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LER E ESCREVER NA ESCOLA: O REAL, O POSSÍVEL E O NECESSÁRIO

Délia Lerner

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PARA TRANSFORMAR O ENSINO DA LEITURA E DO ESCRITA

- Desafio:
- formar praticantes da leitura e da escrita e não apenas sujeitos que possam “decifrar” o sistema de escrita;
- orientar as ações para a formação de escritores, de pessoas que saibam comunicar-se por escrito com os demais;
- conseguir que os alunos cheguem a ser produtores de língua escrita, conscientes da pertinência e da importância de emitir certo
tipo de situação social;
- conseguir que as crianças manejem com eficácia os diferentes escritos que circulam na sociedade, e cuja utilização é necessária ou
enriquecedora para a vida (...);
- conseguir que a escrita deixe de ser na escola somente um objeto de avaliação e se constitua também num objeto de ensino;
- promover a descoberta e a utilização da escrita como instrumento de reflexão sobre o próprio pensamento, como recurso
insubstituível para organizar e reorganizar o próprio conhecimento (...);
- combater a discriminação que a escola opera atualmente (permite o fracasso explícito dos que não consegue alfabetizar).
É POSSÍVEL A MUDANÇA NA ESCOLA?

- A inovação tem sentido quando faz parte da história do conhecimento pedagógico e quando, ao mesmo tempo, retoma e supera o

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anteriormente produzido. No entanto, as inovações que realmente supõem um progresso em relação à prática educativa vigente têm
sérias dificuldades para instalar no sistema escolar; em troca, costumam adquirir força pequenas inovações que permitem alimentar a
ilusão de que algo mudou, “inovações” que são passageiras e logo serão substituídas por outras que tampouco afetarão o essencial do
funcionamento didático.
- Então:
- PROPOSTAS DE MUDANÇA X MODISMO
A CAPACITAÇÃO: CONDIÇÃO NECESSÁRIA, MAS NÃO SUFICIENTE PARA A MUDANÇA NA PROPOSTA DIDÁTICA

- (...) a mudança radical de perspectiva que ocorreu nos últimos vinte anos em relação à alfabetização não teve suficiente eco nas

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instituições formadoras de professores, a função social do docente está sofrendo um processo de desvalorização sem precedentes, o
acesso a livros e revistas especializadas é difícil – dada a situação econômica de nossos países e, em particular, o deplorável panorama
profissional dos educadores –, os professores têm muito poucos espaços próprios para a discussão de sua tarefa...
- IMPORTANTE: renunciar ao voluntarismo que costuma caracterizar a nós que impulsionamos as mudanças, será necessário reconhecer
que o objeto que queremos modificar (o sistema de ensino) – existe independentemente de nós e tem leis próprias.
ACERCA DA TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA: A LEITURA E A ESCRITA COMO OBJETOS DE ENSINO

- Críticas:

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- a língua escrita, criada para representar e comunicar significados, aparece em geral na escola fragmentada em pedacinhos não-
significativos;
- a leitura em voz alta ocupa um lugar muito maior no âmbito escolar que a leitura silenciosa, enquanto que em outras situações
sociais ocorre o contrário;
- na sala de aula, espera-se que as crianças produzam textos num tempo muito breve e escrevam diretamente a versão final,
enquanto que fora dela produzir um texto é um longo processo que requer muitos rascunhos e reiteradas revisões.

- A versão escolar da leitura e da escrita parece atentar contra o senso comum.


- Chevallard: o saber adquire sentidos diferentes em diferentes instituições, funciona de um modo na instituição que o produz e de outro na
instituição encarregada de comunicá-lo.
- Papel da Escola: tem a finalidade de comunicar às novas gerações o conhecimento elaborado pela sociedade. Para tornar realidade este
propósito, o objeto de conhecimento – o saber científico ou as práticas sociais que se tenta comunicar – se transforma em “objeto de
ensino”. Ao se transformar em objeto de ensino, o saber ou a prática a ensinar se modificam: é necessário selecionar-se algumas questões
em vez de outras, é necessário privilegiar-se certos aspectos, há que se distribuir as ações no tempo, há que se determinar uma forma de
organizar os conteúdos. A necessidade de comunicar o conhecimento leva a modificá-lo.
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Leitura complementar

- Fragmentar assim os objetos a ensinar permite alimentar duas ilusões muito arraigadas na tradição escolar: contornar a complexidade dos

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objetos de conhecimento reduzindo-os a seus elementos mais simples e exercer um controle estrito sobre a aprendizagem.
Lamentavelmente, a simplificação faz desaparecer o objeto que se pretende ensinar, e o controle da reprodução das partes nada diz sobre
a compreensão que as crianças têm da língua escrita nem sobre suas possibilidades como intérpretes e produtoras de textos.
- A transposição didática é inevitável, mas deve ser rigorosamente controlada. É inevitável porque o propósito da escola é comunicar o
saber, porque a intenção de ensino faz com que o objeto não possa aparecer exatamente da mesma forma, nem ser utilizado da mesma
maneira que é utilizado quando essa intenção não existe, porque as situações que se apresentam devem levar em conta os
conhecimentos prévios das crianças que estão se apropriando do objeto em questão. Deve ser rigorosamente controlada porque a
transformação do objeto – da língua escrita e das atividades de leitura e de escrita, em nosso caso – teria que se restringir àquelas
modificações que, realmente, são inevitáveis. Como o objetivo final do ensino é que o aluno possa fazer funcionar o aprendido fora da
escola, em situações que já não serão didáticas, será necessário manter uma vigilância epistemológica que garanta uma semelhança
fundamental entre o que se ensina e o objeto ou prática social que se pretende que os alunos aprendam. A versão escolar da leitura e da
escrita não deve afastar-se demasiado da versão social não-escolar.
Responsabilidade dos governos: tornar possível a participação da comunidade

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científica nessa tarefa.

Responsabilidade da comunidade científica: se pronunciar sobre a pertinência dos


“recortes” que se fazem ao selecionar conteúdos. Os que projetam os currículos
CONTROLE DA devem ter como preocupação prioritária, ao formular objetivos, conteúdos e
TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA formas de trabalho nos diferentes graus ou ciclos, deve avaliar as propostas em
função de sua adequação à natureza e ao funcionamento cultural – extra-escolar –
do saber que se tenta ensinar.

Responsabilidade dos Professores: prever atividades e intervenções que favoreçam


a presença na sala de aula do objeto de conhecimento tal como foi socialmente
produzido, assim como refletir sobre sua prática e efetuar as retificações que sejam
necessárias e possíveis.
ACERCA DO “CONTRATO DIDÁTICO”

- Contrato implícito: pode-se postular que tudo acontece como se essas interações respondessem a um contrato implícito, como se as

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atribuições que o professor e os alunos têm com relação ao saber estivessem distribuídas de uma maneira determinada, como se cada um
dos participantes na relação didática tivesse certas responsabilidades e não outras quanto aos conteúdos trabalhados, como se tivesse
sido tecido e enraizado na instituição escolar um interjogo de expectativas recíprocas... (Brousseau, 1986).
- Contrato explícito: a distribuição de direitos e responsabilidades entre o professor e os alunos adquire cracaterísticas específicas em
relação a cada conteúdo.
- (...) fica evidenciada a flagrante contradição que existe entre a maneira como se distribuem na instituição escolar os direitos e as
obrigações que professor e alunos têm em relação à língua escrita e os propósitos explícitos que essa mesma instituição se coloca em
relação à formação de leitores e produtores de texto.
FERRAMENTAS PARA TRANSFORMAR O ENSINO

- Capacitação do docente em serviço

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- Introduzir modificações no currículo e na organização institucional
- Criar consciência em relação à opinião pública e desenvolver a pesquisa no campo da didática da leitura e da escrita
- Controlar a transposição didática: cuidar que o objeto apresentado na escola conserve as características essenciais que tem fora dela (...).

- QUESTÕES IMPORTANTES
1. Estabelecer objetivos por ciclo, em vez de estabelecê-los por grau
2. Atribuir aos objetivos gerais prioridade absoluta sobre os objetivos específicos
- Cada objetivo específico deve ser rigorosamente analisado em função de sua consistência com os propósitos básicos que se
perseguem.
- Pergunta: qual é o objetivo geral que esse objetivo específico pretende cumprir?
- Ler em voz alta, de forma fluente, com entonação correta, não pode aparecer de forma desconectada do propósito maior de
formar leitores.
3. Evitar o estabelecimento de uma correspondência termo a termo entre objetivos e necessidades
4. Superar a tradicional separação entre “alfabetização em sentido estrito” e “alfabetização em sentido amplo”
- Parra construir dignificado ao ler, é fundamental ter constantes oportunidades de ir construindo expectativas acerca do que pode
“dizer” neste ou naquele texto, de ir aumentando a competência linguística específica em relação à língua escrita...
5. Sustentar as propostas nas contribuições das ciências da linguagem e nas da psicologia
Trecho para leitura

- Quanto ao desenvolvimento da investigação didática na área da leitura e da escrita, é evidente a necessidade de se continuar produzindo

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conhecimentos que permitam resolver os múltiplos problemas que o ensino da língua escrita apresenta, e de fazê-lo através de estudos
cada vez mais rigorosos, de tal modo que a didática da leitura e da escrita deixe de ser matéria “opinável” para se constituir como um
corpo de conhecimentos de reconhecida validez.
- O conhecimento didático não pode ser deduzido simplesmente das contribuições da psicologia ou da ciência que estudo o objeto que
tentamos ensinar. É necessário realizar investigações didáticas que permitam estudar e validar as situações de aprendizagem que
propomos, aperfeiçoar as intervenções de ensino, apresentar problemas novos que só se fazem presentes na dala de aula.

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