Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INFANTOJUVENIL
Introdução
O papel da literatura na escola tem se transformado ao longo dos anos,
e ela tem perdido espaço, à medida que surgem, cada vez mais, outras
formas de leitura, principalmente com a ampliação do acesso às novas
tecnologias. No entanto, o cenário nem sempre foi esse. Por muito tempo,
segundo Cosson (2015), a leitura de obras literárias completas foi um
pressuposto básico da formação de um leitor. A literatura antiga foi base
para o ensino do grego e do latim e, posteriormente, para o ensino da
língua nacional.
Na sala de aula dos dias de hoje, o professor encontra diversos desafios
para efetivar com os alunos a prática da leitura literária. Dentre eles, está
tanto a necessidade de proporcionar o acesso mediado de literatura a
crianças e adolescentes de uma nova geração quanto a reflexão sobre
o seu papel de professor e mediador.
Neste capítulo, você verá uma reflexão sobre as possíveis concep-
ções de leitura que podem ser assumidas pelo professor, bem como
analisará o papel da escola em relação à leitura literária. Além disso,
aprenderá diferentes estratégias e práticas de leitura literária na sala
de aula e conhecerá os elementos que constituem um plano de aula
de literatura infantojuvenil.
2 A prática da literatura no espaço escolar
A literatura na escola
O espaço da literatura na escola sofreu diversas transformações ao longo do
tempo. Essas transformações foram de ordem social, uma vez que o acesso
ao livro e à literatura tornam-se cada dia mais distantes das classes menos
privilegiadas; e de ordem técnica e pedagógica, com a entrada massiva dos
livros didáticos, no século XX, e das novas tecnologias em sala de aula, nos
dias atuais, que demandam do professor novos aprendizados e que dê conta
de diferentes linguagens no seu dia a dia.
Tudo isso reduziu o espaço da leitura literária na escola, mas não a extin-
guiu. Para Cosson (2015), a leitura na escola tem se dividido pedagogicamente
em uma leitura para fruição e deleite, geralmente no ensino fundamental, e a
leitura aplicada, destinada ao aprendizado de algum outro elemento que não
ela mesma, por exemplo, a utilização de um texto literário como pretexto para
o ensino de gramática.
Para o autor, nenhuma dessas concepções, praticadas isoladamente ou em
apenas um dos níveis da educação básica, é eficaz. Segundo Cosson (2015,
documento on-line), “A leitura literária na escola, portanto, precisa ter obje-
tivos e práticas pedagógicas bem definidos que não devem ser confundidos
simplesmente com o ensinar um conteúdo sobre a literatura, nem com uma
simples atividade de lazer”.
Um importante ponto para se pensar na prática da leitura literária na escola
é compreender de que concepção de leitura está se falando. Esse aspecto é
ressaltado por Ezequiel da Silva (1999, p. 11), quando afirma que o modo de
compreender qualquer processo “[...] influencia diretamente as suas formas de agir
quando esse processo for acionado na prática, em situações concretas de vida”.
Assim, se o professor em formação entende que a leitura é um processo
mecânico de decodificação e que basta ensinar o código à criança para torná-la
leitora, esse é um aspecto que será reproduzido em sua prática docente. Para
Silva (1999), esta é uma das formas de concepção de leitura entendidas como
redutoras. Para o autor, essas concepções, se assumidas pelo professor, podem
se opor ao objetivo da escola de formar os leitores necessários à nossa sociedade.
Por esse motivo, é importante ressaltar que o acesso ao “código” da escrita
é, sim, essencial à compreensão da leitura, porém igualmente importante é
perceber que a criança já lê à sua própria maneira bem antes de ser alfabeti-
zada. Segundo Maricato (2007, documento on-line), ela o faz “[...] folheando
e olhando figuras, ainda que não decodifique palavras e frases escritas. Ela
aprende observando o gesto de leitura dos outros — professores, pais ou
outras crianças”.
A prática da literatura no espaço escolar 3
O papel da escola
Se as gerações que chegam à escola estão cada vez mais “conectadas” em relação
às novas tecnologias, o trabalho da escola não tem como ser outro além de uma
prática que leve os alunos a “[...] transpor fronteiras simbólicas” (GALLO, 2012,
p. 54). Esta transposição de fronteiras está diretamente relacionada à produção de
gestos de interpretação pelo aluno. Isto é, a escola não é lugar de instrumentação
técnica dos alunos, até porque esta geração já chega com uma bagagem diferente
do que a escola poderia ensinar nesse sentido, mas o trabalho possível — e neces-
sário — a ser realizado é o de “[...] compreensão dos vários tipos de organização
textual, que compõem o mundo da escrita” (SILVA, 1999, documento on-line).
Diante disso, existem algumas ações que podem ser tomadas pela escola
como um todo nesse sentido. Para que o aluno tenha acesso a diferentes tipos
de organização textual, dentre eles o texto literário, é preciso que a escola
descentralize as ações relacionadas à leitura, que geralmente ficam a cargo
somente dos professores alfabetizadores e de linguagens.
A seguir, veja ações sugeridas por Silva (1999) para que a escola promova
a leitura:
Veja, no link a seguir, o documentário sobre o Sarau da Cooperifa “Povo lindo, povo
inteligente!”:
https://qrgo.page.link/3RWcx
Ler
Para ensinar literatura, é necessário, primeiramente, que o professor seja um
leitor de literatura. É certo que os professores exercem grande influência na
vida de seus alunos. Por esse motivo, um professor que está constantemente
lendo, possui uma grande gama de histórias novas para abastecer seus alunos,
mesmo que aquelas obras não sejam necessariamente trabalhadas em sala de
aula. Logo, o professor curioso e leitor estará mais próximo de inspirar seus
alunos a serem leitores curiosos assim como ele.
Quando se fala na importância de um professor leitor de literatura, não se
trata apenas da literatura canônica, voltada ao adulto, mas também da leitura
de literatura infantojuvenil. É preciso que o professor desenvolva o interesse
nas obras de destaque voltadas ao público infantil e adolescente.
Mediar
Segundo Cosson (2015), a mediação da leitura literária é, muitas vezes, perce-
bida como “animação”. Ou seja, o professor acaba sendo o único responsável
por desenvolver diferentes atividades criativas e despertar o interesse dos
alunos pela leitura literária. No entanto, como você já viu anteriormente neste
capítulo, esta deve ser uma das estratégias de introdução da leitura literária na
escola, mas jamais deve ser tomada como única possibilidade. O ideal é que
professor e comunidade escolar estejam unidos nesse propósito, bem como
que o professor não seja apenas um mediador “animador”, como alerta Cosson
e como você verá posteriormente.
Veja um trecho da entrevista com o escritor Ricardo Azevedo (2006, documento on-line)
na revista LeituraS sobre a importância da oralidade na leitura escolar:
Na minha visão, desde o momento em que a criança aprende a ler, ela deve-
ria saber que existem textos que são utilitários — que trazem informações
concretas, funcionais — e também outros tipos de textos, de ficção, em
prosa ou verso, que trazem uma série de maneiras de se lidar, por meio
8 A prática da literatura no espaço escolar
Ensinar
Essas e outras atividades são muito interessantes e podem motivar e gerar o
prazer da leitura. No entanto, o professor não pode assumir um papel de mero
“animador” de leitura; ele ainda deve estar na posição de ensinar literatura.
E o que compõe a função de ensinar literatura? Para Colomer (2007 apud
VÖLKER, 2014), a função do ensino literário seria a de capacitar os alunos
para que possam ampliar seu corpus de obras literárias de modo mais amplo
e complexo.
No ponto de vista de Galvão e Batista ([201-?], documento on-line), o
prazer e a alegria de ler são muitas vezes destacados quando se fala em
ensino de leitura. Esse aspecto, no entanto, não era sequer comentado no
passado, “[...] quando os ensinamentos morais e instrutivos eram consi-
derados mais importantes e se pensava que a busca do prazer na leitura
era prejudicial à formação de qualquer leitor — criança ou adulto”. Atu-
almente, esse aspecto é tão fortemente cobrado dos professores, que estes
acabam por colocar em segundo plano a necessidade de desenvolver as
competências de leitura.
Para que seja possível efetivamente ensinar a leitura literária na escola,
Cosson (2015) resume algumas das recomendações dos principais estudiosos
do tema no País:
https://qrgo.page.link/Cv3vM
Tópicos Descrição
EF15LP15
■ Anos iniciais.
■ 1º ano.
■ Leitura/escuta (compartilhada e autônoma).
■ Reconhecer que os textos literários fazem parte do mundo do
imaginário e apresentam uma dimensão lúdica, de encantamento,
valorizando-os, em sua diversidade cultural, como patrimônio ar-
tístico da humanidade.
12 A prática da literatura no espaço escolar
EF15LP01
■ Anos iniciais.
■ 1º ano.
■ Leitura/escuta (compartilhada e autônoma).
■ Identificar a função social de textos que circulam em campos da vida
social dos quais participa cotidianamente (a casa, a rua, a comunidade,
a escola) e nas mídias impressa, de massa e digital, reconhecendo
para que foram produzidos, onde circulam, quem os produziu e a
quem se destinam.
A importância da avaliação
Um plano de aula de leitura adequado deve também prever as formas de
avaliação dos alunos. Isso não quer dizer realizar atividades específicas de
avaliação, como provas e exercícios de interpretação de texto. Pelo contrário,
é essencial que todo o processo seja valorizado, e não apenas um momento
da aprendizagem.
Em relação ao ensino de leitura, as formas de avaliação não são tão evidentes
quanto em outros objetivos de aprendizagem. Assim, é possível elencar algu-
mas sugestões de avaliação do processo de leitura, por exemplo, a observação
contínua da participação do aluno nas atividades de leitura, sejam rodas de
leitura, trocas de indicação de leituras entre os colegas ou outras; comentários
sobre os gestos de leitura de cada aluno em relação às obras específicas que
têm sido debatidas em aula; autonomia na escolha de obras a serem lidas em
sala ou no empréstimo da biblioteca.
Para dar conta de, posteriormente, levar essas avaliações aos pais, é
possível criar uma forma própria de registro do desenvolvimento de cada
aluno, como por meio de um memorial do professor sobre o desenvolvimento
da turma, onde vá destacando, ao longo do projeto de leitura, como cada
aluno tem se expressado e vivenciado as atividades realizadas, ou, ainda,
por meio do registro, em vídeo, de algumas atividades mais lúdicas, ou
até mesmo produzindo uma montagem teatral com os alunos a partir de
suas diversas leituras ao longo de um projeto. Estas são apenas algumas
sugestões para que você se inspire e crie seus planos de aula e formas de
acompanhar e avaliar os alunos ao longo de sua prática de ensino de leitura
literária na escola.
A prática da literatura no espaço escolar 13
Leituras recomendadas
A MENINA que odiava livros. [S. l.: s. n.], 2012. 1 vídeo (7 min). Publicado pelo canal
ProLetramentoUEPG. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=y8hb5fsnrRM.
Acesso em: 11 jun. 2019.
14 A prática da literatura no espaço escolar
OS FANTÁSTICOS livros voadores do sr. Morris Lessmore. [S. l.: s. n.], 2012. 1 vídeo (15
min). Publicado pelo canal Leo Madureira. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=LjkdEvMM5xs. Acesso em: 11 jun. 2019.
SARAU da Cooperifa "Povo lindo, povo inteligente!". [S. l.: s. n.], 2013. 1 vídeo (50
min). Publicado pelo canal DGT Filmes. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=wwIy5pyoq0M. Acesso em: 11 jun. 2019.