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A dinâmica da

Terra e seus ciclos


Nelize Lima dos Santos

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Diferenciar os três sistemas da Terra.


>> Identificar as camadas internas da Terra e suas propriedades.
>> Relacionar os ambientes geotectônicos com o ciclo geológico das rochas.

Introdução
A estrutura interna da Terra é composta por uma série de camadas que variam
de acordo com suas propriedades químicas e físicas. Essas diferenças entre as
camadas profundas do planeta provocam um fenômeno conhecido como correntes
de convecção, responsável pela redistribuição do calor interno que, por sua vez,
controla a dinâmica interna do planeta.
Neste capítulo, você conhecerá os principais sistemas da Terra e suas intera-
ções, identificando as diferentes camadas que constituem a estrutura interna do
planeta. Também compreenderá como esses componentes relacionam-se com a
tectônica de placas e, consequentemente, com o ciclo das rochas.

Sistemas da Terra
A principal característica da Terra é o seu conjunto de condições únicas e ex-
traordinárias que favorecem a existência e a estabilidade de muitas formas de
vida (TEIXEIRA et al., 2000). Isso ocorre devido à interatividade dos sistemas
que compõem o planeta, ao longo do tempo geológico. A Terra apresenta um
raio equatorial ligeiramente maior do que o polar (Figura 1), com a forma de
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um esferoide achatado nos polos — ou geoide. Essa característica fornece


informações fundamentais para o conhecimento do interior do planeta e indica
que, em profundidade, a Terra comporta-se como um fluido viscoso na escala
de tempo geológico (milhões de anos). As fontes de calor no interior terrestre
fornecem energia para as atividades de sua dinâmica interna, que condicionam
as manifestações da tectônica global na superfície. Ao mesmo tempo, a reduzida
temperatura na superfície e a presença de envoltórios fluidos recobrindo o pla-
neta permitem a existência do conjunto de ecossistemas (TEIXEIRA et al., 2000).

Figura 1. Forma da Terra.


Fonte: Baseada em Teixeira et al. (2000).

Ao longo do tempo geológico, a Terra sofreu uma série de modificações


em um processo de diferenciação em camadas concêntricas, cuja influência
pode ser observada desde a configuração atual dos continentes até a forma-
ção da atmosfera e dos oceanos. Contudo, mesmo que o planeta já tenha se
modificado significativamente desde a sua formação, ele continua mudando
por meio de atividades geológicas, como terremotos, vulcões e glaciações
(PRESS et al., 2006). O sistema Terra é constituído pela interação de todos
os componentes formados ao longo de milhares de anos juntamente com o
mecanismo externo controlado pela energia solar, que é responsável pelo
clima e pelo tempo do planeta (Figura 2) (PRESS et al., 2006).
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Figura 2. Sistema Terra em interação com a energia solar.


Fonte: Grotzinger e Jordan (2013, p. 13).

Teoria Geral dos Sistemas

Os sistemas podem ser definidos como um conjunto de componentes


que interagem entre si e funcionam de forma conjunta com o todo, apresentando
relações de troca de matéria e energia. Podem ser classificados em: sistemas
abertos, quando há troca de energia e matéria com o entorno; fechados, quando
há troca de energia, mas não há troca de matéria; e isolados, quando não trocam
matéria, nem energia. Devido à complexidade dos sistemas naturais, é comum
o uso de modelos matemáticos para representá-los de forma simplificada, em
que os resultados obtidos nas simulações são comparados com os encontrados
na natureza.

Clima
O subsistema do clima inclui todas as propriedades e interações dos compo-
nentes do sistema Terra necessárias para determinar o clima em uma escala
global e descobrir como ele muda com o tempo (PRESS et al., 2006), envol-
vendo as diversas esferas externas da Terra, litosfera, biosfera, hidrosfera e
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atmosfera. Esse subsistema é controlado pelo balanço entre a energia solar


que chega até a Terra e a energia que irradia do planeta de volta para o espaço.
O sistema climático é governado pelas variações do influxo de energia solar
nos ciclos sazonais e diários, portanto, analisadas em termos das médias de
temperatura e outras variáveis obtidas durante muitos anos de observação
(PRESS et al., 2006). Outros fatores, além da energia solar e dos movimentos
orbitais da Terra, influenciam esse sistema: distribuição de terras e mares,
topografia terrestre e oceânica e composição da atmosfera e dos oceanos.
A interação entre esses fatores intervém na configuração do clima, na distri-
buição de calor na superfície terrestre e nos movimentos de ar, determinando
os diferentes tipos de clima do planeta. Para compreender os fluxos e ciclos
de energia no sistema climático global, é necessário conhecer as esferas que
interagem e influenciam o clima (PRESS et al., 2006).

Atmosfera —É a camada mais externa do planeta, formada pela mistura de


diferentes gases e partículas em suspensão. Essa esfera é formada por nitrogê-
nio (78%), oxigênio (21%), argônio (0,93%), dióxido de carbono (0,035%) e gases
menores, que incluem o vapor d’água e o ozônio, que tem papel importante
na proteção da biosfera contra os raios ultravioletas. A atmosfera é a parte
mais móvel do sistema climático, e suas células de circulação transportam
ar frio e quente ao redor do globo em um curto período.

Hidrosfera — É a camada que inclui toda a água presente no planeta, envol-


vendo oceanos, rios, lagos, entre outros elementos, que correspondem a 70%
da superfície do planeta, bem como águas subterrâneas (PRESS et al., 2006).
A hidrosfera pode apresentar-se nos estados sólido (gelo e neve), líquido e
gasoso. Apesar de grande parte da água líquida concentrar-se nos oceanos,
a água subterrânea exerce um importante papel no sistema climático, como
reservatórios de umidade continental, sistema de transporte para a precipi-
tação que retorna aos oceanos e fornecimento de sais e outros minerais. As
correntes oceânicas formadas pelos ventos são eficientes transportadoras
de energia do Equador para regiões polares responsáveis por influenciar o
clima global. As águas em estado sólido, especialmente o gelo, influenciam o
sistema climático por refletir a radiação solar recebida e estabilizar a trans-
ferência de energia na atmosfera.

Biosfera — É a camada que compreende toda a vida no planeta, podendo


estar presente em ambientes terrestres, aquáticos e aéreos. Em ambientes
terrestres, a presença de grandes florestas influencia o balanço de energia do
sistema climático global e, em ambientes marinhos, os plânctons reduzem o
fluxo de gases do efeito estufa na atmosfera (PRESS et al., 2006). Além disso,
A dinâmica da Terra e seus ciclos 17

vários estudos indicam os seres humanos como agentes ativos nas mudanças
climáticas globais.

Litosfera — Essa camada é composta pelos solos, sedimentos e rochas. Trata-


-se de uma camada sólida que forma as crostas oceânicas e continentais,
bem como a parte superior do manto terrestre, possuindo uma espessura
que varia entre 50 e 200km (TOLEDO, 2014). A porção da litosfera que mais
influencia o sistema climático é a superfície continental, que representa 30%
da área total do planeta e afeta o modo como a energia solar é absorvida e
refletida pela atmosfera (PRESS et al., 2006). O relevo dessas massas conti-
nentais também possui efeito direto no clima, pois influencia os ventos e a
circulação atmosférica e, no fundo oceânico, interfere nas correntes marinhas.
A atividade vulcânica pode afetar o controle do balanço de energia, porque
essas erupções lançam aerossóis e outros materiais particulados que atuam
bloqueando a radiação solar e diminuindo a temperatura da atmosfera.

Tectônica de placas
A tectônica de placas pode ser descrita como a movimentação de placas
rígidas, compostas por crosta oceânica e/ou continental e compartimentadas
por falhas e fraturas profundas, na superfície terrestre (Figura 3). Essas placas
movimentam-se sobre as camadas mais profundas do planeta influenciadas
pelas diferenças de calor interno da Terra que formam correntes de convecção
no manto, constituindo o sistema de tectônica de placas.
O alto fluxo de calor que ascende do manto, ao atingir as zonas mais
superficiais do interior da Terra, perde calor e movimenta-se lateralmente,
afastando as placas tectônicas sobrejacentes e formando uma zona de re-
baixamento na superfície cada vez mais baixa com relação ao nível do mar. A
continuidade desse processo resulta no afogamento dessa área que tende a
evoluir para um ambiente oceânico. Na medida em que essas áreas se afastam,
são formadas as dorsais meso-oceânicas, em um processo conhecido como
expansão do assoalho oceânico com geração de nova crosta (TEIXEIRA et al.,
2000). No lado oposto, regiões das trincheiras oceânicas, as placas podem
sofrer um processo de subducção, voltando para o interior da Terra ou, caso
apresentem características físicas como densidade, similares às placas,
colidem, formando grandes cadeias de montanhas ou arcos de ilhas.
As feições geológicas que serão formadas dependem dos tipos de placas
tectônicas que estão interagindo entres si, pois cada uma delas apresenta
características químicas e físicas distintas. A crosta continental é composta
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por rochas que variam de ácidas a ultrabásicas, formadas por minerais menos
densos, com espessura média variando entre 25 e 50km (PRESS et al., 2006). A
crosta oceânica possui composição litológica mais homogênea, formada por
rochas básicas a ultrabásicas, portanto, mais densas, apresentando espessura
média que varia entre 5 e 10km, por ser mais nova do que a crosta continental.

Figura 3. Relação entre as crostas oceânica e continental.


Fonte: Adaptada de van der Pluijm e Marshak (2004).

Assim como no sistema do clima, que envolve uma ampla variedade de


processos convectivos na atmosfera e nos oceanos, os cientistas estudam as
placas tectônicas usando simulações computadorizadas para representar o
que pensam ser os mais importantes componentes e interações.

Geodínamo
O sistema geodínamo é resultado do campo magnético da Terra que, se-
gundo experimentos de Gauss em 1838, origina-se 95% em seu interior, e
somente uma parte provém de fontes externas (TEIXEIRA et al., 2000), fica
registrado nas rochas da superfície e ultrapassa os limites do planeta. No
interior terrestre, os campos magnéticos são gerados no núcleo externo, que
é composto, principalmente, por ferro e apresenta movimentos convectivos,
que induzem correntes elétricas um milhão de vezes mais rápido do que no
manto sólido (PRESS et al., 2006).
Um campo magnético pode ser visualizado como linhas de força que
apontam para fora do solo no polo norte magnético e para dentro no polo sul
magnético (PRESS et al., 2006). Podemos imaginar a Terra como uma esfera
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cujo centro apresenta um dipolo (dois polos) com eixo magnético inclinado
cerca de 11° com relação ao eixo de rotação da Terra (eixo geográfico) (Figura
4). Esses polos magnéticos migram a uma velocidade de cerca de 0,2° por
ano ao redor do eixo geográfico, descrevendo uma trajetória irregular, mas,
em geral, sem se afastar mais do que 30° do eixo (TEIXEIRA et al., 2000). A
migração dos polos magnéticos faz com que o campo magnético inverta a
sua direção ao longo do tempo (milhões de anos) trocando o polo norte pelo
sul e vice-versa.

Figura 4. Campo magnético terrestre.


Fonte: Grotzinger e Jordan (2013, p. 17).

Cerca de 5% do campo magnético terrestre é não dipolar e comporta-se


de maneira diferente para cada região da superfície. Por isso, a conjunção
desses dois campos provoca desvios em todas as linhas de força do campo
magnético, resultando em uma distribuição de intensidades diferente daquela
esperada para um campo dipolar: menor próximo ao Equador e maior em
direção aos polos — 60.000nT no polo magnético norte e 70.000nT no polo
magnético sul (TEIXEIRA et al., 2000).
A intensidade do campo geomagnético varia com períodos muito lentos,
por isso o conjunto dessas variações recebe o nome de variação secular.
Essa variação é utilizada para entender a convecção no núcleo externo. Com
a ajuda de computadores de alta capacidade, os cientistas têm conseguido
simular movimentos convectivos complexos e interações eletromagnéticas
no núcleo externo que o geodínamo deve estar criando (PRESS et al., 2006).
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No artigo “O registro da variação secular geomagnética em um es-


peleotema do centro-oeste do Brasil: resultados preliminares”, de
Jaqueto et al., é possível observar como o uso de registros contínuos de direção
(declinação e inclinação) e intensidade de estruturas geológicas pode fornecer
dados de alta resolução temporal e espacial sobre o comportamento do campo
magnético terrestre.

Camadas internas da Terra


A estrutura interna da Terra consiste em camadas concêntricas heterogêneas
que diferenciam-se em razão de suas composições químicas e mineralógi-
cas, bem como de suas características físicas, como densidade, espessura,
temperatura, pressão e estado físico (Figura 5). Os estudos sobre o interior
terrestre são realizados de maneira indireta, por meio da análise de dados
sísmicos obtidos pelo registro dos diversos terremotos ocorridos ao longo
dos anos, o que possibilitou a construção de curvas de tempo-distância
das ondas refletidas e refratadas, permitindo estimar as densidades, os
parâmetros elásticos ou a composição mineralógica e química das rochas
no interior do planeta (TEIXEIRA et al., 2000).
A dinâmica da Terra e seus ciclos 21

Figura 5. Variação nas velocidades sísmicas, densidade, pressão e temperatura entre as


camadas internas da Terra.
Fonte: Toledo (2014, p. 53).

Alguns modelos foram estabelecidos para decifrar a estrutura interna


da Terra a partir da integração dos dados sísmicos obtidos e estimados. Os
principais modelos baseiam-se nas características químicas e físicas das
camadas profundas do planeta. O modelo fundamentado na composição
geoquímica subdivide o interior da Terra em crosta, manto e núcleo, enquanto
o modelo com base nas propriedades físicas (geodinâmicas) compartimenta
o planeta nas camadas litosfera, astenosfera, mesosfera e endosfera (DIAS
et al., 2013) (Figura 6).
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Figura 6. Divisão geoquímica e geodinâmica da Terra.


Fonte: Toledo (2014, p. 54).

A camada mais profunda da Terra – portanto, a mais densa – é o núcleo,


composto por uma liga metálica de ferro e níquel, embora alguns estudos
indiquem que a sua composição inclua misturas de elementos mais leves. O
núcleo terrestre é compartimentado em núcleo interno e externo. Estima-
-se que o núcleo interno (densidade de 11 g/cm3 e temperatura acima de
3000°C) seja sólido devido às altas condições de pressão, ocorra abaixo da
profundidade de 5.155km (PRESS et al., 2006) e movimente-se a velocidades
ligeiramente mais altas do que o resto do planeta (TEIXEIRA et al., 2000), já
que o núcleo externo (densidade de 10 g/cm3 e temperatura acima de 5250°C)
que o envolve, entre as profundidade de 2.885 e 5.155km (PRESS et al., 2006),
apresenta-se em um estado líquido capaz de gerar correntes de convecção.
O manto é a camada que envolve o núcleo, abrangendo as profundidades
e podendo começar a partir de 5km até 2.885km (PRESS et al., 2006). Essa
camada é subdividida em outras três: manto inferior, manto intermediário e
manto superior, ocupando a maior parte da Terra. As rochas que compõem
o manto apresentam densidade intermediária e são formadas por magnésio,
ferro e silício combinados com oxigênio. Apesar de sólidas, apresentam um
comportamento viscoso que permite a geração de correntes de convecção.
Nas zonas mais internas, o manto inferior, que ocorre entre 1.050 e
2.885km de profundidade, apresenta densidade que varia entre 5,4 e 4,6g/
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cm3, e temperaturas em torno de 2.800–1.800°C (TOLEDO, 2014). Nas zonas


intermediárias, o manto apresenta composição menos densa (4,6 a 3,38g/cm3)
devido à diminuição da temperatura (1.800–1.300°C) e pressão. Essa região
é vista como uma zona de transição e vai de 400 a 1.050km de profundidade
(TOLEDO, 2014). Acima dessas profundidades, encontra-se o manto superior,
cujo limite mais superficial depende da espessura da crosta, camada que
o sobrepõe. Essa porção do manto apresenta densidade que varia de 3,2 a
3,7g/cm3 (TEIXEIRA et al., 2000).
Os materiais que ocupam a superfície da Terra resfriaram-se, formando
uma fina camada sólida conhecida como crosta terrestre, que corresponde a
0,7% da massa do planeta (PRESS et al., 2006). Essa camada é constituída por
materiais relativamente leves com temperaturas de fusão baixas, composta
por silício, alumínio, cálcio, magnésio, sódio, potássio e ferro combinados com
oxigênio. É compartimentada em duas subcamadas: crosta oceânica e crosta
continental. Essas subcamadas diferem-se entre si quanto a composição,
densidade, idade, gênese e evolução.

Diferenciação das camadas internas da Terra

A Terra evoluiu de um massa rochosa não segregada para um planeta


com diferentes camadas concêntricas devido ao processo de diferenciação
química e física. Durante os primeiros anos da sua história, como resultado de um
grande impacto com outros corpos celestes, o planeta adquiriu calor suficiente
para se fundir, dando início à formação das camadas internas da Terra. Nesse
processo, os materiais mais densos migraram para as regiões mais profundas
formando o núcleo, enquanto os materiais menos densos migraram para as
regiões mais superficiais formando a crosta (PRESS et al., 2006).

Fonte: Grotzinger e Jordan (2013, p. 229).


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A crosta continental apresenta espessura muito variável, de 30 a 40km


nas regiões sismicamente estáveis (mais antigas), conhecidas como crátons,
até 60/80km nas cadeias de montanhas típicas de ambientes com alta ati-
vidade sísmica (TEIXEIRA et al., 2000). Essa porção da crosta possui cerca de
2,5g/cm3 de densidade e composição mineralógica granítica (mais de 66% de
SiO2) (PRESS et al., 2006). A crosta continental vem se formando ao longo da
história do planeta e, por ser preservada em sua superfície, apresenta idade
de 4,5 bilhões de anos.
A crosta oceânica também apresenta grande variação na espessura. Em
regiões onde localizam-se os processos de geração de crosta (cadeias meso-
ceânicas), ela pode apresentar-se mais fina do que a média (TOLEDO, 2014).
Essa porção da crosta possui cerca de 3,0g/cm3 de densidade e composição
mineralógica basáltica entre 45 e 52% de SiO2 (PRESS et al., 2006), em razão
da constante geração e destruição desse tipo de crosta. Sua idade é de cerca
de 180 milhões de anos.

Quadro 1. Diferenças entre a crosta oceânica e a continental

Composição A crosta continental tem uma composição média menos


máfica (basáltica) que a da crosta oceânica.

Modo de A crosta continental é um amálgama de rocha que


formação se formou em arcos vulcânicos ou hot spots e,
posteriormente, passou pelo ciclo de rocha. A construção
de montanhas, a erosão, a sedimentação e o vulcanismo
contínuo aumentam ou alteram a crosta continental.
Toda crosta oceânica se forma nas dorsais mesoceânicas
pelo processo de expansão do fundo do mar.

Espessura A crosta continental possui entre 25 e 70km de


espessura; já a maior parte da crosta oceânica tem entre
6 e 10km de espessura. Assim, a crosta continental é mais
espessa que a crosta oceânica.

Heterogeneidade A crosta oceânica pode ser subdividida nas mesmas


camadas distintas em todo o mundo. A crosta continental
é muito heterogênea, refletindo sua história complexa e
o fato de que diferentes regiões da crosta continental se
formaram de maneiras diferentes.

(Continua)
A dinâmica da Terra e seus ciclos 25

(Continuação)

Idade A crosta continental é flutuante em relação ao manto


superior, portanto, não pode ser subduzida. Assim,
porções da crosta continental são muito antigas (a
crosta mais antiga conhecida tem cerca de 4Ga). A maior
parte da crosta oceânica é carregada de volta para o
manto durante a subducção, dessa forma, não há crosta
oceânica na Terra com mais de 200Ma, com exceção da
crosta oceânica em ofiolitos que foram colocados e
preservados nos continentes.

Descontinuidade A Moho na base da crosta oceânica é muito acentuada,


(Moho) sugerindo que a fronteira entre a crosta e o manto é
nítida. A Moho continental tende a ser menos nítida.

Fonte: Adaptado de van der Pluijm e Marshak (2004).

Os limites entre as camadas na divisão geoquímica são chamados de des-


continuidades e caracterizam mudanças relativamente bruscas de composição
química que resultam em modificações no estado físico do material submetido
a pressões e temperaturas crescentes no interior da Terra (TOLEDO, 2014).
A descontinuidade que separa a crosta do manto apresenta profundidade
variável a depender da espessura da crosta continental e oceânica, chamada
de Mohorovicic. O limite manto/núcleo exterior é marcado pela desconti-
nuidade de Gutenberg a 2.885km de profundidade, indicando que o manto
forma 83% do volume da Terra (TEIXEIRA et al., 2000). Entre o núcleo externo
e interno, existe a descontinuidade de Lehman, que marca a mudança no
estado físico dos núcleos a 5.155km de profundidade.
O interior da Terra também costuma ser analisado com base em sua di-
visão geodinâmica (Figura 6), enfatizando a diferença do comportamento
mecânico e dos compartimentos internos, útil para os estudos da tectônica
global. Nesse modelo, a litosfera corresponde a uma espessa camada rígida
que compreende tanto a crosta quanto a porção mais superior do manto,
formando as placas tectônicas cuja profundidade média tem cerca de 100km
(PRESS et al., 2006). A astenosfera equivale a uma fina camada imediatamente
abaixo da litosfera, responsável pela movimentação lateral e horizontal das
placas tectônicas, pois apresenta comportamento dúctil. Sob essa camada,
está a mesosfera, que estende-se até o limite com o núcleo externo, líquido
e denso, seguido do núcleo interno sólido (TEIXEIRA et al., 2000).
26 A dinâmica da Terra e seus ciclos

Tectônica de placas e ciclo geológico


De acordo com a Teoria da Tectônica de Placas, a litosfera consiste em cerca
de vinte placas distintas que se movem lentamente uma em relação à outra
(VAN DER PLUIJM; MARSHAK, 2004), existindo três tipos de limites de placas
tectônicas. Nos limites divergentes, é formada nova crosta e, em razão da
continuidade do afastamento das placas, essas regiões podem formar as
dorsais mesoceânicas. Nos limites transcorrentes, não há geração nem con-
sume de crosta, pois as placas deslizam lateralmente entre si.
Nos limites convergentes, ocorre a colisão das placas, podendo ser oce-
ânica-oceânica, com a formação de arcos de ilhas, oceânica-continental,
quando a placa oceânica entra em subducção com relação à placa continental,
e continental-continental, formando as grandes cordilheiras de montanhas.
As forças internas que permitem a movimentação das placas resultam da
capacidade de fluir do manto. Essa característica gera transferência de calor,
que transporta o material aquecido pelo núcleo para regiões mais superficiais
do interior da Terra, fazendo com que o material mais frio afunde.
Esse fenômeno ocorre quando um foco de calor localizado começa a atuar,
produzindo diferenças de densidade entre o material aquecido e mais leve
e o material circundante mais frio e denso (TEIXEIRA et al., 2000). As formas
como ocorrem essas correntes de convecção ainda não são consenso den-
tro da comunidade científica, alguns cientistas acreditam que as correntes
atuam apenas na astenosfera, enquanto outros afirmam que elas ocorrem
abrangendo todo o manto (Figura 7).

O artigo “A história recente das Ciências da Terra como estratégia de


ensino para confrontar representações epistemológicas ingênuas”,
de Leonor Bonan, apresenta de forma simplificada a evolução das pesquisas
sobre convecção do manto e explora a controvérsia entre os diferentes modelos.
A dinâmica da Terra e seus ciclos 27

Figura 7. Correntes de convecção: (a) modelo onde as correntes de convecção ocorrem so-
mente na astenosfera; (b) modelo onde as correntes de convecção envolvem todo o manto.
Fonte: Adaptada de Teixeira et al. (2000).

Nos pontos de insurgência das fontes de calor, são desenvolvidas as mar-


gens continentais passivas durante a formação de novas bacias oceânicas,
que ocorrem em razão da fragmentação de continentes, em um processo
conhecido como rifteamento (TEIXEIRA et al., 2000). Esse processo provoca o
soerguimento da crosta continental, na medida em que ocorre o movimento
distensivo, acontece o estreitamento da crosta até que ocorra a ruptura e o
desenvolvimento de uma crosta oceânica. Com a continuidade do processo
distensivo uma nova crosta oceânica é formada, constituindo as dorsais
mesoceânicas e empurrando a crosta oceânica em um processo conhecido
como expansão do assoalho oceânico.
O uso de sonares para o mapeamento do fundo do mar permitiu a des-
coberta das dorsais oceânicas e, juntamente com a determinação da idade
verdadeira das rochas oceânicas e do reconhecimento das variações mag-
néticas no fundo do oceano, foram utilizados para confirmar a expansão
do assoalho oceânico e indicar que a crosta oceânica torna-se mais velha à
medida que se distancia das cadeias nos limites divergentes. A formação de
nova crosta oceânica força a placa tectônica a se movimentar e empurrar o
limite oposto da placa contra as placas adjacentes, dando início ao processo
de subducção da parte mais distante da dorsal mesoceânica e, portanto, mais
fria e densa. Esse processo resulta na quebra da crosta e, consequentemente,
no mergulho da placa mais densa sobre a menos densa.
Quando placas oceânicas colidem, a placa mais densa, mais antiga, mais
fria e mais espessa mergulha sob a outra placa em direção ao manto, onde
irá se fundir (TEIXEIRA et al., 2000). Contudo, se a colisão for entre um placa
oceânica e uma continental, ocorrerá o processo de subducção da placa
28 A dinâmica da Terra e seus ciclos

oceânica, desenvolvendo uma margem continental ativa identificada através


do arco magmático formado na borda do continente.
A continuidade do processo de subducção poderá provocar a colisão entre
duas placas continentais. Nessa condição, a placa mais densa mergulha sob
a outra, porém são formadas grandes cordilheiras de montanhas, visto que
as duas placas apresentam altos valores de densidade, portanto, tendem a
competir. O ciclo da tectônica de placas é completo quando a crosta que é
consumida na zona de subducção é reciclada no manto e, por fim, retorna à
superfície na medida em que a nova crosta é criada ao longo dos centros de
expansão das dorsais mesoceânicas (PRESS et al., 2006).

Isostasia e soerguimento
A isostasia é a condição de busca do equilíbrio das massas litosféricas sobre
a astenosfera, refletindo-se em movimentos verticais da superfície da crosta
terrestre e seu relevo para o alto ou para baixo até a estabilização isostática
(FERREIRA, 1980). As compensações isostáticas da crosta terrestre controlam
tanto os processos de soerguimento associados às cadeias de montanhas
denominadas orogênese quanto a subsidência e geração de depressões
e bacias sedimentares pela atuação de falhas (tafrogênese) (FAUSTINONI;
CARNEIRO, 2015). Assim, uma região está em equilíbrio isostático quando
não há movimentos verticais, subsidência (rebaixamento) ou soerguimento
(elevação) causados, respectivamente, por ganho ou perda de massa na
superfície (TOLEDO, 2014).
Os dois modelos mais conhecidos que explicam o equilíbrio das massas
litosféricas sobre a astenosfera são os modelos de Airy e de Pratt. No modelo
de Airy (Figura 8a), os blocos possuem a mesma densidade, porém apresentam
alturas diferentes, por isso os blocos mais altos são também mais profundos.
No modelo de Pratt (Figura 8b), os blocos possuem densidades e alturas dife-
rentes, apresentando constante o produto da altura pela densidade, assim,
as bases de todos os blocos ficam na mesma profundidade (DUARTE, 2003).
A dinâmica da Terra e seus ciclos 29

Figura 8. Isostasia: (a) modelo de Ayri; (b) modelo de Pratt.


Fonte: Adaptada de Toledo (2014).

A topografia resultante das diferenças de densidade na crosta é variável


devido a mudanças de espessura dos pacotes litosféricos. O acúmulo de
material gera sobrepeso e, consequentemente, ocorre afundamento da região,
enquanto o alívio de peso pode induzir emergência do terreno (FAUSTINONI;
CARNEIRO, 2015).

Ciclo das rochas


O caráter dinâmico da litosfera terrestre resulta em uma série de transfor-
mações nas rochas que afloram na superfície do planeta. Essas mudanças
refletem em sua composição mineralógica e em suas características estru-
turais, dando origem a três grupos de rochas: sedimentares, magmáticas e
metamórficas. O magma, material que compõe o interior da Terra, quando
ascende e é exposto a condições de temperatura e pressão mais baixas,
solidifica-se, formando as rochas magmáticas, também chamadas de ígneas.
As rochas magmáticas são classificadas em extrusivas, quando a solidifica-
ção acontece de maneira rápida na superfície devido à expulsão do magma
causada pelas erupções vulcânicas, ou intrusivas, quando o resfriamento do
magma ocorre lentamente ainda no interior do planeta, porém em porções
mais superficiais da crosta.
Essas rochas, quando submetidas aos agentes intempéricos da superfície
terrestre, são desgastadas química e fisicamente, seus fragmentos são trans-
portados pela ação da água, vento e/ou gelo e depositados em uma bacia
sedimentar. Devido à compactação e/ou cimentação, esses fragmentos sofrem
um processo que os une, conhecido como diagênese ou litificação. Tanto as
30 A dinâmica da Terra e seus ciclos

rochas magmáticas quanto as sedimentares podem retornar ao interior da


Terra nas zonas de subducção e sofrer transformações químicas e físicas
chamadas de metamorfismo, que ocorrem devido ao aumento de temperatura
e pressão, mas sem que seja atingido o ponto de fusão das rochas. As rochas
metamórficas podem soerguer à superfície terrestre, ficando sujeitas aos
processos de formação das rochas sedimentares. A Figura 9 demonstra como
ocorre o ciclo das rochas.

Figura 9. Ciclo das rochas.


Fonte: Adaptada de Press et al. (2006).

A distribuição litológica da crosta continental indica que 95% do seu


volume total corresponde a rochas cristalinas (magmáticas e metamórficas),
e apenas 5%, a rochas sedimentares, indicando que as rochas sedimentares
representam uma fina lâmina rochosa que se dispõe sobre as magmáticas e
A dinâmica da Terra e seus ciclos 31

metamórficas, consideradas principais na constituição da crosta continental


(TEIXEIRA et al., 2000).

Referências
DIAS, A. J. G. et al. Endosfera. Revista de Ciência Elementar, v. 1, n. 1, p. 57, 2013.
DUARTE, O. O. Dicionário enciclopédico inglês-português de geofísica e geologia. 2. ed.
Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Geofísica, 2003.
FAUSTINONI, J. M.; CARNEIRO, C. D. R. Movimentos da crosta e relações entre tectônica
e dinâmica atmosférica. Terræ Didatica, v. 11, n. 3, p. 173–181, 2015.
FERREIRA, J. B. Dicionário de geociências. Ouro Preto: Fundação Gorceix, 1980.
GROTZINGER, J.; JORDAN, T. Para entender a terra. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
PRESS, F. et al. Para entender a terra. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.
TEIXEIRA, W. et al. Decifrando a terra. São Paulo: Oficina de Texto, 2000.
TOLEDO, M. C. M. Estrutura interna da Terra. In: TOLEDO, M. C. M.; TEIXEIRA, W.; BOUROTTE,
C. L. M. Geologia. São Paulo: USP/Univesp/EDUSP, 2014. v 1, cap. 3. (Licenciatura em
ciências. Módulo 2: Ambiente da Terra).
VAN DER PLUIJM, B. A.; MARSHAK, S. Earth structure: an introduction to structural
geology and tectonics. 2nd ed. New York: W. W. Norton, 2004.

Leituras recomendadas
BONAN, L. A história recente das ciências da terra como estratégia de ensino para
confrontar representações epistêmicas ingênuas. Terræ Didatica, v. 5, n. 1, p. 4–9, 2009.
JAQUETO, P. et al. O registro da variação secular geomagnética em um espeleotema do
centro-oeste do Brasil: resultados preliminares. Latinmag Letters, v. 3, 2013. Special
Issue.

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