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INTERPRETAÇÃO

DE TEXTOS
TEXTO
Os juízes que se deparam com o tema dos conflitos familiares e da violência
doméstica assistem a situações de violência extrema, marcadas pelo abuso das
relações de afeto e parentesco, pela deslealdade nas relações íntimas de afeto e
confiança. A violência doméstica exclui e segrega os integrantes da família, pois as
vítimas são muitas vezes consideradas responsáveis pelas agressões que sofrem. É a
mulher agredida quem “gosta de apanhar”, é a criança espancada quem “provoca” os
pais. Obviamente os membros da família ficam apavorados diante da possibilidade da
agressão e da exclusão e temem pela própria vida quando dependem da família para
sobreviver emocional ou materialmente. Assim, todos são atingidos pela agressão a
um deles dirigida.
Importa destacar que a violência intrafamiliar pode se dar tanto de forma
omissiva, pela ausência de cuidados necessários ao desenvolvimento do indivíduo, de
alimentação regular e abrigo, quanto comissiva, pela prática de atos que violam a
liberdade e a integridade física e psíquica da vítima, agressões físicas ou verbais. Esses
atos são capazes de gerar sentimento de insegurança nos membros da família. No
âmbito doméstico, as agressões decorrem da vontade de dominar e subjugar o mais
fraco, da luta por poder dentro de casa. A maior parte dos ataques tem motivos banais,
como o espancamento de mulheres que se recusam a preparar o almoço ou a
esquentar a comida dos companheiros, ou, como no caso das crianças, o choro
excessivo.
O processo judicial restaura a verdade dos fatos. O agressor é sentado no banco
dos réus e é tratado como tal. A vítima tem o direito de expor a dor, o sofrimento e
exigir a reparação devida. Muitas vezes não se persegue o encarceramento do
agressor, mas apenas a responsabilização pelos atos, de natureza cível ou criminal.
O juiz observa as partes com os olhos da lei, da equidade, da justiça. A justiça analisa
tais casos dia após dia, noite após noite, e os diversos agentes envolvidos no amparo
e proteção às vítimas desenvolvem sensibilidade especial para o te a. E, movidos pela
empatia com os mais fracos nas relações sociais e familiares, buscam ajudar a
restabelecer a linguagem de respeito entre os membros da comunidade familiar,
propiciando o resgate dos sentimentos que a mantêm coesa e saudável.
Theresa Karina de Figueiredo Gaudêncio Barbosa.

No que se refere às ideias apresentadas no texto, julgue os itens que se seguem.

1 ( ) A busca da manutenção de relações de poder assimétricas motiva grande parte


dos atos de violência doméstica.
2 ( ) Em se tratando de violência doméstica, o objetivo do processo judicial é a
responsabilização do agressor, estando a prisão desse agressor relegada a último
plano.
3 ( ) A palavra-chave referente à violência intrafamiliar omissiva é omissão, ao passo
que a referente à violência intrafamiliar comissiva é ação.
4 ( ) Nos casos de violência doméstica, muito comumente, há o que se pode denominar
inversão da culpa, ou seja, observam-se vítimas sendo tratadas pelos seus agressores
como responsáveis pela violência que sofrem.
TCDF /CESPE

TEXTO

Na casa todos dormiam. Todos, menos a irmã.


Era quieta, essa irmã. Não cantava, não ria; mal falava. Trazia água do poço,
varria o terreiro, passava a roupa, comia — pouco, magra que era — e ia para a cama
sem dar boa-noite a ninguém. Dormia num puxado, um quartinho só dela; tinha nojo
dos irmãos. Se, na cama, suspirava ou revirava os olhos, nunca ninguém viu. O nome
dela era Honesta. (Nome dado pela mãe. O pai queria-a ali, na roça; a mãe, porém,
tinha esperança que um dia a filha deixasse o campo e fosse para a cidade se empregar
na casa de uma família de bem. E que melhor nome para uma empregada do que
Honesta? O pai acreditava no campo; a mãe secretamente ansiava pela cidade — por
um cinema! Nunca tinha entrado num cinema! Minha filha fará isto por mim, dizia-se,
sem notar que a filha vagueava por paisagens estranhas, distantes do campo, distantes
da cidade, distantes de tudo. [...])

Moacyr Scliar. Doutor Miragem. Porto Alegre:L&PM, 1998, p. 22-3 (com adaptações).

Julgue os itens subsequentes, com base nas ideias e estruturas linguísticas do texto
acima.

1 ( ) No texto, o pronome “se”, em “dizia-se” (R.14), equivale, em sentido, à expressão


a si mesma.
2 ( ) De acordo com o texto, “a irmã” (R.1) permanecia acordada enquanto o resto da
família dormia.
3 ( )A expressão “mal falava” (R.2-3) indica que a personagem não empregava as regras
gramaticais da norma-padrão da língua ao se expressar.
4 ( ) A expressão “vagueava por” (R.15) poderia ser substituída por sonhava com, sem
prejuízo ao sentido original do texto.

TEXTO

Eu resolvera passar o dia com os trabalhadores da estiva e via-os vir chegando a


balançar o corpo, com a comida debaixo do braço, muito modestos. Em pouco, a beira
do cais 4 ficou coalhada. Durante a última greve, um delegado de polícia dissera-me:
— São criaturas ferozes! (...)
Logo que o saveiro atracou, eles treparam pelas escadas, rápidos; oito homens
desapareceram na face aberta do porão, despiram-se, enquanto os outros rodeavam
o guincho e as correntes de ferro começavam a ir e vir do porão para o saveiro, do
saveiro para o porão, carregadas de sacas de café. Era regular, matemático, a oscilação
de um lento e formidável relógio.
Aqueles seres ligavam-se aos guinchos; eram parte da máquina; agiam
inconscientemente. Quinze minutos depois de 16 iniciado o trabalho, suavam
arrancando as camisas. Não falavam, não tinham palavras inúteis. Quando a pilha de
sacas estava feita, erguiam a cabeça e esperavam nova carga. Que fazer? Aquilo tinha
que ser até às da tarde. (...)
Esses homens têm uma força de vontade incrível. Fizeram com o próprio esforço
uma classe, impuseram-na. Hoje, estão todos ligados, exercendo uma mútua polícia
para a moralização da classe. A União dos Operários Estivadores consegue, com uns
estatutos que a defendem habilmente, o seu nobre fim. (...)
Que querem eles? Apenas ser considerados homens dignificados pelo esforço e
a diminuição das horas de trabalho, para descansar e para viver.

João do Rio. Os trabalhadores de estiva. In: A alma encantadora das ruas.


Paris: Garnier, 1908. Internet: <www.dominiopublico.gov.br> (com adaptações).

Julgue os itens que se seguem, relativos às ideias do texto acima e às estruturas


linguísticas nele utilizadas.

1 ( ) O emprego da forma verbal “resolvera” (R.1), no pretérito mais-que-perfeito,


indica que o narrador tomou a decisão de “passar o dia com os trabalhadores da
estiva” (R.1-2) antes da ocorrência do evento narrativo principal do texto.

2 ( ) Com o período “Era regular (...) formidável relógio” (R.12-13), o autor descreve a
ida e vinda dos trabalhadores entre o porão e o saveiro, em termos que aproximam o
ritmo da atividade humana ao da atividade das máquinas.

3 ( ) A correção gramatical e o sentido original do texto seriam preservados caso o


trecho “Esses homens têm (...) impuseram-na” (R.20-21) fosse reescrito do seguinte
modo: Esses trabalhadores eram de uma força de vontade extraordinária, porquanto
estabeleceram uma associação independente que se tornou de afiliação obrigatória.
4 ( ) Seriam mantidas a correção gramatical e a coerência do texto caso o último
parágrafo fosse reescrito da seguinte forma: O que quer essa união a não ser sua
dignidade como trabalhadores e a redução das horas reconhecidas, para que possam
descansar e viver?
5 ( ) O texto revela realidades jurídicas associadas, por exemplo, a relações de trabalho
e a direitos sindicais.

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