Portuguà S 11 - Parte III

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| Rita Mineiro

Antero de Quental

Vida

Antero de Quental foi um escritor e poeta português que teve um papel importante
no movimento da Geração de 70. Nasceu na ilha de São Miguel, a 18 de abril de 1842, e,
desde jovem, destacou-se pelas suas opiniões revolucionárias, defendendo os seus ideais
socialistas, e pela forma de estar na vida. Este dedicou-se à poesia, à filosofia e à política e
tinha uma personalidade complexa, que oscilava entre a euforia e a depressão.
Ele foi educado entre os mais rigorosos preceitos religiosos e veio para o continente
estudar para o Colégio do Pórtico, dirigido por Castilho, onde decidiu ser padre. Contudo,
abandonou essa ideia e matriculou-se em Direito na Universidade de Coimbra.
Em 1865, publica Odes Modernas, cuja importância no panorama literário português
foi enorme, pois a sua edição marca, entre nós, o advento da poesia moderna e está na
origem da nossa maior polémica literária de sempre – a Questão Coimbrã. Esta durou cerca
de seis meses e assentou numa dura crítica ao tradicionalismo retrógrado e ultrarromântico
e à pessoa que o defendia, António Feliciano de Castilho.
Em 1871, orienta as Conferências do Casino, juntamente com Batalha Reis. A sua
finalidade era a reflexão sobre as condições políticas, religiosas e económicas da sociedade
portuguesa no contexto europeu, porque "não podia viver e desenvolver-se um povo isolado
das grandes preocupações intelectuais do seu tempo". Em 1886, Oliveira Martins publica
com a autorização de Antero, Sonetos Completos.
Em Junho de 1891, regressa a Ponta Delgada, juntamente com as filhas adotivas.
Antero de Quental, caído num profundo tédio, acaba por se suicidar no dia 11 de setembro
de 1891.

Obra

A obra de Antero apresenta três dimensões: a dimensão social, em que analisa a


sociedade, procura encontrar as causas da sua decadência e propõe soluções baseadas no
socialismo utópico de Proudhon; a dimensão filosófica, sob influência predominante de
Hegel, para quem a ideia é o objetivo último a atingir; por fim, a dimensão poética.
Assim, Antero tinha consciência da sua responsabilidade como poeta e, ao mesmo
tempo, da poesia e da sua função na sociedade (“A poesia moderna é a voz da Revolução!”),
dado que vê na poesia um fator de regeneração moral e social.
Ao mesmo tempo, na vertente filosófica da sua poesia, encontramos presentes duas
questões: a interrogação horizontal (Eu/Mundo), na qual ele questiona a sociedade do seu
tempo, apoiado em alguns filósofos contemporâneos, e expõe os seus ideais de amor, justiça
e fraternidade, e a interrogação vertical (Eu/Deus), onde o poeta procura interpretar Deus
de forma racionalista e defende a superioridade da Razão.
António Sérgio, ao estudar a poesia anteriana, fala-nos do Antero “apolíneo” (o
intelectual) e o “noturno” (fisiológico, sentimental, sensível) e conclui que a primeira faceta
tem uma datação concreta, enquanto a qualidade lúgubre do Antero noturno acompanhá-
lo-ia sempre.
Desta forma, o soneto será um elemento essencial da estética anteriana, uma vez que
constitui, pela sua clareza em termos de apresentação da imagem, o meio por excelência

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para superar o lado noturno e tenebroso da sua poesia. A opção pelo soneto faz com que o
universo romântico se submeta a uma luz clássica.
Concluindo, no modelo poemático das duas quadras e dos dois tercetos, foi possível
a Antero de Quental encontrar a estrutura dialética capaz de fazer ascender os conceitos
nascidos da observação e da reflexão ou dos juízos de valor sobre a existência problemática
do homem neste mundo até a uma conclusão de ordem metafísica.

Sonetos Completos

Em 1886, são publicados Sonetos Completos, nos quais Antero de Quental atinge a
plenitude da sua poesia. Nos cento e nove sonetos, dezasseis têm o título em latim e outros
quatro têm uma epígrafe nessa língua. Destes títulos, muitos documentam a familiaridade
com a língua, outros têm ressonâncias bíblicas.
Sem dúvida, é o soneto que melhor serve para o poeta expor as suas ideias e
opiniões, não só porque apresenta uma estrutura de tese-antítese-síntese, muito do seu
agrado, mas também porque representava uma fuga ao Romantismo, que não cultivou esta
tipologia textual.
Assim sendo, na sua poesia, encontramos uma profunda reflexão sobre os
problemas sociais, os mistérios da existência e o papel do ser humano no mundo. Estas
preocupações vão orientá-lo na sua luta pela busca de ideais de amor, de justiça e de
liberdade, pois só eles darão resposta às suas dúvidas e conferirão sentido ao mundo novo
que deseja ver, mas que tarda a chegar. Antero de Quental dá voz, então, a ideais que
iluminarão o seu projeto quase utópico, porque, na sua opinião, o poeta é um ser
interventivo e à poesia cabe um papel na transformação da sociedade.
Desta forma, as configurações do ideal em Antero surgem agregadas: primeiro, à
sua fé nos ideais de Amor, Justiça e Liberdade, considerados baluartes de um mundo novo e
da plenitude do ser; segundo, à primazia da Razão (o pensamento racional como princípio
orientador da ação e da luta por um mundo melhor), terceiro, ao combate ético e ideológico
a favor do progresso; por fim, à capacidade e responsabilidade de cada um no devir
histórico. Assim, concluiria Antero de Quental, os ideais e valores que libertarão a
Humanidade e a farão ascender a um mundo superior têm a sua origem na Razão.
No entanto, fruto de alguns acontecimentos pessoais, como a morte da mãe e a
doença, Antero de Quental, por volta de 1874, ingressou num pessimismo, num tédio e
numa angústia existencial que deixaram marcas profundas nos seus sonetos. De certa
forma, o poeta viveu constantemente numa ânsia desesperada pelo absoluto, pois, como era
consciente da desordem e da confusão do mundo, aspirava a um equilíbrio, assente nas
filosofias socialistas, que o fizeram preocupar-se com os problemas sociais e a desejar uma
justiça que não se concretizou.
No fundo, o mistério da vida e da morte, do universo e de Deus criaram-lhe um
estado de permanente ansiedade e eivado de questões metafísicas, que lhe agravaram as
oscilações de espírito, marcadas pelo desânimo e pelo pessimismo. O vazio de Antero de
Quental advém da perda da fé que ele desejava ter, até porque o problema do ser humano
só se resolveria com a solução do problema de Deus. Assim, o poeta vivia um conflito moral,
visto que crença e descrença coexistiam no seu espírito e esta dúvida atormentava-o.
Por fim, estes conflitos interiores, o amargo sabor da desilusão, a insatisfação por
causa do amor, a luta entre a esperança e o desespero, o medo da morte por oposição ao
grande amor à vida e o confronto realidade/sonho provocam-lhe um sofrimento que o

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martiriza, o mergulha na noite e faz dele uma vítima da náusea do real. Então, a morte passa
a ser, para o poeta, a verdade e, embora dolorosa, é vista como salvação e libertação do
sofrimento atroz que sente.
Resumindo, a excentricidade do temperamento de Antero de Quental, a consciência
de uma vida inútil e o fracasso dos seus projetos aumentam o seu abatimento físico e o
rápido envelhecimento que o conduzem à renúncia da vida.
Em termos de linguagem e estilo, os principais pontos de Antero de Quental
consistem na adoção do soneto; a influência de Camões, relativamente a algumas temáticas,
e de Bocage, principalmente, a utilização da alegoria e na obsessão da morte; a presença de
algumas marcas românticas; o uso da apóstrofe, da metáfora e da personificação, ao serviço
do tom apelativo e argumentativo dos sonetos.

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Consolidação

Configurações Angústia
do ideal existencial

consciência da
procura de uma
imperfeição humana
finalidade para a
e vida terrena sem
existência humana
alegria

- busca do ideal;
- tristeza;
- ânsia de absoluto;
- pessimismo;
- desejo de sonhar;
- desencanto. deceção;
- libertação da noite;
- cansaço, frustração;
- transcedência
religiosa. - desistência.

- realização plena e perfeita; - ausência de esperança;


- luz rompe as trevas para - triunfo da dor e do Mal;
alcançar o Bem.
- morte.

•influências de Camões e Bocage;


•Estilo clássico:
•unidade de conteúdo;
Soneto •simplicidade da forma;
•coerência entre quadras e tercetos;
•aspetos formais (estrofes, rima, métrica).
•poesia como complemento do pensamento filosófico;
•materialização da palavra em conceito, muitas vezes,
surge maiusculada;
•interrogação retórica;
Discurso conceptual •complexidade e abstração de conceitos;
•discurso dialogado com personagens alegóricas: Ideia,
Razão, Noite, Morte;
•eixo horizontal (relação Eu/Mundo) e vertical (relação
Eu/Deus)
•cenários fantasmagóricos de terror crepuscular ou noturno;
•multiplicidade de personificações ou mitificações de maiúscula
inicial;
•elementos personificados que figuram como verdadeiras
personagens (coração, alma, vento, nuvens, mar, tristeza,
desilusão, ...);
•emparelhamentos temáticos contrastivos: predomínio de
Linguagem e estilo vocabulário sugestivo da polaridade claro/escuro ou gradativo;
•número reduzido de imagens sensoriais;
•adjetivação classicizante (gélido, rudo, mesto, ingente, inulto);
•recursos expressivos: alegoria, perdonificação, apóstrofe,
metáfora;
•meios de magnificação retórica: diálogos, interrogações,
reticências, interjeições e superlativos alatinados.

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Cesário Verde

Características da sua obra

1. Influências artísticas:

- Impressionismo (constitui uma fuga ao sentimento de decadência): impressão pura;


perceção imediata; cor, luminosidade e textura; construções impessoais; a qualidade ótica
do objeto (cor) é mais importante que o objeto; recurso à hipálage;
- Parnasianismo (reação anti - romântica): o poeta não diz o que sente, mostra os objetos e
desperta ideias – objetividade e impessoalidade; rigor na forma;
- Realismo (apresentação de situações concretas, do real objetivo; representação da
sociedade – critica de denúncia social);
- Naturalismo (funcionalidade – pôr em prática – do real objetivo).
- Surrealismo: o poeta parte da realidade e cria um mundo alternativo, onírico.

2. Características temáticas

- Contraste cidade/campo: Campo = vida; cidade = morte, repressão; o campo é visto como
um espaço de liberdade, do não isolamento; e a cidade como um espaço castrador, opressor,
símbolo da morte, da humilhação, da doença.
- Oposição passado/presente, em que o passado é visto como um tempo de harmonia com a
natureza, ao contrário de um presente contaminado pelos malefícios da cidade;
- Mulher associada ao campo: simples, frágil, porque relacionada com o campo, com os seus
valores salutares; mulher anjo, reflexo de uma entidade divina, símbolo de pureza
campestre, com traços de uma beleza angelical; mulher regeneradora, frágil, pura, natural,
simples, representa os valores do campo na cidade, que regenera o sujeito poético e lhe
estimula a imaginação; mas também a mulher oprimida, tísica, resignada, vítima da
opressão social urbana, humilhada, com a qual o sujeito poético se sente identificado ou por
quem nutre compaixão;
- Mulher associada à cidade: fatal, fútil e opressora, porque contaminada pela civilização
urbana; mulher nórdica, fria, símbolo da eclosão do desenvolvimento da cidade como
fenómeno urbano, representação da classe social opressora e, por isso, geradora de
humilhação;
- A poesia é um olhar crítico acerca de uma realidade social – realismo;
- Descrição objetiva do real – objetividade (realismo);
- Deambulação do sujeito poético; olha, vê, sente, dá conta do que vê;
- Visualismo: preocupação pela ordem das descrições (primeiro os aspetos genéricos e
depois os mais específicos) e por descrever tudo o que vê;
- Sujeito poético solidário com os que trabalham e são explorados;
- Republicanismo;
- Anticlericalismo;
- A questão da inviabilidade do Amor na cidade.
- A humilhação (sentimental, estética, social).

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4. Características estilísticas

- Marcas da estrutura narrativa – espaço, tempo, ação (e nalguns casos personagens);


- Rigor formal (versos decassilábicos ou alexandrinos – 12 sílabas métricas – e quadras ou
quintilhas com rima e métricas definidas) – parnasianismo;
- Vocabulário preciso, concreto, prático – linguagem corrente;
Predomínio da coordenação;
- Adjetivação (dupla, tripla, …);
- Anteposição do adjetivo ao substantivo (primeiro realça-se a característica e depois o
objeto) – impressionismo;
- Diminutivos.

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Cesário Verde - Sistematização

Cesário Verde é um poeta do olhar: pinta com palavras o que vê, fugindo às
convenções do que até aí era considerado poético. Abre à poesia as portas da vida e assim
traz o inestético, o vulgar, o feio, a realidade trivial e quotidiana. Cesário Verde observa de
forma atenta e minuciosa a realidade social e conclui que o povo é o elemento mais
resistente, ainda que alvo de diferenciação social.
Por este facto, o poeta identifica-se com o povo trabalhador e coloca-se do lado dos
desfavorecidos, vítimas de opressão social da cidade, e denuncia as circunstâncias sociais
que considera extremamente injustas. Um dos exemplos mais marcantes é o da pobre
engomadeira que mortifica para pagar a conta da botica.
Cesário Verde transportou a linguagem humilde e prosaica para o clima da poesia
autêntica. Demonstrou que a poesia anda derramada pelos seres e pelas coisas
habitualmente consideradas prosaicas. Desceu deliberadamente ao concreto, ao imediato e,
com um fino talento de reportagem artística, surpreendeu belezas inéditas que, em
Portugal, ninguém antes vira. A poesia de Cesário Verde organiza-se em torno do binómio
cidade/campo, refletindo as transformações da sociedade portuguesa da sua época. A
deambulação pela cidade permite-lhe o contacto com a realidade exterior e confirma-se
como um pretexto e uma necessidade para a criação artística. A cidade surge, assim, como
o lugar da inspiração e da criação, mas também, contraditoriamente, como um espaço de
opressão, de desconforto, perverso.

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Concluindo, a sensação de liberdade que a deambulação, em princípio, permitiria,


esbarra assim com os limites de uma cidade estreita, que o deprime e sufoca (e de onde
todos fogem), conduzindo-o a refugiar-se no campo, local puro e são. Mundo campestre que
passará, deste modo, e por consequência, a ser motivo de composições poéticas.

•Características da poesia:
•tom antideclamatório e antirromântico;
Contextualização
•objetividade na observação da realidade;
histórico-literária
•poetização do real quotidiano;
•crítica social da era industrial.

•a cidade moderna - atração e repulsa;


•a cidade - símbolo da opressão da vida burguesa;
A representação da cidade e •intenção satírica da poesia;
dos tipos sociais •poetização de todos os tipos sociais;
•análise social e dissecação dos tipos sociais;
•solidariedade perante os mais frágeis.

•deambulação e captação poética da realidade;


Deambulação e imaginação: o
•o real como catalizador da imaginação;
observador racional
•notas poéticas.

•apreensão da realidade através dos sentidos;


Perceção sensorial e •a cor, a luz, o movimento, o cheiro, o som e o paladar
transfiguração poética do real estimulam e inspiram;
•os estímulos conduzem à metamorfose poética do real.

•poema longo (44 quadras; 11 quadras em cada parte);


•estruturação do poema (poema narrativo, dividido em
O imaginário épico ("O quatro partes, alinhadas cronologicamente desde o
sentimento dum ocidental") entardecer até à madrugada);
•o fulgora da memória épica é vencido pelo pessimismo -
a epopeia "às avessas".

•regularidade estrófica (quadras), métrica (decassílabo


e alexandrino) e rimática (interpolada e emparelhada);
• abundância de recursos expressivos - a comparação, a
enumeração, a hipérbole, a metáfora, a sinestesia, o uso
Linguagem e estilo expressivo do adjetivo e do advérbio;
•abundância de construções sintáticas coordenadas
(sindéticas e assindéticas);
• discursividade narrativa;
• introdução do registo coloquial na poesia.

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Poesia inovadora e precursora

Impressionismo:
- valorização da impressão captada, de perceção imediata;
- carácter fragmentário e fugaz das sensações e perceções;
- importância da cor e da luminosidade, em quadros ao ar
livre;
- anteposição das características do objeto à sua definição;
- sobreposição de sensações.

Modernismo:
- poetização do real, incluindo a sua vertente mais sombria;
- temáticas modernistas: tédio existencial, "o desejo
absurso de sofrer", o desejo de evasão (no tempo, no
espaço, na imaginação, no onírico).

Surrealismo:
- transfiguração poética do real;
- associação de imagens inesperadas e experimentalismo
vocabular.

Bibliografia utilizada:

COELHO, Jacinto do Prado (direção), Dicionário de Literatura, Livraria Figueirinhas


GUERRA, João e VIEIRA, João, Aula Viva, Português A, 11º Ano e 12º Ano, Porto Editora
MAGALHÃES, Olga e DINE, Madalena, Preparar o Exame Nacional 2018 – Português, Raiz Editora
PEREIRA, José Carlos Seabra, História Crítica da Literatura Portuguesa – Do fim de século ao
Modernismo, Vol. VII, Editorial Verbo
REIS, Carlos e PIRES, Maria da Natividade, História Crítica da Literatura Portuguesa – O Romantismo,
Vol. V, Editorial Verbo
SARAIVA, António José e LOPES, Óscar, História da Literatura Portuguesa, Porto Editora

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