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DEFINIÇÃO DO AGRAVO
Para fins de notificação, considera-se violência “qualquer conduta – ação ou omissão – de caráter
intencional que cause ou venha a causar dano, morte, constrangimento, limitação, sofrimento
físico, sexual, moral, psicológico, social, político, econômico ou patrimonial” (MINISTÉRIO DA
SAÚDE [MS], 2016). A violência autoprovocada compreende autoagressões e tentativas de
suicídio, já a interpessoal diz respeito a situações de violência entre membros de uma família
(doméstica/intrafamiliar) ou que ocorrem no ambiente social em geral, entre conhecidos ou
desconhecidos (extrafamiliar/comunitária). A definição de caso para notificação corresponde a:
Caso suspeito ou confirmado de violência doméstica/intrafamiliar, sexual, autoprovocada, tráfico
de pessoas, trabalho escravo, trabalho infantil, tortura, intervenção legal e violências homofóbicas
contra mulheres e homens em todas as idades. No caso de violência extrafamiliar/comunitária,
somente serão objeto de notificação as violências contra crianças, adolescentes, mulheres,
pessoas idosas, pessoas com deficiência, indígenas e população LGBT (MS, 2016).
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A Figura 1 apresenta a taxa de notificação para cada 100 mil habitantes. Nota-se o aumento de
casos notificados até 2019, à medida que a rede de serviços de saúde e, mais recentemente,
intersetorial, é sensibilizada para a identificação de situações de violência e capacitada para o
preenchimento da ficha.
Em 2020 e 2021, primeiros anos da pandemia de Covid-19, observa-se queda significativa das
taxas de notificação: 29,8% em 2020, na comparação com o ano anterior. Já em 2022, verifica-se
aumento de 13%, sugerindo uma retomada do crescimento registrado no período pré-pandêmico.
Figura 1. Taxa de notificação de violência por ano de notificação, RS, 2011-2022* (n=249.639)
300,0 290,5
248,3
250,0
223,1
Taxa por 100 mil habitantes
50,0
0,0
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022*
Ano de notificação
Na Figura 2, são apresentados os tipos de violência por ano de notificação. Note-se que, embora
o instrutivo do Ministério da Saúde (MS, 2016) oriente a marcação de apenas um tipo de violência
por notificação, o sistema aceita a digitação de mais de um tipo. Também, nos anos iniciais, era
permitido o registro múltiplo. Dessa forma, o número total excede em 10,7% a quantidade de
notificações, chegando a 276.460 tipos de violência registrados no período. Aqueles com maior
frequência foram a violência física, seguida da lesão autoprovocada e da violência
psicológica/moral.
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Figura 2. Frequência relativa dos tipos de violência registrados nas notificações de violência
interpessoal e autoprovocada, por ano de notificação, RS, 2011-2022* (n=276.460)
100%
Ano de notificação
*Dados preliminares.
Fonte: Secretaria Estadual da Saúde RS/NIS/DGTI - Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Banco de dados exportado em
04/01/2023.
Nesse período, 71,6% das notificações foram de pessoas do sexo feminino. As mulheres
apresentam, em média, taxas de notificação que ultrapassam o dobro daquelas observadas entre
os homens. Em 2022, essa diferença chegou a 4,4 vezes na faixa etária dos 10 a 14 anos (Figura
3). Percebe-se que, para o sexo masculino, a faixa etária com a maior taxa de notificação é
aquela entre 0 e 4 anos; para o sexo feminino, o pico encontra-se na faixa etária dos 10 aos 14
anos.
Na Figura 4, chama atenção a queda de 41,8% das notificações da faixa etária de 10 a 14 anos
entre 2019 e 2020, seguida de um aumento de 24,0% em 2021. Já em 2022, todas as faixas
etárias registraram aumento das taxas de notificação.
3
Figura 3. Taxa de notificação de violência, por faixa etária, segundo sexo, RS, 2022* (n=25.581)
2022*
800,0
700,0
Taxa por 100 mil habitantes
600,0
500,0
400,0
Sexo feminino
300,0
Sexo masculino
200,0
100,0
0,0
0a4 5 a 9 10 a 14 15 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 a 79 80 anos
anos anos anos anos anos anos anos anos anos anos e mais
Faixa etária
*Dados preliminares.
Fonte: Secretaria Estadual da Saúde RS/NIS/DGTI - Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Banco de dados exportado em
04/01/2023.
Figura 4. Taxa de notificação de violência, por ano, segundo faixa etária, RS, 2011-2022*
(n=249.639)
700,0
600,0
0 a 4 anos
500,0
5 a 9 anos
Taxa por 100 mil habitantes
10 a 14 anos
400,0 15 a 19 anos
20 a 29 anos
300,0 30 a 39 anos
40 a 49 anos
50 a 59 anos
200,0
60 a 69 anos
70 a 79 anos
100,0
80 anos e mais
0,0
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022*
Ano de notificação
*Dados preliminares.
Fonte: Secretaria Estadual da Saúde RS/NIS/DGTI - Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Banco de dados exportado em
04/01/2023.
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Em 41,4% das notificações realizadas entre 2011 e 2022, a violência já havia ocorrido outras
vezes, evidenciando o desafio de interromper a violência de repetição. Além disso, 23,4% das
notificações apresentaram esse campo ignorado/em branco. Em 74,7% das notificações, o local
de ocorrência da violência foi residência, seguida de via pública (9,9%).
A Tabela 1 apresenta o provável autor da violência. A própria pessoa refere-se, naturalmente, aos
casos de lesão autoprovocada. Mãe/pai aparecem em primeiro lugar nos casos de violência
interpessoal, seguidos de cônjuge/namorado(a).
*Dados preliminares.
Fonte: Secretaria Estadual da Saúde RS/NIS/DGTI - Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Banco de dados exportado em
04/01/2023.
1
Frequência relativa calculada sobre as notificações de pessoas a partir de 10 anos de idade, conforme instrutivo do MS (2016). 5
2
Utilizados dados do período entre 2016 e 2022, visto que os campos em questão foram incluídos na ficha de notificação no ano de 2015.
A Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) com menor taxa média de notificação nos últimos
seis anos foi a 12ªCRS (73,6 por 100 mil habitantes). Já a 8ªCRS destacou-se com a maior taxa:
418,0 notificações para cada 100 mil habitantes (Figura 5). Nesse período, em média, 84,3% dos
municípios gaúchos realizaram alguma notificação. Em 2019, foram 91,8%, maior percentual
registrado em toda a série histórica (Figura 6).
*Dados preliminares.
Fonte: Secretaria Estadual da Saúde RS/NIS/DGTI - Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Banco de dados exportado em
04/01/2023.
Quanto aos serviços de saúde notificadores, foram identificados 2.939 CNES diferentes no
período entre 2011 e 2022. Do total de notificações, 58,4% foram realizadas por pronto-
atendimentos, serviços de urgência/emergência e hospitais (Figura 7).
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Figura 6. Proporção de municípios notificadores, por ano de notificação, RS, 2011-2022* (n=497)
100%
Municípios notificadores
90%
80%
70%
60%
50%
40%
Ano de notificação
*Dados preliminares.
Fonte: Secretaria Estadual da Saúde RS/NIS/DGTI - Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Banco de dados exportado em
04/01/2023.
2,6% 0,1%
3,0% Hospital Geral + Pronto Socorro Geral
3,2%
Centro de Saúde/Unidade Básica + Posto
de Saúde
8,6% Pronto Atendimento
Não identificado
21,6%
Vazio
*Dados preliminares.
Fonte: Secretaria Estadual da Saúde RS/NIS/DGTI - Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Banco de dados exportado em
04/01/2023.
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RECOMENDAÇÕES
A notificação é um elemento-chave na atenção integral às pessoas em situação de violência e
tem como objetivos:
1) Intervir nos cuidados em saúde e prevenir a violência de repetição;
2) Proteger e garantir direitos por meio da articulação das redes de atenção e proteção;
3) Conhecer a magnitude e a gravidade das violências, retirando os casos da invisibilidade;
4) Subsidiar as políticas públicas para prevenção e atenção às situações de violência,
indicando prioridades e permitindo a avaliação das intervenções.
Os dados aqui apresentados demonstram a predominância de notificação daqueles casos que
necessitam de atendimento de urgência/emergência, com ferimentos ou lesões físicas. Desse
modo, revela-se imprescindível a sensibilização dos serviços da atenção primária e secundária
para a identificação de situações de violência em tempo oportuno, a fim de evitar o agravamento
dos casos e possibilitar o rompimento dos ciclos de violência.
Recomenda-se aos gestores regionais e municipais esforços no sentido de:
Retomar o crescimento das notificações de violência, conforme tendência observada antes
da pandemia de Covid-19;
Aumentar a notificação de violência em serviços da atenção primária e secundária;
Melhorar a completitude dos campos da ficha de notificação, especialmente quanto à
escolaridade, violência de repetição, orientação sexual, identidade de gênero e motivação.
REFERÊNCIAS