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História Política na Época Moderna

Resumo sumário da matéria | Junho de 2012


O nascimento do mundo moderno

O conceito de “Época Moderna” é artificial porque a história humana, apesar de ter momentos
privilegiados de aceleração, é um todo contínuo. Considera-se genericamente o ano de 1500
como o início de uma nova época porque efectivamente o séc. XV oferece diferenças notáveis
dos seus antecessores. Devemos ter em conta que consoante a perspectiva história
(económica, social, cultural, política) encontramos cortes temporais distintos. A invenção da
impressão com caracteres móveis é um marco significativo. Os humanistas da modernidade
sentiam-se, bem ou mal, com um tipo de cultura diferente da que tinha a Idade Média, a
“idade tenebrosa”. A partir do séc. XVI já se fala na História Universal – Tierno Galvan formulou
uma lista de mudanças que considera fazerem parte da nova Idade: alteração do erotismo
divino pela sexualidade humana, aparecimento da análise introspectiva como método ético e
científico, interpretação da natureza desde a experimentação à indução, passagem de uma
ideologia individualista para a consciência corporativa, colocação da inteligência como valor de
mercado (o preço de um produto não corresponde apenas ao valor da sua matéria prima
somado à mão de obra), nascimento do significado espiritual ligado à utilização de roupa
interior, amor à natureza.

A Europa em 1500

Por esta altura, a Europa identificava-se, sobretudo, como Cristandade. Grande parte das
unidades geográficas não eram unas politicamente e não se reconheciam como Estados. As
rebeliões, neste período, eram constantes e “endémicas” e muitas vezes declaradas como
direito legal. As civilizações conhecidas são a indiana, a chinesa, a turco-arábica, a europeia
cristã, a americana e a africana.

Vigorava a Lei Sálica que definia que o poder real não podia passar hereditariamente para uma
mulher (era transmitido, portanto, ao elemento masculino seguinte na linha familiar). Os
parlamentos (Estados Gerais / Cortes) já existiam enquanto reuniões de representantes dos
vários grupos sociais e tinham como principal incumbência votar subsídios (=impostos). Na
Inglaterra, os representantes eram os lords. No Sacro Império Romano Germânico quase todas
as províncias tinham um landtag; o Império, no total tinha uma dieta de 3 câmaras; os vários
senhorios tinham leis distintas – o absolutismo será uma resposta a todos estes
particularismos. Os monarcas eram, na altura, primeiro que tudo, soldados que senhoriavam
os seus vassalos. Ao nível agrícola, a Europa não produzia o suficiente e não havia excedentes.
A guerra era uma preocupação constante, o que fazia com que se instalassem impostos
específicos para o seu sustento – o caso da Inglaterra é paradigmático porque possuía um
vitalício.

Normalmente os reis também desempenhavam papel de juízes e os casos que não analisavam
eram enviados para o chanceler e seus concelheiros. A Europa de 1500 tinha grandes
discrepâncias nos sistemas de justiça, contudo, todos eles com base assente na sociedade de
privilégio.
O Império de Carlos V

O monarca acumulava muitos poderes: a coroa de Aragão (1517 – 56), o Sacro Império
Romano Germânico (1519), Nápoles, Províncias Unidas e as possessões espanholas da
América. O acumular destas coroas não significava a união destes espaços; todos eles eram
independentes, mas com o rei em comum.

O Império Otomano

Era um verdadeiro amontoado político cuja expansão começou no séc. XIV a partir da
península da Anatólia (ocupando a Mesopotâmia, a Grécia e a sua última conquista,
Constantinopla). O Imperador otomano, Sultão, tinha à sua disposição um sistema de
recrutamento militar completamente dependente da sua vontade. Os “janízaros” (taxa de
rapaz) eram rapazes sensivelmente entre os 14 e os 20 anos retirados das suas famílias e
convertidos ao Islão, de entre os quais os mais inteligentes ocupariam, mais tarde, cargos de
destaque. As suas vidas eram escravizadas e pertenciam ao Sultão (no início estavam
inclusivamente proibidos de casar). O poder deste império era sobretudo terrestre e militar.
Ocuparam a ilha de Rhodes (situa-se no Mediterrâneo, entre o Chipre e Creta) expulsando de
lá os seus habitantes por se situar num ponto estratégico. Entretanto, a sua expansão continua
(1526 – Hungria) e a Cristandade via o processo como um castigo de Deus.

O ABSOLUTISMO

O conceito de Absolutismo surge bem depois de o fenómeno ter ocorrido – é uma designação,
por assim dizer, póstuma. Na sua redacção latina original, era escrito como potencia dei
absoluta na medida em que o poder tinha origem divina e, sendo um poder absoluto,
assemelhava-se também a Deus (em oposição à potencia dei ordinata que significa a lei
imutável que Deus estabeleceu no mundo)

Jean Bodin dizia que “a monarquia real ou legítima é aquela em que os súbditos obedecem às
leis do monarca e o monarca obedece às leis da Natureza”, em oposição à monarquia feudal e
medieval conseguida através da força da boa guerra (que é legítima para o país). Em Portugal,
podemos identificar como rei absolutista D. João II, mas a nível internacional, a figura mais
marcante desta acção política é, sem dúvida, Luís XIV.

É importante ter em mente que o absolutismo não é totalitarismo – é uma concentração de


poderes no monarca, sim, talvez fruto das necessidades dos Estados da época, mas não é uma
governação aleatória com acções sumárias; o monarca respeitava as leis consuetudinárias e as
constituições (leis escritas). Não significa abuso de poder, mas antes um poder centralizado.

O absolutismo acaba em França com a Revolução Francesa de 1789.


O Despotismo esclarecido ou iluminado

É considerado a “última fase” do Absolutismo régio. Acção governativa com influência das
ideias ilustradas. Repercutiu-se na contenção dos privilégios nobiliárquicos e eclesiásticos
porque estavam a constituir um obstáculo ao poder central (em Portugal a acção do Marquês
de Pombal é paradigmática). Alguns déspotas a saber: Frederico II da Prússia (que escreveu “O
Anti-Maquiavelismo”), Catarina II da Rússia (conhecida pela revolta dos camponeses),
Imperatriz Maria Teresa da Áustria (cujo filho José II afirmou “fiz da filosofia a legislação do
meu império”). Todos estes tentam imitar Luís XIV. Este tipo de acção encontrou terreno mais
fértil nos países menos desenvolvidos como as penínsulas mediterrânicas ou os Estados
acabados da Rússia ou Prússia.

O caso francês

Numa época de centralização do poder, o ducado da Bretanha era independente – um


problema? Em 1488, morre Francisco, duque da Bretanha. A sua filha, Ana da Bretanha,
sucede-lhe. Então, Carlos VIII (1483 – 98) da França vê nesta situação uma oportunidade e
invade o seu território, obrigando-a a casar-se com ele em troca do respeito pela autonomia
do território anexado pelo monarca francês. É assim que esta parte do território perde a sua
independência, passando para a França.

Luís XII (1498-1515), sucessor de Carlos VIII, quis ir ainda mais longe no que toca a conquistas.
Quis anexar Milão, contudo, foi vencido pelos espanhóis ainda em Nápoles. Como forma de
pacificação, é assinado o Tratado de Blois, em 1504, onde é devolvido Nápoles a Espanha e a
sua filha é prometida ao futuro Carlos V. Luís XII resolve convocar um Concílio não autorizado
pelo Papa que foi, naturalmente, anulado. Isto demonstra uma certa “distância” entre o
Papado e França – em resposta, Júlio II convoca um outro Concíclio, o 5º Concílio de Latrão.
Luís XII entra, então, numa dinâmica de fracassos. A esposa de Luís XII, Ana da Bretanha, morre
e ele casa-se de novo com Maria Tudor, irmã de Henrique VIII, na procura da descendência
masculina.

A Luís XII sucede Francisco I (1515 – 1547), com apenas 20 anos, que foi casado com Cláudia. O
seu reinado inicia-se com a vitória de Marignan sobre os suíços em 1515. Em Março fez saber
através do funcionário Duprat que não tinha intenção de consultar os órgãos colegiais. O
primeiro “embate” entre estes órgãos e o monarca foi aquando da assinatura da concordata
de Bolonha, que substituía a Pragmática Sanção de Bruges. Esta pragmática decidia a disciplina
geral religiosa de França e as suas relações com Roma, de forma unilateral (havia sido assinada
por Carlos VII, em 1438). A tal concordata definia que as personagens eclesiásticas passam a
ser nomeadas pelo rei, deixando ao Papa a tarefa da investidura. O parlamento recusa-se a
assinar a concordata porque se diz autónomo da Igreja francesa (acabaria por assinar em
1518).

Francisco I tenta solidificar a sua imagem através de um famoso discurso no parlamento em


1527. É durante este reinado que surgem os termos regalias do rei ou soberanias do rei. Por
outro lado a sacralização do monarca vai sendo cada vez mais intensificada. Esta nova imagem
passa a ser representada sob duas formas:

- Do ponto de vista religioso – a sua imagem vai sendo ligada à alegoria do bom pastor,
o dirigente católico que toma bem conta do seu rebanho;

- Do ponto de vista profano – as ilustrações de Francisco I assemelham-se ao ideal dos


feitos de Carlos Magno, tanto no que toca à sua ascendência (ligação aos Césares) – evolução
desta valorização para os conceitos de Kzar ou Keizer.

A Francisco I sucede-lhe o seu filho Henrique II (1547 – 1559), que foi casado com Catarina de
Médici. Seguidamente governa Francisco II (1559-1560), marido de Maria Stuart; depois, o seu
irmão Carlos IX (1560 – 1574) e posteriormente Henrique III (1574 – 1589). É a este último que
lhe sucede o marido da sua irmã, Henrique IV (1589 – 1610), também monarca de Navarra,
alterando a linha dinástica para a casa dos Bourbons. O seu descendente é Luís XIII (1610 –
1643), pai de Luís XIV.

Luís XIV, o paradigmático rei sol

Foi com Mazzarino que terminou a Guerra dos 30 anos (1618 – 48) com a Paz de Vestefália. O
grande problema que Mazzarino teve que enfrentar foi, sem dúvida, a Fronda (1648 – 52) que
começou por ser uma sublevação contra si e que acabou com o objectivo de enfraquecer a
monarquia – Fronda parlamentar (1648 – 49) e Fronda dos príncipes (1649 – 52). A morte do
ministro italiano Mazzarino, que havia governado a França desde que Richelieu falecera,
precipitaria o governo pessoal de Luís XIV (1661 – 1715) na idade dos seus 23 anos, que se viria
a caracterizar como o melhor exemplo de absolutismo régio. Preparado desde a infância por
Mazzarino para o exercício do poder real, e bastante traumatizado por ter vivido a Fronda
durante a infância, Luís XIV viria a sintetizar as suas ideias na célebre frase “L’État c’est moi” –
entendia que a grandeza da França deveria percorrer o mesmo caminho que a glória do seu
monarca. Fisicamente, procurou mostrar-se enérgico em público apesar de sofrer de males
crónicos. Sobreviveu a algumas maleitas como a varíola; foi educado segundo a etiqueta
espanhola. Disse, acerca da sua decisão de não ter ministro: “não há nada mais triste que ver
numa mão todas as funções e, na outra, o título de rei”.

Logo que assumiu governo, acumulou as funções tanto de rei como de ministro, afastou os
ministros permanentes (entre outros funcionários como Fouquet que, tendo sido procurador
geral até 1650, parecia predestinado a sucessor de Mazzarino e portanto o monarca teve que
lhe “cortar as asas”; podemos dizer que a vinda de Colbert também ajudou à sua queda),
esvaziou o concelho que havia sido a base do governo anterior. No plano social, Luís XIV
promoveu a ascensão da burguesia, dela recrutando alguns ministros (como Colbert) e
promoveu a industrialização. Colbert elaborou uma espécie de livro – catálogo com as
qualidades que um monarca absoluto deveria ter (“A soberania do rei”) como a indivisibilidade
do seu poder, a capacidade de legislar e interpretar a lei. A acção de Colbert ficou ainda
conhecida pela eliminação das “gorduras” do Estado, aumento da fiscalidade principalmente
na talha (que representava 65% das receitas do Estado, recaindo exclusivamente sobre os
camponeses), cobrança de impostos mais altos nas passagens alfandegárias, entre outros
exemplos. Desta forma conseguiu mais receitas que despesas. A sua teoria, o Colbertismo ou o
Mercantilismo, afirma que o nível de riqueza de uma nação se afere pela quantidade de metais
preciosos em posse.

Nenhum dos seus funcionários pertencia à nobreza ou ao alto clero. Para controlar a nobreza,
atraiu-a para a corte, oferecendo luxo, banquetes, festas e pensões - Palácio de Versalhes
acolhia cerca de 6 mil pessoas! Ao mesmo tempo que a vida na corte era uma compensação
aos nobres pela sua perda de poder político, era também uma compensação para o próprio
monarca, que adorava estar no centro das atenções e rodeado de cortesãos. Esta
despromoção da vida política fez com que o conde de S. Simon deixasse escrita a sua revolta. A
novidade no que toca à corte de Luís XIV era o carácter de funcionalismo público – todos os
actos quotidianos eram cerimónias públicas e conseguimos aferir da importância de
determinado cortesão consoante a tarefa que presta ao monarca (se lhe dá o bacio, se lhe
passa o roupão…).

O núcleo mais próximo do monarca correspondia aos ministros de negócios estrangeiros,


guerra, marinha e casa real. Além destes quatro secretários havia ainda um quinto elemento
integrado no grupo, o inspector-geral das finanças. As famílias que ocupavam estes cargos
eram as Colbert, Le Tellier, Phélipeaux. Colbert foi, em primeiro lugar, um homem de confiança
de Mazzarino que “desmascarou” Fouquet; um outro colaborador destacado foi o Marquês de
Louvois, que se tornou chefe do departamento de guerra – havia uma competição entre estas
duas personagens devidamente controlada pelo rei. As suas famílias eram funcionárias, da
chamada nobreza de toga.

O monarca organizava festas e espectáculos para os nobres com teatro e outros jogos no
intuito de fortalecer a sua imagem. Ampliará, para o mesmo efeito, todos os palácios reais,
porque a sua imagem é a glória de França. Construiu Versalhes, o maior de todos os Palácios
(local onde seu pai tinha edificado apenas um singelo pavilhão de caça) – significava que o
monarca não tinha medo de pernoitar fora das muralhas de Paris. Entre 1671 e 1683, cerca de
11% do rendimento da nação era directamente canalizada para Versalhes. Versalhes
influenciou a arquitectura, os comportamentos, na indumentária de corte e até no cultivo ao
gosto da língua francesa. Este investimento cumpriu, portanto, o objectivo do monarca.

Entre as várias alterações que fez aos órgãos administrativos do Estado – sempre no sentido
de o tornar mais centralizado – encontra-se a criação do cargo de Intendente Geral da Justiça,
Polícia e Finanças, cujas funções eram velar pela administração da justiça, manutenção da lei e
da ordem, julgar casos na sua comarca por si próprios (sem necessidade de critério de
igualdade entre os casos semelhantes), garantir o abastecimento e vigilância das províncias,
atentar à população influente, repressão de actividades subversivas e aplicação da fiscalidade.
Para ajudar o intendente, são nomeados subdelegados.

Em relação aos Estados Gerais, não os aboliu mas também não os convocou.

Os magistrados passaram a ser nomeados pela coroa e não eleitos e a possuir o seu ofício –
literalmente, porque era comprado ou herdado. Luís XIV ordenou que todas as províncias
publicassem em primeiro lugar a lei e só depois apresentassem reclamações à aplicação no seu
concelho, ao contrário do que acontecia até aqui (mais um mecanismo de controle).
Com esta nova realidade, os governadores das províncias ficam esvaziados de poder (reacção
do monarca poderá ter que ver com o vivido na Fronda, em que os concelhos e os seus
dirigentes eram verdadeiros pólos de agitação).

Paralelamente a esta realidade, continuavam a existir os Pays d’États (Estados Provinciais) que
tinham governos autónomos e votavam impostos igualmente de forma independente. Assim,
o monarca arranjou forma de intimidar os respectivos deputados destes governos e ameaçar
de morte as suas famílias para destruir estes direitos adquiridos. – Em 1676 Thomas Hobbes
escreveu a denunciar esta situação.

Em 1685, redefinindo totalmente a política religiosa em França, Luís XIV abole o Édito de
Nantes, que havia sido promulgado por Henrique IV, o que determinou a evasão de capitais,
levados pelos protestantes que deixavam o país. Para controlar similarmente a Igreja francesa,
adopta o princípio: “Um Deus, uma fé, uma lei, um rei”, enquanto se empenhava numa luta
pelo fortalecimento de uma Igreja nacional e combatia a questão Jansenista e enfrentava o
conflito com a minoria protestante, os huguenotes (que eram cerca de um milhão e meio à
data do início do reinado de Luís XIV). Jansenismo – Movimento de renovação nascido no seio
da Igreja fundado por 50 freiras e alguns homens que teve também uma vertente política de
crítica ao absolutismo de Luís XIV. Encarou ainda algumas conturbações com o Papado, dado
que a concordata de 1516 (assinada entre Francisco I e Leão X) ainda vigorava. Para além dos
motivos já indicados, a relação com a sua esposa secreta, a Madame de Maintenon, e a
vontade de mostrar ao Papa e aos países protestantes com quem estava em guerra que era o
rei cristianíssimo podem também ter contribuído para a intolerância religiosa. Na última fase
desta intolerância, na década de 1680, o monarca enviou soldados que permanecessem nos
lares dos huguenotes mais abastados da nação para que muitos se sentissem pressionados. O
resultado foi uma conversão ao catolicismo em massa. Em Outubro de 1685 é publicado o
Édito de Fontainebleau, que anula o de Nantes. Este édito elimina os protestantes e,
simultaneamente, proíbe-os de emigrar; apesar disso, cerca de 250 mil pessoas fizeram-no.

A sua reforma militar passou por: novo abastecimento do exército, nova forma de pagar a
soldada (salário), renovação do armamento (fabrico na fábrica de S. Étienne), preocupação
contínua com o fardamento (calças brancas e casaco vermelho), fortalecimento da disciplina,
formação sistemática na escola de cadetes, criação de laços entre os membros.

A sua política externa envolveu a França em numerosas aventuras militares, como a guerra
contra as Províncias Unidas ou a de Sucessão de Espanha.

Deixou escritas as suas “Memoires”.

MODELOS ALTERNATIVOS AO ABSOLUTISMO

Enquanto o absolutismo acontecia como inevitabilidade, outros modelos alternativos iam, na


verdade, ocorrendo – uma espécie de anomalia à Europa do tempo. O caso das Províncias
Unidas e da Inglaterra são paradigmáticos.
A Inglaterra

É com Jaime I (1603 – 25) que se dá a unificação das ilhas da Grã Bretanha. Os Stuart chegam
ao poder no séc. XVII, aspirando a um sistema absoluto. Jaime I é sucedido por Carlos I.

A primeira revolução inglesa começa em 1640, porém, a Escócia já estava em rebelião aberta
desde 1637 aquando da tentativa da implementação do Prayer Book numa sociedade
maioritariamente presbiteriana. O Parlamento Breve durou apenas 3 semanas porque Carlos I
o dissolveu face ao protesto. Convocou um novo parlamento, o Parlamento Longo (1640 – 53)
porque as tropas escocesas estavam a avançar. O parlamento foi o principal motor da
revolução, que decretou pena capital para Straford.

Na Irlanda a situação não estava melhor: os protestantes tinham atacado os católicos no Oster
– acontecimentos que guiariam a situação política até aos nossos dias e levariam à
constituição do IRA, por exemplo. O próprio parlamento criticava o rei e os seus ministros, a
quem chamavam “papistas jesuítas” e por isso foi apresentada uma moção de censura. Carlos I
pensou que se atacasse os que tinham votado favoravelmente à moção e os prendesse
acabaria com a situação de desobediência, todavia, o resultado da sua acção foi que o povo
londrino saiu à rua em força. 40 mil homens estavam no partido do monarca mas ou outros
eram um número bem superior. Nesta guerra civil houve só 2 batalhas: Marston Moor (1644) e
Naseby (1645), ambas ganhas pelos partidários parlamentaristas. Então, Carlos I procurou
auxílio na Escócia mas eles entregaram-no em troca de dinheiro! Entretanto, dados os
acontecimentos, já não eram poucos os que, à altura, se proclamavam republicanos. Destaca-
se Oliver Cromwell que vai acumulando cargos durante este processo.

Cromwell procedeu à depuração do parlamento, expulsando todos os que não concordavam


consigo, principalmente no que à religiosidade concerne. A este novo parlamento chamou-se
Rump Parliament. Condena então que Carlos I seja executado, o que viria a acontecer em
1649. Cromwell governou daí até 1658, sendo que desde ’53 como Lord Protector, negando o
título de rei. O que se estabeleceu foi então uma espécie de “ditadura militar”. Estava, assim,
abolida a monarquia.

A Irlanda, enquanto comunidade, foi destruída, o culto católico proibido e os seus terrenos
divididos. Surgem os niveladores, partidários da repartição das fortunas, que eram burgueses
insatisfeitos com a “ditadura”.

Cromwell morre em 1658 e sucede-lhe o seu filho Ricardo Cromwell, que se demite logo no
ano seguinte; não tinha a ambição ou a energia do pai e, por outro lado, tinha vários amigos na
aristocracia monárquica. Este viria a falecer em 1712. É então que se destaca Monk, um
tenente de Cromwell (pai) que, traindo os seus princípios, devolve a monarquia às mãos de
Carlos II, filho do defunto Carlos I e convoca eleições para o parlamento. Assim sendo, a
governação voltava ao que era: monarquia, câmara dos lordes e dos comuns. Aqui, em 1660,
começa e restauração e acaba a revolução.

Carlos II casou com Catarina de Bragança (a do chá) cujo dote incluía Tânger e Bombaím. É
durante este reinado que surge a Bill of Test, a obrigatoriedade de uma declaração pública de
fé para quem ocupasse cargos públicos. A Carlos II sucede Jaime II – triunfa, portanto, a
lealdade monárquica. Tem como descendentes Maria (que casou com Guilherme III de
Orange), Ana e Jaime. Jaime II não percebeu o quanto a sua posição era frágil e pretendia que
fossem abolidos os Bill of Test. O seu filho masculino foi baptizado como católico – o que foi
um escândalo porque, por ser homem, tinha prioridade no acesso ao poder face às irmãs, mas
era católico! Guilherme III de Orange invade então a Inglaterra e Jaime II, com receio, foge
para França. É então que se dá um problema constitucional: se Jaime II fugiu para França,
então, legalmente, abdicou do trono. E se abdicou do trono, então deve suceder-lhe Maria –
ou seja, o poder passa para as mãos de Guilherme III. O futuro partido liberal dizia que o
melhor a fazer era eleger um novo rei, o que era um argumento muito perigoso porque, afinal
de contas, colocava a soberania na vontade do povo.

E porque Guilherme III não se contentava em ser rei consorte, o parlamento proclamou
soberania conjunta para Guilherme III e Maria, uma situação inédita porque, pela primeira vez,
a soberania de uma coroa é dada a duas pessoas em simultâneo!

A Inglaterra aderiu a um regime parlamentar e à Common Law que fez com que ainda hoje a
Inglaterra não tivesse Constituição. Estes acontecimentos ficaram conhecidos como a 2ª
Revolução Inglesa ou “Gloriosa Revolução”.

As Províncias Unidas

Neste período, as Províncias Unidas foram líderes na Europa. Em 1650 possuíam mais de mil
navios, o que correspondia a ¾ do total da frota mercantil europeia. Os grandes portos
estavam muito bem equipados e a bolsa de Amesterdão agitada. Em 1609 é fundado o Banco
de Amesterdão que tinha monopólio sobre os câmbios e onde se faziam também depósitos. A
partir de 1619, o banco passou também a fazer “adiantamentos bancários”, que mais não
eram que empréstimos. Fruto dos bons negócios, de onde retiravam cerca de 50% a 75% de
lucro (algo inimaginável nos nossos dias!) tinham abundância em ouro e prata.

É então que se dá a morte inesperada de Guilherme II de Orange, em 1650, com apenas 24


anos, sucedendo-lhe o seu filho, que só viria a nascer 8 dias depois. A pedido dos Estados
Gerais da Holanda houve em Haia reunião dos Estados Gerais das 7 províncias das Províncias
Unidas – uma “partida” dos E.G. da Holanda porque entendiam que as restantes eram
demasiado “orangistas”. Até ao momento, 5 das 7 províncias eram governadas pelo
Stadhauder Guilherme II e as outras duas (Frísia e Groningen) pelo seu primo Fernando. Estas 5
decidem então declarar-se em conjunto independentes e não dar sucessor a Guilherme II.

Fazem-se publicar teses republicanas e assim, a Holanda, província mais populosa e rica das
P.U. deixava de ter que, face à sua nova situação de independência, sustentar as restantes.

Entretanto, espera-se que o filho de Guilherme II, futuro Guilherme III, cresça. Este período
corresponde ao apogeu (Golden Age) das P.U. Entretanto, Johan de Witt (1625-72) é reeleito
durante 20 anos sucessivos e vai governando das P.U. enquanto “Grande Pensionário”.

Em 1654, a pedido de Cromwell, os Estados da P.U. excluem a casa dos Orange do cargo de
Stadhauder, através do Acto de Exclusão. Em 1667, dá-se a eliminação do cargo de
Stadhauder, através do Édito Perpétuo. Mais tarde, definir-se ia apenas que o Stadhauder e o
General não podiam ser a mesma pessoa.
Entretanto, Guilherme III cresce. Em 1662 dá-se uma severa ofensiva francesa contra as
Províncias Unidas. Em resposta, 5 anos depois, Johan de Witt constitui com a Inglaterra e a
Suécia a Tríplice Aliança contra a França e que obrigou Luís XIV a assinar o Tratado de Aix La
Chapelle em 1668.

As P.U. continuam a progredir: em 1672 a VOC prossegue para a Insulíndia; a nação


desenvolve-se aplicando os lucros na industrialização e na agricultura.

1672 – O declínio relativo das Províncias Unidas: Em Abril deste ano a França invade as P.U.
Witt, que havia governado com o seu irmão Cornélius, abandonou os Estados Gerais deixando
com que nomeassem Guilherme III para capitão e almirante geral; tanto Witt como o irmão
acabaram assassinados e culpados da crise. A 20 de Junho a invasão põe a nação em
sobressalto e os holandeses abrem os diques para não deixarem passar mais os franceses e
inundam parte da Holanda. Entre 2 e 3 de Julho nomeia-se Guilherme III como Stadhauder em
Zeeland; a 8 de Julho os Estados Gerais aceitam a restituição do Stadhauder e que Guilherme
III o ocupe vitaliciamente. Assim, este recebe o direito de escolher os oficiais e outros; em
1675 os cargos de Stadhauder e de capitão general são declarados hereditários. Este apoia-se
no “Grande Pensionário” Gaspard Fargel (sucessor de Johan de Witt) que conseguiu por fim
aos protestos de Haarlem e Amesterdão.

Em 1668 dá-se a Paz de Nimega (Guilherme III mantém o território das P.U.). A guerra de Luís
XIV contra as P.U. torna-se europeia (1770-79) – “árbitro da europa”. Os franceses
protestantes emigram para a Holanda. A morte de Guilherme III, sem descendência, leva ao
segundo período sem Stadhauder.

Assim, concluímos que aconteceu o que ficou conhecido como “Milagre das P.U.”: uma nação
que tinha todas as condições naturais desfavoráveis conseguiu, por mais de 100 anos, liderar a
Europa. A Inglaterra passa para a próxima praça banqueira mais importante da Europa e assim
se manterá até à Primeira Grande Guerra.

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