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INFORME EPIDEMIOLÓGICO DVE/CEVS 06-2023

NOTIFICAÇÃO DE VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA

DEFINIÇÃO DO AGRAVO
Para fins de notificação, considera-se violência “qualquer conduta – ação ou omissão – de caráter
intencional que cause ou venha a causar dano, morte, constrangimento, limitação, sofrimento
físico, sexual, moral, psicológico, social, político, econômico ou patrimonial” (MINISTÉRIO DA
SAÚDE [MS], 2016). A violência autoprovocada compreende autoagressões e tentativas de
suicídio, já a interpessoal diz respeito a situações de violência entre membros de uma família
(doméstica/intrafamiliar) ou que ocorrem no ambiente social em geral, entre conhecidos ou
desconhecidos (extrafamiliar/comunitária). A definição de caso para notificação corresponde a:
Caso suspeito ou confirmado de violência doméstica/intrafamiliar, sexual, autoprovocada, tráfico
de pessoas, trabalho escravo, trabalho infantil, tortura, intervenção legal e violências homofóbicas
contra mulheres e homens em todas as idades. No caso de violência extrafamiliar/comunitária,
somente serão objeto de notificação as violências contra crianças, adolescentes, mulheres,
pessoas idosas, pessoas com deficiência, indígenas e população LGBT (MS, 2016).

A notificação de casos suspeitos ou confirmados de violência interpessoal e autoprovocada


tornou-se compulsória, em todo território nacional, a partir da Portaria nº 104, de 25 de janeiro de
2011 (MS, 2011). Antes disso, porém, em 2003, o Estatuto da Pessoa Idosa já previa notificação
compulsória à autoridade sanitária, pelos serviços de saúde públicos e privados, de casos de
suspeita ou confirmação de violência praticada contra pessoas idosas, além de comunicação
obrigatória à autoridade policial ou Ministério Público (BRASIL, 2003).

CENÁRIO EPIDEMIOLÓGICO NO BRASIL1


No país, entre os anos de 2011 e 2021, foram notificados 2.759.223 casos de violência, sendo
6,1% (168.259) referentes a pessoas idosas. Nessa faixa etária, 55,5% (93.372) das notificações
foram do sexo feminino. O Rio Grande do Sul (RS) ocupa, em relação aos demais estados no
período, o sétimo lugar em taxa de notificação (75,8 por 100 mil habitantes) e o terceiro lugar em
números absolutos (18.595).

CENÁRIO EPIDEMIOLÓGICO NO RIO GRANDE DO SUL (RS)


De 2011 a 2022, notificaram-se 249.637 casos de violência interpessoal e autoprovocada no
estado RS, dos quais 7,4% (18.595) foram de pessoas acima dos 60 anos de idade. Destes, 779
foram notificados no primeiro ano da série histórica, chegando a 2.320 no ano de 2019. Cabe
ressaltar que os dados de 2022 apresentados neste informe são preliminares e sujeitos a
alterações, com provável incremento nos meses a seguir.
A Figura 1 apresenta a taxa de notificação de violência, para cada 100 mil habitantes, por grupo
etário. Nota-se o aumento constante de casos notificados até 2019, à medida que a rede de
serviços de saúde e, mais recentemente, intersetorial, é sensibilizada para a identificação de
situações de violência e capacitada para o preenchimento da ficha.

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Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net. Dados acessados em 20/01/2023.
Em relação ao grupo dos idosos, é o que apresenta as menores taxas ao longo de todo o
período. Em 2020 e 2021, primeiros anos da pandemia de Covid-19, observa-se queda
significativa das notificações, à semelhança do ocorrido com as demais faixas etárias. Já em
2022, verifica-se aumento de 9,4% na taxa de notificação, na comparação com o ano anterior,
sugerindo uma retomada do crescimento registrado no período pré-pandêmico.

Figura 1. Taxa de notificação de violência interpessoal e autoprovocada, segundo grupo etário,


por ano de notificação, RS, 2011-2022* (n=249.637)
700,0

600,0

500,0
Taxa por 100 mil habitantes

400,0 Crianças (0 a 9)
Adolescentes (10 a 19)
300,0
Adultos jovens (20 a 39)
200,0 Adultos (40 a 59)

100,0 Idosos (60+)

0,0

Ano de notificação

* Dados preliminares.
Fonte: Secretaria Estadual da Saúde RS/NIS/DGTI - Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Banco de dados exportado em
04/01/2023.

Cabe destacar que, dentre esse grupo populacional, as taxas de notificação aumentam conforme
aumenta a faixa etária, a saber: 60 a 69 anos, 70 a 79 anos e 80 anos e mais. Os mais velhos
apresentam, portanto, maior risco para situações de violência.
Nesse período, 62,8% das notificações foram do sexo feminino. A média do estado, para todas as
faixas etárias, é de 71,6%. Ou seja, entre pessoas idosas, a diferença entre os sexos é menor. No
mesmo sentido, as taxas de notificação de homens e mulheres aproximam-se à medida que
aumenta a faixa etária.
Na Figura 2, são apresentados os tipos de violência contra pessoas idosas por ano de
notificação. Note-se que, embora o instrutivo do Ministério da Saúde (MS, 2016) oriente a
marcação de apenas um tipo de violência por notificação, o sistema aceita a digitação de mais de
um tipo. Também, nos anos iniciais, era permitido o registro múltiplo. Dessa forma, o número total
excede em 11,6% a quantidade de notificações, chegando a 20.752 tipos de violência registrados
no período. Aqueles com maior frequência foram a violência física, psicológica/moral,
negligência/abandono e lesão autoprovocada.

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Figura 2. Frequência relativa dos tipos de violência registrados nas notificações de violência
interpessoal e autoprovocada contra pessoas idosas, por ano de notificação, RS, 2011-2022*
(n=20.752)

100%
Tráfico seres humanos
90%
Intervenção legal
80%
Outra
70%
Tortura
60%
50% Sexual

40% Financeira/econômica

30% Lesão autoprovocada

20% Psicológica/moral
10% Negligência/abandono
0% Física

Ano de notificação

*Dados preliminares.
Fonte: Secretaria Estadual da Saúde RS/NIS/DGTI - Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Banco de dados exportado em
04/01/2023.

Vale apontar que os tipos de violência distribuem-se de maneira diferente entre os sexos. No
caso dos homens, a lesão autoprovocada aparece em segundo lugar, seguida de negligência e,
então, violência psicológica/moral.
Em 43,4% das notificações, a violência já havia ocorrido outras vezes, evidenciando o desafio de
interromper a violência de repetição. Além disso, 26,5% das notificações apresentaram esse
campo ignorado/em branco. O local de ocorrência da violência foi residência em 82,3% das
notificações, seguida de via pública (6,2%).
A Tabela 1 apresenta o provável autor da violência. Filho(a) aparece em primeiro lugar, com
29,8% das notificações, seguido de a própria pessoa (que se refere, naturalmente, aos casos de
lesão autoprovocada).
Em relação à completitude das notificações, importa evidenciar a alta proporção do campo
escolaridade em branco ou ignorado: 35,6% no período.
A Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) com menor taxa média de notificação nos últimos
seis anos foi a 12ªCRS (28,3 por 100 mil habitantes). Já a 8ªCRS destacou-se com a maior taxa
(184,7 notificações para cada 100 mil habitantes), seguida da 17ª, 6ª, 5ª e 16ªCRS (Figura 6).
Nesse período, em média, 44% dos municípios gaúchos realizaram alguma notificação de
violência contra pessoas idosas. Em 2019, foram 57,9%, maior percentual registrado em toda a
série histórica.

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Tabela 1. Proporção de notificações segundo provável autor da violência, RS, 2011-2022*.
Provável autor %
Filho(a) 29,8
Própria pessoa 19,1
Outros vínculos 14,0
Cônjuge/Namorado(a) 11,7
Amigos/conhecidos 6,6
Desconhecido 6,1
Cuidador(a) 4,0
Irmã(ão) 3,1
Ex-cônjuge/Ex-namorado(a) 3,1
Pessoa relação institicional 1,1
Mãe/Pai 0,9
Padrasto/Madrasta 0,2
Policial/agente da lei 0,2
Patrão/chefe 0,1
Total 100,0%

*Dados preliminares.
Fonte: Secretaria Estadual da Saúde RS/NIS/DGTI - Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Banco de dados exportado em
04/01/2023.

Figura 6. Taxa média de notificação de violência interpessoal e autoprovocada contra pessoas


idosas, segundo Coordenadoria Regional de Saúde de notificação, RS, 2017-2022*

*Dados preliminares.
Fonte: Secretaria Estadual da Saúde RS/NIS/DGTI - Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Banco de dados exportado em
04/01/2023.
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Quanto aos serviços de saúde notificadores, foram identificados 1.713 CNES diferentes no
período entre 2011 e 2022. Do total de notificações, 48,7% foram realizadas por pronto-
atendimentos, serviços de urgência/emergência e hospitais. Na Figura 7, percebe-se que os
hospitais e pronto-socorros gerais ultrapassaram os serviços da atenção básica em frequência de
notificações a partir de 2017. Já em 2022, observa-se aumento de 22,6% nas notificações de
serviços da atenção básica.

Figura 7. Frequência de notificações de violência interpessoal e autoprovocada contra pessoas


idosas, segundo serviço de saúde notificador, por ano de notificação, RS, 2011-2022* (n=18.595)
900

800
Hospital Geral + Pronto Socorro Geral

700 Centro de Saúde/Unidade Básica + Posto de


Saúde

600 Pronto Atendimento

Centro de Atenção Psicossocial


500

Hospital Especializado + Pronto Socorro


Especializado
400
Central de Gestão em Saude + Unidade de
Vigilância em Saúde
300
Policlínica + Clínica/Centro de Especialidade

200 Outros

Não identificado/vazio
100

0
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022*

*Dados preliminares.
Fonte: Secretaria Estadual da Saúde RS/NIS/DGTI - Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Banco de dados exportado em
04/01/2023.

RECOMENDAÇÕES
A notificação é um elemento-chave na atenção integral às pessoas em situação de violência e
tem como objetivos:
1) Intervir nos cuidados em saúde e prevenir a violência de repetição;
2) Proteger e garantir direitos por meio da articulação das redes de atenção e proteção;
3) Conhecer a magnitude e a gravidade das violências, retirando os casos da invisibilidade;
4) Subsidiar as políticas públicas para prevenção e atenção às situações de violência,
indicando prioridades e permitindo a avaliação das intervenções.
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Recomenda-se aos gestores regionais e municipais esforços no sentido de:
 Retomar o crescimento das notificações de violência contra pessoas idosas, conforme
tendência observada antes da pandemia de Covid-19;
 Aumentar a sensibilidade dos serviços da atenção primária e secundária para a
identificação de situações de violência e notificação em tempo oportuno, a fim de evitar o
agravamento dos casos e possibilitar o rompimento dos ciclos de violência;
 Melhorar a completitude dos campos da ficha de notificação, especialmente quanto à
escolaridade e violência de repetição.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto da Pessoa Idosa e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 3 out. 2003. Seção 1, p. 1.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 104, de 25 de janeiro de 2011. Define as terminologias


adotadas em legislação nacional, conforme o disposto no Regulamento Sanitário Internacional
2005 (RSI 2005), a relação de doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação
compulsória em todo o território nacional e estabelece fluxo, critérios, responsabilidades e
atribuições aos profissionais e serviços de saúde. Diário Oficial da União, Brasília, 26 jan. 2011.
Seção 1, p. 37.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Viva: instrutivo notificação de


violência interpessoal e autoprovocada. 2. ed. Brasília, 2016. 92 p.

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