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Arcadismo

... O Arcadismo é um movimento de rejeição aos exa geros


barrocos...
Introdução ao Arcadismo
O Arcadismo é a última etapa do que conhecemos por liter atur a do
Br a sil Colônia, e a melhor maneir a de compreender um período
literário é conhecer seu contexto histórico, bem como
relacioná-lo às car acterística s da escola anterior.

séc. XVI séc. XVII séc. XVIII


Quinhentismo Barroco Arcadismo

Historicamente falando, o Barroco foi o período da Contr arreforma,


momento em que a I greja Católica rea giu aos valores da Er a
Moderna com o objetivo de tr azer novamente à tona os princípios
religiosos. O ser humano barroco, portanto, via-se pressionado e
dividido entre mentalidades oposta s, por isso, expressava-se de
maneir a exa ger ada, intensa e rebuscada par a desa bafar sobre sua s
crises, dores e sofrimentos.

Como forma de reação aos exa geros barrocos, a humanidade


pa ssou a r acionalizar mais a fim de fugir da s crises e do sentimento
dualista, buscando par a isso três objetivos de vida: o equilíbrio, a
tr anquilidade e a simplicidade. A esse contexto, damos o nome de
Iluminismo – o século da s luzes, a Er a da Razão.
Os cinco lemas árcades
Tendo em mente a rejeição aos valores barrocos e a busca por uma
vida mais simples, tr anquila e equilibr ada, no Arcadismo, a
humanidade bebeu na s fontes de um período mais r acional,
equilibr ado e antropocêntrico, cuja cultur a não fosse pautada nos
valores da I greja: a s referência s greco-romana s.

Como esses valores clássicos já haviam sido retomados no período


do Cla ssicismo, o Arcadismo tam bém ficou conhecido como
Neocla ssicismo, ou seja, o novo Cla ssicismo.
O uso de expressões em latim, língua clássica, er a comum no
Arcadismo. Um exemplo dessa influência greco-romana são os
lema s árcades.
Tendo como princípio a conquista de uma vida com equilíbrio,
simplicidade e tr anquilidade, os lema s árcades dividem-se em cinco.

• Equilíbrio
1. A u r e a m e d i o c r i t a s : celebr ar a mediocridade de ouro,
uma vida simples, modesta.
2. C a r p e d i e m : aproveitar o dia de hoje, o momento
presente, sem preocupar-se com o futuro.

• Simplicidade
3. I n u t i l i a t r u n c a t : cortar o inútil, referência direta aos
exa geros barrocos, consider ados como inúteis, excessivos.

• Tr anquilidade
4. F u g e r e u r b e m : fugir do urbano, do am biente a gitado da
cidade.
5. L o c u s a m o e n u s : busca por um lugar ameno, onde
houvesse o contato com a natureza – o campo.
Características gerais
A poesia árcade tem como principal car acterística o bucolismo, que
se refere à celebr ação da vida em contato com a natureza, a
exaltação da s qualidades do campo.

Fugindo do am biente apertado e a gitado da cidade – observe, por


exemplo, a foto da então cidade de Vila Rica (hoje Ouro Preto/MG)
–, a vida no campo, portanto, pa ssou a ser idealizada como simples,
tr anquila e equilibr ada – como expressa bem a foto de Rodrigo
Teófilo.

Ouro Preto/MG (Vila Rica)


Foto de Rodrigo Teófilo

Por idealizar a vida no campo e colocar-se nessa condição, outr a


car acterística da poesia árcade foi o fingimento poético. Nesse
sentido, os poeta s escreviam como se fossem outr a pessoa, fingindo
ser exatamente o homem que vivia no campo, o camponês. Por isso,
o eu-lírico personificava-se na figur a do pa stor de ovelha s.

Além disso, par a tornar mais “verossímil” o fingimento poético, a


materialização de outr a vida, er a comum a adoção de nomes falsos,
os pseudônimos.

Nome Pseudônimo

Tomás Antônio Gonza ga Dirceu

Cláudio Manuel da Costa Glauceste Satúrnio


Observe, a seguir, um exemplo do bucolismo presente na poesia
árcade.

Quem deixa o tr ato pa storil, amado


Pela ingr ata, civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado.

Que bem é ver nos campos tr ansladado


No Gênio do Pa stor, o da inocência!
E que mal é no tr ato, e na aparência
Ver sempre o cortesão dissimulado.

Ali respir a Amor sinceridade;


Aqui sempre a tr aição seu rosto encobre;
Um só tr ata a mentir a, outro a verdade.

Ali não há fortuna, que soçobre;


Aqui quanto se observa, é variedade;
Oh! Ventur a do rico! Oh! Bem do pobre!
(Cláudio Manuel da Costa)

Curiosidade
A palavr a Arcadismo vem de Arcádia (G récia), região idealizada
como lugar de vida simples, tanto na poesia quanto na s artes
visuais.
Nicola s Poussin – Os pa stores da Arcádia
Arcadismo em Portugal
A história de Portugal sempre foi marcada por um forte
sentimentalismo e saudosismo, isso porque o desejo er a relem br ar
o auge do país lusitano, conquistado dur ante a s gr andes navegações.
Nesse sentido, a cultur a portuguesa car acterizou-se por ser
tr adicionalista, voltada ao pa ssado.

No século XVIII , porém, no em balo do Iluminismo, Marquês de


Pom bal comandou um movimento de modernização de Portugal, em
que reforma s política s e econômica s tinham o objetivo de
“empurr ar” o país português par a o futuro, com batendo, par a isso,
o saudosismo ligado ao pa ssado, principalmente no que se referia à
cultur a religiosa.

Nesse ínterim, temos o surgimento da Arcádia Lusitana (1756-1774),


grupo que tinha o objetivo de com bater o pa ssado barroco recente,
rea gindo aos exa geros car acterísticos daquele período, e que
possuía como lema, portanto, i n u t i l i a t r u n c a t – cortar o que for
inútil. Além disso, a busca por referência s clássica s tam bém foi
uma maneir a de com bate ao Barroco.

Palácio dos Condes de Pom beiro, sede da Arcádia Lusitana, hoje


Em baixada da Itália.
Entre os autores do Arcadismo português, o mais relevante foi
Manuel Maria Barbosa Du Boca ge, cujo pseudônimo er a Elmano
Sadino.

Ana gr ama de Manuel

Elmano Sadino

Homena gem ao Rio Sado


Manuel Maria Barbosa Du Boca ge

Boca ge destacou-se por escrever tanto poesia pa storil, quanto a


poesia satírica. Confir a exemplos a seguir.

Poesia pa storil
Olha, Marília, a s flauta s dos pa stores
Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros brincar por entre a s flores?

Vê como ali beijando-se os Amores


Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-la s de planta em planta a s inocentes,
As va ga s borboleta s de mil cores.

Naquele arbusto o rouxinol suspir a,


Or a na s folha s a a belhinha par a,
Or a nos ares sussurr ando gir a.

Que alegre campo! Que manhã tão clar a!


Ma s a h! Tudo o que vês, se eu não te vir a,
Mais tristeza que a noite me causar a.
(Manuel Maria Barbosa Du Bocage)
Poesia satírica
La quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gr atia — o teólogo, o per alta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou fr ade:

Não quero funer al comunidade,


Que engrole “su bvenites” em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu tam bém vos dispenso a caridade:

Ma s quando ferrugenta enxada idosa


Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:

“Aqui dorme Boca ge, o putanheiro;


Pa ssou vida folgada, e mila grosa;
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro”.
(Manuel Maria Barbosa Du Bocage)
Arcadismo no Brasil
O Br a sil, no século XVIII , vivia o Ciclo do Ouro, o Ciclo da
Miner ação, o que resultou no enriquecimento dos miner adores. Os
filhos desses profissionais, portanto, pa ssar am a ir par a a Europa
estudar e voltavam ao Br a sil influenciados pelos ideais iluminista s.

No retorno ao país br a sileiro, os filhos dos miner adores


chocavam-se com os exa geros da cultur a barroca que aqui estava
em voga. Devido à ba ga gem iluminista que tr aziam consigo,
promover am, então, a Inconfidência Mineir a, movimento contr a o
domínio português que procurou revolucionar o Br a sil, tanto na
cultur a – tr azendo o Arcadismo – quanto na política.

A inaugur ação do Arcadismo no Br a sil data de 1768, ano de


pu blicação do livro O b r a s , de Cláudio Manuel da Costa, cujo
pseudônimo er a Glauceste Satúrnio.

Cláudio Manuel da Costa


Apesar de apresentar tr aços barrocos, Cláudio Manuel da Costa é o
poeta mais adequado às car acterística s árcades. Por isso, é
consider ado um poeta de tr ansição entre o Barroco e o Arcadismo,
justamente por ter vivenciado am bos os períodos. Observe um de
seus poema s a seguir.
Pa stores, que levais ao monte o gado,
Vêde lá como andais por essa serr a;
Que par a dar contágio a toda a terr a,
Ba sta ver se o meu rosto ma goado:

Eu ando (vós me vêdes) tão pesado;


E a pa stor a infiel, que me faz guerr a,
É a mesma, que em seu sem blante encerr a
A causa de um martírio tão cansado.

Se a quereis conhecer, vinde comigo,


Vereis a formosur a, que eu adoro;
Ma s não; tanto não sou vosso inimigo:

Deixai, não a vejais; eu vo-lo imploro;


Que se seguir quiserdes, o que eu sigo,
Chor areis, ó pa stores, o que eu choro.
(Glauceste Satúrnio)
Tomás Antônio Gonzaga
O gr ande nome da poesia árcade no Br a sil é Tomás Antônio Gonza ga,
que se destacou tanto na poesia lírica, sob o pseudônimo de Dirceu,
quanto na poesia satírica, com o pseudônimo de Critilo.

Tomás Antônio Gonza ga

Na poesia lírica, Tomás Antônio Gonza ga ficou conhecido por


escrever M a r í l i a d e D i r c e u , coletânea de lir a s par a celebr ar o
amor por Marília. A obr a divide-se em três partes, sendo que apena s
a s dua s primeir a s são de maior relevância.

• 1ª parte: adequada aos moldes árcades – celebr ação do amor.


• 2ª parte: melancólica e triste – escrito dur ante exílio.
• 3ª parte: falsa (sem importância).

A seguir, observe alguns trechos da obr a.

Lir a I
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado; Apresentação
De tosco tr ato, d’expressões grosseiro, do eu-lírico
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio ca sal, e nele a ssisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Da s br anca s ovelhinha s tiro o leite,
E mais a s fina s lãs, de que me visto.
G r aça s, Marília bela,
G r aça s à minha Estrela!

Entremos, Amor, entremos,


Entremos na mesma Esfer a,
Venha Pala s, venha Juno, Referência s
Venha a Deusa de Citer a,

Porém não, que se Marília


No certame antigo entr a sse,
Bem que a Páris não peita sse,
A toda s a s três vencer a.
Vai-te, Amor, em vão socorres
Ao mais gr ato empenho meu:
Par a formar-lhe o retr ato
Não ba stam tinta s do Céu.

Que havemos de esper ar, Marília bela?


Que vão pa ssando os florescentes dia s?
As glória s, que vêm tarde, já vêm fria s;
E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ah! Não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estr a go de rou bar ao corpo a s força s
E ao sem blante a gr aça.
Carpe diem
Na poesia satírica, a obr a mais relevante de Gonza ga foi C a r t a s
C h i l e n a s , que reúne carta s escrita s por Critilo par a seu amigo
Doroteu, que muitos alegam ser Cláudio Manuel da Costa.

Em C a r t a s C h i l e n a s , Critilo fez dur a s crítica s ao então governador


do Chile, a quem chamava de “Fanfarrão Minésio”. Ou seja, por meio
da sátir a, Gonza ga faz uma crítica social ao governo de Vila Rica,
capital da miner ação naquela época.
Poesia épica
Além de Tomás Antônio Gonza ga, outros autores de relevância par a
o Arcadismo são Ba sílio da Gama e Santa Rita Durão, que
escrever am, respectivamente, os seguintes poema s épicos: O
Uraguai e O Caramuru.

• Ba sílio da Gama: autor de O U r a g u a i


• Narr ação da expedição comandada por Gomes Freire de
Andr ada na guerr a dos 7 povos da s missões par a domínio
luso-espanhol.
• Crítica aos jesuíta s por não se preocuparem com os
interesses de Portugal e, sim, apena s com a catequização
• G r ande exaltação a Marquês de Pom bal.

• Santa Rita Durão: autor de O C a r a m u r u


• Poema escrito em resposta a O U r a g u a i .
• Exaltação dos jesuíta s por levarem à Colônia a civilização e
a salvação por meio dos valores religiosos.
• Narr ação da história de Diogo Correia – o Car amuru – no
episódio do descobrimento e colonização da Ba hia.

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