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UMA CERTA IDADE MÉDIA: O ENSINO DE HISTÓRIA A PARTIR DE

FÁBULAS E IMAGENS

Leonardo Bento de Andrade1 - UFFS


Alloma Noara Pereira Modzelewski2 - UFFS

Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Este texto relata uma experiência realizada na Escola Municipal Fedelino Machado dos
Santos, localizada na cidade de Chapecó-SC. O objetivo dessa experiência era inserir a
literatura e pintura no ensino de História, para compreender de maneira pontual, um recorte
do período conhecido como Idade Média. A atividade desenvolvida procurou incentivar os
alunos, dos sétimos anos da escola, a pensar historicamente a partir de fábulas medievais e
representações iconográficas produzidas nos séculos XIV e XV. O projeto desenvolvido com
essas turmas tem na utilização de tais representações, ferramentas para descontruir a
percepção de senso comum acerca do período medieval, mais especificamente nos séculos
citados, ainda muito atrelada a uma concepção de um período de “atraso e ausência de
conhecimento”. A dificuldade regional de acesso a esses bens culturais motivou o
desenvolvimento desse projeto, pois a escola não proporciona ações efetivas de incentivo ao
desenvolvimento de atividades culturais, muito devido ao desfavorecimento econômico da
região em que a escola está situada. Interpretar a literatura e a pintura para os alunos,
articulando essas representações com as aulas de História, trouxe um novo ambiente para os
alunos aprenderem, destoado do tradicional observado, onde o livro didático é um recurso
recorrente. Apresentar aos alunos que a escrita da história não se limita a objetos distantes, os
motiva a realizar análises, ponderações e interpretações frente aos documentos utilizados no
projeto, no caso as fábulas e imagens, aos quais cada aluno pode sentir-se parte da construção
histórica humana, utilizando desses elementos para compreender, o recorte do período
medieval proposto e refletir sobre o passado em função das necessidades atuais.

Palavras-chave: Ensino de História. Idade Média. Literatura. Pintura.

1
Discente do curso de Licenciatura em História pela Universidade Federal da Fronteira Sul. Bolsista do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID/UFFS. E-mail: andradelb@hotmail.com
2
Discente do curso de Licenciatura em História pela Universidade Federal da Fronteira Sul. Bolsista de iniciação
científica do programa PROICT/UFFS. E-mail: alloma.noara@gmail.com

ISSN 2176-1396
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Introdução

O presente relato é resultado das atividades desenvolvidas no Programa Institucional


de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID, durante o mês de maio de 2015. O PIBID, na
Universidade Federal da Fronteira Sul, está dividido em sete subprojetos, sendo um deles o de
História. O subprojeto de História está presente em cinco escolas, estaduais e municipais,
todas situadas nas áreas periféricas da cidade de Chapecó-SC. A Escola Básica Municipal
Fedelino Machado dos Santos é uma dessas escolas, nela foi realizado o projeto intitulado
Uma certa Idade Média: fábulas e imagens.
Tendo em vista que estudar história “[...] é uma combinação complexa que contém a
apreensão do passado regulada pela necessidade de entender o presente e de presumir o
futuro”. (RÜSEN, 2006, p. 7). O presente projeto se baseia na concepção de que a literatura,
assim como a iconografia, é importante “[...] para compreender a ordenação das sociedades
humanas e para discernir as forças que as fazem evoluir” (DUBY, 1995, p. 130), pois

[...] é importante dedicar igual atenção aos fenômenos mentais, cuja intervenção
incontestável é tão determinante quando a dos fenômenos econômicos e
demográficos. Pois não é em função de sua condição verdadeira, mas da imagem
que constroem e que nunca fornece o reflexo fiel, que os homens pautam sua
conduta. Eles se esforçam para conciliá-la com modelos de comportamento que são
produto de uma cultura e que mais ou menos se ajustam no decorrer da história às
realidades sociais. (DUBY, 1995, p. 130-1).

Esse projeto teve como objetivo articular competências relacionadas a leitura, escrita,
interpretação de fábulas e iconografia medieval, para compreensão de um recorte específico
dentro do período denominado Idade Média. Sob o pretexto de desconstruir a percepção
estanque dos alunos, que conheciam a Idade Média apenas relacionada com castelos e
guerras. Para isso, foram utilizadas fábulas e pinturas produzidas durante os séculos XIV e
XV na Europa, tais fábulas são reflexos da vida cotidiana popular medieval e as imagens
possuem um carácter mais restrito à elite.
O uso dessas representações artísticas, confrontam-se com a dificuldade de acesso
encontrado pelos alunos. Além disso, existe uma desvalorização no uso de elementos não
caracterizados como oficiais, tais como as fábulas e pinturas, que por muito tempo não foram
considerados como documentos históricos. Inseri-los em sala de aula contribui para ampliar o
campo histórico que o aluno pode ter alcance. Por sua vez, o papel do professor é tornar seu
aluno protagonista do seu processo de aprendizagem, sendo capaz de refletir sobre o passado,
em função das necessidades contemporâneas.
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O contexto do projeto

A Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS está situada na região compreendida


pelo Sudoeste do Paraná, Oeste de Santa Catarina e Noroeste do Rio Grande do Sul. Criada
em 15 de setembro de 2009, a instituição foi fundada pensando nas demandas regionais.
Logo, a Universidade Federal da Fronteira Sul fomenta as discussões e ações relativas a
matriz produtiva atual e a agricultura familiar. Todavia, os bolsistas do PIBID são
incentivados a refletir sobre esses aspectos, o projeto Uma certa Idade Média: fábulas e
imagens é o resultado de uma dessas reflexões.
O subprojeto do PIBID de História está dividido, no campus Chapecó, em cinco
grupos, trabalhando em cinco escolas diferentes. O projeto relatado aqui foi executado na
Escola Básica Municipal Fedelino Machado dos Santos, localizado na cidade de Chapecó-SC,
precisamente no bairro EFAPI. Este bairro é habitado, em sua maioria, por trabalhadores
vinculados às agroindústrias que cercam a região. Com o passar do tempo, estendeu-se
formando um núcleo comercial na região periférica da cidade. A escola foi fundada no ano de
1990 e atendia alunos até a quarta série. No entanto, devido a demanda da comunidade
escolar, houve uma ampliação da estrutura física e ela passou a atender alunos até o oitavo
ano, hoje somam-se aproximadamente 550 estudantes. O IDEB da escola, diagnosticado para
os alunos de quinto ano, foi de 6.3 no ano de 2013.
As turmas envolvidas no projeto Uma certa Idade Média: fábulas e imagens, eram
dois sétimos anos, formadas por alunos entre onze e treze anos. Em um levantamento feito no
início da atuação do PIBID no ano de 2015 na escola, foram constatadas algumas
características dessas turmas que se assemelham. Podemos concluir que a realidade familiar
dos alunos não é mais centralizada na família nuclear, sendo que aproximadamente metade
dos alunos moram com os pais, enquanto o restante mora com outros familiares. A grande
maioria dos membros das famílias ocupa cargos subalternos no mercado de trabalho,
característica dos moradores da região do grande EFAPI. Outra situação que ficou
evidenciada com alguns alunos, é que eles não sabem descrever a profissão dos pais, eles as
assimilam baseadas na empresa que os pais trabalham. Além disso, a família da maioria deles
só consegue se reunir durante a noite, nos domingos e feriados. O que dificulta o
acompanhamento da vida escolar do aluno.
Na escola, o momento preferido apontado por grande parte dos alunos foi o intervalo,
acompanhado do momento de estudo. Parte disso está refletido quando a maioria dos alunos
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elencaram a “estrutura” como o principal ponto a ser melhorado na escola. Com relação a
alimentação, 33% dos alunos responderam que não comem a comida ofertada pela escola. Das
disciplinas, existe uma identificação pela Matemática (44%), seguida por Artes (28%).
Quanto a dificuldade que encontram em algumas disciplinas, apontaram a mais complicada
sendo Língua Portuguesa (33%).
Com base nesses dados, é possível conhecer minimamente os alunos que formam as
turmas que o PIBID interviu. As questões mescladas buscaram conhecer esse aluno, na sua
vida familiar, socioeconômica e como este reconhece algumas fragilidades da escola.
Buscando auxiliar no processo de desenvolvimento as atividades ao longo do projeto.
O projeto Uma certa Idade Média: fábulas e imagens, tem seu intuito de apresentar
aos alunos uma forma diferenciada de estudar o período medieval. Com base em algumas
fábulas, inseridas no contexto das aulas de História. Além do uso de outros recursos como as
produções iconográficas do período, com essa atividade podemos trabalhar a religiosidade, a
sociedade, o cotidiano, e a figura da mulher dentro do recorte selecionado, usando artifícios
diferenciados, para propiciar ao aluno da educação básica um momento de estudo e contato
com esses materiais.

Descrição das atividades na escola

O projeto Uma certa Idade Média: fábulas e imagens, executado na Escola Básica
Municipal Fedelino Machado dos Santos, com as turmas vespertinas do sétimo ano, foi
iniciado no dia 13 de maio de 2015. O projeto teve a duração de seis aulas, sendo que cada
aula corresponde a quarenta e cinco minutos. As aulas foram divididas em seis momentos,
onde ocorreram: a leitura e articulação coletiva de uma fábula; a divisão e leitura por grupo de
fábulas diversas; a produção de roteiro de uma peça de teatro; a articulação de imagens
medievais ligadas as fábulas; uma produção de fantoches baseada nas imagens e a
apresentação de peça teatral baseada no roteiro produzido pelos alunos.
No primeiro momento do projeto, os alunos foram apresentados à fábula Da mulher
que deu três voltas em torno da igreja. Essa fábula satiriza a figura do padre medieval,
atribuindo a ele uma característica profana, em contraposição a sua religiosa. Por meio dessa
fábula foi possível tratar de temas como: a religiosidade; a sociedade e o cotidiano medieval.
A leitura foi realizada usando um projetor, para que os alunos pudessem visualizar e
acompanhar os bolsistas, que sinalizavam as situações enfrentadas pelas personagens e o
contexto em que a fábula foi escrita. Não foi uma leitura corrida, foi criteriosa. Toda a
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discussão foi realizada de forma que os alunos fossem os primeiros a falar, eram instigados a
refletir. Quando questões mais pontuais, como a relação afetuosa entre uma mulher e um
padre, surgem na discussão, os alunos apresentam uma certa curiosidade, pois as articulações
feitas pelos bolsistas a partir do papel da mulher nessa fábula, envolveram desde o pecado de
Eva, entrando até mesmo em questões ligadas à bruxaria. Quanto ao padre, o rompimento do
celibato lhes pareceu uma situação muito atípica, mas não demonstraram resistência em
debater o assunto. Posteriormente, os alunos foram divididos em seis grupos, cada qual
trabalhando com uma fábula específica.
Nesse segundo momento, cada grupo, contendo aproximadamente cinco integrantes,
teve acesso a uma, entre seis, fábulas diferentes, sendo elas: Uma manhã de inverno em
Domremy; O Grande Ferré; A história de Melusina ou o romance dos Lusignan; Do vilão que
conquistou o céu defendendo sua causa e O Homem-Lobo. Os alunos foram orientados a lê-
las e elaborar um breve roteio teatral, realizando as adaptações necessárias para a sintetização
da fábula. Os textos foram entregues para cada integrante do grupo para leitura, e durante essa
leitura, os bolsistas estiveram presentes, auxiliando na compreensão de termos e palavras.
Esse momento do projeto evidenciou uma das motivações para a sua realização, pois esse
incentivo à leitura é necessário, visto a dificuldade que os alunos apresentaram na
interpretação dos textos. Como o objetivo dessa parte é a realização do roteiro, os alunos
demonstraram certo receio com a atividade, principalmente com a delimitação dos prazos para
entrega da produção.
A delimitação de prazos é um ponto importante do projeto, pois acreditamos que é
necessário acompanhar o desenvolvimento do trabalho. A produção do roteiro foi a base para
o restante do projeto. Logo, foi necessário que os alunos tivessem produzido minimamente
um esboço do roteiro para iniciar a produção dos fantoches, visto que estes eram baseados nas
personagens das fábulas.
A produção dos fantoches foi antecedida, por uma apresentação e articulação de
imagens ligadas as personagens presentes nas fábulas. Para ilustrar essas personagens foram
utilizadas pinturas produzidas no período, são elas a Joana d’Arc, de Antoine Dufour, Les très
riches heures du Duc de Berry, dos irmãos Limburg e A história de Melusina ou o romance
dos Lusignan, de Jean D’Arras, com o intuito de auxiliar na produção dos fantoches para a
apresentação do roteiro. As imagens foram projetadas, para serem analisadas juntamente com
os alunos. São representações, que dão forma as fábulas lidas.
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Os detalhes das obras, as características que elas apresentam, foram debatidas com os
alunos, mas sempre partindo do ponto de vista deles. Para isso, os alunos partiram do que
conheciam, elementos presentes nas fábulas de cada grupo. Quando uma imagem sobre
caçadas foi projetada, os alunos da fábula que continha esses traços, apontaram que a imagem
representava sua fábula, assinalando as vestimentas dos nobres, que mesmo dispondo de
roupas luxuosas, vestiam-se simploriamente para esse evento. O mesmo ocorreu com da
imagem de Joana d’Arc, a imagem da nobreza e do trabalho servil, todos foram reconhecidos
pelos alunos. Com isso, os fantoches foram produzidos de acordo com as imagens fornecidas
e a apresentação da peça teatral foi realizada com eles.
A representação teatral, foi um momento de compartilhar, pois eram fábulas diferentes
para cada grupo. As temáticas variavam, como a base foram as representações iconográficas,
os alunos seguiram uma mesma ideia. Mesmo protegidos por uma cortina, os alunos
demonstraram uma timidez nessa parte do projeto, alguns souberam expressar-se melhor que
outros. O que podemos destacar é a criatividade, com qual confeccionaram os fantoches e
como adaptaram as lendas. Isso é um reflexo de questões pessoais que se inserem nesse
momento da prática mais descontraída, onde se apresentam particularidades de cada um.

O uso de literatura e imagem em sala de aula

A região do bairro EFAPI não possui espaços bem estruturados para lazer e realização
de atividades culturais, voltadas para atender a população local. Pois, historicamente existe no
bairro, e também no oeste catarinense, uma valorização de uma chamada cultura do trabalho,
que

[...] diz respeito aos elementos materiais (instrumentos, métodos, técnicas, etc.) e
simbólicos (atitudes, ideias, crenças, hábitos, representações, costumes, saberes)
partilhados pelos grupos humanos — considerados em suas especificidades de
classe, gênero, etnia, religiosidade e geração. Determinada em última instância pelas
relações de produção, nos remete a objetivos e formas sobre o dispêndio da força de
trabalho, maneiras de pensar, sentir e se relacionar com o trabalho. (TIRIBA, 2008,
p.85)

Dessa forma, a comunidade julga a carreira profissional e os cursos técnicos


profissionalizantes como mais adequados, do que as atividades de cunho cultural. Pensando
na sua localização dentro do ambiente urbano, os espaços culturais como teatro, cinema,
clubes e projetos sociais-culturais concentram-se no centro da cidade, dificultando o acesso
desses grupos a esses locais. Esses aspectos foram constantemente debatidos durante as
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intervenções do PIBID na escola, evidentemente que com o projeto Uma certa Idade Média:
fábulas e imagens não seria diferente.
Visando mitigar, pois apenas com um projeto isolado não é possível suprir, a carência
dos alunos do sétimo ano da Escola Básica Municipal Fedelino Machado dos Santos. O
projeto articulou literatura e pintura medieval de uma forma didática, para que fosse de fácil
acesso e entendimento para esses alunos, que só realizavam uma reflexão sobre esses temas
nas aulas de Artes.
A literatura e pintura vão além do visual, são manifestações da ação humana dentro da
história, a possibilidade de sua utilização como fonte nos propicia um aumento da
documentação, inserindo elementos diferenciados nas aulas de História. Aproximando os
alunos de produções de determinada época. Essa relação que os alunos têm com essas
representações culturais, permitem a eles realizar reflexões e análises, juntamente com o
professor.
Quando inserimos a literatura no contexto das aulas de História, a Idade Média era
abordada no âmbito dos castelos, feudos, romances de cavalaria e classificando as três ordens.
A partir da fábula Da mulher que deu três voltas em torno da igreja, presente no livro
Pequenas fábulas medievais: fabliaux do século XIII e XIV, os aspectos cotidianos puderam
ser descritos de maneira que os alunos fizeram relações e questionaram algumas situações,
como o celibato, adultério, superstições e hierarquia. A fábula inicia com um breve poema,
onde a mulher está relacionada com o diabo, sendo capaz de ludibriar qualquer um. Desse
ponto partimos para questão da mulher medieval, culpada do pecado original. Percebeu-se
que os alunos não souberam fazer essa associação. Assim toda essa discussão foi nova para
eles.
Realizar essas discussões utilizando de textos literários do período proporciona ao
aluno contato com diversificadas ações cotidianas, provocando-os a refletir sobre as leituras
que fizeram dessa literatura. Pois,

[...] uma boa proposta de estudo das formas de sensibilidade e do imaginário


medieval consiste na leitura e posterior dramatização dos contos narrativos.
Algumas coletâneas [...], apresentam-nos situações romanescas envolvendo os
diferentes grupos sociais do período (nobres, cavaleiros, burgueses, camponeses).
Há ainda os contos de aventura e amor [...], ou os contos cômicos denominados
fabliaux— que eram contados nas feiras, estradas, castelos, portas de igrejas. Trata-
se de testemunhos importantes das representações coletivas da Idade Média. Por seu
intermédio o leitor certamente reconhecerá situações que lhe permitirão refletir um
pouco mais acerca do modo de agir e de pensar medieval. (MACEDO, 2005, p.122)
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O livro Pequenas fábulas medievais: fabliaux do século XIII e XIV, trata exatamente
do pensar e agir medieval por meio de fábulas cômicas, ou fabliaux, por meio dele foi
possível desenvolver, de uma maneira mais descontraída, os objetivos propostos no projeto.
No entanto, o trabalho com esse tipo de fonte em sala de aula requer alguns cuidados, pois
elas são repletas de exageros e de referências externas ao conto.
O livro das horas Les très riches heures du Duc de Berry, foi o principal elemento
imagético utilizado em sala, para aproximar os alunos de uma representação da sociedade
medieval. A escolha do uso dessas imagens leva em consideração a falta de acesso por parte
dos alunos a esses documentos, que ainda são pouco articulados nas práticas pedagógicas, na
Escola Básica Municipal Fedelino Machado dos Santos, ficando restritas às imagens presentes
no livro didático.
O livro didático fornece um auxilio positivo para o trabalho com imagens em sala.
Entretanto, a utilização dele fica restrita a mera observação superficial. Com relação a
atividade, os alunos demonstram um interesse por detalhes sutis que as imagens possuíam,
demonstrando capacidade para uma interpretação mais comprometida. No entanto, no
primeiro contato, os alunos, confundiram algumas situações. Mas, ao longo da atividade
expressaram uma posição crítica com algumas situações presentes nas imagens,
principalmente quando camponeses e nobres apareciam.
Com essa atividade, os alunos tiveram o envolvimento com objetos da arte, produções
da atividade humana. Durante a execução do projeto puderam refletir sobre as situações
apresentadas nas atividades, onde recortes da Idade Média foram contextualizados com uma
abordagem diferenciada da tradicional.

Considerações Finais

O tempo passado junto com as turmas nesse projeto, representou inúmeros momentos,
caracterizados pela troca que tivemos em sala. Os alunos, nos trouxeram momentos de
aprendizagem mútua. Buscamos dentro da atividade, estabelecer aproximações com a
realidade da região e também a deles própria, apresentando um modo diferenciado de ensinar
e estudar história. Existe uma necessidade disso ocorrer, pois a historiografia vive desde a
ascensão dos Annales um período mudanças. Onde as narrativas de grandes heróis e fatos
foram aos poucos sendo superadas. Mesmo assim, isso ainda não chegou completamente em
sala de aula, pois existe uma forte herança tradicional na educação básica.
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A utilização das fábulas medievais nos trouxe uma aproximação com uma realidade
específica do período medieval. O contato desses textos com os alunos da educação básica
talvez não aconteceria em outro momento, visto que tais produções, embora de fácil acesso,
não são de grande circulação, assim

[...] o professor de História deve atuar como uma ponte entre o patrimônio cultural
da humanidade e o universo cultural do aluno. A inserção do universo de cada aluno
no cenário maior da produção cultural humana, valoriza a identidade de cada um, ao
mesmo tempo abrindo possibilidades para o aluno ocupar cada vez mais espaços na
sociedade. (SILVA, 2006, p.3)

Com isso, temos a valorização da história de cada um, pois muito do que apresentamos
nesse primeiro momento do projeto, busca situar o aluno em um momento histórico, onde as
fábulas são reflexos da cultura popular e não apenas o os atos dos grandes heróis. Logo, não é
preciso ser Napoleão ou Ricardo I, para poder ser estudado nas aulas de História. As fábulas
trazem personagens muito mais reais e entendíveis a esses alunos do que reis que beiram ao
abstrato. Os alunos apresentaram, durante as atividades, algumas dificuldades em entender
isso, pois “um dos problemas é que os alunos percebem o passado como permanente”
(CERRI, 2010, p.269.), de tal forma que foi preciso intervir em diversos questionamentos
feitos durante a execução do projeto, diversas vezes eles não reconheciam que as fábulas
ocorriam em períodos de tempo semelhantes, mas que demonstram situações diferentes dentro
de um mesmo recorte.
Cada parte do projeto, ao final, almejava o pensar historicamente dos alunos, a partir
de elementos diferenciados, tanto no uso das fábulas, como na utilização de pinturas, para
facilitar a compreensão dos alunos sobre as personagens presentes nelas. Ao dividir os alunos
em grupos e orienta-los com mais calma e tempo, foi possível notar a receptividade deles ao
projeto, indiretamente refletida na dedicação deles em realizar as atividades sugeridas. Alguns
alunos, que inicialmente se mostraram completamente desinteressados pelo projeto, pouco
depois já estavam envolvidos.
Esses momentos foram importantes para articular, texto e imagem. Para assim
proporcionar ao aluno produzir sua própria reflexão do passado, pois “em geral, a consciência
histórica do aluno está condicionada pela ideia de que a história conta ‘o que aconteceu’;
então, se aconteceu, não há o que questionar. ” (CERRI, 2010, p.269). Portanto, o projeto
buscou apresentar a esses alunos possibilidades de contestação do passado, trazendo novas
perguntas a esses “velhos” documentos, procurando suprir e questionar as demandas da sua
realidade.
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REFERÊNCIAS

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em: <http://revistas2.uepg.br/ojs_new/index.php/rhr/article/view/2380/1875>. Acesso em: 05
mai. 2015.

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Fontes, 1999.

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Pierre (Orgs.) História: novos problemas. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995, p. 130-
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LIMBURG, Hermann; LIMBURG, Jean; LIMBURG, Paul. Les très riches heures du Duc
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Leandro (Org.) História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo:
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Internacional da ANPHLAC, Campinas, SP, v. 1, p. 1-12, 2006. Disponível em:
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TIRIBA, Lia. Cultura do Trabalho, Autogestão e Formação de Trabalhadores Associados na


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<https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/viewFile/10295/9566> Acesso em:


07 mai. 2015

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