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Se pararmos para analisar, a história

da cannabis medicinal é, de fato, a


história geral da cannabis. Afinal, os
mais antigos registros sobre a erva já
mencionavam justamente suas
utilidades terapêuticas, e não o
consumo recreativo.

Nativa da Ásia, com origem na região


que hoje em dia compreende China,
Mongólia e sudeste da Sibéria, a planta
é dividida nos subgêneros Cannabis
sativa, Cannabis indica e Cannabis
ruderalis e acredita-se que vem sendo
utilizada pelo ser humano há mais de
10 mil anos. Mas seu cultivo –ou seja,
a plantação deliberada para gerar novos
pés – começou há cerca de 6 mil anos,
época das primeiras lavouras no
período neolítico.

O que isso significa? Simples, que a


gente usa maconha de alguma forma
desde a Idade da Pedra!
_Os primeiros registros na China há 10 mil anos
Se análises já mostram o uso da erva em peças
chinesas produzidas há 10 mil anos, a presença da
cannabis na farmacopeia mais antiga do mundo, a
Pen Ts’ao Ching, de 2.700 a.C., só reforça como
sua origem e consumo estão diretamente ligados à
humanidade. Na histórica obra, a planta é descrita
para tratar mais de 100 doenças diferentes. Tem até
uma lenda que diz que até o então imperador Shen
Neng prescrevia chá de maconha para tratar dores
reumáticas, gota e malária.

Com a popularidade na China, era de se esperar que


a cannabis desbravasse novas terras e foi assim que
chegou à Índia por volta de 2.000 a.C. E, desde então,
seu uso está inextricavelmente conectado à cultura
desse país, inclusive, tendo sido a maconha listada
como uma das cinco plantas sagradas do hinduísmo.

Até hoje, a cannabis é o ingrediente essencial de uma


das bebidas mais populares da Índia, a bhang, que
segundo intelectuais do passado e historiadores tinha
o potencial de trazer felicidade e melhorar as funções
mentais, além de eliminar catarro e gases.
Viagem pelo Mar Mediterrâneo_
Embora não haja tanta informação a respeito
da cannabis medicinal no Egito, há anotações
sobre seu uso para tratar inflamação no papiro
Ebers. Também há evidências que os egípcios
usavam a erva para tratar glaucoma e edemas,
sem contar a descoberta de pólen de cannabis
nos restos mortais do Faraó Ramses II.

Foi por volta de 450 a.C. que a maconha surgiu


nas margens do Mar Mediterrâneo e Heródoto foi
um dos primeiros gregos a escrever sobre seus
efeitos psicotrópicos. Os gregos antigos também
costumavam consumir a erva para cuidar de
inflamações e edemas.

Anos depois, o médico Pedânio Dioscórides,


considerado o fundador da farmacopeia,
documentou os benefícios da cannabis no livro
“De Matéria Médica”, escrito em 70 d.C. Além
disso, está registrado que as mulheres romanas
usaram cannabis para reduzir as dores do parto.

Registros sobre
os benefícios
terapêuticos da
cannabis foram
documentados
por Dioscórides
em sua obra
"De Matéria
Médica",
de 70 d.C.
O irlandês William Brooke O'Shaughnessy é
o grande responsável pela popularização da
maconha na medicina ocidental na primeira
metade do século 19. Convidado para atuar
como assistente cirúrgico da então famosa
Companhia das Índias Orientais, empresa
britânica que controlava grande parte das
Índias na época, em 1833 ele se mudou para
Calcutá, onde ficou por oito anos. Foi durante
esse período que o médico conheceu e
estudou uma grande variedade de plantas
locais, entre elas a cannabis, que já era muito
conhecida pela sociedade indiana.
Impactado pela maconha, O médico defendeu o uso
ele resolveu fazer uma rigorosa da maconha medicinal
pesquisa, a partir de fontes publicamente durante a
bibliográficas e experimentos apresentação de sua tese
em animais e depois, com a para a Sociedade Médica
confirmação de que seu uso e Física de Calcutá, em
era seguro, em pessoas. Em 1839. Considerado um
paralelo a isso, o médico marco para a medicina
passou a ministrar a cannabis ocidental, o estudo de
para seus pacientes no hospital O'Shaughnessy causou
em tratamentos de cólera, furor na Inglaterra e
reumatismo, raiva, tétano depois por toda a Europa
e convulsões. e Estados Unidos.

Ao retornar à Inglaterra, Esse foi o ponto de partida


em 1841, O'Shaughnessy para muitos pesquisadores
aproveitou para levar amostras da Europa e dos EUA fazerem
de cannabis, tanto em planta seus próprios experimentos
como em resina. Ele, então, com a cannabis medicinal.
apresentou a substância Consequentemente, ainda em
à Sociedade Farmacêutica meados do século 19, remédios
Real e para os Jardins à base de cannabis passaram
Botânicos Reais de Kew, a ser produzidos, sendo alguns
em Londres, e falou sobre baseados nas receitas do
seus estudos, defendendo médico irlandês. Os produtos
que se tratava de um remédio foram se tornando cada vez
milagroso para algumas das mais populares, alcançando
principais doenças da época. seu ápice no final do século.
Apesar de O’Shaughnessy ser o ‘pai’ da cannabis na
medicina ocidental no período colonial, antes dele a
erva já era usada para diferentes finalidades, incluindo
terapêuticas, nas Américas. A planta foi trazida por
conquistados espanhóis no século 16 (Américas Central
e do Norte) e mais tarde por escravos africanos (Brasil),
mas inicialmente, ao menos nos EUA, o cânhamo era
utilizado basicamente para a fabricação de roupas e papel.

_O desembarque nas Américas

Ainda que menos conhecidos


até então, os fins terapêuticos
da cannabis estão descritos em
“The Anatomy of Melancholy”, um
dos mais antigos livros de saúde
mental do mundo, de 1612. Nele,
o clérigo inglês Robert Burton
menciona a maconha como uma
cura potencial para a depressão.

Nos Estados Unidos, um grande avanço do uso médico


de cannabis aconteceu durante o final do século 18,
quando algumas revistas científicas de lá começaram a
publicar estudos sobre a aplicação de sementes e raízes
de cânhamo no tratamento de inflamações cutâneas,
incontinência e outros problemas de saúde.

No século 19, a maconha se tornou um remédio comum


na América do Norte, com grande oferta de produtos como
o “Piso’s Cure”, espécie de xarope com múltiplas funções,
e o “One Day Cough Cure”, que prometia curar a tosse de
um dia. Antes de ser retirada da literatura farmacêutica no
inícios dos anos 1940, as finalidades médicas da erva
foram resumidas na Enciclopédia Analítica de Medicina
Prática de Sajous, de 1924, como eficazes para tratar
inflamação, enxaqueca, tosse, raiva, tétano e gonorreia.
O que o racismo e a xenofobia têm a ver
com a criminalização da maconha? Tudo!

Por aqui no Brasil, a proibição veio cedo e a


maconha se tornou ilegal na cidade do Rio de
Janeiro ainda em 1830 com a “Lei do Pito do
Pango”. Seu texto previa uma pena de três dias
de cadeia para os “escravos e mais pessoas”
pegos com a erva. Na época, uma bravata dizia
que “maconha em pito faz negro sem vergonha”.
E não parou por aí! Em 1915, o médico
Rodrigues Dória escancarou ainda mais seu
racismo e da sociedade.

Durante o Segundo Congresso Científico Pan-


americano, realizado naquele ano nos EUA, o
psiquiatra apresentou o estudo “Os fumadores
de maconha: efeitos e males do vício”, que
defendia que a erva foi introduzida no Brasil
pelos negros escravizados, em suas palavras
como uma forma de vingança da ‘raça
subjugada’ pelo roubo da liberdade.
_ Clima de terror e fake news contra a erva

Nos Estados Unidos, a principal causa para a proibição


da maconha foi a perseguição a grupos marginalizados
que a usavam de forma social. Em especial, os mexicanos.
A rejeição a eles cresceu muito entre os norte-americanos
com a Revolução Mexicana, a partir de 1910, e a cannabis
se transformou alvo em filmes, livros e reportagens, que
associavam a erva à violência, homicídios e loucura.
Conhecida como “Reefer Madness” em referência a um
famoso filme da época, essa campanha foi fundamental
para disseminar o clima de terror ligado à planta. Um das
consequências foi a proibição em todo os EUA, em 1937.
No Brasil, a proibição em nível federal veio um ano
depois, pela Lei de Fiscalização de Entorpecentes
durante a Ditadura Vargas.

A indústria farmacêutica também contribuiu para a


criminalização da maconha, mas em menor grau. Com
a invenção de vacinas para doenças como o tétano e o
desenvolvimento de analgésicos sintéticos como a aspirina
somados à cobrança de pesados impostos e às leis que
restringiam ou proibiam a prescrição sobre pena de prisão
inclusive para médicos, o uso medicinal da cannabis foi
desaparecendo até a erva ser excluída da farmacopeia
americana no início dos anos 1940.
Com mais 90 anos (ele nasceu em 5 de novembro
de 1930) e ainda na ativa, o Drº Raphael Mechoulam
é o “pai da pesquisa sobre cannabis” com todo mérito.
Foi seu trabalho no Instituto Weizmann que levou à
descoberta do sistema endocanabinoide e ao
renascimento da maconha como importante ativo
medicinal lá na década de 1960.
Com formação em química, foi o primeiro acadêmico
a isolar os princípios ativos da planta. Em 1963, o
Profº Mechoulam descobriu e isolou o canabidiol (CBD)
e, no seguinte, isolou o tetra-hidrocanabinol (THC),
identificando este composto como responsável pelos
efeitos intoxicantes da planta. Uma nova classe de
substâncias foi criada: a dos canabinoides.

A descoberta do sistema
endocanabinoide e sua
atuação na regulação dos
neurônios só foi possível
a partir dos estudos sobre
como essas substâncias
agem em nosso organismo
e, consequentemente,
gerou uma intensa e nova
onda de pesquisas sobre
o potencial terapêutico
da cannabis.
Todo esse trabalho científico acadêmico foi trazendo mais
e melhores resultados e, no fim do século 20, produtos
feitos com canabinoides isolados - a exemplo do Marinol
e do Dronobinol - foram aprovados para tratamento em
pacientes com câncer (náuseas e vômitos) e HIV e
doenças terminais (aumentar o apetite). O avanço das
pesquisas fortaleceu não apenas a indústria, mas também
grupos de pacientes que militaram e conquistaram o direito
de cultivar a planta e produzir seu próprio remédio.

A Lei de Uso Compassivo,


aprovada em plebiscito na
Califórnia em 1995, foi a
primeira regulamentação
para a cannabis medicinal
depois de décadas de
criminalização. A partir
desse marco, outros países
têm atualizado e adaptado
suas legislações sobre o
cultivo e consumo da erva
(tanto terapêutico como
recreativo em alguns locais).

Apesar de ainda ser foco de preconceito, reprovação moral


e fake news, a maconha ganhou muitos aliados com o
documentário do médico e celebridade norte-americano,
Sanjay Gupta, de 2013. No
filme, é detalhado como o
uso de canabidiol é benéfico
para portadores de epilepsia
refratária sem causar 'barato',
o que contribuiu para que o
remédio passasse a ser aceito
em diversos países.
_BROWNIE MARY
Nem todo mundo que vê a
foto ao lado imagina que essa
senhora foi uma das principais
militantes pelo uso da maconha
no tratamento de HIV. Mary
Jane Rathbun, mais conhecida
como “Brownie Mary” foi muito
importante para ajudar a
desmistificar o tema e diminuir
o preconceito que o o cerca.
Voluntária no Hospital Geral de
São Francisco, ela ficou famosa
por assar brownies de cannabis
para pacientes com Aids, tendo
sido presa e acusada de
distribuição em 1992.

Mas a receita de Mary já fazia sucesso na década de 70,


quando ela era garçonete e ganhava um dinheiro extra
vendendo seus brownies com cannabis. Ela já havia tido
problemas com a polícia no começo de 1981 depois de
terem apreendido em sua casa mais de 18 quilos de
maconha e 54 dúzias do doce.

Mary se declarou
culpada e foi
condenada a três
anos de liberdade
condicional, além
de 500 horas de
serviço comunitário.
E foi exatamente
aí que sua vida
mudou e ela se
tornou ativista.
Mary se tornou voluntária
do AIDS Ward, no Hospital
Geral de São Francisco,
em 1984 e dois anos
depois recebeu o prêmio
“voluntário do ano”.
Em 1991, seu papel foi
fundamental para a
proposta de tornar
a cannabis disponível para
fins médicos na cidade de
São Francisco passar com
79% de apoio.

Após a recusa de Mary de aceitar o acordo e pagar


uma multa de US$ 10 mil e preferir ir a júri popular, o
processo iniciado em 1992 foi finalizado pelo juiz, que
considerou as consequências dos testemunhos de
pacientes e especialistas
sobre os benefícios
médicos da cannabis
perante a opinião pública.
Esse fato, inclusive, foi o
primeiro passo para a
legalização da cannabis
medicinal nas eleições da
Califórnia em 1996.

Mary morreu de um ataque cardíaco, no dia


10 de abril de 1999.
Descoberto apenas em 1964 a partir das pesquisas
do Profº Drº Raphael Mechoulam nas quais isolou os
princípios ativos da cannabis, o sistema endocanabinoide
é composto, basicamente, por canabinoides endógenos,
conhecidos como endocanabinoides, e enzimas de síntese
e degradação, todos presentes em diversos tecidos do
corpo.

Ele se encontra nas intersecções de outros sistemas,


permitindo assim a comunicação e coordenação entre
as células. Quando os receptores canabinoides são
estimulados, uma variedade de mecanismos fisiológicos
ocorrem. De forma resumida, o sistema endocanabinoide
é um conjunto de receptores e enzimas que trabalham
como sinalizadores entre nossas células e os processos
do nosso organismo.
_RECEPTORES
Até o momento, foram identificados
dois receptores canabinoides:
• CB1: encontram-se no sistema
nervoso, tecido conjuntivo, gônadas,
glândulas e órgãos.
• CB2: encontrados no sistema
imunológico e suas estruturas.

Algumas células contêm receptores


CB1 e CB2, cada um ligado a
funções diferentes.
FUNÇÕES_
Em cada parte do organismo o sistema executa tarefas
diferentes, mas sempre com o o mesmo propósito:
estabilizar o ambiente interno, independentemente de
variações externas. Ele é responsável por regular:
• Apetite • Dor • Inflamação • Termorregulação
• Pressão intraocular • Sensação • Controle muscular
• Equilíbrio de energia • Metabolismo • Qualidade do sono
• Resposta a estresse • Motivação/recompensa
• Humor e memória

_SISTEMA ENDOCANABINOIDE E O CANABIDIOL


O organismo é capaz de produzir seus próprios
canabinoides, mas podemos suplementar nosso
sistema e melhorar sua atuação com fitocanabinoides
exógenos, encontrados em plantas como cannabis,
equinácea e linhaça.

O canabidiol interage com o sistema pelo receptor CB2


e tem efeitos benéficos para condições como epilepsia,
Parkinson, dores, câncer e esclerose múltipla. Estudos
mostram que o sistema e o canabidiol, em sinergia,
promovem benefícios à saúde humana, ajudando a
aumentar o bem-estar e a qualidade de vida dos
pacientes.
Mais até mesmo do que pelos estudos acadêmicos
e pesquisas científicas, a eficácia da cannabis para
tratar inúmeras enfermidades tem sido comprovada
na prática. Confira a seguir a lista de doenças para
as quais o CBD trouxe bons resultados.
_ACNE E DOENÇAS DE PELE ALZHEIMER E
Os efeitos anti-inflamatórios e PARKINSON_
analgésicos da cannabis têm se Típicas da população idosa,
mostrado eficazes para essas doenças não têm
combater doenças de pele. cura e os tratamentos se
Cientistas da Universidade de baseiam, principalmente,
Stanford, por exemplo, em melhorar a qualidade
observaram que o uso tópico de vida dos pacientes.
de CBD em pacientes com É aí que entra a
epidermólise bolhosa resultou importância da cannabis.
em cicatrização mais rápida Estudos mostram que os
das feridas, menos bolhas e canabinoides podem
redução da dor. O canabidiol combater características
também apresenta bons do Alzheimer como o
resultados nos tratamento de estresse oxidativo e a
psoríase, dermatite e acne. neuroinflamação ao mesmo
tempo em que têm efeitos
_ANSIEDADE terapêuticos significativos
Um estudo realizado na nos sintomas não motores
Washington State University do Parkinson, como psicose
demonstrou que o consumo e transtorno do sono REM
periódico de maconha pode
reduzir significativamente os ARTRITE REUMATOIDE_
níveis de ansiedade e estresse. A doença não tem cura,
Apesar dos cientistas mas pode ser tratada com
pontuarem que essa foi uma remédios para dor, anti-
das poucas pesquisas feitas inflamatórios e corticoides.
com usuários que consomem O problema é que esses
a erva em casa e, por isso, mesmos medicamentos
são necessários mais estudos, podem causar sérios
eles chegaram às seguintes efeitos colaterais quando
conclusões: usados de forma
• Cannabis rica em CBD e prolongada, como um risco
baixa em THC pode reduzir 31% maior de sofrer
sintomas da depressão no ataque cardíaco (estudo do
curto prazo; European Heart Journal, de
2017). O uso de canabidiol
• Duas baforadas de qualquer pode ser um boa
tipo de cannabis reduzem os alternativa, pois apesar de
sintomas de ansiedade; ainda faltarem estudos
mais conclusivos, na
• Dez ou mais baforadas prática ele tem se
de cannabis com altas mostrado eficaz para o
concentrações de CBD e controle da dor, com boa
THC produziram as maiores tolerância e sem
reduções no estresse. contraindicações.
_AUTISMO
Uma pesquisa feita no Brasil
com crianças e adolescentes DEPRESSÃO_
ligados à Associação Brasileira O estudo “Uso Terapêutico
de Pacientes de Cannabis dos Canabinoides em
Medicinal (Ama+me) e Psiquiatria” (Revista
publicado na revista Frontiers Brasileira de Psiquiatria,
in Neuroscience mostrou que 2010) mostrou que a
aproximadamente 80% dos substância tem “potencial
participantes apresentaram terapêutico como
melhora em pelo menos um, e antipsicótico, ansiolítico,
40% em quatro ou mais, dos antidepressivo e em
sintomas com o uso da diversas outras condições”.
cannabis medicinal. As
manifestações analisadas DIABETES_
foram déficit motor, déficit O uso recreativo da
de autonomia, déficit de maconha é a forma com a
comunicação e interação social, qual muitas pessoas com
problemas cognitivos, distúrbio doenças crônicas aliviam
do sono e convulsões. os sintomas. Um exemplo
é a diabetes, pois a
_CÂNCER atividade endocanabinoide
O CBD é, em geral, indicado melhora o metabolismo da
como auxiliar nos cuidados glicose e dos lipídeos.
paliativos e para reduzir Além disso, um estudo do
náuseas e vômitos. Mas National Health and
há indícios de que também Nutrition Examination
seja uma substância Survey revelou que os
anticancerígena, podendo usuários têm menor
ajudar na remissão do câncer incidência de diabetes em
de pâncreas, um dos mais relação aos não usuários.
difíceis de diagnosticar.
_DEPENDÊNCIA QUÍMICA DOR NEUROPÁTICA_
Quem ainda acredita no mito Causada por lesões nos
de que o canabidiol é uma nervos sensitivos do
substância entorpecente está sistema nervoso, essa é
totalmente enganado. Prova uma da dores crônicas
disso é que o CBD pode ser mais difíceis de tratar.
usado justamente no controle O canabidiol surge
da dependência química, como alternativa para
inclusive, da própria maconha amenizá-la uma vez que
recreativa. Seus efeitos são atua como fator de
especialmente benéficos para homeostase dos sistemas
reduzir o vício em cocaína neurotransmissores.
e seus subprodutos: crack, O CBD age neles como
merla e óxi. modulador ativo.
__ENDOMETRIOSE GASTROINTESTINAIS_
A cannabis medicinal é O uso de CBD tem bons
considerada uma alternativa resultados no tratamento
de tratamento pois, via sistema de enfermidades do sistema
endocanabinoide, ajuda a gástrico, a exemplo
regular os hormônios no ciclo da insuficiência intestinal
menstrual. (POIC), da colite ulcerosa e
da doença de Crohn. O uso
_EPILEPSIA de cannabis aumenta a
Dedicado exclusivamente ao proliferação de células
CBD, o relatório Critical Review epiteliais nas amostras
Report foi publicado pela OMS inflamadas, fazendo com
em 2017. Nele, a entidade que as inflamações
reconhece sua eficácia como diminuam e os tecidos
medicamento principalmente saudáveis voltem a surgir.
no tratamento da epilepsia,
pela importante redução de GLAUCOMA_
sintomas com destaque às Principal causa de cegueira,
convulsões. De tão eficaz, caracteriza-se pelo aumento
o canabidiol começou a ser da pressão intraocular. Tanto
usado no tratamento de o THC como o CBD ajudam
epilepsia em cães. na diminuição desta
pressão. O uso do colírio
_ESCLEROSE MÚLTIPLA de cannabis também
Doença autoimune que atinge contribui para aliviar a dor
de maneira única cada de cabeça causada pela
paciente, apesar de alguns alteração na visão.
sintomas comuns como a
espasticidade, ou sinais de
rigidez muscular causadas
pelas lesões nas áreas do
sistema nervoso que controlam
os movimentos voluntários. É
justamente na redução desse
sintoma que a cannabis atua de
maneira efetiva, conforme
comprovação científica.
_FIBROMIALGIA
Também de difícil tratamento,
essa doença afeta as mulheres
em maior número e seus
principais sintomas são dores
lancinantes por todo o corpo
(articulações e músculos).
A cannabis medicinal alivia
essas dores.
_HIV VETERINÁRIO_
A cannabis atua como O sistema endocanabinoide
coadjuvante no tratamento está presente na maioria
de pacientes com Aids, mas dos animais vertebrados,
com importantes benefícios entre eles cães, gatos,cavalos
terapêuticos. Vômitos, e aves. Isso significa
náuseas, perda de apetite, que nossos companheiros
ansiedade, depressão e também podem se
dores crônicas são alguns beneficiar da cannabis
dos sintomas da doença que o medicinal.
consumo de maconha alivia,
contribuindo para umamelhor O óleo de CBD é eficaz no
qualidade de vida para os tratamento veterinário de
portadores do vírus. doenças física, mental e/ou
comportamental, como:
_OSTEOPOROSE
Ainda não prescritos no Brasil • Infeções fúngicas,
para casos de osteoporose, bacterianas, virais
os medicamentos de cannabis • Dor crônica e/ou
conquistam cada vez mais neuropática
adeptos para o tratamento • Crises epilépticas
desta doença no mundo. E • Processo de cicatrização
isso porque eles têm dado • Distúrbios do trato
bons resultados, uma vez que gastrointestinal
o sistema endocanabinoide • Transtornos mentais e de
tem papel relevante na ansiedade
regulação do metabolismo • Situações de estresse
ósseo, conforme estudo da • Traumas físicos ou
Universidade de Edinburgh, “psicológicos”•
na Escócia, de 2010. Problemas
dermatológicos
_SÍNDROME DE TOURETTE • Doenças autoimunes
Pessoas com Tourette têm os
sintomas da doença reduzidos
ao fumarem maconha. O uso Entre os benefícios da
da erva diminui os tics motores, cannabis medicinal para
além da urgência que esses os bichinhos, destacam-se
pacientes sentem para praticar redução dos níveis
comportamentos compulsivos. de medo, estresse e
Pode parecer pouco, mas é ansiedade, alivio da
extremamente relevante, dor, melhora da função
pois quem tem Tourette não neurológica, melhora na
consegue controlar impulsos alimentação, diminuição
como emitir sons ou fazer de doenças oportunistas e
movimentos bruscos redução a quase zero de
repetidamente. crises epilépticas.
O bom e velho baseado pode ser
a maneira mais conhecida de consumir
maconha, mas está bem longe de ser
a única. Muito pelo contrário.
Principalmente quando falamos de seu
uso para fins terapêuticos. O tratamento
com cannabis pode ser feito via oral,
inalação ou por uso tópico.
_CHÁ
Uma das mais tradicionais
formas de consumo de
ervas, o chá é fácil de fazer
e tem diversos benefícios
terapêuticos. No caso da
cannabis, a bebida tem propriedades anti-inflamatórias
e analgésicas, indicada para tratar dores neuropáticas,
de cabeça, musculares e de doenças crônicas como
artrite, artrose, fibromialgia e reumatismo. O chá também
é bom para diminuir náusea, aliviar inflamação intestinal
e melhorar a pressão arterial.

COMESTÍVEIS_
Nem só de brownies vive a
gastronomia canábica!
Tendência cada vez mais
forte, os pratos com
cannabis fazem sucesso
não só entre os usuários e
são tema de cursos e
livros de culinária ao redor
do mundo, incluindo o Brasil. As receitas são uma
alternativa eficaz para tratar dores crônicas. Lá fora, existe
também um amplo cardápio de snacks prontos para comer
com balas, pirulitos, chocolates e até pipocas aditivadas.

_POMADAS E LOÇÕES
Se a intenção é ficar chapado,
claro que essas não são a opção.
O uso tópico, aplicado direto na
pele, é exclusivo para fins estéticos
e terapêuticos. Ricas em THC, as
pomadas, cremes e loções de
cannabis são boas para o alívio
da dor e da inflamação.
VAPS_
Cada vez mais habituais,
começam a dividir espaço
com os baseados, mas com
vantagem de serem menos
prejudiciais aos pulmões.
Com eles, ao contrário do
que acontece quando é queimada, a maconha não
entra em combustão. Ela é apenas aquecida para que
o vapor produzido seja inalado, sem toxinas e com até 95%
a menos de fumaça. O método minimiza o gosto e cheiro
da maconha e pode ser usado para o consumo nas
versões cera, óleo ou a própria erva.

_EXTRATOS E ÓLEOS
Populares no mundo, aqui no
Brasil ainda não atingiram todo
esse sucesso por conta da
dificuldade de aquisição. As duas
opções regulamentadas são
comprar da Abrace, única no país
com aval da justiça para cultivo e
produção, e importar com a autorização da Anvisa.
Com grande concentração de CBD, podem ser ingeridos
diretamente, com algumas gotas embaixo da língua,
ou misturados em chás, iogurtes e comidas.

CÁPSULAS_
Possuem grande variedade de
dosagens de canabinoides e,
de acordo com a formulação,
ajudam no tratamento desde
ansiedade e depressão até de
dores crônicas e câncer. Entre
as propriedades da cannabis:
analgésicas, anti-inflamatórias,
reguladoras de apetite
A cannabis desembarcou por aqui no período
colonial – trazida por escravos africanos – e sua
produção foi estimulada na mesma velocidade
que seu consumo se disseminou desde entre
índios até membros da corte portuguesa. Um
exemplo? A rainha Carlota Joaquina tinha o
hábito de tomar chá de maconha.

Mas quando a erva se popularizou entre os


negros escravizados – que a consumiam tanto
de forma recreativa como terapêutica – não
demorou para passar a ser mal vista No Rio,
a Lei do Pito Pango foi instituída em 1830.
Mas em outras cidades, até o começo do século
20 era comum o comércio de cigarros e xaropes
de cannabis, com indicação contra dores, tosse,
insônia e asma

Com o passar dos anos, a tese de que a maconha


era um 'mal' foi ficando cada vez mais forte em
todo o mundo e teve a grande contribuição do
médico brasileiro Pernambuco Filho, que associou
o uso da erva ao uso do ópio na conferência “Liga
das Nações” realizada em Genebra, em 1924.

Muitos anos depois, em 1981, o Profº Drº Elisaldo


Carlini (Unifesp) publicou no respeitado periódico
científico The Journal of Clinical Pharmacology
seu estudo sobre o efeito benéfico do CBD para
controle de crises convulsivas.
O plantio de cannabis para uso medicinal e científico
já é previsto no Brasil pela lei 11.343 desde 2006,
mas a gente sabe que na
prática não é bem assim.
Ainda há muitos desafios
para a evolução da pauta
no país, como a própria
falta de legislação efetiva,
os cortes nas verbas para
a pesquisa científica e o
preconceito até de médicos
para prescrevê-la. Sem contar que – mesmo após
driblar todos esses obstáculos – quando um paciente
decide experimentar um tratamento com CBD, ele
esbarra em mais dois grandes desafios: o preço dos
produtos disponíveis no mercado interno e para
importar e o processo para a autorização da Anvisa.

Em 2015, a Agência retirou o canabidiol da lista de


substâncias proibidas no Brasil e abriu caminhos para a
importação de produtos, seguindo a RDC nº17.
Um ano depois, a
Anvisa autorizou
a prescrição de
remédios a base
de canabidiol e
THC, mas foi a
partir de março
de 2020 que a
RDC nº 327/2019
passou a valer de fato. Para se tratar com cannabis, o
primeiro passo é se consultar com um médico. Aí, com a
receita em mãos, solicitar à Anvisa - via site do órgão - a
autorização para importar o produto. O prazo é de 10 dias
úteis, em média, para a Anvisa fazer a análise e retornar
com a autorização, exigência de informação adicional
ou indeferimento do pedido.

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