irrigação, o uso de
agrotóxicos etc.
nn
at t
alli
va etc.) e pela estrutura fundiária. Esses são os outros fa-
/Sh
u tte
tores fundamentais da relação clima-agricultura, e, nessa
rsto
ck
perspectiva, a análise é bastante atravessada pela relação
clima-agricultura na perspectiva econômica. Por isso a
necessidade de tratá-la como insumo ao processo produ-
tivo, auxiliando na definição e constituição de territórios.
fazer parte da cadeia produtiva, bem como nas áreas que apresentam climas e
solos similares às de origem da cultura ou que possibilitavam adaptação de outras
variedades/cultivares. O estado do Rio Grande do Sul foi o que apresentou inicial-
mente as condicionantes ecológicas mais adequadas às exigências fisiológicas e
climáticas das plantas. Além disso, o estado apresentava fortes incentivos para im-
plementação de um complexo agroindustrial iniciante no Brasil.
Fotokostic/Shutterstock
Climatologia aplicada 81
A consistência desse projeto ganhou mais destaque a partir do pacote tecno-
lógico e da modernização da agricultura dada pela Revolução Verde. O sentido é
de que o investimento em pesquisa e a substituição de sistemas de cultivos tradi-
cionais por maquinário e agrotóxicos favoreçam mudanças estruturais no campo
e, também, um desenvolvimento vegetativo adaptado ao fotoperíodo mais curto,
típico de regiões de baixa latitude.
Artigo
https://revista.fct.unesp.br/index.php/nera/article/view/5974/4689
A Revolução Verde é um dos marcos mais importantes das transformações do mundo urbano e rural
brasileiro do final do século XX. Trata-se de um processo pautado na profunda reestruturação de
ordem técnica e econômica das atividades agrícolas, legitimada principalmente por políticas da fome,
de transferência tecnológica e de desenvolvimento. Devido à forte modernização e racionalização da
produção, essa revolução também se caracteriza pelos importantes impactos em todos os sistemas
– produtivos, sociais e humanos, em que os sistemas naturais não ficaram de fora. Para entender
melhor essa discussão, leia o artigo : Alterações ambientais no estado do Paraná: um enfoque geográfico
sobre a dinâmica fluviométrica e as transformações no campo, de Lindberg Nascimento Júnior e Douglas
Ambiel Barros Gil Duarte, publicado na Revista NERA, que mostra como a Revolução Verde consolidou
a substituição natural da vegetação, promovendo mudanças do padrão do uso do solo na transição da
cafeicultura para sojicultura e modificações no regime hidrológico.
Figura 5
Quatro décadas de marcha da soja – 1975-2015
82 Climatologia
Observe que, nesse processo, a sojicultora foi paulatinamente mais consistente
inicialmente na região Sul e em parte das regiões Sudeste e Centro-oeste. Na úl-
tima década, observa-se que o vetor da produção tem se deslocado para o norte
da região Centro-Oeste, setores da região Norte (Roraima e Pará) e Nordeste (oes-
te baiano, sul do Maranhão e Piauí). E o que isso significa em termos da relação
clima-agricultura?
Você já deve ter percebido que o interior do país, que apresenta clima tropical,
se consolidou como o ambiente ideal para efetivação da produção da soja do país.
E isso não ocorreu só em termos climáticos e de extensão territorial, mas tam-
bém porque o domínio Cerrado contempla relevos de planalto e chapadões com
vertentes suaves onduladas que permitem o uso de mecanização por máquinas.
Podemos afirmar que o Cerrado é atualmente o principal espaço para produção
agrícola do país.
Por essas razões, a relação clima-agricultura não pode ser concebida exclusiva-
mente na perspectiva ecológica, uma vez que ela é importante para uma aproxima-
ção inicial, e como insumo econômico, o clima assume um papel variado, associado
aos meios distintos que os agentes sociais apresentam para lidar com os impactos
do tempo e do clima, seja para minimizar, neutralizar ou otimizar os seus efeitos.
Nas cidades essa interação favorece ainda mais alterações, inicialmente conhe-
cidas a partir das transformações no balanço de energia, que possibilitam mudan-
ças em todos os elementos climáticos, como temperatura, umidade relativa do ar,
ventos, precipitações e composição química e física da atmosfera (AMORIM, 2000).
Climatologia aplicada 83
radiação e caracterizando mudanças nos processos termodinâmicos de gênese no
clima local.
Esses processos são, assim, retroalimentados por maior aquecimento do ar, au-
mento das precipitações, velocidade e orientação dos ventos, poluição atmosférica.
O clima local assume dimensões espaciais associadas à área construída, oferecen-
do a explicação de que o clima urbano é o clima de um dado espaço terrestre e sua
urbanização (MONTEIRO, 1976).
Figura 6
Efeitos da ilha de calor urbana durante os períodos diurno e noturno
ValentinaKru/Shutterstock
Vídeo
Para aprofundar o debate
histórico e avançar nos te-
mas contemporâneos das
questões que envolvem o
clima urbano, assista à live
Clima urbano como Risco
Climático, apresentado Podemos inferir que o marco inicial dos estudos sobre clima urbano se deu a
no Canal do Laboratório partir do século XIX, mais especificamente em 1661, com a obra Fumifugium, de
de Climatologia e Análise
Ambiental – LabCAA, da John Evelyn. Naquele momento, Evelyn descreveu o clima urbano de Londres, des-
Universidade Federal de tacando a participação da poluição do ar causada pela queima de carvão dentro do
Juiz de Fora.
período da recente industrialização. Ele já articulava os efeitos negativos da polui-
Disponível em: https://youtu.be/
a6EA1Z6WMVo. Acesso em: 8 jun.
ção na qualidade da saúde humana e recomendava maneiras de melhorar a quali-
2021. dade do ar por meio do plantio de árvores e vegetação florísticas.
84 Climatologia
Mais recentemente, após a Segunda Revolução Industrial, a insalubridade do ar
Saiba mais
londrino foi novamente estudada pelo químico inglês Luke Howard em 1833. Em
A ilha de calor urbana é um
The climate of London, ele descreveu grande parte dos elementos climáticos (nu- fenômeno que resulta na
vens, precipitação, temperatura) e os ciclos sazonais e mensais. Howard também formação de bolsões de
ar quente decorrentes da
detectou a contaminação do ar e observou diferenciação de temperatura do ar na capacidade diferenciada
cidade de Londres em comparação com as áreas rurais e/ou vizinhas. de armazenar e refletir a
energia solar dos materiais
A popularização dos estudos também proporcionou maior abrangência nas prá- encontrados na superfície
(AMORIM, 2000). Segundo
ticas de gestão e planejamento urbano, sobretudo a partir da urbanização acelerada Oke (1979), a característica
observada no período pós-Segunda Guerra Mundial, em conjunto com a expansão mais significante da ilha
de calor é sua intensi-
territorial urbana das grandes metrópoles, a industrialização mais intensa e um dade, entendida como a
importante aumento demográfico, principalmente nos países subdesenvolvidos. diferença entre o máximo
da temperatura urbana e
Nessa perspectiva, pelo menos duas abordagens são bastante destacadas. A o mínimo da temperatura
rural. Essa característica
primeira relaciona-se a questões de cunho meteorológico para compreensão e mo- está relacionada com os
delagem dos tipos e padrões de circulações induzidas sobre uma cidade, cujo inte- fatores que contribuem
para a formação da ilha de
resse é a interpretação dos padrões termais com os materiais construtivos. calor, tais como os naturais
(situação sinótica, relevo
Nessa abordagem, o clima urbano é condicionado principalmente pelo incre- e presença de superfícies
mento térmico, tendo em vista que na cidade muitos materiais de construção com vegetação e/ou água)
ou propriamente urbanos
absorvem e retêm mais radiação solar do que os materiais naturais em áreas rurais (morfologia urbana e ativi-
ou menos urbanizadas, que se configuram em ilhas de calor urbanas. dades antropogênicas).
Climatologia aplicada 85
Figura 7
Sistema Clima Urbano
Estrutura do sistema
Metas
Soluções
Conforto
Desempenho
térmico
Energia (caixa preta) Ilhas de calor
humano
Solar Ventilação
Espaço ecológico alterado Condensação
Pesquisa
básica
Decisões
Qualidade
Espaço urbano adaptado
Circulação atmosférica
do ar
(uso do solo, estrutura urbana)
Saúde
Energia líquida
Poluição atmosférica
Expectativa
regional
público
Poder
Espaço natural alterado
(aterros, represas etc.)
Desorganiza-
ção urbana
meteórico
Impacto
Precipitação
Dinâmica urbana
alternativas
Consciência
Estratégias
Disritmias externas
social
(funções e atividades)
Ajustamento adaptativo
Exportação para o ambiente
De modo geral, o estudo do clima urbano pelo Sistema Clima Urbano absor-
4
ve grande eficiência no trato do clima e da cidade, revelando não só os sistemas
A influência do estado do
tempo e do clima sobre a atmosféricos que deflagram impactos à população, mas também questionando as
saúde humana é reconheci- formas e os processos de produção do espaço urbano e incorporando outros pro-
da desde a Antiguidade.
cedimentos devido ao avanço técnico-científico.
86 Climatologia
de Geografia Médica, voltados à descrição minuciosa da distribuição regional das
doenças, empregando amplamente recursos cartográficos (FERREIRA, 2001).
Climatologia aplicada 87
Segundo Aleixo (2012), a escala de estudo da relação clima-saúde tem sido cada
vez mais associada ao ambiente urbano, pois as cidades têm se tornado o lugar do
viver da sociedade e a alteração dos componentes físicos e químicos, por sua vez,
repercute diretamente na saúde (Figura 9).
Figura 9
Canais de percepção do clima urbano e suas manifestações na saúde
Organização
socioambiental urbana
Tipos de tempo
Falta de
planejamento e
prevenção dos riscos
Impacto na
saúde
Subsistema Subsistema
Subsistema hidrometeórico
termodinâmico físico-químico
88 Climatologia
Figura 10
Relação clima, saúde e vulnerabilidade humana
Recuperação fisiológica
Climatologia aplicada 89
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
O estudo geográfico aplicado ao clima apresenta pelo menos quatro grandes fren-
tes – a que origina os processos de classificação, a relação clima-agricultura, o clima
urbano e a saúde. Cada abordagem inclui outras possibilidades de estudo, como ris-
cos, desastres, qualidade ambiental, restauração ecológica etc.
De todo modo, a complexidade dos problemas que envolvem as aplicações em
climatologia não é mais passível de ser analisada exclusivamente à luz dos conceitos e
técnicas tradicionais, ou dos problemas em si. O trabalho do geógrafo pode ser mais
propositivo se a análise for encandeada para o encontro das ordens espaciais do fe-
nômeno climático.
É por isso que, por meio da climatologia geográfica, os estudos priorizam a dimen-
são espaço-temporal dos processos climáticos como fator condicionante das paisa-
gens e como constituição dos territórios. A associação com manifestações diferentes e
impactos específicos se abre inclusive para diferentes técnicas de análise e propostas
críticas para resolução de problemas contemporâneos.
ATIVIDADES
Vídeo 1. Para quais propósitos a classificação climática se faz importante?
3. Quais as principais abordagens dos estudos sobre o clima urbano e quais seus
elementos principais?
REFERÊNCIAS
ALEIXO, N. C, R. Pelas lentes da climatologia e da saúde pública: doenças hídricas e respiratórias na
cidade de Ribeirão Preto. 2012. Tese (Doutorado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia,
Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/
handle/11449/101455. Acesso em: 8 jun. 2021.
AMORIM, M. C. C. T. O clima urbano de Presidente Prudente/SP. 2000. Tese (Doutorado em Geografia) –
Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo.
KNORR, M. T. Quarenta anos de expansão da soja no Brasil, 1975-2015. Confins, n. 33, 2017. Disponível
em: https://journals.openedition.org/confins/12592. Acesso em: 8 jun. 2021.
MONTEIRO, C. A. F. A cidade como processo derivado ambiental e a geração de um clima urbano:
estratégias na abordagem geográfica. Geosul, Florianópolis, v. 5, n. 9., 1990, p. 80 – 114. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view/12740. Acesso em: 8 jun. 2021.
MONTEIRO, C. A. F. Teoria e Clima Urbano. Série Teses e Monografias, n. 25. São Paulo: Universidade de
São Paulo 1976.
NIMER, E. Climatologia do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1989.
OKE, T. R. Review of urban climate. WMO Publ., Tech. Note, v. 169, 1979.
ROSSATO, M. S. Os climas do Rio Grande do Sul: variabilidade, tendências e tipologia. 2011. Tese
(Doutorado em Geografia) – Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre, 2011. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/32620/000782660.
pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 8 jun. 2021.
SORRE, M. Les fondements de la géographie humaine. Primeiro tomo: Les fondements biologiques (Essai
d’une écologie de l’homme). 3. ed. rev. e ampl. Paris: Armand Colin, 1951.
90 Climatologia
6
Mudanças climáticas
Objetivos de aprendizagem
Mudanças climáticas 91
as mudanças climáticas têm sido estudadas sob pelo menos três p
erspectivas dife-
rentes. Primeiramente, as que se relacionam com a abordagem paleoclimática no
período anterior à existência humana; as mudanças climáticas na história, que con-
templam as variações mais recentes; e também as que envolvem o aquecimento
global contemporâneo, que marca o estágio atual do clima, destacando sobretudo
as lógicas e os modelos de desenvolvimento.
Quadro 1
Modificações globais do clima
Nesta seção vamos focar na primeira abordagem, visto que, em grande parte,
essas variações são oriundas de flutuações climáticas que propiciaram a constitui-
ção das paisagens naturais atuais. Trata-se da influência cíclica de climas de um
1 passado muito antigo, que basicamente marcam períodos alternadamente secos
92 Climatologia
Período Quaternário (1,8 milhões de anos AP, ou antes do presente) e provocaram
fortes e profundas mudanças no tipo de vegetação e biomassa nas zonas continen-
tais tropicais, causando extinção, diferenciação e alterações na distribuição biogeo-
gráfica dos animais e das plantas (AB’SÁBER, 1992).
TO
RI
RI
AL
ÚMIDO E
view/1021/948. Acesso em: 21 jun.
D
SECO
IL
SEMIÁRIDO 2021.
HEIRA
SUBTROPICAL
RT
SÉ
ÚMIDO
U
DOS
PER
DE
OCEANO
PACÍFICO
OCEANO
PACÍFICO
2
OCEANO
ATLÂNTICO
OCEANO
ATLÂNTICO O domínio das correntes
Rio (Corrente)
LINA
6.800
Julho
mento do ar atmosférico
FALKLA
PERU
Janeiro
FALK
0
0 1000 Km –, uma vez que a condição
das águas oceânicas mais
frias estimula estabilida-
Fonte: Adaptada de Viadana, 2000 apud Silva, 2011. des atmosféricas. Nessa
circunstância, o clima era
resultado do domínio do
Juntamente com os anticiclones do Pacífico Sul, esses sistemas de alta pres-
fluxo extratropical.
são impediam a ascensão de eventual umidade e restringiam a possibilidade de
ocorrências de precipitações na forma liquida (chuvas), resultando na condição de
semiaridez em toda a faixa intertropical. Nas fases glaciais, o sertão nordestino – 3
hoje semiárido – estava individualizado por climas áridos, portanto mais seco em
Conjunto de rios cujos
relação ao atual (CASSETI, 2005). leitos correm durante todo
ano, ao contrário dos rios
Por isso, durante as glaciações, além da queda na temperatura, a precipitação intermitentes, cujos leitos
secam ou congelam pelo
ocorre majoritariamente no estado sólido (gelo e neve), o que, por sua vez, provoca
menos uma vez ao ano.
2 3
o rebaixamento do nível do mar e a diminuição de rios perenes . Ao mesmo tem-
Mudanças climáticas 93
po, observa-se a expansão das calotas polares e continentais, bem como a expan-
são de climas áridos e semiáridos devido ao recuo de florestas tropicais.
Para além dos fatores exógenos, os fatores internos também devem ser consi-
derados. Por exemplo, a criosfera, ou a superfície terrestre coberta de gelo (polos,
calotas, geleiras, permafrost etc.), auxilia no balanço de energia que entra e sai do
sistema terrestre e, junto com os oceanos, devem condicionar em grande parte as
variabilidades climáticas do planeta.
Mudanças climáticas 95
esquematicamente na Figura 2. O que isso quer dizer? Se considerarmos que os va-
lores médios de energia solar e albedo planetário estão mantidos e são constantes,
as concentrações dos gases de efeito estufa devem aumentar a transformação da
energia solar em energia térmica (provocando aquecimento), e seu aprisionamento
diminuiria sua liberação para o espaço exterior à Terra – por consequência, a tem-
peratura do planeta seria mais alta.
Figura 2
Esquema de representação do aquecimento global contemporâneo
96 Climatologia
Cube29/Shutterstock
Figura 3 Aumento da
Resumo dos impactos das mudanças climáticas radiação solar que
chega à superfície
Elevação Perda da
do nível diversidade/
do mar variabilidade
genética
Poluição Aumento da
do ar e temperatura
da água do ar
Filme
Como todo debate cien-
Ameaça à tífico e político, o aque-
sobrevivência das Derretimento cimento global congrega
espécies da fauna de geleiras e agentes dissonantes. Para
e da flora que você perceba que
calotas polares
existe diversidade sobre
essa questão, indicamos
É importante destacar que essa preocupação, por ser global, também tem sido dois documentários. O
primeiro, Uma verdade
representada pelos resultados de pesquisas organizadas e apresentadas nos rela- inconveniente, refere-se
tórios do IPCC, que, além de demonstrarem as causas e as consequências, deba- ao debate do aquecimen-
to global antropogênico.
tem a mitigação e a adaptação. O segundo, A grande farsa
do aquecimento global,
O IPCC (2007) também apresenta projeções altamente tecnológicas obtidas por
apresenta a questão de
meio de modelagem climática em níveis regionais e globais. Em sua maioria, essas que a gênese do aqueci-
mento global é natural.
projeções são elaboradas em sistemas computacionais que oferecem a integração
Assista aos dois, formule
de uma série de elementos e recursos com procedimentos para tomada de deci- sua opinião e pondere
sobre os limites e as pos-
sões, levando em consideração uma série de cenários futuros.
sibilidades de cada uma
dessas abordagens.
Por isso, as alterações climáticas assumiram uma destacada importância geopo-
lítica e estratégica para o desenvolvimento dos países, sendo também uma questão
que problematiza o atual modelo de desenvolvimento, de consumo (baseado na
exploração globalizada e predatória de recursos naturais e humanos) e de produ-
ção de energia (porque abre possibilidades de diversificação das matrizes energéti-
cas, valorizando as de energia limpa).
O momento exige que a sociedade global reconheça o aumento da severidade, • Uma verdade inconveniente. Direção:
magnitude, intensidade e frequência dos impactos no clima em seus territórios, já Davis Guggenheim. EUA: Paramount
Vantage, 2006.
que, desde a metade do século XX, esses eventos têm sido cada vez mais extremos
e perigosos, revelando a cada ocorrência as fragilidades, as vulnerabilidades e os
diversos graus de exposição das sociedades e dos sistemas produtivos e humanos.
Mudanças climáticas 97
O aquecimento global antropogênico contemporâneo não deve ser limitado ex-
clusivamente ao debate conceitual, da sua gênese e dos seus impactos em si, mas
deve-se levar em conta que tanto resfriamento quanto aquecimento sempre foram
e são, na realidade, as fontes principais de perigos sociais. Por isso, essa é uma
questão não apenas geológica, mas também meteorológica (CARTER, 2009).
Podemos destacar também outros povos. Por exemplo, entre cerca de 800 a
1200 d.C., o clima era mais quente do que o de hoje; e, naquela época, os povos
nórdicos, notadamente os vikings, ocuparam grande parte das terras que atual-
mente correspondem ao norte do Canadá. Uma grande ilha da região foi chamada
de Groelândia, do norueguês Grønland, que significa “terra verde”.
Com esses relatos históricos e com todos os conhecimentos que temos sobre o
clima, você deve ter percebido que mudanças periódicas das condições climáticas
– em alguns momentos muito drásticas – são um fato! Durante a história natural e
social, sem dúvida esses processos sempre se fizeram presentes.
98 Climatologia
ciados à redução da disponibilidade hídrica, deflagram desastres como secas e es-
tiagens, em grande parte relacionadas a bloqueios atmosféricos ou intensificação
de sistemas de alta pressão. A ocorrência de chuvas intensas e extremas, por outro
lado, associa-se à ocorrência de fenômenos como tempestades, tornados, ciclones,
enchentes, inundações, enxurradas.
Figura 4
Sistema Cantareira durante a crise hídrica em 2014 Nelson Antoine/Shutterstock
Mudanças climáticas 99
Cabe ressaltar que, quando adquirem a natureza de desastre, esses eventos
causam prejuízos socioeconômicos relacionados aos impactos que tendem a ge-
rar para os sistemas humanos (ocorrência de mortes, desabrigados, saneamento,
Livro proliferação de vetores de diversas patologias etc.), bem como para os produti-
O avanço nos estudos vos (abastecimento de água, produção de energia, transporte, mobilidade etc.)
sobre desastres tem apre- (MARENGO, 2009).
sentado uma sistematiza-
ção importante, que tem Assim, admite-se o conceito de eventos extremos como eventos concretos,
garantido, de modo critico,
conceitos consistentes e
pois são apreendidos como os principais geradores das adversidades climáticas,
classificação segundo seus ou episódios que causam algum impacto social, ou que proporcionam a sucessão
tipos, sua gênese e seus
impactos. Se você quiser
significativa de danos à sociedade (MONTEIRO, 1991).
se aprofundar nesses con-
Entendidos sob essa ótica, esses eventos só podem ser observados na relação
ceitos, termos e formas de
analisar esses processos, entre clima e sociedade, ou seja, por meio das estruturas dos sistemas socioeco-
indicamos a leitura do livro
nômicos, socioambientais e socioespaciais no escopo da produção do espaço. Nes-
Prevenção de desastres natu-
rais: conceitos básicos. se escopo, os extremos climáticos destacam-se como um elemento condicionante
KOBIYAMA, M. et al. Curitiba: Organic para manifestações e ocorrência de desastres – isto é, um fenômeno natural iden-
Trading, 2006.
tificado como deflagrador potencial na geração de danos, prejuízos e mortes.
Figura 5
Esquema representativo dos tipos de desastres naturais
Macrovector/Shutterstock
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100 Climatologia
O risco é um conceito importante na análise da dinâmica e da ocorrência dos
desastres naturais, já que perpassa pelas noções de limites, segurança, adaptabili-
dade, capacidade de suporte, crises, exposição, suscetibilidades e vulnerabilidades.
Em específico, os riscos naturais resultam da associação entre fenômenos decor-
rentes de processos naturais perigosos (eventos extremos) agravados pela ativida-
de humana e sua territorialização (VEYRET, 2007).
Artigo
http://osocialemquestao.ser.puc-rio.br/media/OSQ_33_6_Dutra.pdf
Uma diversidade de conceitos de riscos naturais tem sido formulada para interpretar a socie-
dade atual. Podemos considerar o risco natural em pelo menos três possibilidades, segundo
Adriana Dutra: a) uma probabilidade – que valoriza processos estatísticos para admitir a ocor-
rência espacial e temporal de um fenômeno perigoso acontecer; b) uma construção social
– que valoriza a identificação dos perigos naturais identificados segundo uma coesão social;
c) um mecanismo de luta – que atende ao princípio de efetivação de direitos para garantir
segurança e proteção civil com relação à série de ameaças identificadas e ao aumento da
qualidade de vida. Por esse aspecto, indicamos a leitura do artigo Problematizando o conceito
de risco, publicado em 2015 na revista O Social em Questão.
Se por um lado, pela primeira vez na história, o ser humano teve uma visão
abrangente e pôde estabelecer os limites do planeta e das suas atividades, por
outro, ele também foi colocado como vítima e agressor do ambiente, exigindo in-
clusive transformações e críticas ao atual modelo de desenvolvimento.
O sentido prático para efetivação dessa ideia deve integrar-se aos estudos geo-
gráficos dos riscos e às formações socioespaciais dos lugares, ou seja, ao conjunto
das relações natureza-sociedade na história e das práticas estabelecidas pelos di-
ferentes grupos sociais, seus modelos de desenvolvimento e projetos de futuro.
Além disso, nossas práticas podem ser subsidiadas por parâmetros legais para
a tomada de decisão dos setores públicos, privados e de proteção civil. Nosso pa-
pel é elaborar análises para empreender políticas de desenvolvimento territorial e
planejamento urbano e regional, levando em consideração os aspectos legais da
legislação brasileira.
102 Climatologia
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Como qualquer saber do sistema natural, o clima é explicado por variações, que
sugerem a alternância de tempos estáveis e instáveis, secos e úmidos, frios e quen-
tes, glaciais e interglaciais. No período contemporâneo, esse caráter tem colocado o
clima como uma das principais questões ambientais nos mais variados setores da
sociedade.
Essas discussões estão associadas fundamentalmente ao advento das tecnologias,
sobretudo das técnicas de sensoriamento remoto, do lançamento de satélites para
monitoramento planetário e da lógica matemática-computacional para representação
do clima como um fenômeno global.
Resta destacar que a dinâmica climática já tem sido incorporada há tempos na
produção do espaço geográfico, e podem ser visualizadas repercussões socioespa-
ciais, seja por meio do nível de sofisticação tecnológica na história do desenvolvimento,
seja pelo grau de adaptação dos sistemas naturais, sociais e produtivos à variabilida-
de climática. Assim, cada zona climática, região, cidade e comunidade oferece seus
significados em termos de indissociabilidade da sociedade e da natureza nos impactos
positivos ou negativos do clima.
ATIVIDADES
Vídeo 1. Qual é a relação entre o aquecimento global e a ocorrência de fenômenos climáticos
extremos?
REFERÊNCIAS
AB’SÁBER. A. N. A teoria dos refúgios: origem e significado. Revista do Instituto florestal, Edição especial,
São Paulo, mar. 1992.
CARTER, R. M. The myth of dangerous human-caused climate change. Australasian Institute of Mining and
Metallurgy, p. 61-74, 2009.
CASSETI, V. Geomorfologia. 2005. Disponível em: https://docs.ufpr.br/~santos/Geomorfologia_Geologia/
Geomorfologia_ValterCasseti.pdf. Acesso em: 21 jun. 2021.
CONTI, J. B. Clima e meio ambiente. São Paulo: Atual Didático, 1998.
HULME, M. Climate and its changes: a cultural appraisal. Geo: Geography and Environment, v. 2, n. 1, p.
1-11, 2015.
IPCC. Cambio climático 2007: Informe de síntesis. Contribución de los Grupos de trabajo I, II y III al Cuarto
Informe de evaluación del Grupo Intergubernamental de Expertos sobre el Cambio Climático [Equipo
de redacción principal: Pachauri, R.K. y Reisinger, A. (directores de la publicación)]. IPCC, Genebra, Suíça,
2007.
MARENGO, J. A. Mudanças climáticas, condições meteorológicas extremas e eventos climáticos no Brasil.
In: FBDS; LLOYD’S BRAZIL. Mudanças climáticas e eventos extremos no Brasil. Rio de Janeiro: FBDS, 2009.
p. 4-19.
MENDONÇA, F. Aquecimento Global e suas manifestações regionais e locais: alguns indicadores da região
Sul do Brasil. Revista Brasileira de Climatologia, v. 2, 2006.
MONTEIRO, C. A. F. Clima e excepcionalismo: conjecturas sobre o desempenho da atmosfera como
fenômeno geográfico. Florianópolis: Editora da UFSC, 1991.
OMM. Nota técnica n. 79. Mudança climática. Genebra, Suíça, 1969.
104 Climatologia
RESOLUÇÃO DAS ATIVIDADES
1 Introdução à climatologia
1. Quais são os atributos fundamentais de constituição do clima?
O clima sempre esteve presente nas preocupações humanas. Sua inclusão como
objeto científico se deu a partir da Antiguidade grega, quando foi usado para explicar
as relações entre povos, culturas e lugares, e pela elaboração dos conceitos de
meteorologia e Klima. Na modernidade, com a inclusão dos estudos geográficos
sobre as paisagens e a incorporação do método científico, surgiram os conceitos
de tempo e clima.
2 Escalas do clima
1. Como as escalas podem ser estruturadas e combinadas?
Tradicionalmente, as escalas podem ser estruturadas como zonal, regional,
sub-regional, local, topoclima e mesoclima. Contudo, é mais interessante que
elas sejam estruturadas por meio da totalidade espaçotemporal do clima e dos
processos que envolvem o ritmo local, a variabilidade regional e as mudanças
globais. A combinação deve garantir os níveis de especialização, organização e
generalização.
3 A atmosfera da Terra
1. Explique as principais características da atmosfera pretérita, primitiva e
atual.
A atmosfera pretérita pode ser descrita como a que se formou a partir da redução
do movimento de rotação e o resfriamento da Terra no éon Hadeano, basicamente
dos primeiros gases em grande proporção, como o nitrogênio. A atmosfera primitiva
foi formada a partir do éon Arqueano e pode ser descrita como quente, úmida e
tóxica, rica em nitrogênio, enxofre, gás carbônico, vapor d’água etc. Já a atmosfera
atual, formada a partir do éon Fanerozóico, é composta basicamente de nitrogênio
e oxigênio, que somam 99% da composição, sendo 1% outros gases.
106 Climatologia
5. Qual é a particularidade da atmosfera nos estudos desenvolvidos pela
geografia e pela climatologia?
A particularidade da atmosfera nos estudos desenvolvidos pela geografia é
basicamente associada às formas como as sociedades se relacionam entre si e
com a natureza. Nesse caso, a atmosfera pode ser usada como espaço geográfico
quando atende às necessidades de transporte, comunicação, atividades turísticas,
conhecimento e degradação. Em particular, a atmosfera que interessa aos estudos
do clima é concentrada na camada inferior, a troposfera, que também pode ser
chamada de atmosfera geográfica, porque, além de ser de primeiro contato com as
atividades humanas, é a que concentra os fenômenos meteorológicos e climáticos.
4 Dinâmica climática
1. Quais condições atmosféricas são favoráveis à concentração de poluentes
e qual impacta diretamente as operações em aeroportos e transportes
aéreos?
Das condições atmosféricas apresentadas as favoráveis à concentração de
poluentes são aquelas nas quais a atmosfera funciona como se fosse um tampão,
impedindo movimentos verticais do ar. E o que impacta diretamente as operações
em aeroportos e transportes aéreos é a condição em que os movimentos de
convecção são muito intensos e provocam fortes ventos, chuvas e baixa visibilidade.
4. Quais sinais podem ser observados na fase de anúncio de uma frente fria?
Os sinais que podem ser observados na fase de anúncio de uma frente fria são a
presença de nuvens tipo cirros e halo (solar e lunar) e a formação de nuvens do tipo
autocumulus. Na fase de instalação da frente fria observa-se a formação de nuvens
de desenvolvimento vertical, como cumulunimbus.
6 Mudanças climáticas
1. Qual é a relação entre o aquecimento global e a ocorrência de fenômenos
climáticos extremos?
A relação entre o aquecimento global e a ocorrência de fenômenos climáticos
extremos é que, nos últimos 160 anos, houve aumento na ordem de 1,1 ºC da
temperatura média global, e, em decorrência desse aumento, são previstas
alterações e modificações no sistema climático como um todo, que são
sumariamente interpretados por meio de impactos concretos e que indicam
perigos aos sistemas naturais, sociais e produtivos.
108 Climatologia
2. Como os fenômenos climáticos tornam-se perigosos?
Os fenômenos climáticos tornam-se perigosos quando são observados na relação
com as estruturas dos sistemas socioeconômicos, socioambientais e socioespaciais,
destacando-se como deflagradores de impactos com diferentes intensidades e
muitas consequências (danos, prejuízos e mortes), ou seja, quando se efetivam
sobre as vulnerabilidades e as formas de exposição a desastres no escopo da
produção do espaço geográfico.
9 786558 210443
CL I M AT OL OG I A
Código Logístico
59919